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Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 1 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto ESCABIOSE INTRODUÇÃO ➢ É determinada por uma infestação por artrópodes (ácaros) ➢ DEFINIÇÃO: • Sinônimos → “Escabíase” ou Sarna • É produzida pelo ácaro Sarcoptes scabiei var. hominis • Transmissão → por contato pessoal! ▪ Não há preferência por idade, sexo ou raça ▪ Há possibilidade de transmissão por roupas, mas não é tão comum MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Prurido → é o principal sintoma • Geralmente é intenso e durante a noite ➢ 3 elementos a se considerar na semiótica da escabiose: • SULCO: ▪ É o sulco escavado pelo parasita ▪ Trata-se de uma pequena saliência linear, com < 1cm, apresentando, em uma das extremidades, uma vesicopápula, perlácea, do tamanho da cabeça de um alfinete, onde se encontra a fêmea do ácaro, que deve ser pesquisada • DISTRIBUIÇÃO: ▪ Principalmente em: ✓ Espaços interdigitais das mãos ✓ Axilas ✓ Cintura ✓ Nádegas ✓ Mamas ✓ Pênis ✓ Face ✓ Pés ▪ Em crianças também se vê lesões em: ✓ Palmas ✓ Plantas ✓ Couro cabeludo ✓ Pescoço • LESÕES SECUNDÁRIAS: ▪ Escoriações + Piodermites (como Impetigo, Foliculite, furúnculo e ectima) ▪ Em crianças: ✓ Urticas e áreas de eczematização ▪ Em idosos: ✓ Lesões são pouco visíveis e o quadro clínico caracteriza-se pelo prurido, eventualmente intenso, e por escoriações DIAGNÓSTICO ➢ É sugerido principalmente pelo prurido! ➢ Praticamente confirma-se o diagnóstico quando vários familiares ou pessoas da mesma residência também apresentam prurido ➢ O exame objetivo, pelo encontro dos sulcos ou pela distribuição, confirma o diagnóstico ➢ A escabiose, frequentemente, deixa de ser diagnosticada pela falta de suspeita no exame clínico e torna-se atípica em várias situações ➢ Apresentações atípicas da escabiose: • Higiene excessiva → em pessoas que tomam vários banhos por dia ▪ É a “sarna em gente limpa” ▪ Lesões são mínimas e passam despercebidas • Crianças: ▪ Mascaram o quadro → presença de lesões urticadas ou eczematosas, principalmente em lactentes ▪ Para o diagnóstico, o importante é a existência de lesões nas palmas, nas plantas e no couro cabeludo • Idosos: ▪ Na pele senil, a lesão é mínima e somente com um exame muito atento podem ser vistos raros sulcos ▪ Aspectos de devem chamar mais atenção: ✓ Prurido noturno, geralmente intenso ✓ Escoriações ▪ Peculiaridade → em idosos ocorrem lesões no dorso ▪ Muitas vezes, esse quadro é classificado como prurido senil e tratado como essa diagnose por meses • Iatrogenia: Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 2 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto ▪ Às vezes a parasitose é tratada, erroneamente, com corticoides tópicos, sistêmicos e anti-histamínicos. Assim, o quadro se alastra, com localizações atípicas e com aspecto aritêmato-urticado-eczematoso • Contaminação de familiares: ▪ É comum as pessoas da mesma casa serem atingidas pela parasitose → por isso que é sempre necessário interrogar e, quando possível, examinar os familiares ▪ Entretanto, excepcionalmente, na “sarna de gente limpa” ou na doença em idosos, pode não haver nenhuma queixa do companheiro ou companheira da pessoa infectada (pois as lesões são mínimas) • Escabiose (sarna) nodular: ▪ Lesões papulonodulares e pruriginosas ▪ Localização → regiões genital, inguinal e axilar ▪ Em homens → no escroto e no pênis ▪ Permanecem após o tratamento e constituem uma reação de sensibilidade a produtos de degradação parasitária • Hiperinfestação: ▪ Caracteriza-se pela extensão e pela diversidade das lesões, com: ✓ Escoriações ✓ Crostas ✓ Áreas de liquenificação ✓ Áreas impetiginizadas ▪ Ocorre em: ✓ Imunodeprimidos → particularmente HIV positivos ✓ Desnutridos ✓ Pessoas de higiene precária • Sarna Crostosa: ▪ É uma forma de hiperinfestação parasitária também encontrada em imunodeprimidos, desnutridos ou pessoas de higiene precária ▪ Caracteriza-se pela formação de crostas, particularmente em áreas mais comuns de ocorrer a parasitose, as quais podem alcançar vários milímetros de espessura ▪ O quadro não diagnosticado pode desencadear surtos de escabiose em asilos, hospitais e casas de repouso DIAGNÓSTICO ➢ Se dá por: • Pesquisa de ácaros/ovos • Clínica • Dermatoscopia → “lesão em asa delta” DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ➢ Pesquisa dos ácaros, ovos ou cíbalos (bonicos) do ácaro • Deve ser feita rotineiramente, principalmente nos casos atípicos • Como é: ▪ Escarifica-se o sulco ou a pápula suspeita com lâmina de bisturi ou cureta molhada em óleo mineral e coloca- se o material em uma lâmina com óleo ▪ Devem ser escarificadas várias lesões, podendo ocorrer sangramento mínimo ▪ Deve-se examinar o material com pequeno aumento • Exame negativo → não afasta o diagnóstico! • Exame positivo → é importante para esclarecer o diagnóstico em crianças ou em doentes problemáticos PROVA TERAPÊUTICA ➢ Indicações: • Quadro atípico • Pesquisa laboratorial negativa TRATAMENTO PERMETRINA creme ou loção a 5%→ é o tratamento eletivo • É um piretroide sintético, atóxico e eficaz • Não é irritante como o piretroide natural (Deltametrina) e é mais efetiva do que o Lindano • Pode ser usada em: ▪ Adultos ▪ Crianças ▪ Gestantes ▪ Mulheres em aleitamento • Indicações eletivas em: ▪ Gestantes ▪ Mulheres em aleitamento ▪ Doentes com superfície escoriada • Como fazer uso: ▪ Deve-se passar a permetrina em todo o corpo (do pescoço aos pés), sem banho prévio, deixando-o por 10 a 12h. Após essas horas, o paciente deve tomar banho e repetir outra aplicação após 24h ▪ Deve ser usada por duas vezes, em duas aplicações, com uma semana de intervalo ▪ Evitar contato com mucosas e ingestão do medicamento ▪ Após 2 aplicações, se houver prurido → usar cremes de corticoides e anti-histamínicos ▪ Após 1 semana, se o prurido aumentar, deve-se repetir a aplicação da permetrina ▪ Após cada aplicação, toda a roupa de uso pessoal ou de cama deve ser lavada, porém não é necessário ser fervida Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 3 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto • Deve-se evitar o supertratamento! • Efeitos adversos: ▪ O uso repetido do medicamento ou de sabonete pode causar dermatite de contato por irritante primário IVERMECTINA → é a opção eletiva para terapia sistêmica da escabiose • É a lactona macrocíclica semissintética • Dose e administração: ▪ 200 µg/kg para adultos e crianças > 5 anos ▪ Via oral, em dose única → pode ser repetida após 1 semana novamente ▪ É comercializada em comprimidos de 6mg → 1 comprimido de 6mg a cada 30kg ▪ Imunocomprometidos → são necessárias 2 doses ➢ UTILIZA-SE O TRATAMENTO TÓPICO (PERMETRINA) + SISTÊMICO (IVERMECTINA) EM: • Imunocomprometidos • Em formas resistentes TERAPIAS ALTERNATIVAS LINDANO em loção a 1% (Hexaclorogamabenzeno) → segunda escolha para o tratamento tópico • É efetivo, mas possui contraindicações • Contraindicações: ▪ Crianças < 1 ano ▪ Gestantes ▪ Mulheres amamentando ▪ Doentes com numerosas escoriações • Reações tóxicas, particularmente neurológicas, têm sido descritas em lactentes ou por ingestão acidental • O uso é similar ao uso da Permetrina ENXOFRE PRECIPITADO → segunda escolha para tratamento de crianças • Empregado a 5 - 10% em vaselina ou pasta d’água, por 3 dias • É eficiente e pouco irritante • Indicações: ▪ Gestantes ▪ Recém-nascidos ▪ Amamentação MONOSSULFIRAM: • Utiliza-se esse monossulfeto de tetraetiltiuram diluído em água, 2 vezes para adultos e 3 vezes para crianças • Evitar o uso de bebidas alcoólicas durante o tratamento, devido ao efeito antabuse → háo acúmulo de acetaldeído no organismo, provocando reações desagradáveis como palpitação, sudorese, cefaleia, náusea e vômitos BENZOATO DE BENZILA loção a 5%: • Deve ser usado em todo o corpo, deixando por 24 horas, por 3 dias • É efetivo, mas, frequentemente, causa dermatite irritativa • Atualmente se encontra em desuso PROFILAXIA ➢ É necessário tratar simultaneamente todas as pessoas atingidas pela parasitose para evitar o “efeito pingue-pongue” PRURIDO APÓS O TRATAMENTO ➢ Nos casos em que a escabiose durou por longo período sem o diagnóstico, o prurido pode permanecer por semanas, por memória do prurido ou sensibilidade a antígenos parasitários ➢ Nesses casos, os seguintes medicamentos são indicados até o desaparecimento do prurido (que é um desaparecimento gradual): CORTICOIDES TÓPICOS E/OU SISTÊMICOS ANTI-HISTAMÍNICOS ➢ Deve-se evitar o tratamento repetido, pois ele é responsável por dermatites irritativas. Assim, tem-se como exemplo o uso da permetrina, que deve ser usada por duas vezes, em duas aplicações, com uma semana de intervalo ➢ Sabonetes escabicidas → são inúteis para a CURA da escabiose, mas são responsáveis por dermatites eczematosas por irritação primária ou sensibilização OUTROS CASOS ➢ NÓDULOS DA ESCABIOSE NODULAR: • Os nódulos persistem por meses, com prurido variável • Tratamento: CORTICOIDE OCLUSIVO OU INFILTRAÇÃO DE TRIANCINOLONA 3 a 4mg por mL TALIDOMIDA 100mg/dia → em formas resistentes ➢ HIPERINFESTAÇÃO E SARNA CROSTOSA: • Tratamento com: IVERMECTINA + PERMETRINA • Eventualmente, quando necessários, usar medicamentos para controle da infecção ou das lesões crostosas ➢ ESCABIOSE POR ÁCAROS DE ANIMAIS E VEGETAIS: • A escabiose ou sarna de animais (cachorro, gato, porco, cavalo e outros) pode, eventualmente, atingir o homem, não constituindo problema significativo, já que a afecção se limita ao indivíduo infestado • Causada por variedades de Sarcoptes scabiei: ▪ S. canis (cachorro) ▪ S. suis (porco) ▪ S. caprae (caprinos)... • Lesões: ▪ Pápulas ou vesículas com halo urticado ▪ Localização → áreas de contato com o animal infestado • Evolução → se dá por surtos • Diagnóstico → Quadro clínico + História de contato com o animal infestado • A erupção tende a desaparecer espontaneamente • Tratamento: PERMETRINA em loção ou sabonete CREME DE CORTICOIDE → se necessário Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 4 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto ▪ Deve-se excluir a fonte responsável (o contato com o animal infestado) PEDICULOSE INTRODUÇÃO ➢ É uma dermatose por insetos (anopluros ou piolhos) ➢ Os anopluros (Anaplura), comumente denominados piolhos, são ectoparasitas pequenos, que parasitam o couro cabeludo e o corpo, responsáveis pelas pediculoses ➢ Não são de espécies diferentes, mas sim de raças biológicas diferentes: • Pediculus humanus capitis → piolho da cabeça • Pediculus humanus corporis → piolho do corpo • Gênero Phthirus → região pubiana PEDICULOSE DO COURO CABELUDO ➢ DIAGNÓSTICO: • É sugerido pela queixa de prurido no couro cabeludo • Confirmação do diagnóstico → ao exame físico, pela presença de: ▪ Ovos (lêndeas), que são ovoides, esbranquiçadas e aderentes à haste do cabelo ✓ A diferença para as escamas da ptiriase capitis é a forma ovoide e a firma aderência das lêndeas ao cabelo ▪ O encontro do parasita é mais difícil, pois necessita de um exame mais demorado ➢ Prurido: • É essencial para o diagnóstico • A coçadura pode causar escoriações e infecção secundária • Em toda queixa de prurido no couro cabeludo, particularmente em crianças, deve ser feita a exclusão de pediculose PEDICULOSE DO CORPO ➢ Caracteriza-se por prurido com intensidade variável e urticas, que podem ter pontos purpúricos centrais ➢ Podem ocorrer áreas de hiperpigmentação e eczematização ➢ Áreas mais afetadas: • Interescapular • Ombro • Face posterior das axilas • Nádegas ➢ Diagnóstico → achado do parasita nas pregas de roupas PEDICULOSE PUBIANA (FTIRÍASE) ➢ Phthirus púbis → possui corpo achatado, com tórax mais largo que o abdome, sendo, devido a essa característica, denominado popularmente de “chato” ➢ Localização: • Quase exclusivamente em pelos pubianos e perianais • Pode atingir os pelos: ▪ Axilares ▪ Do tronco ▪ Das coxas ▪ Das sobrancelhas ▪ Dos cílios ➢ Diagnóstico: • A presença é suspeitada pelo prurido • O diagnóstico se dá pelo achado do parasita na pele, frequentemente com a cabeça parcialmente induzida em folículo piloso, e pelo encontro das lêndeas aderentes às hastes pilosas ➢ A Ftiríase pode, eventualmente, determinar, pelo prurido, escoriações e eczematizações. Antigamente, essas lesões eram descritas como “manchas azulado-acinzentadas” denominadas mácula cerulae TRATAMENTO ➢ PEDICULOSE DE COURO CABELUDO: • 1ª opção: XAMPU DE PERMETRINA (1%) → se deixa o produto por 5 a 10 minutos e depois enxagua-se o cabelo, repetindo- se o uso após uma semana • Alternativas (aplicados de maneira similar ao xampu de permetrina): Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 5 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto XAMPU DE LINDANO (1%) XAMPU DE DELTAMETRINA (0,02%) • Lêndeas → devem ser removidas com pente fino, após passar vinagre diluído em 50% com água morna • É efetivo no adulto: SULFAMETOXAZOL-TRIMETOPRIMA (400mg a 80mg): ✓ Via oral ✓ 3 vezes ao dia por 3 dias ✓ Repetir o esquema após 10 dias ✓ Atua somente contra os parasitas, sendo necessário eliminar as lêndeas • Em alguns casos pode ser indicado o tratamento sistêmico associado ao tópico ➢ PEDICULOSE DO CORPO: • A higiene e a lavagem da roupa são suficientes para a cura ➢ PEDICULOSE PUBIANA (FTIRÍASE): • 1ª opção: LOÇÃO DE PERMETRINA (5%) • Alternativas: LOÇÃO DE LINDANO (1%) LOÇÃO DE DELTAMETRINA (0,02%) • Aplica-se uma dessas loções por 2 ou 3 vezes ao dia • Retirar as lêndeas • Ftiríase localizada nos cílios → deve-se usar vaselina 2 vezes por dia, por 8 dias, com remoção manual das lêndeas ➢ Em todos os casos de pediculose, é imprescindível examinar e tratar os contactantes TUNGÍASE INTRODUÇÃO ➢ É uma dermatose por Siphonaptera (pulgas) ➢ Causada pela Tunga penetrans: • É uma pulga que habita lugares secos e arenosos • É largamente encontrada nas zonas rurais, em chiqueiros e currais • Hospedeiros habituais → homem e suínos • São hematófagos • Macho → após se alimentar, abandona o hospedeiro • Fêmea → quando é fecundada, penetra na pele, introduzindo a cabeça e o tórax na epiderme, deixando fora o estigma respiratório e o segmento anal para a postura dos ovos. Alimentando-se do sangue do hospedeiro, desenvolve os ovos, condição em que seu abdome dilata-se enormemente, podendo alcançar a dimensão de uma ervilha. Expelidos os ovos, o parasita completa seu ciclo vital MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Na fase inicial tem-se um discreto prurido, com posterior aparecimento de sensação dolorosa ➢ Lesão elementar: • Pápula amarelada com ponto escuro central • O ponto escuro é o segmento posterior contendo os ovos ➢ Localização das lesões: • Ao redor das unhas • Dedos dos pés (artelhos/pododáctilos) • Pregas entre os dedos dos pés (pregar interartelhos) • Plantas dos pés ➢ Eventualmente, podem ocorrer infecções secundárias, como piodermite ou celulite TRATAMENTO ➢ Enucleação da pulga com agulha estéril e desinfecção com tintura de iodo ➢ É possível destruir as pulgas com eletrocautério ou eletrocirurgia após anestesia local ➢ Em casos de: • Infestações intensas: IVERMECTINA (em dose única) ou TIABENDAZOL (25mg/kg depeso, via oral, 2 vezes por dia, por 3 a 5 dias) • Infecções secundárias: ANTIBIÓTICO POR VIA ORAL PROFILAXIA ➢ Uso de calçado em áreas suspeitas ➢ Eliminação das fontes de infestação com DDT (Dicloro-Difenil- Tricloroetano), BHC ou fogo MIÍASE INTRODUÇÃO ➢ É uma dermatose por dípteros (moscas/dípteros superiores) ➢ São afecções causadas por larvas de moscas ➢ Tem-se 2 formas de miíase: • Miíase primária → a larva da mosca invade o tecido sadio e nele se desenvolve, sendo, assim, um parasita obrigatório nessa fase Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 6 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto • Miíase secundária → a mosca coloca seus ovos em ulcerações da pele ou mucosas e as larvas se desenvolvem nos produtos da necrose tecidual MIÍASES PRIMÁRIAS ➢ Compreendem as MIÍASES FURUNCULOIDES, que são bastante frequentes ➢ MIÍASE FURUNCULOIDE (berne): • Agente causador: ▪ É causada pela larva de Dermatobia hominis, atingindo homens e animais ▪ A mosca deposita os ovos em outras moscas ou mosquitos (ou seja, não deposita diretamente no hospedeiro). Assim, quando o inseto veiculador pousa no homem ou no animal de sangue quente, a larva da D. hominis projeta-se para fora e abandona o ovo. Ao penetrar na pele do hospedeiro, essa larva se desenvolverá por um período de 30 a 70 dias, quando abandona o hospedeiro, cai no solo e transforma-se em pupa. Em 60 a 80 dias, forma-se o inseto alado • Manifestações clínicas: ▪ Em geral, a penetração da larva passa despercebida ▪ Com o desenvolvimento da larva, forma-se um nódulo furunculóide: ✓ Difere do furúnculo por ser menos inflamatório e por apresentar, em sua parte central, um orifício que deixa sair, pela expressão leve, uma serosidade ▪ Dor → é variável e de acordo com a localização do nódulo furunculóide ✓ Frequentemente, os pacientes relatam uma sensação dolorosa referida como ferroada ▪ Ao atingir a maturidade, a larva move-se ativamente no interior do nódulo, dilata a abertura e sai. Após isso, há a cicatrização ▪ Eventualmente, pode ocorrer infecção secundária, como abscesso e celulite ▪ O berne é muito comum em certas áreas e atinge qualquer região do corpo, inclusive o couro cabeludo, em número variável ▪ Pode ocorrer penetração de mais de uma larva no mesmo local • Tratamento: ▪ Consiste na espremedura da lesão, puxando-se a larva suavemente com uma pinça. Além disso, uma pequena incisão no orifício da penetração facilita esse procedimento ▪ Procedimentos leigos: ✓ Colocar uma porção de toucinho orifício do nódulo, deixando-o assim por algumas horas. A larva, necessitando respirar, penetra no toucinho ✓ Colocar uma tira de esparadrapo sobre a lesão, que é retirada após algumas horas. A larva surge no orifício e pode ser retirada ou sair pela expressão ▪ Após a eliminação da larva, a lesão melhora rapidamente MIÍASE SECUNDÁRIA ➢ 3 FORMAS, DE ACORDO COM A LOCALIZAÇÃO: • Cutânea • Cavitária • Intestinal ➢ MIÍASE CUTÂNEA: • Ocorre pelo depósito de ovos de mosca em ulcerações da pele com o desenvolvimento de larvas • Vulgarmente chamada de “Bicheira” • Agentes causadores: ▪ Cochliomyia macellaria (mosca varejeira) ▪ Outras espécies de mosca, especialmente as dos gêneros Lucilia e família Sarcophagidae • Ocorre principalmente por falta de cuidados adequados em ulcerações cutâneas, sendo que as larvas se limitam a devorar os tecidos necrosados, sem provocar hemorragias • Diagnóstico: ▪ É fácil, pois as larvas são vistas de movimentando ativamente na ulceração cutânea • Tratamento: ▪ Retirar as larvas após mata-las com: Éter ou borrifos de Nitrogênio líquido ▪ Há referências favoráveis ao uso de: CREME DE IVERMECTINA a 1% → deve ser aplicado na lesão e retirado com solução salina após 2 horas ➢ MIÍASE CAVITÁRIA: Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 7 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto • Encontra-se na cavidade: ▪ Nasal → principalmente em doentes com Leishmaniose nasal ▪ Da orelha ▪ Da órbita ocular • Gravidade → depende da localização e do grau de destruição ▪ Os quadros mais graves são causados pela Cochliomyia hominivorax • Tratamento: ▪ Consiste em matar as larvas com éter, nitrogênio líquido ou solução anestésica e retirar as larvas ➢ MIÍASE INTESTINAL: • É causada pela ingestão de larvas em bebidas ou alimentos contaminados • Sintomatologia → depende da espécie e do número de larvas e da imunidade individual RESUMINDO, O TRATAMENTO DA MIÍASE CONSISTE EM ➢ Borrifar éter ou nitrogênio líquido no local para matar as larvas ➢ Creme de ivermectina 1% → por 2 horas ➢ Retirar as larvas após mata-las com um dos procedimentos acima LARVA MIGRANS INTRODUÇÃO ➢ É uma dermatose causada por um Nematelminto ➢ É uma afecção frequente ➢ Sinônimos: • Dermatite linear serpeante • Bicho geográfico • Bicho de praia ➢ Agentes causadores: • Larvas de Ancylostoma braziliensis → é um parasita normal do cão e do gato, sendo o mais comum • Ancylostoma caninum ➢ Como acontece: ▪ Os ovos desses parasitas são eliminados nas fezes de cães/gatos, desenvolvendo-se muito bem na areia ou no terreno arenoso e, em condições favoráveis (calor e umidade), em 1 semana tornam-se larvas infestantes. Quando o indivíduo entra em contato com esse local contaminado, há a penetração da larva na sua derme. Essa larva na pele desloca-se em um trajeto linear e sinuoso, causando erupção ligeiramente saliente que apresenta, na porção terminal, uma pápula onde está localizada a larva MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Lesão elementar → erupção ligeiramente saliente + Pápula na porção terminal ➢ Prurido → é moderado a intenso, particularmente quando ocorre uma infestação numerosa ➢ Complicações (principalmente em casos de infestação maciça): • Infecção • Eczematizaçaõ DIAGNÓSTICO → se dá pelos seguintes elementos ➢ História clínica: • A presença de complicações dificulta o diagnóstico, assim reconhecer lesões características e associar a dados da história do paciente é essencial • Exposição em praia ou terreno arenoso ➢ Exame físico → identificar as características da lesão TRATAMENTO ➢ TRATAMENTO ELETIVO: ALBENDAZOL 400mg → via oral e em dose única ▪ Em infestação resistente ou intensa → repetir ALBENDAZOL após 24 e 48h ➢ Também pode ser efetiva: IVERMECTINA 200µg/kg → via oral e em dose única ▪ Se necessário, repete-se após 1 semana ➢ Infestação mínima (uma ou duas larvas) e prurido tolerável → tratamento tópico é eficaz: Fonte: Manual de Dermatologia Clínica de Sampaio e Rivitti – 1ª Ed. (2014) 8 DERMATOZOONOSES Gizelle Felinto POMADA DE TIABENDAZOL 5% → é necessária até 2 semanas de uso para a cura ➢ Gelo no local → para diminuir o prurido ➢ Outro procedimento efetivo → congelamento da larva (que está ao final do trajeto, na pápula) com: • Neve carbônica • Nitrogênio líquido • Gás carbônico PROFILAXIA ➢ É de suma importância ➢ Deveria ser proibida a permanência, nas praias, de cães e gatos. Porém, como isso praticamente não ocorre, deve-se evitar áreas arenosas sombreadas e úmidas, onde as larvas se desenvolvem ➢ Em tanques de areia de parques e escolas deve-se ter proteção contra dejetos de cães e gatos
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