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DERMATOLOGIA VICTOR RAVEL | Medicina UFS 1 Dermatozoonoses Introdução Alterações tegumentares causadas por infestações de ectoparasitas. Os ectoparasitas incluem artrópodes e criaturas de outros filos que podem produzir lesão mecânica, consumir sangue ou nutrientes, induzir reações de hipersensibilidade, inocular toxinas, transmitir patógenos, criar aberturas na pele para a infecção bacteriana secundária e provocar medo ou repulsa. Escabiose -Introdução: Escabiose ou sarna é uma dermatose produzida por um ácaro, o Sarcoptes scabiei var. hominis. As fêmeas grávidas fazem perfurações superficiais (particularmente à noite) no interior do estrato córneo, depositando vários ovos ao dia. Na escabiose clássica, as infestações são limitadas a < 15 ácaros por pessoa. Já na escabiose crostosa (antes conhecida como escabiose norueguesa) há uma hiperinfestação por milhares de ácaros. -Epidemiologia: É uma infestação comum, particularmente em regiões com recursos limitados. Transmissão: de pessoa a pessoa por contato direto e prolongado com a pele, como pode ocorrer entre membros da família ou parceiros sexuais. A escabiose de outros animais pode causar irritação transitória, mas esses ácaros não residem nem se reproduzem em hospedeiros humanos. Aglomerações aumentam o risco. Epidemias podem ocorrer em ambientes, como instituições de longa permanência de idosos e prisões. -Manifestações clínicas: O principal sintoma é o prurido. Ele costuma se intensificar à noite e após banhos quentes. As escavações aparecem como linhas escuras na parte superior da epiderme. As lesões são pequenas pápulas e vesículas, muitas vezes acompanhadas por escoriações, placas eczematosas, pústulas ou nódulos. Distribuição: mais comum na superfície flexora dos punhos e nos espaços interdigitais. Podem ocorrer também nas axilas, cintura, nádegas, mamas, pênis e 2 VICTOR RAVEL | Medicina UFS saco escrotal. Com exceção dos lactentes, face, couro cabeludo, pescoço, palmas e plantas em geral são preservados. Complicações: infecções estafilocócicas ou estreptocócicas secundárias, incluindo impetigo, ectima, paroníquia e furunculose. Infecções estreptocócicas podem causar glomerulonefrite pós-estreptocócica. -Escabiose crostosa:r Frequentemente é confundida com psoríase; ambas são caracterizadas pela presença de crostas ceratóticas espessas disseminadas, placas descamativas e distrofia ungueal. Pode resultar do uso de glicocorticoides, imunodeficiências e doença neurológica ou psiquiátrica que limitem o prurido e/ou a reação de coçar. -Diagnóstico: O diagnóstico presuntivo é baseado no prurido noturno e é quase certo quando pessoas da mesma habitação apresentam prurido. A confirmação do diagnóstico é feita com a detecção de ácaros, ovos ou pelotas fecais no exame microscópico. O exame dermatoscópico das lesões papulovesiculosas, bem como o exame microscópico de fita de celofane transparente retirada das lesões também podem firmar o diagnóstico. -Tratamento: Primeira linha: • Permetrina (creme ou loção a 5%): deve ser aplicada do pescoço aos pés e em crianças no couro cabeludo também. Deve ser removida com sabonete e água 8 a 14h depois. A aplicação geralmente é feita à noite e pode ser necessário repetir o esquema em 7 dias. • Ivermectina: 200 µg/kg VO dose única. Repetir em 7 a 14 dias. Alternativas: • Benzoato de benzila • Enxofre precipitado 5% (manipular em vaselina) • Lindano – deixou de seu usado por causa do risco de neurotoxicidade. Na escabiose crostosa é indicado o uso combinado de permetrina e ivermectina. O prurido pode persistir por até 4 semanas e pode ser tratado com anti-histamínico ou glicocorticoides tópicos. Contactantes: também devem ser tratados mesmo se assintomáticos Para prevenção de reinfestações, as roupas de cama e as vestimentas devem ser lavadas em água quente ou passadas a ferro. 3 VICTOR RAVEL | Medicina UFS Infestação por piolhos (Pediculose e Ftiríase) -Introdução: Existem 3 espécies de piolhos humanos: • Piolhos-da-cabeça (Pediculus capitis). • Piolhos-do-corpo (Pediculus humanus). • Piolhos púbicos ou chatos (Pthirus pubis). As fêmeas dos piolhos-da-cabeça e púbicos fixam firmemente seus ovos (lêndeas) nos pelos, enquanto as fêmeas dos piolhos-do- corpo fazem o mesmo nas roupas. -Epidemiologia: Pediculose capitis: O piolho-da-cabeça é mais comum em crianças e acomete mais as meninas. O contato direto com a cabeça de uma pessoa infestada é o principal meio de transmissão. Pediculose corporis: Afeta principalmente moradores de rua, sobretudo quando há compartilhamento de roupas e cama infestadas. Esses piolhos são vetores para os agentes do tifo epidêmico transmitido por piolhos, da febre recorrente transmitida por piolhos e da febre das trincheiras. Ftiríase: Os piolhos ocorrem predominantemente nos pelos púbicos e, com menor frequência, nos axilares ou faciais, incluindo os cílios. É transmitido principalmente pelo contato sexual. -Manifestações clínicas: Pediculose capitis: Prurido, que costuma ser leve e transitório, explicado principalmente por hipersensibilidade do indivíduo à saliva dos piolhos. A infestação crônica tende a ser assintomática. Pediculose corporis: Prurido é a principal queixa. As infestações crônicas resultam em hiperpigmentação pós-inflamatória e espessamento da pele. Ftiríase: Nos locais das picadas, os pacientes desenvolvem máculas azuladas intensamente pruriginosas (máculas cerúleas). A infestação dos cílios é comumente acompanhada de blefarite. -Diagnóstico: O diagnóstico é confirmado pela visualização de piolhos vivos. Lêndeas podem representar relíquias de infestações prévias e frequentemente 4 VICTOR RAVEL | Medicina UFS pseudolêndeas são erroneamente interpretadas como sinal de infestação por piolhos. -Tratamento: A presença de piolhos vivos tem que ser confirmada independente do tratamento escolhido. Pediculose capitis: Primeira linha: • Permetrina 1%: aplicar por 10 minutos. Aplicar novamente após 10 dias. • Remoção mecânica com pente fino. Casos refratários: • Ivermectina: VO 200 µg/kg dose única. Repetir em 10 dias. • Sulfametoxazol + trimetoprima: VO, em combinação com a permetrina tópica. O uso de secadores de cabelo e chapas alisadoras pode ser útil (evidência anedótica). As crianças não devem ser afastadas da escola. Pediculose corporis: Os piolhos são eliminados pelo banho e pelo uso de roupas lavadas e passadas. Em alguns pacientes o uso de pediculicidas tópicos pode ser necessário. As roupas de uso pessoal e de cama são desinfetadas efetivamente pelo calor em secadora de roupas ou pela prática de passar a ferro. Ftiríase: As infestações por piolhos púbicos são tratadas com pediculicidas tópicos, exceto a infestação dos cílios, que costuma responder à aplicação de uma camada de vaselina. Tungíase -Introdução: É causada pela Tunga penetrans, pulga que habita lugares secos e arenosos. Também conhecida como bicho-de-pé. -Manifestações clínicas: Lesões que se assemelham a uma pústula branca com ponto central negro e podem ser pruriginosas ou dolorosas. Os locais mais acometidos são as pregas interartelhos, ao redor das unhas dos artelhos e na planta do pé. -Tratamento: Remoção do inseto inteiro com agulha ou bisturi estéril. 5 VICTOR RAVEL | Medicina UFS Miíase -Introdução: Infestações por larvas de moscas. A apresentação mais comum é a miíase furuncular (também chamada de berne) causada pela larva da Dermatobia hominis. -Manifestações clínicas: Nódulos subcutâneosou pápulas semelhantes a furúnculos. A dor é variável e pode haver sensação de movimento sob a pele. -Tratamento: Remoção da larva com pinça. É possível induzir as larvas a emergirem cobrindo-se o poro de respiração com vaselina, esparadrapo ou toucinho. Larva migrans cutânea -Introdução: A larva migrans cutânea (bicho geográfico) é causada pelas larvas cavadoras de túneis de ancilostomídeos de animais, geralmente o verme do cão e do gato, Ancylostoma braziliense ou Ancylostoma caninum (nematódeos). -Manifestações clínicas: Depois que as larvas penetram a pele, formam-se lesões eritematosas serpiginosas e pruriginosas. Os locais mais comuns são os membros inferiores e glúteos. -Tratamento: • Ivermectina: 200 µg/kg VO dose única. • Albendazol: 400mg VO por 3 dias. • Tiabendazol tópico. Dermatite por Paederus -Introdução: Paederus é um gênero de besouros, popularmente conhecido como potó. Sua 6 VICTOR RAVEL | Medicina UFS hemolinfa contém pederina, um potente vesicante. -Manifestações clínicas: Quando esses besouros são esmagados ou esfregados contra a pele, o líquido liberado provoca bolhas flácidas, dolorosas e vermelhas. -Tratamento: Manter área limpa e coberta com curativo. Corticoides tópicos podem ser usados. Picadas por carrapatos (Ixodíase) -Introdução: Os carrapatos são pequenos aracnídeos hematófagos. Suas secreções salivares são biologicamente ativas e podem produzir reação local, induzir febre e causar paralisia, além de transmitir diversos patógenos. As duas principais famílias são as dos carrapatos moles (Argasidae) e duros (Ixodidae), sendo estes muito mais comuns. No Brasil, o gênero mais frequente é o Amblyomma, um dos principais vetores das riquetsioses. A borreliose de Lyme, causada pela espiroqueta, Borrelia burgdorferi, é transmitida por carrapatos do gênero Ixodes. -Manifestações clínicas: No local da mordida do carrapato duro, formam-se pápulas eritematosas. -Tratamento: O carrapato deve ser retirado com tração suave para não ser fragmentado. É recomendado usar luvas ou uma pinça. Um método popular muito utilizado é o calor, encostando no carrapato uma ponta de cigarro ou fósforo quente. Após a retirada pode ser aplicado corticoide tópico. Picadas por percevejos Insetos hematófagos da ordem hemíptera (Cimex lectularius, C. hemipterus). Pestes comuns em domicílios, dormitórios e hotéis, em cruzeiros marítimos, e mesmo em instituições médicas, escondem-se em fendas de colchões, estrados de cama e 7 VICTOR RAVEL | Medicina UFS outros móveis, em paredes e molduras de quadros e embaixo de papel de parede solto, buscando ativamente refeições de sangue à noite. -Manifestações clínicas: A picada é indolor. Indivíduos sensibilizados manifestam eritema, prurido e lesão urticada ao redor de um ponto hemorrágico central. -Tratamento: As lesões se resolvem espontaneamente. Caso haja prurido, podem ser usados corticoides tópicos e/ou anti-histamínicos orais. Deve-se eliminar os parasitas pela dedetização dos ambientes.