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Autor: Lucas Braselino Borges BREVE HISTÓRIA Os primeiros a usarem esses tipos de substâncias foram os índios da América do sul a centenas de anos atrás. Os pajés faziam um preparado a partir de ervas que imbuia as flechas dos índios que iam caçar. Esse “veneno” teoricamente matava os animais em segundos, porém quando no século 19 os espanhóis chegaram ao território sul americano, perceberam que os animais não morriam imediatamente, mas sim ficavam paralisados. Também perceberam que o veneno não funcionava quando alguém ingeria algum animal que recebeu o “CURARE” (nome dado pelos espanhóis ao veneno, tentando imitar a pronúncia indígena), só funcionava quando era aplicado por via IM (flechas e dardos), (a explicação para não ser intoxicado comendo a carne, é que os bloqueadores neuromusculares não “polares”, ou seja, carregados eletricamente, logo, tendo muita dificuldade de ultrapassar barreiras corporais e membranas como as barreiras hematoencefálica e placentária e também não são absorvidos por via oral). Por volta de 1930 laboratórios farmacêuticos isolaram uma molécula do veneno e chamaram de D-tubocurarina que era utilizada em pacientes com esclerose múltipla e tétano e depois veio o uso na anestesia como adjuvante para melhorar o miorrelaxamento. Muitos bloqueadores neuromusculares foram criados desde então, também chamados de miorrelaxantes de ação periférica. USO NA MEDICINA VETERINÁRIA Apesar de na Medicina humana serem amplamente usados em procedimentos cirúrgicos e intubações, na Medicina Veterinária sua utilização é mais restrita. Pacientes veterinários são mais facilmente intubados do que pacientes humanos, o que torna desnecessário a administração de miorrelaxantes. Básicamente na Medicina veterinária, às vezes utiliza-se os bloqueadores neuromusculares para os seguintes procedimentos: Para facilitar a ventilação mecânica Em cirurgias de osteossíntese Cirurgias oculares MECANISMO DE AÇÃO Para entendermos o mecanismo de ação desses fármacos, primeiro devemos entender o funcionamento da placa motora (Junção neuromuscular). A placa motora apresenta receptores nicotínicos (situados na membrana da fibra muscular) subdivididos em 5 subunidades, sendo duas delas subunidades ALFA, nas quais se ligará a acetilcolina (liberada na fenda pela membrana pré-sináptica do neurônio motor) para desenvolver sua função e promover a contração muscular (contração ocorre quando 70% a 80% dos receptores são estimulados). Na fenda sináptica da placa motora existe também a acetilcolinesterase, enzima que quebra a acetilcolina e a remove do receptor nicotínico promovendo o relaxamento muscular. AGORA SIM! Os receptores neuromusculares irão agir nos receptores nicotínicos como a acetilcolina, podendo ser considerados agonistas ou antagonistas dependendo de como atuam. Autor: Lucas Braselino Borges Bloqueadores neuromusculares despolarizantes Principais representantes: Succinilcolina Suxametônio (Suxamethonium) Atuam se ligando no receptor nicotínico como a acetilcolina, favorecendo o influxo de sódio e o efluxo de potássio, logo, haverá a contração muscular, a diferença é que a acetilcolinesterase não consegue quebrar a molécula do fármaco, então eles ficam ligados não permitindo a repolarização e dessensibilizando os receptores e promovendo assim o miorrelaxamento. Mas porque os despolarizantes não são tão interessantes assim para serem usados: Antigamente eram muito usados, mas pacientes queixavam-se de mialgia pós- anestésica (justamente por causa da contração muscular inicial que os despolarizantes induzem). Muitos outros efeitos adversos foram observados, como: o Aumento da pressão intraocular e dor, por causa da contração dos músculos do globo ocular. o Esses fármacos também atuam nos receptores muscarínicos que controlam o nodo sinoatrial, assim eles geram uma bradicardia. o Promovem degranulação de mastócitos, liberando histamina e causando hipotensão. o Como ficam por tempo prolongado ligados aos receptores nicotínicos promovendo efluxo de potássio, levam a um quadro de hiperpotassemia. Bloqueadores neuromusculares não despolarizantes Também vão atuar na subunidade alfa, porém eles tem efeito antagonista diferente dos despolarizantes, não permitindo a abertura dos canais de sódio e assim bloqueando a contração muscular. Pode-se observar que esse grupo não tem os efeitos indesejados causados pelo miorrelaxantes despolarizantes, contudo os miorrelaxantes não despolarizantes também atuam antagonizando os receptores muscarínicos o que desencadeia um efeito vagolítico levando a uma taquicardia. Ainda devemos lembrar que os receptores nicotínicos também estão presentes na junção ganglionar do sistema nervoso simpático, assim ao antagonizar esses receptores, os bloqueadores neuromusculares não despolarizantes trarão um efeito simpatolítico levando a bradicardia e a hipotensão, mas para esse quadro simpatolítico ocorrer deve usar doses muito elevadas, então eles ainda são seguros. Fármacos: “...rônios.” Pancurônio: o primeiro não despolarizante sintetizado. É pouco biotransformado e excretado na forma ativa por via renal (não indicado para nefropatas) e tem efeito vagolítico presente, promovendo taquicardia. Autor: Lucas Braselino Borges Os fármacos a seguir são mais seguros e não promovem efeitos cardiovasculares em doses clínicas e tem período de ação bem curto: Venurônio Rocurônio Pipecurônio “...cúrios.” Atracúrio Cisatracúrio Doxacúrio Mivacúrio São quebrados por esterases plasmáticas e são bastante estáveis, tendo um período de ação bem curto, interessantes para fazer por infusão contínua. Os efeitos cardiovasculares são praticamente inexistentes nesses fármacos. DOSES Pancurônio 70 - 120 mcg/Kg Período de ação: 60 – 100 minutos Vecurônio 50 - 100 mcg/Kg Período de ação: 20 - 40 minutos Rocurônio 100 - 600 mcg/Kg Período de ação: 20 - 30 minutos ou; 500 + Infusão contínua (200 mcg/Kg/h) Atracúrio 100 - 250 mcg/Kg Período de ação: 20 - 30 minutos ou; 200 + Infusão contínua (200 - 400 mcg/Kg/h) Cisatracúrio 75 - 300 mcg/Kg Período de ação: 20 - 30 minutos ou; 150 + Infusão contínua (300 – 500 mcg/Kg/h) Doxacúrio 2 - 5 mcg/Kg Período de ação: 80 - 100 minutos *Todos esses devem ser feitos por via intravenosa para promoverem o efeito adequado SEQUÊNCIA DE BLOQUEIO O miorrelaxamento não acontece uniformemente, mas sim em etapas, descritas a seguir: I. Músculos da face, dedos e cauda, pois são músculos menores. II. Grandes grupos musculares são os próximos Autor: Lucas Braselino Borges III. Diafrágma *O retorno do efeito acontece de maneira inversa (começando pelo diafrágma). REVERSÃO DOS BLOQUEIOS Apesar dos efeitos dos bloqueadores mais recentes durarem relativamente pouco, a reversão do bloqueio é OBRIGATÓRIA. A reversão feita através da aplicação da NEOSTIGMINA que é um bloqueador da acetilcolinesterase, já que os bloqueadores neuromusculares são usados na veterinária (lembrando: os despolarizantes quase nunca, senão nunca são usados, somente os não despolarizantes) tem ação de antagonismo competitivo com a acetilcolina, aplica-se a neostigmina para permitir o aumento de acetilcolina na fenda sináptica já que não haverá acetilcolinesterase. Assim com esse aumento, a acetilcolina consegue deslocar o fármaco do receptor e reverter seu efeito. Após isso, observar o paciente, sua respiração e o nível de Co2 analisando se há possibilidade do animal voltar a respiração espontânea. Monitorar no mínimo durante 1 hora. Porém temos um problema na reversão. A acetilcolina não está presente somente na placa motora, mas sim no corpo todo e aofazer a reversão dos bloqueadores, acontece a estimulação do sistema nervoso parassimpático por excesso de acetilcolina, causando bradicardia e salivação no animal. Por tal motivo usa-se a atropina juntamente com a neostigmina para combater esses efeitos. Doses do reversor e do anticolinérgico: Pequenos animais Neostigmina (0,05 – 0,1 mg/Kg IV/IM) + Atropina (0,03 – 0,04 mg/Kg IV/IM) Grandes animais Neostigmina (0,05 – 0,1 mg/Kg IV/IM) + Escopolamina (0,01 – 0,02 mg/Kg IV/IM) *Em grande a atropina é trocado pela escopolamina para diminuir o impacto na motilidade digestória *Existe outro reversor, no caso, específico para reverter os efeitos do ROCURÔNIO e VECURÔNIO seu nome é SUGAMMADEX, porém é um fármaco muito caro e por isso não tão utilizado.
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