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Choque é uma síndrome caracterizada pela incapacidade do sistema circulatório de fornecer oxigênio aos tecidos, o que pode levar à disfunção multissistêmica e morte. É fundamental o seu reconhecimento precoce para que haja a correção das disfunções, assim como é fundamental tratar a causa de base. Tipicamente três variáveis geralmente estão presentes: ✓ Má perfusão periférica, na maioria das vezes manifestada como hipotensão (PAM=PAS+2PAD/3 <65-70) +taquicardia (nem todos, atletas, usam betabloq não apresentam). ✓ Achados clínicos: extremidades frias, muitas vezes com cianose; oligúria (diurese <0,5 ml/Kg/h) e manifestação de baixo débito no SNC (sonolência, confusão, desorientação). ✓ Hiperlactatemia, indicando metabolismo celular de oxigênio alterado. Apesar da sobreposição de mecanismos, os estados de choque são classificados em: 1-Hipovolêmico; 2- Distributivo; 3- Cardiogênico; 4- Obstrutivo. FASES FISIOPATOLÓGICAS DO CHOQUE Pequenas alterações na pressão arterial média (PAM) ou no metabolismo de oxigênio ativam barorreceptores e quimiorreceptores localizados no arco aórtico, átrio direito, corpo carotídeo, vasculatura esplâncnica, aparelho justaglomerular e no sistema nervoso central, culminando com uma série de respostas inflamatórias. Mecanismos compensatórios: As consequências destes mecanismos são variadas, dentre elas estão: Aumento da contratilidade do miocárdio e da frequência cardíaca. Vasoconstrição arterial e venosa. Redistribuição da volemia, priorizando o SNC e o miocárdio. Aumento da reabsorção de sódio e água pelos rins. Aumento da extração do oxigênio. Aumento da oferta de substratos (gliconeogênese, glicogenólise, lipólise e aumento do catabolismo proteico). Essa resposta orquestrada tem como objetivo restaurar a perfusão periférica e corrigir o desequilíbrio no consumo de oxigênio. Porém nem sempre estes mecanismos são eficazes. Dessa forma o metabolismo aeróbio é substituído pelo metabolismo anaeróbio, que é muito menos eficiente, resultando em depleção de ATP, produção de lactato e acidificação intracelular. A persistência desse desequilíbrio entre oferta e o consumo de oxigênio culmina com o desencadeamento de respostas inflamatórias, lesão microvascular e celular, resultando frequentemente na disfunção de órgãos. Isso leva a um círculo vicioso, passando a uma fase de lesão celular irreversível tão extensa que mesmo com o tratamento, haverá disfunção de múltiplos órgãos, Choques e drogas vasoativas sendo o óbito quase inevitável. Sendo assim quanto mais precoce for realizado o diagnóstico e tratamento do choque, maior será a chance de o paciente sobreviver. Choque Hipovolêmico Caracteriza-se por inadequado débito cardíaco em razão da perda de volume, sendo dividido em dois grandes grupos. Hemorrágico -Relacionado ao trauma; -Não relacionado ao trauma. Exemplo: HDA. • Não hemorrágico. Exemplo: Diarreia, vômitos, queimaduras, CAD. Em relação à gravidade da perda volêmica, o choque hipovolêmico é dividido em quatro classes: Observação: nos pacientes com choque hemorrágico grave, devemos acionar o protocolo de transfusão maciça, em que administramos ácido tranexâmico (transamin) em até 3 horas do trauma, além de concentrado de hemácias, plaquetas e plasma fresco congelado, na proporção de 1:1:1. Ácido tranexâmico (ATX): Dose inicial de 1 g EV, seguido de uma dose de manutenção de 1 g em 8 horas. Ou 3 g em 24 hrs. Choque obstrutivo É causado principalmente por causas extracardíacas que culminam em insuficiência cardíaca. As causas podem ser divididas em 2 categorias: 1)VASCULAR PULMONAR- choque devido a insuficiência ventricular direita decorrente do TEP (trombolítico) ou hipertensão pulmonar grave. Nestes casos há uma disfunção do VD, devido a incapacidade de gerar uma pressão suficiente para superar a alta resistência vascular pulmonar. 2) MECÂNICA- existe uma diminuição da pré- carga, em vez de falha da bomba. Achado sugestivo: turgência jugular sem edema pulmonar (ausculta limpa). Exemplos: Tamponamento pericárdico: trauma, pericardite constritiva, cardiomiopatia restritiva → punção de Marfan. Pneumotórax hipertensivo: pneumotórax espontâneo ou associado ao politrauma → drenar o tórax. Obstrução extrínseca ou de estruturas adjacentes ao coração: síndrome da veia cava superior, tumores mediastinais. Choque Cardiogênico É caracterizado por hipoperfusão sistêmica e hipotensão que se deve à grave disfunção miocárdica, geralmente associada ao edema pulmonar. Um círculo vicioso acaba se formando, no qual a hipoxemia e hipotensão reduzem ainda mais a pressão de perfusão coronariana, levando a isquemia e lesão miocárdica progressiva. *Débito cardíaco= FC x Volume sistólico *Volume sistólico: 1-Contratilidade 2- Pré-carga: • Retorno venoso • Volemia • Tônus muscular periférico 3- Pós-carga: • Resistência vascular periférica • Resistência valvular aórtica • Complacência da aorta Observação: é importante lembrar que eventualmente o paciente em choque cardiogênico pode não apresentar congestão pulmonar (exemplo: infarto de VD) – pode passar SF. Principais causas do choque cardiogênico: SCA, IC descompensada, cardiomiopatias, arritmias, grave doença valvular. Choque Distributivo A causa mais importante e frequente é o choque séptico, embora o choque distributivo também possa ser causado por anafilaxia, intoxicações agudas, afecções neurogênicas (choque neurogênico), crise addisoniana. Choque neurogênico Pode acontecer após lesão da medula espinal acima do nível torácico superior, grave TCE ou como consequência de uma inadvertida migração caudal dos fármacos usados na anestesia subdural ou epidural. Fundamentalmente existe uma disfunção autonômica caracterizada por diminuição do tônus vascular, vasodilatação arterial e venosa, hipotensão e bradicardia. Devido à perda do tônus simpático, a pele é quente e seca. Choque Séptico É definido como sepse associada à hipotensão que persiste após ressuscitação volêmica e que necessita de drogas vasopressoras ou na presença de hiperlactatemia. Pacientes em sepse grave, já apresentam manifestações de disfunção orgânica ou sinais de hipoperfusão tecidual. O escore SOFA é considerado o padrão ouro no diagnóstico de sepse e está relacionado à maior mortalidade, todavia não é prático, pois envolve parâmetros laboratoriais (antes de começar ATB colher 2 culturas de sítios diferentes, antibiograma, ECG, RX de tórax, HMG, gasometria, lactato, eletrólitos, gaso para ver a P/F, coagulograma para ver disfunção hepática, BT, ureia e creatinina para ver função renal, PCR para ver se está respondendo aos ATB, seriar enzimas se for cardiogênico). O escore varia de 0-4, e uma pontuação igual ou superior a 2 representa disfunção orgânica. Assim, muito mais que usar um determinado exame complementar, é importante suspeitar de sepse no paciente com infecção diagnosticada ou presumida, mais manifestações sistêmicas dessa infecção. O escore deve ser visto com uma ferramenta útil, mas não substitui o julgamento clínico, que é soberano. Pontos mais importantes do tratamento: Instituição de antibioticoterapia precoce (< 1hora após identificação do paciente séptico) – CEFALO 3ª. Ressuscitação hemodinâmica com solução cristaloide – SF OU RL (30ml/kg/h) deve ser iniciada prontamente, se hipovolemia ou hipoperfusão. SF(NaCl) → acidose, não é bom pois ele já faz disfunção renal. Noradrenalina se PAM<65 mm Hg após ressuscitação volêmica (monitorizar com PA invasiva – vê dentro do vaso). Manter débito urinário >0,5 ml/kg/h → manter boa perfusão renal. Normalização do lactato sérico nas primeiras6 horas. Ultrassom na sala de emergência (Ultrassom Point of care): medidas seriadas são de grande utilidade. Diâmetro seriado da cava inferior. Intubação orotraqueal e ventilação mecânica (para reduzir o consumo de oxigênio ou pelo quadro clínico): podem ser indicadas em qualquer momento do atendimento. PVC (jugular interna ou subclávia – passa um cateter que mede a pressão que chega no átrio) entre 8-12 mmHg. Paciente intubado: 12-15 mmHg. Vai ver se a PAM melhora passando volume ou se precisa aumentar DVA. Monitorização da saturação venosa central de oxigênio (quantidade de oxigênio em uma veia central – subclávia, JI ou femoral) para manter acima de 70% (consome 30% na periferia); se necessário prescrever dobutamina para conseguir essa meta (melhora a bomba cardíaca). Hidrocortisona: se necessário aumento frequente da noradrenalina para conseguir PAM > 65 mmHg ou no choque refratário. Vasopressina ou epinefrina se choque refratário à noradrenalina. TRATAMENTO Esforços iniciais devem ser feitos para aumentar a percepção dos médicos em diagnosticar choque em suas fases iniciais e tratá-lo agressivamente; quanto mais precoce o tratamento, melhor o prognóstico para o doente. A- Restauração rápida e manutenção da perfusão e da oferta de oxigênio aos órgãos vitais; Ressuscitação volêmica (30ml/kg 1ªh) – DRC, IC pesa um pouco; Drogas vasoativas se indicadas; Suporte respiratório e correção da hipoxemia; B-Identificação e tratamento da causa de base; assim, a atitude imediata correta e mais importante em casos específicos de choque é tratar a causa, por exemplo: pericardiocentese no tamponamento pericárdico; punção torácica no pneumotórax hipertensivo; cardioversão imediata nas taquiarritmias; revascularização do miocárdio se choque+ SCA; trombólise na embolia maciça; antibióticos se choque séptico ou estancar imediatamente uma hemorragia. Metas: TREC < 3 segundos (enchimento capilar) PVC 8-12 (Paciente intubado 12-15) SVcO2 > 70% Normalização do lactato Excesso de bases < -5 mEq/L PAM>65 mmHg DROGAS VASOATIVAS Em pacientes que não conseguem corrigir a hipotensão com solução cristaloide ou naqueles que já apresentam grave hipotensão, o uso de vasopressor é recomendado. Catecolaminas É um grupo de hormônios semelhantes, produzidos na medula adrenal, na porção interna das glândulas adrenais. Normalmente, as catecolaminas e seus metabólitos estão presentes no corpo em pequenas quantidades variáveis, que só aumentam consideravelmente durante e logo após uma situação estressante. 1-Ação cardiovascular através de receptores dopaminérgicos (D1 e D2) e α1, β1 e β2; 2-Estimulação de β1 receptor: efeito inotrópico e cronotrópico positivo; 3-Estimulação de β2 receptor nas células musculares lisas: vasodilatação; 4-Estimulação de α1 receptor no músculo liso vascular resulta em aumento da resistência vascular sistêmica; 5-Estimulação dos receptores D1 e D2 nos rins e na vasculatura esplâncnica resulta em vasodilatação nesses territórios. Dopamina Catecolamina já presente no organismo, sendo precursora da noradrenalina. Dose dependente → depende da dose age em receptores diferentes. -Doses baixas: (<5mcg/kg/min): efeito dopaminérgico; em voluntários sadios ela aumentou o ritmo de filtração glomerular, porém esse mesmo efeito não foi encontrado em doentes críticos e seu uso não é recomendado. NÃO USA. -Doses intermediárias (5-10mcg/kg/min): predomina a ação β- adrenérgica, com aumento do inotropismo cardíaco e da frequência cardíaca. -Doses maiores (>10mcg/kg/min): predomina a resposta α- adrenérgica, com aumento da resistência sistêmica e da pressão arterial. -Doses maiores que 20mcg/kg/min: não se mostraram benéficas e não são recomendadas. Observação: a dopamina se associa a maior incidência de taquiarritmias e a maior mortalidade quando comparada com a noradrenalina. Ela é uma opção em paciente com choque e bradicardia absoluta ou relativa. Dopamina: Ampola 10 ml/50 mg; Diluição padrão: 5 ampolas no SG 5% 200 ml. Noradrenalina Catecolamina natural com efeitos α e β- adrenérgicos (menor efeito), provocando intensa vasocontrição. É a primeira escolha quando há necessidade de rapidamente elevar-se a PAM no paciente em choque não responsivo à cristaloide. Está indicada no choque distributivo, cardiogênico. Noradrenalina: ampola 4ml/4 mg; Dose: 0,1-2 mcg/kg/min; Administrado sem diluição em bomba de seringa em acesso central ou diluição de 4 ampolas (16mg) em 234 ml SG5% (recomendado) na concentração de 64mcg/ml. Dobutamina Catecolamina sintética com atividade primária β- adrenérgica, com propriedades inotrópicas positivas e mínima vasodilatação periférica (efeito sobre o receptor α é reduzido). Está indicada em casos de baixo débito cardíaco, como choque cardiogênico (se hipotenso, melhora a PAM para administrar), IC descompensada, disfunção miocárdica da sepse. Efeito dose dependente; Administrado de 5-20mcg/kg/min; Pode ocasionar leve vasodilatação em doses menores que 5mcg/kg/min; Dobutamina: ampola de 20 ml/250 mg; Diluição padrão: 1 ampola em 230 ml SG 5% 230 ml. Vasopressina Atua nos receptores V1 localizados nas células musculares lisas dos vasos. Pode ser indicada no choque séptico, nos pacientes que persistem hipotensos com doses moderadas de noradrenalina e iniciaram a hidrocortisona. O efeito da vasopressina é reduzir a necessidade da noradrenalina, podendo ser útil nos pacientes que apresentam taquiarritmia com noradrenalina, ou persistem em choque mesmo com o uso dela. Protocolo de morte encefálica usa só ela. A dose é de 0,01 a 0,04 UI/minuto. Diluição: 1 ampola 20 Unidades+ SG 5% 200 ml (concentração 0,1 U/ml) Epinefrina Atua nos receptores adrenérgicos. Pode ser a primeira escolha nos pacientes com choque anafilático, pois ela tem propriedade broncodilatadora, reduz o edema de vias aéreas, aumenta a contratilidade cardíaca e é um potente vasoconstrictor. Também pode ser associada à noradrenalina em casos que o paciente persiste em choque e já está em uso de altas doses de noradrenalina (terapia de “resgate”). Nessa circunstância, a epinefrina apresenta vários efeitos adversos que incluem: taquiarritmias, piora do fluxo esplâncnico e aumento do lactato. Adrenalina: 1 ampola=1mg/ml. Diluição: 2 ampolas+ SG 5% 250 ml (concentração 8 mcg/ml) Dose: 0,1-2 mcg/kg/min Milrinona Inibidor da fosfodiesterase tipo 3, o que resulta no aumento do AMPc nos miócitos e na musculatura lisa vascular. O efeito resultante é um aumento no volume sistólico e na frequência cardíaca e uma redução da resistência vascular sistêmica. Causa uma vasodilatação pulmonar, podendo ser útil na disfunção do VD. Milrinona: 1 ampola = 20 mg/20 ml. Diluição: 1 ampola em 80 ml SG 5% (concentração 200 mcg/ml) Dose: 0,25-0,75 mcg/kg/min Drogas vasodilatadoras Usa nas emergências hipertensivas (PAS>180 PAD>110). Nitroprussiato de sódio (NIPRIDE) Vasodilatador arterial e venoso. Indicado na IC descompensada e emergência hipertensiva. Dose: 0,5- 10 mcg/Kg/min Diluição 1 ampola (50mg/2ml) + SG5%248 ml Nitroglicerina (TRIDIL) Ação venodilatadora, pouco arteriodilatador, aumenta a perfusão coronariana. Vasodilatação mediada por GMPc. Indicado na SCA, IC descompensada e gestantes. Diluição: 1 ampola (50 mg/10 ml) + SG5% 240 ml Dose: 0,5-10 mcg/Kg/min
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