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Sistema digestório 1 💩 Sistema digestório Contexto: consideradas pandêmicas em razão da sua disseminação pelo mundo, as doenças do sistema digestório geram custos à saúde que excedem os 40 bilhões de dólares. A exemplo disso, temos a diarreia como 3ª causa de morte no mundo. Problemas gastrointestinais comuns: Doença do refluxo gastroesofágico, úlceras, câncer colorretal (2ª causa de mortalidade por câncer nos EUA), cálculos biliares, doenças virais do fígado, complicações retais, constipação, doença alcoólica hepática, hemocromatose, doença intestinal inflamatória (diz respeito a doenças crônicas que inflamam os intestinos em intensidades variadas; as principais são Doença de Crohn, Retocolite Ulcerativa e Colites Indeterminadas), síndrome do intestino irritável, intolerâncias alimentares (que se tornam cada vez mais prevalentes, à medida em que se aprimoram os métodos diagnósticos), gases intestinais e dor abdominal. Princípios gerais da função gastrointestinal 1: Anatomia fisiológica da parede gastrointestinal Serosa, camada muscular longitudinal externa, camada muscular circular interna, submucosa e mucosa; esparsas pela mucosa encontramos, ainda, fibras da muscular da mucosa; A musculatura do trato gastrointestinal opera como sincício: dentro de um mesmo feixe, as fibras musculares se conectam eletricamente a partir de junções comunicantes - permitindo o fácil intercâmbio de íons de uma fibra para a outra; desse modo, os sinais elétricos que estimulam as contrações musculares podem se disseminar rapidamente; há de se ter em mente, contudo, que essa propagação de sinal ocorre mais rapidamente no sentido do comprimento do feixe que radialmente. Ainda, apesar de separados por tecido conjuntivo frouxo, os feixes musculares apresentam muitos pontos de encontro; isso faz com que a excitação de uma parte da camada muscular tenda a se propagar por toda a extensão do músculo (a depender da excitabilidade deste, contudo). 2: Atividade elétrica do músculo liso gastrointestinal A musculatura lisa do trato gastrointestinal é excitada por uma atividade elétrica intrínseca, contínua e lenta que se baseia em dois elementos: ondas lentas e potenciais em ponta. Sistema digestório 2 1. Ondas lentas: flutuações do potencial de repouso das fibras musculares; determinam o ritmo de contração das diferentes partes do trato a partir da frequência com que se estabelecem; acredita-se que sejam produzidas pelas células intersticiais de Cajal, que atuariam como espécies de 'marca-passos' elétricos das células da musculatura lisa. 2. Potenciais em ponta: os potenciais de ação (que na musculatura gastrointestinal são os potenciais em ponta) estão sujeitos às janelas abertas pelos 'marca-passos' da atividade elétrica - isto é, pelas ondas lentas. Mas o que isso significa? Quando se dá uma relativa despolarização do potencial de repouso da fibra muscular (que passa de -60/-50 milivolts para cerca de -40 milivolts), os potenciais em ponta passam a ocorrer - estimulando a contração da fibra. Os potenciais de ação da musculatura lisa gastrointestinal têm maior duração que o das fibras nervosas, pois se utilizam de canais cálcio-sódio ao invés de dispor quase que exclusivamente de canais rápidos de íon sódio (como fazem as células nervosas). Além disso, o nível basal dos potenciais de repouso dessas fibras musculares está sujeito à variações que independem das ondas lentas. Desse modo, podem ocorrer despolarizações ou hiperpolarizações desse potencial de repouso (mediando, pois, o quão excitáveis são as fibras) em situações como: estiramento muscular, modulação hormonal (por epinefrina e norepinefrina/por hormônios gastrointestinais específicos) ou estimulação por acetilcolina. Como se dá a contração muscular? Como já visto, diferente do que ocorre nas células nervosas, o potencial de ação da fibra muscular lisa no trato se estabelece pelo grande influxo de íons cálcio (e de uma quantidade substancialmente menor de íons de sódio) pelos canais cálcio-sódio. Esse cálcio que entra na fibra interage (por mediação da calmodulina) com os filamentos de miosina e, estimulando a atração destes pelos filamentos de actina, provoca a contração muscular. Desse modo, as ondas lentas (flutuações nos potenciais de repouso das fibras musculares) não são capazes de gerar contração por si só - uma vez que são os potenciais em ponta que permitem o influxo de cálcio para a fibra muscular. É importante saber, também, que alguns músculos lisos gastrointestinais apresentam contração tônica (além de, ou ao invés de contrações rítmicas) que, apesar de ter intensidade variável, é contínua. 3: O sistema nervoso entérico Sistema digestório 3 O arranjo de células nervosas no trato gastrointestinal é extremamente complexo; para concluir isso, basta saber que este quase se equipara, em quantidade de neurônios, à medula espinhal. Apesar de ser operativo sozinho, ao SN Entérico se conectam terminações livres do SN Simpático e do SN Parassimpático - que inibem e intensificam, respectivamente, as funções do trato. O estímulo do SN parassimpático (que se dispõe em maior extensão nas regiões próximas à cavidade oral e ao ânus) aumenta a atividade do SN entérico; o que, por sua vez, promove a ampliação das atividades do trato. Em contraposição, a estimulação simpática (que se dá a partir da liberação de epinefrina e de, em graus maiores de inibição, norepinefrina) inibe a atividade gastrointestinal. Desse modo, quando intensamente estimulado pelo SN simpático, a inibição pode ser tamanha que bloqueie completamente a movimentação do alimento pelo trato. Plexo mioentérico/de Auerbach: cadeia linear de neurônios disposta entre as camadas musculares longitudinal externa e circular interna, é responsável, basicamente, por coordenar a motilidade do trato; quando estimulado (pela liberação de acetilcolina, por exemplo) este plexo provoca um movimento mais rápido das ondas peristálticas intestinais (devido ao aumento do tônus muscular, da intensidade de contrações rítmicas, do ritmo de contração e da velocidade de condução das ondas excitatórias). Nem todos os neurônios do Plexo Mioentérico/de Auerbach são excitatórios → os inibitórios são especialmente úteis para coordenar o relaxamento da musculatura de esfíncteres. Plexo submucoso: respondendo a sinais sensoriais advindos das terminações nervosas dispostas no epitélio do trato, o plexo submucoso controla a secreção intestinal local, o nível de absorção da região, o grau de contração da muscular da mucosa (coordenando, pois, o dobramento desta). Fibras nervosas sensoriais aferentes do intestino: respondendo a situações como a distensão excessiva do intestino, irritação da mucosa ou presença de determinadas substâncias químicas, as fibras nervosas aferentes podem se comunicar tanto com os plexos do SN entérico, quanto com a medula (em sua raiz dorsal) e o tronco cerebral. Exemplo disso são os nervos vagos - nos quais 80% das fibras são aferentes e, portanto, levam informações do trato ao bulbo que, por sua vez, desencadeia os chamados reflexos vagais. Reflexos gastrointestinais 1. Reflexos completamente integrados na parede intestinal do SN entérico; Sistema digestório 4 2. Reflexos do intestino para os gânglios simpáticos pré-vertebrais - que, aferindo o estímulo, respondem com direcionamentos a outras porções do trato; 3. Reflexo do intestino para a medula ou para o tronco cerebral - que, aferindo o estímulo, respondem com direcionamentos a outras porções do trato; 4: Controle hormonal da motilidade intestinal 1. Gastrina: liberada pelas 'células G' do antro do estômago (localizadas nas células pilóricas) em resposta à sua distensão, ao produto de digestão das proteínas e ao peptídeo liberador de gastrina; estimula a secreção de HCl e o crescimento da mucosa gástrica. Gastrina → Histamina → Glândulas gástricas/oxínticas (células parietais/oxínticas) → Secreção de HCl 2. Colecistocinina (CCK): liberada pelas'células T' da mucosa duodenal e jejunal em resposta à presença de ácidos graxos, gordura e monoglicerídeos; contrai a vesícula biliar, que expele bile para as porções iniciais do intestino delgado - onde esta substância age na emulsificação de gorduras. Ainda, inibe moderadamente a contração do estômago e o apetite (por aferência vagal, há inibição dos centros de alimentação do cérebro). 3. Secretina: produzido pelas 'células S' da mucosa duodenal, este hormônio estimula a secreção pancreática de bicarbonato, de modo a neutralizar a acidez do bolo alimentar que advém do estômago. 4. Peptídeo inibidor gástrico (GIP): secretado pela mucosa duodenal e jejunal em resposta à presença de ácidos graxos, de AAs e carboidratos; estimula diminuição da atividade contrátil estomacal e, com isso, retarda o esvaziamento do conteúdo gástrico no duodeno; adicionalmente, estimula a secreção de insulina. 5. Motilina: secretada durante o jejum, estimula a motilidade gastrointestinal. 6: Tipos funcionais de movimento no trato gastrointestinal De maneira geral, os movimentos observáveis na musculatura do trato são: de propulsão (peristaltismo) e de mistura. Os movimentos de propulsão respondem a, basicamente, estímulos de distensão das paredes intestinais ou de irritação física ou química da mucosa. Quando uma porção específica do intestino se distende pela presença do bolo alimentar, a alguns centímetros na direção oral se forma um anel contrátil que, deslocando-se na direção anal, promove o movimento do alimento (Lei do Intestino). Simultaneamente à formação desse anel, ocorre um relaxamento receptivo da musculatura do tubo alguns centímetros adiante (na direção anal), de modo a estabelecer um sentido de movimento (reflexo mioentérico/peristáltico). Este movimento também pode ser observado em outros tubos de musculatura lisa, como os ductos biliares (sensíveis à colecistocinina - CCK), os ureteres e os ductos glandulares. Esse padrão complexo de movimento não ocorre na ausência do Plexo Mioentérico/de Auerbach. 7: Circulação esplâncnica Todo o sangue que passa pelo intestino, pelo baço e pelo pâncreas flui, através da veia porta, diretamente para o fígado; esse sentido de fluxo é fundamental, pois permite com que as células reticuloendoteliais hepáticas removam da circulação bactérias e outras partículas que podem ter sido penetrado a circulação intestinal junto com os nutrientes. Sistema digestório 5 Nutrientes não lipídicos e hidrossolúveis são levados ao fígado e, em grande parte (3/4), temporariamente absorvidos e armazenados - sendo no fígado que se inicia o processamento químico de muitas dessas substâncias; as gorduras absorvidas pelo trato gastrointestinal, contudo, não passam pelo fígado - são difundidas do sistema linfático intestinal diretamente para a circulação sistêmica por através do ducto torácico. Quando nos alimentamos e o trato passa a secretar e a se movimentar, o fluxo sanguíneo nas vilosidades e na musculatura aumenta muito (cerca de 8 vezes); adquirindo valores basais depois de algumas horas. Isso ocorre devido à liberação de vasodilatadores (como a gastrina, secretina, colecistocinina, peptídeo vasoativo intestinal, calidina, bradicinina) e à diminuição de [O²] na parede intestinal, devido à atividade metabólica intensa (a diminuição da [O²] provoca a liberação do vasodilatador adenosina). Quando o sistema nervoso entérico é estimulado pelo SN parassimpático, a tendência é que a atividade do trato gastrointestinal aumente; associada a esta, observa-se, logicamente, o aumento do fluxo sanguíneo pela circulação intestinal. Todavia, é importante distinguir que essa alteração da dinâmica de fluxo é muito mais consequência da atividade glandular (secreção de vasodilatadores: gastrina, secretina, colecistocinina CCK, peptídeo vasoativo intestinal, calidina e bradicinina) que do estímulo nervoso. Por outro lado, mediante estímulo do SN simpático, o bloqueio de atividade do trato é acompanhando por uma vasoconstrição intensa das arteríolas - sendo o fluxo normal restabelecido somente quando, por vias de um escape autorregulatório, são liberados mecanismos vasodilatadores metabólicos em resposta à isquemia dos tecidos. 💡 Essa regulação pelo Simpático é fundamental em situações nas quais outros tecidos precisam mais urgentemente de oxigenação, como no exercício físico pesado ou em caso de choque circulatório. Fluxo sanguíneo em contracorrente nas vilosidades Nas vilosidades, a circulação sanguínea se estabelece da seguinte forma: o fluxo arterial entra e o fluxo venoso sai por vasos paralelos que estão, contudo, dispostos extremamente próximos uns dos outros. Por essa razão, grande parte do oxigênio (cerca de 80%) se difunde das arteríolas direto para as vênulas - sem que passe pelas extremidades dos vilos. Para o indivíduo saudável, esse desvio de O² não é lesivo; contudo, se o paciente sofrer de um comprometimento da circulação (como, por exemplo, em um quadro de choque circulatório), as pontas das vilosidades podem sofrer isquemia. Sistema digestório 6 8: Motilidade Deglutição e esôfago O movimento de deglutição é voluntariamente realizado pela língua (que joga o alimento para trás) e pela primeira porção da faringe. Para que o alimento consiga adentrar o tubo esofágico, é necessário que ocorra o relaxamento de seu esfíncter superior. A partir da porção mais terminal da faringe se iniciam as movimentações peristálticas; a peristalse esofágica primária é desencadeada pelo estímulo mecânico da faringe, enquanto que a peristalse secundária advém da distensão das paredes do órgão (que provocam, também, o relaxamento do esfíncter esofágico inferior e a contração do superior - de modo a impedir que o alimento retorne à faringe e à boca). Estômago Assim que o alimento transita pelo esfíncter esofágico inferior e que este adentra a cárdia estomacal, a musculatura em forma de anel se contrai - de modo a impedir o refluxo gastroesofágico; No fundo e no corpo do estômago, o relaxamento da musculatura permite a acomodação do alimento - momento em que este é misturado com o suco gástrico; ondas do tipo 1 (fracas e leves) propulsionam o alimento em direção ao antro; A musculatura antral, ao ser distendida e estimulada, responde com ondas de contração por peristalse - empurrando, assim, o alimento em direção ao piloro; o bolo alimentar é empurrado, mas não consegue atravessar a região pilórica (que está muito contraída), gerando um movimento de retropulsão que permite a fragmentação e a mistura do alimento ao HCl; À medida em que a pressão intragástrica aumenta, são geradas ondas do tipo 2 (mais fortes e potentes) que promovem os movimentos de esvaziamento do estômago; assim, há um relaxamento parcial do esfíncter pilórico. Fatores que estimulam o esvaziamento gástrico → distensão da parede, acetilcolina (estímulo parassimpático) e gastrina; Fatores que inibem o esvaziamento gástrico → distensão da parede duodenal, quimo ácido/quimo rico em gordura ou proteínas (→liberação de CCK e secretina) Intestino delgado: movimento de segmentação (contrações rítmicas); contrações retropulsivas (uma hora contrai e movimenta para a frente, outra hora contrai e joga para trás); peristaltismo (propulsão dos alimentos em direção ao cólon). Sistema digestório 7 Frequência das ondas lentas: 12-20/minuto. Intestino grosso e reto: contrações de curta duração (ondas estacionárias para mistura); haustrações (contrações de longa duração que formam as bolsas do IG); contrações propagadas de alta amplitude (de propulsão, são as ondas que empurram o bolo alimentar em direção ao reto para defecação). Frequência de ondas lentas: 6-8/minuto. Reflexo de defecção Funções secretoras do trato gastrointestinal Aspectos gerais da secreção De um modo geral, as glândulas secretoras dispostas ao longo das paredes do trato (ou mesmo externas à este) produzem e liberam dois elementos básicos: muco (para proteção e lubrificação) eenzimas digestivas; Para que o façam, podem ser estimuladas diretamente pelo contato com o alimento (como ocorre com as células caliciformes, produtoras de muco) ou então responderem aos estímulos advindos do SN entérico (que, por sua vez, é estimulado pela aferência do epitélio - que reage à irritações físico-químicas, à distensão e ao estímulo tátil); As glândulas inervadas por ramos do SN parassimpático (que recebam o nervo glossofaríngeo ou o parassimpático vagal - como as salivares, esofágicas, gástreas e o pâncreas) também respondem a essa estimulação autônoma. Sistema digestório 8 Os estímulos recebidos do SN simpático, por outro lado, agem de forma contraditória: apesar de promover aumento da atividade glandular, também provoca vasoconstrição dos vasos que irrigam as glândulas - diminuindo sua capacidade produtiva. O suco gástrico e o suco pancreático são, ainda, enormemente modulados pelos hormônios que, liberados de acordo com o que há no bolo alimentar, agem sobre as glândulas (ex: gastrina, secretina, e colecistocinina CCK); A liberação de uma vesícula de secreção (retículo endoplasmático → complexo de golgi → vesícula) ocorre a partir de um aumento de permeabilidade da membrana ao íon cálcio; em razão da maior [Ca+²] intracelular, a membrana das vesículas se funde com a membrana plasmática e, dessa forma, ocorre a exocitose; Saliva É produzida pelas glândulas parótida, sublinguais e submandibulares e possui dois tipos principais de secreção proteica, a secreção serosa (que contém ptialina, enzima para digestão do amido) e a mucosa (que contém mucina, para lubrificar e proteger as superfícies, além de neutralizar pequenas quantidades de ácidos e de bases devido ao caráter anfotérico do muco); A concentração de íons na saliva se diferencia daquela que é observada no plasma, pois, à medida em que o fluido produzido nos ácinos transita pelos ductos, há a reabsorção (por transporte ativo) do sódio e a secreção concomitante de potássio; ademais, há a reabsorção de cloreto e a secreção de bicarbonato. Em contrapartida, nas situações em que a secreção de saliva atinge sua intensidade máxima, o fluido é produzido em tão grande quantidade que transita rapidamente pelo ducto. Desse modo, a reabsorção por transporte ativo do Na+ e do Cl- é diminuída consideravelmente. Por essa razão, as concentrações desses íons no fluido se aproximam das que são verificadas no plasma. Além de servir à lavagem da boca (para remoção de bactérias e de resquícios de alimentos, que servem de nutrição para estas), a saliva possui em sua composição enzimas bactericidas (ex: lisozima e íons tiocianato) e anticorpos proteicos. Regulação nervosa da secreção salivar De modo geral, é controlada por sinais parassimpáticos (que - mediante estimulações gustativas/táteis - transitam dos núcleos salivatórios superior e inferior, na junção bulbopontina, até as glândulas parótida, sublinguais e submandibulares); esses estímulos parassimpáticos podem, ainda, estar sujeitos à ação de sinais advindos dos centros superiores do SN (quando sentimos o cheiro ou o gosto de uma comida que gostamos, por exemplo, as áreas do olfato e de paladar do córtex cerebral e da amígdala coordenam um aumento da nossa salivação por intermédio dos núcleos salivatórios). Ainda, a salivação pode ocorrer como resposta à reflexos gástricos e da porção proximal do duodeno - particularmente quando alimentos irritativos são digeridos ou quando a pessoa está nauseada. Nessas situações, a saliva produzida em acréscimo é engolida e, chegando às porções descritas, ajuda a diluir ou neutralizar as substâncias irritativas. O SN Simpático (que se origina nos gânglios cervicais superiores e que, então, se dirige às glândulas salivatórias) induz pequeno aumento na secreção de saliva. As células salivatórias ativadas secretam calicreína, enzima que cliva a alfa2-globulina (proteína sanguínea) e a converte em bradicinina - potente vasodilatador. Sistema digestório 9 Secreção esofágica Constitui-se, basicamente, de muco; em sua porção mais proximal, o esôfago consta de glândulas mucosas simples (cuja secreção impede que as paredes do órgão sofram escoriações); distalmente, onde se separa do estômago pela junção esofagogástrica, dispõem-se glândulas mucosas compostas (cujo muco secretado protege a parede do esôfago contra a digestão pelos ácidos que, com frequência, refluem do estômago - de modo a proteger o tecido de úlceras pépticas). Secreção gástrica Células mucosas superficiais: secretam muco especialmente viscoso e de caráter alcalino (protegendo a mucosa da proteólise decorrente da acidez); Glândulas oxínticas/gástricas: dispostas no corpo e no fundo do estômago (80% proximais), produzem HCl, pepsinogênio (ativado pela acidez do suco gástrico → pepsina - atua na digestão de proteínas, sendo tão importante para tal função quando o ácido clorídrico), fator intrínseco (essencial para a absorção de vitamina B12 no íleo) e muco. São intensamente estimuladas por acetilcolina (principalmente), gastrina e histamina (no caso da secreção de HCl). Células parietais/oxínticas: produzem HCl e fator intrínseco; Quando estas células são destruídas, o paciente sofrerá de acloridia e anemia perniciosa. Isso porque, além da ausência de produção do ácido clorídrico, a não-absorção da vitamina B12 impede que esta estimule a maturação das hemácias na medula óssea Células mucosas do cólon: produzem muco Células principais/pépticas: responsáveis pela secreção de pepsinogênio (precursor da enzima pepsina - que hidrolisa proteínas); a secreção de pepsinogênio é fortemente influenciada pela quantidade de ácido no estômago; Glândulas pilóricas: dispostas na porção antral do estômago (20% distais), secretam gastrina, muco (de modo a proteger a mucosa pilórica contra a acidez do suco gástrico) e uma pequena quantidade de pepsinogênio; estruturalmente, se assemelham muito às glândulas oxínticas - sendo, contudo, majoritariamente formadas por células mucosas e por algumas células pépticas/principais. Sistema digestório 10 💡 Para produzir uma concentração de íons hidrogênio tão alta quanto a que se verifica no suco gástrico, é preciso que exista uma barreira gástrica (constituída do muco que é produzido pelas células pilóricas e oxínticas e pelas junções oclusivas do epitélio) impedindo que o ácido secretado vaze para a mucosa. Quando essa barreira é injuriada (pelo consumo intenso de álcool ou de aspirina, por exemplo), a mucosa pode ser lesionada. Secreção pancreática O pâncreas se dispõe abaixo do estômago e, quanto à estrutura da glândula, se assemelha à organização das glândulas salivares (dividindo-se em ácinos e em ductos); os ácinos pancreáticos secretam as enzimas digestivas, enquanto que a solução aquosa de NaHCO³ é secretada pelos ductos pequenos e maiores que começam nos ácinos; os ductos que se formam nos ácinos pancreáticos se unem no ducto pancreático - este, por sua vez, esvazia o seu conteúdo no ducto hepático, logo antes da desembocadura no duodeno pela papila de Vater, que está envolta pelo esfíncter de Oddi. As enzimas pancreáticas servem à digestão de todo o tipo de alimento: proteínas, carboidratos e gorduras. Digestão de proteínas: tripsina, quimiotripsina e carboxipolipeptidase. Obs: A tripsina e a quimiotripsina promovem a quebra de proteínas em pequenos peptídeos; a carboxipolipeptidase, por outro lado, realiza a proteólise desses peptídeos em AAs. Obs 2: Quando sintetizadas pelos ácinos pancreáticos, as enzimas proteolíticas são secretadas e conduzidas através dos ductos em suas formas inativas (quimiotripsinogênio, tripsinogênio e procarboxipolipeptidase) - haja em vista que os próprios ácinos secretam, também, uma substância chamada inibidor da tripsina. Isso evita a digestão enzimática do próprio pâncreas (pancreatite aguda). Desse modo, essas enzimas são ativadas somente no duodeno, quando o tripsinogênio entra em contato com a enzima enterocinase(secretada pela mucosa duodenal) e é convertido em tripsina; a partir desse momento, o contato com a tripsina converte a quimiotripsinogênio e a procarboxipolipeptidase em suas formas ativas. Quando o pâncreas é lesado gravemente (ou quando há um bloqueio do ducto pancreático), a secreção se acumula e o efeito do inibidor da tripsina se torna insuficiente; desse modo, a secreção enzimática pancreática se converte à sua forma ativa no próprio órgão - podendo digeri-lo por completo em poucas horas (pancreatite aguda). Sistema digestório 11 Digestão de carboidratos (amido, glicogênio, entre outros): amilase pancreática. Digestão de gorduras: lipase pancreática, colesterol esterase e fosfolipase. O bicarbonato de sódio, por outro lado, contribui para a neutralização do quimo que, recém chegado do estômago, provoca um aumento súbito da acidez nas regiões proximais do intestino delgado; secretado pelas células epiteliais dos ductos que se originam nos ácinos HCl + NaHCO3 → NaCl + H²CO³ → NaCl (neutralizado) + H²O + CO² (a ser expelido pelos pulmões) O mecanismo de neutralização do ácido é fundamental para evitar o desenvolvimento de úlceras duodenais. Ademais, a secreção de bicarbonato de sódio pelas células ductais estabelece o pH adequado de funcionamento das enzimas pancreáticas (neutro ou pouco alcalino). A acetilcolina (liberada por terminações do Nervo Vago Parassimpático), a CCK (colecistocinina - produzida por células I da mucosa duodeno-jejunal em resposta à presença de ácidos graxos, gorduras e monoglicerídeos, além de degradados proteicos; tem mais efeito sobre a secreção enzimática que a própria inervação vagal) e a secretina (células S da mucosa duodenal em resposta à acidez do quimo) influenciam diretamente a secreção pancreática; esses diferentes estímulos, inclusive, potencializam uns aos outros em efeitos multiplicativos. Secreção de bile pelo fígado Em síntese, a bile serve ao organismo como substância emulsificadora de gorduras (os ácidos biliares ajudam a quebrar as grandes partículas de gordura em partículas muito menores, facilitando a atividade das lipases pancreáticas - à medida em que a área de contato do substrato com a enzima Sistema digestório 12 aumentam - e a absorção das gorduras pela mucosa do trato, que o faz em micelas) e meio de excreção de bilirrubina (produto final da degradação da hemoglobina) e de colesterol. Os ácidos biliares (somados ao colesterol, à bilirrubina, à lecitina, dentre outros constituintes orgânicos) são produzidos pelos hepatócitos e despejados nos ductos; assim como ocorre no pâncreas, as células epiteliais que revestem os ductos e canalículos secretam uma solução aquosa de NaHCO³, cuja função também é reduzir a acidez do quimo. Por vezes, a bile é armazenada na vesícula biliar - até que sua secreção no duodeno seja necessária. Apesar de suportar um volume de substância relativamente baixo (de 30 a 60 mililitros), a vesícula é capaz de armazenar cerca de 450 mililitros de bile - uma vez que a mucosa absorve água e íons (por meio do transporte ativo de sódio, que acaba determinando a absorção secundária de outro eletrólitos difusíveis - exceto o cálcio - e da água), concentrando apenas a lecitina, a bilirrubina, o colesterol e os sais biliares. A secreção da bile depositada na vesícula biliar é feita a partir de contrações rítmicas da parede do órgão (sob ação da acetilcolina do SN parassimpático e da CCK) e do simultâneo relaxamento do esfíncter de Oddi, que controla a entrada do ducto colédoco no duodeno. Quando o quimo não contém gorduras, a vesícula se esvazia lentamente; quando concentra quantidades significativas desta, o órgão pode se esvaziar de forma completa. O precursor dos sais biliares é o colesterol; sem a presença destes, até 40% das gorduras ingeridas são perdidas nas fezes. Sistema digestório 13 Secreções do intestino delgado Glândulas de Brunner → glândulas mucosas compostas, se dispõem na parede duodenal principalmente na região intermédia ao piloro gástrico e a papila de Vater (onde a secreção pancreática e a bile desembocam no duodeno); a produção desse muco alcalino (que também contém íons NaHCO³) é estimulada por inervação parassimpática vagal e por estímulos táteis/irritativos da mucosa, e inibida por inervação simpática. Criptas de Lieberkuhn: dispostas entre as vilosidades intestinais, são compostas por dois tipos de células - as células caliciformes, que secretam muco, e os enterócitos, que secretam grandes quantidades de água e de eletrólitos que serão, logo adiante, reabsorvidas por vilosidades adjacentes. Isso ocorre de modo a estabelecer um veículo aquoso para a absorção de substâncias. Os enterócitos contêm enzimas digestivas que digerem substâncias alimentares enquanto essas são absorvidas através do epitélio (peptidase, sucrase, maltase, isomaltase, lactase e lipase intestinal); de resto, contudo, as secreções do intestino delgado não contêm quase nenhuma enzima. Secreção de muco pelo intestino grosso Criptas de Liberkuhn: da mesma maneira como fazem na mucosa do intestino delgado, secretam muco; todavia, no intestino grosso não existem vilos; a secreção deste muco é regulada, principalmente, pela estimulação direta do epitélio e por reflexos nervosos locais; além de proteger a parede intestinal (contra escoriações e a intensa atividade bacteriana que ocorre nas fezes), o muco serve de material adesivo para as fezes; quando temos uma infecção bacteriana, a presença da bactéria irrita a mucosa intestinal e provoca a secreção intensa de água e de eletrólitos - em uma tentativa de provocar o movimento rápido das fezes em direção ao ânus - é a enterite, que causa diarreia. Cerca de 1 a 2 gramas de colesterol são removidas do plasma sanguíneo pelos hepatócitos e secretadas na bile todos os dias; esta substância é quase que inteiramente insolúvel em água - todavia, quando junto da lecitina e dos sais biliares, forma pequenas micelas ultramicroscópicas em solução coloidal que podem, assim, ser eliminadas; quando a vesícula absorve uma quantidade excessiva de água da bile (deixando-a muito concentrada), quando há excesso de colesterol na bile, inflamação do epitélio, ou absorção excessiva dos sais biliares da bile - podem se formar cálculos biliares.