Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Disciplina: Teoria da História I Autor: M.e Rangel Max Lima Vidal Revisão de Conteúdos: D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Designer Instrucional: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica: Esp. Murillo Hochuli Castex Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Rangel Max Lima Vidal Teoria da História I 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r Jefferson Zeferino / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd Designer Instrucional Sérgio Antonio Zanvettor Júnior Revisão Ortográfica Murillo Hochuli Castex Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA VIDAL, Rangel Max Lima. Teoria da História I / Rangel Max Lima. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 103 p. ISBN: 978-85-5475-486-0 1. Autor interdisciplinar. 2. Historiografia. 3. Modus Operandi. Material didático da disciplina de Teoria da História I – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio....................................................................................................... 07 Aula 1 – Introdução à Teoria da História I ................................................... 08 Apresentação da Aula 1 ............................................................................. 08 1.1 - O que é Teoria da História? ......................................................... 09 1.1.1 - Teoria da História, Metodologia, História e Historiografia: Debates e Perspectivas.............................................................................. 12 Conclusão da aula 1 ................................................................................... 16 Aula 2 – Pressupostos para conhecer a História ........................................ 17 Apresentação da aula 2 .............................................................................. 17 2.1 - Subsídios teóricos da historiografia I ........................................... 18 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 27 Aula 3 – O ofício do historiador: Heródoto e Tucídides ............................... 28 Apresentação da aula 3 .............................................................................. 28 3.1 - Heródoto (485-425 a.C.) .............................................................. 28 3.2 - Tucídides (460-400 a.C.) ............................................................. 32 Conclusão da aula 3 ................................................................................... 37 Aula 4 – O ofício do Historiador: Políbio e Cícero ........................................ 38 Apresentação da Aula 4 ............................................................................. 38 4.1 - Políbio (200-115 a.C.) .................................................................. 39 4.2 - Cícero (107-43 a.C.) .................................................................... 44 Conclusão da aula 4 ................................................................................... 48 Aula 5 – A História na perspectiva de Agostinho e Vico .............................. 48 Apresentação da aula 5 .............................................................................. 48 5.1 - Agostinho de Hipona (354-430) ................................................... 49 5.2 - Giambattista Vico (1668-1744) .................................................... 54 Conclusão da aula 5 ................................................................................... 59 Aula 6 – A história na perspectiva de Hume, Gibbon e Von Hanke ............. 60 Apresentação da aula 6 .............................................................................. 60 6.1 - David Hume (1711-1776) ............................................................ 61 6.2 - Edward Gibbon (1737-1974) ....................................................... 65 6.3 - Leopold Von Ranke (1795-1886) ................................................. 69 Conclusão da aula 6 ................................................................................... 74 Aula 7 – Thomas Carlyle (1795-1881) e Wilhelm Von Humboldt (1767- 1835) .......................................................................................................... 75 6 Apresentação da aula 7 .............................................................................. 75 7.1 - Thomas Carlyle (1795-1881) ....................................................... 75 7.2 - Wilhelm Von Humboldt (1767-1835) ............................................ 80 Conclusão da aula 7 ................................................................................... 85 Aula 8 – Ciência da História e Interdisciplinaridade na História ................... 86 Apresentação da aula 8 .............................................................................. 86 8.1 - Da Ciência para a Ciência da História .......................................... 87 8.1.1 - Interdisciplinaridade e História .................................................. 91 Conclusão da aula 8 ................................................................................... 98 Índice Remissivo ........................................................................................ 99 Referências ................................................................................................ 101 7 Prefácio Vamos trilhar um caminho para conhecer, passo a passo, a teoria da história, sua importância e como ela se apresenta ao ofício do historiador no contexto da produção do conhecimento, conhecendo um pouco mais sobre os diversos conceitos que se fazem necessários para avançarmosna análise mais profunda e específica sobre as diversas teorias produzidas ao longo da Historiografia. Entenderemos como outros pensadores discutiram ou expuseram sobre quem é o historiador e suas funcionalidades, modos de operação e demais questões que estão envolvidas no processo de construção do conhecimento histórico. Vamos lá? 8 Aula 1 – Introdução à Teoria da História I Apresentação da aula 1 Olá, aluno. Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Teoria da História I. A partir de agora, vamos trilhar um caminho para conhecer a teoria da história, sua importância e como ela se apresenta ao ofício do historiador no contexto da produção do conhecimento. Nesse sentido, a disciplina apresenta a mesma importância para a atividade de ensino de história, possibilitando a percepção sobre como os conteúdos dos livros didáticos estão ancorados em múltiplas teorias que subsidiam a produção de um determinado material. Nesta primeira aula iremos limitar a discussão a questões introdutórias, apresentando um conjunto de perguntas necessárias para que haja o aprofundamento das teorias ou mesmo de autores específicos. Os conceitos estudados aqui apresentam linguagens e perspectivas comuns à comunidade de historiadores, e permitem a compreensão dos diálogos historiográficos. Parte da História Fonte: https://www.jornalcontabil.com.br/wp-content/uploads/2017/02/ilts-social-scien ce-history-test-practice-and-study-guide_118504_large.jpg Todo campo do conhecimento é abastecido por termos e linguagem técnica que norteiam os diálogos de determinada comunidade, portanto, 9 precisamos nos atentar a esse processo, para que possamos nos desenvolver qualitativamente enquanto produtores do conhecimento historiográfico ou mesmo enquanto professores de história. 1.1 O que é Teoria da História? De acordo com o historiador José D’Assunção Barros, podemos expor a Teoria da História em três níveis de discussão, ou seja, em três perspectivas analíticas. Primeiro, podemos enxergar a Teoria da História enquanto “um modo de apreender o mundo” (p. 43). Segundo, é possível entender a Teoria da História enquanto “um campo de estudos” (p.43). E, terceiro, pode-se expor a Teoria da História enquanto “modelos e sistemas explicativos criados para compreender um determinado fenômeno, aspecto da realidade ou objeto de estudo” (p.43). Para o processo de desenvolvimento da História enquanto uma disciplina científica, a terceira dimensão do que venha a ser a Teoria da História é a que melhor se enquadra no rigor científico acadêmico. Nesse sentido, a Teoria da História não se trata de uma coisa, somente, mas de um conjunto de teorias, que, por meio de conceitos, métodos e técnicas norteiam o processo de construção do conhecimento histórico a partir da análise sistemática de um fato, evento ou fenômeno histórico no tempo. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). TEORIA Um modo de apreender o mundo. Um campo de estudos. Modelos ou sistemas explicativos criados para compreender um determinado fenômeno, objeto. 10 Em alguns programas, ainda se encontra a dualidade entre Filosofia da História e Teoria da História. Nesse sentido, deduz-se ser importante esclarecer o papel de cada uma delas, para que não haja quaisquer dificuldades ou confusões no campo da compreensão sobre o que é cada uma. Ainda embasado no historiador José D’Assunção Barros, a Teoria da História apresenta as seguintes características: Teoria da História 1. Menor carga de Especulação; 2. Preocupação Primordial com a realidade histórica percebida por meio das fontes; 3. Produções predominantemente feitas por historiadores e cientistas sociais; 4. Espaços de discussões coletivas de setores da historiografia. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). De acordo com as características elencadas na tabela acima, a menor carga de especulação ocorre na medida em que o apego é direcionado aos fatos e fontes dos fenômenos estudados, ou seja, destinado a servir no processo de instrumentalização prático do historiador. Nesse sentido, a formulação da teoria acontece criando ferramentas de ação que serão utilizadas pelo historiador no processo de análise das fontes para compreensão de um determinado objeto estudado. Por isso, as discussões no processo de criação e desenvolvimento dessas ferramentas não podem ser algo integralmente especulativo, mas devem estar contidas em uma utilização prática. Concomitante a essa menor carga especulativa, a Teoria da História está vinculada à realidade dos fatos históricos, ou seja, a produção contida no bojo da teoria deve ter uma serventia prática no processo de compreensão dos acontecimentos, ou seja, da realidade histórica observada por meio das fontes. Sendo assim, o conjunto teórico para observação dos fatos históricos por meio das fontes, e, em sua maioria, manuseado pelos historiadores e por algumas áreas interdisciplinares à História que caminham no mesmo sentido e muitas 11 vezes dividem perspectivas teóricas e instrumentos de análise do objeto. Esse processo pode ser observado na Sociologia, Antropologia, Geografia e em outras disciplinas científicas que comumente se complementam no processo de análise de um fato histórico. Por último, esse conjunto de conhecimentos acerca de um fato histórico deve ser compartilhado por um número significativo da comunidade de historiadores. Aquilo que construirmos por meio desse processo exposto não basta ser analisado e aceito única e exclusivamente pela pessoa do historiador que escreve, pois os resultados devem, em certa medida, ser aceitos pela comunidade desses profissionais. Vejamos a seguir as características relacionadas à Filosofia da História para que fique clara a diferença entre ambas: Filosofia da História 1. Maior carga de especulação filosófica; 2. Preocupação primordial com o sentido da história; 3. Produzida predominantemente por filósofos; Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Reflita A Filosofia da História é sobrecarregada de especulação, pois não há necessariamente o compromisso com o fato observável, mas, sim, algo que antecede o fato, discutindo questões como: qual é o objeto da história? Essa pergunta deve ser pensada nesta aula com calma. Quando há um objeto claro e a escolha é o conjunto teórico que irá nortear as análises, partindo para a produção do conhecimento histórico sobre o fato, nesse sentido, no campo da Filosofia da História, a pergunta suscita uma discussão anterior ao próprio fato, pensando o que é ou não objeto de estudo da História. 12 Ainda sobre essa indagação, deve-se ter claro que é uma discussão anterior ao processo prático de produção do conhecimento histórico. É um debate que norteará a construção da ciência História, no sentido de refletir criticamente sobre o que deve ou não ser objeto de estudo dessa área. Por outro lado, devemos nos conscientizar de que o caminho para onde o filósofo que discute esse tipo de questão não precisa necessariamente estar harmonizado com a comunidade de historiadores, ou seja, as discussões da Filosofia da História podem não convergir com as decisões desses profissionais que produzem o conhecimento histórico. E por que isso pode ocorrer? Filósofos e historiadores podem não convergir em suas reflexões, porque a produção da Filosofia da História pode estar circunscrita a um filósofo, não havendo quaisquer necessidades de sua formulação estar aceita pela comunidade de filósofos, como é o caso da Teoria da História. Isso faz com que muitas vezes a comunidade de historiadores não concorde com as especulações do que deve ou não ser objetoda história, por parte da Filosofia da História. Nesse caminho, há diferenças entre Teoria da História e Filosofia da História: o fato de que a primeira está ancorada nos fatos históricos, enquanto a segunda está ancorada em discutir o sentido da história, ou seja, para que ela serve. 1.1.1 Teoria da História, Metodologia, História e Historiografia: debates e perspectivas Inicialmente, é necessário situar-se sobre a diferença e definição de teoria, no seu aspecto genérico ou geral, de metodologia, também no que diz respeito às suas características gerais, e, por fim, se colocar no debate sobre o que é historiografia e seus dilemas para a própria ciência histórica, para que se possa esclarecer a definição de Teoria da História e ter claro seu papel para o ofício do historiador. Para a finalidade da ciência, “a Teoria é filha da Razão e irmã da Metodologia Científica” (BARROS, 2013 p.47). Sendo assim, a teoria se faz filha da razão na medida em que sua discussão, seus atributos e suas características buscam quaisquer afastamentos de atos intuitivos acerca dos fatos históricos. Ela visa, por meio da sua multiplicidade, munir o historiador, assim como 13 quaisquer outras ciências, dos pressupostos epistemológicos pelos quais o cientista, seja ele da História ou de outras ciências, deverá enxergar o objeto de pesquisa. Em uma caracterização ampla, a teoria, em seus aspectos mais gerais, será responsável pela produção de conceitos, teorias específicas, campos teóricos de pertencimento, a fim de estipular os limites e pressupostos para possíveis diálogos interdisciplinares, além de orientar os diálogos bibliográficos. Os conceitos, segundo Deleuze e Guattari, remetem “a problemas sem os quais não teria sentido, e que só podem ser isolados ou compreendidos na medida de sua solução”. Nesse sentido, continua: “não há conceito simples. Todo conceito tem componentes, e se define por eles. Tem, portanto uma cifra. É uma multiplicidade”. Ao aprofundarmos a reflexão de Deleuze e Guattari, percebe-se que o conceito é construído a partir do esforço de análise da realidade. Sua multiplicidade está ancorada na teoria a qual estará vinculada, ou seja, cada teoria construirá determinada perspectiva conceitual para leitura crítica da realidade. Por isso a importância dos Campos Teóricos de Pertencimento, para que haja o desenvolvimento comum dentro de uma determinada comunidade acadêmica. Nesse sentido, é possível sintetizar o conceito enquanto uma percepção que designa características e qualidades acerca da realidade a partir de um corpus teórico. A Metodologia, por outro lado, se trata do modo de como fazer uma pesquisa e como produzir o conhecimento científico. Ela é composta por: Planejamento da pesquisa; Projeto de pesquisa; Delimitação de tema; Constituição das fontes; 14 Métodos e técnicas (História oral, Arqueologia, Coleta de fontes, entre outros) que conduzem a um caminho para o objetivo, que se trata da análise crítica do problema, do objeto. Ao incorporarmos esse processo dentro da perspectiva da disciplina de História, temos que a Teoria da História é o campo de estudo que examina e produz os aspectos teóricos envolvidos na produção do conhecimento histórico e na análise de questões históricas específicas. No caso específico da disciplina de História ocorrem algumas dificuldades com relação à linguagem conceitual e definidora de algumas questões expostas por Júlio Aróstegui (2006) acerca da dificuldade dos termos para esclarecer os papéis de Teoria da História, História e Historiografia. Problema conceitual e de linguagem sem necessária solução, mas que se deve conhecer durante o processo formativo. Importante Segundo Aróstegui: A questão começa com o fato, comum a outras disciplinas, certamente, de que uma só palavra, História, designou tradicionalmente duas coisas distintas: a História como realidade na qual o homem está sendo inserido e o conhecimento e registro das situações e sucessos que assinalam e manifestam essa inserção. [...] Etimologicamente, portanto, uma ‘História’ é uma ‘pesquisa’. Mas logo a palavra História passou a ter significado muito mais amplo e a identificar-se com o transcurso temporal das coisas (2006, p. 28). A discussão sobre essa ambiguidade do termo História ocorre na medida em que a mesma palavra é usada para definir conceitualmente objeto e ciência. Assim, há um esforço teórico por parte dos historiadores para delimitar uma forma correta para pensarmos esse problema, devido às dificuldades impostas ao discente, na compreensão dos conceitos e seus papéis para a ciência História. De acordo com Aróstegui (2006), deve-se conceber a Teoria da Historiografia como algo mais denso que a própria Teoria da História, visto que esta, para o autor, não irá se desenvolver mais verticalmente do que aquela, que é a disciplina do conhecimento sobre a História, sua natureza, portanto faz parte 15 desse conhecimento conhecer as diversas teorias no interior da produção historiográfica. Essa exposição em nossa aula importa na medida em que está diagnosticada uma dificuldade comum na formação acadêmica do ofício do historiador, que é definir o papel da Teoria da História com relação à filosofia da História. Importante Sobre essa questão, encontramos a seguinte reflexão: Para o historiador existem, pois, duas tarefas teóricas: uma de elaborar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho e que não é outro senão a teoria da natureza do histórico. Isso equivaleria a pronunciar- se sobre o que se chama História, o que é a dimensão histórica para os seres humanos, o que é isso na experiência de sua vida, como se manifesta essa atribuição de uma história aos sujeitos e às sociedades, de que maneira se cria e se evidencia a imersão no tempo, e outras questões desse tipo. O que essa teoria não poderá fazer como não pode a de nenhuma ciência em relação a seu próprio objeto é atribuir sentido, uma finalidade ao curso da História, uma meta, porque não poderíamos argumentar sobre nenhuma dessas coisas com os instrumentos de um conhecimento demonstrável, contrastável, empírico. Esse tipo de questões é próprio do que se tem denominado a filosofia “substantiva” ou “especulativa” da História, a que o idealismo alemão do século 19 exercitou no seu mais alto grau. (ARÓSTEGUI, 2006 p.89). Sobre isso, em concordância com a passagem de Aróstegui (2006), devemos conceber a Teoria da História enquanto algo mais prático, sobre o proceder do ofício do historiador frente ao seu objeto. Enquanto questões sobre o sentido e a natureza, as reflexões idealistas devem ser delegadas a uma Filosofia da História. A partir dessa compreensão, devemos nos debruçar sobre alguns conceitos necessários para o entendimento da Teoria da História e, por conseguinte, em escolas teóricas específicas a partir de seus principais autores, que ao longo do tempo têm proporcionado norteadores teóricos acerca da produção do conhecimento histórico frente ao objeto. Porém, deve-se compreender a relação do que foi exposto até aqui com a Metodologia e o Método, para que o diálogo autoral no decorrer da graduação faça sentido. A Metodologia assemelha-se à Historiografia, no sentido de que a Metodologia fornece ao cientista uma discussão densa, sobre as possibilidades 16 de métodos para fazê-lo, e produzir o conhecimento analítico por parte de uma determinada ciência, sendo que o Método trata do caminho analítico que se deve percorrer para pensar e desvendar o objeto que se está pesquisando. É o método que irá balizar o tipo de fonte para a pesquisa, a forma como trata essas fontes, quais as ferramentas práticas que deve utilizar, ou seja, qual a lente ideal para esse objeto. A metodologia, portanto, será responsável por apresentaros diversos caminhos disponíveis para cumprimento do objetivo a que se propõe a pesquisa. Reflita Qual a relação entre a Metodologia, Historiografia e Teoria da História para a produção do conhecimento histórico sobre o objeto? Nesse sentido, podemos entender que a Metodologia irá nos apresentar os métodos, os caminhos analíticos ancorados em uma corrente teórica, apresentados e debatidos pela Historiografia e Teoria da História. Vamos a um exemplo desse processo: o positivismo, como vimos em Introdução aos Estudos Históricos, é uma corrente de Teoria ou Escola de Teoria, que debate justamente o papel do cientista social, com a proposição de caminhos metodológicos para o seu ofício cotidiano. Nesse sentido, devemos discutir conceitos definidos pela Historiografia, debatidos na Teoria da História a partir da perspectiva de diferentes Escolas Teóricas (como o positivismo) e compreender como é sua aplicação (método) dentro dessa perspectiva. Conclusão da aula 1 Chegamos ao final de mais uma aula. Aqui, procuramos ambientá-lo sobre questões que devem estar no radar do historiador para a compreensão das discussões que ocorrerão no interior da Teoria da História, a partir das diversas correntes ou Escolas de Teoria. Esses pressupostos trabalhados na aula são fundamentais para o processo de maturidade do pesquisador, do cientista da história. Ao professor de História, cabe estar antenado a essas 17 questões, para conhecer os fundamentos teóricos e metodológicos sobre os quais estará assentado o conhecimento ensinado. Esse conhecimento proporcionará lucidez da diversidade de perspectiva que o professor deverá apresentar aos seus alunos, dando a eles a oportunidade de conhecer tal diversidade e escolher a lente pela qual será conveniente enxergar os problemas propostos pelas diferentes perspectivas historiográficas. Atividades de Aprendizagem Escreva um texto de apenas uma lauda em que você apresente sua compreensão sobre o conteúdo desta aula. Aula 2 – Pressupostos para conhecer a História Apresentação da aula 2 Conhecer ou redigir a História Fonte: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/1-história.jpg 18 Olá, aluno. Seja bem-vindo à segunda aula da disciplina Teoria da História I. A partir de agora, você vai conhecer um pouco mais sobre os diversos conceitos, que se fazem desígnios necessários para avançarmos na análise mais profunda e específica sobre as diversas teorias produzidas ao longo da Historiografia. Ao conhecer esses conceitos, você estará mais apto à linguagem técnica da produção cientifica da História tomando consciência em relação ao que significa essa linguagem, para que serve e qual sua utilidade, não só para o historiador, mas para a compreensão de um tempo e de um problema no tempo e no espaço, a partir de um determinado fato histórico. 2.1 Subsídios Teóricos da Historiografia I Esta aula dará seguimento à exposição de um conteúdo subsidiário e necessário para o aprofundamento do conhecimento teórico da disciplina de História ou mesmo da própria atividade que o ofício do historiador requer, tanto do pesquisador quanto do professor. Reflita Na esteira dessas questões introdutórias, objetivamos definir de maneira mais direta e norteadora, questões como: O que é a História? Para que serve a disciplina de história? Quem é o historiador e qual sua relação com a sociedade? O que são os paradigmas históricos? O que são os períodos históricos? Essas compreensões são importantes, na medida em que o trabalho do historiador está ocorrendo em torno dessas questões e de quais perspectivas se adotam acerca dessas noções conceituais, vinculadas a uma teoria, que passa a conduzir toda a estética expositiva e descritiva do trabalho, ou seja, é possível compreender os conceitos a partir da História Crítica Marxista, o modus operandi da pesquisa e mesmo da aula, norteados por características, categorias e conceitos específicos dessa teoria. Se estiver inclinada à Escola Positiva, a forma estética da pesquisa e da aula passam a ser norteadas por essa outra perspectiva. Seguindo com o 19 objetivo, iniciamos pensando o que é a História. Nesse sentido, na aula anterior, foi falado da dificuldade em definir a história, dada a anfibologia do seu termo que diz respeito, tanto a objeto quanto a ciência. Vocabulário Anfibologia: etimologicamente, "dicção ambígua". Emprega-se em gramática para designar os equívocos de sentido provenientes de construção defeituosa da frase ou do uso de termos impróprios. Aristóteles cita anfibologia como um dos seis vícios que podem produzir a falsa aparência de um argumento. Por outro lado, Aróstegui (2006) também traz a seguinte análise definidora do como deve-se pensar a História, a partir de Hayden White (1928-2018), que faz a seguinte síntese: [...] o termo História aplica-se ‘aos acontecimentos do passado, ao registro desses acontecimentos, à cadeia de acontecimentos que constitui um processo temporal compreendendo os acontecimentos do passado e do presente, assim como os do futuro, aos relatos sistematicamente ordenados dos acontecimentos atestados pela pesquisa, às explicações desses relatos sistematicamente ordenados, etc.’. Essa não é uma miscelânea qualquer. (ARÓSTEGUI, 2006 p. 29). A importância de agregar essa miscelânea proposta por Hayden White é que não está aparente a preocupação com os dilemas teóricos e historiográficos da História. Pelo contrário, de forma pragmática, há a preocupação em conceber sua complexidade, informar e trabalhar em prol do cumprimento de suas diversas funções, e servir ao processo de desenvolvimento humano e social a que se propõe o conhecimento histórico. Nesse sentido, independentemente de quaisquer discussões teóricas, a História é uma ciência que precisa ser feita. Por outro lado, o fazer-se da História não pode ocorrer sem que haja uma funcionalidade, uma utilidade no contexto da vida humana. Portanto, é importante que o historiador se interesse por refletir: para que serve a História? Um historiador que veremos mais à frente de maneira mais profunda traz consigo uma definição valorativa para a História, que permite ao historiador e mesmo ao professor de história conceber tranquilamente seu valor e o quanto o 20 conhecimento produzido por essa ciência pode auxiliar no desenvolvimento da vida cotidiana. Leopold Von Ranke (1795-1886) diz o seguinte sobre o papel da História: Atribui-se à História a missão de julgar o passado e instruir o mundo contemporâneo para estar a serviço da posteridade: esta nossa tentativa não aspira a uma tarefa tão elevada, mas procura somente mostrar como as coisas realmente aconteceram (RANKE, apud. PROST, 2012 p. 253). Leopold Von Ranke (1795-1886) Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b3/Jebens%2C_Adolf _-_Leopold_von_Ranke_%28detail%29_-_1875.jpg O juízo sobre o passado não deve estar na intenção do historiador, apesar de ser grande a discussão sobre a possibilidade ou não de uma neutralidade frente aos objetos. O que se deve ter claro é que deve haver a imparcialidade na pesquisa, devendo ocorrer a fim de garantir a voz autêntica das fontes, e a crítica não pode se transformar em um juízo de valor sobre os diversos caminhos por onde a pesquisa pode nos conduzir, sendo ou não de nosso agrado. 21 Para a docência, não é diferente. O ideal é que o professor apresente ao discente todas as opções existentes, para que, no processo de desenvolvimento intelectual, o discente faça suas próprias escolhas. Mas é claro que, em certa medida, é responsabilidade do professor corrigir interpretações equivocadas e conceptualizações que não estejam conectadas com a comunidade de historiadores. É claro que o professor não deixará a condiçãode influenciador, na medida em que o seu poder simbólico é suficiente para isso. Já que o conhecimento produzido pelo historiador pode ser percebido como algo que auxilia nos processos decisórios do presente, com perspectivas para o futuro, é necessário conhecermos a relação da História ou mesmo do historiador com a sociedade. Importante Nesse sentido, vamos explorar a seguinte passagem: A história se encontra plasmada na sociedade. É algo que lhe sucede, que caracteriza a sociedade ou sociedades concretas. Para falar da história é, pois, imprescindível falar da sociedade. Existem três conotações prévias que são de particular interesse para a análise da dimensão histórica do social previal: a primeira, a de que a natureza e a sociedade, longe de serem realidades opostas, que necessitam de, ou são suscetíveis a, tipos diferentes de conhecimento, formam um continuum sem ruptura instransponível. A história dá continuidade ao plano da natureza, dizia Karit. […] A segunda, a de que a existência de movimento é uma constatação inevitável na explicação do mundo da natureza assim como do mundo privativo do homem. A existência do momento é a premissa na qual se sustenta a mudança social. O movimento é consubstancial com a natureza física e também humana. A Terceira, a de que a ideia de sociedade adquire um perfil mais preciso ao falar do sistema social. A existência de um sistema social pode ser assimilada à ideia de que a sociedade em abstrato e as sociedades históricas concretas funcionam como um sistema, quer dizer, como um ‘todo’ em que, ao se modificar alguma de suas partes ou elementos, necessariamente se modifica o conjunto de relações que as une (ARÓSTEGUI, 2006 p. 257). Com essa exposição de Aróstegui (2006), se consegue avaliar não só a relação entre História e Sociedade, mas também do próprio historiador e a sociedade. A História enquanto disciplina a ser conhecida, ou ciência a ser produzida, tem como objeto a própria sociedade, nesse sentido, a História e a sociedade tratam de duas questões indissociáveis para o trabalho do historiador, 22 na medida em que os fatos analisados, os objetos pesquisados, são os fatos que ocorrem sistematicamente no interior das relações sociais. Ao pensarmos a natureza em que nasce e desenvolve-se o ser humano, de forma ontológica, somos convidados a perceber que a sociedade é parte dessa dita natureza humana. Por fim, ainda sobre a relação História, historiador e sociedade, devemos perceber que a sociedade é um sistema interligado, em que uma alteração realizada em um recorte, inevitavelmente irá influir em alteração em outra parte aparentemente não vinculada. Essa percepção sistêmica da sociedade deve ocorrer tanto no campo das suas produções científicas, quanto no campo do ensino. Na produção científica, esse processo se faz necessário na medida em que, deve-se enxergar a complexidade de um objeto, e que, apesar de sermos obrigados metodologicamente a fazer um recorte de um tempo e um espaço, tal procedimento de alguma forma limita o processo analítico. Isso permite que mais profissionais da História, se debrucem sobre um mesmo objeto, apresentando- nos a maior gama de perspectivas, e mesmo assim não temos quaisquer seguridades de esgotamento de conteúdo. No campo do ensino, essa perspectiva complexa e abrangente do ensino de história importa para que o sujeito do processo de ensino e aprendizagem estabeleça uma conexão complexa entre o que está aprendendo em uma determinada disciplina com as demais áreas de conhecimento da vida humana. Apesar de apreendermos nos bancos escolares as diversas disciplinas de maneira individualizada, na vida cotidiana, a vida de todo dia, as vidas no seu processo natural de desenvolvimento têm todas as disciplinas acontecendo simultaneamente e interligadas, fazendo da própria vida prática um sistema complexo e interligado, onde tudo está, de alguma forma, vinculado a tudo. Tanto na pesquisa quanto no ensino, tem havido certa concordância de que essa perspectiva para o desenvolvimento das ciências sociais, de uma maneira geral, é o mais próximo da realidade. Isso também nos permite compreender que a História, apesar de suas peculiaridades, é uma disciplina interdisciplinar por natureza. Por isso, a necessidade do diálogo com disciplinas como Sociologia, Filosofia, Antropologia, Arqueologia, Geografia, Pedagogia, e demais disciplinas, na busca incessante por uma construção Histórica, que, na 23 medida do possível, reflita em certo conceito, a totalidade dos fatos. Para auxiliar na reflexão, observe o sistema seguinte: Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). O esquema serve para que possamos compreender como ocorre o processo sistêmico que trata de interligar todas as coisas na vida cotidiana, e como temos que fragmentá-las, a fim de tornar possível o conhecimento das partes, sem haver a desconexão com a totalidade complexa, que é a forma prática em que ocorre o processo de desenvolvimento da vida em sua condição inata. A compartimentalização da pesquisa e ensino em disciplinas especificas trata-se meramente de uma organização metódica que nos permite conhecer partes individualizadas, por outro lado, na prática, as coisas ocorrem de maneira sistêmica e complexa. Vamos avançar em compreender mais alguns pressupostos que nos auxiliaram no processo de conhecimento da História e de suas complexidades teóricas. História Geografira Cartografia Física BiologiaQuímica Saúde Sociologia 24 Outra questão importante trata-se de compreender o valor teórico da periodização histórica, dos paradigmas históricos e das Escolas Teóricas, ou seja, o que são os períodos históricos? O que são os paradigmas históricos? O que são as Escolas Teóricas? Como ocorrem e para que servem? Qual a utilidade de ambos no trabalho do historiador e na compreensão do conteúdo histórico? Caminharemos na tentativa de responder essas questões. Sobre os Períodos Históricos, trata-se de uma organização metódica que visa orientar sobre diversos momentos da história humana, em que estejam marcadas características convergentes e aceitas pela comunidade de historiadores. Os Períodos Históricos têm o seu início e fim orientados por marcos históricos, ou seja, fatos específicos que significaram grande mudança nas características sociais de um determinado período, de modo que, a partir daquele momento, é possível diagnosticar grande mudança no perfil social. Esses períodos são de exclusividade dos cientistas que caminham por meio do tempo, é importante sempre que o historiador, ou mesmo o professor de história, esteja atento ao fato de que a sociedade daquele determinado tempo não necessariamente se reconhece por meio desses recortes. Tratam-se de convenções sociais a posteriori. Vejamos um exemplo a seguir, das periodizações mais conhecidas, para que haja melhor compreensão do tema: Pré-história; Paleolítico; Neolítico; Metais; Tempos históricos; Antiguidade; Idade Média; Modernidade; Contemporâneo; Escrita: 3.500 mil; 7 milhões: Primeiros Hominídeos; 2 milhões: 25 Homo Habilis; 10 mil: Revolução Agrícola; 5 mil: Metalurgia; Ano1: Nascimento de Cristo; Ano 476: Queda de Roma; Ano 1453: Queda de Constantinopla; Ano 1789: Queda da Bastilha (Revolução Francesa); Atualidade. É possível observar as diversas periodizações que comumente encontramos na comunidade de historiadores, pesquisadores e professores. Temos, primeiro, dois grandes períodos, mais longos, no que diz respeito ao espaço-tempo, que é a divisão entre Pré-História e Tempos Históricos. Depois, temos uma série de divisões a partir do período Paleolítico, que é caracterizado pelas tecnologias de produção e ferramentas,bem como aspectos sociais e recorte temporal, com marcos específicos, tratando-se de fatos que impactaram aquele tempo e aquela determinada sociedade. Importante Outro conceito, em demasia próximo ao conceito de Período Histórico ao qual nos propomos expor, é o conceito de Paradigma. De acordo com Barros (2010), podemos usar a seguinte definição de Paradigma: [...] um conjunto de crenças, valores e técnicas comuns a um grupo que pratica um mesmo tipo de conhecimento. [...] por vezes se refere ao paradigma como uma espécie de macro teoria, marco ou perspectiva que se aceita de forma geral por toda comunidade cientifica. [...] um paradigma sempre apresenta o interesse de criar e reproduzir condições para ampliar o conhecimento, respondendo os problemas que são colocados pela sua época (BARROS, 2010, p. 10). 26 Encontraremos, ao longo da história das ciências, bem como na própria ciência História, diversos paradigmas, que passam por um momento de grande dominação, ou seja, um grande número de cientistas passa a produzir e ensinar a partir daquele conjunto de crenças, valores e técnicas, e, depois de certo tempo, ocorre a gradativa mudança de um paradigma para outro, acumulando- se ferramentas e crenças. É importante salientarmos que a mudança de um paradigma para outro não significa uma mudança súbita, tampouco a extinção do anterior. Todo corpus criado por esses paradigmas vai coexistindo no seio da produção cientifica e do processo de ensino-aprendizagem. Importante O que caracteriza a dominação de um paradigma é um movimento conjunto de profissionais que optam por aquele determinado modelo e se torna por um tempo, majoritário. Segundo Barros (2010), inicia-se a mudança de paradigma quando: [...] ele depara-se com seus próprios limites, e começa a se apresentar como inadequado. Quando o paradigma não é capaz de resolver todos os problemas, que podem persistir ao longo de anos ou séculos, ele é gradualmente posto em cheque, porque se começa a questionar se ele constitui mesmo o “marco” mais adequado para a resolução de problemas ou se deveria ser abandonado. Nestes momentos, em que se estabelece uma crise, ocorreria a proliferação de novos paradigmas que competiriam entre si até que um conseguiria se impor como o enfoque mais adequado, produzindo-se uma Revolução Cientifica (BARROS, 2010 p. 11). Para ilustrar o que Barros (2010) explica sobre o paradigma e seu processo de transição, vejamos o esquema seguinte: Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Por fim, vamos explicar sobre as Escolas, dentro da perspectiva da Teoria da História. Ainda tomando por base a exposição de Barros (2010), vejamos o que fala sobre “Escolas”: Paradigma dominante 01 Transição Paradigma dominante 02 27 Uma ‘Escola’ – fora a noção mais vulgar que se refere exclusivamente a instituições de Ensino – pode ser entendida no sentido de uma corrente de pensamento, sempre que ocorre um padrão ou programa mínimo perceptível no trabalho de grupo formado por um número significativo de praticantes de determinada atividade ou de produtores de certo tipo de conhecimento, sendo ainda importante que haja certa intercomunicação entre estes praticantes [...] Será importante entender ainda que as ‘escolas’ podem apresentar uma referência sincrônica – relacionada a autores ou praticantes de uma mesma época- e uma referência diacrônica, no sentido de que a ‘Escola’ pode se estender no tempo e abarcar sucessivas gerações, ou ser por elas reivindicada. A historiografia, no decorrer de sua própria história, conheceu muitas ‘escolas históricas’. Algumas eram entendidas como ‘escolas’ pelos seus próprios praticantes, outras foram classificadas como escolas independentemente de seus componentes. Uma boa parte das ‘escolas históricas’ até hoje conhecidas relacionaram-se a espacialidades específicas, não raro se referindo a países a que pertenciam os historiadores que nela se viram incluídos (BARROS, 2010 p. 08). O trecho explicativo de Barros (2010) é detalhado quanto ao que seja uma Escola Teórica. É importante compreendermos como identificar quais Escolas se desenvolveram ao longo da historiografia e quais os seus principais escritores. Isso irá facilitar a compreensão de conceitos que comumente estão ancorados no conjunto produzido pelos diversos historiadores que fazem parte de uma determinada Escola. Por exemplo, uma das Escolas conhecidas e comuns na contemporaneidade da produção historiográfica é a Escola dos Annales. Conclusão da aula 2 Chegamos ao final de mais uma aula. Pudemos conhecer sobre alguns pressupostos que devem estar na formação do historiador para que seja possível efetivar um trabalho que esteja em harmonia com a sociedade. Isso porque a historiografia, a produção do conhecimento histórico, está vinculada à realidade social do historiador. Também pudemos entender o desenvolvimento das escolas teóricas e sua importância na produção do conhecimento histórico. Concomitante à sua importância, foi exposto sobre os paradigmas e como ocorre o processo de transição de um paradigma para outro, lembrando que isso não ocorre de forma repentina, mas dentro de um processo em que os paradigmas coexistem, com significativa dominação de um paradigma. 28 Atividades de Aprendizagem Descreva sobre o papel das escolas de teorias para o trabalho do historiador ou mesmo do professor de história, em que essas escolas teóricas influenciam, seja na pesquisa ou na docência do trabalho do historiador ou professor. Aula 3 – O ofício do Historiador: Heródoto e Tucídides Apresentação da aula 3 Olá, aluno. Seja bem-vindo à terceira aula da disciplina Teoria da História I. A partir de agora, você vai conhecer alguns historiadores, ao longo de determinados períodos históricos, que foram importantes para concebermos e compreendermos o que é ou deve ser o ofício de Historiador. Nesta aula, em específico, iniciaremos nossas análises com dois grandes nomes para a historiografia. São eles, Heródoto (485-425 a.C.) e Tucídides (460-395 a.C.). 3.1 Heródoto (485-425 a.C.) A História, mesmo antes do seu reconhecimento enquanto disciplina científica, que vai ocorrer no século XIX, procura refletir sobre sua forma de construção do conhecimento, sua escrita e critérios para que a obra seja, de fato, História. Na mesma rota, esse tipo de reflexão auxilia no processo de diferenciação de outras formas de construção literária e do próprio conhecimento. A partir dessa aula, nos propomos a expor e analisar alguns pensadores que contribuíram para esse debate teórico sobre a História, antes que ela fosse reconhecida como ciência, mas que contribuem até hoje para essa finalidade. Os primeiros registros analisados ocorrem ainda na Grécia Antiga, berço do pensamento racional do Ocidente, com o surgimento da Filosofia, com nomes como Sócrates, Platão e Aristóteles, período que também será de preocupação 29 com as narrativas históricas e as formas existentes de acúmulo de informações sobre o passado. Nesse sentido, para os historiadores gregos, o ponto de partida para seu debate era comumente as obras homéricas Ilíada e Odisseia, em que é contado às gerações futuras o passado mítico dos gregos. O primeiro contribuinte da antiguidade grega a ser exposto é Heródoto (485-425 a.C.). Heródoto (485-425 a.C.) Fonte: https://i1.wp.com/socientifica.com.br/wp-content/uploads/2019/03/2351.jpg?resi ze=1537%2C1920&ssl=1 Heródoto nasceu no século V a.C., e foi responsável por documentar (dentro das possibilidades de seu tempo) a invasão dos Persas à Grécia. O marco de Heródoto comparado a outras formas de acúmulo histórico do mesmo período, é a preocupação com critérios metodológicos para a pesquisa e exposição acerca do seu objeto. Nesse sentido, não éa simples exposição de fatos ou mitos, mas, anteriormente a isso, há uma preocupação em como expor, em como pesquisar, pressupostos inerentes ao caminho de construção de um saber científico. 30 É claro que ao pensarmos a realidade de Heródoto, temos que respeitar as condições do seu tempo e de sua realidade sócio-histórica. Apesar de a Grécia estar em um processo de racionalização da vida, por meio de reflexões filosóficas, é necessário ter em mente que a realidade cultural de Heródoto é encharcada pelo mito e pelas poesias de Homero, em que ocorre uma exposição romântica e heroica dos elementos históricos, dificultando a separação daquilo que é evidentemente o fato, o histórico concreto. De alguma forma, essa característica romântica permeará a obra de Heródoto. Sua obra será permeada pelo mito, servindo para explicar fatos e acontecimentos, algo típico da epopeia grega (poema extenso que narra fatos heroicos; Ilíada e Odisseia são epopeias). Heródoto se propõe a relatar o processo histórico com o objetivo de conservar os fatos, para que o conhecimento não se perca por meio do tempo. A inovação de Heródoto com relação às epopeias é a crítica e a reflexão sobre os fatos expostos, algo incomum, já que os relatos buscavam a construção e exacerbação do heroico em detrimento dos fatos criticamente analisados. Essa crítica estava assentada no método da causa e efeito, ou seja, Heródoto busca na exposição analítica do seu objeto, uma causa explicativa, que conduz a certa medida de reflexão crítica. O Efeito, no seu caso, é a Invasão Persa. A partir disso, há a busca das causas motivadoras que permitiram esse processo. Na busca incessante pelas causas, Heródoto se propõe a uma exposição histórica densa e interdisciplinar ou, se preferir, multidisciplinar. Logo de início, ao analisar a escrita heroditiana, é possível diagnosticar um forte apelo à geografia. Ele busca uma descrição territorial do espaço, procurando elementos causais que viabilizaram ou dificultaram o processo de invasão persa. Para além da “simples” geografia, Heródoto apela mais profundamente à geomorfologia dos territórios pelo qual seu objeto circula. Outro contato interdisciplinar palpável na obra heroditiana é a Antropologia. Há uma busca considerável pela descrição antropológica dos sujeitos históricos inseridos no processo analisado, inclinando o historiador a outras formas de conceber o homem enquanto sujeito de ação. Encontramos também uma preocupação com aspectos arquitetônicos, demonstrando sua flexibilidade analítica e conhecimento de outras áreas, para que houvesse a percepção dessas influências sobre o objeto analisado. 31 Durante a exposição textual de Heródoto, é possível encontrar uma heterogeneidade de gêneros literários na forma expositiva. Isso ocorre sobretudo por que a obra heroditiana, apesar de significar a busca por uma História com certo rigor, não significa o propósito específico de negação das obras épicas. Ao contrário, Heródoto parte dos épicos e incorpora parte do seu conteúdo para dentro de sua produção historiográfica. Esse processo permite ao historiador conter, em um trabalho, a diversidade de gêneros literários. Nesse sentido, encontramos o épico, a fábula, a literatura, e a descrição de práticas religiosas, enquadradas dentro de uma exposição sistemática. Importante Esse processo de construção do conhecimento histórico cria em Heródoto a seguinte realidade: As consequências das ações observadas por Heródoto sob a perspectiva de causas e efeitos ora são explicadas por um pensamento mítico, ora justificadas por fatos, ora por suas práticas culturais, ou ainda, por seu caráter. Por uma noção de justiça operada pelos deuses que é materializada nos revezes ou nos sucessos das suas personagens. Enfim, notamos na narrativa heroditiana a transição do pensamento mítico para um mais racional, que resulta em sua visão racional do mito, embora o maravilhoso não seja totalmente descartado de sua compreensão dos fatos. (SHLOGL, 2000, p.38). Nesse sentido, fica claro que as realidades históricas e míticas coexistem na obra de Heródoto. Essa coexistência não é ocasional, mas resultado do processo cultural no qual o próprio historiador está inserido. Em certa medida, é como se o homem, daquela realidade, estivesse inserido em um tempo, cujo imaginário mítico não estivesse dissociado das suas estruturas, ou seja, para esse período, mito e realidade eram verossímeis, portanto, ambos tratados como História. Saiba mais A maioria dos mitos gregos foi recontada e, consequentemente, modificada, articulada e sistematizada por Hesíodo e Homero, pelos rapsodos e mitógrafos. As tradições mitológicas do Oriente Próximo e da Índia foram persistentemente 32 reinterpretadas e elaboradas por seus respectivos teólogos e ritualistas. Isso não significa, evidentemente, que 1) essas Grandes Mitologias tenham perdido sua "substância mítica" e que não passem de "literatura" ou que 2) as tradições mitológicas das sociedades arcaicas não tenham sido remanipuladas por sacerdotes e bardos. Para uma melhor compreensão sugiro ler, na íntegra, o artigo disponível no link: http://www.usp.br/cje/depaula/wp-content/uploads/20 17/03/eliade-mircea-mito-e-realidade.pdf Para finalizar a exposição sobre Heródoto, é importante compreender o conteúdo da sua obra como algo permeado por múltiplas culturas, multidisciplinar e de narrativa romanceada. Por outro lado, sua exposição é sistemática, permeada por uma preocupação investigativa dos fatos, caminhando para a busca de uma verdade preocupada com a datação e as causas e efeitos dos acontecimentos, constituindo-se como algo inovador na produção literária do seu tempo. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). 3.2 Tucídides (460-395 a.C.) Outro contribuinte da produção do conteúdo histórico da Antiguidade Grega e que também se preocupou com o debate acerca dos critérios e rigor da Heródoto Exposição sitemática Geografia geomorfológica (descrição dos territórios) Narrativa romântica Causa e efeito Coexistência da realidade mítica e histórica Investigação dos fatos 33 pesquisa e exposição literária, foi Tucídides. Oriundo de Atenas, no século V, Tucídides estava embebido em uma realidade cultural muito rica para o pensamento racional. Atenas foi o berço da filosofia, onde encontramos os primeiros nomes ocidentais, que se esforçaram por questionar a sua realidade, se afastando das explicações míticas e divinas para questões de ordem natural e humana. Tucídides (460-395 a.C.) Fonte: https://minionu15anoscgp421ac.files.wordpress.com/2014/09/tucidides.gif Submerso nessa realidade, a contribuição de Tucídides caminha nessa perspectiva coerente a seu tempo e sua realidade cultural, ou seja, a produção historiográfica de sua análise busca a intelecção racional de seu mundo e, consequentemente, do seu objeto. Antes de avançarmos na exposição sobre o autor, cabe uma observação: o exemplo de Tucídides, da forma que estamos trabalhando nessa aula, demonstra a importância de se conhecer o contexto temporal e territorial em que está inserido o autor sobre o qual nos debruçamos. O sujeito é fruto do seu tempo, e muito da sua teoria tem explicação nessa 34 realidade cultural, territorial e temporal. Por isso, partimos sempre do contexto, social e temporal em que está inserido nosso objeto de análise. Tucídides, tal qual Heródoto, também vai expor analiticamente sobre um período de conflito, nesse caso, a Guerra do Peloponeso. Apesar dessa semelhança entre os dois objetos de nossa aula, Tucídides criticou a abordagem de Heródoto devido ao seu excesso de mítica e pouca preocupação com a realidade dos fatos. Essa crítica reforça as características da obra de Tucídides, tanto na pesquisa quantona forma de exposição. Isso no sentido de que há uma significativa inclinação para uma preocupação metodológica muito próxima às formas de conhecimento empíricas e racionalistas, como a medicina ou mesmo a investigação forense. Além disso, havia uma influência da realidade sofista, política e da própria tragédia, outros influentes do período e da realidade vivenciada por Tucídides. Em contradição à própria crítica a Heródoto, Tucídides, aplicará, em sua exposição, uma retórica épica da Guerra do Peloponeso, transformando os fatos em feitos grandiosos e gloriosos. Segundo a análise historiográfica, por ser oriundo da epopeia, é possível encontrar na obra os seguintes princípios constitutivos no interior de sua narrativa: Princípio Onomasiológico: que se define pela questão do sujeito; Vocabulário Onomasiológico: uso do contexto da ideia para chegar-se à palavra, do conhecimento abstrato ou concreto da realidade. Parte do contexto que dá ideia ao signo. Princípio Axiológico: ou seja, questão inerente à grandeza, à soberania do sujeito que se basta; Princípio Metodológico: que se apresenta a partir do questionamento acerca do princípio das coisas, ou seja, preocupação com o “como e porque se iniciou” o processo em análise; Princípio Etiológico: que busca a causa dos fatos; 35 Princípio Teleológico: que trabalha a questão da utilidade, ou seja, para que serviu, quais foram os possíveis desdobramentos do objeto em análise. Esses princípios contidos na obra de Tucídides podem ser percebidos enquanto Fundamentos Epistemológicos de sua construção histórica. Apesar de toda essa construção complexa, o autor conserva a estrutura tradicional da narrativa épica, no processo de exposição do objeto. Aqui, há algo importante, em diferença com Heródoto. A epopeia contida em Heródoto está na própria forma com a qual o autor convive no seio da cotidianidade, ou seja, o mítico é parte real da vida cotidiana, é verdade para o homem cotidiano. Em contrapartida, na obra de Tucídides, há, nesse sentido, a diferença. A epopeia desse autor não é uma perspectiva sobre a vida cotidiana, mas um mecanismo literário na exposição, ou seja, trata-se da construção do gênero literário de uma escrita que busca transformar o objeto em algo mais épico do que se possa ter apresentado na realidade cotidiana. Essa assertividade em Tucídides é possível pelo fato de que ele vivenciou a guerra do Peloponeso, ou seja, enquanto Heródoto recorre aos resquícios do passado, inclusive o registro poético para construir o conhecimento do seu objeto, Tucídides registra o fato enquanto ele acontece, vivenciando in loco o objeto sobre o qual decide registrar. Isso permite compreender que a epopeia contida na escrita expositiva de Tucídides se trata de uma decisão metodológica para tonar o feito da sua obra algo mais glorioso. Vocabulário In loco: é uma expressão em latim, que significa "no lugar" ou "no próprio local" e é equivalente à expressão in situ. Esta locução adverbial latina é muito usada na língua portuguesa, mas nem sempre é usada de forma correta. In locu ou in lócus são formas erradas da expressão, apesar de lócus significar "lugar", em latim. Esse esforço e o fato de ter vivenciado a realidade cotidiana do objeto em análise, torna a exposição sobre a Guerra do Peloponeso uma escrita dura, 36 enrijecida, de difícil compreensão. O fato de vivenciar a realidade pesquisada induz, em certa medida, o historiador a idas e vindas, na forma expositiva, que torna a caminhada do leitor algo mais desafiador. Por outro lado, permite ao processo de pesquisa a construção de maior rigor e análise mais criteriosa do objeto. Por isso, houve significativa preocupação por parte de Tucídides em expor sua própria trajetória, pois sua vivência se confunde ao do objeto na sua cotidianidade, ou seja, ele trata de um objeto que está analisando e vivendo ao mesmo tempo. Isso permite ao autor uma análise mais peculiar quanto à realidade política e social do seu objeto, transformando-o em um historiador do comportamento político do seu tempo. A influência do sofismo na escrita expositiva acentua essa possibilidade. No rigor metodológico proposto pela historiografia de Tucídides, há diversos elementos do sofismo. Por exemplo, a busca pela distinção de dois elementos que determinam o comportamento do homem na sociedade. Para o historiador, esses elementos eram a Physis (natureza) e o Nomos (costume ou lei). Ao separar Physis e nomos, elementos no processo analítico e expositivo do seu objeto, ele propõe uma perspectiva do inato, ou seja, há elementos inatos, naturais no objeto e há elementos sociais, da realidade dos costumes, leis, que são necessários para o controle dos impulsos e que devem ser observados no processo de construção do conhecimento. A Grécia vinha passando por sucessivos conflitos, antes contra inimigos externos, agora entre gregos, em que se expunha parte do instinto da sobrevivência e dominação, de um lado, e a necessidade de repensar os parâmetros de convivência para que não viesse a haver novas ondas de conflito que colocassem em xeque a sociedade em que estava inserida Tucídides. Saiba mais Tem-se em vista, mais particularmente, discutir, brevemente, os antecedentes remotos e próximos daquele grande e longo conflito que, opondo letalmente as duas principais cidades-estado da Hélade e seus respectivos aliados, gerou as condições que conduziriam ao declínio da Grécia clássica, à hegemonia macedônica e, a longo prazo, à final dominação da Grécia por Roma. Arrasada pela guerra, Atenas jamais recuperou, depois de 404 a.C., sua precedente 37 capacidade de liderança, não obstante um momento de relativo ressurgimento, no século IV com a denominada Segunda Liga, Ateniense. Para um melhor aprofundamento sobre a Guerra do Peloponeso, leia, na integra, História da guerra do Peloponeso, disponível no link: http://www.dominiopublico.gov.br /download/texto/al000234.pdf Nesse sentido, o autor está vivenciando o apogeu ateniense. A democracia ateniense está dominando, a filosofia disseminada por toda parte do mundo conhecido e, por isso, essa dualidade analítica entre uma realidade inata e uma realidade socialmente desenvolvida está intrínseca ao processo analítico de Tucídides. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Conclusão da aula 3 Chegamos ao final de mais uma aula, em que aprendemos sobre a contribuição de Heródoto e Tucídides no processo de construção do Tucídides Escreveu sobre a Guerra do Peloponeso. Buscou uma intelecção mais racional dos fatos. Possui aspectos empiristas e Racionalistas. Narrativa épica típica da epopeia.Escrita de difícil compreensão, influenciado pelos sofistas e sobre o comportamento político. Princípios Onomasiológicos; Axiológicos; Metodológicos; Etiológico e Teleológico; Fundamentos epistemológicos da obra de Tucídides. Distinção dos elementos Physis (natureza) e Nomos (costume, lei e proteção aos impulsos). 38 conhecimento histórico. A novidade com ambas as personagens da antiguidade é justamente uma embrionária preocupação com o como fazer a história, pensando em pressupostos teóricos e metodológicos da produção historiográfica. É uma discussão e preocupação historiográfica, sem mesmo haver necessariamente esse termo no contexto histórico dos autores. Heródoto com uma narrativa que se aproveita do discurso mítico de Homero, sobre o passado dos gregos em Ilíada e Odisseia, formulando uma produção histórica sobre a Guerra, valorizando atos heroicos e construindo uma narrativa poética. A novidade metodológica de Heródoto era justamente uma perspectiva de causa e efeito, cuja exposição, apesar de todo romantismo literário, estava construída de forma sistemática. Para além,Heródoto presava por um historiador ativo, que não se privasse de vivenciar os fatos históricos. Atividades de Aprendizagem Use o esquema no final da exposição sobre os procedimentos do Heródoto e de Tucídides para construir uma síntese do conteúdo abordado. Essa síntese deve conter no máximo duas laudas. Aula 4 – O ofício do Historiador: Políbio e Cícero Apresentação da aula 4 Olá, aluno. Seja bem-vindo à quarta aula da disciplina Teoria da História I. A partir de agora, nós vamos dar continuidade à exposição de intelectuais que contribuíram para o debate historiográfico, mesmo antes do reconhecimento da História enquanto uma disciplina científica que, como fora dito, só ocorrerá a partir do Século XIX. Nesta aula daremos importância a dois nomes, como foi na aula anterior. Dessa vez, contemplaremos Políbio e Cícero. O primeiro escreveu a obra Histórias, cujo conteúdo é sobre o Mediterrâneo. Políbio viveu entre 203-120 a.C., e procura estabelecer diversos pontos analíticos que estivessem 39 relacionados com as obras de Heródoto e Tucídides. O segundo, Cícero, mais especificamente Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), homem experimentado na vida militar, estudioso de filosofia, buscou, mesmo na Retórica, as características inerentes às suas obras de História. Esse esforço se deu tendo como objeto de pesquisa justamente o processo de ascensão e dominação do Império Romano. 4.1 Políbio (203-120 a.C.) Políbio (203-120 a.C.) Fonte: https://littera.es/wp-content/uploads/2018/10/polybius.jpg Políbio cobriu a história do mundo entre 220 a.C. a 146 a.C., nasceu em uma Polis Grega chamada Megalópoles, na região do Peloponeso. Foi membro de uma liga que se formou naquela região, conhecida como Liga de Aqueia. O fato de ter sido membro dessa liga importa para a sua historiografia, dado o seu perfil combativo e ativo na pesquisa e produção de conhecimento. Foi esse fator da sua trajetória que lhe proporcionara uma espécie de Exílio pelo Império Romano. Alguns vão tratar como exilio e outros vão abordar sob a perspectiva 40 de refúgio, sobretudo devido ao tratamento que há por parte dos romanos com o historiador. A principal produção historiográfica de Políbio foi a obra Histórias, que trata sobre a história do mundo mediterrâneo, com foco para a ascensão e dominação do Império Romano, bem como a sua forma de dominação política. Tratando o seu objeto como algo de características diplomáticas, Políbio abordava o processo de dominação dos romanos a outros povos não necessariamente como um ato de guerra hostil, mas como um processo munido de uma diplomacia tão peculiar, que devia ser analisada de maneira mais contundente. Dado o processo de dominação e expansão do Império Romano, e sua sede por conquista e ampliação de poderes, é uma abordagem que surpreende para a época. Uma abordagem que presa por ressaltar características diplomáticas daquele que era tido como o maior império do mundo conhecido. Saiba mais [...] Resolvi escrever uma História do gênero pragmático, primeiro porque há sempre uma novidade digna de tratamento novo, não seria possível aos antigos narrar eventos posteriores à sua própria época e, em segundo lugar, por ser considerável a utilidade prática de tal gênero de História, tanto no passado quanto, e principalmente, no presente, numa época em que o progresso das artes e das ciências tem sido tão rápido que as pessoas desejosas de aprender são capazes, digamos assim, de submeter a uma análise metódica quaisquer circunstâncias passíveis de exame. Sendo então o meu objetivo não tanto entreter os leitores quanto beneficiar os espíritos afeitos à reflexão [...], me dediquei a escrever este gênero de História. (POLÍBIO, 1996, p. 2). No processo analítico que empreende sobre as características e estruturas de funcionamento do Império Romano, o historiador chama a atenção para um processo em que as instituições do Império sucumbem diante da cobiça e ganância por poder particulares de sujeitos desse cenário. Essa é uma análise que é constantemente confirmada pela Historiografia contemporânea sobre o Império Romano. Uma das questões que pode ser aprofundada pelo aluno é pesquisar nomes de imperadores ou magistrados romanos que foram assassinados por meio de algum complô de traição. 41 Saiba mais O Império Romano durou de 27 a.C. a 476 e foi o período em que Roma dominou grande parte da Europa, o norte da África e também regiões do Oriente Médio. A época dos imperadores começa após a Crise da República, que termina com o assassinato de Júlio César. Sucedem-se imperadores de várias famílias patrícias que enfrentam rebeliões internas, invasão dos povos nórdicos, e o surgimento do cristianismo. Para um melhor apanhado de cada imperador romano, acesse o link disponível: https://www.todamateria.com.br/imperadores- romanos/ Como foco de nossa aula, devemos nos atentar, a partir de agora, para as contribuições de Políbio na discussão historiográfica de que deve ser a História ou ainda, como deve ser a produção do conhecimento histórico. Nesse sentido, Políbio é um crítico de trabalhos de quaisquer fontes de referenciais teóricos, ou seja, ele rebate que a consulta de livros e análise com consequente exposição do conteúdo visto seja a produção do conhecimento historiográfico e, sendo assim, se torna uma produção carente do brilho real da produção do conhecimento histórico. Para ele, o historiador é um oficio cujo sujeito deve ser ativo no processo de conhecimento da história, se exaurindo de todas as possibilidades de pesquisa passiva do objeto. Nesse sentido, há, por Políbio, a cobrança por uma pesquisa historiográfica dos olhos, ou seja, é necessário que o historiador investigue com seus próprios olhos o objeto, não se limitando às fontes teóricas. Por isso, Políbio irá realizar viagens, a fim de conhecer empiricamente o objeto de sua pesquisa, o próprio Império Romano. É justamente por esse aspecto, que não há consenso sobre se recebeu do Império Romano refúgio ou exílio, devido à intensidade com a qual viajou, a fim de conhecer empiricamente a expansão territorial e o perfil político que se aplicava no contexto do Império Romano em suas relações de dominação. Para ele, o historiador que de fato deve ser admirado, é aquele que presencia os acontecimentos por meio de viagens exaustivas, cuja exigência é um trabalho duro e árduo, mas que, por outro lado, gera um conteúdo extremamente valioso, constituindo-se enquanto a parte mais importante da História. 42 Importante Em um de seus escritos, Políbio faz a seguinte observação: Se o historiador implica ser um homem de ação, que anda, viaja, peregrina, semelhante ao que fez o Ulisses de Homero, homem de espírito fértil, que entrou por cidades de inúmeros povos, suportou no mar sofrimentos sem número, enfrentou homens na guerra e ondas cruéis (POLÍBIO, 1996, p. 418). Tanto no parágrafo anterior, quanto nessa passagem em destaque, Políbio nos oferece conteúdo para delinearmos algumas de suas contribuições para o oficio do historiador, bem como para a própria Historiografia. O pesquisador, assim, não é um mero visitador do passado. É alguém que, ao perceber a importância do que está ocorrendo no tempo presente, insere-se no processo, se dedicando a conhecer e escrever in loco sobre o objeto, para que o resultado seja verossímil. Aqui, ocorrem, de forma embrionária, características historiográficas que até hoje são discutidas no processo de construção da História. Primeiro, podemos destacar, assim como em Heródoto, uma pesquisa participativa, ou seja, o pesquisador, na ânsia de conhecer a totalidade complexa do seu objeto, participa do processo cotidiano, na tentativa de vivenciar ao máximo o cenário em construção e onde se deram os fatos pesquisados. Hoje,há o conceito metodológico de pesquisa participativa, em que sujeito e objeto experimentam a realidade pesquisada a fim de captar perspectivas que fogem a métodos mais distantes. Outro ponto que trabalhamos na historiografia contemporânea e apresenta certa semelhança com a contribuição de Políbio, é a perspectiva de História do Tempo Presente. Ao escrever a História no exato momento em que ela está ocorrendo, nos torna uma espécie de historiadores do tempo presente, prática que exige em demasia do historiador e possui uma relação quase que transdisciplinar com a sociologia, por exemplo. Nesse sentido, a Sociologia apresenta-se enquanto uma disciplina responsável pela análise da sociedade, seus dilemas e perspectivas enquanto eles estão ocorrendo. Tanto que é comum, historiadores do tempo presente recorrerem a ferramentas e métodos da sociologia para observar seu objeto, ou mesmo fundamentar sua escrita. 43 Para Políbio, o ato de agir em prol do conhecimento do objeto significa partir de atividades reais e estar profundamente envolvido com o seu trabalho e com sua pesquisa. Para ele, essa característica é pressuposto para que seja um Historiador. A História, nessa perspectiva, deve ser uma História de fatos reais, ou seja, uma História cujo compromisso é registrar fatos reais e não teorizar sobre algo em que não possa haver quaisquer acessos senão documentos e memórias. Do ponto de vista da escrita historiográfica, Políbio se esforça para diferenciar as formas literárias atribuídas à poesia com relação à escrita da História. Para esse processo, ele faz uso da Tragédia, e busca certo distanciamento metodológico de Tucídides. A Tragédia, na perspectiva de Políbio, pode, em certa medida, criar certa experiência do que pode ter ocorrido, mas não do ocorrido, de fato. Isso implica uma história viajante, ativa e compromissada com o trabalho árduo. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). Políbio Registra a História do Mediterrâneo e ascensão do Império Romano. É investigativo, procura viajar para conhecer o objeto. O historiador não deve atribuir palavras aos personagens.Busca a diferenciação de História e escrita da Poesia, usando a tragédia para exemplificação. O historiador registra fatos reais, tendo envolvimento com o objeto, sendo, portanto parcial. O historiador deve presenciar os acontecimentos com trabalho árduo. 44 4.2 Cícero (106-43 a.C.) O outro personagem que contribuiu para debates que envolvessem a construção de História que tece crítica sobre seu próprio modus operandi, dando origem a uma discussão historiográfica de como deve ser o processo de construção do conhecimento histórico, é Cícero. Marco Tulio Cícero (106-43 a.C.) foi um historiador romano que contribui significativamente para um debate historiográfico dentre cronistas romanos, experiente na vida militar, estudante de filosofia, que, no processo de desenvolvimento da sua vida intelectual, passou a se interessar pela retórica. Na retórica, Cícero investiu grande parte dos seus esforços intelectuais, tanto que a usará para nortear a sua perspectiva expositiva do conteúdo histórico. Ainda sobre sua trajetória, é considerado o primeiro caso romano a chegar aos principais postos do governo do império com base na sua eloquência e exercer a função de magistrado civil. Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) Fonte: https://i0.wp.com/pensamentoliquido.com.br/wp-content/uploads/2017/08/cicero. jpg?fit=1080%2C513&ssl=1 Devido ao seu ímpeto retórico, Cícero desenvolve o que ficou conhecida como História Ornata, ou seja, uma escrita literária do conhecimento histórico que seja embelezada. Em outros termos, que haja uma rebuscada escrita da 45 história, e parte do res gestae (fatos ocorridos), tenha sua validade na beleza retórica do historiador, inclusive com a obediência por parte do historiador às regras literárias da disciplina de retórica. Nesse sentido, o gênero desenvolvido e proposto por Cícero, deve obedecer a uma verdade retoricamente compreendida, permitindo ao historiador um afastamento da verdade fática para dar maior importância para a capacidade de argumentação. Vamos explorar um pouco mais essa perspectiva. A proposta de Cícero não priva o leitor dos fatos, há a existência de um fato que é objeto de análise do historiador. Mas, ao expor o fato criticamente, não é apenas o seu conteúdo ocorrido que deve ser responsável pela validade do conhecimento gerado. Para além do próprio conteúdo fatual, o convencimento é exercido também pela capacidade de argumentação do historiador, por meio de aplicações de técnicas de retórica aplicada no processo de construção literária do conhecimento. Apesar de ser historiador romano, se utilizou dos modelos gregos de produção histórica, para depois separá-la, inaugurando sua proposta pautada nas técnicas de retórica. O seu ecletismo filosófico foi influenciado pelas escolas clássicas e helenistas da Grécia Antiga, em um momento histórico que presenciou diversos conflitos sociais e consequente pacificação, por Augusto. Curiosidade Em 95 a.C., a Lex Licínia Múcia, lei romana cujo objetivo era remover da lista de romanos pessoas ou grupos que alegavam serem romanos, entra em vigor, passando a condenar os aliados que buscavam por cidadania e a conseguiam de forma irregular. Outro fato ocorrido foi a Guerra Social, iniciada em 91 a.C., envolveu picenos, lucanos, marsos, samnitas, apúlios, etruscos e úmbrios no confronto contra os romanos. Estes povos se uniram para formar uma nova república que, curiosamente, recebeu o nome de Itália. Ao propor, então, modelos constituídos no processo de exposição literária, Cícero entende que há três formas comuns de conhecimento histórico: essas formas são: as Fábulas, a História e o Argumento. As fábulas tratam de uma proximidade à poesia, e expõem questões que não podem e não devem ser tratadas como verdades. As fábulas expressam ideias como dragões, gigantes 46 e alados. Entende-se que essa é sua classificação para um modelo próximo à poesia de Homero, em que há a mistura literária de fatos históricos e mitos. A História, nessa classificação de Cícero, refere-se ao fato conhecido objetivamente, e que se apresenta longe da memória, ou seja, não se trata somente de um fato estudado por meio da memória, mas um fato observável no presente in loco e que poderia ser descrito como uma produção historiográfica. Já o argumento é o fato, a partir da história, que deve ser imaginado. Essa imaginação não era algo conduzido aleatoriamente, mas deveria ser nutrida de um esforço considerável para se pensar em como aquele fato histórico poderia vir a ocorrer, tendo o convencimento por meio de uma argumentação bem construída, pautada em técnicas de retórica. Curiosidade Este trabalho divide-se em duas partes: a primeira consiste em um estudo sobre o diálogo Brutus de Marco Túlio Cícero, a segunda apresenta uma tradução completa da obra. Para maiores informações acesse o link: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8143/tde-06052015-121442/publico /2014_OlavoViniciusBarbosaDeAlmeida_VOrig.pdf Cícero era crítico de um modelo de História que se limitasse a seleção de fatos observáveis, portanto, a escrita literária do conhecimento histórico deveria ser abastecida pelo ornare, ou seja, pelo processo de embelezamento, pela ação de adornar no momento de exposição do fato, por meio da oratória. No contexto da pesquisa e da exposição literária do conteúdo histórico, está, entre os diversos objetivos do historiador, a busca pela realidade dos fatos, construindo uma verdade histórica, sendo que, para Cícero, a verdade histórica não está necessariamente nos fatos, mas na retórica, enquanto meio de convencimento. Cícero também empreendeu uma espécie
Compartilhar