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Discromias Mila Vitória – Dermato 2021.2 São doenças que se caracterizam por alteração da cor da pele. São divididas em 3 grupos: • Leucodermias: máculas acrômicas ou hipocrômicas; podem ser congênitas ou adquiridas • Melanodermias: máculas hipercrômicas; podem ser congênitas ou adquirdas • Hipercromias não melânicas: causadas por outros pigmentos que não a melanina Leucodermias congênitas ou hereditárias Albinismo • Genodermatose autossômicas recessiva • Ausência total ou quase total de melanina na pele, cabelos e/ou olhos • Cor branca da pele e cabelos branco-amarelados • Alterações oculares (íris translúcida e rósea, nistagmo, diminuição da acuidade visual, fotofobia, fundo de olho hipopigmentado • Incidência de 1:20.000 • Ocorre por defeito genético na síntese da melanina -> há número de melanócitos normais, mas a formação da melanina está afetada -> falta tirosinase ou por atividade baixa • Pele extremamente sensível a exposição solar -> atentar para: queimaduras, envelhecimento precoce, ceratoses actínicas e tumores malignos -> fotoproteção rigorosa (mudanças de estilo de vida + protetor eficaz) e tratamento precoce de lesões malignas e pré-malignas (acompanhamento mais de perto) Piebaldismo • Autossômica dominante • Caracterizada por poliose (cabelo branco) circunscrita associada com mácula acrômica triangular na região frontal • Máculas acrômicas disseminadas pelo corpo -> estas têm ilhotas de pigmentação • Alteração no desenvolvimento do melanoblastos -> ausência de melanócitos Nevo acrômico • Mancha hipo/acrômica, congênita (nem sempre é vista ao nasicmento!), de forma e tamanho variáveis e bordas irregulares • Melhor evidenciado com luz de wood • Melanócitos alterados funcionalmente • Dix diferencial: nevo anêmico (constrição vascular) -> diferencia por: vitropressão (no nevo anêmico some), luz de wood (ressalta o nevo acrômico e desparece no anêmico), prova da histamina ou atrito (no nevo anêmico não causa eritema) Leucodermias adquiridas Vitiligo • Lesões acrômicas devido a destruição de melanócitos • Acomete 0,5 a 2% da população • Ausência de predileção por sexo ou raça • Acomete qualquer faixa etária, sendo mais comum entre 2º e 3º década de vida • Causa importante impacto psicossocial • Etiologia: causa não esclarecida, sabe-se que existe componente genético • Desencadeantes: trauma e queimadura solar • 4 teorias: • Imunológica: auto-imune -> formação de anticorpos anti-melanócitos; associação com doenças auto-imunes; hiperativação de linfócitos T • Citotóxica: formação de metabólitos intermediários na síntese da melanina -> defeitos nos mecanismos de proteção dos melanócitos -> acúmulo de indóis e radicais livres -> destruição do melanócito; fatores que corroboram essa hipótese: alteração no retículo endoplasmático, na apoptose celular e sensibilidade aumentada ao UV -> diminuição da sobrevida do melanócito • Bioquímica: síntese excessiva de di-hidrobiopterina (cofator da tirosina hidroxilase) -> aumento da produção de catecolaminas -> formação de radicais livres -> morte celular de melanócitos • Neuronal: mediador neuroquímico (neuropeptídeo Y, norepinefrina, acetilcolina) -> efeito tóxico com destruição de melanócitos ou inibição da produção de melanina; distribuição segmentar; associação com esclerose múltipla e encefalites virais Manifestações clínicas • Manchas acrômicas, de limites nítidos, com forma e extensão variáveis • Poliose • Acometimento ocular (uveíte) e auditivo (hipoacusia) • Tendência a distribuição simétrica • Face, punhos, dedos, genitália, áreas de dobras, regiões periorificiais e eminências ósseas Classificação Diagnóstico • Luz de wood: torna a lesão mais evidente -> verificar extensão, excluir afecções hipocrômicas, acompanhar evolução • Histopatologia: ausência de melanócitos • Diagnóstico diferencial: albinismo, nevo acrômico, acromias de contato, ptiríase alba, ptríase versicolor, hipocromia pós-inflamatória, hanseníase Evolução • Evolução imprevisível: não há critério clínico ou laboratorial que oriente a prognose • Início abrupto e progressão até estabilização • Regressão espontânea existe e não é tão rara • 3 padrões de repigmentação: ilhotas pontuadas nos óstios foliculares no interor da mancha, modo centrípeto a partir das bordas, repigmentação difusa • Áreas com poucos folículos ou com pelos brancos: má resposta ao tratamento • Não há aumento na incidência de câncer de pele (pode até ter maior chance principalmente devido ao tratamento, mas não exatamente na lesão que tem acromia): superexpressão de p53= efeito anticarcinogênico; expressão reduzida de GD3= espessamento epidérmico -> fatore de proteção Tratamento O objetivo do tratamento é controlar a inflamação e ajudar a repigmentar as manchas. Não há tratamento para evitar o surgimento de manchas novas. • Fotoprotetores: prevenção de queimaduras solares (fenômeno de Koebner); finalidade cosmética -> diminuir o contraste entre pele lesada e pele sã Medicamentos tópicos • Corticoides: indicado nas lesões localizadas; geralmente é utilizado corticoide de potência média ou alta – efeitos colaterais- aplicação intermitente; repigmentação após 3-4 meses em 50% dos pacientes; tratamento eletivo em crianças; pode associar ao sol ou UVB em doses suberitematosas • Psoralênicos: são substâncias fotossensibilizantes; sintéticos -> 8-metoxipsoraleno (8MOP) ou trimetilpsoraleno -> uso tópico em formas localizadas – orienta junto à exposição solar –> tentativa de estimular o melanócito -> risco de super-exposição; fitoterápicos: óleo de bergamota, Ammi majus, Brosinum guadchaudii • Imunomoduladores: inibidores da clcineurina -> tacrolimus e pimecrolimus; resultados comparáveis aos corticoides (de potência média para baixa) sem seus efeitos colaterais; crianças e áreas sensíveis • Análogos da vitamina D: calcipotriol; ação imunomoduladora e estímulo da melanogênese; associação com corticoide ou fototerapia Medicamentos sistêmicos • Corticoides: indicado para adultos -> em casos de progressão rápida, lesões disseminadas -> nesses casos é 1º opção; dose inicial de 1mg/kg/dia de prednisona ou pulsoterapia; associar exposição solar suberitematosa ou UVA • Psorasol: psoralênicos + exposição ao sol; 2º opção em casos de lesões múltiplas ou disseminadas; trioxsalen ou metoxsalen; 2-3x/semana associado a exposição solar -> após cada exposição, não espor-se ao sol por 12hrs + proteção ocular; repigmentação inicia após 30-40 exposições • PUVA: psoralênico + UVA; 3º opção; feita em unidade de fototerapia; melhor resposta terapêutica; não indicada em crianças e adultos de fototipos baixos; aplicações por longos períodos podem contribuir oara fotoenvelhecimento, ceratoses actínicas, carcinomas e catarata Outras modalidades terapêuticas • UVB narrow band (311 nm): fototerapia -> promove migração e proliferação de melanócitos, melanogênese e inibe autoimunidade; efetividade, não requer proteção ocular, ausência de efeitos da medicação sistêmica • Despigmentação: acometimento de mais de 50% da superfície cutânea= possibilidade de repigmentação diminuída; monobenzileter de hidroquina 20% creme (Benoquin) -> destrói melanócitos -> despigmentação definitiva • Excimer laser (308 nm): vantagem- aplicado só onde há lesão; desvantagem- custo e dificuldade de acesso • Transplante de melanócitos: usado em casos de poucas lesões e estáveis • Antioxidantes orais ou tópicos (associados a outros medicamentos), autobronzeadores e camuflagem • Inibidores da JAK: inibem a sinalização celular mediada por citocinas Nevo halo • Caracterizada por halo despigmentado ao redor de nevo melanocítico • Acomete mais adolescentes • Pode acontecer em associação com vitiligo • Geralmente múltiplos e em vários estágios • Resulta de reação imunológica pela formação de anticorpos anti-melanócitos névicos e dapele ao redor • Histopatologia corresponde à clínica: infiltrada inflamatório em volta das células névicas, com a evolução, célula névica e infiltrado desaparecem, permitindo repigmentação da pele • Não necessita de tratamento, pode fazer exérese se o paciente desejar e biópsia para diagnóstico diferencial com melanoma Ptiríase alba • Afecção hipocrômica comum • Acomete principalmente crianças e adolescentes • Pele morena e com asteatose (pele seca) • Associação com antecedente atópico = alguns autores consideram um mini-sintoma da dermatite atópica • Hipocromia resulta de bloqueio da transferência de melanossomas dos melanócitos para os ceratinócitos = mecanismo desconhecido • Fatores desencadeantes: exposição solar, sabões e banhos • Manifestações clínicas: manchas hipocrômicas ligeiramente descamativas; face, tronco, MMSS; tamanho variável; assintomáticas • Diagnóstico diferencial: pitiríase versicolor, vitiligo • Tratamento: hidratação, fotoproteção Hipomelanose macular progressiva • Acomete principalmente dolescentes e adultos jovens miscigenados • Tronco (linha média) • Máculas hipocrômicas confluentes, não descamativas e assintomáticas • Etiopatogenia incerta (P. acnes) • Tratamento (nenhum tem eficácia comprovada): fototerapia, peróxido de benzoíla e/ou clindamicina tópicos, tetraciclinas orais Leucodermia solar gutata • Causada por ação prolongada e cumulativa da luz em áreas expostas • Múltiplas manchas hipo/acrômicas arredondadas de 2-5mm e bordas bem definidas • Principalmente em mulheres entre 3º-4º década • Principais locais acometidos: braços e pernas • Histopatologia: alterações dos melanócitos com atrofia da epiderme pela ação actínica • Tratamento: proteção solar, crioterapia, NNP (mais novo, parece ter reposta promissora) Melanodermias congênitas ou hereditárias Efélides (sardas) • Máculas acastanhadas claras ou escuras de 2-4mm • Inicia na infância ou adolescência • Exposição solar + caráter hereditário • Ocorre principalmente em pessoas de pele clara- fototipos I e II • Distribuição simétrica • Face, MMSS, ombros e porção superior do tronco • É um aumento de melanina na camada basal com número normal de melanócitos • Prevenção: fotoproteção • Tratamento: crioterapia, laser -> mais por questões estéticas Mancha café com leite • Máculas acastanhadas claras a escuras bem delimitadas de 2-10mm • Congênita ou surge nos primeiros anos de vida • Qualquer localização • Histopatologia: aumento de atividade dos melanócitos sem alteração do número • Pode estar associada a :neurofibromatose, esclerose tuberosa e síndrome de Albright (múltiplas) Lentigo simples • Máculas puntiformes castanha escura a preta (1-2mm), limites nítidos, número variado • Qualquer localização, inclusive áreas não expostas ao sol • Quando múltiplas, podem estar associadas a: síndrome leopardo, síndrome de peutz-jeghers • Histopatologia: aumento de melanócitos e de melanina na epiderme • Dx diferencial: melanose solar, nevo melanocítico juncional, efélides • Não necessita de tratamento, mas paciente pode optar com exérese superifical ou dermatoabrasão • Aumentam com a idade • Transformação maligna é muito rara Nevo spillus • Raro • Mácula castanha-clara com pontos escuros • É uma combinação da mancha melânica com nevo juncional. Histopatologia: aumento da pigmentação basal e presença de células névicas • Não requer tratamento • Transformação maligna é muito rara Melanose pilosa de Becker • Mancha hiperpigmentada com Hipertricose • Mais comum na adolescência e no sexo masculino • Localização: região escapular, unilateral • Histopatologia: maior atividade de melanócitos e haste pilosa espessada • Não necessita de tratamento, mas por questões estéticas pode-se optar pelo laser Mancha mongólica • Mácula castanha-azulada na região lombo-sacra • Mias comum em orientais e negros • Presente ao nascimento, desaparece após alguns anos • Histopatologia: melanócitos na derme reticular • Não requer tto • Não sofre transformação maligna Nevo de Ota • Mácula castanha-azulada • Localizada na área do 1º e 2º ramos do trigêmeo • Acomete mais orientais • Associado a pigmentação ocular (mucosa nasal e oral) • Histopatologia da mancha mongólica (melanócitos na derme reticular) • Ttti: laser Nevo de Ito • Mancha idêntica ao nevo de Ota, porém localizada no ombro, área supra-clavicular e região cervical (nervos laterobraquial e supraclavicular posterior) Melanodermias adquiridas Melanose solar • Causada por ação cumulativa da luz • A partir da 4º década de vida • Época de aparecimento e intensidade varia com a cor da pele e tempo de exposição ao sol; por isso, é errado chamar melanose senil • Máculas acastanhadas claras ou escuras de alguns mm até 1,5cm em áreas fotoexpostas • Histopatologia: melanócitos em número normal ou discretamente aumentado -> aumento da produção de melanina (epiderme e melanófagos na derme) acompanhada de elastose • Dx diferencial: efélides, lentigo simples, ceratose seborreica • Transformação maligna muito rara -> torna-se mais extensa, infiltrada, de cor castanha-preta -> lentigo maligno • Tratamento: fotoproteção, crioterapia, quimiocauterização, laser, ácido retinóico/hidroquinona Fitofotodermatose • Se dá devido ao contato com susbtâncias fotossensibilizantes (furocumarinas) + exposição solar • Furocumarinas estão presentes em: limão taiti, tangerina, lima, figo, caju, aipo, coentro, salsa, erva-doce, cenoura, nabo • Manchas eritematosas com distribuição irregular (bolhas), evoluem para hipercromia e resolução • Tratamento: não é necessário, mas, pode-se usar corticoide tópica na fase eritematoma e clareador posteriormente Melasma • Também conhecido por cloasma • Hipercromia em áreas fotoexpostas, principalmente face, embora não seja exclusiva • É uma fotodermatose pois o sol é fator desencadeante e agravante • Mais comum em países ensolarados e altas atitudes • Mais acometidos: fototipos III e IV, latinos e asiáticos • 90% dos pacientes são mulheres em idade fértil Manifestações clínicas Manchas simétricas, castanha-clara a escura, com bordas irregulares, porém bem delimitadas • Regiões mais acometidas: regiões malares, frontal, mentoniana, labial superior e masseterianas (V do decote e face extensora de MMSS) • Padrões clínicos: centro-facial (mais comum), malar e mandibular Etiologia Não é bem definida, mas sabe-se que existem fatores contribuintes: • Exposição solar (UV aumenta a atividade dos melanócitos -> com isso pode haver início súbito após exposição intensa ou gradual pela exposição constante) • Predisposição constitucional racial ou familiar • Gravidez (50-70%)-> elevados níveis de estrogênio, progesterona e MSH= estímulo da melanogênese • Estrógenos-progestágenos-> ACO, TRH • Cosméticos-> derivados de petróleo, psoralênicos e drogas fotossensibilizantes Etiopatogenia • Disfunção dos melanócitos -> alteração na cadeia enzimática -> aumento da síntese de melanina -> amior quantidade em todas as camadas da epiderme • Melanócitos com dendritos alargados, proeminentes e intensamente corados -> aumento do número de melanossomas • UV → aumenta síntese de MSH (hormônio estimulante da melanina) e ACTH → se ligam ao receptor para melanocortina nos melanócitos → formação de AMP cíclico, proliferação celular e aumento da síntese de melanina Diagnóstico • Clínico • Histopatologia classifica em: epidérmico, dérmico e misto • Luz de Wood: visualização da extensão • Dermatoscopia: avalia pigmento e vascularização Tratamento • Fotoproteção de amplo espectro, deve proteger contra UVA/UVB/luz visível; deve ter agentes químicos e físicos; preferencialmente cor de base; orientar sobre medidas complementares Agentes clareadores: • Hidroquinona: padrão ouro → inibe melanogênese(compete com a tirosina, inibindo a tirosinase) – efeitos adversos: dermatite de contato irritativa, dermatite de contato alérgica, hipercromia pós-inflamatória, descoloração ungueal, hipo ou acromias, ocronose exógena (piora da pigmentação) – Monoterapia ou associações (tríplice combinação: hidroquinona + ácido retinóico + corticoide) Ácido retinóico: melhora penetração da hidroquinona + efeito clareador → dispersa grânulos de melanina dos queratinócitos, interfere na transferência dos melanossomas , acelera o turn over celular, inibe tirosinase e melanogênese Corticoides: atenua ação irritativa + ação inibidora da melanogênese → diminuição turn over celular na epiderme, inibição de melanócitos • Outros agentes clareadores: Ácido azeláico (pode ser usado na gestação e lactação), Vitamina C, Ácido kójico, Arbutim, Ácido tranexâmico Medidas complementares • Microdermabrasão e peeling químico superficial → coadjuvantes • Laser → resultados inconsistentes e alto risco de recorrência Hipercrômicas não melânicas Dermatite Ocre • Presente no paciente com insuficiência venosa: evolução da púrpura hipostática → extravasamento e destruição de hemácias → Depósito de hemossiderina na derme • Mancha amarela-castanha escura → 1/3 distal de MMII • Tratamento: ácido tioglicólico Carotinodermia • Pigmentação amarelada da pele por depósito de caroteno ou provitamina A • Ingestão exagerada • Pode acontecer em pacientes com diabetes e hipotireoidismo -> insuficiência do fígado na transformaçaõ da vitamina A • Coloração difusa → palmas, plantas, sulco nasogeniano, região retro-auricular e axilas • Escleróticas livres, ausência de prurido, localização palmo-plantar → diferenciação de ictericia
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