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Julia Paris Malaco – UCT16 SP1 – bioquímica da caquexia Síndrome multifatorial, na qual há perda contínua de massa muscular (com perda ou ausência de perda de massa gorda), que não pode ser totalmente revertida pela terapia nutricional convencional, conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo A caquexia, cujo sintoma mais notável é acentuada e rápida perda de peso, afeta cerca de metade de todos os pacientes com câncer e está presente na grande maioria (mais de dois terços) dos pacientes com câncer avançado. O critério mais utilizado na detecção da síndrome é sem dúvida, a perda de peso e, há mais de 10 anos, a caquexia é distinguida da má nutrição. Mais comum em indivíduos com câncer gastrointestinal, no pâncreas e nos pulmões. É uma condição altamente debilitante, caracterizada por perda extrema de peso, fadiga, atrofia muscular, anemia, anorexia e edema. A mortalidade geralmente é consequência da atrofia do diafragma e de outros músculos respiratórios. No câncer ocorre progressiva perda de gordura e massa corporal magra, profunda fraqueza, anorexia e anemia, mas a caquexia não é causada pelas demandas nutricionais do tumor. As citocinas pró-inflamatórias responsáveis pela caquexia são: TNF-α (fator de necrose tumoral) IL-6 (interleucina 6) IL-1 (interleucina 1) IFN-γ (interferon γ) PIF (fator indutor de proteólise) Os critérios diagnósticos estabelecidos em acordo pelo grupo internacional proponente da definição incluem perda involuntária de peso superior a 5%, ou 2% (em indivíduos já abaixo dos valores esperados de peso, segundo o índice de massa corporal – IMC < 20kg/m2) ou presença de sarcopenia. O primeiro estágio é definido como aquele no qual, o paciente apresenta perda de peso igual ou inferior a 5%, anorexia e alterações metabólicas; para inclusão do paciente no segundo estágio, considera-se perda de peso igual ou superior a 5%, ou de 2%, com IMC < 20kg/m2, ou sarcopenia acompanhada de perda de peso corporal equivalente ou superior a 2%. Referem ainda presença frequente de redução da ingestão e de inflamação sistêmica. Finalmente, o terceiro estágio (caquexia refratária) inclui os pacientes com diferentes graus de caquexia, mas nos quais há intenso catabolismo e que não respondem ao tratamento anti-câncer. Ainda nesse estágio, pacientes com baixo escore de desempenho e sobrevida esperada inferior a três meses devem ser incluídos Os parâmetros para determinar a inclusão do paciente em cada um dos estágios abrangem a determinação da concentração de proteína C- reativa no soro, avaliação da anorexia e fatores correlatos (redução do apetite, alterações na percepção gustativa e olfativa, motilidade gastrointestinal reduzida, constipação, dor, entre outros), metabólitos indicadores de catabolismo, massa e força muscular (dinamometria dos membros superiores), bem como manifestações psicossociais. A síndrome aparece mesmo com ingestão adequada de energia e proteína Sintomas clínicos: Exacerbada perda de peso involuntária (massa magra) Anorexia, alterações no paladar, vômito, saciedade precoce, má absorção Intestinal Alteração no perfil hormonal plasmático Disfunção hipotalâmica Astenia, fadiga, perda de habilidades motoras e físicas, apatia Perda da imuno – competência Caos metabólico Desequilíbrio iônico Aspectos metabolicos Metabolismo de carboidratos As alterações descritas no metabolismo de carboidratos incluem maior taxa de Julia Paris Malaco – UCT16 neoglicogênese – formação de glicose a partir de substratos não lipídicos: Alanina (proveniente da musculatura esquelética) Glicerol (cuja disponibilidade no fígado resulta do incremento da lipólise no tecido adiposo periférico) Lactato, produzido pelo tumor em grandes quantidades. O glicogênio hepático é degradado, havendo massiva liberação de glicose pelo órgão (transformação do glicogênio armazenado no fígado em glicose) A intolerância à glicose é sintoma frequente (presente em 37% de todos os pacientes de câncer) e foi a primeira a anomalia metabólica associada à caquexia. A resistência à insulina é também comum e pode ser pelo menos parcialmente evertida pela administração de insulina exógena. O TNF-alfa tem papel na etiologia da resistência à insulina na caquexia. Pode ser definida como uma situação em que a insulina não é capaz de assegurar captação adequada de glicose nos tecidos periféricos e é incapaz de bloquear a produção hepática de glicose. A RI é caracterizada por alterações em diversos pontos da via de transmissão do sinal da insulina: ↓ concentraçãoe da atividade quinase do IR; ↓ da concentração e da fosforilação do IRS-1 e -2; ↓ da atividade da PI 3-quinase; ↓ translocação dos transportadores de glicose (GLUTs); ↓ atividade das enzimas intracelulares. A perda de peso é proveniente de um balanço energético negativo: ↓ na ingestão de energia + ↑ no gasto energético Insulina Secretada pelas células-beta do pâncreas, sua síntese é estimulada pelo aumento da glicose sanguínea após refeições tendo ação em músculo esquelético, fígado e tecido adiposo. Suas funções metabólicas incluem captação de glicose, aumento da síntese de proteínas, ácidos graxos e glicogênio, reduzindo a produção hepática de glicose. Estimulo a glicogênese - A insulina também estimula a lipogênese no fígado e nos adipócitos e reduz a lipólise, bem como aumenta a síntese e inibe a degradação proteica A insulina é o hormônio anabólico mais conhecido e é essencial para a manutenção da homeostase de glicose e do crescimento e diferenciação celular. Esse hormônio é secretado pelas células b das ilhotas pancreáticas em resposta ao aumento dos níveis circulantes de glicose e aminoácidos após as refeições. A insulina regula a homeostase de glicose em vários níveis, reduzindo a produção hepática de glicose (via diminuição da gliconeogênese e glicogenólise) e aumentando a captação periférica de glicose, principalmente nos tecidos muscular e adiposo. A insulina também estimula a lipogêneseno fígado e nos adipócitos e reduz a lipólise, bem como aumenta a síntese e inibe a degradação proteica. Transportadores de glicose (GLUT4): GLUT4 - (músculo esquelético, coração e adipócitos) localiza-se tanto na superfície celular como dentro de vesículas intracelulares especializadas. Receptores de Insulina - Redistribuição de GLUT 4 das vesículas intracelulares para a superfície celular em resposta à insulina aumento na velocidade de transporte de glicose, facilitando assim a disponibilidade de glicose estimulada por insulina. Julia Paris Malaco – UCT16 Metabolismo proteico Degradação da musculatura constitui um dos sintomas mais particulares da doença. A astenia ou fraqueza estão entre as queixas mais comum dos pacientes. Jejum prolongado: mecanismos regulatórios impedem a degradação extensa da massa magra, preservando o nitrogênio corporal. Caquexia: quando a ingestão de nitrogênio já está reduzida em razão da anorexia, tais mecanismos falham, permitindo a proteólise, inclusive da musculatura cardíaca e lisa. O “turnover” proteico total do organismo está aumentado na maioria dos pacientes com câncer avançado, mas é observado também naqueles com massa tumoral diminuida Os principais aminoácidos liberados pela musculatura do indivíduo ou animal caquético são a alanina e a glutamina. A alanina servirá à gliconeogênese hepática, enquanto a glutamina é, em na maior parte, utilizada pelo tumor, em processos energéticos e biossintéticos.Os aminoácidos essenciais (leucina, isoleucina e valina) têm concentração plasmática aumentada, bem como taxa de “turnover” alterada na caquexia. Entre eles a leucina, que representa sozinha cerca de 8% da proteína corporal total, émais oxidada como resultado da caquexia. A valina e a leucina sãoativamente requisitadas pelo tumor em progressão. Dessa maneira, há aumento do fluxo desses aminoácidos da musculatura esquelética para o tumor, que pode sersuprimido pela utilização de agonistas para receptores adrenérgicos do tipo β2. Proteinas de fase aguda: Hipoalbuminemia e incremento na concentração plasmática de fibrinogênio, refletindo alteraçãona taxa de síntese das duas proteínas no fígado do organismo hospedeiro. Essas mudanças na função do fígado estão ligadas à priorização diferencial da síntese proteica, típica da resposta de proteínas de fase aguda verificadas no trauma, inflamação e infecção grave. Assim, a resposta de fase aguda desencadeada pela presença do tumor, gera aumento da proteina C reativa e do fibrinogênio. A primeira está intimamente correlacionada à dimensão da perda de peso, anorexia, reincidência do tumor e redução da sobrevida. Balanço nitrogenado (BN) Exame que ajuda a medir a diferença entre a proteína ingerida pela alimentação e a eliminada através da urina Balanço negativo de nitrogênio: reflete um organismo em estado catabólico. Cronicamente indica evolução clínica desfavorável. o O nitrogênio está sendo excretado em maior quantidade que o ingerido (trauma, queimaduras, infecção) ou a ingestão está abaixo da excreção (anorexia), ou fornecimento inadequado de Aas indispensáveis pela alimentação Balanço positivo: estado anabólico. Situações de anabolismo, como gravidez, realimentação após jejum, etc Balanço zero: equilíbrio PIF (fator de indução da proteólise) LMF (fator mobilizador de lipídios) Aumenta a oxidação dos ácidos graxos e as citocinas pró-inflamatórias, como o TNF, interleucina-2 (IL-2) e IL-6. TNF e IL-6 TNF e IL-6 acionam uma reação de fase aguda do hospedeiro, aumentando a secreção da proteína C- reativae fibrinogênio e reduzindo as concentrações plasmáticas de albumina. Acionam uma reação de fase aguda do hospedeiro, aumentando a secreção da proteína C-reativae fibrinogênioe reduzindo as concentrações plasmáticas de albumina Citocinas pro inflamatórias causam colapso dos músculos esqueléticos através da ativação induzida por NF-kB da VIA UBIQUITINA-PROTEOSSOMA levando à degradação da miosina de cadeia pesada Julia Paris Malaco – UCT16 Atrofia muscular Alterações no complexo distrofina-glicoproteína alterações na membrana miofibrilardo músculo esquelético com perda da distrofina - mecanismo similar ao que ocorre em algumas distrofias musculares Não existe tratamento satisfatório para a caquexia do câncer a não ser a remoção da causa de base, o tumor Metabolismo lipídico Os efeitos da caquexia sobre o metabolismo lipídico são menos conhecidos do que aqueles incidentes sobre o metabolismo proteico, principalmente no tocante aos mecanismos envolvidos. Tal fato deriva da presunção de que a perda de proteínas é mais deletéria ao organismo do que a de gordura. Entretanto, sabe-se hoje que mesmo durante o jejum voluntário, ocorre preservação de depósitos de tecido adiposo associados a vantagens adaptativas e, em presença de doenças, alguns sítios de acúmulo de gordura são mantidos ou até mesmo expandidos A concentração plasmática de glicerol, indicativa de lipólise no tecido adiposo periférico, está aumentada na vigência do quadro, e relata-se aumento do “turnover” de ácidos graxos e glicerol em pacientes com câncer caquéticos, comparados aos que não desenvolvem a síndrome. Os ácidos graxos liberados, principalmente se poliinsaturados, podem promover o crescimento tumoral pela inativação da proteína ativadora da GTPase,e ainda, a apoptose de adipócitos Fica claro entretanto, que há redução na deposição lipídica, mediada pela redução na expressão/atividade da enzima lipase de lipoproteínas e pela redução na concentração de insulina. A enzima lipase hormônio-sensível, por sua vez, apresenta atividade aumentada frente à estimulação pelas catecolaminas TNF produzido por macrófagos em resposta às células tumorais ou pelas próprias células tumorais - suprime o apetite Inibe a ação da lipoproteína lipase Inibindo a liberação de ácidos graxos livres das lipoproteínas O tecido adiposo secreta ativamente vários hormônios, proteínas e citocinas, capazes de regular diretamente o metabolismo lipídico, a atividade do sistema complemento e a homeostasia vascular. Entre tais fatores, destacamos o TNF α, a interleucina-6 e os hormônios leptina, adiponectina e resistina, entre diversos. Em pacientes caquéticos é observada redução da concentração de leptina entre outras alterações. Lipoproteína lipase (LPL) Enzima sintetizada pelas células parenquimatosas do tecido adiposo, das fibras musculares e dos miócitos cardíacos Localiza-se na parede dos capilares sanguíneos de vários tecidos (músculo esquelético e tecido adiposo) Ativada por Apo CII de Quilomícrons e VLDL Hidrolisa triglicerídeos liberando ácidos graxos Os efeitos da caquexia sobre o perfil lipídico: Há marcada hiperlipemia e hipercolesterolemia - esse quadro decorre, pelo menos parcialmente, de redução significativa da atividade da enzima lipase lipoprotéica (LPL), enzima responsável pela remoção do triacilglicerol plasmático nos tecidos periféricos. Julia Paris Malaco – UCT16 Decréscimo na quantidade de colesterol transportado pela HDL também é relatado. Foi ainda demonstrado que o fígado de animais caquéticos possui reduzida capacidade de oxidar ácidos graxos e de sintetizar corpos cetônicos. Essas alterações determinam agravamento do déficit energético na caquexia e contribuem para a proteólise no músculo esquelético. A síntese e a secreção de lipoproteína de densidade muito baixa está comprometida no órgão, em virtude da redução na expressão de duas importantes proteínas necessárias para a montagem da partícula, a ApoB e a MTP (microsomal triglyceride transfer protein). Caquexia Reservas energéticas de um indivíduo adulto são dramaticamente afetadas pela síndrome da caquexia A concentração plasmática de glicerol, indicativa de lipólise no tecido adiposo periférico, está aumentada Aumento do “turnover” de ácidos graxos e glicerol Os ácidos graxos liberados, principalmente se poliinsaturados, podem promover o crescimento tumoral pela inativação da proteína ativadora da GTPase Apoptose de adipócitos Redução na lipogênese Hiperlipemia Hipertrigliciridemia Hipercolesterolemia Redução significativa da atividade da enzima lipase lipoprotéica (LPL) Diminuição de HDL Redução de ApoB Avaliação Anamnese alimentar, recordatórios, questionários de frequência alimentar Estado emocional e clínico Velocidade de perda de peso Indicadores antropométricos: peso, altura, IMC, dobras cutâneas Indicadores bioquímicos Concentrações plasmáticas de proteínas como a transferrina (meia vida 8 dias) e a albumina (meia vida 20 dias): estimar o estado nutricional e monitorar a eficácia da terapia nutricional o Transferrina: Glicoproteína de transporte, sintetizada principalmente no fígado, que carreia o ferro no plasma e no líquido extracelular para suprir as necessidades teciduais. A sua dosagem é importantepara avaliação de anemias e como parâmetro para acompanhamento e marcador de desnutrição em pacientes hospitalizados o A transferrina tem meia-vida curta (apenas refletindo as alterações nutricionais recentes) e o exame é caro em comparação às informações que fornece. A albumina tem meia-vida de 20 dias. A diminuição está relacionada com longos períodos de déficit nutricional, quando o estado de hidratação é estável. A Proteína C Reativa (PCR): marcador sensível para o acompanhamento nutricional e tem como vantagem não ter concentração regulada pelos corticosteroides quando comparada a outras proteínas de fase aguda.
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