Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução à farmacocinética Julia Folly 10/08/2021 ● Conceitos gerais: - Medicamento: O composto completo, ex o comprimido todo - Fármaco: componentes do medicamento - Droga: = fármaco, mas com estereotipação negativa pela estrutura social - Remédio: "qualquer coisa que cure” > Inclui os medicamentos, compressas quentes ou frias, massagens.. - Placebo: fórmulas sem fármacos/ princípio ativo *Tandrilax: medicamento * Cafeína, carisoprodol, diclofenaco e paracetamol: fármacos - Dose: quantidade administrada - Dosagem: quantidade no medicamento, ex no vidro todo - Posologia: quantidade administrada a cada período de tempo - Excipiente: compostos que participam do medicamento, mas não são fármacos -Veículo: “excipiente” mas em medicamentos líquidos - Vias de administração: - Absorção: entrada da substância na circulação sistêmica > Nem todo fármaco precisa ser absorvido, como os de administração endovenosa ou ação local - Farmacocinética: o que o corpo faz com o fármaco, não o que o fármaco faz no corpo > FASES: A) Absorção B) Distribuição C) Metabolização D) Excreção **Essas fases não são “uma atrás da outra”, acontecem ao mesmo tempo! > Só inicia na absorção e termina na excreção - Fatores que influenciam na farmacocinética: 1) Fatores relativos ao paciente: Idade, sexo, etnia, função renal ● Absorção - Entrada do fármaco na corrente sanguínea - Passagem pelas membranas > difusão, por proteínas carreadoras, transporte ativo, poros (para gasosos) > é a primeira barreira que o fármaco atravessa, antes de chegar no órgão alvo (e depois atravessar membranas da excreção) *Ex: Barreira hematoencefálica > só permite passagem de substâncias muito lipossolúveis ou com proteínas com receptores específicos para essa substância na barreira, como a L-DOPA, para parkinson - Maioria dos fármacos são ácidos ou bases fracos > ionizam pouco em meio aquoso! *Lembrar de Equação de Henderson-Hasselbach > pKa = pH + log ([I-]/[NI]) - Ex: pKa 3 > 50% fica dissociado quando em pH 3 > dissolve melhor no estômago, por ex > mas fica não ionizado/lipossolúvel, porque o NI > I- *Meio ácido com fármaco ácido > lipossolúvel > atravessa a membrana - Regrinha: Ex em caso clínico: paciente intoxicado com fármaco ácido > para ser mais excretado, precisa estar hidrossolúvel, para sair na urina > fica mais hidrossolúvel em meio básico > medica com HCO3-, que vai alcalinizar o meio e facilitar a excreção do fármaco pKa de alguns fármacos: Fatores que influenciam na absorção: 1) Aprisionamento iônico: quando o fármaco fica ionizado, não conseguindo atravessar as membranas por causa do pH do meio Ex fármaco com pKa 5 no estômago > consegue passar pro sangue, mas como o pH do sangue é 7,3, ele fica “preso” no sangue! Ex: paciente com DM em acidose metabólica > diminui a distribuição de fármacos básicos pelo corpo que estão no sangue, porque o fármaco ioniza mais Ex2: fármacos ácidos em pacientes em acidez metabólica > aumenta a distribuição do fármaco > aumento dos efeitos colaterais 2) Presença de microvilosidades: apesar de o pH facilitar a absorção do ponto de vista do pKa do fármaco, as microvilosidades do intestino permitem muito mais a absorção, sendo o principal local de absorção dos fármacos 3) Glicoproteína P: É uma bomba de efluxo, que “joga o fármaco para fora da célula” Ex: fármaco entra por difusão nos enterócitos > glicoproteína joga ele para fora, de volta pro tubo digestório - faz parte de um mecanismo de defesa! - também atua como resistência a alguns fármacos - alguns fármacos atuam inibindo a glicoproteína P > Ex a cafeína > fica mais no sangue, porque é mais absorvida > **aumenta o risco de intoxicação** 4) Inativação do fármaco pelo ácido gástrico - Alguns medicamentos são gastrorresistentes, como os para diminuir a acidez gástrica - Nesse tipo de medicamento, orientar o paciente para não partir o comprimido!! > vai perder a gastrorresistência 5) Interação com medicamentos - Alguns têm que ser tomados em jejum e outros após alimentação - Ex: Tetraciclina (antibiótico) > é quelada quando em presença de cálcio > é excretada sem ser absorvida > Se tomar junto com leite, por ex, não é absorvida!! 6) Motricidade gastrointestinal - Quando em aumento do peristaltismo, ex em diarréia > aumenta a excreção rápida do fármaco, diminuindo a absorção 7) Problemas na formulação - Ex em alteração de excipientes > pode aumentar a lipossolubilidade do medicamento, facilitando intoxicações **Obs: Biodisponibilidade: O quanto da fórmula conseguirá ser absorvido no sangue - Teste de bioequivalência: analisa e diferença entre biodisponibilidade entre os medicamentos referência e genérico com o mesmo fármaco - Biod de medicamento oral: depende de vários fatores; Biod de medicamento intravenoso: 100% *São medicamentos bioequivalentes > possuem mais ou menos a mesma biodisponibilidade ao longo do tempo! *Cmáx: curva máxima do medicamento original; Tmáx: curva máxima do genérico *São intercambiáveis!! Ex: Amoxil: referência Novocilin: Similar Amoxicilina: genérico São intercambiáveis > genérico e referência!! > o similar é de marca, então não faz análise da bioequivalência, não sendo intercambiável pelo referência! - Motivos para retardar a absorção: aumenta a durabilidade da ação do fármaco > Ex em insulina, em anestesias.. **Breve histórico da farmaco - Goodman e Gilman, Seção I, Capítulo I ⇨ Aumento da funcionalidade clínica a partir da segunda metade do séc. XX (> 1950) ⇨ Síntese principalmente de moléculas pequenas (muito artesanal ainda nos processos de transcrição, tradução..); exceção da insulina ⇨ Dependência de fatores para o sucesso do fármaco: a) afinidade do fármaco pelo alvo b) atividades antagonistas e agonistas c) permeabilidade através da membrana celular d) absorção no organismo e distribuição e) metabolização e excreção f) reações adversas ou indesejadas ⇨ Abordagem computacional permite maior controle e especificidade do fármaco, prevendo possíveis interações com proteínas do corpo e impactos > otimização do processo! ⇨ Antes: a planta altera a patogenia da doença, então usavam como remédio de forma empírica e sem conhecimento dos mecanismos; Agora: sabe que a proteína tem papel na patogenia da doença, então altera a função dessa proteína para atingir a doença. ⇨ Fármacos macromoleculares só fazem interação com alvos extracelulares! ⇨ Fases do ensaio clínico para comercialização de um fármaco: Fase I humanos Fase II pacientes Fase III Multicêntri co Fase IV Vigilância pós-comer cialização 10 -100 participant es 50 - 500 participant es centenas -milhares vários milhares voluntários saudáveis* pacientes experimen tais pacientes experiment ais pacientes após aprovação ensaio aberto randomiza do e controlado ** randomiza do e controlado ** aberto segurança e tolerabilida de eficácia e doses eficácia eventos adversos, interações e adesão 1-2 anos 2-3 anos 3-5 anos -- *podem ter pacientes experimentais em fase terminal ou com doença grave **pode ter placebo ou ser cego ● Distribuição - Passagem do fármaco pelos componentes do corpo - Lembrar que: farmaco intravenoso não passa pelo processo de absorção *Exemplo de fármaco intravenoso *CAV: compartimentos altamente vascularizados > distribuição do fármaco entre o sangue e esses compartimentos ocorre muito rápido, como se fossem um compartimento só > Cinética de primeira ordem - Inicia em altas concentrações no sangue e depois aumenta em outras regiões, mostrando a fase de distribuição - Regiões bicompartimentais ou multicompartimentais > distribuição ocorre mais devagar, ex tecido adiposo e sangue no exemplo do fármaco intravenoso Fatores que influenciam na distribuição do fármaco: 1) Membranas plasmáticas **Obs: Barreira hematoencefálica > seletividade da membrana + ação de astrócitos na proteção do encéfalo impedem a entrada de vários fármacos Ex: vários fármacos antialérgicos causam sono porque atravessam a barreira hematoencefálica, mas outros, como o Alegra, não atravessam a barreira e não causam o sono*Pra entrar na BHE > moléculas pequenas, não ligadas a proteínas, lipofílicas *Inflamações aumentam a permeabilidade da BHE > formam Zonas do gatilho quimiorreceptoras 2) Ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas > Albumina (fármacos ácidos) e Alfa-1-glicoproteína ácida (fármacos básicos) - Apenas os fármacos livres, que não se ligam às proteínas, que farão efeitos!! > Em pacientes por ex com hipoalbuminemia, se tomarem fármacos que interagem com albumina, o fármaco fará mais efeito (terão mais moléculas livres) > podem ter mais efeitos indesejados também! Ex: Adm de antibiótico em paciente que tomava medicamento varfarina (setas) INR: Maior = maior chance de hemorragia; Menor= maior chance de trombo - Competição entre o medicamento que mantia os níveis de INR e o antibiótico que o paciente tomou pela Albumina > ao tomar o antibiótico, aumentou a concentração do medicamento que mantia o INR, que aumentou, causando hemorragia Fatores que interferem na disponibilidade de proteínas plasmáticas: a) Distúrbios hepáticos > produção das proteínas é alterada b) Distúrbios renais > em casos de proteinúria c) ‘ cardíacos > aumento da liberação de proteínas, ex em IAM d) ‘ tireoidianos 3) Fármacos em depósito - Quando o farmaco faz biocaumulação em tecidos Ex: Tetraciclina (antibiótico) faz depósito em ossos > alta afinidade com cátions, como o Ca++ > muitas crianças cresciam com manchas nos dentes por causa da tetraciclina - O acúmulo em depósitos permite a liberação do fármaco pelo tecido por um tempo, prolongando a vida do fármaco no corpo, mas prejudica a distribuição no corpo! 4) Fluxo sanguíneo do tecido - Desigualdade do débito cardíaco nos tecidos dificulta a chegada do fármaco em regiões específicas ● Metabolização - Biotransformação da molécula do fármaco > torna mais hidrossolúvel para permitir a excreção **Mais importante ocorrer a metabolização para fármacos lipossolúveis do que pros hidrossolúveis, para transformar em hidro e permitir a excreção via renal - Alguns fármacos são administrados inativos/ pró-fármacos > são ativados com a metabolização; Ex Prednisona > Prednisolona - Alguns, ao serem metabolizados, podem gerar metabólitos tóxicos; Ex: Paracetamol > N-Acetil-p-benzoquinoneimina - Alguns fármacos ativos também podem ser transformados em metabólitos ativos após a metabolização - Não precisa ser metabolizado para ter efeito, dependendo do medicamento!! > Só não faz efeito caso não metabolize nos casos de fármacos inativos - Efeito de primeira passagem: só ocorre em fármacos de via oral > pode ter eliminação de parte do fármaco após uma metabolização do fígado antes de chegar na circulação sistêmica > pode ter perda de moléculas ativas **Em alguns fármacos é bom o uso dos pró-fármacos em vez dos fármacos ativos > a metabolização permite a ativação apenas, driblando a perda de parte das moléculas Fases da metabolização *Não são consecutivas! A ordem depende do fármaco 1) Fase 1: torna a molécula quimicamente mais reativa Ex: Paracetamol: metaboliza e forma moléculas tóxicas - Enzimas microssomais, presentes no microssomo (componente do REL) > enzimas do Citocromo P-450: CYP1, CYP2 e CYP3 > São promíscuas e metabolizam vários tipos de fármacos > Muitas reações formam possibilidades de interações clinicamente significativas!! 2) Fase 2: Faz conjugação das moléculas > deixa o complexo mais hidrossolúvel - Glucoronídeo/ Ácido glucurônico > o que mais faz conjugação com os fármacos; Ex: morfina 6-glicuronídeo - Também podem ocorrer reações de metilação, de acetilação.. - Ex: Paracetamol --fase1-- > Metabolito tóxico --fase2-- > MT-glutationa *A conjugação com glutationa torna hidrossolúvel e “anula” o efeito do MT > Se tomar muito paracetamol, e não acompanhar na quantidade de glutationa, pode ser hepatotóxico! Fatores que interferem na metabolização: 1) Indutores enzimáticos: fármacos que aumentam a quantidade de enzimas que metabolizam outros fármacos Ex: Etanol, Barbitúricos (gardenal), Nicotina.. - Aumenta a metabolização > aumenta a excreção > tende a diminuir o efeito do fármaco - como há aumento da metabolização, aumenta a resistência ao componente *Em casos de pró-fármacos, aumenta a ativação 2) Inibidores enzimáticos: inibe as enzimas > diminui a metabolização > diminui a excreção > aumenta o efeito *aumento da toxicidade* Ex: Omeprazol **Diminui o efeito dos pró-fármacos por impedir a metabolização 3) Genética: Pacientes com metabolização rápida tendem a não sentir o efeito do fármaco; pacientes com metabolização lenta tendem a sentir as reações adversas tóxicas 4) Doenças 5) Idade: extremos de idade têm metabolização mais lenta 6) Nutrição: dependência da ingestão de moléculas que fazem a conjugação e que atuam como indutores ou inibidores enzimáticos 7) Via de administração: ex metabolização ocorre antes da absorção quando na via oral ● Excreção - Principais vias: Renal, Biliar (fezes), suor, saliva, expiração, lágrima, leite.. 1) Excreção biliar: depende da rapidez da metabolização (indutores e inibidores), circulação hepática, estase biliar (“prende” o conteúdo da bile, impedindo a secreção), doenças hepáticas - Geralmente faz conjugação com glucoronídeo - A flora intestinal faz produção de enzimas que podem desfazer a ligação fármaco-glucoronídeo > deixa o fármaco livre > reabsorção > aumenta o efeito > Recirculação êntero-hepática Ex: etinilestradiol > do anticoncepcional: mantém os níveis de anticoncepcionais pela recirculação entero-hepática > quando em uso de antibiótico pode matar a microbiota, diminuindo a recirculação > risco de diminuir o efeito dos anticoncepcionais e causar gravidez 2) Excreção renal: filtração sem reabsorção + secreção > compostos que serão excretados - fármacos ligados a proteínas plasmáticas não são filtrados (mas podem ser excretados pela secreção tubular) - Em alguns medicamentos são inseridos 2 compostos para competição no canal de secreção tubular > a competição mantém os níveis do fármaco mais tempo no sangue - Principais transportadores são OAT e OCT > os compostos competem nesses sítios para secreção tubular - A reabsorção tubular depende de o fármaco estar lipossolúvel > pH da urina alterando a solubilidade ● Farmacocinética Clínica - Cinética da eliminação: 1) Cinética de 1ª ordem: se aumentar a absorção, aumenta a excreção 2) Cinética de ordem zero: mesmo que aumente a dose, não aumenta a excreção; Ex: álcool, fenitoína > possuem janela terapêutica mais estreita, necessitando a dosagem do fármaco no sangue de tempos em tempos para analisar se não ocorre a acumulação - Tempo de meia-vida de eliminação > precisa de 5 tempos de meia vida para que o fármaco não tenha mais efeito *leva em consideração o clearance/ depuração > quanto maior a depuração, menor o tempo de meia vida **Clearance: Volume de plasma que fica livre de uma substância X por unidade de tempo (mL/min/Kg) → [urinária] x fluxo urinário / [plasmática] *Indutores ou inibidores enzimáticos podem alterar o tempo de meia vida do fármaco, aumentando ou diminuindo - Outros fatores que alteram o tempo de meia vida: obesidade, idade, doenças.. Steady state: estado de equilíbrio > aplicação do conceito do tempo de meia vida: 1) Infusão contínua 2) Várias doses *Demora muito tempo para chegar no nível terapêutico em steady state (no caso, cerca de 5 meia vidas): controla a quantidade que o paciente está tomando >> Em condições de emergÊncia não dá pra chegar nesse nível de equilíbrio aos poucos >> medica com Dose de Ataque: *da uma dose super alta e depois mantém os níveis do medicamento dando doses mais baixas *
Compartilhar