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Hérnias Junyara Souza 2 Hérnia é a protrusão de uma estrutura, víscera ou órgão da cavidade à qual pertence. Uma hérnia é definida como protusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes. FATORES DE RISCO: · Histórico familiar · Sexo masculino · Idade (a partir da 7ª década) · Tabagismo · Doenças colagenosas · Aumento da pressão abdominal – pode ser causada por: DPOC, ascite, hiperplasia prostática benigna. Uma consideração importante é acerca da obesidade, que não entra como fator de risco, na verdade é um fator protetor, pois parece estar associado com um espessamento da pele e do tecido subcutâneo, o que pode exercer uma proteção ao abaulamento das estruturar abdominais. Quanto as hérnias incisionais, vale lembrar que há necessidade de um procedimento cirúrgico prévio e alguns outros fatores de risco podem estar presentes, como: fatores cirúrgicos (infecção da ferida operatória, hematoma e outros), desnutrição, uso de corticoides, uso de radiação local e obesidade. POR QUE AS HÉRNIAS OCORREM? 1. Defeito congênito · Falha do fechamento da abertura da fáscia (ex. espaço do cordão umbilical) · Falha do processo de obliteração (ex. processo vaginal) 2. Fraqueza adquirida · Deterioração/afinamento da fáscia com a idade · Perda de tecido (injúria, infecção, má cicatrização de feridas, etc) ANATOMIA: A cavidade abdominal é um compartimento que trabalha com uma pressão positiva, cerca de 5 – 8 mmHg. A parede abdominal é constituída por algumas camadas, são elas – pele, tela subcutânea, os músculos, que estão dispostos nessa ordem: oblíquo externo, oblíquo interno e o transverso do abdome, seguindo com a fascia transversalis, a gordura pré-peritoneal e por fim o peritônio, sendo a última camada antes das vísceras abdominais. O canal inguinal é um ducto que parte de lateral para medial, de dentro para fora, obliquamente. Ele é uma comunicação entre a cavidade abdominal e o testículo/bolsa escrotal. Conhecer esses aspectos anatômicos é de extrema importância para o entendimento de um dos principais fatores de risco para hérnias inguinais: sexo masculino. Já consegue entender a “causa”? Então, o fato de os homens possuírem esse – o canal inguinal - por onde ocorreu a descida testicular, provoca aumento do risco. Diferente das mulheres, que no sítio do canal inguinal está o ligamento redondo do útero e não ocorre passagem de nenhum estrutura por esse região, como acontece com os testículos nos homens. ANATOMIA DA REGIÃO iNGUINO-FEMORAL: · Pele · Tecido adiposo subcutâneo · Fáscia de Camper · Fáscia de Scarpa · Aponeurose do músculo oblíquo externo Ainda, uma outra estrutura anatômica importante, quando pensamos em hérnias, é o orifício miopectíneo de Fruchaud, região inguino-femoral ilustrada na figura abaixo, que é caracterizada por ser um local propenso ao surgimento de hérnias. Possui como limites o músculo reto abdominal (medialmente), inferiormente o ligamento pectíneo ou de Cooper, lateralmente o músculo psoas e superiormente o tendão conjunto (obliquo interno com o transverso do abdome). Essa região pode ser dividida, pois sabe-se que três tipos de hérnias podem surgir aqui, a inguinal indireta, a inguinal direta e a femoral. A direta surge no famoso trígono de Hesselbach (limitado por: músculo reto abdominal, ligamento inguinal e vasos epigástricos inferiores), pois ele é a região de fraqueza na parede abdominal. Os outros dois sítios são os canais inguinal (local de surgimento da indireta) e o femoral (local de surgimento da hérnia femoral). TRIÂNGULO DE HASSELBACH: Triângulo da dor Doom · Triângulo Lateral: hérnias indiretas · Triângulo Medial (triângulo de Hasselbach): hérnias diretas · Triângulo Posterior: hérnias femorais · Triângulo de Doom ou triângulo da morte: entre vasos importantes. · Triangulo da dor: relacionado à dor crônica e muitas vezes incapacitante no pós-operatório. Y invertido: vasos epigástricos inferiores em vermelho; ducto deferente em branco; vasos espermáticos em azul. HÉRNIAS INGUINAIS: Limitado pelo ligamento inguinal inferiormente, a borda lateral do reto abdominal medialmente e os vasos epigástricos inferiores lateralmente. Região de maior fraqueza da parede abdominal posterior. Triângulo de Hasselbach · 75% das hérnias da parede abdominal · Indiretas: Mais comuns · Diretas: Mais frequentes no homem e à direita CANAL INGUINAL: Passagem entre a musculatura da parede abdominal apresentando aproximadamente 4cm de extensão no adulto. CONTEÚDO: Homem: funículo espermático – músculo cremaster, ducto deferente com sua artéria e veia espermáticas externas, conduto peritônio vaginal, plexo pampiniforme e ramo genital do nervo gênito-femoral Hérnia escrotal típica Mulher: ligamento redondo do útero HÉRNIAS INGUINAIS INDIRETAS: Secundárias a alterações congênitas decorrentes do não fechamento do conduto peritônio-vaginal. Surgem através do canal inguinal e lateralmente aos vasos epigástricos inferiores. · Diagnósticos diferenciais: · Hidrocele · Varicocele · Linfonodomegalias inguinais · Lipomas · Tumores do testículo e do epidídimo HÉRNIAS INGUINAIS DIRETAS: Resultado do enfraquecimento da musculatura da região inguinal, alteração adquirida. Surgem diretamente da parede abdominal e medialmente aos vasos epigástricos inferiores · Triângulo de Hasselbach · Fatores bioquímicos e celulares HÉRNIAS INGUINAIS REDUTÍVEL, ENCARCERADA E ESTRANGULADA: Hérnia redutível: quando é possível retornar o conteúdo herniado para o seu lugar de origem. · Manobra de Taxe: manobra manual para tentar reduzir a hérnia. Hérnia encarcerada: quando o conteúdo herniário está preso ao anel herniário, impossibilitando o retorno Hérnia estrangulada: nos casos das hérnias encarceradas, existe o risco do conteúdo herniário ficar preso (encarcerado) no saco herniário e sujeito a sofrer estrangulamento, o que compromete a circulação sanguínea no local e leva a necrose do órgão herniado. AVALIAÇÃO DAS HÉRNIAS INGUINAIS: EXAME CLÍNICO: · Manobra de Valsalva · Fatores que levam ao aumento da pressão intra-abdominal: Hipertrofia prostática, ascite, tosse crônica, constipação crônica, tumorações abdominais volumosas EXAMES DE IMAGEM: · USG · TC CLASSIFICAÇÃO DE NYHUS: TIPO I: hérnia indireta com anel inguinal profundo normal (até 2cm) TIPO II: hérnia indireta com anel inguinal interno alargado, porém com parede posterior preservada TIPO III: defeito da parede posterior a) Hérnia direta b) Hérnia indireta com alargamento importante do anel interno e destruição da parede posterior (hérnia mista) c) Hérnia femoral TIPO IV: hérnia recidivada a) Direta b) Indireta c) Femoral d) mista HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL: TIPOS DE HÉRNIAS DE PAREDE ABDOMINAL: Hérnias umbilical, inguinal e epigástrica. HÉRNIAS EPIGÁSTRICAS: Protrusão de gordura pré-peritoneal ou do próprio peritôneo através de defeito da linha alba. HÉRNIAS UMBILICAIS: Persistência do anel umbilical sem o fechamento de sua camada aponeurótica após o nascimento. · Infância: defeito congênito verdadeiro · Adulto: secundária a um defeito adquirido Hérnia umbilical sem obstrução e encarceramento. Hérnias incisionais ou ventrais: Protrusões do conteúdo abdominal através de orifícios da parede abdominal localizados em áreas de incisão cirúrgica prévia. ETIOLOGIA: · Infecção da ferida cirúrgica · Obesidade · Idade avançada · Anemia · Ascite · Uso de corticosteróides e quimioterapia · Hipoalbuminemia · Diabetes Hérnia incisional – a pressão na pele pode causar ulceração HÉRNIA INCISIONAL COM EVISCERAÇÃO: · Ulceração + evisceração espontânea · Cobrir com curativo úmido e levar para a sala de cirurgia para reparo imediato HÉRNIA INCISIONAL ENCARCERADA: HÉRNIA INCISIONAL COM ASPECTO DE CASCA DE LARANJA (LINFEDEMA): HÉRNIAS FEMORAIS: Protrusões através do canal femoral. · 3% das hérnias inguinais · Mais comuns no sexo feminino Hérnia femoral encarcerada causando obstrução Tratamento das hérnias da parede abdominal anterior e inguinal: CIRURGIA: · Aberta · Laparoscópica (anestesia geral)· Robótica A hérnia que é redutível pode ser operada de forma eletiva ou pode ser acompanhada, analisando como ela irá evoluir. Já nos casos de hérnia encarcerada, nos casos não complicados, é possível o manejo clínico, tentando reduzir a hérnia, associado com analgésicos e relaxante muscular, afim de intervir de forma eletiva, mas nos casos em que não é possível reduzi-la, está indicada a cirurgia. No caso de hérnia estrangulada, esse paciente deve fazer cirurgia de urgência. Por fim, em 1986, Lichtenstein inovou, com sua técnica que é baseada na utilização de telas, utilizada até os dias de hoje, sem tensão e com baixa taxa de recidivas. Vale lembrar que essa técnica é específica para as hérnia inguino-femoral, porém a sua metodologia revolucionou o tratamento das hérnias. A maioria das telas são constituídas por polipropileno. Existem telas mistas, parcialmente absorvíveis, totalmente absorvíveis. Como dito anteriormente, a técnica de Lichtenstein é muito eficaz para hérnias inguinais, porém não é útil nos casos de hérnias femorais. Nesses casos o tratamento será com a técnica de Mc Vay ou Plug femoral (colocação no canal femoral uma estrutura que preencha esse canal) ou Laparoscopia, para cobrir com tela!!!!!!!! Quanto as hérnias umbilicais, o mecanismo é semelhante, utilização de tela sem tensão, após o ressecamento do saco herniário, realiza-se o fechamento com a tela, sendo a mesma técnica utilizada para as hérnias epigástrica e incisionais. ANATOMIA: FECHAMENTO: HÉRNIA VENTRAL: POSICIONAMENTO DA TELA SUB-APONEUROSe (ONLAY): Fecha a hérnia e coloca a tela em cima. Muito usada!!! HÉRNIA VENTRAL: POSICIONAMENTO DA TELA ao redor da falha (INLAY): TÉCNICA RETROMUSCULAR: Evita o contato da tela com o peritônio – técnica mais difícil e está começando a ser mais recomendada. HÉRNIA VENTRAL: POSICIONAMENTO DA TELA INTRAPERITONEAL: Telas especiais, normalmente de dupla-face. A parte superior é de propileno e parte inferior (que fica em contato com as vísceras) é de hidrogel – evita aderências e fístulas. Para uma HÉRNIA PRIMÁRIA, a melhor forma de acesso para correção é: 1. Acesso via ANTERIOR com tela = Liechtenstein (técnica sem tensão = com tela) 1. Laparoscópica – TAP (Transabdominal pré-peritoneal) ou TEP (transabdominal totalmente extraperitoneal) 1. Robótica Agora, para HÉRNIA BILATERAL, o melhor acesso é: · Preferir via LAPAROSCÓPICA ou ROBÓTICA, porque a partir de um acesso se consegue corrigir as duas hérnias, sem a necessidade de duas incisões Se HÉRNIA RECIDIVADA: · EVITAR ÁREA PREVIAMENTE MEXIDA (o lado previamente abordado já tem tela, não tem como abordar) Tratamento da hérnia inguinal: Sempre cirúrgico!!! · Hérnias redutíveis X encarceradas X estranguladas TÉCNICAS: · Bassini · Início da Era Moderna · Sutura no ligamento inguinal · Alta recidiva · Shouldice · Menor recidiva · Imbricamento de camadas · Lichtenstein · Tension free · Tela de polipropileno · Stoppa: técnica de colocação da tela no sítio pré-peritoneal, que é uma grande tela que cobre toda a cavidade abdominal, indo de um músculo psoas de um lado até o outro lado e inferiormente até o ligamento pectíneo. Está associada com algumas complicações, como dor, fibrose e um índice muito maior de feridas operatórias, sendo reservada para os casos mais complexos. COMPLICAÇÕES: 9% · Ferida operatória · Hematoma · Seroma · Infecção · Complicações isquêmicas: plexo pampiniforme · Complicações neurológicas Hérnias especiais Hérnias de estruturas e sítios menos comuns. · Hérnia de Richter: Isquemia da borda anti mesentérica, não há oclusão intestinal · Hérnia de Littré: Qualquer hérnia contendo o divertículo de Meckel · Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser: consiste da agenesia ou digenesia da porção mulleriana da vagina ou do útero. Ovário e trompas de falópio no canal inguinal, associado com desenvolvimento genital incompleto. · Hérnia de Amyand: Presença de apêndice cecal no saco herniário inguinal · Unnamed: hérnias contendo apêndice ou ovários normais. · Hérnia obturadora: Quando a hérnia ocorre pelo forame obturador TIPOS INCOMUNS DE HÉRNIA: · Hérnias lombares: · Grynfelt – Do trígono lombar superior · Petit – Do trígono lombar inferior DIASTASIS RECTI: NÃO É HÉRNIA. É uma separação da musculatura do reto abdominal na altura do epigástrio. Apenas é visualizada quando o paciente está deitado em decúbito ventral e levanta a cabeça, e não é visualizado em ortostase. Mais comum em mulheres multíparas.
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