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MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS Dra. Mariana Semedo 8º termo - 2021.2 No advento da gravidez, o organismo feminino sofre diversas adaptações/modificações fisiológicas (anatômicas e funcionais). Essas modificações acontecem de forma sistêmica e a partir delas se estabelece novo equilíbrio, o qual é ideal para o desenvolvimento do feto. ● Essas modificações demoram em torno de 12 semanas após o parto para desaparecer. !!! ● Vão levar ao surgimento de sinais e sintomas, os quais precisamos saber diferenciar entre o que é normal e o que é patológico. SISTEMA GENITAL É o sistema que mais sofre alterações no curso da gestação, com destaque para o útero. Útero: ● O útero não gravídico é pequeno e ao longo da gestação, através da hiperplasia celular e hipertrofia muscular, irá acompanhar o crescimento fetal. ○ É um órgão que tem elasticidade e complacência, aumentará 20 vezes: hipertrofia da camada muscular e hiperplasia do tecido conectivo (aumenta ~ 04 cm por mês) ○ Alcança a altura da cicatriz umbilical em torno da 20ª semana, e o apêndice xifóide quando atinge o termo (37 semanas - deixa de ser prematuro) ● O colo uterino da mulher não grávida é fibroelástico, mais endurecido. Na mulher grávida, ao toque vaginal, o colo é mais amolecido (a consistência é semelhante a do lábio). ○ Colo mais macio e vascularizado. Corpo Lúteo: durante o ciclo menstrual, o folículo eclode, libera o óvulo (isso determina a ovulação), e vai formar o corpo lúteo ● O corpo lúteo mantém a produção da progesterona enquanto não ocorre a formação da placenta (em torno da 12ª semana). ● O corpo lúteo é mantido pelos altos níveis de bHCG. *Prova → Qual é o hormônio responsável pelas alterações fisiológicas da gravidez? R: Progesterona! **A progesterona é um hormônio que relaxa a musculatura lisa e causa uma vasodilatação. As gestantes vomitam muito porque a progesterona age no estômago e esôfago, que vão perder seu peristaltismo, aumentando o refluxo. A mesma coisa para o intestino, a progesterona relaxa o intestino, que perde o peristaltismo, levando à constipação. Mamas: é um dos órgãos que já começa a sofrer modificações desde as primeiras semanas de gestação. ● A partir da 6ª semana já começa a ocorrer a proliferação dos ductos e lóbulos mamários, aumento do tamanho/volume mamário e hipervascularização. ● Essas alterações iniciais cursam com mastalgia (dor), hipersensibilidade e visualização de uma rede venosa na pele (rede venosa de Haller) ○ Muitas mulheres suspeitam que estão grávidas pelas alterações mamárias. ● Ocorrem também o escurecimento das aréolas. ● O objetivo dessas modificações é preparar as mamas para a amamentação. SISTEMA CIRCULATÓRIO Alterações Hemodinâmicas: são as alterações mais importantes e que mais preocupam os clínicos diante de uma gestante. !!! ● A paciente gestante tem volume sanguíneo (VS) aumentado e esse sangue precisa circular mais rapidamente, a ponto de suprir a demanda tanto da mãe quanto do feto, então a gestante tem aumento da frequência cardíaca (FC). Como o débito cardíaco é determinado por VS x FC, e ambos estão aumentados, o DC também vai aumentar. ○ Taquicardia isolada é normal. Também pode vir acompanhada de sensação de dispneia. ● É muito comum, durante a gestação, que a paciente relate episódios de fraqueza, tontura e pressão baixa. Isso acontece por conta da ação vasodilatadora da progesterona, que leva a uma queda da resistência vascular periférica, levando à diminuição da PA. ○ A queda é tanto da PAS quanto da PAD, mas é mais evidente na PAD (PAS = 90 e PAD = 40 mmHg). ○ O que fazer? O útero gravídico comprime a veia cava, isso diminui o retorno venoso, contribuindo com a queda da PA, para melhorar isso, a gente vai posicionar a paciente em decúbito lateral esquerdo ou em decúbito dorsal com elevação de membro inferior. ● Então…: ○ Modificações: aumento do débito cardíaco e queda da pressão sanguínea, mais evidenciada na PAD. ○ Fatores responsáveis: ■ Aumento da FC, do débito cardíaco e do volume sanguíneo e plasmático. ■ Diminuição da resistência vascular periférica, hormônios vasodilatadores e consequentemente, diminuição da pressão arterial. ■ Tendência à retenção hídrica e sódica ■ Compressão pelo útero gravídico ● Vale ressaltar que essas alterações hemodinâmicas são mais acentuadas no 2º trimestre, então se a paciente tem alguma cardiopatia prévia desconhecida, é a partir desse momento que vai ocorrer manifestações Alterações Eletrocardiográficas: ● Onda T: pode ter desvio para a esquerda e pode estar achatada ou invertida ● Taquicardia supraventricular - é uma arritmia rara, mas pode acontecer, apesar de normal, é complicada porque não pode ser tratada, pois o fármaco recomendado é categoria C na gestação. Sintomas Gerais: taquicardia, sensação de dispnéia, diminuição da tolerância a exercícios e sopro sistólico fisiológico na ausculta cardíaca. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS O valor de referência no hemograma é diferente para a mulher gestante: Hb > 11 g/dL Aumento do Volume Sanguíneo: ● Eleva-se precocemente e de forma contínua ● Cerca de 50% acima dos valores pré-gravídicos ● O pico ocorre entre a 32ª e a 34ª semanas gestacional ● Estabilização até o termo Aumento da Massa Eritrocitária: ● Elevação de 40 a 50% ● A elevação da massa eritrocitária é mais lenta quando comparada ao volume plasmático, isso determina uma hemodiluição → anemia fisiológica da gravidez Leucócitos: ● Aumentados na gestação, no parto e no pós-parto (leucocitose) ● O VR varia entre 12.000 a 25.000 mL, sem indicar infecção na ausência de sintomas ● A presença de desvio à esquerda (aumento de bastonetes) é indicativo de infecção mesmo na ausência de sintomas. Hemostasia: ● Aumento dos fatores de coagulação I, VII, VIII, IX e X ● Aumento do fibrinogênio ● Queda de plaquetas (VR > 100.000) ● A atividade fibrinolítica diminui durante a gestação e volta ao normal após a expulsão da placenta *Obs: gestação e o puerpério (45 dias após o parto) são os períodos mais trombogênicos para a mulher, aumentam em 10 e 40x, respectivamente, o risco de desenvolvimento de trombose. Isso ocorre porque há aumento dos fatores de coagulação e do fibrinogênio e redução da atividade fibrinolítica, o que favorece a formação de trombos. SISTEMA DIGESTIVO As alterações do sistema digestivo compõem as principais queixas do consultório durante o pré-natal. A progesterona age causando relaxamento da musculatura.. Estômago: ● Diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior que está associada ao aumento da progesterona e bHCG. ● Principais Queixas: ○ Sialorréia (aumento da salivação) ○ Perversão do apetite ○ Náuseas e vômitos ○ Constipação ○ Pirose (é a azia, acontece porque o útero gravídico comprime o estômago e favorece a ocorrência de refluxos) Intestino: ● Diminuição da motilidade intestinal pela ação da progesterona na musculatura, levando ao desenvolvimento de constipação, principalmente na fase inicial da gestação. ● É muito comum o desenvolvimento de hemorróidas em decorrência do aumento da pressão intra-abdominal pelo crescimento do útero grávido. ○ É esperado que as hemorroidas não se compliquem e regridam ao final da gestação. ○ Hemorroida não contraindica parto normal. Função Hepática: ● Não há variação na morfologia hepática ! ● Não há alteração da albumina total ● Elevação: ○ Bilirrubina sérica total ○ Fosfatase alcalina: é produzida pela placenta, então é normal que se eleve, desde que de forma isolada ! ○ Colesterol ○ Gamaglutamiltransferase (gama-GT) ● As doenças hepáticas são raras na gestação, mas quando ocorrem, são graves, levando a riscos para a mãe e para o feto. Ganho de Peso: é uma questão bastante levantada no cotidiano do pré-natal, muitas mulheres associam o ganho de peso ao desenvolvimento fetal, o que acaba sendo uma questão importante tanto para aquelas gestantes que não engordam tanto ao longo de gestação, quanto para aquelas que engordam muito e acabam desenvolvendo um sobrepeso. ● Não ganhar peso nem sempre é um problema, o mais importante é quea gestante não esteja desnutrida, então desde que ela esteja se alimentando bem e nutrindo o feto, o ganho de peso não é uma problemática. ● Na gestação o ganho de peso decorre do aumento da massa corporal e da expansão volêmica (retenção hídrica) ● O aporte calórico adicional ideal para a gestante é entre 200 e 300 kcal/dia. E o ganho de peso é de mais ou menos 12kg no total, o que equivale a 1,5 kg/mês. ● Sempre importante lembrar que o ganho de peso favorece o desenvolvimento de doenças metabólicas, como por exemplo o diabetes gestacional. SISTEMA RESPIRATÓRIO Trato Respiratório Inferior: a “falta de ar” é uma queixa bastante frequente durante o pré-natal. ● Conforme a gestação vai evoluindo, o útero vai comprimindo o diafragma. Então o diafragma se eleva e diminui a caixa torácica, reduzindo a expansão pulmonar. ● Também está relacionado com o aumento da pressão intra-abdominal. Trato Respiratório Superior: ● Congestão nasal: a vasodilatação gerada pela progesterona causa um aumento da mucosa nasal que leva a dificuldade respiratória. ● Epistaxe: como os vasos estão dilatados a tendência é que ocorra maior ressecamento das vias aéreas e desenvolvimento de infecções como sinusite, que se manifesta como sangramentos nasais. *Atenção! A frequência respiratória não aumenta. A gestante tem volume corrente maior, então a inspiração é mais prolongada o que torna a respiração mais dificultosa, isso determina a sensação de dispneia, mas não altera a frequência respiratória. *As gestantes têm muita probabilidade de desenvolver litíase, tanto de vesícula quanto de rim, isso, mais uma vez, se deve à ação da progesterona. Na vesícula biliar, a progesterona leva a um relaxamento que culmina no acúmulo de bile, o que favorece a colelitíase. Já nos rins, o útero vai comprimir o ureter, o que associado à hidronefrose fisiológica causada pela gravidez, favorece a ureterolitíase. Essas alterações são mais comuns no lado direito, pois o útero é mais voltado para a direita. SISTEMA RENAL ● Os rins aumentam de volume: ○ Aumento do volume intersticial ○ Aumento do fluxo sanguíneo ● Dilatação calicial pélvica e ureteral por ação da progesterona ● Rotação uterina → hidronefrose por compressão, mais evidenciada à direita. ● Compressão uterina → estase urinária, que favorece a formação de cálculos e as infecções urinárias. ○ O relaxamento provocado pela progesterona também contribui para as infecções, pois como a bexiga está mais relaxada, a contração não é tão eficaz e acaba ficando urina residual mesmo quando a gestante vai ao banheiro, e esse acúmulo de urina na bexiga acaba servindo como meio de cultura para bactérias, determinando a ITU. *Obs: ITU em gestante deve ser tratada sempre, pois aumenta o risco de amniorrexe prematura e trabalho de parto prematuro. SISTEMA ENDÓCRINO Tireoide: ● Pode aumentar de tamanho, mas a função tireoideana continua normal ● Elevação conjunta globulina carreadora de tiroxina ● Níveis t3 e t4 normais ● TSH não se modifica melhor marcador de função tireoidiana na gravidez Pâncreas: ● Hiperplasia de células betapancreáticas → elevação produção insulina: tendência à hipoglicemia na 1ª metade da gestação ● Na 2ª metade, começa a ação dos hormônios placentários contra-insulinares (hormônio lactogênio placentário, cortisol, progesterona, estrógenos) o que pode levar ao desenvolvimento de diabetes gestacional. ● Diabetes Gestacional (DMG): !!!! ○ Glicemia normal na gestação: VR = 90 mg/dL. ○ Glicemia entre 92 e 125 mg/dL = diabetes gestacional (DMG) ○ Se na primeira consulta do pré-natal, a paciente já tem a glicemia de jejum elevada, a gente já fecha diagnóstico de DMG e trata com MEV (dieta e exercício físico). ○ A grande maioria das gestantes não apresentam glicemia elevada na primeira consulta, mas podem desenvolver DMG ao longo da gestação. ○ O pâncreas, em torno da 24-28ª semana de gestação, começa a sofrer com a ação dos hormônios placentários contra-insulínicos, o principal deles é o hormônio lactogênio placentário. ○ São hormônios produzidos pela placenta que inibem a insulina e, consequentemente, levam a um aumento dos níveis de glicose no sangue, o que pode levar ao desenvolvimento da DMG. ○ Entre a 24-28ª semana de gestação é obrigatório solicitar o TOTG (teste oral de tolerância à glicose) para todas as gestantes com a primeira glicemia normal. ■ O objetivo é gerar, através da ingestão de um líquido doce, uma sobrecarga de glicose, para avaliar se a gestante possui insulina suficiente. ■ É só para as gestantes sem diagnóstico de DMG, para as que já tiveram a primeira glicemia aumentada e já tem diagnóstico de DMG, não vamos solicitar, porque não pode dar tanta glicose para uma paciente diabética. ○ Então: ■ Se 1ª glicemia normal, solicitar TOTG entre a 24 e a 28ª semana. ■ Se 1ª glicemia alterada, fecha diagnóstico de DMG. Supra-renal: ● Cortisol total e livre aumentam progressivamente Hipófise: ● FSH e LH suprimidos e quase identificáveis (hormônios do ciclo menstrual) ● ACTH e Prolactina eleva suavemente ● Ocitocina, vasopressina e TSH não se modificam PELE Pigmentação: aumentada pela ação do hormônio melanocítico, estrogênio e progesterona ● Mamilos ● Axilas ● Períneo ● Linha nigra Vascularização: aumentada em decorrência do aumento do fluxo sanguíneo circulante ● Eritema palmar ● Telangiectasias (estrogênios) Estrias: aparecem principalmente em abdome, mamas e quadril, pelo estiramento das fibras colágenas. ● Orientações: hidratante corporal + muita água SISTEMA NERVOSO CENTRAL Sonolência: os elevados níveis de progesterona causam depressão no sistema nervoso central Fadiga: relacionada a distúrbios do sono, principalmente no último trimestre (cansaço, dor, ansiedade, falta de posição, etc)
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