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DIRETRIZES PARA O RASTREAMENTO DE CA DE COLO UTERINO Dra. Mariana Semedo 8º termo - 2021.2 RASTREAMENTO Uso sistemático de um teste ou exame, em mulheres assintomáticas, com a finalidade de identificar aquelas com probabilidade de desenvolver determinada doença. ● Na saúde da mulher, os métodos de rastreamento são o preventivo e a mamografia ● Estratégia de prevenção secundária ● Objetivos: ○ Identificar lesões precursoras ○ Diagnosticar lesões iniciais PROGRAMA DE RASTREAMENTO APROPRIADO ● A doença deve ser um problema importante de saúde pública: implantar um exame para rastreamento gera muito menos gastos que uma quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia. ● A doença deve ter estádio pré-clínico detectável, e deve ser detectada o mais precocemente possível. ● Após estabelecer os programas de rastreamento, devem existir recursos disponíveis de diagnóstico e tratamento dos casos positivos. ● A política de rastreamento deve contemplar todos os indivíduos expostos ao risco para ser efetiva. HISTÓRICO: PAPANICOLAOU ● George Papanicolaou trabalhou em um laboratório de análises ● Em 1923 começou a analisar as células de secreções uterinas nas mulheres e percebeu então que algumas células apresentavam alterações de núcleo e citoplasma ANATOMIA E HISTOLOGIA DO COLO UTERINO ● Anatomicamente, temos 02 regiões no colo uterino, o ectocérvice, que é a porção externa, e o endocérvice, que é a porção interna. ● Histologicamente, o ectocérvice é composto por células epiteliais escamosas e o endocérvice por células epiteliais glandulares. ● No exame de Papanicolaou, nós utilizamos a espátula de Ayre para coletar o material da ectocérvice e a escovinha para a endocérvice. ○ É importante que no momento que posicionarmos o espéculo, a gente tenha a visualização completa do colo uterino, de forma que seja possível coletar o material de forma adequada. CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ● O agente causador do câncer de colo de útero é, exclusivamente, o vírus HPV, que é um vírus transmitido sexualmente. ○ Logo, só tem risco de desenvolvimento dessa doença a paciente que tem vida sexual ativa. Logo, não se colhe papanicolaou de mulher virgem. ● A princípio, o vírus vai infectar uma única célula na camada basal. Com o tempo, essa infecção vai se espalhando, então mais células começam a ser acometidas, até que o vírus consegue tomar as células da camada basal e ultrapassá-la, determinando o câncer de colo útero propriamente dito. ● O tempo entre a infecção de uma célula pelo HPV e o desenvolvimento de uma neoplasia é de cerca de 10 anos. Classificação das Neoplasias: essa classificação é feita com base na relação núcleo/citoplasma. Uma célula cervical superficial normal possui citoplasma grande e núcleo pequeno, ocorre que a neoplasia determina uma alteração do núcleo, que começa a aumentar de tamanho, sendo que quando esse aumento é pequeno temos um NIC1, e quando o núcleo aumenta tanto que torna-se maior que o citoplasma, temos um NIC3. !!! ● HPV/NIC1 = lesões intraepiteliais de baixo grau ● NIC2/NIC3 = lesões intraepiteliais de alto grau COBERTURA DO RASTREAMENTO ● O preventivo deve cobrir a maior parte da população. ● No Brasil, predomina o rastreamento do tipo “oportunístico": a paciente procura serviço de saúde por outras causas e acaba por fazer o exame. ○ Devemos aproveitar as idas da paciente na UBS para realizar o preventivo, já que elas raramente irão apenas para isso. ○ Além disso, também é interessante promover ações que estimulem as mulheres a buscarem atendimentos, aproveitar momentos de grande visibilidade, como por exemplo o dia da mulher e o outubro rosa para organizar eventos que chamem a mulher nas unidades que visem o atendimento exclusivo desse público. ● Vale ressaltar que o ideal seria o rastreamento “organizado”: controle das mulheres em falta, através de convocações, cartas convite, etc. PERIODICIDADE !!! ● Mulheres entre 25 e 64 anos que já iniciaram a vida sexual. ● Realizar 1x ao ano e, após dois exames anuais consecutivos negativos, a cada 03 anos ○ Então: anualmente e, após 02 anos negativos, trienalmente. ● Não é recomendada a realização do preventivo antes dos 25 anos, pois caso seja identificada uma lesão precursora, não podemos realizar nenhum procedimento para remoção dessa lesão antes dos 25 anos, pois para remover a lesão é realizada a retirada de uma parte do colo uterino, o que pode acabar atrapalhando a vida obstétrica da paciente. ○ Por “atrapalhar a vida obstétrica” entenda que a paciente pode desenvolver incompetência istmo-cervical e estenose de colo uterino. POPULAÇÃO ALVO ● Início da coleta aos 25 anos para mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual ● Última exame aos 64 anos, desde que: ○ Sem história prévia de doença neoplásica pré-invasiva ○ Pelo menos 02 exames negativos consecutivos nos últimos 05 anos ● Mulheres com mais de 64 anos que nunca fizeram o exame: realizar dois exames com intervalo de 01 a 03 anos, se ambos negativos, a paciente está dispensada do rastreamento ADEQUABILIDADE DA AMOSTRA ● Logo após a coleta, a amostra deve ser fixada na lâmina. Se demorar muito para fixar ou colocar o jato do fixador em distância inadequada, as células podem morrer, resultando em amostra insatisfatória. ● Outro fator que pode levar à amostra insatisfatória são mulheres na menopausa, que possuem uma vagina seca (pouco hormônio), podendo resultar em hipocelularidade e amostra insatisfatória. ● Diante de uma amostra insatisfatória: repetir exame em 6 a 12 semanas. ● Vale dizer que o ideal é que na amostra estejam presentes tanto as células da ectocérvice (escamosas), quanto da endocérvice (glandulares). Se houver somente células escamosas: repetir o exame em 1 ano. SITUAÇÕES ESPECIAIS !!! Gestantes: ● Boa oportunidade para coleta, pois frequentam o posto de saúde com maior frequência. ● Pode ser coletado normalmente, mas evidentemente com um cuidado extra na coleta da endocérvice (não inserir toda a escovinha e girar lentamente) ● Seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária (mesmas regras dos demais). Pós-menopausa: ● Seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária (mesmas regras dos demais). ● Pode acontecer de a paciente ter uma vagina muito atrófica/seca, podendo resultar em uma amostra insatisfatória (isso é visível na inspeção, a vagina é esbranquiçada, menos rugosa). Nestes casos, proceder com estrogenização previamente à coleta. ● Estrogenização: pomada vaginal de estrogênio que a paciente deve utilizar por 21 dias, para tentar recuperar as células da vagina e colher o preventivo adequadamente posteriormente (com células suficientes). Histerectomizadas: ● Caso tenha sido uma histerectomia total, podem ser dispensadas do rastreamento, desde que seja uma paciente sem história prévia de diagnóstico ou tratamento de lesões cervicais de alto grau. ● Caso a histerectomia seja parcial (ou subtotal), o colo permanece lá e permanece sendo suscetível ao HPV, logo, devemos continuar colhendo o preventivo de rotina. ● Histerectomia por lesão precursora ou câncer do colo do útero: deverá ser acompanhada de acordo com a lesão tratada. Imunossuprimidas: HIV ou uso de imunossupressores (transplantadas, em quimioterapia, uso crônico de corticosteróides) !!!!!! ● Iniciar assim que houver o início da atividade sexual, independentemente da idade ○ É a única situação em que a coleta pode ocorrer antes dos 25 anos ● Periodicidade: exames semestrais no primeiro ano e, depois, anuais (a partir do 2º ano) ○ A mulher imunodeprimida tem mais chance de ser infectada pelo HPV. ● Caso a paciente seja HIV+ com CD4+ <200 céls/mm³, deve-se realizar o rastreamento semestralmente (realizar preventivo de 6 em 6 meses). RESULTADO: ALTERAÇÕES NORMAIS ● Resultado citológico dentro dos limites da normalidade – 100% normal. ● Alterações celulares benignas (reativas ou reparativas). ● Inflamação sem identificação de agente – se não há identificação de agente, é normal. ● Metaplasia Escamosa ou Metaplasia Escamosa Imatura (“ferida” no colodo útero) ● Tecido de reparação. ● Atrofia com inflamação → paciente que tem poucas células vaginais, decorrente da menopausa. ○ Se mencionar dificuldade no diagnóstico: estrogênio tópico por 21 dias (estrogenização) e repetir 5-7 dias após parada do uso. ● Achados Microbiológicos (Lactobacillus sp; Cocos; Outros Bacilos – microbiota normal) RESULTADO: ALTERAÇÕES ANORMAIS !!! Anomalias de células epiteliais: ● ASC-US: alterações de significado indeterminado. ● LSIL/LIBG: lesão intraepitelial de baixo grau (HPV/NIC1). ○ Ambas são consideradas lesões de baixo grau → conduta passiva (acompanhar). ● ASC-H: alteração de significado indeterminado, não podendo excluir lesão de alto grau. ● HSIL/LIAG: lesão intraepitelial de alto grau (NIC2/NIC3). ○ Ambas são consideradas lesões de alto grau → conduta ativa (intervenção diagnóstica). ● Carcinoma pavimento celular. Anomalias de células glandulares: ● Alteração de significado indeterminado das células glandulares. ● Adenocarcinoma (CA de útero) ○ Uma célula cancerígena pode “cair” do útero para o colo do útero, podendo ser diagnosticado câncer de útero através do preventivo. CONDUTA !!!!! Lesões de Baixo Grau: HPV/NIC1 e AS-CUS ● A conduta é o acompanhamento, ou seja, repetir o preventivo de acordo com a faixa etária. ● Se AS-CUS: ○ Pacientes < 25 anos: repetir citologia em 03 anos ○ Pacientes entre 25 e 29 anos: repetir citologia anualmente ○ Pacientes > 30 anos: repetir citologia em 06 meses ● Se HPV/NIC1: ○ Pacientes < 25 anos: repetir citologia em 03 anos ○ Pacientes > ou igual 25 anos: repetir citologia em 06 meses Lesões de Alto Grau: NIC2/NIC3 e ASC-H ● Sempre encaminhar direto para a colposcopia COLPOSCOPIA ● Basicamente, coloca-se alguns ácidos no colo do útero, que vão criando uma reação. ● Através do colposcópio (que tem uma lente de aumento de até 16 vezes), observamos como os ácidos irão reagir. ● Caso seja visualizada uma reação/lesão “estranha”, deve ser encaminhado para biópsia. BOM DE PROVA! ● Faixa etária para rastreamento. ● Situações especiais. ● Tipos de achado anormais. ● Conduta.
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