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Livro - Teoria da História I

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Disciplina: Teoria da História I 
Autor: M.e Rangel Max Lima Vidal 
Revisão de Conteúdos: D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd 
Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior 
Revisão Ortográfica: Esp. Murillo Hochuli Castex 
Ano: 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
 
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Rangel Max Lima Vidal 
 
 
 
 
 
Teoria da História I 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
Editora São Braz 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Conselho Editorial 
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / 
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r 
Jefferson Zeferino / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de 
Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara 
Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia 
 
Revisão de Conteúdos 
Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd 
 
Designer Instrucional 
Sérgio Antonio Zanvettor Júnior 
 
Revisão Ortográfica 
Murillo Hochuli Castex 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
VIDAL, Rangel Max Lima. 
Teoria da História I / Rangel Max Lima. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 
103 p. 
ISBN: 978-85-5475-486-0 
1. Autor interdisciplinar. 2. Historiografia. 3. Modus Operandi. 
Material didático da disciplina de Teoria da História I – Faculdade São Braz (FSB), 
2019. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
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PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
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de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio....................................................................................................... 07 
Aula 1 – Introdução à Teoria da História I ................................................... 08 
Apresentação da Aula 1 ............................................................................. 08 
 1.1 - O que é Teoria da História? ......................................................... 09 
 1.1.1 - Teoria da História, Metodologia, História e Historiografia: 
Debates e Perspectivas.............................................................................. 
 
12 
Conclusão da aula 1 ................................................................................... 16 
Aula 2 – Pressupostos para conhecer a História ........................................ 17 
Apresentação da aula 2 .............................................................................. 17 
 2.1 - Subsídios teóricos da historiografia I ........................................... 18 
Conclusão da aula 2 ................................................................................... 27 
Aula 3 – O ofício do historiador: Heródoto e Tucídides ............................... 28 
Apresentação da aula 3 .............................................................................. 28 
 3.1 - Heródoto (485-425 a.C.) .............................................................. 28 
 3.2 - Tucídides (460-400 a.C.) ............................................................. 32 
Conclusão da aula 3 ................................................................................... 37 
Aula 4 – O ofício do Historiador: Políbio e Cícero ........................................ 38 
Apresentação da Aula 4 ............................................................................. 38 
 4.1 - Políbio (200-115 a.C.) .................................................................. 39 
 4.2 - Cícero (107-43 a.C.) .................................................................... 44 
Conclusão da aula 4 ................................................................................... 48 
Aula 5 – A História na perspectiva de Agostinho e Vico .............................. 48 
Apresentação da aula 5 .............................................................................. 48 
 5.1 - Agostinho de Hipona (354-430) ................................................... 49 
 5.2 - Giambattista Vico (1668-1744) .................................................... 54 
Conclusão da aula 5 ................................................................................... 59 
Aula 6 – A história na perspectiva de Hume, Gibbon e Von Hanke ............. 60 
Apresentação da aula 6 .............................................................................. 60 
 6.1 - David Hume (1711-1776) ............................................................ 61 
 6.2 - Edward Gibbon (1737-1974) ....................................................... 65 
 6.3 - Leopold Von Ranke (1795-1886) ................................................. 69 
Conclusão da aula 6 ................................................................................... 74 
Aula 7 – Thomas Carlyle (1795-1881) e Wilhelm Von Humboldt (1767-
1835) .......................................................................................................... 
 
75 
 
 
6 
 
Apresentação da aula 7 .............................................................................. 75 
 7.1 - Thomas Carlyle (1795-1881) ....................................................... 75 
 7.2 - Wilhelm Von Humboldt (1767-1835) ............................................ 80 
Conclusão da aula 7 ................................................................................... 85 
Aula 8 – Ciência da História e Interdisciplinaridade na História ................... 86 
Apresentação da aula 8 .............................................................................. 86 
 8.1 - Da Ciência para a Ciência da História .......................................... 87 
 8.1.1 - Interdisciplinaridade e História .................................................. 91 
Conclusão da aula 8 ................................................................................... 98 
Índice Remissivo ........................................................................................ 99 
Referências ................................................................................................ 101 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Prefácio 
 
Vamos trilhar um caminho para conhecer, passo a passo, a teoria da 
história, sua importância e como ela se apresenta ao ofício do historiador no 
contexto da produção do conhecimento, conhecendo um pouco mais sobre os 
diversos conceitos que se fazem necessários para avançarmosna análise mais 
profunda e específica sobre as diversas teorias produzidas ao longo da 
Historiografia. 
Entenderemos como outros pensadores discutiram ou expuseram sobre 
quem é o historiador e suas funcionalidades, modos de operação e demais 
questões que estão envolvidas no processo de construção do conhecimento 
histórico. 
Vamos lá? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Aula 1 – Introdução à Teoria da História I 
 
Apresentação da aula 1 
 
Olá, aluno. Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Teoria da História 
I. A partir de agora, vamos trilhar um caminho para conhecer a teoria da história, 
sua importância e como ela se apresenta ao ofício do historiador no contexto da 
produção do conhecimento. Nesse sentido, a disciplina apresenta a mesma 
importância para a atividade de ensino de história, possibilitando a percepção 
sobre como os conteúdos dos livros didáticos estão ancorados em múltiplas 
teorias que subsidiam a produção de um determinado material. 
Nesta primeira aula iremos limitar a discussão a questões introdutórias, 
apresentando um conjunto de perguntas necessárias para que haja o 
aprofundamento das teorias ou mesmo de autores específicos. Os conceitos 
estudados aqui apresentam linguagens e perspectivas comuns à comunidade de 
historiadores, e permitem a compreensão dos diálogos historiográficos. 
 
 
Parte da História 
Fonte: https://www.jornalcontabil.com.br/wp-content/uploads/2017/02/ilts-social-scien 
ce-history-test-practice-and-study-guide_118504_large.jpg 
 
Todo campo do conhecimento é abastecido por termos e linguagem 
técnica que norteiam os diálogos de determinada comunidade, portanto, 
 
 
9 
 
precisamos nos atentar a esse processo, para que possamos nos desenvolver 
qualitativamente enquanto produtores do conhecimento historiográfico ou 
mesmo enquanto professores de história. 
 
1.1 O que é Teoria da História? 
 
De acordo com o historiador José D’Assunção Barros, podemos expor a 
Teoria da História em três níveis de discussão, ou seja, em três perspectivas 
analíticas. Primeiro, podemos enxergar a Teoria da História enquanto “um modo 
de apreender o mundo” (p. 43). Segundo, é possível entender a Teoria da 
História enquanto “um campo de estudos” (p.43). E, terceiro, pode-se expor a 
Teoria da História enquanto “modelos e sistemas explicativos criados para 
compreender um determinado fenômeno, aspecto da realidade ou objeto de 
estudo” (p.43). 
Para o processo de desenvolvimento da História enquanto uma disciplina 
científica, a terceira dimensão do que venha a ser a Teoria da História é a que 
melhor se enquadra no rigor científico acadêmico. Nesse sentido, a Teoria da 
História não se trata de uma coisa, somente, mas de um conjunto de teorias, 
que, por meio de conceitos, métodos e técnicas norteiam o processo de 
construção do conhecimento histórico a partir da análise sistemática de um fato, 
evento ou fenômeno histórico no tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
TEORIA 
Um modo de 
apreender o 
mundo. 
Um campo 
de estudos. 
Modelos ou 
sistemas 
explicativos 
criados para 
compreender um 
determinado 
fenômeno, objeto. 
 
 
10 
 
Em alguns programas, ainda se encontra a dualidade entre Filosofia da 
História e Teoria da História. Nesse sentido, deduz-se ser importante esclarecer 
o papel de cada uma delas, para que não haja quaisquer dificuldades ou 
confusões no campo da compreensão sobre o que é cada uma. 
Ainda embasado no historiador José D’Assunção Barros, a Teoria da 
História apresenta as seguintes características: 
 
Teoria da História 
1. Menor carga de Especulação; 
2. Preocupação Primordial com a realidade histórica percebida por meio 
das fontes; 
3. Produções predominantemente feitas por historiadores e cientistas 
sociais; 
4. Espaços de discussões coletivas de setores da historiografia. 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
De acordo com as características elencadas na tabela acima, a menor 
carga de especulação ocorre na medida em que o apego é direcionado aos fatos 
e fontes dos fenômenos estudados, ou seja, destinado a servir no processo de 
instrumentalização prático do historiador. Nesse sentido, a formulação da teoria 
acontece criando ferramentas de ação que serão utilizadas pelo historiador no 
processo de análise das fontes para compreensão de um determinado objeto 
estudado. Por isso, as discussões no processo de criação e desenvolvimento 
dessas ferramentas não podem ser algo integralmente especulativo, mas devem 
estar contidas em uma utilização prática. 
Concomitante a essa menor carga especulativa, a Teoria da História está 
vinculada à realidade dos fatos históricos, ou seja, a produção contida no bojo 
da teoria deve ter uma serventia prática no processo de compreensão dos 
acontecimentos, ou seja, da realidade histórica observada por meio das fontes. 
Sendo assim, o conjunto teórico para observação dos fatos históricos por meio 
das fontes, e, em sua maioria, manuseado pelos historiadores e por algumas 
áreas interdisciplinares à História que caminham no mesmo sentido e muitas 
 
 
11 
 
vezes dividem perspectivas teóricas e instrumentos de análise do objeto. Esse 
processo pode ser observado na Sociologia, Antropologia, Geografia e em 
outras disciplinas científicas que comumente se complementam no processo de 
análise de um fato histórico. 
Por último, esse conjunto de conhecimentos acerca de um fato histórico 
deve ser compartilhado por um número significativo da comunidade de 
historiadores. Aquilo que construirmos por meio desse processo exposto não 
basta ser analisado e aceito única e exclusivamente pela pessoa do historiador 
que escreve, pois os resultados devem, em certa medida, ser aceitos pela 
comunidade desses profissionais. 
Vejamos a seguir as características relacionadas à Filosofia da História 
para que fique clara a diferença entre ambas: 
 
Filosofia da História 
1. Maior carga de especulação filosófica; 
2. Preocupação primordial com o sentido da história; 
3. Produzida predominantemente por filósofos; 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
Reflita 
A Filosofia da História é sobrecarregada de especulação, pois não há 
necessariamente o compromisso com o fato observável, mas, sim, algo que 
antecede o fato, discutindo questões como: qual é o objeto da história? Essa 
pergunta deve ser pensada nesta aula com calma. 
 
Quando há um objeto claro e a escolha é o conjunto teórico que irá nortear 
as análises, partindo para a produção do conhecimento histórico sobre o fato, 
nesse sentido, no campo da Filosofia da História, a pergunta suscita uma 
discussão anterior ao próprio fato, pensando o que é ou não objeto de estudo da 
História. 
 
 
12 
 
Ainda sobre essa indagação, deve-se ter claro que é uma discussão 
anterior ao processo prático de produção do conhecimento histórico. É um 
debate que norteará a construção da ciência História, no sentido de refletir 
criticamente sobre o que deve ou não ser objeto de estudo dessa área. Por outro 
lado, devemos nos conscientizar de que o caminho para onde o filósofo que 
discute esse tipo de questão não precisa necessariamente estar harmonizado 
com a comunidade de historiadores, ou seja, as discussões da Filosofia da 
História podem não convergir com as decisões desses profissionais que 
produzem o conhecimento histórico. E por que isso pode ocorrer? 
Filósofos e historiadores podem não convergir em suas reflexões, porque 
a produção da Filosofia da História pode estar circunscrita a um filósofo, não 
havendo quaisquer necessidades de sua formulação estar aceita pela 
comunidade de filósofos, como é o caso da Teoria da História. Isso faz com que 
muitas vezes a comunidade de historiadores não concorde com as especulações 
do que deve ou não ser objetoda história, por parte da Filosofia da História. 
Nesse caminho, há diferenças entre Teoria da História e Filosofia da 
História: o fato de que a primeira está ancorada nos fatos históricos, enquanto a 
segunda está ancorada em discutir o sentido da história, ou seja, para que ela 
serve. 
 
1.1.1 Teoria da História, Metodologia, História e Historiografia: debates e 
perspectivas 
 
Inicialmente, é necessário situar-se sobre a diferença e definição de 
teoria, no seu aspecto genérico ou geral, de metodologia, também no que diz 
respeito às suas características gerais, e, por fim, se colocar no debate sobre o 
que é historiografia e seus dilemas para a própria ciência histórica, para que se 
possa esclarecer a definição de Teoria da História e ter claro seu papel para o 
ofício do historiador. 
Para a finalidade da ciência, “a Teoria é filha da Razão e irmã da 
Metodologia Científica” (BARROS, 2013 p.47). Sendo assim, a teoria se faz filha 
da razão na medida em que sua discussão, seus atributos e suas características 
buscam quaisquer afastamentos de atos intuitivos acerca dos fatos históricos. 
Ela visa, por meio da sua multiplicidade, munir o historiador, assim como 
 
 
13 
 
quaisquer outras ciências, dos pressupostos epistemológicos pelos quais o 
cientista, seja ele da História ou de outras ciências, deverá enxergar o objeto de 
pesquisa. 
Em uma caracterização ampla, a teoria, em seus aspectos mais gerais, 
será responsável pela produção de conceitos, teorias específicas, campos 
teóricos de pertencimento, a fim de estipular os limites e pressupostos para 
possíveis diálogos interdisciplinares, além de orientar os diálogos bibliográficos. 
Os conceitos, segundo Deleuze e Guattari, remetem “a problemas sem os 
quais não teria sentido, e que só podem ser isolados ou compreendidos na 
medida de sua solução”. Nesse sentido, continua: “não há conceito simples. 
Todo conceito tem componentes, e se define por eles. Tem, portanto uma cifra. 
É uma multiplicidade”. Ao aprofundarmos a reflexão de Deleuze e Guattari, 
percebe-se que o conceito é construído a partir do esforço de análise da 
realidade. 
Sua multiplicidade está ancorada na teoria a qual estará vinculada, ou 
seja, cada teoria construirá determinada perspectiva conceitual para leitura 
crítica da realidade. Por isso a importância dos Campos Teóricos de 
Pertencimento, para que haja o desenvolvimento comum dentro de uma 
determinada comunidade acadêmica. Nesse sentido, é possível sintetizar o 
conceito enquanto uma percepção que designa características e qualidades 
acerca da realidade a partir de um corpus teórico. 
A Metodologia, por outro lado, se trata do modo de como fazer uma 
pesquisa e como produzir o conhecimento científico. Ela é composta por: 
 
 Planejamento da pesquisa; 
 
 Projeto de pesquisa; 
 
 Delimitação de tema; 
 
 Constituição das fontes; 
 
 
 
14 
 
 Métodos e técnicas (História oral, Arqueologia, Coleta de fontes, 
entre outros) que conduzem a um caminho para o objetivo, que se 
trata da análise crítica do problema, do objeto. 
 
Ao incorporarmos esse processo dentro da perspectiva da disciplina de 
História, temos que a Teoria da História é o campo de estudo que examina e 
produz os aspectos teóricos envolvidos na produção do conhecimento histórico 
e na análise de questões históricas específicas. No caso específico da disciplina 
de História ocorrem algumas dificuldades com relação à linguagem conceitual e 
definidora de algumas questões expostas por Júlio Aróstegui (2006) acerca da 
dificuldade dos termos para esclarecer os papéis de Teoria da História, História 
e Historiografia. Problema conceitual e de linguagem sem necessária solução, 
mas que se deve conhecer durante o processo formativo. 
 
Importante 
Segundo Aróstegui: 
 
A questão começa com o fato, comum a outras disciplinas, certamente, 
de que uma só palavra, História, designou tradicionalmente duas 
coisas distintas: a História como realidade na qual o homem está sendo 
inserido e o conhecimento e registro das situações e sucessos que 
assinalam e manifestam essa inserção. [...] Etimologicamente, 
portanto, uma ‘História’ é uma ‘pesquisa’. Mas logo a palavra História 
passou a ter significado muito mais amplo e a identificar-se com o 
transcurso temporal das coisas (2006, p. 28). 
 
A discussão sobre essa ambiguidade do termo História ocorre na medida 
em que a mesma palavra é usada para definir conceitualmente objeto e ciência. 
Assim, há um esforço teórico por parte dos historiadores para delimitar uma 
forma correta para pensarmos esse problema, devido às dificuldades impostas 
ao discente, na compreensão dos conceitos e seus papéis para a ciência 
História. 
De acordo com Aróstegui (2006), deve-se conceber a Teoria da 
Historiografia como algo mais denso que a própria Teoria da História, visto que 
esta, para o autor, não irá se desenvolver mais verticalmente do que aquela, que 
é a disciplina do conhecimento sobre a História, sua natureza, portanto faz parte 
 
 
15 
 
desse conhecimento conhecer as diversas teorias no interior da produção 
historiográfica. 
Essa exposição em nossa aula importa na medida em que está 
diagnosticada uma dificuldade comum na formação acadêmica do ofício do 
historiador, que é definir o papel da Teoria da História com relação à filosofia da 
História. 
 
Importante 
Sobre essa questão, encontramos a seguinte reflexão: 
 
Para o historiador existem, pois, duas tarefas teóricas: uma de elaborar 
uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho e que não é outro 
senão a teoria da natureza do histórico. Isso equivaleria a pronunciar-
se sobre o que se chama História, o que é a dimensão histórica para 
os seres humanos, o que é isso na experiência de sua vida, como se 
manifesta essa atribuição de uma história aos sujeitos e às sociedades, 
de que maneira se cria e se evidencia a imersão no tempo, e outras 
questões desse tipo. O que essa teoria não poderá fazer como não 
pode a de nenhuma ciência em relação a seu próprio objeto é atribuir 
sentido, uma finalidade ao curso da História, uma meta, porque não 
poderíamos argumentar sobre nenhuma dessas coisas com os 
instrumentos de um conhecimento demonstrável, contrastável, 
empírico. Esse tipo de questões é próprio do que se tem denominado 
a filosofia “substantiva” ou “especulativa” da História, a que o idealismo 
alemão do século 19 exercitou no seu mais alto grau. (ARÓSTEGUI, 
2006 p.89). 
 
Sobre isso, em concordância com a passagem de Aróstegui (2006), 
devemos conceber a Teoria da História enquanto algo mais prático, sobre o 
proceder do ofício do historiador frente ao seu objeto. Enquanto questões sobre 
o sentido e a natureza, as reflexões idealistas devem ser delegadas a uma 
Filosofia da História. A partir dessa compreensão, devemos nos debruçar sobre 
alguns conceitos necessários para o entendimento da Teoria da História e, por 
conseguinte, em escolas teóricas específicas a partir de seus principais autores, 
que ao longo do tempo têm proporcionado norteadores teóricos acerca da 
produção do conhecimento histórico frente ao objeto. 
Porém, deve-se compreender a relação do que foi exposto até aqui com 
a Metodologia e o Método, para que o diálogo autoral no decorrer da graduação 
faça sentido. A Metodologia assemelha-se à Historiografia, no sentido de que a 
Metodologia fornece ao cientista uma discussão densa, sobre as possibilidades 
 
 
16 
 
de métodos para fazê-lo, e produzir o conhecimento analítico por parte de uma 
determinada ciência, sendo que o Método trata do caminho analítico que se deve 
percorrer para pensar e desvendar o objeto que se está pesquisando. 
É o método que irá balizar o tipo de fonte para a pesquisa, a forma como 
trata essas fontes, quais as ferramentas práticas que deve utilizar, ou seja, qual 
a lente ideal para esse objeto. A metodologia, portanto, será responsável por 
apresentaros diversos caminhos disponíveis para cumprimento do objetivo a 
que se propõe a pesquisa. 
 
Reflita 
Qual a relação entre a Metodologia, Historiografia e Teoria da História para a 
produção do conhecimento histórico sobre o objeto? 
 
Nesse sentido, podemos entender que a Metodologia irá nos apresentar 
os métodos, os caminhos analíticos ancorados em uma corrente teórica, 
apresentados e debatidos pela Historiografia e Teoria da História. Vamos a um 
exemplo desse processo: o positivismo, como vimos em Introdução aos Estudos 
Históricos, é uma corrente de Teoria ou Escola de Teoria, que debate justamente 
o papel do cientista social, com a proposição de caminhos metodológicos para o 
seu ofício cotidiano. Nesse sentido, devemos discutir conceitos definidos pela 
Historiografia, debatidos na Teoria da História a partir da perspectiva de 
diferentes Escolas Teóricas (como o positivismo) e compreender como é sua 
aplicação (método) dentro dessa perspectiva. 
 
Conclusão da aula 1 
 
Chegamos ao final de mais uma aula. Aqui, procuramos ambientá-lo 
sobre questões que devem estar no radar do historiador para a compreensão 
das discussões que ocorrerão no interior da Teoria da História, a partir das 
diversas correntes ou Escolas de Teoria. Esses pressupostos trabalhados na 
aula são fundamentais para o processo de maturidade do pesquisador, do 
cientista da história. Ao professor de História, cabe estar antenado a essas 
 
 
17 
 
questões, para conhecer os fundamentos teóricos e metodológicos sobre os 
quais estará assentado o conhecimento ensinado. 
Esse conhecimento proporcionará lucidez da diversidade de perspectiva 
que o professor deverá apresentar aos seus alunos, dando a eles a oportunidade 
de conhecer tal diversidade e escolher a lente pela qual será conveniente 
enxergar os problemas propostos pelas diferentes perspectivas historiográficas. 
 
Atividades de Aprendizagem 
Escreva um texto de apenas uma lauda em que você apresente sua 
compreensão sobre o conteúdo desta aula. 
 
 
 
 
Aula 2 – Pressupostos para conhecer a História 
 
Apresentação da aula 2 
 
 
Conhecer ou redigir a História 
Fonte: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/1-história.jpg 
 
 
 
18 
 
Olá, aluno. Seja bem-vindo à segunda aula da disciplina Teoria da História 
I. A partir de agora, você vai conhecer um pouco mais sobre os diversos 
conceitos, que se fazem desígnios necessários para avançarmos na análise 
mais profunda e específica sobre as diversas teorias produzidas ao longo da 
Historiografia. 
Ao conhecer esses conceitos, você estará mais apto à linguagem técnica 
da produção cientifica da História tomando consciência em relação ao que 
significa essa linguagem, para que serve e qual sua utilidade, não só para o 
historiador, mas para a compreensão de um tempo e de um problema no tempo 
e no espaço, a partir de um determinado fato histórico. 
 
2.1 Subsídios Teóricos da Historiografia I 
 
Esta aula dará seguimento à exposição de um conteúdo subsidiário e 
necessário para o aprofundamento do conhecimento teórico da disciplina de 
História ou mesmo da própria atividade que o ofício do historiador requer, tanto 
do pesquisador quanto do professor. 
 
Reflita 
Na esteira dessas questões introdutórias, objetivamos definir de maneira mais 
direta e norteadora, questões como: O que é a História? Para que serve a 
disciplina de história? Quem é o historiador e qual sua relação com a sociedade? 
O que são os paradigmas históricos? O que são os períodos históricos? 
 
Essas compreensões são importantes, na medida em que o trabalho do 
historiador está ocorrendo em torno dessas questões e de quais perspectivas se 
adotam acerca dessas noções conceituais, vinculadas a uma teoria, que passa 
a conduzir toda a estética expositiva e descritiva do trabalho, ou seja, é possível 
compreender os conceitos a partir da História Crítica Marxista, o modus operandi 
da pesquisa e mesmo da aula, norteados por características, categorias e 
conceitos específicos dessa teoria. 
Se estiver inclinada à Escola Positiva, a forma estética da pesquisa e da 
aula passam a ser norteadas por essa outra perspectiva. Seguindo com o 
 
 
19 
 
objetivo, iniciamos pensando o que é a História. Nesse sentido, na aula anterior, 
foi falado da dificuldade em definir a história, dada a anfibologia do seu termo 
que diz respeito, tanto a objeto quanto a ciência. 
 
Vocabulário 
Anfibologia: etimologicamente, "dicção ambígua". Emprega-se em gramática 
para designar os equívocos de sentido provenientes de construção defeituosa 
da frase ou do uso de termos impróprios. Aristóteles cita anfibologia como um 
dos seis vícios que podem produzir a falsa aparência de um argumento. 
 
Por outro lado, Aróstegui (2006) também traz a seguinte análise definidora 
do como deve-se pensar a História, a partir de Hayden White (1928-2018), que 
faz a seguinte síntese: 
 
[...] o termo História aplica-se ‘aos acontecimentos do passado, ao 
registro desses acontecimentos, à cadeia de acontecimentos que 
constitui um processo temporal compreendendo os acontecimentos do 
passado e do presente, assim como os do futuro, aos relatos 
sistematicamente ordenados dos acontecimentos atestados pela 
pesquisa, às explicações desses relatos sistematicamente ordenados, 
etc.’. Essa não é uma miscelânea qualquer. (ARÓSTEGUI, 2006 p. 29). 
 
A importância de agregar essa miscelânea proposta por Hayden White é 
que não está aparente a preocupação com os dilemas teóricos e historiográficos 
da História. Pelo contrário, de forma pragmática, há a preocupação em conceber 
sua complexidade, informar e trabalhar em prol do cumprimento de suas diversas 
funções, e servir ao processo de desenvolvimento humano e social a que se 
propõe o conhecimento histórico. 
Nesse sentido, independentemente de quaisquer discussões teóricas, a 
História é uma ciência que precisa ser feita. Por outro lado, o fazer-se da História 
não pode ocorrer sem que haja uma funcionalidade, uma utilidade no contexto 
da vida humana. Portanto, é importante que o historiador se interesse por refletir: 
para que serve a História? 
Um historiador que veremos mais à frente de maneira mais profunda traz 
consigo uma definição valorativa para a História, que permite ao historiador e 
mesmo ao professor de história conceber tranquilamente seu valor e o quanto o 
 
 
20 
 
conhecimento produzido por essa ciência pode auxiliar no desenvolvimento da 
vida cotidiana. Leopold Von Ranke (1795-1886) diz o seguinte sobre o papel da 
História: 
 
Atribui-se à História a missão de julgar o passado e instruir o mundo 
contemporâneo para estar a serviço da posteridade: esta nossa 
tentativa não aspira a uma tarefa tão elevada, mas procura somente 
mostrar como as coisas realmente aconteceram (RANKE, apud. 
PROST, 2012 p. 253). 
 
 
Leopold Von Ranke (1795-1886) 
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b3/Jebens%2C_Adolf 
_-_Leopold_von_Ranke_%28detail%29_-_1875.jpg 
 
O juízo sobre o passado não deve estar na intenção do historiador, apesar 
de ser grande a discussão sobre a possibilidade ou não de uma neutralidade 
frente aos objetos. O que se deve ter claro é que deve haver a imparcialidade na 
pesquisa, devendo ocorrer a fim de garantir a voz autêntica das fontes, e a crítica 
não pode se transformar em um juízo de valor sobre os diversos caminhos por 
onde a pesquisa pode nos conduzir, sendo ou não de nosso agrado. 
 
 
21 
 
Para a docência, não é diferente. O ideal é que o professor apresente ao 
discente todas as opções existentes, para que, no processo de desenvolvimento 
intelectual, o discente faça suas próprias escolhas. Mas é claro que, em certa 
medida, é responsabilidade do professor corrigir interpretações equivocadas e 
conceptualizações que não estejam conectadas com a comunidade de 
historiadores. É claro que o professor não deixará a condiçãode influenciador, 
na medida em que o seu poder simbólico é suficiente para isso. 
Já que o conhecimento produzido pelo historiador pode ser percebido 
como algo que auxilia nos processos decisórios do presente, com perspectivas 
para o futuro, é necessário conhecermos a relação da História ou mesmo do 
historiador com a sociedade. 
 
Importante 
Nesse sentido, vamos explorar a seguinte passagem: 
 
A história se encontra plasmada na sociedade. É algo que lhe sucede, 
que caracteriza a sociedade ou sociedades concretas. Para falar da 
história é, pois, imprescindível falar da sociedade. Existem três 
conotações prévias que são de particular interesse para a análise da 
dimensão histórica do social previal: a primeira, a de que a natureza e 
a sociedade, longe de serem realidades opostas, que necessitam de, 
ou são suscetíveis a, tipos diferentes de conhecimento, formam um 
continuum sem ruptura instransponível. A história dá continuidade ao 
plano da natureza, dizia Karit. […] A segunda, a de que a existência de 
movimento é uma constatação inevitável na explicação do mundo da 
natureza assim como do mundo privativo do homem. A existência do 
momento é a premissa na qual se sustenta a mudança social. O 
movimento é consubstancial com a natureza física e também humana. 
A Terceira, a de que a ideia de sociedade adquire um perfil mais 
preciso ao falar do sistema social. A existência de um sistema social 
pode ser assimilada à ideia de que a sociedade em abstrato e as 
sociedades históricas concretas funcionam como um sistema, quer 
dizer, como um ‘todo’ em que, ao se modificar alguma de suas partes 
ou elementos, necessariamente se modifica o conjunto de relações que 
as une (ARÓSTEGUI, 2006 p. 257). 
 
Com essa exposição de Aróstegui (2006), se consegue avaliar não só a 
relação entre História e Sociedade, mas também do próprio historiador e a 
sociedade. A História enquanto disciplina a ser conhecida, ou ciência a ser 
produzida, tem como objeto a própria sociedade, nesse sentido, a História e a 
sociedade tratam de duas questões indissociáveis para o trabalho do historiador, 
 
 
22 
 
na medida em que os fatos analisados, os objetos pesquisados, são os fatos que 
ocorrem sistematicamente no interior das relações sociais. Ao pensarmos a 
natureza em que nasce e desenvolve-se o ser humano, de forma ontológica, 
somos convidados a perceber que a sociedade é parte dessa dita natureza 
humana. 
Por fim, ainda sobre a relação História, historiador e sociedade, devemos 
perceber que a sociedade é um sistema interligado, em que uma alteração 
realizada em um recorte, inevitavelmente irá influir em alteração em outra parte 
aparentemente não vinculada. Essa percepção sistêmica da sociedade deve 
ocorrer tanto no campo das suas produções científicas, quanto no campo do 
ensino. Na produção científica, esse processo se faz necessário na medida em 
que, deve-se enxergar a complexidade de um objeto, e que, apesar de sermos 
obrigados metodologicamente a fazer um recorte de um tempo e um espaço, tal 
procedimento de alguma forma limita o processo analítico. Isso permite que mais 
profissionais da História, se debrucem sobre um mesmo objeto, apresentando-
nos a maior gama de perspectivas, e mesmo assim não temos quaisquer 
seguridades de esgotamento de conteúdo. 
No campo do ensino, essa perspectiva complexa e abrangente do ensino 
de história importa para que o sujeito do processo de ensino e aprendizagem 
estabeleça uma conexão complexa entre o que está aprendendo em uma 
determinada disciplina com as demais áreas de conhecimento da vida humana. 
Apesar de apreendermos nos bancos escolares as diversas disciplinas de 
maneira individualizada, na vida cotidiana, a vida de todo dia, as vidas no seu 
processo natural de desenvolvimento têm todas as disciplinas acontecendo 
simultaneamente e interligadas, fazendo da própria vida prática um sistema 
complexo e interligado, onde tudo está, de alguma forma, vinculado a tudo. 
Tanto na pesquisa quanto no ensino, tem havido certa concordância de 
que essa perspectiva para o desenvolvimento das ciências sociais, de uma 
maneira geral, é o mais próximo da realidade. Isso também nos permite 
compreender que a História, apesar de suas peculiaridades, é uma disciplina 
interdisciplinar por natureza. Por isso, a necessidade do diálogo com disciplinas 
como Sociologia, Filosofia, Antropologia, Arqueologia, Geografia, Pedagogia, e 
demais disciplinas, na busca incessante por uma construção Histórica, que, na 
 
 
23 
 
medida do possível, reflita em certo conceito, a totalidade dos fatos. Para auxiliar 
na reflexão, observe o sistema seguinte: 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
O esquema serve para que possamos compreender como ocorre o 
processo sistêmico que trata de interligar todas as coisas na vida cotidiana, e 
como temos que fragmentá-las, a fim de tornar possível o conhecimento das 
partes, sem haver a desconexão com a totalidade complexa, que é a forma 
prática em que ocorre o processo de desenvolvimento da vida em sua condição 
inata. 
A compartimentalização da pesquisa e ensino em disciplinas especificas 
trata-se meramente de uma organização metódica que nos permite conhecer 
partes individualizadas, por outro lado, na prática, as coisas ocorrem de maneira 
sistêmica e complexa. Vamos avançar em compreender mais alguns 
pressupostos que nos auxiliaram no processo de conhecimento da História e de 
suas complexidades teóricas. 
História
Geografira
Cartografia
Física 
BiologiaQuímica
Saúde
Sociologia
 
 
24 
 
Outra questão importante trata-se de compreender o valor teórico da 
periodização histórica, dos paradigmas históricos e das Escolas Teóricas, ou 
seja, o que são os períodos históricos? O que são os paradigmas históricos? O 
que são as Escolas Teóricas? Como ocorrem e para que servem? Qual a 
utilidade de ambos no trabalho do historiador e na compreensão do conteúdo 
histórico? Caminharemos na tentativa de responder essas questões. 
Sobre os Períodos Históricos, trata-se de uma organização metódica que 
visa orientar sobre diversos momentos da história humana, em que estejam 
marcadas características convergentes e aceitas pela comunidade de 
historiadores. Os Períodos Históricos têm o seu início e fim orientados por 
marcos históricos, ou seja, fatos específicos que significaram grande mudança 
nas características sociais de um determinado período, de modo que, a partir 
daquele momento, é possível diagnosticar grande mudança no perfil social. 
Esses períodos são de exclusividade dos cientistas que caminham por 
meio do tempo, é importante sempre que o historiador, ou mesmo o professor 
de história, esteja atento ao fato de que a sociedade daquele determinado tempo 
não necessariamente se reconhece por meio desses recortes. Tratam-se de 
convenções sociais a posteriori. Vejamos um exemplo a seguir, das 
periodizações mais conhecidas, para que haja melhor compreensão do tema: 
 
 Pré-história; 
 Paleolítico; 
 Neolítico; 
 Metais; 
 Tempos históricos; 
 Antiguidade; 
 Idade Média; 
 Modernidade; 
 Contemporâneo; 
 Escrita: 
 3.500 mil; 
 7 milhões: 
 Primeiros Hominídeos; 
 2 milhões: 
 
 
25 
 
 Homo Habilis; 
 10 mil: 
 Revolução Agrícola; 
 5 mil: 
 Metalurgia; 
 Ano1: 
 Nascimento de Cristo; 
 Ano 476: 
 Queda de Roma; 
 Ano 1453: 
 Queda de Constantinopla; 
 Ano 1789: 
 Queda da Bastilha (Revolução Francesa); 
 Atualidade. 
 
É possível observar as diversas periodizações que comumente 
encontramos na comunidade de historiadores, pesquisadores e professores. 
Temos, primeiro, dois grandes períodos, mais longos, no que diz respeito ao 
espaço-tempo, que é a divisão entre Pré-História e Tempos Históricos. Depois, 
temos uma série de divisões a partir do período Paleolítico, que é caracterizado 
pelas tecnologias de produção e ferramentas,bem como aspectos sociais e 
recorte temporal, com marcos específicos, tratando-se de fatos que impactaram 
aquele tempo e aquela determinada sociedade. 
 
Importante 
Outro conceito, em demasia próximo ao conceito de Período Histórico ao qual 
nos propomos expor, é o conceito de Paradigma. De acordo com Barros (2010), 
podemos usar a seguinte definição de Paradigma: 
 
[...] um conjunto de crenças, valores e técnicas comuns a um grupo 
que pratica um mesmo tipo de conhecimento. [...] por vezes se refere 
ao paradigma como uma espécie de macro teoria, marco ou 
perspectiva que se aceita de forma geral por toda comunidade 
cientifica. [...] um paradigma sempre apresenta o interesse de criar e 
reproduzir condições para ampliar o conhecimento, respondendo os 
problemas que são colocados pela sua época (BARROS, 2010, p. 10). 
 
 
26 
 
Encontraremos, ao longo da história das ciências, bem como na própria 
ciência História, diversos paradigmas, que passam por um momento de grande 
dominação, ou seja, um grande número de cientistas passa a produzir e ensinar 
a partir daquele conjunto de crenças, valores e técnicas, e, depois de certo 
tempo, ocorre a gradativa mudança de um paradigma para outro, acumulando-
se ferramentas e crenças. É importante salientarmos que a mudança de um 
paradigma para outro não significa uma mudança súbita, tampouco a extinção 
do anterior. Todo corpus criado por esses paradigmas vai coexistindo no seio da 
produção cientifica e do processo de ensino-aprendizagem. 
 
Importante 
O que caracteriza a dominação de um paradigma é um movimento conjunto de 
profissionais que optam por aquele determinado modelo e se torna por um 
tempo, majoritário. Segundo Barros (2010), inicia-se a mudança de paradigma 
quando: 
 
[...] ele depara-se com seus próprios limites, e começa a se apresentar 
como inadequado. Quando o paradigma não é capaz de resolver todos 
os problemas, que podem persistir ao longo de anos ou séculos, ele é 
gradualmente posto em cheque, porque se começa a questionar se ele 
constitui mesmo o “marco” mais adequado para a resolução de 
problemas ou se deveria ser abandonado. Nestes momentos, em que 
se estabelece uma crise, ocorreria a proliferação de novos paradigmas 
que competiriam entre si até que um conseguiria se impor como o 
enfoque mais adequado, produzindo-se uma Revolução Cientifica 
(BARROS, 2010 p. 11). 
 
Para ilustrar o que Barros (2010) explica sobre o paradigma e seu 
processo de transição, vejamos o esquema seguinte: 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
Por fim, vamos explicar sobre as Escolas, dentro da perspectiva da Teoria 
da História. Ainda tomando por base a exposição de Barros (2010), vejamos o 
que fala sobre “Escolas”: 
 
Paradigma 
dominante 01
Transição
Paradigma 
dominante 02
 
 
27 
 
Uma ‘Escola’ – fora a noção mais vulgar que se refere exclusivamente 
a instituições de Ensino – pode ser entendida no sentido de uma 
corrente de pensamento, sempre que ocorre um padrão ou programa 
mínimo perceptível no trabalho de grupo formado por um número 
significativo de praticantes de determinada atividade ou de produtores 
de certo tipo de conhecimento, sendo ainda importante que haja certa 
intercomunicação entre estes praticantes [...] Será importante entender 
ainda que as ‘escolas’ podem apresentar uma referência sincrônica – 
relacionada a autores ou praticantes de uma mesma época- e uma 
referência diacrônica, no sentido de que a ‘Escola’ pode se estender 
no tempo e abarcar sucessivas gerações, ou ser por elas reivindicada. 
A historiografia, no decorrer de sua própria história, conheceu muitas 
‘escolas históricas’. Algumas eram entendidas como ‘escolas’ pelos 
seus próprios praticantes, outras foram classificadas como escolas 
independentemente de seus componentes. Uma boa parte das 
‘escolas históricas’ até hoje conhecidas relacionaram-se a 
espacialidades específicas, não raro se referindo a países a que 
pertenciam os historiadores que nela se viram incluídos (BARROS, 
2010 p. 08). 
 
O trecho explicativo de Barros (2010) é detalhado quanto ao que seja uma 
Escola Teórica. É importante compreendermos como identificar quais Escolas 
se desenvolveram ao longo da historiografia e quais os seus principais 
escritores. Isso irá facilitar a compreensão de conceitos que comumente estão 
ancorados no conjunto produzido pelos diversos historiadores que fazem parte 
de uma determinada Escola. Por exemplo, uma das Escolas conhecidas e 
comuns na contemporaneidade da produção historiográfica é a Escola dos 
Annales. 
 
Conclusão da aula 2 
 
Chegamos ao final de mais uma aula. Pudemos conhecer sobre alguns 
pressupostos que devem estar na formação do historiador para que seja possível 
efetivar um trabalho que esteja em harmonia com a sociedade. Isso porque a 
historiografia, a produção do conhecimento histórico, está vinculada à realidade 
social do historiador. Também pudemos entender o desenvolvimento das 
escolas teóricas e sua importância na produção do conhecimento histórico. 
Concomitante à sua importância, foi exposto sobre os paradigmas e como ocorre 
o processo de transição de um paradigma para outro, lembrando que isso não 
ocorre de forma repentina, mas dentro de um processo em que os paradigmas 
coexistem, com significativa dominação de um paradigma. 
 
 
 
28 
 
Atividades de Aprendizagem 
Descreva sobre o papel das escolas de teorias para o trabalho do historiador 
ou mesmo do professor de história, em que essas escolas teóricas 
influenciam, seja na pesquisa ou na docência do trabalho do historiador ou 
professor. 
 
 
 
 
Aula 3 – O ofício do Historiador: Heródoto e Tucídides 
 
Apresentação da aula 3 
 
Olá, aluno. Seja bem-vindo à terceira aula da disciplina Teoria da História 
I. A partir de agora, você vai conhecer alguns historiadores, ao longo de 
determinados períodos históricos, que foram importantes para concebermos e 
compreendermos o que é ou deve ser o ofício de Historiador. Nesta aula, em 
específico, iniciaremos nossas análises com dois grandes nomes para a 
historiografia. São eles, Heródoto (485-425 a.C.) e Tucídides (460-395 a.C.). 
 
3.1 Heródoto (485-425 a.C.) 
 
A História, mesmo antes do seu reconhecimento enquanto disciplina 
científica, que vai ocorrer no século XIX, procura refletir sobre sua forma de 
construção do conhecimento, sua escrita e critérios para que a obra seja, de fato, 
História. Na mesma rota, esse tipo de reflexão auxilia no processo de 
diferenciação de outras formas de construção literária e do próprio 
conhecimento. A partir dessa aula, nos propomos a expor e analisar alguns 
pensadores que contribuíram para esse debate teórico sobre a História, antes 
que ela fosse reconhecida como ciência, mas que contribuem até hoje para essa 
finalidade. 
Os primeiros registros analisados ocorrem ainda na Grécia Antiga, berço 
do pensamento racional do Ocidente, com o surgimento da Filosofia, com nomes 
como Sócrates, Platão e Aristóteles, período que também será de preocupação 
 
 
29 
 
com as narrativas históricas e as formas existentes de acúmulo de informações 
sobre o passado. Nesse sentido, para os historiadores gregos, o ponto de partida 
para seu debate era comumente as obras homéricas Ilíada e Odisseia, em que 
é contado às gerações futuras o passado mítico dos gregos. O primeiro 
contribuinte da antiguidade grega a ser exposto é Heródoto (485-425 a.C.). 
 
 
Heródoto (485-425 a.C.) 
Fonte: https://i1.wp.com/socientifica.com.br/wp-content/uploads/2019/03/2351.jpg?resi 
ze=1537%2C1920&ssl=1 
 
Heródoto nasceu no século V a.C., e foi responsável por documentar 
(dentro das possibilidades de seu tempo) a invasão dos Persas à Grécia. O 
marco de Heródoto comparado a outras formas de acúmulo histórico do mesmo 
período, é a preocupação com critérios metodológicos para a pesquisa e 
exposição acerca do seu objeto. Nesse sentido, não éa simples exposição de 
fatos ou mitos, mas, anteriormente a isso, há uma preocupação em como expor, 
em como pesquisar, pressupostos inerentes ao caminho de construção de um 
saber científico. 
 
 
30 
 
É claro que ao pensarmos a realidade de Heródoto, temos que respeitar 
as condições do seu tempo e de sua realidade sócio-histórica. Apesar de a 
Grécia estar em um processo de racionalização da vida, por meio de reflexões 
filosóficas, é necessário ter em mente que a realidade cultural de Heródoto é 
encharcada pelo mito e pelas poesias de Homero, em que ocorre uma exposição 
romântica e heroica dos elementos históricos, dificultando a separação daquilo 
que é evidentemente o fato, o histórico concreto. 
De alguma forma, essa característica romântica permeará a obra de 
Heródoto. Sua obra será permeada pelo mito, servindo para explicar fatos e 
acontecimentos, algo típico da epopeia grega (poema extenso que narra fatos 
heroicos; Ilíada e Odisseia são epopeias). Heródoto se propõe a relatar o 
processo histórico com o objetivo de conservar os fatos, para que o 
conhecimento não se perca por meio do tempo. 
A inovação de Heródoto com relação às epopeias é a crítica e a reflexão 
sobre os fatos expostos, algo incomum, já que os relatos buscavam a construção 
e exacerbação do heroico em detrimento dos fatos criticamente analisados. Essa 
crítica estava assentada no método da causa e efeito, ou seja, Heródoto busca 
na exposição analítica do seu objeto, uma causa explicativa, que conduz a certa 
medida de reflexão crítica. O Efeito, no seu caso, é a Invasão Persa. A partir 
disso, há a busca das causas motivadoras que permitiram esse processo. 
Na busca incessante pelas causas, Heródoto se propõe a uma exposição 
histórica densa e interdisciplinar ou, se preferir, multidisciplinar. Logo de início, 
ao analisar a escrita heroditiana, é possível diagnosticar um forte apelo à 
geografia. Ele busca uma descrição territorial do espaço, procurando elementos 
causais que viabilizaram ou dificultaram o processo de invasão persa. Para além 
da “simples” geografia, Heródoto apela mais profundamente à geomorfologia dos 
territórios pelo qual seu objeto circula. 
Outro contato interdisciplinar palpável na obra heroditiana é a 
Antropologia. Há uma busca considerável pela descrição antropológica dos 
sujeitos históricos inseridos no processo analisado, inclinando o historiador a 
outras formas de conceber o homem enquanto sujeito de ação. Encontramos 
também uma preocupação com aspectos arquitetônicos, demonstrando sua 
flexibilidade analítica e conhecimento de outras áreas, para que houvesse a 
percepção dessas influências sobre o objeto analisado. 
 
 
31 
 
Durante a exposição textual de Heródoto, é possível encontrar uma 
heterogeneidade de gêneros literários na forma expositiva. Isso ocorre sobretudo 
por que a obra heroditiana, apesar de significar a busca por uma História com 
certo rigor, não significa o propósito específico de negação das obras épicas. Ao 
contrário, Heródoto parte dos épicos e incorpora parte do seu conteúdo para 
dentro de sua produção historiográfica. Esse processo permite ao historiador 
conter, em um trabalho, a diversidade de gêneros literários. Nesse sentido, 
encontramos o épico, a fábula, a literatura, e a descrição de práticas religiosas, 
enquadradas dentro de uma exposição sistemática. 
 
Importante 
Esse processo de construção do conhecimento histórico cria em Heródoto a 
seguinte realidade: 
 
As consequências das ações observadas por Heródoto sob a 
perspectiva de causas e efeitos ora são explicadas por um pensamento 
mítico, ora justificadas por fatos, ora por suas práticas culturais, ou 
ainda, por seu caráter. Por uma noção de justiça operada pelos deuses 
que é materializada nos revezes ou nos sucessos das suas 
personagens. Enfim, notamos na narrativa heroditiana a transição do 
pensamento mítico para um mais racional, que resulta em sua visão 
racional do mito, embora o maravilhoso não seja totalmente descartado 
de sua compreensão dos fatos. (SHLOGL, 2000, p.38). 
 
Nesse sentido, fica claro que as realidades históricas e míticas coexistem 
na obra de Heródoto. Essa coexistência não é ocasional, mas resultado do 
processo cultural no qual o próprio historiador está inserido. Em certa medida, é 
como se o homem, daquela realidade, estivesse inserido em um tempo, cujo 
imaginário mítico não estivesse dissociado das suas estruturas, ou seja, para 
esse período, mito e realidade eram verossímeis, portanto, ambos tratados como 
História. 
 
 Saiba mais 
A maioria dos mitos gregos foi recontada e, consequentemente, modificada, 
articulada e sistematizada por Hesíodo e Homero, pelos rapsodos e mitógrafos. 
As tradições mitológicas do Oriente Próximo e da Índia foram persistentemente 
 
 
32 
 
reinterpretadas e elaboradas por seus respectivos teólogos e ritualistas. Isso não 
significa, evidentemente, que 1) essas Grandes Mitologias tenham perdido sua 
"substância mítica" e que não passem de "literatura" ou que 2) as tradições 
mitológicas das sociedades arcaicas não tenham sido remanipuladas por 
sacerdotes e bardos. Para uma melhor compreensão sugiro ler, na íntegra, o 
artigo disponível no link: http://www.usp.br/cje/depaula/wp-content/uploads/20 
17/03/eliade-mircea-mito-e-realidade.pdf 
 
Para finalizar a exposição sobre Heródoto, é importante compreender o 
conteúdo da sua obra como algo permeado por múltiplas culturas, 
multidisciplinar e de narrativa romanceada. Por outro lado, sua exposição é 
sistemática, permeada por uma preocupação investigativa dos fatos, 
caminhando para a busca de uma verdade preocupada com a datação e as 
causas e efeitos dos acontecimentos, constituindo-se como algo inovador na 
produção literária do seu tempo. 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
3.2 Tucídides (460-395 a.C.) 
 
Outro contribuinte da produção do conteúdo histórico da Antiguidade 
Grega e que também se preocupou com o debate acerca dos critérios e rigor da 
Heródoto
Exposição 
sitemática
Geografia 
geomorfológica 
(descrição dos 
territórios)
Narrativa 
romântica
Causa e 
efeito
Coexistência da 
realidade mítica 
e histórica
Investigação 
dos fatos
 
 
33 
 
pesquisa e exposição literária, foi Tucídides. Oriundo de Atenas, no século V, 
Tucídides estava embebido em uma realidade cultural muito rica para o 
pensamento racional. Atenas foi o berço da filosofia, onde encontramos os 
primeiros nomes ocidentais, que se esforçaram por questionar a sua realidade, 
se afastando das explicações míticas e divinas para questões de ordem natural 
e humana. 
 
 
Tucídides (460-395 a.C.) 
Fonte: https://minionu15anoscgp421ac.files.wordpress.com/2014/09/tucidides.gif 
 
Submerso nessa realidade, a contribuição de Tucídides caminha nessa 
perspectiva coerente a seu tempo e sua realidade cultural, ou seja, a produção 
historiográfica de sua análise busca a intelecção racional de seu mundo e, 
consequentemente, do seu objeto. Antes de avançarmos na exposição sobre o 
autor, cabe uma observação: o exemplo de Tucídides, da forma que estamos 
trabalhando nessa aula, demonstra a importância de se conhecer o contexto 
temporal e territorial em que está inserido o autor sobre o qual nos debruçamos. 
O sujeito é fruto do seu tempo, e muito da sua teoria tem explicação nessa 
 
 
34 
 
realidade cultural, territorial e temporal. Por isso, partimos sempre do contexto, 
social e temporal em que está inserido nosso objeto de análise. 
Tucídides, tal qual Heródoto, também vai expor analiticamente sobre um 
período de conflito, nesse caso, a Guerra do Peloponeso. Apesar dessa 
semelhança entre os dois objetos de nossa aula, Tucídides criticou a abordagem 
de Heródoto devido ao seu excesso de mítica e pouca preocupação com a 
realidade dos fatos. Essa crítica reforça as características da obra de Tucídides, 
tanto na pesquisa quantona forma de exposição. Isso no sentido de que há uma 
significativa inclinação para uma preocupação metodológica muito próxima às 
formas de conhecimento empíricas e racionalistas, como a medicina ou mesmo 
a investigação forense. Além disso, havia uma influência da realidade sofista, 
política e da própria tragédia, outros influentes do período e da realidade 
vivenciada por Tucídides. 
 Em contradição à própria crítica a Heródoto, Tucídides, aplicará, em sua 
exposição, uma retórica épica da Guerra do Peloponeso, transformando os fatos 
em feitos grandiosos e gloriosos. Segundo a análise historiográfica, por ser 
oriundo da epopeia, é possível encontrar na obra os seguintes princípios 
constitutivos no interior de sua narrativa: 
 
 Princípio Onomasiológico: que se define pela questão do sujeito; 
 
Vocabulário 
Onomasiológico: uso do contexto da ideia para chegar-se à palavra, do 
conhecimento abstrato ou concreto da realidade. Parte do contexto que dá ideia 
ao signo. 
 
 Princípio Axiológico: ou seja, questão inerente à grandeza, à 
soberania do sujeito que se basta; 
 Princípio Metodológico: que se apresenta a partir do 
questionamento acerca do princípio das coisas, ou seja, 
preocupação com o “como e porque se iniciou” o processo em 
análise; 
 Princípio Etiológico: que busca a causa dos fatos; 
 
 
35 
 
 Princípio Teleológico: que trabalha a questão da utilidade, ou 
seja, para que serviu, quais foram os possíveis desdobramentos do 
objeto em análise. 
 
Esses princípios contidos na obra de Tucídides podem ser percebidos 
enquanto Fundamentos Epistemológicos de sua construção histórica. Apesar de 
toda essa construção complexa, o autor conserva a estrutura tradicional da 
narrativa épica, no processo de exposição do objeto. Aqui, há algo importante, 
em diferença com Heródoto. A epopeia contida em Heródoto está na própria 
forma com a qual o autor convive no seio da cotidianidade, ou seja, o mítico é 
parte real da vida cotidiana, é verdade para o homem cotidiano. Em 
contrapartida, na obra de Tucídides, há, nesse sentido, a diferença. A epopeia 
desse autor não é uma perspectiva sobre a vida cotidiana, mas um mecanismo 
literário na exposição, ou seja, trata-se da construção do gênero literário de uma 
escrita que busca transformar o objeto em algo mais épico do que se possa ter 
apresentado na realidade cotidiana. 
Essa assertividade em Tucídides é possível pelo fato de que ele vivenciou 
a guerra do Peloponeso, ou seja, enquanto Heródoto recorre aos resquícios do 
passado, inclusive o registro poético para construir o conhecimento do seu 
objeto, Tucídides registra o fato enquanto ele acontece, vivenciando in loco o 
objeto sobre o qual decide registrar. Isso permite compreender que a epopeia 
contida na escrita expositiva de Tucídides se trata de uma decisão metodológica 
para tonar o feito da sua obra algo mais glorioso. 
 
Vocabulário 
In loco: é uma expressão em latim, que significa "no lugar" ou "no próprio local" 
e é equivalente à expressão in situ. Esta locução adverbial latina é muito usada 
na língua portuguesa, mas nem sempre é usada de forma correta. In locu ou in 
lócus são formas erradas da expressão, apesar de lócus significar "lugar", em 
latim. 
 
Esse esforço e o fato de ter vivenciado a realidade cotidiana do objeto em 
análise, torna a exposição sobre a Guerra do Peloponeso uma escrita dura, 
 
 
36 
 
enrijecida, de difícil compreensão. O fato de vivenciar a realidade pesquisada 
induz, em certa medida, o historiador a idas e vindas, na forma expositiva, que 
torna a caminhada do leitor algo mais desafiador. Por outro lado, permite ao 
processo de pesquisa a construção de maior rigor e análise mais criteriosa do 
objeto. Por isso, houve significativa preocupação por parte de Tucídides em 
expor sua própria trajetória, pois sua vivência se confunde ao do objeto na sua 
cotidianidade, ou seja, ele trata de um objeto que está analisando e vivendo ao 
mesmo tempo. 
Isso permite ao autor uma análise mais peculiar quanto à realidade política 
e social do seu objeto, transformando-o em um historiador do comportamento 
político do seu tempo. A influência do sofismo na escrita expositiva acentua essa 
possibilidade. No rigor metodológico proposto pela historiografia de Tucídides, 
há diversos elementos do sofismo. Por exemplo, a busca pela distinção de dois 
elementos que determinam o comportamento do homem na sociedade. Para o 
historiador, esses elementos eram a Physis (natureza) e o Nomos (costume ou 
lei). 
Ao separar Physis e nomos, elementos no processo analítico e expositivo 
do seu objeto, ele propõe uma perspectiva do inato, ou seja, há elementos inatos, 
naturais no objeto e há elementos sociais, da realidade dos costumes, leis, que 
são necessários para o controle dos impulsos e que devem ser observados no 
processo de construção do conhecimento. A Grécia vinha passando por 
sucessivos conflitos, antes contra inimigos externos, agora entre gregos, em que 
se expunha parte do instinto da sobrevivência e dominação, de um lado, e a 
necessidade de repensar os parâmetros de convivência para que não viesse a 
haver novas ondas de conflito que colocassem em xeque a sociedade em que 
estava inserida Tucídides. 
 
 Saiba mais 
Tem-se em vista, mais particularmente, discutir, brevemente, os antecedentes 
remotos e próximos daquele grande e longo conflito que, opondo letalmente as 
duas principais cidades-estado da Hélade e seus respectivos aliados, gerou as 
condições que conduziriam ao declínio da Grécia clássica, à hegemonia 
macedônica e, a longo prazo, à final dominação da Grécia por Roma. Arrasada 
pela guerra, Atenas jamais recuperou, depois de 404 a.C., sua precedente 
 
 
37 
 
capacidade de liderança, não obstante um momento de relativo ressurgimento, 
no século IV com a denominada Segunda Liga, Ateniense. Para um melhor 
aprofundamento sobre a Guerra do Peloponeso, leia, na integra, História da 
guerra do Peloponeso, disponível no link: http://www.dominiopublico.gov.br 
/download/texto/al000234.pdf 
 
Nesse sentido, o autor está vivenciando o apogeu ateniense. A 
democracia ateniense está dominando, a filosofia disseminada por toda parte do 
mundo conhecido e, por isso, essa dualidade analítica entre uma realidade inata 
e uma realidade socialmente desenvolvida está intrínseca ao processo analítico 
de Tucídides. 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
Conclusão da aula 3 
 
Chegamos ao final de mais uma aula, em que aprendemos sobre a 
contribuição de Heródoto e Tucídides no processo de construção do 
Tucídides
Escreveu sobre a 
Guerra do 
Peloponeso.
Buscou uma 
intelecção mais 
racional dos fatos.
Possui aspectos 
empiristas e 
Racionalistas.
Narrativa épica típica 
da epopeia.Escrita de difícil 
compreensão, influenciado 
pelos sofistas e sobre o 
comportamento político.
Princípios 
Onomasiológicos; 
Axiológicos; 
Metodológicos; Etiológico 
e Teleológico; 
Fundamentos 
epistemológicos da obra 
de Tucídides.
Distinção dos elementos 
Physis (natureza) e Nomos 
(costume, lei e proteção 
aos impulsos).
 
 
38 
 
conhecimento histórico. A novidade com ambas as personagens da antiguidade 
é justamente uma embrionária preocupação com o como fazer a história, 
pensando em pressupostos teóricos e metodológicos da produção 
historiográfica. É uma discussão e preocupação historiográfica, sem mesmo 
haver necessariamente esse termo no contexto histórico dos autores. 
Heródoto com uma narrativa que se aproveita do discurso mítico de 
Homero, sobre o passado dos gregos em Ilíada e Odisseia, formulando uma 
produção histórica sobre a Guerra, valorizando atos heroicos e construindo uma 
narrativa poética. A novidade metodológica de Heródoto era justamente uma 
perspectiva de causa e efeito, cuja exposição, apesar de todo romantismo 
literário, estava construída de forma sistemática. Para além,Heródoto presava 
por um historiador ativo, que não se privasse de vivenciar os fatos históricos. 
 
Atividades de Aprendizagem 
Use o esquema no final da exposição sobre os procedimentos do Heródoto e 
de Tucídides para construir uma síntese do conteúdo abordado. Essa síntese 
deve conter no máximo duas laudas. 
 
 
 
 
Aula 4 – O ofício do Historiador: Políbio e Cícero 
 
Apresentação da aula 4 
 
Olá, aluno. Seja bem-vindo à quarta aula da disciplina Teoria da História 
I. A partir de agora, nós vamos dar continuidade à exposição de intelectuais que 
contribuíram para o debate historiográfico, mesmo antes do reconhecimento da 
História enquanto uma disciplina científica que, como fora dito, só ocorrerá a 
partir do Século XIX. 
Nesta aula daremos importância a dois nomes, como foi na aula anterior. 
Dessa vez, contemplaremos Políbio e Cícero. O primeiro escreveu a obra 
Histórias, cujo conteúdo é sobre o Mediterrâneo. Políbio viveu entre 203-120 
a.C., e procura estabelecer diversos pontos analíticos que estivessem 
 
 
39 
 
relacionados com as obras de Heródoto e Tucídides. O segundo, Cícero, mais 
especificamente Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), homem experimentado na 
vida militar, estudioso de filosofia, buscou, mesmo na Retórica, as características 
inerentes às suas obras de História. Esse esforço se deu tendo como objeto de 
pesquisa justamente o processo de ascensão e dominação do Império Romano. 
 
4.1 Políbio (203-120 a.C.) 
 
 
Políbio (203-120 a.C.) 
Fonte: https://littera.es/wp-content/uploads/2018/10/polybius.jpg 
 
 
Políbio cobriu a história do mundo entre 220 a.C. a 146 a.C., nasceu em 
uma Polis Grega chamada Megalópoles, na região do Peloponeso. Foi membro 
de uma liga que se formou naquela região, conhecida como Liga de Aqueia. O 
fato de ter sido membro dessa liga importa para a sua historiografia, dado o seu 
perfil combativo e ativo na pesquisa e produção de conhecimento. Foi esse fator 
da sua trajetória que lhe proporcionara uma espécie de Exílio pelo Império 
Romano. Alguns vão tratar como exilio e outros vão abordar sob a perspectiva 
 
 
40 
 
de refúgio, sobretudo devido ao tratamento que há por parte dos romanos com 
o historiador. 
A principal produção historiográfica de Políbio foi a obra Histórias, que 
trata sobre a história do mundo mediterrâneo, com foco para a ascensão e 
dominação do Império Romano, bem como a sua forma de dominação política. 
Tratando o seu objeto como algo de características diplomáticas, Políbio 
abordava o processo de dominação dos romanos a outros povos não 
necessariamente como um ato de guerra hostil, mas como um processo munido 
de uma diplomacia tão peculiar, que devia ser analisada de maneira mais 
contundente. Dado o processo de dominação e expansão do Império Romano, 
e sua sede por conquista e ampliação de poderes, é uma abordagem que 
surpreende para a época. Uma abordagem que presa por ressaltar 
características diplomáticas daquele que era tido como o maior império do 
mundo conhecido. 
 
 Saiba mais 
[...] Resolvi escrever uma História do gênero pragmático, primeiro porque há 
sempre uma novidade digna de tratamento novo, não seria possível aos antigos 
narrar eventos posteriores à sua própria época e, em segundo lugar, por ser 
considerável a utilidade prática de tal gênero de História, tanto no passado 
quanto, e principalmente, no presente, numa época em que o progresso das 
artes e das ciências tem sido tão rápido que as pessoas desejosas de aprender 
são capazes, digamos assim, de submeter a uma análise metódica quaisquer 
circunstâncias passíveis de exame. Sendo então o meu objetivo não tanto 
entreter os leitores quanto beneficiar os espíritos afeitos à reflexão [...], me 
dediquei a escrever este gênero de História. (POLÍBIO, 1996, p. 2). 
 
No processo analítico que empreende sobre as características e 
estruturas de funcionamento do Império Romano, o historiador chama a atenção 
para um processo em que as instituições do Império sucumbem diante da cobiça 
e ganância por poder particulares de sujeitos desse cenário. Essa é uma análise 
que é constantemente confirmada pela Historiografia contemporânea sobre o 
Império Romano. Uma das questões que pode ser aprofundada pelo aluno é 
pesquisar nomes de imperadores ou magistrados romanos que foram 
assassinados por meio de algum complô de traição. 
 
 
41 
 
 Saiba mais 
O Império Romano durou de 27 a.C. a 476 e foi o período em que Roma dominou 
grande parte da Europa, o norte da África e também regiões do Oriente Médio. 
A época dos imperadores começa após a Crise da República, que termina com 
o assassinato de Júlio César. Sucedem-se imperadores de várias famílias 
patrícias que enfrentam rebeliões internas, invasão dos povos nórdicos, e o 
surgimento do cristianismo. Para um melhor apanhado de cada imperador 
romano, acesse o link disponível: https://www.todamateria.com.br/imperadores-
romanos/ 
 
Como foco de nossa aula, devemos nos atentar, a partir de agora, para 
as contribuições de Políbio na discussão historiográfica de que deve ser a 
História ou ainda, como deve ser a produção do conhecimento histórico. Nesse 
sentido, Políbio é um crítico de trabalhos de quaisquer fontes de referenciais 
teóricos, ou seja, ele rebate que a consulta de livros e análise com consequente 
exposição do conteúdo visto seja a produção do conhecimento historiográfico e, 
sendo assim, se torna uma produção carente do brilho real da produção do 
conhecimento histórico. 
Para ele, o historiador é um oficio cujo sujeito deve ser ativo no processo 
de conhecimento da história, se exaurindo de todas as possibilidades de 
pesquisa passiva do objeto. Nesse sentido, há, por Políbio, a cobrança por uma 
pesquisa historiográfica dos olhos, ou seja, é necessário que o historiador 
investigue com seus próprios olhos o objeto, não se limitando às fontes teóricas. 
Por isso, Políbio irá realizar viagens, a fim de conhecer empiricamente o objeto 
de sua pesquisa, o próprio Império Romano. 
É justamente por esse aspecto, que não há consenso sobre se recebeu 
do Império Romano refúgio ou exílio, devido à intensidade com a qual viajou, a 
fim de conhecer empiricamente a expansão territorial e o perfil político que se 
aplicava no contexto do Império Romano em suas relações de dominação. Para 
ele, o historiador que de fato deve ser admirado, é aquele que presencia os 
acontecimentos por meio de viagens exaustivas, cuja exigência é um trabalho 
duro e árduo, mas que, por outro lado, gera um conteúdo extremamente valioso, 
constituindo-se enquanto a parte mais importante da História. 
 
 
 
42 
 
Importante 
Em um de seus escritos, Políbio faz a seguinte observação: 
 
Se o historiador implica ser um homem de ação, que anda, viaja, 
peregrina, semelhante ao que fez o Ulisses de Homero, homem de 
espírito fértil, que entrou por cidades de inúmeros povos, suportou no 
mar sofrimentos sem número, enfrentou homens na guerra e ondas 
cruéis (POLÍBIO, 1996, p. 418). 
 
Tanto no parágrafo anterior, quanto nessa passagem em destaque, 
Políbio nos oferece conteúdo para delinearmos algumas de suas contribuições 
para o oficio do historiador, bem como para a própria Historiografia. O 
pesquisador, assim, não é um mero visitador do passado. É alguém que, ao 
perceber a importância do que está ocorrendo no tempo presente, insere-se no 
processo, se dedicando a conhecer e escrever in loco sobre o objeto, para que 
o resultado seja verossímil. Aqui, ocorrem, de forma embrionária, características 
historiográficas que até hoje são discutidas no processo de construção da 
História. 
Primeiro, podemos destacar, assim como em Heródoto, uma pesquisa 
participativa, ou seja, o pesquisador, na ânsia de conhecer a totalidade complexa 
do seu objeto, participa do processo cotidiano, na tentativa de vivenciar ao 
máximo o cenário em construção e onde se deram os fatos pesquisados. Hoje,há o conceito metodológico de pesquisa participativa, em que sujeito e objeto 
experimentam a realidade pesquisada a fim de captar perspectivas que fogem a 
métodos mais distantes. 
Outro ponto que trabalhamos na historiografia contemporânea e 
apresenta certa semelhança com a contribuição de Políbio, é a perspectiva de 
História do Tempo Presente. Ao escrever a História no exato momento em que 
ela está ocorrendo, nos torna uma espécie de historiadores do tempo presente, 
prática que exige em demasia do historiador e possui uma relação quase que 
transdisciplinar com a sociologia, por exemplo. Nesse sentido, a Sociologia 
apresenta-se enquanto uma disciplina responsável pela análise da sociedade, 
seus dilemas e perspectivas enquanto eles estão ocorrendo. Tanto que é 
comum, historiadores do tempo presente recorrerem a ferramentas e métodos 
da sociologia para observar seu objeto, ou mesmo fundamentar sua escrita. 
 
 
43 
 
Para Políbio, o ato de agir em prol do conhecimento do objeto significa 
partir de atividades reais e estar profundamente envolvido com o seu trabalho e 
com sua pesquisa. Para ele, essa característica é pressuposto para que seja um 
Historiador. A História, nessa perspectiva, deve ser uma História de fatos reais, 
ou seja, uma História cujo compromisso é registrar fatos reais e não teorizar 
sobre algo em que não possa haver quaisquer acessos senão documentos e 
memórias. 
Do ponto de vista da escrita historiográfica, Políbio se esforça para 
diferenciar as formas literárias atribuídas à poesia com relação à escrita da 
História. Para esse processo, ele faz uso da Tragédia, e busca certo 
distanciamento metodológico de Tucídides. A Tragédia, na perspectiva de 
Políbio, pode, em certa medida, criar certa experiência do que pode ter ocorrido, 
mas não do ocorrido, de fato. Isso implica uma história viajante, ativa e 
compromissada com o trabalho árduo. 
 
 
 
Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 
 
Políbio
Registra a História do 
Mediterrâneo e 
ascensão do Império 
Romano.
É 
investigativo, 
procura viajar 
para conhecer 
o objeto.
O historiador 
não deve 
atribuir 
palavras aos 
personagens.Busca a 
diferenciação de 
História e escrita 
da Poesia, 
usando a tragédia 
para 
exemplificação.
O historiador 
registra fatos 
reais, tendo 
envolvimento 
com o objeto, 
sendo, portanto 
parcial.
O historiador 
deve presenciar 
os 
acontecimentos 
com trabalho 
árduo.
 
 
44 
 
4.2 Cícero (106-43 a.C.) 
 
O outro personagem que contribuiu para debates que envolvessem a 
construção de História que tece crítica sobre seu próprio modus operandi, dando 
origem a uma discussão historiográfica de como deve ser o processo de 
construção do conhecimento histórico, é Cícero. 
Marco Tulio Cícero (106-43 a.C.) foi um historiador romano que contribui 
significativamente para um debate historiográfico dentre cronistas romanos, 
experiente na vida militar, estudante de filosofia, que, no processo de 
desenvolvimento da sua vida intelectual, passou a se interessar pela retórica. Na 
retórica, Cícero investiu grande parte dos seus esforços intelectuais, tanto que a 
usará para nortear a sua perspectiva expositiva do conteúdo histórico. Ainda 
sobre sua trajetória, é considerado o primeiro caso romano a chegar aos 
principais postos do governo do império com base na sua eloquência e exercer 
a função de magistrado civil. 
 
 
Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) 
Fonte: https://i0.wp.com/pensamentoliquido.com.br/wp-content/uploads/2017/08/cicero. 
jpg?fit=1080%2C513&ssl=1 
 
Devido ao seu ímpeto retórico, Cícero desenvolve o que ficou conhecida 
como História Ornata, ou seja, uma escrita literária do conhecimento histórico 
que seja embelezada. Em outros termos, que haja uma rebuscada escrita da 
 
 
45 
 
história, e parte do res gestae (fatos ocorridos), tenha sua validade na beleza 
retórica do historiador, inclusive com a obediência por parte do historiador às 
regras literárias da disciplina de retórica. Nesse sentido, o gênero desenvolvido 
e proposto por Cícero, deve obedecer a uma verdade retoricamente 
compreendida, permitindo ao historiador um afastamento da verdade fática para 
dar maior importância para a capacidade de argumentação. 
Vamos explorar um pouco mais essa perspectiva. A proposta de Cícero 
não priva o leitor dos fatos, há a existência de um fato que é objeto de análise 
do historiador. Mas, ao expor o fato criticamente, não é apenas o seu conteúdo 
ocorrido que deve ser responsável pela validade do conhecimento gerado. Para 
além do próprio conteúdo fatual, o convencimento é exercido também pela 
capacidade de argumentação do historiador, por meio de aplicações de técnicas 
de retórica aplicada no processo de construção literária do conhecimento. 
Apesar de ser historiador romano, se utilizou dos modelos gregos de 
produção histórica, para depois separá-la, inaugurando sua proposta pautada 
nas técnicas de retórica. O seu ecletismo filosófico foi influenciado pelas escolas 
clássicas e helenistas da Grécia Antiga, em um momento histórico que 
presenciou diversos conflitos sociais e consequente pacificação, por Augusto. 
 
Curiosidade 
Em 95 a.C., a Lex Licínia Múcia, lei romana cujo objetivo era remover da lista de 
romanos pessoas ou grupos que alegavam serem romanos, entra em vigor, 
passando a condenar os aliados que buscavam por cidadania e a conseguiam 
de forma irregular. Outro fato ocorrido foi a Guerra Social, iniciada em 91 a.C., 
envolveu picenos, lucanos, marsos, samnitas, apúlios, etruscos e úmbrios no 
confronto contra os romanos. Estes povos se uniram para formar uma nova 
república que, curiosamente, recebeu o nome de Itália. 
 
Ao propor, então, modelos constituídos no processo de exposição 
literária, Cícero entende que há três formas comuns de conhecimento histórico: 
essas formas são: as Fábulas, a História e o Argumento. As fábulas tratam de 
uma proximidade à poesia, e expõem questões que não podem e não devem ser 
tratadas como verdades. As fábulas expressam ideias como dragões, gigantes 
 
 
46 
 
e alados. Entende-se que essa é sua classificação para um modelo próximo à 
poesia de Homero, em que há a mistura literária de fatos históricos e mitos. 
A História, nessa classificação de Cícero, refere-se ao fato conhecido 
objetivamente, e que se apresenta longe da memória, ou seja, não se trata 
somente de um fato estudado por meio da memória, mas um fato observável no 
presente in loco e que poderia ser descrito como uma produção historiográfica. 
Já o argumento é o fato, a partir da história, que deve ser imaginado. Essa 
imaginação não era algo conduzido aleatoriamente, mas deveria ser nutrida de 
um esforço considerável para se pensar em como aquele fato histórico poderia 
vir a ocorrer, tendo o convencimento por meio de uma argumentação bem 
construída, pautada em técnicas de retórica. 
 
Curiosidade 
Este trabalho divide-se em duas partes: a primeira consiste em um estudo sobre 
o diálogo Brutus de Marco Túlio Cícero, a segunda apresenta uma tradução 
completa da obra. Para maiores informações acesse o link: 
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8143/tde-06052015-121442/publico 
/2014_OlavoViniciusBarbosaDeAlmeida_VOrig.pdf 
 
Cícero era crítico de um modelo de História que se limitasse a seleção de 
fatos observáveis, portanto, a escrita literária do conhecimento histórico deveria 
ser abastecida pelo ornare, ou seja, pelo processo de embelezamento, pela ação 
de adornar no momento de exposição do fato, por meio da oratória. 
No contexto da pesquisa e da exposição literária do conteúdo histórico, 
está, entre os diversos objetivos do historiador, a busca pela realidade dos fatos, 
construindo uma verdade histórica, sendo que, para Cícero, a verdade histórica 
não está necessariamente nos fatos, mas na retórica, enquanto meio de 
convencimento. 
Cícero também empreendeu uma espécie

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