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Avaliação e Classificação Do Recém- Nascido O período neonatal é o intervalo de tempo que vai do nascimento até o momento em que a criança atinge 27 dias, 23 horas e 59 minutos. → Período neonatal precoce: intervalo de tempo que vai do nascimento até o momento em que a criança atinge 6 dias, 23 horas e 59 minutos. → Período neonatal tardio: intervalo de tempo que vai do 7º dia até o momento em que a criança atinge 27 dias, 23 horas e 59 minutos. A idade gestacional (IG) é a duração da gestação estimada a partir do 1º dia do último período menstrual (DUM), pela ultrassonografia pré-natal no início da gravidez ou clinicamente pelos métodos de Capurro, Dubovitz ou Ballard. É expressa em dias ou semanas completas. Quanto à IG, o recém-nascido (RN) pode ser classificado em: → RN pré-termo: crianças nascidas até 36 semanas e 6 dias (258 dias) de gestação. o Pré-termo precoce: crianças nascidas até 33 semanas e 6 dias. o Pré-termo tardio: de 34 semanas a 36 semanas e 6 dias. → RN a termo: nascidas entre 37 e 41 semanas e 6 dias (ou seja, 259 e 293 dias) de gestação. → RN pós-termo: nascidas com 42 semanas ou mais de gestação (294 dias). O peso ao nascimento é o primeiro peso obtido após o nascimento com a criança totalmente despida. Quanto ao peso ao nascimento, o RN pode ser classificado em: → Baixo peso: todo RN com peso inferior a 2500g. → Muito baixo peso: RN com menos de 1500g. → Extremo baixo peso: RN com menos de 1000g. O RN pode ainda ser classificado conforme a adequação do peso à IG, considerando como referencial uma curva de crescimento adequada. Esse parâmetro reflete a qualidade do crescimento fetal e permite a determinação de risco para problemas neonatais. O RN pode ser classificado em: → Adequado para a idade (AIG): peso ao nascer entre os percentis 10 e 90. → Pequeno para a idade gestacional (PIG): abaixo do percentil 10. → Grande para a idade (GIG): acima do percentil 90 Avaliação clínica da idade gestacional A determinação da idade do recém-nascido pode ser verificada através de características somáticas e neurológicas. Método de Capurro Utiliza apenas 5 parâmetros somáticos e 2 neurológicos, porém a verificação desses parâmetros em crianças deprimidas, doentes ou de difícil acesso fica limitada às variáveis somáticas. → Soma do Capurro somático: A + B + C + D + G + 204 = idade gestacional em dias. → Soma do Capurro somático e neurológico: A + B + C + D + E + F + 200 = idade gestacional em dias (desvio padrão ± 8,4 dias) Método de Ballard Utilizam-se 6 parâmetros somáticos e 6 neurológicos. Esse método é simples, consome pouco tempo na sua execução e é aplicável em todos os recém-nascidos, inclusive nos que estão em terapia intensiva. Em 1993, sofreu uma modificação para poder ser aplicado em prematuros com menos de 29 semanas de gestação. A despeito do método utilizado, a determinação da idade gestacional com base em critérios clínicos e neurológicos tem baixa acurácia (± 2 semanas), com tendência de que a idade seja superestimada em recém-nascidos muito prematuros. Recém-nascidos com asfixia ou obnubilados por agentes anestésicos ou substâncias psicoativas apresentarão pontuações menores nos critérios de maturidade neuromuscular. Nesses casos, o exame deve ser repetido 24 a 48 h após o nascimento. A soma das pontuações para todos os itens de maturidade neuromuscular e física fornece uma estimativa da idade gestacional em semanas, utilizando a escala de pontuação de maturidade. Exame Físico do RN Ectoscopia Avaliar a cor da pele: clara, ictérica, cianótica, seu turgor, ocorrência de descamação, manchas (mongólicas, eritema tóxico), equimoses, hematomas e lesões cortocontusas, que podem ocorrer no momento do parto. É importante procurar evidências de síndromes genéticas: fronte proeminente, micro ou macrocrania, alterações no dorso nasal, pregas epicânticas, hipertelorismo, orelhas de baixa implantação, micrognatia, protrusão da língua, pescoço alado. Na boca, avaliar os lábios e a conformação do palato: se em ogiva, fenda palatina, se há fissura labiopalatal etc., pesquisar se há dentes neonatais (dentes ao nascimento -mais comuns nas meninas). A maioria dos casos é familiar e sem implicações patológicas, mas podem estar associados a síndromes genéticas. Observar anatomia da língua e freio lingual (anquiloglossia parcial ou "língua presa”); verificar gengivas. Observar a posição dos mamilos (podem estar afastados na linha média) e a posição de inserção do coto umbilical no abdome, verificando se este tem duas artérias e uma veia. Observar região sacral em busca de fóveas, fossetas, tufos capilares, proeminências (mielomeningocele), manchas (mongólicas). Avaliar membros, com especial atenção aos dedos das mãos (quirodáctilos) e dos pés (pododáctilos) em busca de polidactilias, sindactilias, dedos mais curtos ou mais longos que o habitual. Observar palma das mãos em busca de linha palmar transversa contínua e formato da planta do pé (pé plano). Avaliar posição dos pés em relação aos tornozelos (pés tortos congênitos). É também importante verificar se as narinas e a região anal estão pérvias, por meio de uma sonda fina introduzida delicadamente nestes orifícios em busca de atresia de cóanas e imperfuração anal respectivamente. Aparelho cardiovascular Ausculta atenciosa de todo o tórax. Observar visualmente o ictus cordis e palpá lo para identificação de frêmitos de origem cardíaca. Sua posição varia de acordo com a faixa etária, localizando-se lateralmente à linha hemiclavicular esquerda no 3º espaço intercostal esquerdo no recém-nascido. Contar a frequência cardíaca e avaliar o ritmo. Lembrar que a arritmia sinusal ou respiratória é normal na infância e que nesta situação, a frequência cardíaca aumenta com a inspiração e diminui na expiração. Palpar os pulsos femorais. Observar se ocorrem sopros cardíacos e avaliar sua intensidade. No exame físico do aparelho cardiovascular, é importante estar atento também a cianoses, edemas, tamanho do fígado e reflexos hepatojugulares. Aparelho respiratório Durante a inspeção, procurar sinais de esforço respiratório (avaliar se há tiragem subcostal, intercostal e fúrcula; observar se ocorrem cianose, batimento de aletas nasais e balancim toracoabdominal - assincronia entre o movimento do tórax e do abdome no ciclo respiratório). Avaliar frêmito torácico, proceder à ausculta do tórax para avaliação do murmúrio vesicular. Observar se há ruídos adventícios (sibilos, estertores). Contar a frequência respiratória do RN em 1 min. Abdome Avaliar a forma do abdome (globoso, plano, escavado), tensão (abdome intensamente flácido, com pele enrugada e vísceras abdominais palpáveis como na síndrome de prune belly), ocorrência de visceromegalias e massas palpáveis. A percussão, avaliar o timpanismo. A ausculta, observar os ruídos hidroaéreos. Avaliar cordão umbilical, contando número de artérias e veias (normalmente duas artérias e uma veia). Genitália Verificar se é típica masculina ou feminina: → Na genitália masculina, procurar testículos na bolsa escrotal e na região inguinal. Verificar se há exposição da glande e, havendo, observar se há epispadia ou hipospadia (o meato uretral externo localizado na face dorsal do pênis ou na face ventral do pênis, respectivamente). → Nas meninas, verificar se há sinequia (aderência) de pequenos lábios, hipertrofia de lábios vulvares, de clitóris (comuns na hiperplasia congênita de suprarrenal). Casos de anormalidades da diferenciação sexual devem ser identificados. → Caso a genitália seja ambígua, não se deve dizer o sexo do RN até que se faça uma melhor avaliação e se tenha tal certeza (em alguns casos, essa determinação só vai ser possível após análise de alguns exames, como o cariótipo).Membros Pesquisa dos sinais de Ortolani e Barlow para identificação de luxação congênita do quadril. Observar o formato dos membros, se há edema, hipoplasia, alterações nos dedos dos pés ou das mãos- polidactilias, sindactilias -, se há alguma alteração observada durante a palpação de clavículas (crepitação, por fratura, que pode ocorrer no parto). A manobra de Barlow é um teste provocativo realizado com os quadris e joelhos do recém-nascido fletidos. Seguram-se as pernas gentilmente, com as coxas em adução, e o examinador aplica uma força no sentido posterior. A manobra é positiva se o quadril é deslocável (luxável). A manobra de Ortolani é o reverso da de Barlow. O examinador segura as coxas do recém-nascido e gentilmente realiza a abdução do quadril enquanto move anteriormente o grande trocanter com dois dedos. A manobra é positiva quando a cabeça do fêmur luxada retoma ao acetábulo, com um "clunk" palpável quando o quadril é abduzido. Identificar hipertonias, hipotonias, movimentos anormais e reflexos tendinosos e cutâneo-plantar (devem ser interpretados no contexto geral do exame neurológico; isolados, nesta faixa etária, não fundamentam diagnóstico e não ditam conduta). Avaliar igualmente reflexos primitivos (Moro, tônico- cervical e preensão palmar e plantar). Reflexo de Moro. deflagrado com algum estímulo (som mais intenso ou movimento súbito do recém-nascido) - a coluna se arqueia para trás e os braços e mãos se abrem, simulando um abraço. Pode ser observado até os 5 a 6 meses de vida. Período Transitivo Neonatal (adaptações fisiológicas, fase adaptativa) Desenvolvimento pulmonar No período embrionário, aos 26 dias, o pulmão aparece primeiro como uma protrusão do intestino anterior. O broto pulmonar se ramifica e os futuros brônquios principais penetram no mesênquima. A ramificação dicotômica subsequente origina as vias aéreas condutoras. A vasculatura pulmonar se ramifica do 6º arco aórtico para formar o plexo vascular no mesênquima do broto pulmonar. No estágio pseudoglandular, entre a 7ª e a 8ª semana, ocorrem 15 a 20 gerações de ramificações, ficando a ramificação completa. As vias aéreas em desenvolvimento são revestidas por células cuboides simples, que contêm grande quantidade de glicogênio. No estágio canalicular, entre 16 e 25 semanas de gestação, ocorre a transformação do pulmão que ainda não é viável em pulmões potencialmente viáveis que podem fazer troca gasosa. Os 3 eventos principais durante este estágio são: o surgimento dos ácinos, a diferenciação epitelial com o desenvolvimento da barreira hematoaérea potencial e o começo da síntese de surfactante nas células do tipo II reconhecíveis. Após cerca de 20 semanas, as células cuboides ricas em glicogênio começam a ter corpúsculos lamelares em seu citoplasma (diferenciação para as células do tipo II). O glicogênio nas células do tipo II fornece substrato à síntese de surfactante. O estágio sacular compreende o período do desenvolvimento pulmonar durante as fases potencialmente viáveis da prematuridade, entre aproximadamente 24 semanas e o termo. O saco terminal ou sáculo é alongado, ramificado e estendido, antes do início da alveolização, aproximadamente na 32ª semana no pulmão fetal humano. A alveolização é iniciada destes sáculos terminais. O número de alvéolos cresce rapidamente da 32ª semana de gestação ao termo. O volume gasoso potencial do pulmão e a área de superfície aumentam a partir, aproximadamente, da 25ª semana de gestação até o termo. Este aumento no volume pulmonar, e o aumento na área dos sáculos estabelecem o potencial anatômico para a troca gasosa, e, portanto, a viabilidade fetal. Figura 1: Ramificação das vias aéreas, idade fetal e número de ramificações durante o desenvolvimento pulmonar. A ramificação das vias aéreas resulta em cerca de 16 gerações de vias aéreas por aproximadamente 32 semanas de gestação. A alveolização continua de 32 semanas até a maturidade. O pulmão fetal é preenchido com fluido e é responsável pela função respiratória até o nascimento. Esse fluido alonga o pulmão e promove seu crescimento e desenvolvimento. Quantidades normais do fluido são essenciais ao desenvolvimento pulmonar normal, bem como é necessária sua depuração para a adaptação da respiração neonatal normal. Na preparação para a respiração aérea, o surfactante é expresso no pulmão a partir da 20ª semana de gestação pelas células do tipo II. O surfactante reduz a tensão da superfície alveolar, o que diminui a pressão necessária para manter o alvéolo inflado, facilitando sua expansão e mantendo sua estabilidade. O tempo de produção do surfactante em quantidades suficientes depende de um aumento nos níveis de cortisol do feto, o que acontece entre 32 e 34 semanas de gestação. Ao redor das 34 a 36 semanas há material de superfície ativo e suficiente secretado no lúmen alveolar e excretado no fluido amniótico. Circulação sanguínea fetal x neonatal No útero, o feto depende da troca gasosa da placenta. A entrega adequada de oxigênio é acompanhada de um adaptado processo envolvendo a estrutura arquitetônica do sistema circulatório, as características da hemoglobina fetal e a taxa de perfusão dos órgãos fetais. No feto, a placenta tem a menor resistência vascular e recebe 40% do débito cardíaco fetal, o que resulta em uma baixa pressão sistêmica. Em contraste, os pulmões fetais estão cheios de líquido, resultando em uma alta resistência vascular e menos de 10% do débito cardíaco indo para os pulmões. Dois shunts direita-esquerda ocorrem no feto devido à alta resistência vascular pulmonar e baixa pressão sistêmica: → Forame oval: sangue desviado do átrio direito para o esquerdo → Ducto arterioso: sangue desviado da artéria pulmonar para a aorta. Da placenta, o sangue oxigenado flui pela veia umbilical e se divide ao entrar no abdômen do feto. A maioria flui através do ducto venoso para a veia cava inferior e depois para o átrio direito; o sangue restante perfunde o fígado. O sangue que se origina do ducto venoso entra no átrio direito e, devido a um efeito de correnteza, é largamente desviado através do forame oval para o lado esquerdo do coração e da aorta. Em contraste, o sangue menos oxigenado da veia cava superior e da veia cava inferior distal ao ducto venoso flui do átrio direito para o ventrículo direito, com mistura mínima com o sangue oxigenado proveniente do ducto venoso. Quase toda a saída do ventrículo direito (90%) contorna o pulmão e é desviado através do ducto arterioso patente para a aorta descendente, distal à origem das artérias carótidas. Esse sangue desoxigenado é transportado através da aorta e das artérias umbilicais para a placenta, onde libera dióxido de carbono e resíduos e coleta oxigênio e nutrientes. A pressão intrauterina de oxigênio é baixa comparada com a observada na vida extrauterina. O sangue fetal com maior oxigenação é encontrado na veia umbilical com PO2 tão alta quanto 55 ± 7 mmHg. A saturação de oxigênio diminui quando misturada ao retorno venoso, de modo que o sangue que retorna à placenta terá uma PO2 de 15 a 25 mmHg. Apesar da baixa tensão de oxigênio no feto, há oxigenação adequada dos tecidos devido aos seguintes fatores: → Hemoglobina fetal: aumenta a afinidade do oxigênio em comparação com a hemoglobina do adulto, o que facilita o transporte de oxigênio pela placenta. → Diminuição do consumo de oxigênio fetal: o feto requer menos oxigênio, pois seu metabolismo e o consumo de oxigênio estão diminuídos (o feto não precisa manter a termorregulação, as funções fisiológicas são reduzidas, como respiração, digestão, absorção e reabsorção tubular renal). → Fluxo sanguíneo diferencial: o fluxo sanguíneo é estruturado de modo que os órgãos vitais (ex: fígado, coração e cérebro) recebam sangue com um grau relativamente alto de saturação de oxigênio.A baixa tensão fetal de O2 mantém a arquitetura da circulação fetal, causando constrição vascular pulmonar, que mantém a resistência vascular pulmonar em um nível elevado, promovendo o desvio direita- esquerda através do forame oval e do canal arterial. Transição da vida intrauterina para a extrauterina A transição bem-sucedida da vida intrauterina para a extrauterina depende de mudanças fisiológicas significativas que ocorrem no nascimento. Em quase todas as crianças, essas mudanças são completadas com sucesso no momento do parto sem necessidade de qualquer assistência especial. No entanto, cerca de 10% dos bebês precisarão de alguma intervenção, e menos de 1% exigirá medidas extensivas de ressuscitação ao nascimento Para conseguir fazer a transição da vida intrauterina para a extrauterina, quando o cordão umbilical é pinçado no nascimento, o neonato deve rapidamente fazer alterações fisiológicas na função cardiopulmonar. Uma transição bem-sucedida é caracterizada pelos seguintes recursos: depuração do fluido alveolar, expansão pulmonar e alterações circulatórias, que incluem aumento da perfusão pulmonar e da pressão sistêmica e fechamento dos shunts direita-esquerda da circulação fetal. → Depuração do fluido alveolar: o Trabalho de parto: o fluido rico em cloreto predomina durante a gestação. No final da gestação, em resposta ao aumento das concentrações de catecolaminas e outros hormônios, o epitélio pulmonar muda da secreção ativa de cloreto e líquido para os espaços aéreos para reabsorção ativa de sódio e líquido. O aumento da tensão de oxigênio ao nascer aumenta a capacidade do epitélio de transportar sódio e aumenta a expressão gênica do canal de sódio epitelial, promovendo ainda mais a reabsorção do líquido alveolar. o Respirações iniciais: geram altas pressões transpulmonares. A pressão hidrostática negativa inicial conduz o fluido alveolar dos espaços aéreos para o interstício e, subsequentemente, para a vasculatura pulmonar. o Compressão torácica: a pressão sobre a parede torácica do recém-nascido durante o parto provavelmente é um pequeno contribuinte. → Expansão pulmonar: na 1ª respiração efetiva, o movimento do ar começa quando a pressão intratorácica cai. O aumento da pressão inspiratória expande os espaços aéreos alveolares e estabelece a capacidade residual funcional (CRF). A expansão pulmonar também estimula a liberação de surfactante, o que reduz a tensão superficial alveolar, aumenta a complacência e estabiliza a CRF. → Alterações circulatórias: com o clampeamento do cordão umbilical, a placenta com baixa resistência vascular é removida da circulação neonatal, resultando em aumento da pressão arterial sistêmica neonatal. Ao mesmo tempo, a expansão pulmonar reduz a resistência vascular pulmonar e a pressão da artéria pulmonar. Essas 2 alterações diminuem o shunt fetal direita-esquerda no ducto arterioso, resultando em um aumento do shunt da esquerda para a direita neste ducto. Essas 2 alterações também resultam em um aumento do fluxo sanguíneo pelas artérias pulmonares e pulmões. Essa mudança para o desvio da esquerda para a direita após o parto resulta em um aumento no volume sistólico ventricular, que está associado a um aumento na saturação de oxigênio cerebral. Com aumento da perfusão e expansão pulmonar, aumenta a saturação da oxigenação neonatal, que estimula o fechamento do canal arterial. Além disso, o aumento do fluxo sanguíneo arterial pulmonar aumenta o retorno venoso pulmonar ao átrio esquerdo e a pressão atrial esquerda. À medida que a pressão do átrio esquerdo aumenta e a pressão atrial direita cai, o desvio da direita para a esquerda através do forame oval diminui. O fechamento do forame oval ocorre quando a pressão atrial esquerda excede a pressão atrial direita. Avaliação Imediata ao Nascimento O exame logo após o nascimento é importante para determinar as condições gerais, o estado de desenvolvimento, quaisquer anormalidades de desenvolvimento gestacional e eventuais alterações congênitas. O exame pode revelar doenças de origem cardíaca, respiratória ou neurológica. Ausculte a parte anterior do tórax com o estetoscópio, palpe o abdome e inspecione a cabeça, o rosto, a cavidade oral, os membros, a genitália e o períneo. Avaliação APGAR A pontuação na escala de APGAR é essencial após o nascimento. Seus cinco componentes classificam a recuperação neurológica do recém-nascido e sua adaptação imediata à vida extrauterina. A pontuação de cada recém-nascido deve ser feita 1 e 5 min após o nascimento. Essa pontuação baseia-se em uma escala de 3 pontos (0, 1 ou 2) para cada componente. A pontuação total pode variar de 0 a 10. Deve-se determinar a pontuação a intervalos de 5 min, até que ela atinja 7 ou mais. Se a pontuação APGAR em 5 min for de 8 ou mais, prossiga para um exame mais completo. Avaliação Algumas Horas após o Nascimento Durante as primeiras 24h de vida os recém-nascidos devem ser submetidos a um exame abrangente. Deve- se esperar uma ou duas horas após a amamentação, quando o recém-nascido é mais reativo, e solicitar aos pais que permaneçam na sala de exame. A sequência de exame mostrada anteriormente deve ser obedecida. Observe o recém-nascido sem roupas. Observe a cor, o tamanho, as proporções corporais, as condições nutricionais e a postura do recém-nascido, bem como as incursões respiratórias e os movimentos da cabeça e dos membros. A maioria dos recém-nascidos normais e a termo adota posicionamento simétrico, com os membros semiflexionados e as pernas parcialmente abduzidas na altura do quadril. Observe a atividade motora espontânea do bebê, com alternância entre flexão e extensão de braços e pernas. Os dedos das mãos costumam permanecer flexionados com os punhos cerrados, mas podem ser esticados com lentos movimentos de postura atetoide. Breves tremores do corpo e dos membros podem ser observados durante o choro vigoroso e, até mesmo, em repouso. Tremores em repouso quatro dias após o nascimento indicam doença do sistema nervoso central de diversas causas possíveis, que variam de asfixia a abstinência de drogas. Movimentos assimétricos de pernas e braços em qualquer momento sugerem déficits neurológicos centrais ou periféricos, toco traumatismo (como fratura de clavícula ou lesão de plexo braquial) ou anomalias congênitas. Conduta do colírio Colírio de nitrato de prata A conduta do colírio tem o objetivo de do teste do olhinho. Nesse protocolo logo após o parto é feita a devida limpeza da região ocular, aplica-se uma gota de colírio de Nitrato de Prata a 1% em cada olho da criança a fim de evitar a contaminação ocular por bactérias que possam estar presentes no canal vaginal e nas secreções genitais da mãe no momento do parto. A Conjuntivite Neonatal Séptica A Conjuntivite Neonatal pode se manifestar até um mês após o parto, mas o mais usual é que os primeiros sinais surjam logo na primeira semana de vida do bebê. Quando se trata de uma infecção da conjuntiva dos olhos causada por bactérias ou vírus, tem-se a forma séptica da doença, mais grave e complexa. A possível presença de bactérias causadoras da clamídia e da gonorreia, por exemplo, no canal vaginal da mãe pode fazer com que o bebê, ao nascimento, fique exposto e desenvolva a Conjuntivite Neonatal Séptica. Os principais sintomas da doença são: → Vermelhidão nos olhos (hiperemia) → Inchaço nas pálpebras → Coceira e irritação → Secreção espessa com presença de pus → Dificuldades para abrir as pálpebras Em casos mais graves, complicações da Conjuntivite podem levar ao desenvolvimento de lesões corneanas, como a Úlcera de Córnea, evoluindo, em algumas situações, para quadros de cegueira. O colírio de Nitrato de Prata pode causar algum efeito colateral? Sim! É comum que os olhos dos bebês reajam à aplicação da solução aquosa de Nitrato de Prata,ficando levemente irritados ou, ainda, originando a chamada Conjuntivite Química, uma forma de Conjuntivite Neonatal Asséptica que se manifesta pela presença de secreção e pela vermelhidão nos olhos. Porém, é importante sublinhar que a reação química desencadeada pelo colírio desaparece por completo em poucos dias e não coloca em risco a saúde ocular da criança. Bebês nascidos via cesárea também precisam do colírio? Sim! Durante o trabalho de parto e/ou após a ruptura da bolsa, o bebê já começa a ter contato com o canal vaginal materno e suas secreções, ficando exposto às bactérias ali presentes. Assim, o tipo de parto pelo qual se dá o nascimento não altera a necessidade de utilização do Nitrato de Prata na prevenção de uma contaminação mais grave que possa acometer os olhos do recém-nascido. http://www.ideco.med.br/blog/2018/09/18/ulcera-de-cornea-da-prevencao-ao-tratamento/ Exames Da Triagem Neonatal (Testes: Pezinho, Orelha, Língua, Coração, Olho) TESTE DO PEZINHO O teste do pezinho também é conhecido como triagem neonatal biológica e é responsável pela pesquisa de 6 doenças: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Doença Falciforme e outras hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase. Realização da coleta O profissional deve estar usando luvas de procedimento e deve realizar a assepsia do calcanhar do bebê com algodão ou gaze umedecidos com álcool a 70%. Colocar o pé do bebê abaixo do nível do coração, para que haja maior circulação de sangue. A punção deve ser feita com lancetas apropriadas (autorretráteis para evitar acidentes), estéreis, descartáveis e com profundidade e largura determinadas. O local de punção deve ser em uma das laterais da região plantar do calcanhar, na qual há menor possibilidade de atingir o osso. Após a punção, aguardar a formação da primeira gota de sangue e limpá-la, já que pode conter outros fluidos teciduais. As demais gotas devem ser encostadas no verso do papel filtro, até o preenchimento de todo o círculo demarcado. Após a coleta, colocar a criança deitada e comprimir levemente o local com algodão ou gaze, até que o sangramento cesse. A equipe multidisciplinar das maternidades e casas de parto deve orientar as puérperas e familiares sobre a importância da realização do teste. O ponto de coleta é na Unidade Básica de Saúde (UBS) perto da residência da família, quando não tiver sido feita na maternidade/casa de parto, entre o 3o e 5o dia de vida do bebê. A família deve estar atenta para pegar os resultados do teste e apresentar ao pediatra, que deve registrá-los na Caderneta da criança. Alguns casos especiais, como os recém nascidos pré- termo, de baixo peso ao nascer ou agudamente doentes, também devem ser triados. Porém, estão mais propensos a resultados falso-positivos e falso- negativos, que devem ser reavaliados posteriormente. Fenilcetonúria Consiste em um erro inato do metabolismo, com padrão de herança autossômica recessiva, caracterizado por um defeito na enzima Fenilalanina Hidroxilase. Esse defeito leva ao acúmulo do aminoácido Fenilalanina (FAL). Sem o diagnóstico e tratamento antes dos 3 meses de vida, a doença se caracteriza clinicamente por atraso global do desenvolvimento neopsicomotor, deficiência mental, comportamento agitado ou padrão autista, convulsões e odor característico na urina. O diagnóstico é feito pela dosagem quantitativa da Fenilalanina da amostra sanguínea (valor superior a 10 mg/dL em pelo menos 2 amostras distintas). O aumento da FAL só é detectado se a criança tiver ingerido quantidade suficiente de proteína: por isso, a coleta só pode ser feita após 48 horas do nascimento O tratamento consiste em uma dieta com baixo teor de FAL por toda a vida, permitindo o crescimento e desenvolvimento normal do indivíduo. O bebê deve ser acompanhado clinica e laboratorialmente de forma frequente até o primeiro ano de vida, para controle dos exames. Hipotireoidismo congênito Doença considerada como uma emergência pediátrica, causada pela incapacidade da tireoide em produzir suficientemente os hormônios, resultando em redução geral do metabolismo. A doença pode ser primária (na qual a forma mais comum é a disgenesia tireoidiana); secundária, com deficiencia de TSH hipofisário; terciária, com deficiência do TRH hipotalâmico; e por resistência periférica à ação dos hormônios tireoidianos. As manifestações clínicas incluem hipotonia, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, sonolência excessiva, choro rouco, mixedema, déficit de crescimento e outros. As crianças que têm o diagnóstico precoce geralmente não apresentam os sintomas, desde que a reposição hormonal seja iniciada. Após o resultado inicial positivo, deve-se dosar o T4 (total e livre) e TSH de sangue venoso, para confirmação do diagnóstico. O tratamento é baseado na reposição hormonal, promovendo a normalização do estado metabólico. O acompanhamento deve ser feito com dosagem hormonal, além das avaliações de crescimento e desenvolvimento físico e neuropsicomotor, para ajustes das doses. Doença falciforme e hemoglobinopatias A doença falciforme tem herança genética autossômica recessiva, causada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina. Isso leva as hemácias assumirem formas falcêmicas (de lua minguante). A hemoglobina predominante em um homem adulto normal é a A (Hb A); nos recém-nascidos, há predominância da Hemoglobina F (Hb FA). Por outro lado, as hemoglobinas variantes mais frequentes são a S e a C. Sendo assim, quando o indivíduo adulto é heterozigoto, ou seja, Hb AS, é dito como portador do “traço falciforme”; se é homozigoto (Hb SS), possui a doença. Nos recém-nascidos, é possível identificar os heterozigotos como Hb FAZ (portadores de traço falciforme) e os homozigotos (doentes), como Hb FS. As manifestações clínicas do paciente homozigoto são: anemia hemolítica; crises vaso-oclusivas; crises de dor; insuficiência renal progressiva; acidente vascular cerebral; maior susceptibilidade a infecções; e sequestro esplênico. O diagnóstico precoce permite a implantação de cuidados preventivos e orientação aos pais sobre o recém-nascido. O tratamento deve ser iniciado antes dos 4 meses de vida e as medidas preconizadas são: antibioticoterapia profilática, suplementação com ácido fólico e seguimento clínico especializado. Fibrose cística Também chamada de mucoviscidose, é uma doença hereditária grave, de herança autossômica recessiva, que afeta predominantemente os pulmões e o pâncreas. Envolve um processo obstrutivo causado pelo aumento da viscosidade do muco e tem mortalidade elevada, com os sintomas aparecendo nos primeiros anos de vida. Dentre as manifestações, pode-se ter: proliferação bacteriana pela obstrução das vias aéreas, levando a infecções crônicas (por pseudomonas e estafilococos), lesão pulmonar e insuficiência respiratória; e no pâncreas, obstrução dos ductos pela secreção espessa, levando à uma perda de enzimas digestivas e má nutrição, com esteatorreia e dificuldade de ganho de peso. O diagnóstico presuntivo é feito pelos níveis da tripsina imunorreativa (IRT); já a confirmação dos casos suspeitos é feito com a dosagem de cloreto no suor. O tratamento consiste no acompanhamento regular, suporte dietético, utilização de enzimas pancreáticas, suplementação de vitaminas A, D, E, K e fisioterapia respiratória. Hiperplasia adrenal congênita Engloba um conjunto de síndromes autossômicas recessivas, que se caracterizam por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides adrenais. A deficiência mais comum é da 21-hidroxilase (95% dos casos), envolvida na síntese do cortisol e da aldosterona. As manifestações clínicas da deficiência de 21- hidroxilasepodem ser divididas em três formas: forma clássica perdedora de sal, que ocorre em 70-75% dos casos, com virilização da genitália externa (excesso de androgênios) e crise adrenal (depleção de volume, hipotensão, hiponatremia, hipercalemia); forma clássica não perdedora de sal, em que há também virilização da genitália externa, porém não há manifestação da deficiência mineralocorticoide, sendo identificados muitas vezes em idade tardia; e a forma não clássica, que pode ser diagnosticada até na vida adulta pelo hiperandrogenismo ou até não apresentar manifestações. O diagnóstico presuntivo na triagem neonatal é feito pela quantificação da 17-hidroxi-progesterona (17- OHP), seguido de testes confirmatórios. O tratamento para pacientes do sexo feminino com hiperandrogenismo inclui reposição hormonal com baixas doses de glicocorticoides; os pacientes assintomáticos (com a forma não clássica) não precisam de tratamento. Deficiência de biotinidase Doença metabólica hereditária com herança autossômica recessiva, na qual há um defeito no metabolismo da biotina. Manifesta-se clinicamente a partir da 7a semana de vida, com distúrbios neurológicos e cutâneos (crises epilépticas, hipotonia, microcefalia, atraso no desenvolvimento, dermatite eczematoide). Os pacientes com resultados alterados na triagem são submetidos posteriormente à confirmação, através do teste quantitativo da atividade da biotinidase. O tratamento medicamentoso é simples e de baixo custo, consistindo no uso de biotina em doses diárias. TESTE DO REFLEXO VERMELHO (TRV) Também chamado de teste do olhinho, consiste em um exame simples e rápido realizado em recém-nascidos, com o objetivo de detectar precocemente problemas oculares congênitos. Identifica-se com esse teste as condições que comprometem a transparência dos meios oculares e que podem impedir o desenvolvimento visual. O teste é realizado com o oftalmoscópio direto, que projeta a luz nos olhos e atravessa as estruturas transparentes, atingindo a retina e refletindo a luz vermelha. O aparelho deve ser colocado a uma distância de 50cm a 1 metro dos olhos do RN e deve-se observar a presença ou ausência do reflexo, assim como comparar a intensidade e simetria dos olhos. A observação do reflexo vermelho da retina indica que as estruturas estão transparentes (normais); a opacidade desses meios pode levar a leucocoria (pupila branca) ou perda do reflexo. As principais causas de TRV negativo (alterado) são a catarata congênita, glaucoma congênito, retinoblastoma, leucoma, inflamações intraoculares da retina e vítreo, retinopatia da prematuridade e outros. O TRV deve ser realizado pelo pediatra na maternidade, antes da alta do RN. Se não for possível, deve ser feito até completar 01 mês de vida. Recomenda-se, ainda, a repetição do teste durante as consultas pediátricas regulares, de 2 a 3 vezes por ano nos primeiros 3 anos de vida. Caso haja detecção de qualquer alteração, deve-se encaminhar o neonato para acompanhamento em unidade especializada. No entanto, o teste não é suficiente para assegurar a boa saúde ocular da criança: dos seis meses de vida a um ano, todos os bebês devem ser submetidos ao exame oftalmológico. TESTE DO CORAÇÃOZINHO A cardiopatia congênita ocorre em cada 1 – 2 para cada 1000 nascidos vivos; destes, alguns têm cardiopatias graves, com necessidade de intervenção urgente e que muitas vezes recebem alta sem diagnóstico. A maior parte das cardiopatias congênitas críticas (CCC) cursa com redução da saturação periférica de O2 no período neonatal. Por isso, o teste envolvendo a oximetria de pulso foi desenvolvido como um método de triagem para essas condições críticas. Consiste em um exame fácil e rápido, além de muito específico para a detecção de CCC, que deve ser realizado antes da alta da Unidade Hospitalar em todos os RN com IG > 34 semanas. O teste é realizado a partir da aferição da saturação de oxigênio no membro superior direito (MSD) e em qualquer um dos membros inferiores, entre 24 e 48 horas de vida. O resultado normal consiste na saturação maior ou igual a 95% em ambas as medidas, sendo a diferença menor que 3% entre as medidas do MSD e MMII. Já o resultado anormal está presente quando qualquer medida seja menor que 95% ou houver diferença igual ou maior a 3% entre as medidas. Caso a triagem seja alterada, uma nova aferição deve ser realizada em 01 hora. Se o resultado anormal se confirmar, o recém-nascido deve ser submetido a um ecocardiograma dentro de 24 horas. TRIAGEM AUDITIVA A deficiência de audição tem consequências desastrosas na infância, com implicações diretas no desenvolvimento, escolaridade, relacionamento social e status emocional do indivíduo. Outro aspecto importante é que a linguagem se desenvolve nos primeiros seis meses de vida, por isso a importância de identificar os bebês com alterações auditivas e iniciar seus atendimentos. Alguns indicadores de alto risco de perda auditiva devem ser considerados: história familiar de surdez congênita; anomalias craniofaciais; espinha bífida; síndromes genéticas que cursam com deficiências auditivas, como a Sd. Waardenburg, Alport e Pendred; e intercorrências neonatais, como peso < 1.500g, anóxia grave, uso de ventilação assistida, permanência em UTI por > 5 dias, sepse/meningite neonatal, infecções congênitas e uso de drogas ototóxicas. Apesar disso, cerca de 50% das perdas auditivas são idiopáticas, sem riscos identificáveis, por isso a importância de realizar os testes em todos os RN. A triagem auditiva deve ser realizada preferencialmente nos primeiros dias de vida (24 a 48 horas), antes da alta ou, no máximo, no 1o mês de vida. A forma como serão realizados os testes dependem da presença ou não de indicadores de risco para a deficiência auditiva. Para os neonatos e lactentes sem indicadores de risco, utiliza- se o exame de Emissões Otoacústicas Evocadas (EOAE), que pode ser repetido caso haja falha. Se a falha permanecer, deve-se realizar o Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (Peate-Automático). Já para os indivíduos com indicador de risco, utiliza-se diretamente o Peate-Automático, devido à maior prevalência das perdas auditivas retrococleares. O EOAE é um teste rápido, simples e não invasivo, com alta sensibilidade e especificidade, capaz de identificar a maior parte das perdas auditivas cocleares (pré- neural). Porém, não permite a identificação das deficiências auditivas retrococleares e necessita de integridade anatômica da orelha externa e média para ser realizado. Já o PEATE é um teste mais complexo e caro, que precisa de sedação e avalia a integridade das vias auditivas até o tronco cerebral. Todas as crianças que apresentarem falha no teste devem passar pela etapa de reteste após 30 dias. Esse reteste deve ser feito com o Peate-A em ambas as orelhas, mesmo que a falha anterior tenha ocorrido de forma unilateral. Caso a falha persista, o pediatra/neonatologista deve encaminhar o RN para avaliação especializada. Para as crianças que obtiveram respostas satisfatórias, cabe ao médico assistente realizar o monitoramento do desenvolvimento da audição e da linguagem, registrando-o na Caderneta de Saúde da Criança. AVALIAÇÃO DO FRÊNULO LINGUAL A anquiloglossia é uma alteração que se caracteriza por um frênulo lingual anormalmente curto e espesso, que restringe a movimentação da língua em graus variados. Dessa forma, pode interferir negativamente na amamentação, diminuindo a habilidade para uma sucção adequada. Com isso, há dificuldade no estímulo adequado à produção de leite materno, causando dores e feridas durante a amamentação. Embora as evidências sobre a associação de anquiloglossia e dificuldades na amamentação não sejam robustas, alguns testes podem ser feitos para identificar as alterações no frênulo lingualque podem interferir no processo. A avaliação do frênulo lingual tem como base o Protocolo Bristol, que leva em consideração os seguintes elementos: aparência da ponta da língua, fixação do frênulo na margem gengival inferior, elevação da língua e projeção da língua. As pontuações obtidas em cada item devem ser somadas, podendo variar de 0 a 8. Escores de 0 a 3 indicam possibilidade de redução mais grave da função lingual. Caso o escore seja menor ou igual a 3, sugere-se nova avaliação da mamada e do frênulo lingual antes da alta hospitalar. Caso o escore se confirme e não existam outros fatores que justifiquem a dificuldade na amamentação, pode-se considerar a realização do procedimento cirúrgico. Apesar disso, a força de evidência permanece baixa quanto à melhora na amamentação e redução de dor nos mamilos após a frenotomia. Importante considerar também a possibilidade de eventos adversos, como hemorragias e recidivas, e explicar à família para tomada de decisão em conjunto com a equipe assistencial. Escore de 4 a 8: normal Escore de 0 a 3: possibilidade de redução mais grave da função lingual Icterícia Em Recém Nascidos A icterícia neonatal é um problema muito frequente no período neonatal de modo que, cerca de 1/3 a 2/3 dos recém nascidos (RN) apresentam tal sinal clínico na primeira semana de vida. Tal icterícia nada mais é do que a expressão clínica do aumento da concentração sérica da bilirrubna indireta (BI) > 1,3-1,5mg/dL ou bilirrubina direta (BD) > 1,5mg/dL desde que tal valor seja > 10% da bilirrubina total (BT). Cerca de 60% dos RN a termo e 80% dos pré-termo tornam-se ictéricos na 1a semana de vida. Aqui trataremos, sobretudo, da hiperbilirrubinemia indireta a qual é mais frequente, uma vez que 98% dos RN apresentam níveis séricos de BI > 1mg/dL e, tal bilirrubina por ser lipossolúvel pode chegar facilmente ao sistema nervoso central (SNC) o que lesa o tecido cerebral instalando o quadro de encefalopatia bilirrubínica que trataremos com mais detalhes a seguir. Além disso, é possível falar em icterícia precoce que acontece antes das primeiras 24h de vida que está mais associada ao que se denomina “icterícia patológica” e a tardia que ocorre após as 24h chamada também de “icterícia fisiológica”, pois, como veremos a hiperbilirrubinemia indireta muitas vezes resulta de uma adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina. Outro termo que é importante apropriar-se antes de avançarmos é o de hiperbilirrubinemia significativa que representa valores de BT > 20-25 mg/dL. Porém, valores de BT > 12mg/dL em RN com icterícia precoce já alerta para a necessidade de uma investigação etiológica e dos fatores de risco para hiperbilirrubinemia significativa. FISIOPATOLOGIA Para melhor compreender a hiperbilirrubinemia indireta do RN, bem como as respectivas etiologias responsáveis pela icterícia nos mesmos, é fundamental compreender como ocorre o metabolismo da bilirrubina. A bilirrubina é um pigmento que deriva do heme (originário da hemoglobina dos eritrócitos) e, nos RN mais do que nos adultos, provém também de outros heme que não tem origem na hemoglobina como os que compõem a catalase, mioglobina e citocromos. Com isso, o metabolismo da bilirrubina pode ser dividido em: captação, armazenamento, conjugação e secreção hepática. Com a ruptura das hemácias e liberação da hemoglobina, esta é captada por macrófagos que a transformam em biliverdina, monóxido de carbono e ferro. A biliverdina ao ser convertida em bilirrubina livre pela biliverdina-redutase passa a ser liberada gradualmente dos macrófagos para o plasma, tal molécula é lipossolúvel, e como dito anteriormente, atravessa facilmente a barreira hematoencefálica. Para ser transportada no plasma esta bilirrubina liga-se à albumina, sendo chamada também de bilirrubina não conjugada ou indireta. Ao chegar ao fígado, a mesma é captada por proteínas chamadas ligandinas até os hepatócitos onde em seguida são levadas ao retículo endoplasmático no qual são conjugadas pela ação da enzima UDP glicuroniltransferase formando então um composto polar e hidrossolúvel que é a bilirrubina direta ou conjugada. A excreção desta ocorre através do polo biliar dos hepatócitos para então chegar ao intestino onde é desconjugada pela ação das glicuronidases bacterianas para formar o urobilinogênio que é excretado nas fezes, pequena porção é eliminada pela urina e, outra parte, volta para o fígado pelo sistema porta, constituindo o ciclo enterro hepático da bilirrubina No RN tanto a captação quanto a conjugação mostram- se ineficientes devido à imaturidade da ação tanto das ligandinas como da UDP glicuroniltransferase, a qual só atinge níveis similares aos do adulto entre a 6ª e 14ª semana de vida. Inclusive, a quantidade desta enzima aumenta quanto mais aumenta a maturidade fetal, o que faz com que após 40 semanas de idade gestacional seu valor seja 10 vezes maior do que em fetos com idades mais precoces. Além disso, a maior concentração de hemoglobina e menor meia vida dos eritrócitos leva o RN a ter uma quantidade de bilirrubina duas vezes maior que a do adulto. Outro fator que contribui para a maior quantidade de BI no neonato diz respeito ao aumento da circulação enterro-hepática decorrente de um trato gastrointestinal estéril, ou seja, com menor quantidade de glicuronidases bacterianas e também, devido a maior quantidade de beta-glicuronidase presente no leite materno. Logo, o nível de bilirrubina sérica nos neonatos é dependente da interação entre os mecanismos de produção- -captação-conjugação-excreção e circulação entero-hepática no mesmo de modo que, mesmo em se tratando de doenças hemolíticas onde há produção aumentada é possível também que ocorra de modo concomitante alterações em outros pontos do metabolismo. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA DA ICTERÍCIA A icterícia neonatal apresenta progressão cefalocaudal sendo possível avalia-la por meio das zonas de Kramer em que áreas ictéricas do corpo do neonato, avaliadas sob luz natural, são correlacionadas com valores médios de bilirrubina: No entanto, a avaliação por meio das zonas de Kramer não permite predizer a gravidade da elevação dos níveis de bilirrubina, assim como a análise pode variar muito a depender do tom de pele do RN. Com isso, têm sido desenvolvidos mecanismos de avaliar os níveis de BT de modo não invasivo como é o caso das medidas de bilirrubina transcutânea. Apesar de possuir o benefício de realizar uma boa verificação da BT independente da etnia, tal técnica ainda é muito onerosa para o sistema de saúde e, alguns estudos mostram que valores de BT > 13-15 mg/dL devem ser investigados por meio de bilirrubina sérica. Outra forma de avaliar os valores de bilirrubina é pelo método invasivo de coleta por meio do sangue do RN. Deste modo pode-se prever quais RN têm risco de desenvolver valores elevados na 1ª semana de vida. Para avaliação deste risco um nomograma, conhecido como Nomograma de Buthani, foi construído baseados nos percentis 40, 75 e 95 com os valores de BT séricas colhidas do RN. Figura 2. Nomograma com os percentis 40, 75 e 95 de BT sérica segundo a idade pós-natal em horas, em RN ≥35 semanas e peso ao nascer ≥2.000 g. Logo, qualquer RN ictérico com idade gestacional (IG) ≥ 35 semanas é necessário determinar o risco (mínimo, intermediário ou maior) de desenvolver hiperbilirrubinemia significativa, ou seja, BT > 25mg/dL. Esta avaliação deve ser feita antes da alta na maternidade, bem como no período máximo de 72h após a mesma. Em alguns casos, conforme veremos a seguir, faz-se necessária a investigação de doença hemolítica do RN, portanto, a solicitação de hemograma, tipagem sanguínea ABO, Rh (antígeno D), antígenos eritrocitários irregulares, Coombs direto/indireto e eluato deve ser realizada. Para isto, é importantelembrar o que cada um desses exames vai analisar. Em mães Rh negativo, que como veremos a seguir podem criar anticorpos IgG anti-D contra hemácias do RN Rh positivo causando a doença hemolítica perinatal. O teste de Coombs indireto permite analisar se há anticorpos anti-D no plasma materno, enquanto o Coombs direto avalia a presença ou não de anticorpos maternos anti-D nas hemácias do neonato. No caso de doença hemolítica por incompatibilidade ABO pode ser realizado também o teste do eluato por congelamento no qual é retirado os anticorpos presos nas hemácias e expõe estes a hemácias ABO se apresenta com uma maior sensibilidade para detectar anticorpos ABO presentes nas hemácias dos RN. Figura 3. Teste de Coombs ETIOLOGIA Diante de um quadro de icterícia em um neonato é preciso raciocinar quais possíveis etiologias relacionadas a depender do momento em que surge essa icterícia, a quão significativa é a hiperbilirrubinemia indireta, outros sinais e sintomas associados, etc. No entanto, de antemão pode-se elencar possibilidades etiológicas para icterícia no RN: Fisiológica Como dito, a icterícia que ocorre após as 24h de vida costuma estar mais relacionada com aqueles mecanismos ligados à imaturidade dos hepatócitos e todos aqueles outros fatores que naturalmente contribuem para hiperbilirrubinemia e, consequentemente a icterícia no RN. Tal icterícia nos RN a termo tem seu pico entre 3º-5º dia e desaparece até o 12º dia de vida, enquanto que nos pré-termo o pico é entre 5º-7º dia, desaparecendo em geral no 14º dia. A avaliação por meio das zonas de Kramer permite estabelecer quanto está intensa a icterícia bem como sua correlação com os níveis de bilirrubina. Porém, alguns fatores de risco estão associados a maiores níveis de bilirrubina e devem ser levados em consideração tais como: descendência asiática, mãe com diabetes, hipóxia, coleções sanguíneas, clampeamento tardio de cordão Falta do leite materno: Tal icterícia costuma acontecer na 1ª semana de vida associada a perda de peso no 3º dia de vida 5% maior do que dos outros neonatos em aleitamento materno, decorrente da ingestão inadequada do leite materno o que leva ao aumento da circulação enterro-hepática de bilirrubina e, consequentemente, maior aporte desta para a circulação sanguínea. Isso pode acontecer tanto por uma dificuldade na sucção pelo RN, como pouca oferta do leite pela mãe, vale ressaltar que, esse contexto leva tanto a perda de peso quanto desidratação do neonato. A icterícia chegar a ser bastante intensa, assim como os níveis de bilirrubina podem levar ao desenvolvimento da encefalopatia bilirrubínica, quadro clínico que será comentado com mais detalhes a seguir. Síndrome da icterícia pelo leite materno Esta é descrita em 20-30% de todos os neonatos em aleitamento materno. Neste caso, diferente da etiologia explicada acima, o leite materno passa a agir como modificador ambiental para genótipos que atuam tanto na captação, quanto na conjugação da bilirrubina elevando o risco em até 22 vezes de chegar a valores de BT > 20mg/dl. O quadro clínico difere do anterior, pois neste caso há uma icterícia persistente desde a 1ª semana de vida que se prolonga por 2-3 semanas, mas o RN não chega a perder peso ou desidratar, ao contrário, está em bom estado geral e com adequado ganho pondero-estrutural. O diagnóstico costuma ser feito por exclusão após afastar as causas patológicas de aumento de BI. Coleções sanguíneas extravasculares Algumas coleções sanguíneas, benignas ou não, podem acometer o RN causando com isso um extravasamento do sangue das mesmas, o que sobrecarrega os hepatócitos de bilirrubina. Hemorragia intracraniana/ pulmonar/gastrointestinal, cefalo-hematomas, hematomas, sangue deglutido ou equimoses causam icterícia prolongada que se manifesta 48-72h após o extravasamento. Doenças hemolíticas A icterícia que ocorre nas primeiras 24h de vida do neonato costuma estar ligada às doenças hemolíticas. Estas podem ser: imunes, enzimáticas, da membrana eritrocitária (esferocitose), por hemoglobinopatias (alfatalassemia) e adquiridas quando decorrentes de infecções virais ou bacterianas. O exame físico, os dados clínicos e laboratoriais do RN e da mãe permitem melhor elucidação diagnóstica de qual tipo de doença hemolítica se está tratando. O aparecimento de icterícia precoce alerta para o risco de doença hemolítica, sobretudo, as hereditárias. Por este motivo, de acordo com o quadro clínico, dosa-se a BT e o hematócrito a cada 6-8h até as 36h de vida a fim de calcular a velocidade de hemólise, ou seja, o aumento de bilirrubina em mg/dL/h de modo que valores >0,5-1 mg/dL/h indicam gravidade do quadro e permitem estabelecer terapêutica. Além disso, como no cordão é possível coletar sangue para realizar análise do eritrograma e os valores de bilirrubina total e frações. Valores de BT > 4 mg/dL e/ou hemoglobina < 12 mg/dL associação a gravidade da doença hemolítica perinatal. Na incompatibilidade Rh, a mãe Rh negativo possui anticorpos anti-D (Coombs indireto positivo) enquanto o RN possui suas hemácias recobertas pelos anticorpos anti-D produzidos pela mãe (Coombs direto positivo). Vale ressaltar que, essa repercussão clínica no RN costuma acontecer com maior gravidade em gestações subsequentes, pois nestes casos a mãe já sensibilizada previamente desenvolve anticorpos do tipo IgG que atravessam a placenta levando a eritroblastose fetal. Por este motivo é fundamental dessensibilizar as mães Rh negativo no pós-parto, pós-abortamento, pós procedimentos ou pós sangramentos durante a gestação com imunoglobulina anti-D, promovendo proteção contra anticorpos anti-D de até 99%. Figura 5. Tratamento com imunoprofilaxia anti-D. Legenda: HDN: Doença Hemolítica Neonatal; RhIG= Imunoglobulina anti-Rh Já na incompatibilidade ABO não é preciso haver sensibilização prévia, sendo resultante de um RN com sangue tipo A ou B com mãe sangue tipo O. Essa icterícia evolui de forma persistente alcançando níveis elevados de BI. Independentemente do resultado do Coombs direto, em casos de incompatibilidade ABO é importante realizar o teste do eluato por congelamento, pois este permite verificar a presença dos anticorpos anti-A e anti-B no sangue do neonato. Porém, a positividade deste teste apenas indica a presença dos anticorpos, não evidenciando a gravidade da doença. Um outro diagnóstico diferencial para doenças hemolíticas imunes é a incompatibilidade por antígenos eritrocitários irregulares do sistema Rh (c, C, e, E, cc, Ce) e outros do sistema Kell, Duffy, Kidd e MNss que também causam hemólise grave. Quando a mulher não possui determinado antígeno eritrocitário e, ao receber uma transfusão sanguínea produzem IgG para esse antígeno, ao engravidarem, se o feto tem aquele mesmo antígeno em suas hemácias, ocorre então uma reação antígeno-anticorpo que culmina na doença hemolítica. O diagnóstico pode ser realizado inclusive durante o pré-natal ao atentar-se para multigestas ou mulheres que tenha recebido transfusão anterior à gestação. Deve-se suspeitar desta doença quando há doença hemolítica no RN, mas não há incompatibilidade ABO e Rh e o sangue do RN apresenta Coombs direto positivo. Dentre as doenças hemolíticas enzimáticas, vale a pena destacar a mais frequente e importante que é a deficiência de glicose 6-fosato-desidrogenase (G-6-PD). Esta enzima eritrocitária atua na defesa antioxidante intracelular, logo, quando o RN deficiente nesta enzima é exposto a estresse oxidante, acidose, infecção, hipoglicemia e algumas drogas (anti-inflamatórios, analgésicos, antimaláricos, etc.) podem desenvolver hemólise e em seguida hiperbilirrubinemia. O diagnóstico é realizado por triagem neonatal em papel filtro ou dosagem sérica da enzima. Quanto à icterícia, esta costuma-se desenvolver após as 24h e intensificar- se aolongo da 1ª-2ª semanas, levando ao quadro clínico de encefalopatia bilirrubínica. Distúrbios genéticos na conjugação A redução na glucorunidação da bilirrubina na Síndrome de Gilbert ocorre em decorrência de uma variante da enzima responsável pela conjugação, a UDPGT1, reduzindo a formação de glucoronídeos da bilirrubina o que causa a síndrome. O diagnóstico é feito observando o histórico familiar, ausência de outras hepatopatias que justifiquem a icterícia e a melhora desta após o uso de fenobarbital. Outro grupo são as Síndromes de Crigler-Najjar tipos I e II, ambas formas clínicas da deficiência congênita da enzima glicuronil-transferase. A tipo I é autossômica recessiva, onde há ausência completa da atividade da enzima e manifesta valores de BI 25-35 mg/dL logo nos primeiros dias. Neste caso não há resposta ao fenobarbital e a biópsia hepática não evidencia a presença da enzima. A tipo II é autossômica dominante com presença reduzida da glicuronil-transferase. Tal enzima também está reduzida em pacientes com hipotireoidismo congênito, permanecendo assim por semanas ou meses. O diagnóstico se dá pela redução dos níveis de T4 e auSmento dos níveis de TSH, os quais já são rastreados na triagem neonatal. Encefalopatia Bilirrubínica (kernicterus): Como já dito, a BI atravessa a barreira hematoencefálica e pode depositar-se nos núcleos da base (globo pálido e subtalâmico principalmente) conferindo aos mesmos coloração amarelada e acarretando em sinais neurológicos. Alguns fatores de risco contribuem para a instalação do quadro clínico favorecendo esta lesão nos núcleos da base, são eles: doença hemolítica, hipóxia, hipoalbuminemia, sepse, acidose. O quadro clínico, conforme vimos com Dra. Nathália, pode ser dividido em fase aguda e crônica. Na fase aguda o RN encontra-se com: letargia, hipotonia, choro estridente, hipertonia e hipertermia. A fase crônica consiste em: paralisia cerebral atetoide grave, neuropatia auditiva, paresia vertical do olhar e displasia dentária. TRATAMENTO Anterior às medidas específicas no tratamento da hiperbilirrubinemia é importante saber evitar os fatores determinantes da lesão neuronal pela bilirrubina presentes, sobretudo, nos pacientes em cuidados intensivos que aumentam a concentração de BI no cérebro (hipercapnia, convulsão, hipoglicemia, sepse), alteram a membrana hematoencefálica (hipertensão arterial, pneumotórax, hiperosmoralidade, vasculite, acidose respiratória) ou que relacionam-se com a baixa concentração sérica de albumina. O principal tratamento para o aumento de BI no RN ictérico é a fototerapia, a qual visa reduzir os níveis de BI, consequentemente evitando a realização da exsanguíneotransfusão (EST). O mecanismo de ação consiste na fotoisomerização da configuração e estrutura da molécula de bilirrubina com a formação de isômeros que são diretamente eliminados pela via biliar e urinária. A eficácia da técnica depende do: comprimento de onda da luz (faixa azul), irradiância espectral (ou seja, a intensidade da luz; quanto menor a distância entre a luz e o paciente, maior a irradiância e eficácia) e superfície corpórea exposta à luz (quanto maior a superfície corpórea exposta, maior a eficácia). Quando a bilirrubinemia é superior ao percentil 95 no Nomograma de Bhutani é preferível utilizar a fototerapia de alta intensidade. Figura 6. Fototerapia No entanto, é preciso tomar alguns cuidados durante o uso da fototerapia, são eles: aumentar a oferta hídrica através do aleitamento materno, verificar temperatura corporal a cada 3h, proteger os olhos com cobertura radiopaca, não utilizar ou suspender a fototerapia se os níveis de BD estiverem elevados para evitar a síndrome do bebê bronzeado. Atualmente a doença hemolítica por incompatibilidade Rh é uma das únicas indicações de EST, sendo as outras causas de aumento de BI controladas usualmente pela fototerapia. Na incompatibilidade Rh a EST pode ser indicada logo após o nascimento se BI >4mg/Dl e/ou hemoglobina < 12 mg/Dl, após as primeiras horas de vida a EST é indicada se houver elevação de BI igual ou superior a 0,5 mg/dL/h nas primeiras 36h de vida. A duração da EST varia entre 60- 90min, devendo ocorrer em ambiente asséptico, não ultrapassando a velocidade de troca de 1-2 ml/kg/min, sendo o volume preconizado de 160 ml/kg (duas volemias), em uso da técnica do “puxa-empurra” pela veia umbilical. Após o procedimento deve ser mantida: infusão contínua de glicose (4-6 mg/kg/min), gluconato de cálcio 10% (2 ml/kg/dia) e sulfato de magnésio 10% (1 ml/kg/dia). A realização deste procedimento é acompanhada de elevada morbidade, incluindo complicações metabólicas, infecciosas, hemodinâmicas, vasculares, hematológicas, além de reação pós-transfusional. Figura 7. Técnica exsanguíneotransfusão Não há um consenso quanto aos níveis séricos de BT que indicam a fototerapia e exsanguíneotransfusão no RN. Com isso, acaba-se levando em consideração a avaliação periódica da BT, as idades gestacional e pós- natal, bem como os fatores agravantes para lesão bilirrubínica neuronal. Abaixo, o Ministério da Saúde disponibiliza de maneira simplificada, os valores que indicam os respectivos tratamentos em RN ≥ 35 semanas. Em geral, quando a BT chega a valores entre 8 e 10 mg/Dl a fototerapia pode ser suspensa sendo reavaliada entre 12- 24h para confirmar manutenção ou não da redução. Como ressaltado por Dra Nathalia, antes de iniciar a EST o RN costuma estar na fototerapia, logo, é importante que 2-3h antes de iniciar a EST seja reavaliada a BT para verificar se o neonato ainda está na faixa de indicação para o procedimento → Diminuir em 2mg/dL o nível de indicação de fototerapia ou EST se doença homolítica (Rh, ABO, outros antígenos), deficiência de G-6-PD, asfixia, letargia, instabilidade na temperatura, sepse, acidose, ou albuminemia <3g/dL → Iniciar fototerapai de alta intensidade sempre que: BT>17-19 mg/dL e colher BT após 4-6 horas; BT entre 20-25 mg/dL e colher BT em 3- 4 horas; BT >25 mg/dL e colher BT em 2-3 horas; enquanto o material da EST está sendo preparado. → Se houver indicação de EST, enquanto ocorre o preparo colocar o RN em fototerapia de alta intensidade, repetindo a BT em 2 a 3 horas para reavaliar a indicação de EST. → A EST deve ser realizada imediatamente se houver sinais de encefalopatia bilirrubí nica ou se a BT estiver 5 mg/dL acima dos níveis referidos Para RN prematuros a indicação vai depender dos níveis de BT e do peso ao nascer, sendo que se peso <1.100g pode-se optar por iniciar de imediato a fototerapia independente dos níveis de BT logo nas pri meiras 12- 24h de vida ou iniciar se BT 4-6mg/Dl, sendo a EST indicada se BT entre 13-15 mg/Dl. Tabela 2. Valores de BT para indicação de fototerapia e exsanguíneotransfusão (EST) em RN < 34 semanas de idade gestacional → Considerar o valor inferior na presença de fatores de risco: doença hemolítica, deficiência de G-6-PD, asfixia, letargia, instabilidae na temperatura, sepse, acidose, hipotermia ou albumina <3.0 g/dL Fisiologia Da Lactação A lactação apresenta três fases: → Mamogênese; → Lactogênese e lactopoese; → Ejeção de leite. Mamogênese: Ocorre durante todo o período gestacional e se refere ao crescimento e desenvolvimento da glândula mamária, que torna a mulher capaz de produzir leite. É importante ressaltar que o crescimento das glândulas mamárias também acontecem durante a puberdade pela ação de diversos hormônios, como o estrogênio, progesterona, GH e insulina, deixando de ser uma mama imatura para se tornar uma mama adulta não gestante. Durante a gestação, há o aumento do tecido adiposo, da vascularização das mamas, da rede de células mioepiteliais queenvolvem os alvéolos e também dos lóbulos (formado pelo aumento da rede de ductos e alvéolos). Estruturas apresentadas na figura 1. Além da atuação do estrogênio e progesterona, a prolactina também entra em ação, sendo ela a responsável pela produção do leite nas células alveolares. É importante saber a principal atuação de cada hormônio nesse momento: → Estrogênio: desenvolvimento dos ductos galactóforos. → Progesterona: desenvolvimento dos alvéolos. → Prolactina: produção de leite (síntese e secreção). → Ocitocina: ejeção de leite. Deve-se lembrar que, devido a ação da prolactina, a mulher pode produzir o colostro (secreção láctica) a partir da 16ª semana gestacional. Em alguns casos a sua produção é tão grande que pode ocorrer o extravasamento antes mesmo de ser ejetado pela ocitocina. Embora a atuação dos hormônios esteroides, estrogênio e progesterona, sejam essenciais para o desenvolvimento físico das mamas, ambos exercem papel inibitório da ejeção do leite, ou seja, inibirão a produção de ocitocina. Fisiologicamente, durante o trabalho de parto, ocorrerá aumento da concentração de ocitocina, que é responsável pela contração uterina, e concomitantemente há uma queda brusca de estrogênio e progesterona (param de ser secretados pela placenta e o corpo lúteo). É relevante ressaltar que, após o parto, a produção de prolactina não se dá de forma continua, mas sim com picos a cada vez que a criança mama. Ao soltar o peito, a prolactina apresenta decaimento. Além disso, a criança não suga o leite produzido naquele momento, mas sim o qual está armazenado. Lactogênese e lactopoese: Primeiro ocorre a lactogênese (síntese) e depois a lactopoese (manutenção da produção). Lactogênese: Se refere à síntese de leite pelas células alveolares e sua secreção no lúmen do alvéolo. Sabe-se que a mama lactante é constituída por uma camada única de células cuboidais alveolares produtoras de leite, formando o alvéolo. Esse alvéolo é envolto por células mioepiteliais (musculo liso) com função contrátil. Um alvéolo está dentro de um lóbulo, com outros alvéolos, e esses lóbulos estão conectados por ductos lactíferos. Os ductos se iniciam nos lóbulos com um calibre mais fino e vão aumentando, formando ampolas – locais onde o leite fica armazenado. Como já visto anteriormente, com a queda abrupta de estrogênio e progesterona, a ação da prolactina permite o início da produção de leite nas próximas 48 horas pós-parto. Inicialmente, nos primeiros dias, trata- se do colostro, uma secreção amarelada e mais espessa, rica em proteínas, vitaminas lipossolúveis e imunoglobulinas (IgG, considerada como a primeira vacina devido à alta carga dos fatores de defesa. À medida que os dias vão passando, o leite vai se tornando mais gorduroso, com uma alta quantidade de lactose, tornando-o mais calórico e com menor valor imunológico do que o colostro. Após essa transição, finalmente o leite se torna uma solução aquosa que contém água, lactose, gordura (como principal fonte energética), aminoácidos, proteínas, vitaminas e minerais, essenciais para o pleno desenvolvimento do bebê. Dado que esses componentes do leite vêm do sangue materno, existem vias para sua secreção, observados na figura 2: Via da exocitose/secretória: proteínas, açúcares e imunoglobulinas. As proteínas do leite são sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso e empacotadas pelo complexo de Golgi, para, então, serem exocitadas, bem como a lactase, induzida pela lactase sintetase no complexo de Golgi. Já as imunoglobulinas são captadas pela membrana basal das células alveolares por endocitose para, então, o complexo de IgA-receptor se internalizar em vesículas e ser transportado até a membrana apical para ser exocitado. Transporte transcelular de água e sais: a água se move através das células por gradiente osmótico gerado pela concentração de lactose. Via dos lipídeos: os ácidos graxos formam gotículas que vão aumentando de tamanho à medida que são “empurrados” para a membrana apical. A gotícula de gordura formada é envolvida por essa membrana, sendo eliminada para o lúmen do alvéolo. Via paracelular: água, sais, leucócitos e imunoblastos por gap junctions. Devido às tight junctions, as substâncias que normalmente não passariam entre as células alveolares passam por causa da sucção, que faz com que as células fiquem mais frouxas e permitam a passagem desses componentes. Lactopoese: Diz respeito à manutenção da lactação já estabelecida e depende da duração e frequência da amamentação. Nessa fase, a sucção e a pega adequada são essenciais, tendo em vista que, com o aleitamento, as concentrações de prolactina se manterão elevadas durante as primeiras 8 a 12 semanas. Com o passar do tempo, a concentração da prolactina já não se mantém mais tão elevada, no entanto, ainda continua sendo essencial para a manutenção da síntese de leite. Ejeção do leite: Passagem do leite do lúmen alveolar para o sistema de ductos, até ductos maiores e ampola, culminando na liberação do leite pelos mamilos. Nesse momento, além da sucção induzir a produção de prolactina, ela também induz a ocitocina para a ejeção do leite. A ocitocina será produzida nos neurônios magnocelulares do núcleo paraventricular (PNV) e supraóptico (SON) do hipotálamo. São secretados em vesículas, descendo por meio do axônio até serem armazenados na neuro-hipófise, para depois serem liberados na corrente sanguínea, processo desencadeado principalmente pelo estímulo da sucção. A ocitocina também pode ser liberada mediante a estímulos condicionados, tais como a visão, olfato e escutar o choro de uma criança; além disso, fatores de ordem emocional podem ser fatores que estimulam (motivação, autoconfiança e tranquilidade) ou desestimulam (estresse físico e psicológico, ansiedade, medo, insegurança) a liberação de ocitocina – nesses casos, acontece a produção de prolactina, portanto há a produção do leite, no entanto ele não consegue ser ejetado devido à inibição do hormônio responsável por esse processo. Reflexo neuroendócrino na lactação: Durante a sucção, os mecanorreceptores no mamilo sofrem uma deformação, de maneira que, assim que o estimulo chega à medula (por meio dos nervos torácicos IV, V e VI), esses sinais chegam ao hipotálamo e apresentam três projeções neurais, apresentados na figura 3. Projeção 1: nos núcleos PVN e SON, acarretando a secreção de ocitocina na corrente sanguínea para, então, ligar-se à receptores de membrana das células mioepiteliais, que levam à contração muscular involuntária e, assim sendo, ocorre a ejeção do leite. Projeção 2: nos neurônios dopaminérgicos do núcleo arqueado, que inibem a liberação de dopamina na eminência mediana, para que ocorra a síntese de leite. É importante ressaltar o controle neuroendócrino da prolactina, sintetizada e liberada na adeno-hipófise, e produzido exclusivamente durante a amamentação. Sabendo disso, existem hormônios que são capazes de inibir sua síntese e secreção pelos lactotrofos, PRH (hormônio inibidor da prolactina), como a dopamina. Durante a amamentação, quando ocorrem os picos de prolactina, ocorre a ação do hormônio liberador de prolactina, sendo assim, os hormônios inibitórios param de agir para dar lugar aos hormônios liberadores. Projeção 3: nos neurônios que produzem fatores liberadores de prolactina. Sem a dopamina, os lactotrofos são capazes de produzir prolactina, que tem sua ação nas células alveolares sintetizando e secretando o leite. Vendo todo o processo da fisiologia da lactação, entende-se que é um processo envolvendo uma profunda interação entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança. Produção do leite As mamas possuem 15-25 lobos (glândulas tubulo- alveolares), cada um contendo 20-40 lóbulos, formados por 10-100 alvéolos, envolvidos por células mioepiteliais. O leite é secretado nos alvéolospor uma cadeia única de células epiteliais altamente diferenciadas e conduzidos por uma rede de ductos. Durante as mamadas os ductos enchem-se de leite e dilatam-se, formando o que antes se chamava equivocadamente de seios lactíferos. O estrogênio ramifica os ductos, o progestogênio forma lóbulos, mas outros hormônios também estão envolvidos no crescimento mamário, como o lactogênio placentário, prolactina e HCG. Apesar de a prolactina estar muito aumentada na gestação, não há secreção de leite porque é inibida pelo lactogênio placentário. O início da secreção de leite (fase II da lactogênese) ocorre graças à queda do progestogênio após o nascimento e a expulsão da placenta, com consequente liberação da produção de prolactina pela hipófise anterior. Assim, a “descida do leite”, que costuma ocorrer até o 3º ou 4º dia após o parto, ocorre mesmo sem a sucção do peito e é de controle hormonal. Em seguida, inicia-se a fase III da lactogênese (galactopoese) que persiste por toda a lactação e é de controle autócrino e depende da sucção e do esvaziamento da mama. O não esvaziamento diminui a secreção do leite por inibição mecânica (o leite acumulado nos alvéolos distorce a forma das células e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores) e química (a remoção contínua de peptídeos supressores de lactação presentes no leite garante a reposição). Grande parte do leite de uma mamada é produzido enquanto a criança mama, sob o estímulo da prolactina, liberada graças à inibição da liberação da dopamina, que é um fator inibidor da prolactina. A liberação de prolactina e ocitocina é regulada pelos reflexos da produção e ejeção do leite, respectivamente, ativados pela estimulação dos mamilos, sobretudo pela sucção da criança. A liberação da ocitocina também ocorre em resposta a estímulos como visão, olfato e audição (ouvir o choro da criança), e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por outro lado, dor, desconforto, estresse, ansiedade, medo, insegurança e falta de autoconfiança podem inibir a secreção de ocitocina. A secreção de leite aumenta de menos de 100 mL/dia no início da lactação para aproximadamente 600 mL no 4º dia, em média. O volume de leite produzido na lactação já estabelecida varia de acordo com a demanda da criança. Em média, é de 850 mL por dia no 6º mês na amamentação exclusiva. A taxa de síntese de leite após cada mamada varia, sendo maior quando a mama é esvaziada com frequência. Habitualmente, a capacidade de produção de leite da mãe é maior que a demanda de seu filho. MASTITES Conceito → Mastite é um processo inflamatório das mamas, agudo ou crônico, que pode acometer todos os tecidos mamários (glandular, subcutâneo ou pele). → Predomina no puerpério, sendo raro ocorrer fora da lactação. → Pode cursar com ou sem inflamação. → A porta de entrada do agente infeccioso pode ser a pele ou os ductos mamários. Figura 1. Mama Normal Figura 2: Mastite de acordo com a região acometida. Epidemiologia De uma forma geral, as mastites são raras. Em relação à mastite puerperal: → Incidência: 3-33% das lactantes → Incidência entre a 2ª e a 5ª semana de lactação (86%) ou no desmame. → Mais frequente em primíparas (61,5%): em função da inexperiência. Acomete principalmente mulheres entre 18 e 50 anos de idade, podendo ocorrer em neonatos ocasionalmente. O principal agente etiológico é o Staphylococcus aureus. Infecções por Staphylococcus epidermidis e Streptococos do grupo B, E. coli e anaeróbios são menos frequentes, no entanto mais graves e associadas a acometimento bilateral. Etiologia Etiopatogenia Mastite puerperal: Primeiramente, haverá uma intercorrência: fissuras, infecção extramamária ou dilatação do óstio ductal. Em seguida, ocorre a disseminação por via linfática, hematogênica e por meio dos ductos. Abscesso subareolar recidivante: A metaplasia escamosa do epitélio colunar do ducto favorece o acumulo de detritos de queratina dentro do ducto, possibilitando a obstrução do duto e posterior dilatação do mesmo. Assim, ocorre reação inflamatória e pode acontecer contaminação bacteriana secundária, principalmente por anaeróbios. Isso leva ao abscesso e aumento da pressão intra-luminar. Figura 3: Etiopatogenia da mastite puerperal. Adaptado de: Santos Junior LA. A mama no ciclo gravídico puerperal (2000). Classificação Ao classificar as mastites, pode-se usar os seguintes critérios: → Quanto ao tempo de evolução: o Aguda o Crônica → Quanto ao período de ocorrência: o Ciclo gravídico-puerperal o Fora do ciclo gravídico-puerperal Quadro clínico Sempre que for falar em mastite, há de ter a tríade: dor, calor e rubor. Mastites agudas → Mastite lactacional ou puerperal: o Fatores de risco: primiparidade, idade < 25 anos, ingurgitamento mamário, fissura mamilar, infecção da rinofaringe do lactente, má higiene e anormalidades mamárias. o Causada por transmissão de bactérias durante a amamentação e má higiene. Pode ser epidêmica (rara), associada a surtos de infecção hospitalar. o Início com a estase láctea, evoluindo subitamente com dor, hiperemia, eritema e febre alta (39° a 40° C), calafrios e turgência mamária extensa. O acometimento é predominantemente unilateral. o Pode ocorrer modificação da coloração da secreção papilar e aumento dos linfonodos axilares. o Pode evoluir com abscesso (5-10% dos casos) com repercussões sistêmicas. o Observação: o mamilo invertido propicia mais facilmente a ocorrência de fissuras e lesões. o Agente etiológico: S. aureus é o mais comum, mas já foi observado S. epidermidis e estreptococos. o Caso o tratamento não surta efeito ou se a paciente buscar assistência tardiamente pode ocorrer a formação de abscessos. Estes podem ser superficiais ou profundos, sendo os superficiais caracterizados por uma área de flutuação, com pele descamativa e brilhante suprajacente. o O tempo máximo de evolução, quando corretamente diagnosticada e tratada é de 15 a 30 dias. Figura 4: Mastite lactacional. → Mastite aguda não puerperal: o Raramente, podem surgir infecções ou abscessos em mulheres jovens ou de meia-idade que não estejam amamentando. o As mastites e abscessos não puerperais podem ser separados de acordo com a região mamária afetada, podendo ser centralmente na região periareolar e na região periférica. Periareolar: ✓ Mais frequente em jovens com média de 32 anos. ✓ Há inflamação ativa ao redor de ductos subareolares não dilatados, condição chamada de mastite periductal. ✓ A mastite periductal condição tem sido confundida com ectasia ductal, mas esta é uma condição separada, que afeta mulheres mais velhas, sendo uma dilatação de ductos subareolares com menor grau de inflamação periductal. ✓ Evidências têm mostrado que o tabagismo está fortemente relacionado à mastite periductal. As substâncias presentes no cigarro podem danificar direto ou indiretamente a parede dos ductos subareolares, com posterior infecção por organismos aeróbicos ou anaeróbicos. ✓ Pode se apresentar-se inicialmente com inflamação periareolar ou absesso. ✓ Sintomas associados: mastalgia central, retração de mamilo do sítio do ducto e descarga papilar. Figura 5: Mastite periareolar. ✓ Abscessos periféricos: ❖ Menos comum que os abscessos periareolares. ❖ Pode estar associado com doenças de base como diabetes, artrite reumatoide, tratamento esteroidal, mastite lobular granulomatosa e trauma. → Mastite neonatorum o Aumento do broto mamário na 1ª-3ª semana de vida. o Eritema, edema, calor, hipersensibilidade e endurecimento local e geralmente é unilateral. o Manifestações sistêmicas raras, febre em 25%. o Principais agentes: S. aureus e, ocasionalmente, E. coli. Figura 6: Mastite neonatal.