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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Neoplasia Introdução → Conceito - Neoplasia é uma lesão constituída por proliferação celular anormal, descontrolada e autônoma – tendendo a aumentar de tamanho independentemente de seu ambiente local. Entretanto, sua autonomia não é absolutamente completa, pois todas as neoplasias dependem do hospedeiro para sua nutrição e suprimento sanguíneo, algumas requerem ainda suporte endócrino. Em geral com perda ou redução de diferenciação, em consequência de alterações em genes ou proteínas que regulam a multiplicação e a diferenciação das células; Maior taxa de proliferação = Menor taxa de diferenciação - Neoplasia significa “novo crescimento”. Diz-se que células neoplásicas são transformadas porque continuam a se replicar, aparentemente “desatentas” às influências regulatórias que controlam o crescimento celular normal; → Estímulos para Formação de Células Neoplásicas - Radiação; - Exposição a substâncias químicas; - Exposição a alguns patógenos, como vírus; → Neoplasia x Outros Distúrbios - O que diferencia uma neoplasia de uma displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia de proliferação; OBS.: Quando ocorre em um órgão sólido, o maior número de células de uma neoplasia forma um tumor. OBS: Como reconhecer clinicamente uma neoplasia? Pelo tumor, ou seja, o aumento do volume tecidual, através da palpação exame de imagem – percebe-se uma massa de células de crescimento descoordenado das células normais. → Neoplasia x Tumor x Câncer - O termo tumor é mais abrangente, pois significa qualquer lesão expansiva ou intumescimento localizado, podendo ser causado por muitas lesões, como inflamações e hematomas. Entretanto, na prática, as neoplasias são chamadas de tumores; OBS.: Para diferenciar o aumento de volume tecidual de uma neoplasia para um processo inflamatório é importante recorrer ao exame de imagem, pois o primeiro mostra um volume celular e o segundo é apenas edema. - Dos pontos de vista clínico, evolutivo e de comportamento, as neoplasias são divididas em duas grandes categorias: benignas e malignas; - Tumor Benigno: Quando suas características micro e macroscópicas são consideradas relativamente “inocentes” indicando que permanecerá localizado, e é tratável com a remoção cirúrgica, geralmente o paciente sobrevive. Porém, em algumas situações, os tumores benignos podem produzir mais do que massas localizadas e, algumas vezes, são responsáveis por doença grave; - Tumor Maligno: É coletivamente referido como câncer. Eles aderem a qualquer parte onde se agarram e de maneira obstinada. O termo maligno aplica-se a uma neoplasia indicando que a lesão pode invadir e destruir estruturas adjacentes e disseminar-se para locais distantes – metástases – para causar morte. Mas é importante enfatizar que nem todos os cânceres prosseguem em um curso tão mortal; - Todos os tumores, benignos e malignos, têm dois componentes básicos: - Parênquima: É constituído por células neoplásicas ou transformadas. O parênquima da neoplasia determina principalmente o seu comportamento biológico, e é desse componente que deriva o seu nome; - Estroma: É constituído por tecido conectivo, vasos sanguíneos e células inflamatórias derivadas do hospedeiro. O estroma é crucial para o crescimento da neoplasia, uma vez que contém o suprimento sanguíneo e dá suporte ao crescimento das células parenquimatosas; → Nomenclatura - Os tumores podem ser classificados de acordo com vários critérios: - Comportamento Clínico: Benignos ou malignos; - Aspecto Microscópico: Critério histomorfológico; - Origem da Neoplasia: Critério histogenético; - O critério mais adotado para se dar nome a um tumor é o histomorfológico – a neoplasia é identificada pelo tecido ou célula proliferante: - Na forma mais usual de denominar um tumor, toma-se o nome da célula, do tecido ou do órgão reproduzido e acrescentam-se os sufixos “oma”, “sarcoma” ou “carcinoma”; 1° O sufixo “oma” é empregado na denominação de qualquer neoplasia, benigna ou maligna; 2° A palavra carcinoma indica tumor maligno que reproduz epitélio de revestimento. Quando usada como sufixo, também indica malignidade. Ex.: Adenocarcinoma e hepatocarcinoma; 3° O termo sarcoma refere-se a uma neoplasia maligna mesenquimal. Usado como sufixo, indica tumor maligno de determinado tecido. Ex.: Fibrossarcoma e lipossarcoma; 4° A palavra blastoma pode ser usada como sinônimo de neoplasia e, quando empregada como sufixo, indica que o tumor reproduz estruturas com características embrionárias. Ex.: Nefroblastoma e neuroblastoma; - Além desses, o nome de um tumor pode conter outros termos para indicar certas propriedades da lesão ou sua diferenciação: carcinoma epidermoide – o epitélio neoplásico produz ceratina tendo diferenciação semelhante à da epiderme – adenocarcinoma cirroso – o estroma do tumor é muito desenvolvido e duro, dando consistência muito firme à lesão; - Teratomas: Tumores benignos ou malignos originados de células toti ou multipotentes que se originam nas gônadas – testículos ou ovários – e, menos frequentemente, em outras sedes. Como se originam de células pluripotentes, são constituídos por tecidos derivados de mais de um folheto embrionário; - Em teratomas benignos, há diferenciação de tecidos, que formam estruturas organoides – pele e anexos, ossos, dentes, olho, entre outras – porém dispostos desordenadamente; - Em teratomas malignos, a diferenciação é limitada – são imaturos – encontrando-se apenas raros esboços organoides de permeio com as células que sofreram transformação maligna. Características das Neoplasias - Na prática, a determinação de benigno versus maligno é efetuada usando critérios clínicos e anatômicos bem estabelecidos, mas algumas neoplasias desafiam a fácil caracterização. Tais problemas não são a regra, contudo, há quatro características fundamentais pelas quais se podem distinguir tumores benignos e malignos: diferenciação e anaplasia, velocidade de crescimento, invasão local e metástase; → Diferenciação e Anaplasia - São características observadas apenas em células parenquimatosas que constituem os elementos transformados das neoplasias. A diferenciação refere-se à extensão em que as células tumorais parenquimatosas se assemelham as células normais morfológica e funcionalmente; - Neoplasias Benignas: São compostas por células bem diferenciadas que se assemelham estreitamente a antecessoras normais. Nesses tumores, normalmente as mitoses são raras e sua configuração é normal. Ex.: Condroma → as células tumorais parecem condrócitos normais e produzem matriz cartilaginosa, alargando e debilitando o osso afetado, aumentando assim o risco de fraturas; - Neoplasias Malignas: Caracterizam-se por ampla gama de diferenciações celulares parenquimatosas, desde as bem diferenciadas até as completamente indiferenciadas. Diz-se que as neoplasias malignas compostas por células indiferenciadas são anaplásicas. Essa falta de diferenciação estrutural e funcional, ou anaplasia, das células normais, é considerada uma característica de malignidade. Ex.: Adenocarcinomas bem diferenciados da tireoide podem conter folículos com aparência normal, algumas vezes pode ser difícil distinguir esses tumores das proliferações benignas. - O estroma que contém o suprimento sanguíneo é crucial para o crescimento de tumores, mas não ajuda na separação dos tumores benignos dos malignos; - A quantidade de tecido conjuntivo estromal determina, porém, a consistência da neoplasia. Certos cânceres induzem um estroma fibroso abundante – desmoplasia – tornando-os duros, os chamados tumores cirrosos; → Taxa de Crescimento - Muitos tumores benignos crescem lentamente, e a maioria dos cânceres cresce muito mais depressa, eventualmente disseminando-se localmente e para sítios distantes – por metástase – e causando morte.Mas há muitas exceções a essa generalização, e alguns tumores benignos crescem com mais facilidade do que alguns cânceres; - Ex.: a taxa de crescimento dos leiomiomas – tumores benignos da musculatura lisa – do útero https://pt.wikipedia.org/wiki/Condr%C3%B3cito https://pt.wikipedia.org/wiki/Matriz_cartilaginosa é influenciada pelos níveis circulantes de estrógenos, podendo aumentar rapidamente de tamanho durante a gravidez e então cessar o crescimento, tornando-se em grande parte fibrocalcificados após a menopausa; - Outras influências, como a adequação de suprimento sanguíneo ou restrições de pressão, também podem afetar a taxa de crescimento dos tumores benignos; - Apesar dessas advertências e da variação na taxa de crescimento de uma neoplasia para outra, geralmente é verdadeiro que muitos tumores benignos aumentam de tamanho lentamente no período de meses a anos; - Em relação à taxa de crescimento dos tumores malignos, normalmente, os tumores mal diferenciados tendem a crescer mais rapidamente do que os tumores bem diferenciados; - Entretanto, há ampla variação na taxa de crescimento. Alguns crescem lentamente durante anos e então entram em fase de crescimento rápido – devido a emergência de um subclone agressivo de células transformadas; - Outros crescem de forma relativamente lenta e uniforme. Raramente, o crescimento pode chegar quase a parar. De forma ainda mais rara, alguns tumores primários, particularmente coriocarcinomas, podem se tornar totalmente necróticos; - Apesar dessas exceções, a maioria dos cânceres aumenta progressivamente de tamanho com o tempo, alguns lentamente, outros rapidamente, mas a noção de que eles “são completamente inesperados” não é verdadeira; - Os tumores malignos de crescimento rápido geralmente contêm áreas centrais de necrose isquêmica, porque o suprimento sanguíneo tumoral, derivado do hospedeiro, falha em manter o mesmo ritmo para atender às necessidades de oxigênio da massa celular em expansão; → Invasão Local - Além do desenvolvimento de metástases, a invasividade local é a característica mais confiável que distingue os tumores malignos dos benignos; - Uma neoplasia benigna permanece localizada em seu sítio de origem. Não tem capacidade de se infiltrar, invadir ou metastatizar-se para locais distantes, como as neoplasias malignas; - Nessas primeiras, a maioria desenvolve uma cápsula fibrosa envoltória – derivada do estroma do tecido hospedeiro ou do estroma do próprio tumor – que separa o tumor do tecido hospedeiro, como os adenomas. Algumas podem ser nitidamente demarcadas do tecido hospedeiro, mas não encapsuladas, como o leiomioma do útero. Outras podem ainda não ser encapsulados nem nitidamente definidos, como é provável de se observar em algumas neoplasias vasculares benignas da derme; - Os cânceres crescem por meio de infiltração, invasão, destruição e penetração do tecido circundante. Não desenvolvem cápsulas bem definidas. Há, porém, situações ocasionais em que um tumor maligno de crescimento lento parece ser enganosamente envolvido pelo estroma do tecido hospedeiro circundante, mas o exame microscópico normalmente revela diminutos pedículos cancerosos que penetram a margem e infiltram as estruturas adjacentes. O modo infiltrativo de crescimento torna necessária a remoção de ampla margem de tecido normal circunjacente, quando se tenta a excisão cirúrgica de um tumor maligno; → Metástase - As metástases são implantes secundários de um tumor, as quais são descontínuas com o tumor primário e localizadas em tecidos remotos. Mais do que qualquer outro atributo, a propriedade da metástase identifica uma neoplasia como maligna. Entretanto, nem todos os cânceres têm capacidade equivalente de se metastatizar; - Em geral, quanto mais anaplásica e maior a neoplasia primária, mais provável será a disseminação metastática, mas, como na maioria das regras, há exceções. Sabe-se que alguns cânceres extremamente pequenos metastatizam-se, por outro lado, algumas lesões de aparência ameaçadora podem não fazer isso. A disseminação prejudica muito e pode obstar a possibilidade de cura da doença; - As neoplasias malignas disseminam-se por uma de três vias: semeadura nas cavidades corporais, disseminação linfática ou disseminação hematogênica; - A disseminação por semeadura ocorre quando as neoplasias invadem uma cavidade corporal natural. Esse modo de disseminação é particularmente característico dos cânceres de ovário, que muitas vezes cobrem amplamente as superfícies peritoneais; - A disseminação linfática é mais típica dos carcinomas, enquanto a disseminação hematogênica é favorecida pelos sarcomas. Contudo, há numerosas interconexões, entre os sistemas linfático e vascular, assim, todas as formas de câncer podem se disseminar através de um ou ambos os sistemas; OBS.: UMA NEOPLASIA BENIGNA PODE SE TORNAR MALIGNA? - Em alguns casos sim! Em cavidade oral, por exemplo, existe o adenoma pleomórfico e o carcinoma ex-adenoma pleomórfico. O primeiro, trata-se de um tumor benigno e o segundo maligno. Na literatura, há autores que defendem a ideia de que ainda no primeiro padrão já existem áreas malignas, mas estas não são vistas no histopatológico; - Acontece também de o paciente findar o tratamento como neoplasia benigna e depois observar uma recidiva com células malignas se proliferando. É importante ressaltar que, esse padrão se resume a um grupo muito pequeno de neoplasias. No geral, neoplasias benignas não evoluem para malignas, são poucos as exceções. Aspectos Histológicos - Microscopicamente, o que se observa são: áreas de necrose, cariólise, picnólise e cariorrexe; - Macroscopicamente, os tumores podem ser císticos ou sólidos; 1 - Cístico: Cavidade patológica revestida por um epitélio; 2 - Sólido: 2.1. Tipo Nodular: O tumor forma uma massa expansiva que tende a ser esférica. Pode ser benigno ou maligno; 2.2. Tipo Vegetante: Projeta para a superfície. Pode ser benigno ou maligno; 2.2.1. Pólipo 2.2.2. Papilomatoso 2.2.3. Couve-flor 2.3. Tipo Infiltrante: Praticamente exclusivo de tumor maligno. Nele ocorre infiltração, mas sem formar nódulos ou vegetações. Por isso, o órgão torna-se espessado, mas fica menos deformado do que nas outras formas; 2.4. Tipo Ulcerado: Praticamente exclusivo de tumor maligno. A lesão cresce infiltrando-se nos tecidos adjacentes e ulcera-se no centro, formando uma cratera que geralmente tem bordas endurecidas, elevadas e regulares; OBS.: Podem haver associações entre os tipos de crescimento.
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