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ATENDIMENTO IMEDIATO AO RECÉM-NASCIDO I - ASPECTOS GERAIS O recém nascido deve ser observado quanto à pre- sença de malformações aparentes, mobilização dos membros, tônus muscular e movimentos anormais. 1. Pele Os recém nascidos (RN) apresentam certa instabili- dade vasomotora e lentidão circulatória periférica. Estas alterações produzem uma cor vermelho-escura ou até mesmo violácea durante o choro. Pode ocor- rer cianose de extremidades (acrocianose) quando há exposição ao frio. O mosqueamento da pele, tam- bém um exemplo de instabilidade vasomotora, pode estar associado a doença grave (sendo um sinal inespecífico de desconforto respiratório ou sepse, por exemplo) ou apenas ser decorrente de uma flutuação transitória da temperatura cutânea. Palidez pode representar asfixia (vasoconstricção), anemia, choque ou edema. A aparência vermelha in- tensa é vista na policitemia. A alteração da cor do arlequim que se traduz por uma divisão do corpo da região frontal ao púbis em meta- des vermelha e pálida, é uma alteração vasomotora transitória, não significando doença nem condição mórbida associada. As manchas mongólicas. representadas por pigmen- tação cinza-azulada no dorso e nas nádegas, não possuem nenhuma importância clínica. Tendem a desaparecer no Io ano. A pérolas de Epstein são acúmulos temporários de cé- lulas epiteliais no palato duro, desaparecendo espon- taneamente algumas semanas após o nascimento. Áreas amolecidas nos ossos parietais no vértice pró- ximo à sutura sagital são chamadas de craniotabes. sendo comuns em prematuros e neonatos que foram expostos à compressão uterina. 0 vérnix caseoso e hemangiomas capilares maculares transitórios comuns em pálpebras e pescoço, também são achados físicos normais em recém-nascidos. A lanugem, que são pêlos finos, macios e imaturos, é encontrada nos prematuros. Nos lactentes a termo é substituída por pêlos. Tufos de pêlos na coluna lombossacra sugerem uma anomalia subjacente como espinha bífida oculta, fístula ou tumor. O eritema tóxico é descrito como pápulas ou lesões vesicopustulosas que surgem de 1 a 3 dias após o nascimento, sendo localizado na face, tronco e mem- bros. É classificado como um exantema benigno, de- saparecendo em 1 semana. A pele do RN é mais fina e lisa quanto mais prematu- ra for a criança. A maior proporção de água em sua constituição contribui para consistência quase gela- tinosa nos prematuros extremos. 2. Crânio e Sistema Musculoesquelético Cavalgamentos ósseos são comuns, principalmente dos parietais sobre os occipitais e os frontais. As linhas de suturas e as fontanelas devem ser palpadas. A craniosinostose corresponde à fusão prematura das suturas. As fontanelas têm tamanho bastante variável. A per- sistência de fontanela anterior e posterior excessiva- mente grandes pode estar associada à acondropla- sia, à hidrocefalia, ao hipotireoidismo, à síndrome de rubéola congénita e às trissomias do 13,18 e 21. Uma terceira fontanela pode ser palpável em prematuros e nos pacientes com trissomia do 21. As clavículas devem ser palpadas à procura de fra- turas e crepitações. 3. Aparelho Circulatório Como vimos na apostila de Cardiologia Pediátrica, durante o período pré-natal a oxigenação do sangue fetal ocorre na placenta, um órgão de baixa resistên- cia vascular. O sangue oxigenado retorna para o feto por meio da veia umbilical. Esta penetra no fígado através da veia porta. Continuando o trajeto, o sangue, agora, ga- nha o ductus venosus e daí a cava inferior. No átrio direito, o sangue é "shuntado", graças ao forame oval patente, para o átrio esquerdo e ventrículo es- querdo, sendo ejetado para as coronárias e sistema nervoso central. O sangue dessaturado da cava superior ganha as cavidades direitas e circulação pulmonar. Devido as elevadas pressões em circulação pulmonar, cerca de 90% do sangue da artéria pulmonar desvia-se, por meio do ductus arteriosus, para porções mais distais da aorta torácica, seguindo pela aorta descendente e retornando para a placenta por intermédio das artéri- as umbilicais. Logo após o nascimento, com a respiração, ocorre uma redução dos níveis de pressão na artéria pulmo- nar (PAP), ocorrendo uma diminuição do fluxo sanguíneo através do forame oval e canal arterial. O forame oval tem seu fechamento funcional preco- ce entre a 1' e a 2a hora de vida. O canal arterial tem seu fluxo reduzido após 10 h, fechando-se comple- tamente entre o 3o e 10° dia de vida. O canal venoso umbilical e hipogástrico têm seu fe- chamento funcional imediatamente após o nascimen- to e o fechamento anatómico se completa em torno da 3a semana de vida. A frequência cardíaca do RN é 120a 140 bpm após 12h de vida. A PA sistólica ao nascer é de 70mmHg, sendo um pouco menor nos RN pequenos para idade gesta- cional (PIG < 2,5 kg). A saturação arterial de O2 situa- se em torno de 90% entre 30 e 180 min. Podemos aus- cultar sopros transitórios que, na maioria dos casos, não representam cardiopatias congénitas. 4. Aparelho Respiratório A respiração intra-uterina inicia-se por volta da 24a semana de gestação, situando-se entre 30 e 90 irpm. A frequência respiratória no RN a termo ao nascer é de 40 irpm. Os prematuros podem apresentar valores mais elevados. • A FR acima de 60 durante períodos de respiração re- gular, indicam patologias de origem pulmonar ou cardíaca. Os ápices pulmonares se expandem antes das bases. Estas últimas têm sua total expansão em 2 a 4 dias. 5. Alterações Hematológicas A volemia do RN é cerca de 85ml/kg e sua hemoglobina no 4o dia é de 17g%. Seu número de MEDCURSO-"Do INTERNATOÀ RESIDÊNCIA" hemácias no final da Ia semana é de 5.200.000/mm3. A leucometria ao nascer situa-se entre 15 a 20 mil células/mm', caindo para 12 mil no final da Ia sema- na, com predomínio de polimorfonucleares até o 6o dia e linfócitos até o 4o ano. A contagem de plaquetas gira em torno de 250.000 células/mm3. Os fatores de coagulação estão normais, exceto os vitamina K dependentes (II, VII, IX e X). 6. Alterações Metabólicas A glicemia cai após as primeiras horas de vida e si- tua-se em 50 mg% até a primeira alimentação. Obser- vamos após a administração do alimento uma eleva- ção para níveis de 50 a 70 mg%. O cálcio após o 3o dia de nascimento está em 10,5 mg%, podendo eventualmente apresentar variações da normalidade nas 72 horas iniciais de vida. 7. Aparelho Digestivo O fígado costuma ser palpável até 2cm abaixo da margem costal. O sistema glicuronil-transferase não está completamente maduro, dando origem à icterí- cia fisiológica do RN (início com 48 h e pico no 4a dia. desaparecendo em 1 semana). A musculatura lisa do tubo digestivo tem seu tônus diminuído, facilitando a distensão abdominal. No entanto, a distensão quando significativa logo ao nascimento, nos faz pensar em obstrução ou perfu- ração do trato gastrointestinal (TGI), geralmente por íleo meconeal. Uma distensão abdominal que se inicia mais tardia- mente pode representar obstrução intestinal, sepse ou peritonite. As enzimas presentes no lúmen do tubo digestivo e em demais órgãos (exceto a amilase que só atinge quantidades suficientes após algumas semanas) as- sim como a superfície absortiva do TGI encontram- se em boas condições. O ar atinge o cólon no primeiro dia de vida. Uma radio- grafia abdominal deve revelar gás no reto em 24h. O mecônio pode ser eliminado logo após o nascimen- to, mas ocorre geralmente entre 10 e 12 horas (deve ser eliminado antes de 24h). 8. Aparelho Urinário A taxa de filtração glomerular, que encontra-se baixa no período fetal, aumenta com a idade gestacional, assim como no período pós-natal. A produção do filtrado glomerular se inicia em tomo do 4° mês de vida intra-uterina. Cerca de 90% dos recém nascidos urinam nas primeiras 24h e 100% antes de 48h de vida. Ao final do décimo dia o volu- me urinário é de 100 a 300ml. 9. Aparelho Genital A aderência do prepúcio à glande é comum, raramen- te necessitando de tratamento. A hiperreflexia cremastérica pode elevar os testículos durante o cho-ro ou no frio. Pode ocorrer hidrocele não-comunicante que desaparece após o 4o mês. A hipertrofia de glândulas mamarias é comum em ambos os sexos. Os pequenos lábios podem ser protusos e apresentar pequenas sinéquias. Pode-se perceber saída de se- creção catarral, às vezes sanguinolenta, pela vagina. 10. Sistema Nervoso (Reflexos) • Moro: com ruídos fortes ou movimentos bruscos o RN joga os braços e pernas para a frente. Desapa- rece no 4o mês. • Preensão: flexão dos dedos das mãos e pés quan- do a palma ou a planta é estimulada com o dedo ou algum objeto. • Tónico Cervical: extensão do membro homolateral com a rotação lateral da cabeça. • Tendinosos e cutâneo abdominal: presentes ao nas- cer, mas de forma fraca. • Plantar: Babinski bilateral. Desaparece em torno do 3° mês de vida. • Chvostek: presente em metade dos casos até o T dia. • Óculo motor: encontra-se presente. Pode haver dilatação pupilar secundária. • Sucção e Deglutição: presente exceto nos prema- turos de baixo peso. 11. Sistema Endócrino A hipófise e a tireóide atingem pleno funcionamento antes do nascimento. As paratireóides exercem sua atividade logo após o nascimento II -ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO (REANIMAÇÃO NEONATAL) 1. Introdução Os primeiros minutos da vida de um recém-nascido são críticos, pois representa um período no qual a criança está sofrendo uma transição abrupta do úte- ro materno para o meio extra-uterino. Ajudar o neonato a fazer essa transição de forma bem sucedida é um grande desafio. Os recém-nascidos têm uma probabilidade muito maior de necessitarem de reanimação do que pacien- tes em qualquer outra faixa etária. O atendimento à criança deprimida logo após o nascimento pode afe- tar diretamente a sua qualidade de vida e ter conse- quências por toda a vida. Todo recém-nascido tem o direito de receber uma reanimação realizada com alto nível de competência. O material apropriado deve estar disponível em toda a sala de parto e os profissionais de saúde devem estar aptos a reanimar o recém-nascido e capacita- dos a trabalhar de maneira integrada, em equipe. 2. Asfixia e apnéia Ao nascer, os RN são em geral vigorosos, e quase que imediatamente após o clampeamento do cordão, iniciam respiração espontânea, chorando. Nesse momento, a frequência respiratória estabiliza-se em 120 a 140 bpm e a cianose central inicial desaparece. Algumas crianças, entretanto, apresentam-se depri- midas ao nascer, com hipotonia e dificuldade para ini- ciar os movimentos respiratórios. Elas podem estar em apnéia ou seu esforço respiratório pode ser insufi- ciente para estabelecer uma ventilação adequada, li- mitando a oxigenação e a eliminação de CO2. As cau- sas de depressão (asfixia) neonatal podem incluir: as- fixia intrauterina ou periparto (tempo de extração pro- longado, por exemplo), prematuridade, drogas admi- nistradas ou ingeridas pela mãe (opiáceos e diazepíni- cos), malformações congénitas; etc. Uma reanimação efetiva pode, em geral, desencadear a respiração es- pontânea e evitar a progressão da asfixia. O termo asfixia, como visto acima, refere-se à hipoxe- mia progressiva, com acúmulo de CO2 e acidose. Se o processo avançar, a asfixia pode resultar em lesão cerebral permanente ou em morte. Na presença de asfixia, tanto intra-útero quanto pós-natal, os RN passam por uma sequência de eventos bem definida. Quando o feto ou o RN sofre deprivação de oxigé- nio, no período inicial, nota-se a presença de movi- mentos respiratórios rápidos. Se a asfixia persiste, cessam os movimentos respiratórios, a frequência cardíaca começa a cair, o tônus muscular diminui pro- gressivamente e o RN entra em um período de apnéia (apnéia primária). A administração de oxigénio su- plementar e o estímulo tátil. durante a apnéia primá- ria, levam ao reinicio da respiração espontânea. Se a asfixia persistir, o RN desenvolve movimentos respiratórios profundos, semelhantes a suspiros (gasping), a frequência cardíaca continua a cair e o paciente torna-se flácido. Os movimentos respirató- rios tornam-se cada vez mais fracos, até o último sus- piro, quando o RN entra em um novo período de apnéia, agora apnéia secundária. Nesta fase, o RN não responde à estimulação tátil e não reinicia a res- piração espontaneamente. A reanimação com venti- lação assistida deve ser iniciada imediatamente. Como não é possível diferenciar os dois tipos de apnéia na sala de parto, um RN em apnéia deve ser considerado como em apnéia secundária e a reani- mação deve ser prontamente iniciada. 3. Passos iniciais da reanimação O ABC da reanimação - os passos da reani- mação do recém-nascido devem seguir o cha- mado "ABC da reanimação": PEDIATRIA VOLUME 7/2004 - ATENDIMENTO I MEDIATO AO RECÉM-NASCIDO A - (Airway) - manter as vias aéreas pérvias B - (Breathing) - iniciar a respiração C - (Circulation) - manter a circulação. Os vários procedimentos da reanimação neonatal, relacionados como ABC da reanimação, são descri- tos abaixo: A - manter as vias aéreas pérvias - Posicionar o recém-nascido adequadamente. - Aspirar a boca, as narinas, e em alguns casos, a traquéia. - Se necessário, inserir a cânula traqueal para manter a via aérea pérvia. B - iniciar a respiração - Usar a estimulação tátil, para iniciar os movimen- tos respiratórios. - Empregar a ventilação com pressão positiva quan- do necessário, através de: balão e máscara ou balão e cânula traqueal. C - manter a circulação - Estimular e manter a circulação sanguínea, através de: massagem cardíaca e medicações. Os passos iniciais, após identificarmos os RN que necessitam de reanimação, são: - Prover calor (colocando O RN sob fonte de calor pré-aquecida). - Posicionar a cabeça adequadamente. O recém nas- cido deve ser posicionado corretamente para asse- gurar a permeabilidade das vias aéreas. Para um po- sicionamento correio o paciente deve ser colocado em decúbito dorsal ou lateral com o pescoço ligeira- mente estendido {FIGURA 1). -Aspirar as vias aéreas. Assim que o recém nascido estiver adequadamente posicionado, ele deve ser aspirado: primeiro a boca e depois o nariz. Se houver mecônio no líquido amniótico, pode haver necessi- dade de aspiração traqueal sob visualização direta. - Secar e remover os campos úmidos. -Avaliação - após ter feito a estimulação tátil é ne- cessário monitorar e avaliar o neonato com base nos três sinais vitais: (1) Movimentos respiratórios, (2) Frequência cardíaca, (3) Cor. Escore de APGAR Fig. 1 - Posição em leve extensão do pescoço. Você deverá seguir esses passos: Respiração - observe e avalie os movimentos respi- ratórios do recém-nascido. Se presentes e regulares, avalie o próximo sinal. Caso contrário, inicie a venti- lação com pressão positiva. SINAL-PONTUAÇÃO . esforço respiratório . frequência cardíaca . tônus muscular . irritabilidade reflexa . cor da pele Frequência Cardíaca - 0 Ausente Ausente Flácido Sem resposta Cianose central ou palidez avalie a FC do neonato. Se [IWÍMIIIBMHIIIB! Bradipnéia irregular <100 Flexão de extremidades Careta Extremidades cianosadas registradas nos minutos 1, 2 Choro forte > 100 Movimentos ativos Choro, tosse ou espirro Rosada 5 e 10 e se a criança ainda acima de 100 bpm, avalie a cor do neonato. Caso contrário, inicie a ventilação com pressão positiva. Cor - observe a cor da criança. Se existir cianose central, administre oxigénio inalatório. Oxigénio inalatório - quando o recém-nascido apre- senta apnéia, gasping ou FC baixa, o Oxigénio a 100% deve ser oferecido imediatamente, através da venti- lação com balão e máscara. Em algumas ocasiões, entretanto, o paciente apresenta movimentos respi- ratórios regulares, a FC é superior a 100 bpm. mas a cianose central persiste. Diante destas circunstân- cia, o Oxi génio a 100% deve ser oferecido ao neonato, através de cateter conectado a fonte de oxigénio a SL/min. Estimulação Tátil - desencadeamento da respira- ção - se o neonato não respirar imediatamente a estimulação tátil pode ser realizada de modo breve, como uma tentativa de desencadearos movimentos respiratórios. Existem dois métodos corretos para a estimulação tátil: - Palmadas ou piparotes na sola dos pés - Fricção suave no dorso do neonato Mecônio - se existir mecônio no líquido amniótico, independentemente de sua consistência, o obste- tra deve aspirar a boca, a faringe e o nariz, assim que a cabeça for liberada antes do desprendimento das escápulas. Na criança deprimida após o nasci- mento (em apnéia ou com respiração irregular, tônus muscular diminuído ou com FC inferior a 100 bpm) deve-se proceder à intubação traqueal, removen- do-se o mecônio, através de aspiração contínua, diretamente na cânula traqueal, enquanto esta vai sendo removida. Escore de APGAR: A escala de Apgar foi original- mente introduzida para ajudar a quantificar a avalia- ção inicial dos RN. Notas de Apgar deveriam ser requer ressuscitação, nos minutos 15 e 20 também. Entretanto, a avaliação do RN deve ser iniciada ime- diatamente após o nascimento. Se houver indicação de qualquer intervenção com base na avaliação dos movimentos respiratórios, da FC ou da cor, esta deve ser instituída de imediato. Tais intervenções não de- vem demorar, aguardando a realização do Escore de Apgar com 1 minuto de vida. Poucos segundos de atraso na instituição de manobras de reanimação podem ser cruciais. Embora o Boletim de Apgar não seja útil para a toma- da de decisões, a escala serve como uma estrutura de referência para orientar os esforços de reanima- ção. A escala é um indicador de resposta às mano- bras de reanimação e um meio para definir as crian- ças que correm um risco elevado de dificuldades posteriores. A contagem do 5o minuto em diante é um melhor indicador de sobrevivência e do estado neu- rológico do que a do Io minuto. 4. Ventilação com Pressão Positiva (VPP) com balão e máscara e Oxigénio a 100% A possibilidade de o recém nascido precisar deve ser prevista. Material - o material necessário na reanimação deve estar disponível e funcionando em toda sala de parto. Esse material inclui um balão de reanimação, capaz de fornecer oxigénio a 90 - 100% (balão anestésico ou balão auto-inflável acoplado ao reservatório de oxigénio - FIGURA 2) e máscaras neonatais de vári- os tamanhos. Uma fonte de oxigénio deve ser acessí- vel, em conjunto com um fluxômetro e/ou um misturador de ar/oxigênio e uma traquéia de oxigénio. O equipamento de aspiração deve incluir, no mínimo o bulbo, a fonte de vácuo e as sondas de tamanho apro- priado. Uma seringa, uma sonda orogástrica, o Guedel e o material para intubação devem estar à mão. \ 2 MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" Indicações da Ventilação Positiva com Balão e Más- cara - a ventilação com balão e máscara é indicada sempre que o recém-nascido apresentar apnéia, gasping ou quando os movimentos respiratórios não forem capazes de manter a FC acima de 100 bpm. Pode-se tentar também, a ventilação com pressão positiva naqueles neonatos com respiração espon- tânea e FC>100 bpm e que persistem com cianose central, mesmo recebendo oxigénio a 100% por via inalatória após 30 segundos. Técnica da Ventilação com Pressão Positiva com Balão e Máscara: Selecionar o material - o primeiro passo é selecionar o equipamento apropriado: obter o balão de reanima- ção e conecta-lo a uma fonte de oxigénio. Selecionar uma máscara de tamanho adequado. Testar rapida- mente o balão para se certificar se funciona bem. Verificar a posição da criança - o pescoço do neonato deve estar levemente estendido para garan- tir a permeabilidade das vias aéreas. Posicionar a máscara e ajustar à face - colocar a máscara na posição correta e verificar o ajuste à face, ventilando a criança por duas a três vezes. Observar se há expansão adequada do tórax. Ventilar o Recém-nascido - ventilar o neonato com uma Frequência de 40 - 60 mov/min {aperta - solta - solta) e utilizar uma pressão suficiente para visualizar um movimento suave da caixa torácica. Pressão- 15-20cmH2O -RN com pulmão normal; 30 - 40 cm H2O - movimento respiratório inicial; 20 - 40 cm H2O - RN com doença pulmonar. Verificar a FC - após a criança ter sido ventilada com oxigénio a 100% por 15-30 segundos, verificar a FC por 6 segundos (multiplicar por 10). Se: - A FC é menor que 60bpm — continuar a ventila- ção (verificando se a ventilação está adequada: O RN está bem posicionado? O tórax expande? O equipamento está correto? A máscara está bem fi- xada? Está sendo oferecido oxigénio a 100%?) e iniciar a massagem cardíaca; - A FC está entre 60 e 1 OObpm - continuar a venti- lação e interromper a massagem cardíaca, reavaliando a FC em 30 segundos; - A FC é maior que 100 bpm e a respiração for espontânea - então suspender a ventilação. No entanto, se não se notar a presença de movimen- tos respiratórios espontâneos, deve-se continuar a ventilar. Sinais de Melhora - três sinais indicam melhora na condição clínica da criança submetida à reanimação: aumento da FC, aparecimento da respiração es- pontânea e melhora da cor. 5. Intubaçao Traqueal A VPP pode ser realizada com balão e máscara ou balão e cânula traqueal. A vantagem do uso de balão e máscara é que a ventilação pode ser iniciada imedi- atamente, o que evita qualquer "perda de tempo" que possa ocorrer durante a inserção da cânula traqueal. Indicações de Intubaçao: - Necessidade de aspiração traqueal, em RN depri- midos com líquido amniótico meconial; - Massagem Cardíaca - Administração Traqueal de Drogas -VPP ineficaz - VPP prolongada - Recém-nascido com hérnia diafragmática congénita - Recém-nascido prematuro de extremo baixo peso (<1000g) Providenciar e preparar o material - selecionar o tamanho correto da cânula traqueal, baseada no peso ou na idade gestacional do recém-nascido (Tabela 1). Tabela 1 - Tamanho do Tubo Traqueal (TOT) relacionado ao peso e Idade Gestacional do RN Tamanho TOT Peso RN I. Gestacional RN 2,5 < 1.000 <28 3,0 1.000 a 2.000 28 a 34 3,5 2.000 a 3.000 34 a 38 3,5 e 4,0 > 3.000 > 38 Escolha o tamanho correto da lâmina de laringoscópio (N°0 para prematuros e N° 1 para neonatos a termo); verifique a luz do laringoscópio e providencie material para fixação da cânula traqueal à face do neonato. Prepare o material necessário para aspiração, lembran- do que a pressão máxima de aspiração é 100 mmHg. Prepare o cateter de oxigénio, conectando à fonte de oxigénio; prepare e teste o balão de reanimação. Posicionar - posicione o recém nascido com o pes- coço levemente estendido. Inserir o laringocóspio - posicione-se atrás da ca- beça do recém-nascido; segure o laringoscópio com a mão esquerda; estabilize a cabeça do RN com a mão direita; introduza a lâmina na boca e avance-a, inserindo-a um pouco adiante da língua; com isto a . ponta da lâmina deve estar na valécula (FIGURA 3). No caso de lâmina reta (preferível), introduzi-la até a epiglote. Visualizar a Glote - eleve a lâmina e observe as es- truturas anatómicas. Ao elevar a lâmina a epiglote e a glote devem aparecer na sua linha de visão (FIGURA 3). No caso de lâmina reta a glote está visível. Inserir a cânula traqueal - quando visualizar a glote, introduza a cânula traqueal pelo lado direito da boca, através da abertura da glote; introduza a extremida- de distai da cânula até que o marcador das cordas vocais se alinhe às cordas vocais. Verificar a posição da cânula - assim que a cânula for introduzida, deve-se segurá-la firmemente, en- quanto se retira, com cuidado, o laringoscópio. Ob- serva-se então o número, em centímetros, no qual a cânula atinge o nível do lábio superior. Este número é obtido somando-se o número 6 ao peso, em quilo- gramas do RN. Confirmação inicial - a seguir, conecte um balão de reanimação à cânula e ventile o recém-nascido; aus- cultar com estetoscópio os dois lados do tórax e o epigástrio. Confirmação definitiva — após a confirmação inicial do posicionamento da cânula, esta é fixada à face do neonato. A confirmação definitiva da localização da cânula é feita através da radiografia de tórax (a extre- midade da cânula localiza-se entre a Ia e a 3a vérte- bras torácicas).6. Massagem Cardíaca A massagem cardíaca externa consiste na compres- são rítmica do esterno, que provoca: a compressão do coração contra a coluna vertebral, o aumento da pressão intratorácica e o fluxo de sangue para os órgãos vitais. Indicação - a decisão de iniciar a massagem cardíaca é baseada da FC do recém-nascido. A massagem car- díaca está portanto indicada quando: após 30 se- gundos de VPP e oxigénio a 100% a FC é menor que 60 bpm.. Duas Técnicas - técnica dos polegares (É a técnica preferível e deve ser suficiente para gerar pulso palpável) e técnica dos dois dedos — FIGURA 4. Fig. 3 - Identificando as estruturas durante a laringoscopia. Fig. 4 - massagem cardíaca técnica dos polegares (es- querda) e dos dois dedos (direita). PEDIATRIA VOLUME 7/2004 - ATENDIMENTO IMEDIATO AO RECÉM-NASCIDO Posição do recém nascido - a criança já deve estar na posição correta para ventilação, com o dorso dis- cretamente distendido. Deve-se garantir um suporte firme para o dorso da criança, de tal modo que o coração possa ser comprimido entre o esterno e a coluna vertebral. Se o dorso não estiver devidamen- te apoiado e estiver sendo utilizado a técnica dos dois dedos, colocar uma das mãos sobre o dorso da criança. Se estiver usando a técnica dos polegares envolva o tórax do paciente com as suas mãos. Frequências - o esterno deve ser comprimido cerca de um terço do diâmetro anterior-posterior do tórax para gerar um pulso palpável com 3 movimentos de massagem e uma ventilação a cada 2 segundos. Isto resulta uma frequência de 90 compressões e 30 ven- tilações por minuto (3:1 - "um —> dois —> três —> ventila). Durante a reanimação neonatal, a VPP deve acompanhar sempre a massagem cardíaca. Como cada movimento ventilatório deve seguir 3 movimentos de massagem, a equipe deve estar coordenada para realizar ambos os procedimentos. Avaliação da FC - após 30 segundos de massagem e de ventilação, a FC deve ser verificada por 6 segun- dos (multiplique por 10). Se: - A FC é menor que 60 bpm - manter a VPP e a massagem cardíaca; iniciar drogas (Adrenalina); - A FC está entre 60 e 100 bpm - continuar a ven- tilação e interromper a massagem cardíaca; - A FC é maior que 100 bpm e a respiração for espontânea - então suspender a ventilação. For- necer oxigénio inalatório e fazer estimulação tátil. 7. Uso de Medicações A maioria dos recém-nascidos submetido à reanima- ção responde à VPP com Oxigénio a 100%, se esta é realizada de maneira rápida e efetiva. Alguns neona- tos necessitam também da massagem cardíaca. Pou- cos recém-nascidos não melhoram com a VPP e a massagem cardíaca. Nesses pacientes o uso das medicações é indicado. Se a criança apresenta-se em assistolia, as drogas podem são administradas ime- diatamente, de maneira simultânea ao início da VPP e da massagem cardíaca. As medicações e os expan- sores de volume são administrados durante os pro- cedimentos da reanimação para: Estimular o coração Aumentar a perfusâo tecidual e Restaurar o equilíbrio ácido-básico 0 uso de medicações pode ser necessário em recém- nascidos que não respondem à ventilação com oxi- génio a 100% e à massagem cardíaca. A indicação de cada medicação e o número de drogas necessárias são determinados pela condição clínica do paciente, após a administração de cada uma delas. As vias para administração das drogas incluem - veia umbilical, veias periféricas e a instilação endotraqueal. Drogas — as medicações empregadas na reanimação neonatal são: adrenalina, expansores de volume, bicarbonato de sódio e cloridrato de naloxone. •ADRENALINA Indicação: FC < 60 bpm após 30 segundos de VPP + O2 a 100% + massagem cardíaca. Dose: 0,1 a 0,3ml/kg (1:10.000). Via: IV ou ET - rapidamente. Efeitos: aumenta a força e a frequência das contra- ções cardíacas. Causa vasoconstricção periférica. Resposta: após 30 segundos, há aumento daFC (>100 bpm). EXPANSORES DE VOLUME São indicados quando há evidência de sangramento agudo com sinais de hipovolemia. São sinais de hipovolemia no recém-nascido: pali- dez após oxigenação, pulsos fracos com FC nor- mal, má resposta à reanimação e queda da pressão arterial. Tipos: Soro Fisiológico 0,9%, Ringer Lactato, San- gue total compatível. Dose: lOml/kg, IV em 5 a 10 minutos. Efeitos: aumenta o volume vascular diminui a acidose metabólica. Resposta: aumento da pressão arterial BICARBONATO DE SÓDIO Indicação: parada prolongada sem resposta a outras medidas. Dose: 2mEq/kg - IV, lentamente (2 min) da solução 4,2%. Efeitos: corrige a acidose metabólica e promove ex- pansão de volume. Resposta: aumento da FC após 30 segundos. CLORIDRATO DE NALOXONE Indicação: depressão respiratória grave e história de uso materno de opióides 4 horas antes do parto. Dose: 0,1 mg/kg - IV, ET, BVI ou SC - rapidamente. Efeitos: antagonismo dos opióides. Resposta: respiração espontânea imediata. Ill - CUIDADOS INDISPENSÁVEIS NA SALA DE PARTO :• Na sala de parto, os cuidados iniciais constituem-se em elemento de fundamental importância para o bem estar do RN. Abaixo, descreveremos as principais medidas a serem adotadas, no cuidado de RN de baixo risco (sem necessidade de manobras de reanimação): — Posicionar o RN corretamente imediatamente após o parto; o bebêde baixo risco deve ser colocado com a cabeça inclinada para baixo a fim de limpar a boca, faringe e nariz, de líquido, muco, sangue, e restos amnióticos, por gravidade. — Aspirar vias aéreas (boca e narinas) com um cate- ter macio no intuito também de remover o material citado acima — Aquecê-lo e secá-lo. A taxa estimada de perda calórica do RN é cerca de 4 vezes a do adulto. Sob condições climáticas da sala de parto, a temperatura do RN cai a 0,3°C por minuto. Os RN a termo, e prin- cipalmente os prematuros, podem desenvolver acidose metabólica, hipoxemia, hipoglicemia e aumen- to da excreção renal de sal e água quando expostos ao frio. - Instilação de gotas de nitrato de prata a 1% (crede) nos olhos do RN, no intuito de prevenir a infecção gonocócica. - Administração de Vitamina K hidrossolúvel 1 mg LM. evitando a doença hemorrágica do RN. -Exame do coto umbilical, aferição da temperatura, realização de medidas antropométrícas, avaliação da idade gestacional e aleitamento nas primeiras 2 h. IV - RECÉM NASCIDO DE ALTO RISCO Definimos como RN de alto risco aqueles bebés que encontram-se mais sujeitos a eventos mórbidos no período perinatal quando comparados à outros neo- natos. Estas crianças devem permanecer sob vigi- lância estreita por parte de médicos e enfermeiras. Sabemos que o risco mais alto de mortalidade neonatal se dá em crianças com menos de l.OOOg ao nascer e em gestações com menos de 30 semanas. Existem algumas condições ou fatores referentes à mãe, ao RN e ao próprio parto que predispõem ao alto risco. Portanto, vale a pena memorizá-los. 1. Fatores Maternos de Risco História familiar de anomalias congénitas, antece- dentes de prematuridade ou pequeno para idade gestacional (PIG), problemas sociais graves (dro- gas, idade <16 anos ou > 40 anos, mãe solteira), ausência ou escassez de cuidados durante o pré- natal, estatura < l,55m, cinco ou mais gestações, nova gestação antes de 3 meses decorridos do últi- mo parto, antecedentes de infertilidade prolonga- da, doenças virais teratogènicas no primeiro trimes- tre, stress, fumo exagerado, complicações obstétri- cas passadas ou presentes, parto múltiplo, cresci- mento fetal anormal, apresentações anómalas, alte- rações cardiotocográficas, mãe portadora de cardiopatias, hipertensão (específica da gravidez ou crónica), diabetes, neoplasias, epilepsia, insufici- ência renal, tuberculose em atividade, falcemia, síndrome antifosfolipídica, lúpus eritematoso sistémico, isoimunização ou anemia, oligodrâmnio, hidrâmnio, pós-maturidade, gestação múltipla, uso de medicações (magnésio, lítio). 2. Fatores ligados ao Parto Cesárea eletiva ou de emergência, hemorragias, amniorrexe > 24 h, emprego do fórceps, apresenta- ções anómalas, prolar so de cordão, sofrimento fetal e período expulsivo prolongado, proporção L/Eima- tura, escore de AP jAR< 7 no 5o minuto, parto > 42 semanas ou <37 semanas, líquido amniótico meconial. 3. Fatcres ligados ao Recém-nascido PIG, gemelaridade, GIG, filhos de mãe diabética ou toxicómana, pré-termo, má-formações e sintomas res- piratórios. MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" V - PREMATURIDADE E RETARDO DO CRESCIMENTO INTRA UTERINO De acordo com a OMS, considera-se prematuro os bebés nascidos vivos entre a 20* e a 37a semana a contar do primeiro dia do último período menstrual. Período de nascimento e idade gestacional: Dados estatísticos revelam que cerca de 7% dos nas- cimentos são prematuros. Porém, tais valores se al- teram, dependendo do país e até mesmo da classe sócio-econômica das gestantes. A incidência de par- to prematuro é maior em populações de baixo recur- so sócio-econômico e em pacientes que não rece- bem assistência pré-natal. Cerca de 2/3 dos recém nascidos com peso inferior a 2.500 gramas são prematuros. Os bebés que pesam 2.500 g ou menos ao nascimen- to são denominados recém nascidos de baixo peso. Estes podem ser: - Prematuros - caso o período gestacional seja infe- rior a 37a semana. - PIG (pequeno para idade gestacional) - quando há retardo do crescimento intra-uterino para sua idade gestacional. Nos países em desenvolvimento, cerca de 70% dos RNs de baixo peso ao nascimento apresentam retar- do do crescimento intra-uterino. A taxa de morbidade e de mortalidade nestes bebés é maior do que naque- les que apresentam crescimento apropriado. Bebés com peso inferior a 1.500g são chamados de recém nascidos de muito baixo peso e predominan- temente são prematuros. Desta forma, concluímos que prematuridade e baixo peso não são sinónimos. Estas duas entidades po- dem ou não coexistir em um mesmo RN. Causas de Prematuridade: - Fetais: sofrimento fetal, gestação múltipla, eritro- blastose, hidropsia não-imune. - Placentária: placenta prévia, DPP. - Uterinas: útero bicornado, colo de útero incom- petente. - Maternas: Pré-Eclâmpsia, doenças crónicas (do- ença renal, cardiopatia cianótica, diabetes), infec- ção (listeriose, estreptococo do grupo B, ITU, cori- oamnionite), toxicomania. - Outras: amniorrexe prematura, polidrâmnio, iatro- genia O parto prematuro de bebés, cujo baixo peso ao nas- cimento é apropriado para sua idade gestacional, em geral associa-se a distúrbios uterinos (em que o úte- ro torna-se incapaz de reter o feto), a interferência no curso da gravidez, DPP ou a estímulo das contra- ções antes do termo. As infecções bacterianas podem desencadear o tra- balho de parto prematuro, pois seus produtos po- dem estimular a produção de citocinas locais, que induzem contrações uterinas prematuras ou inflama- ção das membranas, com consequente ruptura das mesmas. Muitos fatores são comuns aos prematuros e a be- bés com baixo peso ao nascimento devido a retardo do crescimento intra-uterino. Descreveremos na pró- xima página as principais causas de retardo de cres- cimento intra-uterino: Tipo I - Interferência precoce com o crescimen- to fetal (da concepção até 24 semanas de ges- tação). Anomalias cromossômicas (trissomia 21, 13-15, 18, etc). Infecções fetais. Drogas maternas. Hipertensão crónica materna; diabetes grave com vasculopatia. Tipo II - Desnutrição intra-uterina crónica (24 a 32 semanas de gestação). Espaço intra-uterino inadequado (gestações múltiplas, tumores uterinos). Insuficiência placentária-doença vascular mater- na (renal, hipertensão essencial crónica, doen- ças do colágeno, etc). Tipo III - Desnutrição intra-uterina tardia (após 32 semanas de gestação). Infarto ou fibrose placentária. Hipertensão induzida pela gravidez. Hipoxemia materna. Pós-maturidade. Estatura materna pequena e desnutrição. Problemas frequentes em RNs prematuros: - aumento da incidência de óbito neonatal - asfixia perinatal -hipotermia -hipoglicemia -hipocalcemia - síndrome da angústia respiratória - doença pulmonar crónica - apnéia - hiperbiTirrubinemia indireta - dueto arterioso persistente (PCA) - hemorragia intracraniana - enterocolite necrosahte - infecção - retinopatia da prematuridade - interação mãe - pai - bebé comprometida 1. Avaliação da Idade Gestacional e do tipo do RCIU Tanto o prematuro, quanto o recém nascido com RCIU, possuem pouca gordura subcutânea. Porém o bebé com RCIU pode apresentar redução de seu cres- cimento de uma forma uniforme ou não. Desta forma, classificamos a redução do crescimento em: 1- Assimétrica - o crescimento da cabeça é rela- tivamente poupado. Associa-se à nutrição ma- terna deficiente ou início tardio ou exacerbação de doença vascular materna. 2- Simétrica - são afetados igualmente períme- tro cefálico, comprimento e peso. Associa-se a doenças que afetam o número de células fetais (distúrbios cromossômicos, má-formações, teratogênese ou hipertensão arterial materna in- tensa). A identificação da maturidade fetal e neonatal tor- nou-se um indicador preciso de risco perinatal. Os obstetras utilizam vários métodos para determinar a idade gestacional (história menstrual, altura do fun- do do útero, presença dos primeiros BCF, exames ultra-sonográficos, determinação de substâncias no líquido amniótico e do Teste de Clemens - relação lecitina/esfingomielina do líquido amniótico). Após o nascimento, o pediatra lança mão do exame físico, somático e neurológico para a avaliação da maturidade neonatal. A seguir, descreveremos as características físicas do recém-nascido, demonstrando as alterações que ocor- rem semanas após semanas, até o nascimento: 1. Verniz caseoso - surge entre 20 e 24 sema- nas. Começa a diminuir em torno da 36 se- manas, desaparecendo com 41 semanas. Embora a quantidade presente ao nascimen- to seja correlacionada com a idade gestaci- onal, isso pode ser modificado pela nutri- ção fetal. 2. Pregas plantares - entre a 32 e 34 semanas de gestação uma única prega transversa anterior está presente. Com 37 semanas, dois terços da planta apresentam pregas, e com 41 semanas, o calcanhar encontra-se enrugado. 3. Descamação da pele - ocorre mais comu- mente no pós-termo. 4. Coloração e textura da pele - com 37 sema- nas os vasos são visíveis. A deposição de gordura que ocorre entre a 36-40 semanas, dá à pele uma aparência arredondada. 5. Lanugem - surge em torno da 20a semana da gestação. Em torno da 28 semanas, co- meça a desaparecer na face e na parte supe- rior do tronco e, a termo, ainda costuma estar presente nos ombros. 6. Cabelos - surgem a partir de 20 semanas. 7. Olhos - as pálpebras se fundem no terceiro mês de vida e só reabrem entre a 28-30 se- PEDIATRIA VOLUME 7/2004 - ATENDIMENTO IMEDIATO AO RECÉM-NASCIDO 8. Orelhas - antes de 34 semanas são forma- das por uma espessa dobra de pele, de pe- queno formato sem cartilagem. Com 34 se- manas, elas ganham turgor, sendo obser- vada a formação da cartilagem. Nessa fase, as orelhas começam a encurvar-se pela par- te superior. Na 40a semana, o encurvamento é total, do topo ao lobo, com as orelhas apresentando consistência firme, manten- do-se saliente na cabeça. 9. Desenvolvimento mamário - a aréola co- meça a fazer relevo em tomo da 34a semana. Na 36a semana, um nódulo mamário de 1- 2mm pode ser palpado. Este aumenta sema- na a semana, até atingir 10-12mm. 10. Genitália - Masculina: o início da descida dos testículos para o abdome ocorre na 28a semana. Na 37a semana, encontram-se na parte superior da bolsa escrotal. Com 40 semanas descem completamente. Feminina: no início da gestação, o clitóris é proemi- nente e os grandes lábios são pequenos. Com 40 semanas, coincidentemente com a deposição de gordura, os grandes lábios aumentam, cobrindo os pequenos lábios e o clitóris. Através do escore de Dubowitz, os critérios físicos externos e os critérios neurológicos são utilizados para estimar a idade gestacional ao nascimento. A avaliação neurológica nem sempre é fidedigna, e pode variar em relação ao estado da criança, (choro, sono tranquilo, etc). Devido à complexidade do escore de Dubowitz, Ballard idealizou um método de avaliaçãoamplamen- te utilizado, que consiste em seis parâmetros de maturação neuromuscular somados a seis caracte- rísticas físicas. Outro escore de avaliação neonatal é o escore de Capurro que avalia a textura da pele, tamanho da glândula mamaria, coloração da aréola, formato da orelha e pregas da planta dos pés. VI - ASSISTÊNCIA AO PREMATURO A assistência ao prematuro tem como objetivo prin- cipal a redução da mortalidade nesta população. Para isto, tanto o aspecto obstétrico quanto o pediátrico devem ser cuidadosamente conduzidos. Primeiramente, devemos checar se sala de parto en- contra-se preparada: incubadora aquecida, oxigénio, material de aspiração e reanimação. Os pontos fundamentais da assistência incluem: - Reanimação adequada - Manter a temperatura corporal - Evitar infecções Após a ligadura do cordão umbilical, devemos en- volver o bebé em roupa esterilizada previamente aquecida. Realizamos a aspiração das vias aéreas e os demais procedimentos adotados rotineiramente na sala de parto. O peso do RN determinará a sua permanência ou não na incubadora. Sendo este inferior a 1.800g. ele deve permanecer. Caso seu peso ao nascimento esteja acima do descrito anteriormente, a permanência no interior do equipamento vai depender de seu estado físico. A temperatura adequada da incubadora é aquela que mantém a temperatura central do RN entre 36,5 - 37°C, ou seja, varia entre 28 - 32"C (zona termoneutra). A oxigenoterapia reduz o risco de lesão hipóxica, porém pode provocar retinopatia e lesão pulmonar. Os níveis de oxigénio devem ser necessários apenas para eliminar os sinais de hipóxia. O uso do oxímetro de pulso é de grande valia no acompanhamento clí- nico dos bebés. 1. Alimentação Com relação à alimentação, devem ser levadas em conta as seguintes considerações: A forma de administrarmos o alimento depende do peso ao nascimento e do estado físico do prematuro. Caso este apresente condições de sugar e deglutir, devemos alimentá-lo ao seio. As refeições por suc- ção não devem ocorrer ou devem ser suspensas nos casos do RN apresentar peso inferior a 1.500g ao nascimento, dificuldade respiratória, hipóxia. insufi- ciência circulatória, secreções excessivas, ânsia de vómito, sepse. depressão do SNC ou evidências de doença grave. Devemos fornecer o aporte calórico então, através de gavagem ou via parenteral (depen- dendo do caso). No caso de alimentação por gavagem, devemos em- pregar sonda macia e com pontas arredondadas; o posicionamento da mesma deve ser confirmado an- tes de cada administração alimentar. Podemos mantê- la por 3 a 7 dias ou trocá-la a cada mamada. A mudan- ça para a alimentação ao seio deverá ser gradativa, até que o bebé possua condições de alimentar-se sem evidências de fadiga. — O preparo do trato intestinal para a alimenta- ção é determinado pela presença de peristalse, eliminação de mecônio, ausência de distensão abdominal ou sinais de peritonite e resíduos gástricos não biliosos ou amarelados. O volume inicial para RN com peso inferior a lOOOg é cerca de lOml/kg/dia, com aumentos progressivos de acordo com a tolerância. - Devemos sempre evitar a administração de volume excessivo aos prematuros. O excesso de leite pode provocar vómitos, distensão ab- dominal, pneumonia por aspiração, acidose e desidratação hipertônica. - Neonatos maiores de 28 semanas de gestação digerem e absorvem adequadamente proteínas e carboidratos. Os lipídios não são absorvidos de maneira tão eficaz, devido a quantidades ina- dequadas de sais biliares. - Para calcularmos a necessidade de água nos primeiros 10 dias de vida do prematuro, basta utilizarmos a seguinte fórmula: 16 (número cons- tantei x idade do bebé em dias x peso de nasci- mento em Kg. Ex.: Qual é a necessidade hídrica em 24 horas de um prematuro no sexto dia de vida, que pesou 1 Kg ao nascimento ? 16x6x1=96 ml. No final da segunda semana a necessidade diá- ria situa-se em 190 mI/kg/24 horas. A necessidade de água calculada é a total, ou seja, a que entra também na composição do leite. - O leite materno é o alimento ideal para o pre- maturo. Para aqueles com peso inferior a 1500g, este alimento deverá ser suplementado com for- tificantes contendo sódio, proteínas, cálcio e fósforo. - A administração de suplementos vitamínicos deve ocorrer, pois as necessidades do prematu- ro são maiores que as do recém-nato a termo. Acrescenta-se diariamente como suplemento dietético, a partir da segunda semana de vida, as seguintes vitaminas: A (5.000 LT), D (2.000U1), C(50mg). O ácido fólico tem seus níveis séricos e eritroci- tários diminuídos nas primeiras semanas de vida dos prematuros, permanecendo assim por dois a três meses. Como uma das causas de hemólise, poderíamos citar a suplementação precoce de ferro associada à deficiência de vitamina E, cuja suplementação estará vinculada à dosagem do nível sérico, posto que, o uso excessivo dessa vitamina aumenta o risco de sepse e enterocolite necrosante. A prescrição de preparados a base de ferro deve ser feita somente após esta fase, em uma dosagem de 2mg/Kg/24 h. —A maior suscetibilidade à infecção faz com que nossa atenção seja redobrada no que diz respei- to a lavagem das mãos antes e após a realização dos cuidados com o prematuro. O contato do bebé com seus pais não aumenta significativa- mente o risco de infecções, desde que sejam mantidas as medidas preventivas. É imprescin- dível que a equipe multiprofissional possua ha- bilidade e experiência. 2. Metabolismo das Drogas Algumas vezes, é aconselhável que aumentemos o interv?'iO entre a administração das drogas, especial- mente as excretadas pelos rins, pois o clearance de creatinina encontra-se diminuído nos recém-nasci- dos especialmente nos prematuros. MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" Destacamos na tabela 2 reações adversas à algumas drogas administradas a neonatos prematuros: VII-PÓS-MATURIDADE Definimos RN pós-termo, como aqueles que nasce- ram após 42 semanas de gestação, independente de seu peso ao nascimento. Em seu exame físico, notamos ausência de lanugem, redução ou ausência do verniz caseoso, unhas lon- gas, pêlos abundantes no couro cabeludo, pele descamativa e maior vivacidade. Caso ocorra insuficiência placentária, o líquido amniótico e o bebé podem estar tintos de mecônio. Observamos em alguns casos, batimentos cardíacos fetais anormais. Devemos memorizar que cerca de 20% dos neonatos com síndrome de insuficiência placentária são pós-termo. Os pós-maturos tem morbidade neonatal aumentada devido à asfixia, síndrome de aspiração do mecônio (SAM), policitemia e hipoglicemia. As alterações clínicas apresentadas pelo RN pós- termo guardam íntima relação com sua idade gestaci- onal. A classificação apresentada abaixo nos auxilia na identificação dos principais sinais encontrados e sua relação com o prognóstico do bebé. 1. Classificação - Estágio I (43 semanas): pele seca apergaminhada, descamando, palidez discreta, cabelos abundantes, aspecto desnutrido, olhos abertos e olhar alerta, unhas longas, turgor diminuído. - Estágio II (44 semanas): semelhante ao estágio I + sinais de sofrimento (coloração meconeal e desnu- trição mais acentuada). - Estágio III (45 semanas): sinais I e II + impregna- ção meconeal do umbigo e unhas, descamação in- tensa da pele, pele escura, sinais de sofrimento encefálico difuso, redução da quantidade de líquido amniótico, tendência à pneumonia por aspiração e perda ponderai mais acentuada. Observamos um aumento significativo da mortalida- de quando o parto demora 3 ou mais semanas após o termo. Como vimos, a pós-maturidade é acompanhada de elevada morbidade. Para preveni-la, devemos sempre sugerir a indução do parto após 42 se- manas de gestação e sempre indicá-lo após 43 semanas. VIII - TRAUMATISMOS DURANTE O PARTO Antigamente se achava que a asfixia decorria de tocotraumatismos, resultantes de uma ação contun- dente direta sobre o feto ocorrida durante o trabalho de parto. Entretanto sabe-se que esta pode ser de origem mecânica ou principalmente anóxica. É im- portantefrisarmos que estas lesões não incluem aque- las consequentes a amniocentese, transfusão intra- uterina, coleta de amostra sanguínea do couro cabe- ludo ou procedimentos realizados durante ressusci- tação. 1. Etiopatogenia Descreveremos alguns fatores de risco associados a uma maior incidência de tocotraumatismos: Fatores maternos - Idade > 40 anos, estreitamento pélvico, DPP e prematuridade, oligodrâmnio. Fatores ligados ao feto - RN grandes para idade ges- tacional (GIG), gemelaridade, malformação fetal. Fatores ligados ao mecanismo de parto - Posição anormal, acidente durante o parto, procidência de cordão, rotura uterina, alterações da dinâmica uterina, período expulsivo rápido ou muito prolongado, distocias de apresentação. Fatores puramente obstétricos - Manobras intem- pestivas, manuseio inadequado. 2. Lesões Superficiais Eritemas, equimoses, petéquias e lacerações - Nas 3 primeiras lesões descritas devemos ter conduta expectante na maioria dos casos. Nas lacerações, a terapêutica depende da extensão da lesão. Necrose Adiposa Subcutânea - geralmente ocorre devido à compressão local no período expulsivo. Surge entre o 6o e 10° dias. Evolui para a cura espon- taneamente. Bossa serossangiiínea (caput succedaneum) - É a lesão mais frequente. Assintomática, possui consis- tência mole, flutuante e com limites imprecisos. Ge- ralmente regride espontaneamente. Nos casos mais intensos, com a presença de equimoses extensas, utilizamos a fototerapia para tratarmos a hiperbilirru- binemia indireta. Céfalo-hematoma (CH): É uma coleção subperióstea, desta forma sempre limitada pelas suturas. Não ob- servamos coloração anormal do couro cabeludo suprajacente. Uma fratura craniana linear eventual- mente acompanha o céfalo-hematoma. Este regride mais lentamente, no decorrer de 2 a 3 semanas, ou por vezes alguns meses. 3. Lesões da Medula Espinhal ou da Coluna Vertebral É ocasionada eventualmente em lactentes que sofrem, por parte do obstetra, excessiva força rotacional (pro- vocando lesão em C3-4) ou longitudinal (C7 Tl) du- rante o parto com apresentação de vértice ou de náde- gas. Os RN com lesões na medula espinhal geralmen- te são asfíxicos, apnéicos e flácidos. A persistência de um reflexo de retirada mediado através de centros medulares distais à área da lesão pode ser interpreta- da como representante de movimento voluntário. 4. Lesões nos Nervos Periféricos e Pares Cranianos Estão associadas mais comumente lesões do plexo braquial usualmente decorrentes de tração excessi- va sobre o pescoço do RN. Observamos paresia e, algumas vezes, paralisia completa. PEDIATRIA VOLUME 7/2004 - ATENDIMENTO IMEDIATO AO RECÉM-NASCIDO Paralisia de Erb-Duchenne: O RN não consegue de forma alguma abduzir o membro superior no ombro, girar lateralmente o membro superior e supinar o antebraço. O quadro clínico apresenta-se com adução indolor, rotação interna do membro superior e pronação do antebraço. É ocasionado por lesão de 5" e 6° nervos cervicais. A paralisia do frênico (C3-4-5) pode acompanhar a clínica, e pro- duzir dificuldade respiratória. O reflexo de Moro obviamente está ausente no lado afetado. A preen- são palmar está preservada, a menos que a parte inferior do plexo esteja comprometida. Paralisia de Klumpke: Observamos paralisia da mão. Em caso de acometimento do plexo simpático, o RN pode apresentar síndrome de Horner homola- teral à lesão. É ocasionada por injúria ao 7", 8o ner- vos cervicais e Io nervo torácico. Apreensão palmar está ausente no lado afetado. Obs.: A lesão ao nervo facial pode ocorrer e geral- mente é unilateral, envolvendo toda a face. 5. Hemorragia Intracraniana (Intraventricular) A hemorragia intracraniana/intraventricular geral- mente resulta de asfixia, causando rotura de vasos sanguíneos da matriz germinal subependimária gela- tinosa. Prematuridade, síndrome da angústia respi- ratória, lesão hipóxico-isquêmica ou hipotensiva, pneumotórax e hipervolemia são os fatores predis- ponentes mais importantes. A hemorragia raramente está presente ao nascimen- to, visto que 80 a 90% dos casos ocorrem até o ter- ceiro dia de vida. Os sintomas mais comuns são di- minuição ou ausência do reflexo de Moro, hipotonia, sonolência, letargia e apnéia. Embora os prematuros com hemorragia intraventri- cular manifestem choque rápido, anemia, coma ou fontanela abaulada, muitos sinais de hemorragia são inespecíficos ou estão ausentes. Portanto, re- comenda-se que os prematuros sejam avaliados com ultra-sonografia cerebral através da fontanela anterior para detectar a hemorragia. A tomografia computadorizada de crânio é indicada para os re- cém-nascidos a termo nos quais o diagnóstico é suspeitado, pois a ultra-sonografia pode não re- velar hemorragia intraparenquimatosa ou infarto. Uma punção lombar está indicada na presença de sinais de hipertensão intracraniana ou deteriora- ção da condição clínica para identificar hemorragia subaracnóidea franca ou excluir a possibilidade de meningite bacteriana. Alguns neonatos com hemorragia intraventricular desenvolvem hidrocefalia pós-hemorrágica. A hemorragia intraventricular associada a encefa- lopatia hipóxico-isquêmica é frequentemente acom- panhada de disfunção de múltiplos órgãos. As con- vulsões são tratadas com drogas anticonvulsivan- tes, a anemia/choque requer transfusão de concen- trado de hemácias ou plasma fresco congelado e a acidose é tratada pela administração criteriosa e len- ta de 1-2 mEq/kg de bicarbonato de sódio. A intro- dução neurocirúrgica de um cateter de ventriculos- tomia externa pode ser necessária no estágio inicial de hidrocefalia sintomática descontrolada. 6. Fraturas Ósseas Clavícula - Geralmente são unilaterais e encontra- das em RN macrossômicos. A clínica resume-se em reflexo de Moro assimétrico e movimentos reduzi- dos do lado afetado. O prognóstico é muito bom, com a maioria dos RN necessitando apenas de uma atadura para imobilização. Membros - São fraturas mais raras, sendo o úmero mais frequentemente acometido do que o fémur. O tratamento consiste em imobilização com tipóia tri- angular para o úmero e suspensão sob tração para as fraturas femorais. Ossos da face - As fraturas em si, não são comuns. No entanto, a luxação da parte cartilagínea do septo na- sal para fora do sulco vomeriano e da columela é even- to comum. Os RN apresentam como manifestações clínicas dificuldade em alimentar-se, em respirar, nari- nas assimétricas e nariz achatado e deslocado lateral- mente. O tratamento consiste na redução da luxação. 7. Traumatismos de Vísceras Fígado - Constitui-se em um órgão que, juntamente com o cérebro, pode ser lesado durante o parto. A lesão é proveniente de pressão sobre o órgão duran- te o parto da cabeça nas apresentações pélvicas. Os fatores associados a esta lesão incluem macros- somia, asfixia intra-uterina, prematuridade extrema e hepatomegalia. A ruptura do fígado dá origem inici- almente a um hematoma subcapsular, que contém provisoriamente o sangramento. Baço - A rotura é mais rara do que a hepática, eventu- almente podendo as duas coexistirem. Os fatores de risco são os mesmos citados acima para a ruptura he- pática. Supra-renal - A complicação principal é a hemorra- gia, que decorre de traumatismos durante o parto, anoxia e infecções graves. Ela também encontra-se associada a recém-nascidos grandes para idade ges- tacional e apresenta-se, eventualmente, sem fator de risco algum identificável. 90% são unilaterais, sendo 75% do lado direito. PRINCIPAIS DOENÇAS DO RECÉM-NASCIDO 1. Doença de Membrana Hialina A Doença de Membrana Hialina (DMH), causada pela diminuição da produção de surfactante pulmonar em recém-nascidos prematuros, é uma das principais causas de desconforto respiratório no RN. Os Fatores de Risco para a ocorrência da DMH são relacionados a seguir: - Parto prematuro - principal fator - Recém-nascidos com peso inferior a 2.000g -Asfixia Perinatal - Mãe Diabética - Sexo Masculino - Hemorragia Materna Algumas condições clínicas, que podem surgir de forma isoladaou conjunta, reduzem a probabilidade do aparecimento da DMH. Poderíamos citar as se- guintes desordens: pacientes pequenos para a ida- de gestacional (por CIUR, devido à hipertensão cró- nica ou gestacional), rotura prolongada de membra- nas, RN nascidos de parto vaginal e presença de desnutrição intra-uterina. Recém-nascidos de mães que utilizaram glicocorticóide (com indicação espe- cífica) no período pré-parto, são potencialmente me- nos sujeitos à desenvolver a DMH. A medida mais importante para prevenir a ocorrência de DMH é a prevenção do parto prematuro. A indica- ção do uso de corticóide materno, a fim de se acele- rar a maturidade pulmonar, para a prevenção do DMH inclui: - Idade gestacional entre 24 e 34 semanas de gesta- ção mesmo em uso de medicamentos tocolíticos. - Não existem contra indicações definidas por raça, sexo ou disponibilidade de SPE. - Os resultados do emprego do glicocorticóide terão seu efeito máximo 24h após o uso (embora seja ob- servada com frequência ação da droga antes disso) e se farão presentes até o sétimo dia. - Se o RN tem 30 a 32 semanas de gestação, mesmo :om amniorrexe prolongada, o glicocorticóide deve ser utilizado, pois diminui o risco de hemorragia in- raventricular. Entre a 20a e 24a semana de gestação o desenvolvi- mento pulmonar é caracterizado pela formação dos sacos alveolares; nota-se também o início da dife- renciação das células em pneumócitos tipo I (células de revestimento) e pneumócitos tipo II. Estes últi- mos são os responsáveis pela produção do surfactante. Esta substância é detectada por volta da 25a e 30a semana, entretanto, só é capaz de confe- rir estabilidade alveolar por volta da 33a semana. Normalmente o cortisol endógeno tem papel funda- mental na síntese do surfactante. O glicocorticóide estimula os fibroblastos pulmonares a produzir uma substância denominada fator fibroblasto do pneumócito (FFP). O FFP faz com que o pneumócíto tipo II aumente seu ritmo e taxa de produção de surfactante Como vimos antes, o surfactante pulmonar é um fosfolipídio produzido e secretado pelo pneumócito tipo II; esta substância tem por função diminuir a tensão superficial da interface/parênquima. Sua pro- dução inicia-se em torno da 16a semana de gestação, sendo sua distribuição mais homogénea na faixa das 20 semanas. Entretanto, seus níveis de concentra- ção serão detectados no líquido amniótico somente após a 28* semana de gestação. Quando o surfactante está ausente ou inativo ocor- rerá um aumento da tensão da interface gás - parede alveolar acarretando colabamento alveolar progres- sivo. Há, à autópsia dessas crianças, atelectasia pul- monar difusa, congestão e edema. A maior parte do pulmão é perfundida e não ventilada, gerando altera- ção da relação V/Q, com hipoxemia. A mecânica ventilatória sofre uma sobrecarga de tra- balho pelas alterações do metabolismo e da troca gasosa. Das muitas alterações descritas no pulmão do RN. a complacência pulmonar diminuída é um fa- tor agravante que pode contribuir para a instalação da insuficiência respiratória precoce. A complacên- cia pulmonar reduzida, volumes correntes pequenos, aumento do espaço morto fisiológico e aumento do trabalho para respirar resultam em hipercapnia. A redução de surfactante, atelectasias, alteração da V/Q, vasoconstrição pulmonar, hipoperfusão tissu- lare o metabolismo celular prejudicado formam o que Farrell (1980) considerou um circulo vicioso que age perpetuando a hipóxia e a insuficiência respiratória aguda. Em muitos pacientes, a evolução pode ser mais bran- da e autolimitada. Nestes, após um a dois dias de vida, a resposta ao estímulo gerado pelos glicocorti- cóides para produção do surfactante pulmonar, so- mado à sua liberação pelos beta adrenérgicos, reduz a deficiência inicial do fosfolipídeo. Descritos mais minuciosamente, três fatores são de- finitivos na evolução da DMH: - O tamanho das vias aéreas e seu reduzido calibre - A pequena complacência dos pulmões - A elevada tensão superficial local O primeiro item é uma condição anatómica determi- nante para o aparecimento de muitas doenças respi- ratórias nos RN. Além disso, o diafragma, que é o músculo respiratório mais importante do RN, não conta com auxilio da parede torácica para seu bom funcionamento, além de ser submetido a pressões aumentadas pelo conteúdo abdominal, fatores es- ses que prejudicam o seu bom desempenho. Por outro lado, o diafragma do recém-nascido pos- sui um raio menor, o que traz uma vantagem, pois, segundo a Lei de Laplace, a diferença de pressão em ambos os lados de uma membrana esférica sob ten- são é inversamente proporcional ao raio da esfera, sendo assim, para uma dada tensão diafragmática exercida, poderão ser geradas, relativamente, pres- sões intratorácicas maiores. Diagnóstico e Evolução Clínica O diagnóstico da Doença de Membrana Hialina será definido pela evolução clínica, radiológica e dos exa- mes laboratoriais associados. Conforme descrito na fisiopatologia, esta doença promove um colabamento alveolar progressivo que se caracteriza inicialmente pela taquipnéia, esforço respiratório moderado a grave, retração subdiafrag- mática, batimento de asa de nariz, palidez cutânea e gemência. Estas alterações iniciais podem ser segui- das, no decorrer de algumas horas, por cianose, di- minuição da entrada de ar à ausculta pulmonar e mes- 21 I - DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO RN Fisiopatologia e Patogênese da DMH MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" mo, apnéia. Esta evolução é progressiva com a piora ocorrendo em geral nas primeiras 24h após o nasci- mento. Na maioria dos casos, os sinais e sintomas atingem o máximo dentro de três dias, depois dos quais a melhora é gradual. Evolução Radiológjca A realização da radiografia do tórax pode nos auxi- liar no diagnóstico da doença de membrana hialina. Encontramos com frequência imagem de hipotrans- parência homogénea, descrita por alguns autores como vidro moído ou esmerilhado, devido à forma- ção de micro atelectasias somadas ao edema inters- ticial (FIGURA 1). Broncogramas aéreos são proe- minentes no lobo inferior esquerdo. Eventualmente, a radiografia inicial é normal, com o padrão típico desenvolvendo-se em 6-12h. Nos casos graves há piora radiológica evolutiva, em geral acompanhada por deterioração clínica. Diagnóstico Laboratorial O diagnóstico laboratorial da DMH pode ser anali- sado como na insuficiência respiratória no RN. A gasometria arterial apresentará baixos níveis de oxi- génio, que progressivamente serão associados ao aumento da pCO2, com presença de acidose respira- tória e/ou mista, conforme a gravidade do caso. Ou- tros dados laboratoriais pouco auxiliarão no diag- nóstico da DMH. Fig. 1 - Aparências reticulares em ambos hemitóraces em uma criança com DMH em fases iniciais. Diagnóstico Diferencial Dentre os diagnósticos diferenciais poderíamos ci- tar as pneumonias congénitas, principalmente por estreptococos beta hemolítico do grupo B (que pro- duz um aspecto radiológico praticamente indistin- guível da DMH), a taquipnéia transitória do RN, as cardiopatias congénitas e as malformações pulmo- Tratamento - Cuidados Gerais: estabilização inicial, controle de temperatura, oferta de líquidos de forma criteriosa (líquidos em excesso favorecem o desenvolvimento da persistência do canal arterial), suporte hemodinâ- mico e oferta calórica - Oxigenioterapia - Pressão positiva em vias aéreas, CPAP nasal - Surfactante pulmonar exógeno - Ventilação mecânica convencional - Ventilação de alta frequência Surfactante Pulmonar Exógeno (SPE) O surfactante é uma substância complexa composta em grande parte por fosfolipídios associados a lipídeos neutros, apoproteínas específicas e proteí- nas não específicas . O principal componente fosfolipídico do SP é a' lecitina ou dipalmitoil-fosfatidilcolina, também utili- zado como indicador de maturidade do feto confor- me descrição anterior. As proteínas são de pequeno peso molecular e tem função no processo de síntese de nova molécula do SPE, absorção e dispersão de substância.Tipos de Surfactante Pulmonar Exógeno - O surfactante pode ser classificado em 3 tipos confor- me sua origem: o tipo natural, proveniente da extra- ção desta substância do pulmão de animais, os tipos semi-sintéticos e os sintéticos que possuem teorica- mente como vantagem, um menor risco de antigeni- cidade e contaminação. A utilização do surfactante pulmonar exógeno em muito auxiliou no prognóstico em prematuros com Doença de Membrana Hialina (DMH). Os efeitos imediatos incluem melhora dos gradientes de oxigé- nio alvéolo-arterial, diminuição da pressão média das vias aéreas pelo respirador, maior complacência pul- monar e melhora radiológica. 2. Taquipnéia Transitória do RN A dificuldade de reabsorção dos líquidos pulmona- res após o nascimento é o fator principal para a ocor- rência desta afecção respiratória. Estes RN caracteri- zam-se por idade gestacional a termo ou próximo do termo, com desenvolvimento pulmonar normal, que por mais de 3 horas mantém FR superior a 60 irpm. Em geral sua evolução é benigna e as medidas de suporte terapêutico pouco invasivas. O parto cesáreo e a asfixia perinatal têm sido relacionados com esta variedade de desconforto respiratório. Etiopatogenia O pulmão fetal contém em seu interior líquido, que contribui para seu desenvolvimento no período intra uterino. No momento do nascimento, aproximada- mente 50% do líquido pulmonar é eliminado pela ca- vidade oral. A aeração pulmonar e a remoção do líquido se dá de forma concomitante, completando-se o processo quando o líquido for substituído por igual volume de ar (30ml/Kg). A completa "secagem" do pulmão é concluída em aproximadamente 6 horas após o parto, momento em que o órgão atinge seu peso mínimo. Devemos levar em consideração que durante esta transição ocorrem alterações na pressão hidrostá- tica e oncótica, além da existência de uma permea- bilidade passiva do epitélio aos solutos e ao trans- porte de íons. A mobilização do líquido em direção ao espaço intersticial promove uma diminuição da pressão oncótica deste compartimento. Com isto, a pressão hidrostática do interstício também altera- se, o que favorece a absorção de fluidos em direção à circulação. Somada às alterações descritas, a distensão alveolar age produzindo uma diminuição da pressão hidros- tática no interstício pulmonar, gerando pressão ne- gativa. O epitélio por apresentar permeabilidade va- riada também auxilia na absorção dos líquidos. Evolução Clínica O desconforto respiratório ocorre precocemente, ou seja, entre a 2a e 4a hora de vida ou mesmo antes, e evolui quase que exclusivamente com taquipnéia (FR variando de 60 a 100 irpm) e, eventualmente, gemência e retrações. Em geral as manifestações clínicas mais graves (cianose e desconforto respi- ratório) são resolvidas com a oferta de oxigénio em baixas concentrações (FiO2<40%). Os achados la- boratoriais reduzem-se à gasometria alterada, com discreta queda do oxigénio e pouca repercussão sobre o pH. Quando as alterações mostrarem-se graves, outros diagnósticos devem ser analisados; a ocorrência de asfixia é encontrada com certa fre- quência. Aspecto Radiológico - Diminuição da transparência pulmonar - Estrias radiopacas em direção ao hilo (trama vascular pulmonar proeminente) - Cissuras espessadas - Hiperaeração, com diafragma achatado - Eventualmente discreta cardiomegalia e/ou derra- me pleural. Estas alterações são simétricas com leve predominância do pulmão direito Diagnóstico Diferencial A DMH, a pneumonias por estreptococos beta hemolítico do grupo B e a síndrome de aspiração de Tratamento - Suporte adequado, evitar dieta por sucção caso FR>60ipra - Oxigenioterapia - Não utilizar antibióticos. PEDIATRIA VOLUME 7/2004 - PRINCIPAIS DOENÇAS DO RECÉM-NASCIDO A fisiopatologia desta doença permanece com alguns pontos ainda pouco esclarecidos. De um total de 10 a 20% de RN que apresentam sofrimento no momen- to do parto (líquido tinto de mecônio ou com mecônio espesso), apenas 1 a 2% desenvolvem a SAM. A SAM é definida pela presença do mecônio na árvore respiratória. Estes pacientes são de termo ou próxi- mo (acima de 37 semanas). Fisiopatologia O sofrimento fetal, associado a uma diminuição do fluxo placentário e consequente hipoxemia, deter- mina um aumento do peristaltismo intestinal, se- guido de relaxamento esfincteriano e liberação de mecônio. Ocorre, então, uma alteração dos movimentos respi- ratórios do feto, invertendo o sentido do fluxo de líquido pulmonar; este não é mais eliminado de for- ma adequada, sendo represado dentro do pulmão, agora com mecônio. A presença desta substância estranha dentro dos pulmões pode ter repercussões graves, principal- mente se o tamanho destas partículas for relativa- mente grande, o que produz uma pneumonite quí- mica, obstruindo as vias aéreas (pequenas), provo- cando atelectasias e áreas de shunt intra pulmonar e decorrente hipoxemia. A instabilidade alveolar ocorre quando, por meca- nismos valvulares, o ar fica aprisionado dentro do alvéolo em detrimento da distribuição homogénea no trato respiratório inferior, produzindo hiperinsu- flação. Este mecanismo favorece a ocorrência de enfisema intersticial, muitas vezes produzindo pneu- motórax e/ou pneumomediastino. Quadro Clínico O RN que desenvolve SAM, geralmente é pós-maturo, com impregnação meconial em cordão umbilical, pele seca, enrugada e sem vérnix. A ausculta respiratória, pouco específica, pode revelar estertores de médias e grossas bolhas em ambos os campos pulmonares, além de expiração prolongada, o que evidencia com- prometimento de pequenas vias aéreas. Se submetido à asfixia grave logo ao nascimento, o RN apresenta sinais de insuficiência respiratória. Entretanto, notamos muitas vezes esta evolução gra- ve se instalando de forma mais lenta, isto é, nas pri- meiras 72 horas de vida. A hiperdistensão do tórax pode ser proeminente. As complicações graves, como o pneumotórax, po- dem aumentar os níveis de hipertensão pulmonar e shunt; estes fenómenos levam a repercussões clí- nicas importantes como colapso cardio-circulató- rio, acidose metabólica, CIVD e distúrbios metabó- licos. Os acometimentos extra pulmonares são im- portantes para avaliação do prognóstico destes pacientes. Depende do grau de comprometimento da aspiração de mecônio. O aspecto clássico é de infiltrado gros- seiro e difuso alternando com áreas de hipotranspa- rências e hiperinsuflação. Devemos tentar localizar precocemente áreas de extravasamento de ar, enfisema intersticial e pneumotórax. Em algumas si- tuações os achados radiológicos são mais importan- tes do que a clínica da criança; no entanto, este fato muitas vezes não prediz piora clínica (como ocorre na DMH, por exemplo). Diagnóstico - Relato de líquido meconial; - Mecônio na traquéia do RN - Radiografia compatível com SAM Tratamento Na ausência de sofrimento fetal, ou seja, um RN com choro forte, boa frequência cardíaca e bom tônus, não é necessário aspirar a traquéia após o nascimen- to. Entretanto, independente da consistência do lí- quido meconial (fluido ou espesso), nos casos de o RN nascer deprimido ele deve ter sua traquéia direta- mente aspirada com tubo orotraqueal conectado ao vácuo. O tratamento pós-natal envolve (1) Cuidados Gerais, (2) Antibioticoterapia, indicada pela possibilidade de pneumonia secundária - Penicilina + Aminoglicosí- deo; (3) ventilação mecânica (4) Fisioterapia respira- tória e (5) Tratamento da Hipertensão Arterial Pul- monar Persistente (HPP), quando diagnosticada, mantendo a PaO2 maior do que lOOmmHg. Na ausên- cia de HPP, devemos manter os níveis de PaO2 entre 60e90rnmHg II - OXIGENIOTERAPIA O principal objetivo do uso do Oxigénio é o aporte energético às células. Isto ocorre a partir da chegada do gás aos pulmões, sua passagem para o meio in- travascular, captação pela hemoglobina, transporte até os tecidos e seu aproveitamento como substrato energético celular. A hipoxemia arterial é a forma mais comum de definir a redução da concentração de oxigénio livre, passo inicial para a hipóxiatecidual. Esta condição ocorre como resultado da hipoventilação, alterações da V/ Q, defeitos da difusão e shunt cardíaco ou intrapul- monar. Hipoxemia secundária aos distúrbios V/Q e da difu- são gasosa respondem ao aumento da concentração de oxigénio. Por outro lado, hipoxemias com shunt verdadeiro (extrapulmonar), moderado a grave são refratárias ao uso de O2, sendo necessária a utiliza- ção de pressões positivas associadas. A hipoventilação ocorre por 2 problemas básicos. O primeiro é a obstrução das vias aéreas que poderá ocorrer desde as narinas, região glótica ou mesmo as partes inferiores do trato respiratório e é causa- da, em geral, por secreção abundante ou espessa, edema, massas comprimindo alguma parte deste tra- jeto ou corpos estranhos que impedem a chegada do oxigénio ao alvéolo. O segundo motivo esta re- lacionado à incapacidade da musculatura torácica em produzir pressões intra-pleurais negativas o suficiente para permitir a entrada do gás proveni- ente do ar ambiente. Quando o oxigénio alcança a periferia do pulmão, a estrutura da membrana alvéolo-capilar alterada po- derá impedir que ocorra a passagem deste gás para a corrente circulatória, a destruição do revestimento e proteção do epitélio pulmonar causado por lesões tipo SDR ou a deposição de membranas hialinas po- derão ser fatores que interferem decisivamente para a troca gasosa. É fundamental que existam células carreadoras do oxigénio e que tenham número e função adequados para cumprir tal objetivo, pois apenas 0,003ml de O2 /lOOml é transportado sob a forma não conjugada no sangue. A hemácia, célula transportadora do oxigénio, pos- sui uma molécula de hemoglobina, com um anel de ferro-porfirina, associado à proteína globina, com 4 cadeias polipeptídicas (duas alfa e duas beta) que irá se diferenciar no decorrer da vida fetal (HbF), até parte do primeiro ano de vida, depois tornando-se do tipo adulta (HbA). Para que o sangue alcance os tecidos, o funciona- mento do sistema cardio-circulatório deve estar pre- servado, afastando-se fatores como a hipotensão, bradicardia, choque e a falência do sistema. Acorre- ção da hipóxia pela maior oferta de oxigénio poderá auxiliar na melhora da performance circulatória. É A curva de dissociação do oxigénio é um aspecto fundamental para o entendimento dos fenómenos que ocorrem durante seu transporte e dissociação. Os principais fatores que promovem a menor afini- dade da hemoglobina pelo oxigénio deslocando a curva para a direita são: - Aumento da concentrações de íons hidrogénio (acidose) -Elevação dos níveis de CO2 e do 2-3 difosfoglicerato - Febre ou hipertermia. - A mudança da curva para a esquerda está ligada a mudanças inversas às relatadas acima. Complicações da Oxigenioterapia A oxigenioterapia dependendo da maturidade do pulmão do RN, de seu período de utilização e de concentrações do gás, poderá acarretar comprome- timentos tanto pulmonares quanto à distância. A doença pulmonar crónica do RN ou displasia broncopulmonar (FIGURA 2) é a consequência res- piratória mais importante da exposição a elevadas concentrações de oxigénio. 3. Síndrome de Aspiração de Mecônio (SAM) Aspecto Radiológico MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" Fig. 2 - Displasia broncopulmonar severa. Nota-se dre- nagem de pneumotóraces bilaterais. Outra complicação descrita com frequência é a retinopatia da prematuridade. A flutuação nos teores de oxigénio causam constricção dos vasos da retina e dano endotelial somados posteriormente à fibrose dos tecidos. Ill - ICTERÍCIA NEONATAL 1. Introdução Observamos icterícia em cerca de 60% dos recém- nascidos em sua primeira semana de vida. O grande desafio do pediatra é saber identificar a natureza desta alteração, isto é, se decorrente de estados patológi- cos ou não, e ter o conhecimento do momento exato de intervir, empregando medidas terapêuticas, mui- tas vezes, salvadoras. Em geral, a icterícia do RN se deve a um aumento da fração indireta ou lipossolúvel da bilirrubina. Este pigmento, quando presente em grandes quantida- des, somado a outras alterações, que veremos mais tarde, pode cruzar a barreira hematoencefálica e ser extremamente neurotóxico para o recém nascido. A hiperbilirrubinemia às custas da fração direta, quan- do presente nas primeiras horas ou semanas de vida, indica uma desordem subjacente de extrema gravi- dade, como sepse neonatal. infecções congénitas (toxoplasmose, citomegalovirose, rubéola, sífilis, herpes, etc), atresia biliar, fibrose cística, galactose- mia, cistos do colédoco e deficiência de alfa 1 anti- tripsina. No momento, vamos nos ater as diversas etiologias que determinam níveis elevados da fração indireta... 2. Etiologia O metabolismo da bilirrubina em um RN está em tran- sição do estágio fetal, durante o qual a placenta é a principal via de eliminação da bilirrubina lipossolúvel, para o estágio adulto, no qual a forma conjugada hidrossolúvel é excretada pelos hepatócitos no sis- tema biliar e depois no trato gastrointestinal. A bilirrubina é um produto da degradação do heme, presente principalmente, nos eritrócitos. Os eritró- citos "velhos" são apreendidos pelo sistema reticulo- endotelial e a hemoglobina vai sofrer transformação até o estágio de bilirrubina (passando pela biliverdi- na). O ferro resultante do processo é armazenado provisoriamente sobretudo no fígado e no baço, e depois reutilizado. Sabe-se que lg de hemoglobina fornece cerca de 35mg de bilirrubina. A bilirrubina liberada para a corrente sanguínea é lipossolúvel e, para ser transportada, liga-se à albu- mina. A albumina tem alta afinidade pela bilirrubina. Um grama de albumina tem capacidade de ligação de 8,5mg de bilirrubina. Ligada à albumina, a bilirrubina indireta é levada ao fígado. Ela é captada facilmente pela membrana do hepatócito e dentro da célula liga-se à glutation-N- transferase (antigamente denominada de proteína X ou ligandina), a qual transportará a bilirrubina até o retículo endoplasmático liso (REL). No REL, a bilirru- bina é combinada com um açúcar (conjugação'), em uma reação mediada pela glicuroniltransferase. A esterificação com ácido glicurônico resulta em uma das duas formas de bilirrubina: monoglicuronídeo ou diglicuronídeo. Esses novos pigmentos são hi- drossolúveis e suficientemente polares para serem excretados pela bile ou filtrados pelos rins (bilirrubi- na direta). Após a conjugação, a bilirrubina vai rapidamente para os canalículos biliares atravessando a membrana do hepatócito por mecanismo ativo. Com a bile, a bilir- rubina direta chega ao intestino delgado onde, no adulto e na criança maior, será reduzida a estercobilina pela presença de bactérias da flora local e uma pe- quena quantidade será hidrolisada para bilirrubina indireta (pela enzima beta-glicuronidase) e reabsor- vida pela circulação entero-hepática. No RN, a flora intestinal está ausente até mais ou menos o final da Ia semana de vida, com estercobilina praticamente indetectável. Além disso, nessa fase da vida, a beta- glicuronidase está presente de forma ativa, aumen- tando a quantidade de bilirrubina indireta que será reabsorvida na circulação entero-hepática. Descreveremos abaixo os principais fatores que de- terminam uma elevação da fração indireta da bilirru- bina: (1) Aumento da carga de bilirrubina a ser meta- bolizada pelo fígado (menor sobrevida das hemácias fetais, maiores índices hematimé- tricos nessa faixa etária, hemólise e infec- ção); (2) Diminuição da captação hepática; (3) Diminuição da atividade da enzima glicuro- niltransferase (hipóxia, infecção, hipotireoi- dismo e hipotermia); (4) Competição ou bloqueio da enzima glicuro- niltransferase (substâncias que necessitem de conjugação com o ácido glicurônico para excreção e drogas); (5) Presença de defeitos genéticos que acarre- tem ausência de glicuronil transferase ou sua diminuição e defeitos de captação da bilirrubina pelo hepatócito; (6) Exacerbação da circulação entero-hepática (jejum, demora na eliminação do mecônio) Condições associadas àa um aumento
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