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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DISCIPLINA: TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ACADÊMICA: VÍVIAN ARAGÃO SANTANA MATRÍCULA: 201600183357 AP1 - Trabalho de pesquisa 1. Descreva os aspectos centrais da chamada Nova Administração Pública - NAP. Com o surgimento do fenômeno da globalização, o papel que corresponde ao Estado começou a ser questionado pelos defensores da teoria ultraliberal. Como consequência, a partir do final dos anos 1970 iniciaram-se processos de reforma dos Estados ocidentais, fazendo com que as Administrações Públicas desses mesmos países também sofressem alterações. Para Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2002b, p.30-31) a “Nova Gestão Pública” foi uma resposta às duas grandes forças que definiram as últimas duas décadas do século XX (e às demandas nelas envolvidas): a globalização (“o fato de o capitalismo haver-se tornado dominante, e os mercados terem sido abertos para a competição capitalista em todo o mundo”) e a democracia (burguesa). Com a proposta do surgimento de um conjunto de ideias administrativas, que vem provocando mudanças em organizações do setor público em muitos países ao redor do mundo, deu-se início a um movimento de reforma do Estado denominado, na literatura internacional, de Nova Administração Pública (NAP). No Brasil, Fernando Henrique Cardoso, já eleito presidente, anunciou o “fim da Era Vargas”, referindo-se ao legado deixado pelo seu modelo de Estado intervencionista. O presidente convidou Luiz Carlos Bresser Pereira para assumir o novo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE). Logo após receber o convite, este resolveu dedicar-se à missão de reformar a Administração Pública. Depois de seu mandato, o ex-ministro contou como deu início ao que denominou de “Reforma Gerencial de 1995” Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2000, p.63-64) defende que o sistema capitalista teve duas grandes reformas da Administração Pública: a “Reforma Burocrática” que atingiu a Europa e os Estados Unidos no início do século XX e o Brasil nos anos 1930, com o governo Vargas; e a “Reforma Gerencial” ou “Reforma da Nova Gestão Pública”. Esta última pode ser dividida em duas “ondas” distintas: a “primeira onda”, dos anos 1980, com ênfase no ajuste estrutural das economias em crise (ajuste fiscal, privatização, liberalização do comércio); e a “segunda onda”, a partir dos anos 1990, com ênfase nas transformações de caráter institucional. A Nova Gestão Pública é uma teoria da Administração Pública que traz um novo modelo de gestão, que incorpora alguns mecanismos de mercado e outras ferramentas de gestão privada para dentro da gestão pública. Christopher HOOD (1991, p.04 e 05) foi quem primeiro definiu a “Nova Gestão Pública”, a partir da conjunção de sete elementos: profissionalização da gestão nas organizações públicas; padrões de desempenho e medidas de avaliação com objetivos mensuráveis e claramente definidos; ênfase no controle e nos resultados; desagregação das grandes unidades do setor público; introdução da competição no setor público; uso de práticas de gestão do setor privado; ênfase na disciplina e na utilização dos recursos, cortando custos e procurando maior eficiência e economia. Ao mesmo tempo que não há um consenso sobre qual é essa Nova Gestão Pública, há a constatação de que os modelos de gestão estão se alterando, em diversas esferas (política, econômica, social, ideológica, etc). E este momento nada mais é do que um momento de transição. Momentos de transição são caracterizados por alterações que não acontecem de maneira unificada ou simultânea. Sendo assim, temos municípios por exemplo que já operam dentro de uma Nova Gestão Pública, enquanto outros seguem com as ferramentas tradicionais e, inclusive dentro dos municípios, podemos ter secretarias que já estão adotando ferramentas novas e outras não. Em 1998, o Conselho Latino-Americano para o Desenvolvimento (CLAD), objetivando fazer uma adaptação da experiência da NGP nos países em países anglosaxônicos, anunciou documento em que apresentou as características que deveriam ser observadas para a implementação da “Nova Gestão Pública” na América Latina, conforme segue: profissionalização da alta burocracia; transparência e responsabilização; descentralização na execução dos serviços públicos; desconcentração organizacional nas atividades exclusivas do Estado; controle dos resultados; novas formas de controle; duas formas de unidades administrativas autônomas: agências que realizam atividades exclusivas de Estado e agências descentralizadas, que atuam nos serviços sociais e científicos; orientação da prestação dos serviços para o cidadão-usuário; modificar o papel da burocracia com relação à democratização do Poder público (CLAD, 1999, p.129 e ss.). O exame dessas características permite identificar as falências desse modelo. A ênfase na “profissionalização da alta burocracia” denota uma visão absolutamente elitista do poder, excludente de dimensões essenciais da democracia, pois prioriza uma elite burocrática para desenvolver a capacidade de negociação e responsabilização perante o sistema político. Defende a adoção de regimes jurídicos de funcionários públicos, desvalorizando a função pública. Com transparência e responsabilização, busca-se apenas diminuir a corrupção, não existe o objetivo de compartilhar a tomada de decisões. A participação cidadã na gestão pública não faz parte das características da Nova Administração Pública. O caso brasileiro demonstra que a descentralização também foi responsável pelo aumento da competição por recursos entre os diversos níveis de governo. A denominada “guerra fiscal” entre Estados é resultado desse processo, em que as relações intergovernamentais predatórias apenas beneficiam as empresas privadas, trazendo, por consequência, prejuízos aos cidadãos. Avaliar a Administração Pública pelo cumprimento ou não de metas, utilizando mecanismos como o contrato de gestão, representa a aplicação da lógica gerencial, em que o único que conta é a dimensão econômica do serviço público, desconsiderando por completo a dimensão humana da vida em sociedade. A ênfase em novas formas de controle (controle de resultados, controle contábil de custos, controle por incentivo à concorrência a setores privados na prestação de serviços públicos, controle social e reforço do controle judicial) também expressa o alcance desejado para a democracia. O cidadão pode controlar a gestão, mas nunca compartilhá-la. A criação de entes descentralizados, que atuam nos serviços sociais e científicos para o denominado “setor público não estatal” representa a privatização dos serviços públicos na área social. O exame das características da “Nova Administração Pública” permite conceituá-la como uma teoria da Administração Pública que adota um enfoque empresarial para a gestão, dando ênfase à redução de custos, à eficácia e à eficiência dos aparelhos de Estado e propondo a clientelização dos cidadãos. Concluímos que esses eixos não representam exatamente uma ruptura, mas representam o desenvolvimento e a alteração de um modelo antigo, caracterizado pela velha gestão pública que está sendo deixada para trás. Ou seja, a Nova Administração Pública reúne diversas evoluções de um modelo antigo de gestão para um modelo mais integrado, conectado, aberto e experimental. Referências Bibliográficas: - https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/6394 - BRASIL. MARE. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília: MARE, 1995. - BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. A reforma gerencial da administração pública brasileira. In: Moderna Gestão Pública: dos meios aos resultados. Oeiras: INA, 2000, p. 55-72. - CENTRO LATINO-AMERICANO DE ADMINISTRAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO – CLAD. Uma nova gestão pública para a América Latina. In: Revista do Serviço Público, Brasília, ano 50, nº 01, Janeiro / Março, 1999, p.121-144. 2. Realize um trabalho de pesquisa sobre a “Reforma Administrativa”, em discussão noPoder Legislativo federal e, embasados nas premissas teóricas da NAP, análise o projeto de reforma em questão. Um dos temas mais polêmicos a serem discutidos pelo Congresso em 2021 é a Reforma Administrativa. A proposta de emenda à Constituição enviada em setembro de 2020 pelo governo federal (PEC 32/20) restringe a estabilidade no serviço público e cria tipos de vínculos com o Estado. A proposta prevê que leis complementares tratarão de temas como política de remuneração, ocupação de cargos de liderança e assessoramento, progressão e promoção funcionais e definição das chamadas “carreiras típicas de Estado”, assim como acaba com benefícios como as licenças-prêmio dos servidores e as progressões funcionais baseadas exclusivamente no tempo de serviço. Porém, nossa atual Carta Magna, consoante caput de seu artigo 37, com nova redação dada pela Emenda Constitucional n° 19/98, estabelece os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência como sendo norteadores da Administração Pública. Sendo assim, quaisquer que sejam os atos emanados do Poder Público, devem eles estar respaldados em tais princípios, em observância aos preceitos constitucionais vigentes, em especial ao Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. O interesse público é fundamental e tem profundidade ética, da mesma forma que o serviço público é essencial e tem conotações morais. Segundo Kohama1, a Administração Pública executa o Serviço Público porque considera indispensável à sociedade a sua existência e funcionamento, depreendendo-se daí o princípio da obrigatoriedade do desempenho da atividade pública, em que a Administração Pública sujeita se ao dever de continuidade da prestação dos serviços públicos. Fica claro, portanto, o sentido de sobrevivência e consequentemente a necessidade de qualificar cada vez mais sua atuação, seus serviços, de forma a atender a sociedade qualitativamente e justificar o sentido de sua existência. Contudo, reconhecemos o fato de que carece aos administradores públicos e respectivos administrados, todos estes a serviço da sociedade, a consciência do zelo do interesse e patrimônio públicos, para que juntos trabalhem na busca de um denominador comum: uma sociedade atendida com serviços de qualidade em contrapartida aos impostos que paga. Neste contexto, está claro que a Reforma Gerencial surge como novo modelo de Administração Pública onde se prima pela qualidade do serviço público, profissionalizando, aperfeiçoando e qualificando seus servidores, em prol do cidadão, usuário-cliente dos serviços prestados pelo Estado. Entretanto, não deve esta Reforma Gerencial ser entendida como única fonte de contenção dos gastos públicos, em especial com o poder de reforma dado aos administradores públicos para a reestruturação de seu funcionalismo público, o que inclui a demissão de servidores por excesso de quadro quando não se atingir o limite máximo estabelecido para os gastos com pessoal. Nosso país precisa de reformas, mas não de demissões, uma vez que agravaria ainda mais a crise social que ora se apresenta. O povo brasileiro almeja alcançar os direitos sociais fundamentais que a Constituição Federal estabelece como dignos de qualquer cidadão, seja este servidor público ou não: direito à educação, saúde, trabalho e previdência social. Deve ser prioridade desta Reforma Administrativa não a contribuição para uma crise social existente, mas, antes de tudo, a qualidade dos serviços públicos, incluindo a qualificação dos servidores, e não sua demissão ou exoneração, a não ser nos casos em que se comprove burla aos preceitos constitucionais vigentes, seja através de contratações ilegais, seja pela criação de número ostensivo de cargos comissionados com a finalidade apenas de apaziguar os apadrinhados. A crise do Estado, conforme apresenta o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, define-se como uma crise fiscal, caracterizada pela crescente perda do crédito por parte do Estado e pela poupança pública negativa; como o esgotamento da estratégia estatizante de intervenção do Estado e como a superação da forma de administrá-lo; pressupondo como inadiáveis ações no sentido de promover o ajustamento fiscal duradouro, as reformas econômicas voltadas para o mercado, a reforma da previdência social, a inovação dos instrumentos de política social e a reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua “governança”, ou seja, sua capacidade de implementar políticas públicas. Portanto, podemos observar a prioridade dada pelo governo federal à Reforma Administrativa, recentemente aprovada com a promulgação da Emenda Constitucional no 19/98, a qual contempla, essencialmente, dispositivos alterando o regime constitucional dos servidores públicos, quais sejam: quebra do regime jurídico único, fixação do teto remuneratório, quebra de estabilidade, criação do subsídio para os membros do poder, entre outros itens abordados pela retrocitada emenda. Pelas grandes discussões que ainda se propagam sobre seu texto, entendemos que tal emenda tem trazido dificuldades de ordem prática e até mesmo institucional, ao centralizar no Poder Executivo funções da mais alta relevância e ferir direitos e garantias individuais dos cidadãos, tudo em prol da economia dos recursos advindos da receita pública. Contudo, a “Reforma Administrativa” deve ser entendida como um fundamento de um novo Estado que prima pela gestão coerente, eficiente e eficaz dos recursos públicos, em prol dos cidadãos que exigem cada vez mais serviços públicos de qualidade como retorno dos impostos que paga, e não apenas como meio de colocar mais desemprego à sociedade com o “enxugamento” da máquina administrativa. Temos uma vasta legislação que disciplina a boa utilização dos recursos públicos, sendo apenas necessário seu cumprimento. A economia que se teria com a observância dos preceitos legais vigentes é considerável, posto que grandes são os dispêndios ocorridos com a prática de atos de improbidade administrativa cometidos pelos gestores públicos, constantemente comprovados pela atuação dos Tribunais de Contas nas suas auditorias. Referências Bibliográficas: - https://www.camara.leg.br/noticias/719878-reforma-administrativa-sera -pauta-polemica-em-2021 - BULOS, Uadi Lammêgo. “Reforma Administrativa”. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, no 214, out/dez 1998, pp. 69-98. - KOHAMA, Helio. Contabilidade Pública - Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 1993. - LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Contratação Ilegal de Servidor Público e Ação Civil Pública Trabalhista. Belo Horizonte: RTM, 1996. - LIMA JÚNIOR, Olavo Brasil. “As reformas administrativas no Brasil: modelos, sucessos e fracassos”. Revista do Serviço Público. Brasília: ENAP, ano 49, no 2, abr-jun/1998, pp. 5-31. - MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22a Edição. São Paulo: Malheiros, 1997. - MORAES, Alexandre de. Reforma Administrativa: Emenda Constitucional no 19/98. 2a Edição. São Paulo: Atlas, 1999.
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