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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DISCIPLINA: TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ACADÊMICA: VÍVIAN ARAGÃO SANTANA MATRÍCULA: 201600183357 Data: 20/07/2021 AD2.2 - A Administração Pública Gerencial no Brasil: críticas e alternativas teórica 1. Como AD2.2, escrevam um texto reflexivo (entre três e cinco páginas) sobre um dos dois artigos apresentados nesta semana ARTIGO: Reforma do Estado, descentralização e desigualdades A reforma do Estado é parte de um processo global de reestruturação capitalista iniciado após a crise do capital nos anos 1970. Com a crise do Estado, emerge com toda força nos anos 1980 o projeto neoliberal. A resposta neoliberal à crise consistiu na redução do papel do Estado e ampliação da esfera do mercado econômico. Seguindo as tendências internacionais, a reforma do Estado brasileiro tem sido conduzida sob a pauta do ajuste fiscal, com a privatização de empresas públicas e desvinculada da ideia de fortalecimento da proteção social. Logo, em contraposição ao modelo burocrático de administração adotado - o funcionalismo público, várias tentativas foram realizadas no intuito de substituí-lo pelo modelo gerencial (com característica de flexibilidade e descentralização). Criou-se, por exemplo, o Decreto de Lei nº 200/1967 que foi um marco nessa tentativa de substituição, uma vez que privilegiava a descentralização e a flexibilização atribuindo funções à administração indireta. Entretanto, tal decreto deu margem ao patrimonialismo (aparelho de Estado como extensão do soberano marcado pela corrupção e nepotismo) e ao clientelismo em função do uso indevido da flexibilidade e excessiva autonomia concedida à administração indireta. A Constituição Federal de 1988 burocratizou todas as esferas da administração bem como as ações executadas. Em contrapartida, uma nova proposta de Reforma do Estado (implementada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso) vem sendo defendida e está consolidada no Plano Diretor da Reforma do Estado, formulado em 1995. Desde então, o processo de Reforma vem sendo implantado no Brasil. O programa reformista baseou-se em uma escolha pelo projeto neoliberal, primou pela privatização dos bens públicos e redução do papel do Estado. Os funcionários públicos foram escolhidos como vilões da pátria e a reforma da administração pública como a solução para os problemas e imperfeições históricas do Estado brasileiro. O Plano Diretor da Reforma do Estado fomentou a depreciação do setor público e superdimensionou o mercado financeiro. Fica claro que a privatização tende a fortalecer a sociedade mercantil, não necessariamente a sociedade civil e que a ausência de barreiras permite que o capitalismo gera níveis inaceitáveis de desigualdade social e inequidade. Segundo o levantamento feito por BIONDI (1999, p. 41), as privatizações de estatais efetuadas pelo governo brasileiro resultaram em 24.800 mil demissões de trabalhadores, como parte do “saneamento” das estatais, antecedendo sua privatização. A sangria ao patrimônio público se revela no processo de venda de duas formas: pela entrega do patrimônio público e pela não lucratividade. BIONDI (1999, p. 41) apresenta uma conta surpreendente: “ o governo diz que arrecadou R$ 85,2 bilhões (...) mas (...) há um valor maior, de 87,6 milhões de reais a ser descontado daquela entrada de caixa”. Não houve redução da dívida interna A reforma previdenciária, representou a cruzada dos setores conservadores e das agências financeiras internacionais para privatizar o sistema previdenciário através da redução da previdência pública e supervalorização da previdência complementar, o que caracteriza uma transgressão ao pacto social, baseado nos princípios da seguridade social, firmado na Constituição de 1988. A reforma não fortaleceu a seguridade social e nem buscou unificar as três políticas públicas que a compõem (saúde, previdência e assistência social). Contudo, esse processo não se trata de uma reforma, mas de uma “contra-reforma do Estado” Behring (2003). Conforme Granemann (2004, p.30), a contra-reforma pode ser entendida como um conjunto de “alterações regressivas dos direitos do mundo do trabalho. As contra-reformas, em geral, alteram os marcos legais – rebaixados – já alcançados em determinado momento pela luta de classe em um dado país”. Há que se assinalar que a reforma do Estado atinge, no plano mais geral, o conjunto dos trabalhadores, quando um de seus pilares se assenta na desregulamentação das relações trabalhistas, privatizações e demissões. Por meio dessa desregulamentação, surge, por exemplo, o contrato temporário de trabalho. A Reforma administrativa, entretanto, atinge direitos conquistados pela população, ligados à maior democratização da máquina pública e, simultaneamente, atinge em cheio os trabalhadores do setor público. Pode-se afirmar, então, que as principais reformas ainda estão por ser feitas e seu eixo deve ser a valorização da participação da sociedade na definição da coisa pública. Tais reformas supõem inversão de prioridades e mudança na lógica de prestação de serviços públicos como atividade de mercado, pois o serviço público deve estar voltado para satisfazer as demandas das maiorias, para o interesse social. Definir, entretanto, o que é de natureza social, depende da correlação de forças existente entre Estado e sociedade civil. Para além dos problemas enfrentados pelos trabalhadores do setor público, é necessário que o desmonte do serviço público seja pautado na sociedade, que é a mais atingida pela política que busca implantar o Estado-mínimo, retraindo sua atuação para as maiorias. Referências Bibliográficas: - https://www.scielo.br/j/ln/a/98sDNNkWSVGj39dp8CVfHDy/?lang=pt - BEHRING, Elaine Rossetti. Brasil em Contrarreforma: desestruturação do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003. - BRASIL. Governo Federal. Projeto de lei complementar 248/98; trata da demissão dos servidores públicos estáveis por insuficiência de desempenho. Brasilia, 1998. - BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Da Administração Pública Burocrática à Gerencial. In: BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos; SPINK, Peter Kevin (org.). Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001b, p. 237-270. - GRANEMANN, Sara. Necessidades da Acumulação Capitalista. Revista Inscrita, Ano VI, nº IX, p.29-32, 2004. - MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL E REFORMA DO ESTADO (MARE). Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília: Imprensa Nacional, novembro de 1995. Plano aprovado pela Câmara da Reforma do Estado da Presidência da República em setembro de 1995.
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