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LABORATÓRIO MORFOFUNCIONAL UC2– MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA . AULA 2 SP4: INFESTAÇÃO/ INFECÇÃO POR PARASITAS 1. Revisar, no sentido crânio-caudal, os órgãos do abdome e pelve que formam o intestino delgado, suas relações anatômicas e sua função; Abdome Limites: paredes abdominais anterolateral e posterior, diafragma e abertura pélvica superior. Conteúdos: estômago, intestino delgado, intestino grosso, apêndice vermiforme, pâncreas, baço, fígado, vesícula biliar, rins, ureteres e glândulas suprarrenais. Pelve Limites: abertura pélvica superior, cintura pélvica e diafragma pélvico. Conteúdos: genitália interna, genitália externa, bexiga, uretra, reto e ânus. Intestino delgado A maior parte da digestão e absorção de nutrientes ocorre no intestino delgado. O intestino delgado começa no músculo esfíncter do piloro do estômago, serpenteia a parte central e inferior da cavidade abdominal e, por fim, se abre no intestino grosso. A média é de 2,5 cm de diâmetro; seu comprimento é de aproximadamente 3 m na pessoa viva. 2. Descrever a anatomia do intestino delgado, suas porções, limites e características de diferenciação macroscópica internar e externas; Anatomia do intestino delgado O intestino delgado é dividido em três regiões. A primeira é o duodeno, a região mais curta, que é retroperitoneal. Inicia-se no músculo esfíncter do piloro do estômago e tem a forma de um tubo em C. Estende- se por aproximadamente 25 cm até que se funde com o jejuno. O jejuno é a próxima parte e tem aproximadamente 1 m de comprimento e se estende até o íleo. A última e mais longa região do intestino delgado, o íleo, mede aproximadamente 2 m e junta-se ao intestino grosso em um esfíncter de músculo liso chamado óstio ileal. 3. Descrever as características microscópicas (mucosa e submucosa) de diferenciação entre duodeno, jejuno e íleo. Duodeno Mucosa: epitélio colunar (cilíndrico) simples (lâmina epitelial), uma camada conectiva (conjuntiva) tecidual (lâmina própria) e uma camada muscular lisa (lâmina muscular). As células epiteliais intestinais (enterócitos) são sobrepostas por uma camada de glicoproteínas e mucina. Submucosa: tecido conjuntivo frouxo, numerosos vasos sanguíneos e o plexo de Meissner. Muscular: musculatura circular interna e uma longitudinal externa, entre as quais se encontra o plexo de Auerbach. Jejuno Mucosa: revestida por epitélio colunar simples na superfície luminal (lâmina epitelial). Ela contém enterócitos e células caliciformes. Achados característicos são as criptas de Lieberkühn e vilosidades digitiformes que se projetam no lúmen intestinal. De forma semelhante ao duodeno, células de Paneth são encontradas na profundidade das criptas. A camada epitelial é seguida por uma camada de tecido conjuntivo (lâmina própria) e uma camada muscular (lâmina muscular da mucosa). Submucosa: tecido conjuntivo frouxo com vasos sanguíneos, linfonodos (gânglios linfáticos) e o plexo de Meissner. Estrutura básica: mucosa, submucosa e muscular. Achados importantes: plexo de Auerbach, glândulas de Brünner (secreção mucosa contendo bicarbonato, que serve para neutralizar o ácido gástrico), criptas de Lieberkühn, células de Paneth (imunidade inata da mucosa por meio da secreção de substâncias antimicrobianas). O duodeno é rico em enterócitos absortivos, células caliciformes produtoras de muco e células endócrinas produtoras de hormônio (hormona) peptídeo. Estrutura básica: mucosa, submucosa, muscular e serosa Achados importantes: criptas de Lieberkühn, vilosidades digitiformes, células de Paneth, plexo de Meissner, plexo de Auerbach, folículos linfoides isolados Mucosa: vilos revestidos por epitélio cilíndrico simples; com células abortivas (seta 6); células caliciformes (seta 7); lâmina própria (seta 8); Cripta de Lieberkuhn (seta 9); muscular da mucosa (seta 11); Submucosa: glândula de Brünner ou duodenais. Muscular: uma camada interna circular e uma externa longitudinal de musculatura lisa entre as quais encontra-se o plexo de Auerbach. Serosa: epitélio escamoso (pavimentoso) simples e uma camada de tecido conectivo subjacente (lâmina própria serosa). Histologicamente o jejuno se diferencia do restante do intestino delgado pela ausência das glândulas de Brünner (duodeno) e placas de Peyer (íleo), mas estão presentes folículos linfoides isolados. Íleo Mucosa: epitélio colunar (cilíndrico) simples (lâmina epitelial), contendo enterócitos e células caliciformes. Subjacente encontra-se uma camada de tecido conjuntivo (lâmina própria) e uma camada muscular (lâmina muscular da mucosa). Comparado ao resto do intestino delgado as pregas circulares são relativamente planas e as vilosidades relativamente curtas. Submucosa: vasos sanguíneos, linfonodos (gânglios linfáticos) e o plexo de Meissner. Muscular: uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa. Serosa: epitélio escamoso (pavimentoso) simples e por uma camada de tecido conjuntivo subjacente (lâmina própria da serosa). Um achado característico do íleo são as placas de Peyer situadas na mucosa. Essas são uma importante parte do tecido linfático associado ao intestino ou GALT (gut-associated lymphoid tissue). Uma placa possui cerca de 2 a 5 centímetros de extensão e consiste em cerca de 300 folículos linfoides agregados e tecido parafolicular linfoide. O abaulamento em forma de domo sobre cada folículo é chamado de domo folicular. Células M (micropregas) são encontradas no epitélio do domo, que são contadas dentre as células epiteliais associadas aos folículos ou FAE (do inglês follicle-associated epithelial cells). Sua função é capturar antígenos (antigénios) do lúmen intestinal e transportá- los às células apresentadoras de antígenos (antigênicos) (APC). Estrutura básica: mucosa, submucosa, muscular e serosa Achados importantes: plexo de Meissner e placas de Peyer (agregados de nódulos linfáticos que constituem um componente principal do tecido linfático 4. Descrever os mecanismos de agressão à mucosa intestinal e consequentes lesões causadas pela Giárdia lamblia. G. lamblia é um parasito monoxeno de ciclo biológico dueto. A via normal de infecção do homem é a ingestão de cistos. Após a ingestão do cisto, o desencistamento é iniciado no meio ácido do estômago e completado no duodeno e jejuno, onde ocorre a colonização do intestino delgado pelos trofozoítos. Quando se examinam biópsias intestinais de indivíduos infectados através de microscopia óptica, observa- se que podem ocorrer mudanças na arquitetura da mucosa. Ela pode se apresentar completamente normal ou com atrofia parcial ou total das vilosidades. Empregando microscopia eletrônica, observa-se que os trofozoítos de Giardia aderidos ao epitélio intestinal podem romper e distorcer as microvilosidades do lado que o disco adesivo entra em contato com a membrana da célula. Além disso, há evidências sugerindo que o parasita produz, e possivelmente libera, substâncias citopáticas na luz intestinal. A Giardia contém várias proteases, algumas delas capazes de agir sobre as glicoproteínas da superfície das células epiteliais e romper a integridade da membrana. Entretanto, a explicação mais plausível para a alteração morfológica e funcional do epitélio intestinal é dada pelos processos inflamatórios aí desencadeados pelo parasito, devido à reação imune do hospedeiro. Tem sido observado, tanto no homem como em animais infectados, um aumento de linfócitos intraepiteliais antes mesmo de aparecer alteração das vilosidades. O parasito entra em contato com macrófagos que ativam os linfócitos T que, por sua vez, ativam os linfócitos B que produzem IgA e IgE. A IgE se liga aos mastócitos, presentes na superfície da mucosa intestinal, provocando a degranulação dessas células e a liberação de várias substâncias,entre elas a histamina. Desta forma, é desencadeada uma reação anafilática local (reação de hipersensibilidade), que provoca edema da mucosa e contração de seus músculos lisos, levando a um aumento da motilidade do intestino, o que poderia explicar o aumento da renovação dos enterócitos. As vilosidades ficam assim repletas de células imaturas (deficientes em enzimas) levando a problemas de má absorção e, consequentemente, à diarréia. Por outro lado, os mastócitos também liberam fatores ativadores de eosinófilos e neutrófilos, que agem mais tardiamente, provocando um aumento dessas células no local da reação, dando origem a uma reação inflamatória local, que pode ocasionar a lesão das células epiteliais. Durante a infecção por Giardia, os mastócitos por ela ativados também liberam prostaglandinas. Por outro lado, os trofozoítos podem ativar monócitos que também liberam essas substâncias. As prostaglandinas agem diretamente sobre a motilidade intestinal ou através da estimulação da adenilciclase da mucosa, provocando o aparecimento de diarréia. Obs.: a mucosa do estômago contém células lábeis Giardia lamblia – Patologia Imagens Mucosa (ecogênica) (difícil visualização): revestimento epitelial, tecido conjuntivo frouxo ou lâmina própria e muscularis mucosa (hipoecoica) (sempre visível). Submucosa (ecogênica) (sempre visível) Muscularis própria (hipoecoica) fibras circulares internas e longitudinais externas. (sempre visível) Serosa ou adventícia (ecogênica) (difícil visualização). Jejuno apresenta maior espessura e vilosidades na imagem do que o íleo LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TERAPÊUTICAS UC2 – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA . AULA 2 SP4: CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS PROTOZOÁRIOS CAUSADORES DE DOENÇAS 1. Identificar os principais protozoários causadores de doenças e caracterizá-los quanto à taxonomia, forma, tamanho, reprodução, ciclo de vida, formas de transmissão, patogenia, sintomatologia, diagnóstico, tratamento e profilaxia. Protozoários intestinais Giardia Doença: Giardia lamblia causa giardíase. Ciclo de vida consiste em dois estágios, o trofozoíto e o cisto. O trofozoíto é piriforme e apresenta dois núcleos, quatro pares de flagelos e um disco de sucção com o qual o organismo se adere à parede intestinal. O cisto oval exibe parede espessa, quatro núcleos e diversas fibras internas. Cada cisto origina dois trofozoítos durante a excistação no trato intestinal. Patogênese, transmissão: ocorre pela ingestão de cistos em alimentos e água contaminados por fezes. A excistação ocorre no duodeno, onde o trofozoíto se adere à parede intestinal, mas não invade. O trofozoíto causa inflamação da mucosa duodenal, acarretando má absorção de proteínas e gorduras. Diarreia aquosa (não sanguinolenta) e fétida é acompanhada por náusea, anorexia, flatulência e cólicas abdominais, sintomas que persistem por semanas ou meses, não ocorrendo febre. Tratamento e prevenção: o tratamento de escolha consiste em metronidazol (Flagyl) ou hidrocloreto de quinacrina. A prevenção envolve a ingestão de água fervida, filtrada ou iodinada. Entamoeba Doença: Entamoeba histolytica causa disenteria amebiana e abscesso hepático. Ciclo de vida: apresenta dois estágios: a ameba móvel (trofozoíto) e o cisto imóvel. O trofozoíto é encontrado no interior de lesões intestinais e extraintestinais, assim como nas fezes diarreicas. Os cistos predominam nas fezes não diarreicas e não são altamente resistentes, sendo prontamente mortos por fervura, mas não pela cloração dos suprimentos da água, sendo ainda removidos da água por filtração. O cisto possui quatro núcleos. A partir da excistação no trato intestinal, emerge uma ameba contendo quatro núcleos, que se divide e forma oito trofozoítos. O trofozoíto maduro apresenta um único núcleo com revestimento uniforme de cromatina periférica e um nucléolo central proeminente (cariossomo). Patogenia, transmissão: o organismo é adquirido pela ingestão de cistos transmitidos principalmente pela via fecal-oral a partir de alimentos e água contaminados. Não há reservatório animal. Os cistos ingeridos diferenciam-se em trofozoítos no íleo, mas tendem a colonizar o ceco e cólon. Os trofozoítos invadem o epitélio do cólon e secretam enzimas que causam necrose localizada, ocorrendo pequena inflamação no sítio. Quando a lesão atinge a camada muscular, forma-se uma típica úlcera em forma de “frasco” que pode comprometer e destruir grandes áreas do epitélio intestinal. A progressão até a submucosa leva à invasão da circulação portal por trofozoítos. O sítio mais frequente de doença sistêmica corresponde ao fígado, onde são formados abscessos contendo trofozoítos. Tratamento e prevenção: o tratamento de escolha para amebíase intestinal sintomática ou abscessos hepáticos consiste em metronidazol (Flagyl) ou tinidazol. Abscessos hepáticos não necessitam de drenagem. Portadores assintomáticos de cistos devem ser tratados com iodoquinol ou paromomicina. A prevenção envolve evitar a contaminação fecal de alimentos e água, assim como a adoção de medidas adequadas de higiene pessoal, como lavagem das mãos. Cryptosporidium Doença: Cryptosporidium parvum causa criptosporidiose, cujo principal sintoma é a diarreia. Ciclo de vida: os oocistos liberam esporozoítos formam trofozoítos. Seguem-se diversos estágios, envolvendo a formação de esquizontes e merozoítos. Eventualmente, formam- se microgametas e macrogametas; estes se unem e produzem um zigoto, o qual se diferencia em um oocisto. Esse ciclo exibe várias características comuns a outros esporozoários, por exemplo, Isospora. Patogênese, transmissão: transmissão fecal-oral de oocistos de origem humana ou animal. A excistação dos oocistos ocorre no intestino delgado, onde os trofozoítos (e outras formas) aderem-se à parede intestinal. Não ocorre invasão. O jejuno é o sítio mais intensamente infestado. Tratamento e prevenção: não há terapia efetiva com fármacos para pacientes imunocomprometidos, embora a paromomicina possa ser útil na redução da diarreia. O uso de nitazoxanida foi aprovado para o tratamento de diarreia causada por C. parvum em crianças com idades entre 1 e 11 anos. Não há vacina ou outras formas específicas de prevenção. A prevenção se da pela purificação dos suprimentos de água, incluindo filtração para remover os cistos, que são resistentes ao cloro utilizado para a desinfecção, pode impedir a criptosporidiose. Helmintos intestinais Ascaris Doença: Ascaris lumbricoides causa ascaridíase. Ciclo de vida: os humanos são infectados pela ingestão de ovos do verme em alimentos ou água contaminados por fezes humanas. Os ovos eclodem no intestino delgado e as larvas migram através da parede intestinal até a corrente sanguínea e, então, até os pulmões. Elas penetram nos alvéolos, deslocam- se pelos brônquios e pela traqueia e são então deglutidas. Tornam-se adultos no interior do intestino delgado. Vivem, então, no lúmen, não se aderindo à parede e obtendo seu sustento a partir dos alimentos ingeridos. Patogênese: o maior dano ocorre durante a migração larval, e não pela presença do verme adulto no intestino. Os principais sítios de reação tissular são os pulmões, onde ocorre inflamação com exsudato eosinofilico em resposta aos antígenos das larvas. Uma vez que os adultos obtêm sua nutrição a partir do alimento ingerido, a presença de uma grande quantidade de vermes pode contribuir para a má nutrição. A maioria das infecções é assintomática. Pneumonia por Ascaris, com febre, tosse e eosinofilia, pode ocorrer quando há grande quantidade de larvas. Dor abdominal e mesmo obstrução podem resultar da presença de vermes adultos no intestino. Tratamento e prevenção: mebendazol e pamoato de pirantel são eficazes; o descarteapropriado das fezes pode prevenir a ascaridíase. Ancylostoma e Necator Doença: Ancylostoma duodenale e Necator americanus causam infecção por ancilóstomos. Ciclo de vida: os humanos são infectados quando larvas filariformes, presentes no solo úmido, penetram na pele, geralmente nos pés ou nas pernas. As larvas são transportadas pelo sangue até os pulmões, migram para os alvéolos e deslocam-se pelos brônquios e pela traqueia, sendo, então, deglutidas. Desenvolvem-se em adultos no intestino delgado, aderindo-se à parede por meio de lâminas cortantes (Necator) ou dentes (Ancylostoma). Alimentam-se de sangue a partir dos capilares das vilosidades intestinais. Inicialmente, os ovos desenvolvem-se em larvas não infecciosas e que se alimentam (rabditiformes) e, em seguida, em larvas do terceiro estágio, infecciosas e que não se alimentam (filariformes), as quais penetram na pele para completar o ciclo. Patogênese: o principal dano é decorrente da perda de sangue no sítio de adesão no intestino delgado. O sangue é consumido pelo verme, assim como extravasa do sítio em resposta a um anticoagulante produzido pelo verme. Fraqueza e palidez acompanham a anemia microcítica causada pela perda sanguínea. Esses sintomas ocorrem em pacientes cujo estado nutricional não é capaz de compensar a perda sanguínea. A ancilostomose cutânea, uma pápula ou vesícula pruriginosa, pode ocorrer no sítio de entrada das larvas na pele. Pneumonia com eosinofilia pode ser observada durante a migração larval através dos pulmões. Tratamento e prevenção: mebendazol e pamoato de pirantel são eficazes; descarte apropriado do esgoto e uso de calçados são medidas de prevenção efetivas. Trichuris Doença: Trichuris trichiura causa infecção por verme chicote (tricuriose). Ciclo de vida: os humanos são infectados pela ingestão de ovos do verme nos alimentos ou na água contaminados por fezes humanas. Os ovos rompem no intestino delgado, onde as larvas se diferenciam em adultos imaturos. Essas formas migram para o cólon, amadurecem, acasalam e produzem diariamente milhares de ovos fertilizados, os quais são eliminados nas fezes. Ovos depositados no solo quente e úmido formam embriões. Quando os ovos embrionados são ingeridos, completa-se o ciclo. Patogênese: embora os vermes Trichuris adultos penetrem suas extremidades anteriores, semelhantes a pelos, na mucosa intestinal, não causam anemia significativa, contrariamente aos ancilóstomos. Trichuris podem causar diarreia, entretanto a maioria das infecções é assintomática. Trichuris podem também causar prolapso retal em crianças com infecção acentuada. O prolapso resulta do maior peristaltismo que ocorre em um esforço para expelir os vermes. Os vermes esbranquiçados podem ser observados na mucosa em prolapso. Tratamento e prevenção: mebendazol é o fármaco de escolha; o descarte apropriado das fezes previne a transmissão. Taenia Existem dois importantes patógenos humanos no gênero Taenia: T. solium (a tênia de suínos) e T. saginata (a tênia de bovinos). Taenia solium Doença: a forma adulta de T. solium causa teníase. As larvas de T. solium causam cisticercose. Propriedades: T. solium pode ser identificada por seu escólex, que apresenta quatro ventosas e um círculo de ganchos, e por suas proglotes grávidas, que possuem de 5 a 10 ramificações uterinas principais. Na teníase, a tênia adulta localiza-se no intestino humano. Isto ocorre quando humanos são infectados pela ingestão de carne de porco crua ou malcozida contendo as larvas, denominadas cisticercos. No intestino delgado, as larvas aderem-se à parede intestinal e crescem por cerca de três meses, originando vermes adultos que medem até cinco metros. As proglotes terminais grávidas, contendo diversos ovos, desprendem-se diariamente, são eliminadas nas fezes e acidentalmente ingeridas por porcos. Observe que os porcos são infectados pelos ovos do verme; portanto, as larvas (os cisticercos) são encontradas nos porcos. Um embrião com seis ganchos (oncosfera) emerge de cada ovo no intestino do porco. Os embriões penetram em um vaso sanguíneo e são transportados a músculos esqueléticos. Desenvolvem-se em cisticercos no músculo, onde permanecem até serem ingeridos por um humano. Os humanos são os hospedeiros definitivos, enquanto os porcos são os hospedeiros intermediários. Na cisticercose, ocorre uma sequência mais perigosa, quando um indivíduo ingere os ovos do verme em alimentos ou água contaminados por fezes humanas. Observe, que na cisticercose, os humanos são infectados pelos ovos excretados nas fezes humanas, e não pela ingestão de carne de porco malcozida. Além disso, os porcos não apresentam o verme adulto em seu intestino, de modo que não são a fonte dos ovos responsáveis pela cisticercose humana. Os ovos eclodem no intestino delgado, e as oncosferas penetram através da parede, atingem um vaso sanguíneo e podem disseminar-se a vários órgãos, especialmente olhos e cérebro, onde encistam e formam cisticercos. Patogênese: a tênia adulta aderida à parede intestinal causa poucos danos. Os cisticercos, ao contrário, podem tornar-se muito grandes, especialmente no cérebro, onde se manifestam como uma lesão ocupante de espaço. Cisticercos vivos não causam inflamação, entretanto, quando morrem, podem liberar substâncias que provocam uma resposta inflamatória. Por fim, os cisticercos calcificam-se. Prevenção: A prevenção da teníase envolve a cocção adequada da carne de porco e o descarte apropriado de dejetos, de modo a impedir que os porcos ingiram fezes humanas. A prevenção da cisticercose consiste no tratamento dos pacientes para impedir a autoinfecção, além da adoção de medidas higiênicas apropriadas, incluindo lavagem das mãos, a fim de prevenir a contaminação de alimentos com os ovos. Taenia saginata Doença: T. saginata causa teníase. As larvas de T. saginata não causam cisticercose. Propriedades: T. saginata apresenta escólex com quatro ventosas, porém, contrariamente a T. solium, nenhum gancho. Suas proglotes grávidas apresentam entre 15 e 25 ramificações uterinas principais, contrariamente às proglotes de T. solium, que apresentam entre 5 e 10. Os ovos são morfologicamente indistinguíveis daqueles de T. solium. Os humanos são infectados pela ingestão de carne bovina crua ou malcozida contendo larvas (cisticercos). No intestino delgado, as larvas aderem à parede intestinal e, após cerca de 3 meses, tornam- se vermes adultos, medindo até 10 m. As proglotes grávidas então desprendem-se, são eliminadas nas fezes e ingeridas pelo gado bovino. Os embriões (oncosferas) emergem dos ovos no intestino da vaca e penetram em um vaso sanguíneo, sendo transportados aos músculos esqueléticos. No músculo, desenvolvem-se em cisticercos. O ciclo é completado quando os cisticercos são ingeridos. Os humanos são os hospedeiros definitivos, enquanto o gado bovino é o hospedeiro intermediário. Diferentemente de T. solium, T. saginata não causa cisticercose em humanos. Patogênese: poucos danos resultam da presença do verme adulto no intestino delgado. Prevenção: a prevenção envolve a cocção adequada da carne bovina e o descarte adequado dos dejetos, de modo a impedir que o gado consuma fezes humanas. Enterobius Doença: Enterobius vermicularis causa infecção por oxiúros (enterabíase). Ciclo de vida: é confinado aos humanos. A infecção é adquirida pela ingestão dos ovos do verme. Os ovos rompem-se no intestino delgado, onde as larvas se diferenciam em adultos e migram para o cólon. Os vermes machos e fêmeas adultos vivem no cólon, onde ocorre o acasalamento. À noite, a fêmea migra para o ânus e libera milhares de ovos fertilizados na pele perianal e no meio ambiente. Em um período de seis horas, os ovos desenvolvem larvas e tornam-se infecciosos. A reinfecção pode ocorrer caso estes sejam transportados para a boca pelosdedos após o ato de coçar a pele pruriginosa. Patogênese: o prurido anal é o sintoma mais marcante. Acredita-se que o prurido seja uma reação alérgica à presença da fêmea adulta ou dos ovos. O ato de coçar predispõe à infecção bacteriana secundária. Tratamento: e prevenção mebendazol ou pamoato de pirantel são efetivos. Matam os vermes adultos no cólon, mas não os ovos, de modo que é indicado novo tratamento após duas semanas.; não há forma de prevenção. Fármacos Metronidazol (Flagyl): um nitroimidazol, é o amebicida misto de escolha no tratamento das infecções por amebas. Mecanismo de ação: As amebas possuem proteínas de transporte de elétrons de baixo potencial redox, tipo ferredoxina, que participa em reações de remoção de elétrons metabólicos. O grupo nitro do metronidazol é capaz de servir como aceptor de elétrons, formando compostos citotóxicos reduzidos que se ligam às proteínas e ao DNA, resultando na morte dos trofozoítos da E. histolytica. Tratamento recomendado para teníase Mebendazol: 200mg, 2 vezes ao dia, por 3 dias, via oral. Praziquantel: na dose de 50mg/kg/dia, durante 21 dias, associado à Dexametasona, para reduzir a resposta inflamatória, consequentemente à morte dos cisticercos. Tratamento recomendado para neurocisticercose Albendazol: 15mg/dia, durante 30 dias, divida em 3 tomadas diárias, associado a 100mg de metilpredinisolona, no primeiro dia de tratamento. Manter 20mg/dia, durante 30 dias. O uso de anticonvulsivantes a considerar, pois cerca de 62% dos pacientes desenvolvem epilepsia secundaria ao peristaltismo. Mecanismos de ação dos antiparasitários: Formação de radicais livres tóxicos Interferência no metabolismo Formação de substâncias tóxicas Ação sobre microtúbulos Efeitos neuromusculares Nifurtimox: usado no tratamento de infecções por T. cruzi (doença de Chagas). Mecanismo de ação: Sendo um composto nitroaromático, o nifurtimox sofre redução e, eventualmente, gera radicais de oxigênio intracelulares, como radicais superóxido e peróxido de hidrogênio. Esses radicais altamente reativos são tóxicos ao T. cruzi. O nifurtimox é administrado por via oral. Ele é extensamente biotransformado, e os metabólitos são excretados principalmente na urina. Cloroquina: fármaco de escolha no tratamento da malária eritrocítica por P. falciparum, exceto nas cepas resistentes. Mecanismo de ação: depois de atravessar as membranas do eritrócito e dos plasmódios, a cloroquina se concentra no vacúolo alimentar ácido do parasita, primariamente por sequestro iônico. No vacúolo alimentar, o parasita digere a hemoglobina celular do hospedeiro para obter os aminoácidos essenciais. Contudo, esse processo também libera grandes quantidades de heme solúvel, que é tóxico para o parasita. Para proteger-se, o parasita polimeriza o heme em hemozoína (um pigmento), que é aprisionado no vacúolo alimentar do parasita. A cloroquina liga-se especificamente ao heme, impedindo a polimerização em hemozoína. O aumento do pH e o acúmulo de heme resultam em lesões oxidativas às membranas fosfolipídicas, levando à lise do parasita e do eritrócito. Nitazoxanida: um derivado nitrotiazol, também está aprovada para tratar a giardíase. Contra a giardíase, a nitazoxanida é administrada em um curso de 3 dias de tratamento oral. Albendazol: possui baixa absorção via enteral, baixa toxicidade, necessita de monitorização hepática Mecanismo de ação: inibe a síntese de microtúbulos e a captação de glicose em nematódeos, além de ser eficaz contra a maioria dos nematódeos conhecidos. Sua aplicação terapêutica primária, contudo, é o tratamento contra infestações por cestóideos, como cisticercose e hidatidose, esta causada por estágios larvais de Echinococcus granulosus. A absorção do albendazol após administração oral é errática, mas aumenta com alimentação rica em gorduras. Ele sofre extensa biotransformação de primeira passagem, incluindo a formação de um sulfóxido ativo. O albendazol e seus metabólitos são excretados primariamente na urina. Ivermectina: possui alta absorção; fármaco de escolha para o tratamento contra a larva migrans cutânea, a estrongiloidíase e a oncocercose (cegueira dos rios), esta causada pelo Onchocerca volvulus (ela mata as microfilárias, mas não atua contra vermes adultos). Mecanismo de ação: A ivermectina atua nos receptores de canais de cloro disparados por glutamato. O influxo de cloreto aumenta e ocorre hiperpolarização, resultando em paralisia e morte do helminto. Ela é administrada por via oral e não atravessa facilmente a barreira hematencefálica. A ivermectina não deve ser usada durante a gestação.
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