Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INTERNATO EM SAÚDE MENTAL CASO CLÍNICO 1: Suicídio Maria Luiza Campos Valli Pontos-chave a Discutir Índice Introdução Caso Clínico Transtornos depressivos persistentes Depressão Resistente ao Tratamento ● Estadiamento, Avaliação e Estratégias Risco de suicídio: avaliação, prevenção e abordagens terapêuticas De volta ao caso clínico Referências Bibliográficas Introdução MOTIVO DA ESCOLHA DO CASO Foi o primeiro atendimento que fiz dentro do CAPS e também o que mais me comoveu. Além disso, vivenciei uma história parecida com um familiar, que infelizmente faleceu. QUESTIONAMENTOS: Como diagnosticar? O que fazer e quando fazer? Como se dá a tomada de decisão nesses casos? GLF, sexo masculino, 32 anos, natural e residente de SJDR, estudante (Mestrado em Física, mas “parado”, no momento), comparece ao CAPS desacompanhado. Higiene preservada, traja roupas totalmente pretas, cabelos e barba longos e possui várias tatuagens pelo corpo. Realiza tratamento para depressão nessa instituição há aprox. 4 anos. Nesse tempo, já utilizou várias combinações de medicamentos, mas não sentiu efeito com nenhuma delas. Durante o atendimento, revela não ter vontade de viver e que possui planos de se matar: já avisou a família de sua intenção e, de algumas semanas para cá, vem se afastando ativamente de amigos, com o intuito de minimizar o sofrimento deles com o luto que sofrerão. Diz possuir amigos, mas que não tem interesse em se relacionar com eles e que só não se matou ainda devido a uma promessa que fez ao irmão de continuar buscando tratamento para sua condição. Diz que nunca se sentiu feliz e que, por isso, receia não ter depressão, mas ser “estragado” (sic). Demonstra grande receio em relação à COVID-19, recusando-se a se sentar durante a consulta. CASO CLÍNICO Realiza comentários autodepreciativos. Em seu tempo livre, estuda alemão e produz música. # Atualmente em uso de: Venlafaxina 150+75 mg (1-0-0), Mirtazapina 15 mg (0-0-1), Clorpromazina 25 mg (0-0-1) # Nega a existência de outras doenças. Nega tabagismo, nega etilismo, nega uso de outras drogas # Exame físico: BEG, afebril, acianótico, anictérico, normocorado, hidratado. FC: 68 bpm; FR: 16 ipm; Temperatura: 36,5ºC; PA: 120 x 78 mmHg. # Lúcido, orientado, memória preservada, pensamento e fala organizados e coerentes, cooperativo, normovigil, embotamento afetivo, humor depressivo. CASO CLÍNICO Caso clínico 1 Hipótese diagnóstica? Diagnósticos diferenciais? Conduta? Transtorno depressivo persistente (distimia) CID (F34.1) Representa uma consolidação do transtorno depressivo maior crônico e do transtorno distímico definidos no DSM-IV Distimia CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS A. Humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos dois anos, ou por pelo menos um ano para crianças e adolescentes B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características: 1. Apetite diminuído ou alimentação em excesso. 2. Insônia ou hipersonia. 3. Baixa energia ou fadiga. 4. Baixa autoestima. 5. Concentração pobre ou dificuldade em tomar decisões. 6. Sentimentos de desesperança. C. Durante o período de dois anos (um ano para crianças ou adolescentes) de perturbação, o indivíduo jamais esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de dois meses. Distimia CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS D. Os critérios para um transtorno depressivo maior podem estar continuamente presentes por dois anos. E. Jamais houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para transtorno ciclotímico. F. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno esquizoafetivo persistente, esquizofrenia, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. Distimia CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipotireoidismo). H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. DRT DEPRESSÃO RESISTENTE AO TRATAMENTO O transtorno depressivo maior (TDM) é um transtorno mental prevalente, multidimensional e em geral se inicia antes dos 30 anos de idade, sendo crônico em aproximadamente 20% dos casos PROPOSTA DO TRATAMENTO ● melhoria da qualidade de vida; ● recuperação funcional; ● remissão cognitiva FATORES ASSOCIADOS À RESISTÊNCIA AOS ANTIDEPRESSIVOS ● história familiar de transtornos do humor; ● idade precoce de início dos sintomas; ● aspectos farmacogenéticos; ● presença de estressores psicossociais; ● prejuízo cognitivo primário ou secundário; ● comorbidades psiquiátricas ou clínicas não tratadas; ● presença de sintomatologia psicótica incongruente com o humor MODELOS DE ESTADIAMENTO MODELO DE THASE E RUSH MODELOS DE ESTADIAMENTO MODELO EUROPEU Avaliação do paciente REAVALIAÇÃO DE DIAGNÓSTICO REAVALIAR TDM Pode se tratar de um quadro de depressão bipolar ou de um transtorno depressivo devido a uma condição médica geral REAVALIAR TTO ANTERIOR Subdoses? Tempo inadequado? Farmacocinética? (ex: polimorfismo no gene que codifica uma enzima específica do citocromo P450 que o torne “metabolizador rápido”). VERIFICAR ADESÃO Estar atento à possível existência de efeitos colaterais intoleráveis para o paciente (ex. disfunção sexual). Estratégias farmacológicas “SEGUNDO PASSO” após falência da primeira linha ● combinação de antidepressivos; ● troca de antidepressivos; ● estratégias de potencialização. Síntese TROCA DE AD Não há nenhum benefício em trocar antidepressivos de classes distintas em relação a trocas dentro da mesma classe. TCC Tem o nível mais elevado de evidência para o manejo da DRT entre as psicoterapias MÉTODOS BIOFÍSICOS ECT bilateral apresenta o maior nível de evidência para DRT POTENCIALIZAÇÃ O Com lítio ou T3 tem elevado nível de evidência quando consideramos os ADTs, mas poucos ECRs existem utilizando novos antidepressivos. Prevenção ao suicídio AVALIAÇÃO, ABORDAGEM E ORIENTAÇÕES O suicídio não é inevitável. É um fenômeno complexo e a intenção suicida pode ser ambivalente e flutuante. Com o apoio correto as pessoas podem encontrar uma saída em meio a uma crise suicida e se recuperar Depressão e suicídio MORTES EVITÁVEIS BUSCAM TRATAMENTO 75% dos depressivos suicidas tinham tratamento psiquiátrico anterior, 66% no ano prévio, e 50% no momento do suicídio. BUSCAM AJUDA NA CRISE 20% procurou o médico no dia da tentativa de suicídio, 40% na semana anterior e 66% 3 meses antes. NÃO ESTÃO BEM TRATADOS 3% estavam tomando antidepressivos em dosagens adequadas no momento do suicídio (7% psicoterapia) Depressão e suicídio AVALIAÇÃO DO RISCO A gravidade da depressão e sintomas psicóticos não estão mais associados a risco de suicídio! Devemos avaliar TODOS os deprimidos Fatores de Risco e de proteção ● Tentativa prévia (5-6x mais chances de tentar novamente) ● Doença mental (ainda que não diagnosticada) PRINCIPAIS FATORES DE RISCO Personalidade e estilo cognitivo, laços sociais bem estabelecidos com família e amigos, religiosidade, acesso a serviços e cuidados de saúde mental FATORES DE PROTEÇÃO Impulsividade, desesperança, abuso de substâncias, faixa etária (jovens e idosos), sexo masculino, doenças clínicas não psiquiátricas (ca, HIV, EM, LES, AVE, DPOC, Parkinson, Epilepsia etc), eventos advesos em infância/adolescência, história familiar (componentes genéticos e ambientais), fatores sociais (desemprego, problemas financeiros, viver sozinho) OUTROS FATORES DE RISCO Fatores associados à depressão AUMENTAM O RISCO DE SUICÍDIO ANSIEDADE• Psíquica, não somática • Agitação • Perturbação ou confusão ABUSO DE DROGAS lícitas ou ilícitas LABILIDADE DO HUMOR ● impulsividade ● raiva INSÔNIA GRAVE DESESPERANÇA E PESSIMISMO ● COVID-19? ● situação política? ● Os ADT e Lítio (apesar de ser medicação protetora) têm maior risco de letalidade quando usados em tentativas de suicídio que outras medicações ● BZD associados ao álcool e/ou outros depressores do SNC também ● Em caso de risco de suicídio, deve-se fornecer a medicação em intervalos de tempo menores (ex. semanalmente) ● A Clozapina tem efeito protetor superior a outros antipsicóticos no que se refere ao risco de suicídio É importante saber: Abordagens terapêuticas: ● Contrato de não suicídio: é uma técnica útil e familiares podem ser incluídos. É válido quando pacientes têm controle de suas ações. Apesar disso, não é garantia e devemos estar atentos com nossos próprios sentimentos. O compartilhamento do cuidado diminui a sobrecarga dos profissionais. ● Abordagem familiar: Genograma e Ecomapa De volta ao caso clínico CONDUTA E EVOLUÇÃO - Conduta: “contrato” de não suicídio - Evolução: - Ajuste medicamentoso - Internação para ECT? Referências Bibliográficas AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014. CARVALHO, Andre Férrer; NARDI, Antonio Egidio; QUEVEDO, João. Transtornos Psiquiátricos Resistentes ao Tratamento: diagnóstico e manejo. Artmed Editora, 2015. WAGNER, G. Avaliação do Risco de Suicídio e sua Prevenção. Coleção Guia de Referência Rápida. Versão profissional. Rio de Janeiro. 1ª edição/2016. Disponível em: http://subpav. org/download/prot/Guia_Suicidio. pdf, 2016.
Compartilhar