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Patologia: Adaptação Celular - As adaptações são alterações reversíveis em número, tamanho, fenótipo, atividade metabólica ou funções das células em resposta às alterações no seu ambiente. - As adaptações fisiológicas geralmente representam respostas celulares ao estímulo normal de hormônios ou mediadores químicos endógenos (p. ex., aumento da mama e do útero induzido por hormônio durante a gravidez), ou as exigências de estresse mecânico (nos ossos e músculos). - As adaptações patológicas são respostas ao estresse que permitem às células modularem sua estrutura e função e, assim, escapar da lesão, mas à custa da função normal, como metaplasia escamosa do epitélio brônquico em fumantes. Hipertrofia: - A hipertrofia consiste no aumento no tamanho das células que resulta em aumento no tamanho do órgão. - Em contraste, a hiperplasia é o aumento no número de células. - Dito de outra forma, na hipertrofia pura não há novas células, apenas células maiores contendo quantidades aumentadas de proteínas estruturais e organelas. - A hiperplasia é uma resposta adaptativa de células capazes de replicação, enquanto a hipertrofia ocorre em células com capacidade limitada de se dividir. - Hipertrofia e hiperplasia também podem ocorrer em conjunto, e obviamente ambas resultam em um órgão aumentado. - A hipertrofia pode ser fisiológica ou patológica e é causada pelo aumento da demanda funcional ou por fatores de crescimento ou estimulação hormonal. - O aumento fisiológico maciço do útero durante a gravidez ocorre como consequência de hipertrofia e hiperplasia do músculo liso estimulado pelo estrogênio. - Ao contrário, em resposta ao aumento da carga de trabalho, as células musculares estriadas tanto no músculo esquelético como no coração sofrem apenas hipertrofia, porque as células musculares adultas apresentam capacidade limitada de divisão. - Portanto, o corpo dos levantadores de peso resulta unicamente da hipertrofia dos músculos esqueléticos individuais. - Um exemplo de hipertrofia patológica é o aumento cardíaco que ocorre na hipertensão ou na doença valvar aórtica. O miocárdio submetido a uma carga de trabalho persistentemente aumentada, como na hipertensão ou por uma valva estreitada (estenótica), adapta-se submetendo-se à hipertrofia para gerar a força contrátil necessária. Se, por outro lado, o miocárdio é submetido a um fluxo sanguíneo reduzido (isquemia) devido a uma artéria coronária ocluída, as células musculares podem sofrer lesão. - Uma adaptação ao estresse, tal como a hipertrofia, pode progredir para uma lesão celular funcionalmente significativa se o estresse não for aliviado. - Qualquer que seja a causa da hipertrofia, atinge-se um limite no qual a dilatação da massa muscular não pode mais compensar o aumento da carga. - Quando acontece no coração, ocorrem diversas alterações degenerativas nas fibras miocárdicas, e entre as mais importantes estão a fragmentação e a perda de elementos contráteis miofibrilares. Hiperplasia: - Hiperplasia se refere ao aumento no número de células em um órgão que resulta da proliferação aumentada de células diferenciadas ou, em alguns casos, de células progenitoras menos diferenciadas. - A hiperplasia ocorre se o tecido contiver populações de células capazes de divisão; pode ocorrer simultaneamente à hipertrofia e muitas vezes em resposta aos mesmos estímulos. - A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica; em ambas as situações, a proliferação celular é estimulada por fatores de crescimento que são produzidos por vários tipos de células. - Um ponto importante a ser destacado é que, em todas as seguintes situações, o processo hiperplásico permanece controlado; se os sinais que o iniciam são diminuídos ou interrompidos, a hiperplasia desaparece. - Essa responsividade aos mecanismos normais de controle regulatório distingue as hiperplasias patológicas benignas do câncer, nas quais os mecanismos de controle do crescimento se tornam permanentemente desregulados ou ineficazes. - No entanto, em muitos casos, a hiperplasia patológica constitui um solo fértil no qual o câncer pode eventualmente surgir. - Os dois tipos de hiperplasia fisiológica são: - (1) Hiperplasia hormonal, exemplificada pela proliferação do epitélio glandular da mama feminina na puberdade e durante a gravidez. - (2) Hiperplasia compensatória, na qual o tecido residual cresce após remoção ou perda de parte de um órgão. - Por exemplo, quando parte de um fígado é ressecada, a atividade mitótica nas células restantes inicia-se 12 horas após, restaurando o fígado ao seu tamanho normal. O estímulo para hiperplasia neste contexto consiste nos fatores de crescimento polipeptídicos produzidos por hepatócitos não lesionados, bem como células não parenquimatosas no fígado. - Após a restauração da massa hepática, vários inibidores de crescimento desativam a proliferação celular. - A maioria das formas de hiperplasia patológica é causada por estimulação excessiva hormonal ou por fatores de crescimento. - Por exemplo, após um período menstrual normal há aumento da proliferação epitelial uterina que geralmente é regulada pelos efeitos estimuladores dos hormônios pituitários e do estrogênio ovariano e pelos efeitos inibitórios da progesterona. - Uma perturbação deste equilíbrio que conduz a uma estimulação estrogênica aumentada provoca hiperplasia endometrial, que é uma causa comum de sangramento menstrual anormal. - A hiperplasia prostática benigna é outro exemplo comum de hiperplasia patológica induzida em resposta à estimulação hormonal por andrógenos. - A estimulação a partir de fatores de crescimento também está envolvida na hiperplasia que está associada a certas infecções virais; por exemplo, os papilomavírus causam verrugas cutâneas e mucosas, lesões compostas de massas de epitélio hiperplásico. Aqui os fatores de crescimento podem ser codificados por genes virais ou pelos genes das células hospedeiras infectadas. Atrofia: - Atrofia é a diminuição no tamanho das células por perda de substância celular. - Quando um número suficiente de células está envolvido, todo o tecido ou órgão diminui em tamanho ou torna-se atrófico. - Embora as células atróficas possam apresentar função diminuída, elas não estão mortas. - As causas de atrofia incluem diminuição da carga de trabalho (p. ex., imobilização de um membro para permitir a cicatrização de uma fratura), perda de inervação, redução do fornecimento sanguíneo, nutrição inadequada, perda de estimulação endócrina e envelhecimento (atrofia senil). - Embora alguns destes estímulos sejam fisiológicos (p. ex., perda de estimulação hormonal na menopausa) e outros patológicos (p. ex., denervação), as alterações celulares fundamentais são semelhantes. - Elas representam uma retração da célula para um tamanho menor, no qual a sobrevivência ainda é possível; um novo equilíbrio é alcançado entre o tamanho das células e a diminuição do fornecimento de sangue, nutrição ou estimulação trófica. - A atrofia celular resulta da combinação da diminuição da síntese proteica e a maior degradação de proteínas. - A síntese proteica diminui devido à redução da atividade metabólica. - A degradação das proteínas celulares ocorre principalmente pela via ubiquitina-proteassoma. - A deficiência de nutrientes e o desuso podem ativar as ubiquitina-ligases, que conjugam múltiplas cópias do peptídeo pequeno ubiquitina às proteínas celulares e as direcionam para a degradação nos proteassomas. - Acredita-se que esta via também seja responsável pela proteólise acelerada observada em várias condições catabólicas, incluindo a caquexia associada ao câncer. - Em muitas situações, a atrofia também está associada à autofagia, com consequente aumento do número de vacúolos autofágicos. - A autofagia é o processo no qual a célula desnutrida digere suas próprias organelas em uma tentativa de sobrevivência. Metaplasia: - Metaplasia é uma alteração na qual um tipo de célula adulta (epitelial ou mesenquimal) é substituído por outro tipo de célula adulta.- Neste tipo de adaptação celular, um tipo de célula sensível a um determinado estresse é substituído por outro tipo de célula com maior capacidade de suportar o ambiente adverso. - Acredita-se que a metaplasia surge devido a uma reprogramação de células-tronco para se diferenciar ao longo de uma nova via, em vez de uma alteração fenotípica (transdiferenciação) de células já diferenciadas. - A metaplasia epitelial é exemplificada pela alteração que ocorre no epitélio respiratório de tabagistas habituais, nos quais as células epiteliais cilíndricas ciliadas normais da traqueia e dos brônquios frequentemente são substituídas por células epiteliais escamosas estratificadas. - O epitélio escamoso estratificado resistente pode ser capaz de sobreviver aos produtos químicos nocivos na fumaça do cigarro que o epitélio especializado mais frágil não tolera. - Embora o epitélio escamoso metaplásico apresente vantagens de sobrevivência, perdem-se importantes mecanismos de proteção, como a secreção de muco e a remoção ciliar da matéria particulada. - A metaplasia epitelial é, portanto, uma “faca de dois gumes”. - Como a vitamina A é essencial para a diferenciação epitelial normal, sua deficiência também pode induzir metaplasia escamosa no epitélio respiratório. - No refluxo gástrico crônico, o epitélio escamoso estratificado normal da parte inferior do esôfago pode sofrer transformação metaplásica para epitélio colunar gástrico ou tipo intestinal. - A metaplasia também pode ocorrer em células mesenquimais, mas, em tais situações, geralmente constitui reação a alguma alteração patológica e não uma resposta adaptativa ao estresse. - As influências que induzem alterações metaplásicas epiteliais, se persistentes, podem predispor à transformação para uma doença maligna. - De fato, a metaplasia escamosa do epitélio respiratório costuma coexistir com o câncer de pulmão composto por células escamosas malignas. - Acredita-se que o tabagismo, inicialmente, cause metaplasia escamosa, e o câncer surge mais tarde em alguns desses focos alterados. Referência: KUMAR V.; ABBAS A.K.; ASTER J.C.; Robbins patologia básica [tradução Tatiana Ferreira Robaina] – [Reimpr.]. – Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional. Publicado pelo selo Editora Guanabara Koogan Ltda., 2021.
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