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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA DISCIPLINA: PRÁTICA CURRICULAR NA DIMENSÃO ESCOLAR NÍLLIA NOGUEIRA FERREIRA Atividade - Resenha Crítica Pinheiro - MA 2019 RESENHA CRÍTICA SANDRONI, Carlos. Identidade e Diversidade na Educação Musical. In: A Música na Escola. São Paulo, 2012. p.132-133. Carlos Sandroni possui graduação em Bacharelado em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981), mestrado em Ciência Política (Ciência Política e Sociologia) pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (1987) e doutorado em Musicologie – Universite de Tours (Universite Francois Rabelais) (1997). Atualmente é colaborador da Universidade Federal da Paraíba e professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência nas áreas de Artes e Antropologia, com ênfase em Etnomusicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: etnomusicologia, samba, cultura popular, patrimônio imaterial e música popular brasileira. O seu texto Identidade e Diversidade na Educação Musical faz parte do livro “A Música na Escola”, lançado no ano de 2012 em parceria com o Ministério da Cultura e a Vale. De autoria de Gisele Jordão; Renata R. Allucci; Sergio Molina e Adriana Miritello Terahata, o livro abrange questões históricas, cognitivas, conceituais, físicas e sociológicas, servindo como porta de entrada para profundas e fundamentais discussões sobre como oferecer uma educação musical adequada. O texto abordado está localizado nas páginas 132 e 133. Inicialmente, Carlos Sandroni cita que o crescente prestígio granjeado no Brasil por músicas populares urbanas, nas últimas décadas do século XX, trouxe questionamentos às concepções de Educação Musical herdadas dos conservatórios europeus. Hoje não é mais possível sustentar, como se fazia até poucas décadas atrás, que existe apenas uma música artística, verdadeira, racional, em relação à qual todas as outras seriam imperfeitas, primitivas, subdesenvolvidas. Sabemos agora que a música ensinada nos conservatórios é apenas uma entre muitas, fruto de um desenvolvimento histórico peculiar, localizado no tempo e no espaço: Europa Ocidental, séculos XVIII e XIX. (p.132). Tal concepção é resultado de mudanças internas no campo da música erudita. Como é o caso, por um lado, da revalorização da “música antiga” – onde a própria música europeia, até o século XVII, foi regida por concepções teóricas com domínio que exigia do músico de hoje a relativização do que aprendeu na escola; e por outro, das experimentações sonoras características do modernismo, em que a mesma relativização é exigida pela proliferação de novas linguagens. Outro ponto importante mencionado por Sandroni é sobre o pensamento no próprio conceito de "música clássica”. Povos como hindus, árabes e japoneses, possuem uma música clássica própria, com “grupos de estilos musicais submetidos a regras explícitas, codificadas em livros, transmitidos através de instituições de ensino, em alguns casos com escritura musical própria e considerados pela elite de suas sociedades, como altamente refinados” (p.132). Dessa forma, a música clássica local, nessas sociedades, coexiste com diferentes músicas populares também locais (assim como a nossa) que possuem uma institucionalização muitíssimo menor. Mas isso não quer dizer que elas não possuem regras nem técnicas. Sobre essa ideia, hoje firmemente estabelecida pela etnomusicologia e que ainda choca certo senso comum musical, o autor relata: Certa vez, por exemplo, numa aula sobre música brasileira, apresentei uma gravação feita com uma cantora de coco paraibana que suscitou o seguinte comentário de alunos: “Sua voz é bonita, até parece que ela tem técnica!”. Respondi que de fato ela tinha técnica, embora técnica distinta da que se aprende nos cursos de canto. E que mesmo cantores cujo timbre poderia até não ser considerado “bonito” por estes mesmos alunos, também possuíam técnica. O termo técnica é geralmente apresentado nas escolas de música como sinônimo de técnica clássica ocidental. Mas para que a voz de uma cantora de coco seja escutada durante horas pelos participantes desta dança de roda, ela precisa de uma técnica. Que, é claro, não aprenderá no conservatório, mas imitando seus mestres, num convívio que geralmente começa cedo. (p.132). O autor cita ainda outro exemplo, mas dessa vez de caráter pessoal. Tive formação clássica como violonista, e desde o início aprendi que o uso da “dedeira” - espécie de palheta de metal que alguns músicos de choro adaptam ao polegar direito - era um hábito execrável, denunciador de absoluta “falta de técnica”. Me lembro perfeitamente do desdém com que via, em algum ambiente musical informal onde porventura me encontrasse, algum colega munido daquilo que para mim era indício de ignorância. Só mais tarde, quando comecei a aprender a tocar choro convivendo com músicos de choro, me dei conta da importância musical da dedeira: com ela, o violão ganha em volume, em agilidade e em timbre. Tudo isso, é claro, dentro do contexto musical do choro, pois não existe técnica universal, mas adequada a fins musicais determinados. (p.132) Não se pode ser um músico universal. É preciso escolher, ser mais flexível, e admitir a relatividade das técnicas musicais. “Assim como um saxofonista de jazz pode ganhar conhecendo música medieval [...], um pianista de concerto poderia aprender muito com o gamelão javanês [...]”. (p.133). Sandroni ressalta que não se pode gostar de tudo, mas um grau de conhecimento sobre a diversidade musical do Brasil e do mundo, acima do atual disponível, não implica no abandono da identidade musical própria e acrescenta: “Se a chamada ‘música popular’ tem, mal ou bem, encontrado seu caminho nas instituições de ensino musical, o mesmo não se pode dizer da enorme diversidade de nossas músicas de tradição oral”. (p.133). Ele expõe ao fim do texto um episódio de sua vivência na educação musical. Faz algum tempo participei, na Escola de Música da UFMG, de um encontro em torno do congado mineiro, organizado pela etnomusicóloga Rosângela de Tugny. Um grupo de congado entrou, tocando e dançando, no belo prédio da escola. Mais tarde, seus integrantes participaram de um debate, junto com estudantes e pesquisadores. E os tocadores de caixa deram uma pequena aula prática para os estudantes universitários de percussão. Foi uma bela experiência de diálogo cultural. Também na França e nos Estados Unidos, músicos de tradição oral têm sido convidados a transmitir seus saberes em universidades e conservatórios. (p.133). O autor defende a concepção de que essas iniciativas não visam transformar estudantes universitários em músicos tradicionais, mas ampliar visões, enriquecer concepções acerca do que seja ser músico e apreciar música, abrindo novas possibilidades para o milênio que se inicia. Nesse cenário, Identidade e Diversidade na Educação Musical aborda as diversas realidades brasileiras no ensino da música na escola e contribui significativamente na ampliação dos conhecimentos dos professores que estão (estarão) em sala de aula, apresentando a música para os estudantes, promovendo não somente a construção de conhecimento, como a troca de experiências e saberes que permitem a renovação da prática pedagógica. Percebe-se ainda a importância no contexto cultural, possibilitando a renovação da área, que está buscando estabelecer diálogo entre práticas informais e os saberes e as necessidades da prática formal.
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