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MEDCURSO: Reumatologia 25/03/2020 Aula 2: Lúpus Eritematoso Sistêmico e Síndrome de Sjögren 1. Introdução As colagenoses são doenças inflamatórias sistêmicas autoimunes idiopáticas. O LES é o protótipo das colagenoses. 2. Lúpus eritematoso sistêmico O LES é o protótipo das doenças idiopáticas autoimunes, ou seja, ele é um modelo de doença autoimune. Seu grande alvo é qualquer coisa, ou seja, é a doença das “ites” e das “penias”, pois pode acometer qualquer órgão. “LES pode tudo”. 2.1 Patogenia Todos esses fatores em conjunto “acordam” os autoanticorpos, fazendo com que eles comecem a atacar o organismo – são vários anticorpos, pois como falado anteriormente, o LES não ataca apenas um órgão. · Deficiência de complemento: quando o paciente tem falta de algum componente imunológico, há vias alternativas de resposta autoimune. No entanto, se há alguma falha, outra via acaba tendo que compensar a que está deficiente, causando deflagração no sistema imunológico · Mutações genéticas em HLA, DR2, DR3 · Componente infeccioso: vírus · Estrogênio: hormônio que estimula autoimunidade · Luz ultravioleta: ação direta sobre células inflamatórias da pele deflagrando uma resposta autoimune e até modificando a configuração de DNA celular fazendo com que as células do paciente se tornem antígenos estranhos 2.2 Autoanticorpos do LES a) Anti-nucleares = FAN · Anti-DNA dupla-hélice (nativo) · É o anticorpo do RIM, responsável pela nefrite lúpica · É o 2º anticorpo mais específico · É capaz de indicar atividade da doença – quando o paciente está em período de remissão, ele tende a cair · Anti-Histona · Muito comum em pacientes com LES (70% dos pacientes com LES terão esse anticorpo) · Presente em quase 100% dos casos de LES fármaco induzido · Anti-Sm = anticorpo mais específico do LES · Anti-RNP = doença mista do tecido conjuntivo · Anti-La (SS-B) = característico da síndrome de Sjögren · Configura nefroproteção: quem costuma ter Anti-La positivo, tem Anti-DNA negativo · Anti-Ro (SS-A) = característico da síndrome de Sjögren · Responsável pelo lúpus neonatal: esse anticorpo ataca a via de condução nervosa cardíaca do feto = feto com BAVT · Lúpus com FAN negativo (2% dos casos) · Grande relação com fotossensibilidade · Relação com lúpus cutâneo subagudo: lesões parecidas com psoríase b) Anti-citoplasmáticos · Anti-P · É o anticorpo da psicose lúpica · É um FAN c) Anti-membrana Antilinfocítico, antineurônio, antiplaqueta, anti-hemácia. d) Antifosfolipídio · A presença de qualquer um deles denota a possibilidade da trombose · Anticoagulante lúpico: esse anticorpo in vitro alarga o PTT – então, no laboratório a paciente teria tendência a sangramento. No entanto, ele causa trombose · Anti-beta2glicoproteína1 · Anticardiolipina FAN: o fator anti-nuclear é um anticorpo que denota a presença de doença autoimune. Ele abrange o nucléolo e o citoplasma, então o Anti-P é também um representante do FAN. É o grande exame de rastreamento do LES, estando positivo em praticamente 100% dos casos. 2.3 Critérios diagnósticos – EULAR/ACR 2019 Critério de entrada + critério aditivo ≥ 10 pontos a) Critério de entrada · FAN + com títulos ≥ 1:80 – para considerarmos o início da investigação de LES para um paciente, se tornou obrigatório a presença de FAN positivo, ou seja, foi necessário o “rastreamento” b) Critério aditivo · Manifestações clínicas: 10 critérios 1- Constitucional: presença de febre >38,3º 2- Pele e mucosa: alopecia sem cicatriz, úlcera oral, lúpus cutâneo subagudo ou discoide, lúpus cutâneo agudo (rash malar) 3- Articulação: ≥ 2 articulações com artrite ou dor com rigidez matinal 4- Serosa: derrame pleural ou pericárdico, pericardite aguda 5- Hematológico: leucopenia < 4.000, plaquetopenia < 100.000, anemia hemolítica com teste de Coombs positivo 6- Renal: proteinúria > 0,5g/dia, nefrite lúpica à biópsia – confere caráter grave 7- Neuropsiquiátrico: delirium, psicose, convulsão sem motivo melhor explicado – quando presente a doença confere caráter grave 8- Anticorpo antifosfolipídio: anticardiolipina, anti-beta2glicoproteina1 e anticoagulante lúpico 9- Complemento: C3 e/ou C4 baixo 10- Anticorpo específico: Anti-DNAdh ou Anti-Sm Esses critérios juntos já fecham o diagnóstico de LES: FAN + nefrite lúpica IV FAN + 3 critérios 2.4 Lúpus fármaco induzido O grande problema neste caso são medicamentos. · Incidência igual entre homens e mulheres · Presença de Anti-histona · Poupa RIM e SNC, é um lúpus leve · Drogas: PHD · Procainamida: maior risco, é um antiarrítmico · Hidralazina: mais comum por ser mais usada · D-penicilamina: imunomodulador 2.5 Nefropatia lúpica Tipicamente os marcadores imunológicos são Anti-DNAdh com complemento baixo. As mais importantes são as do tipo IV – proliferativa difusa, que é uma síndrome nefrítica que pode evoluir para GNRP, que também é a mais comum e mais grave no LES; e tipo V – membranosa, que tem um quadro clínico de proteinúria SEM hematúria. 2.6 Tratamento · TODOS: protetor solar + interromper tabagismo + uso crônico de hidroxicloroquina OU cloroquina (melhora estado geral e diminui recaídas) a) Forma leve · Acometimento de pele, mucosa, articulação · Fazer o tratamento de base para TODOS · AINEs com ou sem corticoide em doses baixas b) Forma moderada · Já há acometimento constitucional, hematológico · Fazer o tratamento de base para TODOS · AINEs com ou sem corticoide em doses baixas com ou sem imunossupressor (azatioprina, metotrexato) c) Forma grave · Aquelas formas que apresentam acometimento de rim e SNC · Fazer o tratamento de base para TODOS · Corticoide em altas doses (muitas vezes pulsoterapia para tirar o paciente da crise) + imunossupressor (ciclofosfamida, micofenolato, rituximab) 3. Síndrome de Sjögren É a síndrome seca. É uma doença autoimune, cujo alvo dos infiltrados linfocitários são as glândulas exócrinas, principalmente da cabeça que são as glândulas lacrimais e salivares. · Mais comum em mulheres (9:1) entre 30-40 anos 3.1 Manifestações clínicas Síndrome seca = xeroftalmia + xerostomia · Sensação de areia nos olhos · Apodrecimento dos dentes: a saliva contém imunoglobulinas, então como a boca está mais seca, aumenta-se a propensão a cáries · Outras: artralgia, mialgua, vasculite cutânea · Risco aumentado de linfoma de parótida pela alta quantidade de linfócitos nessas glândulas – crescimento rápido de parótida 3.2 Diagnóstico · Anti-Ro (SSA) ou Anti-La (SSB) ou biópsia de lábio inferior · Clínica com sinais objetivos avaliando boca ou olho · Teste de Schirmer ou Rosa-bengala (+) para xeroftalmia · Cintilografia salivar (+) para xerostomia 3.3 Tratamento · Medidas gerais: lágrima artificial, saliva artificial – comer alimentos mais úmidos, beber água durante a alimentação para facilitar a deglutição, uso de óculos de natação à noite para manter a umidade nos olhos · Manifestações sistêmicas: corticoide, imunossupressores 4. Síndrome do anticorpo Antifosfolipídio O que chama atenção nessa colagenosa é a trombose. 4.1 Diagnóstico Manifestação clínica + manifestação laboratorial a) Clínico · Trombose arterial ou venosa · Morbidade gestacional: ≥ 3 abortos < 10 semanas, aborto > 3 semanas, prematuridade ≤ 34 semanas b) Laboratorial Devem ser dosados em 2 ocasiões, em intervalos ≥ 12 semanas. · Anticardiolipina IgM/IgG · Anti-beta2glicoproteína I IgM/IgG · Anticoagulante lúpico c) Tratamento · Anticoagulação plena se trombose: Varfarina (marevan)
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