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1 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Problema 05 – Falta de ar. Objetivos: 1. Descrever os fatores de descompensação da IC; 2. Compreender o Edema Agudo de Pulmão: Definição; Características; Classificação (Perfil clínico hemodinâmico); Epidemiologia; Fatores de risco; Etiologia; Fisiopatologia; Manifestações clínicas; Diagnóstico; Diagnóstico diferencial; Tratamento. 3. Elucidar o tratamento da IC aguda na sala de emergência. Fatores de descompensação da IC Vários estudos têm reforçado a importância da identificação de causas de internações e reinternações por Insuficiência Cardíaca (IC). Dentre estas, encontram-se o desconhecimento das medidas não- farmacológicas, a adesão inadequada ao tratamento medicamentoso (principal causa) e não medicamentoso ou a incapacidade dos pacientes de identificar sinais e sintomas de descompensação. Alguns estudos sugerem que tais aspectos são responsáveis por 15 a 64% das reinternações hospitalares devido à IC descompensada. A causa mais comum, no entanto, de descompensação cardíaca reversível é o não seguimento de regime de dieta ou terapêutico, principalmente a falta de complacência com a restrição de sal e descontinuação ou uso irregular dos medicamentos. Até mesmo um pequeno aumento na fração de sódio ingerida, mudança na ingestão de líquidos, ou falha intermitente de tomar um medicamento pode provocar uma exacerbação de insuficiência cardíaca. O uso de drogas tais como agentes anti- inflamatórios não esteroidais podem atenuar a diurese e os efeitos vasodilatadores dos antagonistas da 2 Mírian Santos 7° semestre @medbymins renina-angiotensina-aldosterona, resultando assim em ICAD. Foi realizado um estudo transversal de uma coorte multicêntrica denominada Estudo Multicêntrico Brasileiro para Identificar os Fatores Precipitantes de Internação e Reinternação de Pacientes com Insuficiência Cardíaca – EMBRACE. Nesse estudo foram elegíveis os pacientes admitidos por IC descompensada, em classe III ou IV da (NYHA), com fração de ejeção ≤ 45%, idade > 18 anos, de ambos os sexos. Pacientes com história de uso irregular de medicações prévio à internação, controle inadequado de sal e líquidos foram considerados como grupo de má adesão ao tratamento. A não adesão ao tratamento afeta diretamente os desfechos clínicos, além de causar um aumento do risco de hospitalização e morte. Uma revisão sistemática que avaliou a eficácia de intervenções em pacientes com IC, demonstrou que a melhora de pelo menos uma recomendação, seja adesão, seja mudanças no estilo de vida reduz risco de mortalidade em 2%, além de reduzir em 10% a probabilidade de internação. O complexo plano terapêutico, adicionado ao número de medicações prescritas são variáveis de confusão para os pacientes, no que diz respeito à adesão. Nossos achados indicaram que o uso irregular e a descontinuidade do tratamento farmacológico associaram-se significativamente ao risco de internação hospitalar. Edema Agudo de Pulmão Definição; Edema agudo de pulmão é uma condição clinica grave, que consiste em insuficiência respiratória hipoxêmica aguda causada pelo excesso de fluido dentro dos alvéolos pulmonares decorrente de alteração em uma ou mais das forças de Starling. É caracterizada ainda pelo aumento no esforço respiratório, redução da complacência pulmonar e redução da relação ventilação perfusão. Edema agudo de pulmão é uma emergência médica com alto risco de mortalidade. Está relacionado, na maioria das vezes, a causas cardíacas, e em nosso meio é mais prevalente o acometimento valvular reumático. O EAP pode ser a primeira manifestação de doença prévia assintomática e que descompensa devido às alterações hemodinâmicas fisiológicas da gestação, incluindo o aumento do volume plasmático e débito cardíaco, além da redução da pressão coloidosmótica do plasma, muitas vezes agravada pela presença de anemia. Causas não cardíacas de EAP podem estar relacionadas a condições específicas da gravidez, como na pré-eclâmpsia/ 3 Mírian Santos 7° semestre @medbymins eclâmpsia, na terapia tocolítica e por hiper- hidratação. Classificação; O edema agudo de pulmão pode ser classificado como de causa cardiogênica e não cardiogênica. Apesar de terem etiologias distintas, esses dois tipos podem ser de difícil diagnóstico diferencial, pois o quadro clínico é semelhante. O conhecimento da causa do edema agudo é muito importante para que o tratamento correto seja instituído O edema agudo cardiogênico é uma causa comum e potencialmente fatal de insuficiência respiratória aguda. Ele resulta de um déficit funcional do átrio esquerdo ou de um déficit da função ventricular esquerda, o que gera elevação da pressão capilar pulmonar e consequente acúmulo de liquido no espaço alveolar. São determinadas pelo aumento da pressão hidrostática dos capilares pulmonares. Este aumento pode ocorrer por diversas fisiopatologias, como: Aumento de pós-carga: hipertensão sistêmica. Aumento da pré-carga: sobrecarga de volume. Falência circulatória por estados de alto débito: infecção, anemia, tireotoxicos O edema de causa não cardiogênica, por sua vez, está associado ao edema difuso dos espaços alveolares na ausência de aumento da pressão capilar pulmonar. As principais causas são: síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), altitude elevada e edema pulmonar neurogênico. É preciso atentar para o fato de que a hipoalbuminemia isolada não é causa de edema agudo isto ocorre por causa da permeabilidade do interstício pulmonar à albumina, não permitindo que a queda de albumina sérica influencie o gradiente de pressão oncótica. Epidemiologia; Os dados disponíveis pelo DATASUS permitem fazer análise apenas para edema agudo de pulmão, que em 2002 teve 21.553 internações, com taxa de óbito (número de internações sobre o número de óbitos) de 17,30; em 2007, foram 20.405 casos com aumento da taxa de óbito para 19,2. 2° maior causa de Insuficiência Respiratória; Mais frequente em pacientes com função sistólica preservada ou levemente diminuída; Mais comum em idosos e diabéticos sem preferencia por sexo, porem nesse caso segue de acordo a IC; O edema agudo de pulmão é a apresentação clínica inicial de cerca de 8%-12% dos pacientes com IC aguda e está associado há um pior prognóstico intra-hospital; 4 Mírian Santos 7° semestre @medbymins A mortalidade hospitalar varia de 6 a 21% e em um ano houve relato de mortalidade de 35%. Como preditores de mortalidade hospitalar, a presença de IAM aparece consistentemente como um fator importante em várias das publicações. Outros preditores são a FC > 115 bpm, a PA sistólica <= a 130 mmHg ou a presença de choque, a contagem de leucócitos acima de 11.500/mm3 e a disfunção ventricular moderada ou importante e a necessidade de ventilação mecânica. Fatores de risco; Os antecedentes mórbidos devem ser bem investigados para esclarecer possíveis causas e fatores precipitantes. História de hipertensão arterial sistêmica, cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, arritmias, doenças valvares, insuficiência renal, assim como adesão à terapia medicamentosa no domicílio, são de fundamental importância na investigação. O edema agudo de pulmão pode ser precipitado por diversas condições, e a rápida identificaçãoe o tratamento da causa são necessários para a estabilização do paciente. A diferenciação entre causas cardiogênicas e não cardiogênicas é essencial para a conduta. A mortalidade intra-hospitalar pode alcançar até 21%. Fisiopatologia; Edema agudo de pulmão cardiogênico O edema pulmonar cardiogênico é caracterizado pela transudação de excesso de fluido nos pulmões secundária a um aumento na pressão do átrio esquerdo e, consequentemente, aumento da pressão em veias e capilares pulmonares. Isso ocorre na ausência de alteração na permeabilidade ou integridade dos capilares pulmonares. O resultado é a filtração de um liquido pobre em proteína através do endotélio pulmonar para o interstício e espaços alveolares, levando à uma diminuição da capacidade de difusão, hipóxia e respiração curta. O balanço de fluido entre o interstício e o leito vascular do pulmão, assim como em outras microcirculações é determinado pelas forças de Starling, que controlam o fluxo de um líquido por meio de uma membrana. Pode ser expressado em uma equação: Filtração = (Lp x S) x (delta pressão hidráulica - delta pressão oncótica) = Lp x S) x [( Pcap- Pif) - s(#cap- #if)] Sendo que: Lp é a unidade de permeabilidade (ou porosidade) da parede do capilar; S é a superfície livre para a movimentação do fluido; Pcap e Pif são as pressões hidráulicas do capilar e do interstício, respectivamente; 5 Mírian Santos 7° semestre @medbymins #cap e #if são as pressões oncóticas do fluido do capilar e interstício, respectivamente; a pressão oncótica intersticial é derivada primariamente de proteínas ftltradas do plasma e, em menor grau, de proteoglicanos presentes no interstício; s representa o coeficiente de reflexão de proteínas através da parede do capilar (com valores variando de O, se completamente permeável, a 1, se completamente impermeável). Em capilares normais há filtração de pouca quantidade de líquido com baixo teor de proteína. No EAP cardiogênico o aumento da filtração transcapilar decorre da elevação na pressão do capilar pulmonar. Mecanismos compensatórios, particularmente a ativação dos sistemas renina-angiotensina e nervoso simpático, resultam em taquicardia e elevação da resistência vascular periférica, as quais, nesse contexto, podem ser deletérias: a taquicardia, com encurtamento da duração da diástole, impede o ventrículo esquerdo de se encher e o aumento da resistência periférica faz com que haja maior tensão na parede ventricular esquerda, aumentando, assim, a demanda de oxigénio. Essas mudanças podem levar a um aumento adicional na pressão de enchimento do ventrículo esquerdo e a mais formações de edemas. Papel dos linfáticos: a taxa de acúmulo de líquido no pulmão em determinado grau de aumento da pressão no capilar pulmonar é relacionada à capacidade funcional dos linfáticos em remover o excesso de líquido, o que varia de paciente para paciente e de acordo com a duração da doença. Com um aumento agudo na pressão do capilar pulmonar, o linfático não consegue aumentar sua capacidade de remoção de líquido. Como resultado, o edema pulmonar pode ocorrer com pressões tão baixas quanto 18 mmHg. Em contrapartida, pacientes com IC crônica, nos quais a pressão do capilar pulmonar é persistentemente elevada, têm aumento na capacidade do linfático em remover líquido e não desenvolvem edema pulmonar até uma maior pressão no capilar ser atingida. EAP cardiogênico pode ser causado por um déficit funcional do átrio esquerdo ou um déficit ventricular esquerdo. Como causas de déficit funcional do átrio esquerdo, destacam-se: Situações que elevam a FC: fibrilação atrial, taquicardia ventricular, febre e estresse, que acabam diminuindo o enchimento ventricular e causando um acúmulo retrógrado de fluxo; Outras situações que diminuem o enchimento ventricular, como tumores atriais (mixoma é o mais comum), trombos localizados em 6 Mírian Santos 7° semestre @medbymins válvulas e presença de membrana no átrio esquerdo (Cor triatrium); Insuficiência mitral aguda: pode ser resultante de disfunção do músculo papilar ou ruptura da cordoalha tendínea, mais comumente vistos no infarto do miocárdio. Nessas situações, o edema agudo ocorre em função de uma incapacidade do átrio esquerdo em contrair para encher o ventrículo. Como disfunções ventriculares esquerdas, encontram-se: DISFUNÇÃO SISTÓLICA: diminuição da contratilidade do coração, resultando em diminuição do DC, sendo a causa mais comum de EAP. Essa é a situação encontrada na IC congestiva, que, por sua vez, pode ter como causas principais a doença coronariana, HAS, doença valvular e miocardiopatia dilatada idiopática. Outras causas menos comuns são drogas (antraciclinas), distúrbios metabólicos (hipotireoidismo) ou miocardite viral aguda (vírus Coxsackie B ou Echcvirus). Nessas situações, a diminuição do DC ocasiona a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e do sistema nervoso simpático, e a resposta compensatória de retenção de água e sódio pode levar em última instancia ao EAP; DISFUNÇÃO DIASTÓLICA: ocorre quando há uma diminuição da complacência ventricular, o que acaba impedindo um enchimento ventricular adequado durante a diástole. A principal causa é a hipertrofia ventricular esquerda (hipertensiva ou por miocardiopatia restritiva), em que ocorre um acúmulo retrógrado do fluxo sanguíneo, mesmo se a função contrátil se encontra preservada (fração de ejeção normal); aumento do fluxo no ventrículo esquerdo: pode ser induzido por ruptura do septo ventricular (no IAM), insuficiência aórtica ou retenção de sódio por doença renal; obstrução ao fluxo do ventrículo esquerdo: resultante de estenose aórtica, miocardiopatia hipertrófica ou hipertensão arterial grave. NÃO CARDIOGÊNICO Os principais mecanismos fisiopatológicos envolvidos no EAP de causa não cardiogênica são: Permeabilidade capilar aumentada na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA): presente em diversas situações, como sepse, infecção pulmonar aguda, trauma, intoxicação por agentes inalatórios, inalação de concentrações elevadas de oxigênio, CIVD, hemorragia alveolar difusa e neoplasias, dentre outras. 7 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Elas têm em comum o fato de acabarem ocasionando lesão da membrana alveolocapilar e, com isso, aumentarem o extravasamento de líquido para o interstício. Na sepse e quando existe isquemia, ocorre ainda a liberação de citocinas, como interleucinas 1 e 8 e fator de necrose tumoral, que também são responsáveis pelo aumento da permeabilidade capilar pulmonar. A SDRA pode apresentar-se nas primeiras horas após o evento desencadeador ou aparecer somente alguns dias depois (de 1 a 3 dias); Altitudes elevadas: geralmente acontece em indivíduos que sobem rapidamente a altitudes maiores que 3.600 a 3.900 m. A hipóxia a que o organismo é submetido nessas situações faz com que haja vasoconstrição, desencadeando, então, a cascata que culminará com o edema; Edema pulmonar neurogênico: ocorre em situações como trauma, pós-cirurgia, convulsão, hemorragia intraparenquimatosa e subaracnoide e terapia eletroconvulsiva. A maioria dos casos é solucionada entre 48 e 72 horas e o prognóstico geralmente depende do curso do quadro neurológico de base; Tromboembolismo: a embolia pulmonar pode causar edema por meio de três mecanismos: lesão do endotéliovascular e, com isso, extravasamento de líquido para o terceiro espaço; elevação da pressão hidrostática nos capilares pulmonares; e diminuição da taxa de filtração de fluidos pleurais decorrente da congestão do sistema venoso e linfático ocasionado pelo êmbolo. Vale salientar que a maioria dos derrames encontrados nesse caso são exsudatos (resultado de uma lesão vascular), mas em 20% dos casos encontram-se transudatos (causados pelo aumento da pressão hidrostática nos capilares pulmonares). Dentre outras causas não cardiogênicas para a congestão pulmonar, destacam-se: Edema pulmonar de reperfusão: ocasionado pelo aumento de permeabilidade do parênquima pulmonar após a reperfusão de áreas distais da oclusão tromboembólica; Edema pulmonar de reexpansão: ocorre apôs a rápida expansão do parênquima pulmonar colapsado pós- pneumotórax, toracocentese de grandes volumes ou remoção de tumor endobrônquico; Overdose de opiáceos: a fisiopatologia envolvida nesse tipo de edema parece estar relacionada à 8 Mírian Santos 7° semestre @medbymins toxicidade direta da droga, hipoxemia e acidose secundária à hiperventilação; Toxicidade pelo salicilato: ocorre mais em pacientes com uso crónico de salicilato ou em pacientes com overdose de ácido acetilsalicílico. Nesses casos, o tratamento de eleição é a hemodiálise. Manifestações clínicas; Os pacientes se apresentam com desconforto respiratório severo, taquipneia e ortopneia com ausculta de estertores em todo o campo pulmonar e saturação arterial de oxigênio usualmente menor que 90%. As características clínicas do EAP cardiogênico e não cardiogênico são semelhantes. O edema intersticial causa dispneia, taquipneia, hipoxemia, tosse com expectoração de fluido espumoso ou mesmo com coloração rósea pelo extravasamento de hemácias para o alvéolo. O EXAME FÍSICO é sempre anormal. A presença de terceira bulha é um achado relativamente específico para confirmar a existência de pressão diastólica final do VE elevada e sugere etiologia cardiogênica, assim como um sopro de estenose ou regurgitação valvar. Pode haver estase jugular e edema visceral, mas esses achados não são específicos da etiologia cardiogênica e podem estar presentes em outras afecções, como doenças pulmonares com hipertensão pulmonar ou doença hepática. A congestão pulmonar leva a uma semiologia de crepitações inspiratórias e roncos. Edema Agudo de Pulmão Cardiogênico: História típica de dispneia paroxística noturna ou ortopneia; A ausculta de terceira bulha, ou ritmo de galope, tem sido associada a pressões atriais superiores a 15 mmHg e aumento nos níveis de peptídeo natriurético cerebral, sendo bastante específica para aumento da pressão diastólica do ventrículo esquerdo, assim como para sua disfunção (especificidade em torno de 90 a 97%). Taquicardia, diaforese e vasoconstricção periférica (extremidades frias, pálidas e cianóticas); Edema agudo de pulmão não cardiogênico: A história deve ser dirigida para o diagnóstico da causa subjacente do edema agudo e focar-se em sinais e sintomas de infecção, queda do nilvel de consciência associada a vômitos trauma ingestão de medicações. Porem a história nem sempre é confiável, tornando as vezes impossível distinguir entre o edema agudo de pulmão cardiogênico e não 9 Mírian Santos 7° semestre @medbymins cardiogênico. Por exemplo: o IAM pode ser seguido por sincope e aspiração do suco gástrico o que pode levar a um EAP não cardiogênico. O exame clínico abdominal e pélvico é importante. Quadro de abdome agudo, como perfuração visceral, pode acarretar edema pulmonar agudo não cardiogênico em pacientes sob ventilação mecânica incapazes de fornecer dados sobre sintomas abdominais. Pacientes com edema não cardiogênico, diferentemente daqueles com edema cardiogênico, frequentemente apresentam extremidades quentes, mesmo na ausência de sepse. DIFERENÇA DE IC x EAP O edema agudo cardiogênico decorre de uma elevação súbita da pressão do átrio esquerdo e, consequentemente, do capilar pulmonar, numa rapidez que os vasos linfáticos pulmonares não têm tempo de se adaptar, levando a um quadro de congestão intersticial pulmonar e alveolar de instalação aguda. Associado a isso, há ativação neuro- hormonal e disfunção na barreira endotelial, forçando o fluido capilar para o espaço intersticial e para dentro dos alvéolos. Diferente da IC, no EAP não há necessidade de haver um estado de hipervolemia para que o aconteça a inundação alveolar; o que ocorre é uma ruptura no equilibrio da distribuição de líquido para os pulmões, levando ao EAP. Na gênese do edema agudo de pulmão, a importância da redistribuição de líquidos nos pulmões é maior que o acúmulo total de líquido. Diagnóstico; A abordagem diagnóstica no EAP é feita em duas fases distintas. A primeira consiste na constatação clínica do estado de congestão pulmonar grave, visando a aplicação de medidas terapêuticas gerais para estabilização do quadro clínico. A segunda é a fase diagnóstica, direcionada para identificar a etiologia, visando medidas terapêuticas específicas. O diagnóstico do EAP é clínico e sua gravidade depende da quantidade de líquido acumulado nos pulmões. Radiografia de tórax: os achados radiográficos não possibilitam a distinção entre o edema pulmonar cardiogênico e o não cardiogênico. Opacidade bilateral, característica do edema, pode ser heterogênea ou assimétrica, pode haver imagem compatível com derrame pleural. Cardiomegalia pode sugerir o diagnóstico de edema agudo cardiogênico. Há 10 Mírian Santos 7° semestre @medbymins explicações para a limitada acurácia diagnóstica da radiografia de tórax: qualquer material radiopaco que preencha o espaço alveolar produzirá a mesma imagem do edema pulmonar, problemas técnicos como rotação, inspiração, ventilação com pressão positiva, penetração do filme e também há variabilidade na interpretação da radiografia entre os observadores. Gasometria arterial: para quantificar o grau de hipóxia e realizar o acompanhamento do paciente. Eletrocardiograma: pode mostrar alterações compatíveis com isquemia miocárdica, o que sugere o diagnóstico de edema de causa cardíaca, além de taquiarritmias e sobrecarga de câmeras esquerdas. Hemograma: ajuda a identificar a presença de infecção ou anemia. Esta pode precipitar o edema pulmonar cardiogênico. Enzimas cardíacas: aumento de troponina pode indicar destruição de miócitos, porém essa enzima também pode estar elevada cm casos de sepse grave, na ausência de evidências de isquemia miocárdica. Dosagem de peptídio natriurético cerebral (BNP): a dosagem plasmática do nível de BNP tem sido utilizada com frequência na avaliação de pacientes com edema pulmonar. Há estudos mostrando que seu uso combinado com outros recursos diagnósticos na sala de emergência melhora o cuidado do paciente com dispneia aguda, reduz tempo de internação custo do tratamento. Cateter de artéria pulmonar: a cateterização da artéria pulmonar, utilizada para obter o valor da pressão do capilar pulmonar, é considerada essencial para determinar a causa do edema pulmonar agudo, permitindo, também, a monitoração das pressões de enchimento cardíaco, do débito cardíaco e da resistência vascular sistêmica durante o tratamento. Uma pressão de oclusão da artéria pulmonar superior a 18 mmHg indica edema pulmonar cardiogênico ou porsobrecarga de volume. Ecocardiografia: a ecocardiografia transtorácica no leito pode avaliar a função miocárdica e valvular e auxiliar na identificação da causa do edema pulmonar. Estudos demonstram que exame deve ser o primeiro na abordagem para examinar a função ventricular esquerda e valvular em pacientes nos quais a história, os exames físico e laboratorial e a radiografia de tórax não estabelecem causa do edema pulmonar. Diagnóstico diferencial; As duas principais doenças pulmonares confundidas com EAP são a hemorragia alveolar difusa e a neoplasia. Hemorragia alveolar difusa, frequentemente secundária à capilarite pulmonar ou deterioração alveolar difusa, deve ser considerada 11 Mírian Santos 7° semestre @medbymins sempre que houver insuficiência respiratória associada à inexplicada e importante queda da concentração de hemoglobina. Hemoptise pode ser mínima ou ausente antes da intubação orotraqueal. No entanto, broncoscopia após a intubação revela, invariavelmente, secreção hemorrágica nas vias aéreas. Neoplasia pode se disseminar pelos pulmões tão rapidamente que a insuficiência respiratória pode ser confundida com SDRA. Esse quadro é mais comum no linfoma ou leucemia aguda, mas disseminação linfática de tumores sólidos pode, ocasionalmente, se comportar de maneira similar. Pneumonia intersticial aguda (síndrome de Hamman-Rich) é uma forma rara e fulminante de dano pulmonar que se apresenta agudamente (após dias ou semanas do início dos sintomas) e acomete mais comumente indivíduos anteriormente saudáveis. Tratamento Medidas iniciais - A paciente deverá permanecer sentada durante a fase aguda, com o objetivo de reduzir o retorno venoso para os pulmões. Tal posição também aumenta a amplitude das incursões diafragmáticas. Oxigênio suplementar deve ser fornecido imediatamente. Medidas para o alívio da congestão pulmonar, independente da etiologia, incluem diuréticos potentes, vasodilatadores (exceto na presença de hipotensão arterial) e morfina. O equilíbrio entre o risco fetal representado pelos agentes terapêuticos e o risco materno associado ao EAP deve ser determinado caso a caso. O bem estar materno em tal condição de risco de vida é prioritário. Deve-se manter constante oximetria de pulso, além da monitorização cardíaca materna e fetal. Suporte respiratório - Oxigênio úmido é administrado por máscara facial a 10 L/min. A utilização de ventilação com pressão positiva de forma não invasiva (CPAP/BIPAP por máscara facial) é de grande valor no suporte ventilatório e pode protelar, ou até mesmo evitar a necessidade de intubação orotraqueal e ventilação mecânica nos casos mais graves. Como a resposta à terapêutica inicial costuma ser rápida e dramática, a intubação orotraqueal deve ser reservada para casos onde se constante falha da terapia conservadora. Quando há necessidade de ventilação mecânica, a paciente deve ser ventilada com O2 a 100%, pequeno volume de ar corrente (5-7 ml/kg) e alta frequência respiratória (24- 30/min.), objetivando manter uma saturação arterial de O2 entre 90 e 95%7 (IC). Diuréticos - A furosemida IV é o diurético de escolha no EAP, cuja dose deve ser 12 Mírian Santos 7° semestre @medbymins individualizada de acordo com as condições clínicas. São recomendadas doses iniciais de 20-40 mg IV e doses adicionais, se necessário, e lentamente, para evitar ototoxicidade. Em casos de diurese inadequada, a infusão IV contínua mostrou-se mais eficaz do que o uso de bolus intermitente. Seu efeito inicial sobre a capacitância venosa é de redução aguda e substancial da pré-carga, com alívio quase imediato da sintomatologia. A melhora da congestão pulmonar é mantida posteriormente por indução da diurese. Vasodilatadores - A redução rápida da pós- carga pode ser obtida com uso de vasodilatadores, desde que a pressão arterial sistólica possa ser assegurada em valores não inferiores a 90 mmHg. Nos locais onde o atendimento inicial não dispor de agentes intravenosos, podem ser usados nitratos de administração sublingual. A nitroglicerina IV é o agente vasodilatador inicialmente indicado. O uso de nitroprussiato de sódio deve ser reservado para os casos com resposta insuficiente à nitroglicerina e somente por curtos períodos de tempo. A intoxicação por cianeto pode ocorrer devido ao uso prolongado da droga, com efeitos deletérios fetais e maternos. A insuficiência aórtica e mitral graves e a hipertensão arterial sistêmica são as causas que mais se beneficiam de tais agentes. Morfina - Promove maior tolerância à hipercapnia e reduz a pré-carga e os reflexos pulmonares responsáveis pela dispneia, aliviando a ansiedade. Apesar de extremamente útil no tratamento, deve ser usada com cautela, pelo risco de depressão respiratória. Seu uso só deve ser recomendado em locais com disponibilidade para pronta intubação orotraqueal, quando necessário. A dose é de 2 mg IV, que pode ser repetida a cada 5 minutos até obter melhora da ansiedade causada pelo desconforto respiratório. A administração de naloxone na dose de 0,4 mg em intervalos de três minutos serve de antídoto específico (IC). Cardioversão elétrica - Está indicada como tratamento imediato quando taquiarritmias determinam o quadro de EAP, na tentativa de reversão para o ritmo sinusal. Agentes inotrópicos (como a dobutamina IV) Podem ser necessários especialmente nos casos acompanhados por hipotensão e choque (IC). Betabloqueadores - O EAP é considerado uma contraindicação ao uso de betabloqueadores. Mas em pacientes, mesmo com congestão pulmonar, que necessitam de redução da frequência 13 Mírian Santos 7° semestre @medbymins cardíaca (EAP associado à isquemia miocárdica aguda, estenose mitral, hipertireoidismo), pode ser considerado o uso de metoprolol IV. A paciente com EAP poderá ser tratada inicialmente na sala de emergência, mas a unidade de terapia intensiva (UTI) é o ambiente mais indicado para a estabilização hemodinâmica, principalmente naqueles raros casos que necessitam de ventilação mecânica. Após as medidas iniciais de estabilização, as causas primárias para descompensação do quadro devem ser investigadas, pois a resolução completa do EAP pode necessitar de medidas específicas para a causa determinante. Tratamento da IC na emergência 1) Detecção de fatores desencadeantes: Fatores relacionados ao paciente: má- adesão; ingestão excessiva de sal; estresses físicos e emocionais; uso de toxinas cardíacas; Eventos cardíacos agudos: arritmias; SCA ou IAM; HAS não controlada; doença valvar progressiva; Eventos não-cardíacos agudos: embolia pulmonar; anemia e sangramentos; infecção sistêmica; distúrbios tireoidianos; progressão da disfunção renal; AVC; Efeitos adversos de medicações: medicações depressoras cardíacas ou retentoras de sal. 2) Definição do Perfil Clínico/Hemodinâmico: Sinais de Congestão Pulmonar ou Sistêmica: ortopnéia, pressão venosa jugular elevada, edema de membros ou sacral, estertores pulmonares, ascite, refluxo hepatojugular, hepatomegalia, redistribuição da trama vascular na radiografia de tórax. Sinais de Hipoperfusão: extremidades frias, TEC > 3 segundos, hipotensão, oligúria, aumento das escorias nitrogenadas, diminuição progressiva dos níveis de sódio, Pressão de Pulso Proporcional < 25% (PAS-PAD/PAS). OBS: Os estertores pulmonares estão ausentes em 80% dos pacientes devido àcompensação proporcionada pelos linfáticos pulmonares. A pressão arterial (PA) é um dos principais marcadores de hipoperfusão, mas pode ocorrer hipoperfusão periférica com níveis pressóricos acima de 100 mm de Hg. 3) Abordagem terapêutica Guiada por Perfil Clínico/Hemodinâmico: PERFIL A (quente e seco): Não apresenta dados objetivos da descompensação. Deve-se pesquisar outras causas que justifiquem seus sintomas como tromboembolismo 14 Mírian Santos 7° semestre @medbymins pulmonar, exacerbação aguda de DPOC, pneumonia, etc. PERFIL B (quente e úmido): Os diuréticos de alça (furosemida) são à base do tratamento deste paciente. A dose recomendada é bolus 20-40 mg IV na admissão. A dose deverá ser titulada de acordo com o débito urinário. Para melhor monitorização do débito urinário o paciente poderá ser submetido a sondagem vesical de demora. Pacientes usuários crônicos de diuréticos e com IRC podem necessitar de doses mais elevadas para compensação. Combinação de diuréticos (hidroclorotiazida, espironolactona) pode ser útil em pacientes com resistência a ação dos diuréticos. O uso de ventilação mecânica não invasiva nestes pacientes diminui necessidade de intubação orotraqueal e reduz mortalidade em curto prazo. Deve ser estimulada em pacientes cooperativos com desconforto respiratório sem necessidade iminente de intubação orotraqueal. Os vasodilatadores endovenosos possibilitam a melhora rápida dos sintomas, muitas vezes evitando a necessidade de intubação orotraqueal. A dose é deve ser titulada de acordo com os níveis pressóricos e melhora da congestão. PERFIL C (frio e úmido): Este grupo apresenta um grande desafio ao médico na sala de urgência. Pode ser necessária a redução da dose ou até mesmo a interrupção temporária de inibidores da ECA e betabloqueadores se hipotensão importante (choque cardiogênico). Abordagem sugerida de acordo com os níveis de pressão arterial sistólica (PAS): A. PAS > 100mmHg ==> Vasodilatadores (nitroglicerina e nitroprussiato); B. PAS entre 85 – 100 mmHg ==> Inicio cauteloso de vasodilatadores ou inotrópicos; C. PAS < 85 mmHg ==> Inotrópicos (dopamina / noradrenalina); dobutamina após PAS > 90 mmHg. A medicação inicial deverá ser individualizada para cada paciente levando em conta não somente os níveis pressóricos como também a presença de arritmias como fibrilação atrial, taquicardia ventricular, concomitância de síndrome coronariana aguda, sepse ou suspeita de infeção, valores de uréia e creatinina, etc. Pontos chaves: 1) Pacientes betabloqueados podem necessitar de doses elevadas de dobutamina. 15 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 2) Levosimendana e Milrinone é uma boa opção em pacientes betabloqueados. 3) Após a estabilização clínica e hemodinâmica, introduzir vasodilatadores orais ou endovenosos para o desmane dos agentes inotrópicos. 4) Dobutamina deverá ser utilizada com cautela em pacientes com FC>100 bpm. PERFIL L (frio e seco): É o subgrupo menos frequente na sala de urgência. Avaliar se paciente não esta usando dose excessiva de diurético ou vasodilatadores. Pode ser necessário prova de volume cuidadosa (250 ml SF0,9% em 1 hora) com avaliação clínica rigorosa. Após prova de volume pode migrar para perfil A ou perfil C. Alta suspeição de infeção associada. 4) Terapia Medicamentosa Associada: Aproveitar a internação para o início das medicações com impacto na sobrevida destes pacientes. 1) Tentar utilizar inibidores da ECA (iECA). * Se intolerância aos iECAs (tosse) utilizar bloqueadores do receptor da angiotensina (BRA). * Contra-indicações: angioedema, estenose artéria renal bilateral, K+ > 5 mEq/l, CR > 2,5 mg/dl, estenose aórtica grave. 2) Sempre iniciar betabloqueadores, se não houver contra-indicação, após melhora da congestão. * Contra-indicações: Asma, BAVs avançados, bradicardia sinusal FC < 50 bpm. 3) Somente utilizar digoxina se paciente continuar sintomático após otimização do iECA e betabloqueadores ou mais precocemente se necessário controle da FC durante fibrilação atrial. 4) Após otimização do iECA e betabloqueador se persistir sintomas optar por iniciar espironolactona ou BRA, nunca utilizar iECA+BRA+espironolactona associados. 5) Critérios para Alta Hospitalar: - Melhora da classe funcional (NYHA) com o tratamento e manutenção desta com as medicações VO; - Doença de base controlada; - Fator precipitante corrigido; - Peso seco atingido; - Ausência de sinais de hipoperfusão periférica; - Mais de 48 horas após suspensão dos agentes inotrópicos; - Função renal estável ou melhorando; - Educação do paciente e dos familiares sobre restrição de sódio, limitação hídrica, medicações, etc; - Retorno breve agendado. 16 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 17 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 18 Mírian Santos 7° semestre @medbymins REFERÊNCIAS 1) Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia; 2) Tratado Socesp; 3) Tratado de Medicina de Urgência e Emergência Pronto-Socorro e UTI. 4) Pneumologia de Harisson.
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