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Beatriz Figueiredo Santos CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CRANIOFACIAL Dentro da ortodontia, vamos falar daquilo fisiológico, daquilo que contribuiria para o desenvolvimento normal, destacando alguns padrões que fogem dessa normalidade. Porque precisamos estudar essa parte de crescimento? Principalmente, porque os conceitos de crescimento craniofacial nos norteiam para o diagnóstico, lembrando que aquilo que é esperado nos norteia para uma média, mas temos as características individuais, familiares, que vamos levar em consideração para elaborar o plano de tratamento, onde algumas vezes vamos precisar redirecionar esse crescimento, ou estimulá-lo, e quais os limites e possibilidades. Então, quando falamos em termos da ortodontia, quando pensamos nas possibilidades do tratamento a gente tem que analisar quais fatores contribuíram para o paciente chegar nessa condição. Teorias - John Hunter (século XVIII): falava que a mandíbula cresce em direção posterior, por reabsorção do bordo anterior e aposição óssea do bordo posterior do ramo ascendente. Então, esse crescimento da mandíbula ele passou a ser mais pontuado no estudo do crescimento craniofacial. Isso porque, dentre os ossos que nós temos, a mandíbula ela tem uma associação muito pontual com o tecido somático. Sendo assim, podemos associar a mandíbula maturação esquelética do indivíduo, ao estágio de desenvolvimento desse indivíduo. Além disso, temos a ATM, que é uma situação diferenciada. - Sicher e Weinmann: falavam em domínio sutural, nós temos que observar áreas onde as suturas não estão ossificadas, como as fontanelas, que se encontram abertas que são zonas de potencial crescimento. Quando elas estivem ossificadas, já não haveriam uma situação de crescimento já tão pontual. - Scott: falava do septo nasal, vamos analisar a cartilagem e periósteo, essa região nasal tem a ver com a função de respiração, então, quando ela se estabelece no modo respiratório normal (nasal) ela indica um importante fator de crescimento e estabilidade. Essa zona é uma zona de estímulo de crescimento. - Mass: falava da matriz funcional, onde deve-se ter a ligação da forma e da função. - Van Limborgh: falava que o ambiente interfere muito. Já que o meio ambiente por interferir, favorecendo ou não essa genética. - Enlow: falava do crescimento em V, salientava o crescimento da mandíbula, onde as estrurutas que tem uma “ponta” mais livre, elas crescem no sentido da abertura das extremidades. - Petrovic: falava em servossistema, deve-se considerar os fatores sistêmicos e biomecânicos do indivíduo. Conceito (definições): - Crescimento: mudanças dimensionais na quantidade de substância viva (volume). - Desenvolvimento: mudanças estruturais e fisiológicos do óvulo ao estado adulto (diferenciação celular). - Maturação: estabilização do estado adulto (crescimento e desenvolvimento). Então, quando falamos em crescimento craniofacial, os fatores ambientais e a programação genética deve, algumas vezes, trabalhar em sentido oposto ou favorecendo. Ex.: retrognatismo mandibular. A compreensão de como os genes orquestram a morfologia facial é incompleta, mas pode levar ao mapeamento genético, trazendo informações sobre que aspectos da morfologia facial poderiam ser impactados por variáveis específicas; elucidar a etiologia das malformações e estabelecer modelos preditivos de como a face cresce. A literatura sobre forma da face sugere a existência de uma transmissão hereditária: - Desenvolvimento inicial da mandíbula (segregação de vários genes); - Altura facial e posição da mandíbula; - Alterações na forma facial. Nós temos alguns fatores que vão ser considerados primários ou secundários aos padrões de crescimento craniofacial: - Primário: genética - Secundário: tudo que envolve o meio ambiente. Crescimento pré e pós-natal: - Intrauterina: embrionária, fetal - 1° infância: do nascimento aos 1/2 anos de idade - 2° infância: a partir dos 2 a 9 anos de idade - Adolescência: dos 10 anos aos 20 anos (OMS) Período pré-natal: - Tudo no período pré-natal, principalmente no primeiro trimestre, é fator de risco ou fator favorável. A gestação deveria ser bem acompanhada, bem nutrida, ter hábitos corretos, gestante para não ter doenças, menos estresse. - A face tem um crescimento mais tardio. - Os processos faciais superiores, arcos braquiais e palato secundário (4° a 8° semana). - Nossa face é composta por dois processos frontonasais, duas hemimaxilas que se fundem e duas hemimandibulas que se fundem. Ou seja, se der um estimulo a uma hemi mandíbula, ela responde como um todo. - O canino é muito difícil para o alinhamento. Tem um trajeto eruptivo tortuoso, raiz longa e fica no meio termo do frontonasal e das hemimaxilas. Quando se pensa em estímulos para o canino tem que pensar nesses dois componentes no mínimo. Período pós-natal: - O recém-nascido apresenta desproporção entre o crânio cefálico e a face (distoclusão estrutural). A mandíbula se encontra mais para trás. Isso acontece para facilitar a passagem no parto natural. - O movimento de ordenha estimula a mandíbula. - Durante a amamentação, o bebê não solta o peito materno, respirando exclusivamente pelo nariz, mantendo e reforçando o circuito de respiração nasal. - O intenso trabalho muscular, avançando e retruindo a mandíbula, (mm. pterigoideos mediais e laterais, masseteres e temporais) fazem com que a zona bilaminar ou retrodiscal das ATM's, altamente inervada e vascularizada, receba uma quantidade considerável de estímulos neurais, obtendo como resposta o crescimento posteroanterior mandibular. Período de crescimento: - neonatal: 0 a 28 dias (puerpério) - infância - adolescência: pré-puberal (liberação de hormônios); puberal (surto de cresciemento); pós-puberal Crescimento residual Crescimento tardio dos arcos e da base óssea. Foi avaliada as mudanças de crescimento que podem afetar as dimensões craniofaciais em indivíduos entre 13 e 17 anos de idade. Estes observaram mudanças nas dimensões craniofaciais pós-púberes nas dimensões vertical e sagital. O fenômeno do crescimento residual esteve mais presente no sexo masculino. Afeta a mandíbula mais particularmente e, em menor grau, a dimensão sagital da maxila. Esse crescimento residual precisa ser acompanhado, principalmente em pacientes que tem tendência a prognatismo. Tipos de crescimento Geral ou somático Neural: Crescimento rápido do sistema nervoso, nos dois primeiros anos de vida Genital: Latência até o início da puberdade; daí para frente ocorre um crescimento rápido. Linfóide: Desenvolvimento máximo até 8 a 10 anos, depois ocorre involução. Velocidade de crescimento (crescimento diferenciado) Cada tipo de crescimento tem uma velocidade, uma resposta diferente, entre outros. Ossificação - Intramembranosa: Iniciada em um modelo conjuntivo (diferenciação celular): osteoblastos sintetizam matriz osteóide que sofre mineralização progressiva. Ocorre na maior parte dos ossos do complexo craniofacial. - Endocondral: é iniciada sobre um modelo cartilaginoso que é autodestruído, gradualmente, e substituído por tecido ósseo formado por células mesenquimais indiferenciadas, advindas do tecido conjuntivo adjacente. Esse tipo de ossificação está associado às articulações móveis e à maior parte da base craniana. Mecanismos e movimentos do crescimento - Remodelação: processo de aposição e reabsorção óssea, que permite alteração na forma, dimensões e proporções do osso. (Da uma nova forma utilizando alguns mecanismos). - Recolocação: processo de mudança na posição espacial de uma área, a fim de que seja mantida a proporção entre as estruturas ósseas. (A medida que vai crescedo vai havendo um rearranjo). + : locais de aposição // - : locais de reabsorção- Deslizamento: é a aposição e reabsorção (remodelação) direta do tecido ósseo e as combinações características de ambas, produzindo um movimento na superfície de aposição (recolocação). - Deslocamento: é o movimento de todo o osso como uma unidade. Resulta da tração ou pressão pelos diferentes ossos e seus tecidos moles, separando-se à medida em que continuam crescendo. Obs.: dividimos apenas de forma didática, esses movimentos acontecem juntos. Surtos de crescimento Maior quantidade de crescimento em um menor intervalo de tempo. Surto de Crescimento Puberal. Para o sexo feminino o marco de crescimento é a menarca (11-13 anos), conta- se um e no máximo dois anos para ter o surto de crescimento. Para o sexo masculino isso é postergado. Sítios de crescimento Campos de crescimento com significado ou repercussão especial: Côndilo Tuberosidade maxilar Sincondroses da base do crânio Suturas e processos alveolares A maxila cresce em todas as direções do espaço (trajeto predominante para cima e para trás). Este crescimento superior e posterior provoca um deslocamento contrário para frente e para baixo. A estrutura facial média e a cavidade nasal crescem em uma razão que seja proporcional as necessidades do oxigênio, visto que a maxila e a mandíbula crescem em uma taxa comparativamente elevada para prosseguir com o aumento do metabolismo que continua até a idade adulta. Ou seja, se a criança é respiradora bucal, temos um retorno menor de crescimento sagital da maxila. Cada parte do complexo craniofacial tem seu próprio padrão de maturação e sua própria taxa de crescimento. Para a obtenção de uma face harmônica e equilibrada é necessário que haja um crescimento sincronizado entre os ossos que fazem parte do complexo craniofacial, principalmente nas dimensões com orientação semelhante. Avaliação do crescimento craniofacial - Peso - Estrutura - Idade óssea A idade óssea por meio da radiografia de mão e punho considera maturação óssea pelo grau de mineralização dos ossos das epífises, dos metacarpianos e das falanges e dos ossos do punho (estágios de ossificação do osso escafoide ou de cada centro de ossificação). Sistema de diagnóstico facial - Padrão I: Face harmônica. Maxila e mandíbula bem relacionadas entre si. Caso o paciente tenha alguma mal oclusão tenho que me preocupar em manter essa relação de equilíbrio em maxila e mandíbula. - Padrão II: degrau sagital positivo entre a maxila e a mandíbula, decorrente de protrusão maxilar e/ou deficiência mandibular (perfil facial convexo). (A gente chama de positivo, porque a maxila naturalmente está mais a frente que a mandíbula.) Para o ajuste leva-se em consideração a base do crânio. - Padrão III: degrau sagital negativo entre a maxila e a mandíbula, em razão do prognatismo mandibular e/ou deficiência maxilar. O perfil facial torna-se reto ou côncavo. Precisa de intervenção precoce. - Padrão face longa: lábios não se tocam, o paciente tem exposição dos dentes anterosuperiores em repouso e da gengiva sorrindo, causada pelo excesso de terço inferior da face, incluindo a maxila. Ou seja, temos uma facilidade quando vamos fazer movimento na vertical e dificuldade quando vamos fazer estímulos no sentido transversal (em geral). - Padrão face curta: a altura facial total é diminuída, pela deficiência desproporcional do terço facial inferior. Ou seja, temos uma facilidade quando vamos fazer movimento na transversal e dificuldade quando vamos fazer estímulos no sentido vertical (em geral). Referências: VELLINI, F. Ortodontia: Diagnóstico e planejamento clínico, 7ª ed. São Paulo 2008 MOYERS, R.E. Ortodontia. Trad. Martins, D.R. 3a ed., 1979.
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