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DIREITO DO CONSUMIDOR RESUMO HISTÓRICO DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DE CONSUMO Primeiramente, do ponto de vista inicialmente histórico, deve-se estudar como se desenvolveu a sociedade de consumo e a necessária proteção do consumidor. Com o avanço da tecnologia, principalmente durante a Revolução Industrial, os produtores começaram a produzir de maneira massificada todos os bens necessários para a vida do ser humano. Assim , com uma produção em larga escala também existe um risco maior, logo, houve a necessidade de proteger aquele (consumidor) na relação (de consumo) que não detém todo conhecimento em relação ao produto e ao fornecedor. Após a 2ª Guerra Mundial observa-se um grande número (e cada vez maior) de pessoas capazes de adquirirem bens. Entre os anos 80 e 90 houve a inclusão da tecnologia nos próprios bens adquiridos, principalmente devido à internet. Percebe-se que desde os tempos mais longínquos o consumidor foi se transformando pois também era moldado pelo mercado. Primeiramente ele só possui aquelas possibilidades de bens, depois é apresentado uma era de informação e maiores possibilidades com preços mais acessíveis com a produção em massa, por fim tem-se um mercado cada vez tecnológico e seus consumidores que adquirem bens cada vez mais facilmente para suprir suas necessidades (a tecnologia entrou: na produção, na venda e compra, no produto, no desejo do consumidor). Mas um resquício da sociedade de consumo inicial continuou intacto até hoje, de que as pessoas possuem opções, contudo não possuem escolha, as pessoas precisam comprar para sobreviver. Por esse motivo o Direito se preocupa em proteger o consumidor que é o polo mais desinformado e que não possui escolha. Vários são as áreas e projetos que buscam proteger o consumidor, atualmente o mais focado é a proteção do consumidor no mercado de crédito. Os consumidores com o crédito muitas vezes não entendem como funciona todo o processo e se serão capazes de quitar esse crédito posteriormente, com essa desinformação cria-se um fenômeno de superendividamento dos consumidores (agravado ainda mais pela pandemia). BASE CONSTITUCIONAL A CF/88 deixa explícito sua preocupação na proteção dos consumidores ao expor que: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor; Art. 48. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor. Tendo como base da sua elaboração, no que tange a proteção do consumidor, o princípio da dignidade humana e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (solidarismo constitucional). Contudo, a atual gestão do governo vem retrocedendo os direitos do consumidor. Por exemplo, a Lei nº 14.034/2020 que visa mitigar as perdas ocasionadas pela crise do Covid-19 nas relações entre consumidores e as cias de transporte aéreo: 1) Dispõe sobre as condições e especificações para o reembolso do consumidor, sendo realizado dentro de 12 meses. Contudo, e se devido a atual situação financeira do brasileiro este precisar do valor antes de 12 meses?; 2) Ainda, a Lei transfere a responsabilidade do risco da atividade dos fornecedores para os consumidores que “escolheram viajar mesmo sabendo dos riscos”. PLURALISMO PÓS-MODERNO Atualmente existem inúmeras leis que tratam do mesmo assunto trazendo incongruências e dúvidas, a melhor solução é que haja um diálogo das fontes. Assim, tem-se o Direito Civil que complementa qualquer obscuridade ou lacuna do Direito do Consumidor, contudo este é a fonte “suprema” de informação sobre as relações de consumo e responsabilidades (estando abaixo apenas da CF). Além, hoje tem-se um direito dinâmico, ou seja, existem uma pluralidade de sujeitos jurídicos em uma complexa pós-modernidade se moldando as implicações , por partes: 1) Pluralidade de sujeitos jurídicos: o mesmo fato pode ser regido por diferentes diplomas dentro do Direito, entre eles, o Direito do Consumidor; 2) Complexidade pós-moderna: ainda está se desenvolvendo todo um esquema para lidar com situações que por exemplo envolvem economia de compartilhamento, pois são relações jurídicas que envolvem ao mesmo tempo várias áreas do Direito; 3) Implicações do desenvolvimento da tecnologia: implicações tanto dentro do ambiente jurídico como dentro dos novos casos que surgem, devendo o mundo do Direito estar sempre e em constante mudança para se adequar cada vez mais e mais rápido às novidades. CONCEITOS CRIAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado no início 90, momento em que se deu um salto tecnológico muito grande, a publicidade começa a ter uma nova postura (sendo mais persuasiva e convincente do que informática como antes). Ainda foi o momento em que houve a evolução de tutela coletiva, assim como a criação dos Juizados Especiais, Procons, entre outros órgãos/instituições protetivas. O Código de Defesa do Consumidor, atendendo as normas constitucionais, estabelece que todas as suas normas são públicas e de interesse social, ou seja, direitos indisponíveis, intransigíveis e irrenunciáveis pela parte dos consumidores, devendo ser conhecidos pelos julgadores de ofício. Posteriormente, houve um aprimoramento bastante relevante no CDC relacionado ao comércio eletrônico, ao tratamento do consumidor superendividado e a ampliação da tutela do consumidor (ampliação dos Procons). RELAÇÕES JURÍDICAS DE CONSUMO Relação Jurídica O CDC não institui um conceito em seu texto acerca do que seria uma relação de consumo. Mas conceitua os elementos da relação (partes = sujeitos e objetos), tratando-se de uma relação dinâmica (em que pode haver um produto e um serviço juntos, várias possibilidades de uma pessoa ser considerada consumidora ao mesmo tempo). Consumidor Assim 4 conceitos de consumidor (mais de um devido a ampla proteção). Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (Conceito geral) Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. (Em caso de acidentes) Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. (Práticas abusivas ou contratuais no CDC). O consumidor, nessa relação dinâmica, pode ser inclusive cumulativo, sendo ao mesmo tempo o destinatário final, num coletivo de pessoas, que sofreu com práticas abusivas do art. 39 do CDC e um acidente. O conceito padrão de consumidor, o destinatário final, já estabelece que o intermediário que pega o produto mantendo suas características e repassa posteriormente este produto dentro do ambiente econômico. Dentro deste conceito de consumidor surgem 3 correntes interpretativas da extensão desse conceito: 1) Finalista: é restritiva, mantém como consumidor apenas e unicamente o destinatário final; 2) Maximista: ao contrário da finalista expande o conceito e toda a proteção que o envolve (para pessoas físicas e jurídicas); 3) Finalista Mitigada: tenta encontrar um equilíbrio entre a finalista e maximalista, admitindo a pessoas jurídicas como consumidores, porém apenas quando comprovada a sua vulnerabilidade (estabelecendo uma nova discussão entre vulnerabilidadee hipossuficiência). Fornecedor O CDC estabelece que o fornecedor é aquele que desenvolve atividade de forma habitual, não necessariamente profissional. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Produto e Serviço 3º. … § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Produto na relação de consumo pode ser qualquer coisa, até mesmo gratuito. Por outro lado, o serviço deve ser sempre remunerado (contraprestação aferível economicamente, inclusive podendo ser de maneira indireta) para que exista uma relação de consumo. LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA (LEI N. 13.874/2019) Ao contrário do que pensam, a Lei de Liberdade Econômica não altera as relações de consumo ou seus elementos. Existe apenas uma necessidade de estabelecer uma distinção concreta entre contratos civis, contratos empresariais e contratos de consumo envolvendo pessoa jurídica. PRINCÍPIOS O CDC é um sistema principiológico, por isso seu dinamismo é constante. Mantendo-se, desta forma, sempre atualizado. PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE A vulnerabilidade é uma presunção legal impassível de oposição, em outras palavras, todo consumidor é vulnerável. Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; Neste princípio encontra-se o problema da corrente finalista mitigada que determina a demonstração da vulnerabilidade no caso concreto contrariando o próprio sistema do CDC. A intenção da corrente finalista mitigada com isso não é prejudicar o consumidor, apenas comprovar que se trata de uma relação de consumo (um consumidor em situação mais vulnerável que um fornecedor)e logo deve ser aplicada o CDC. O fornecedor possui um privilégio que eleva seu status informativo, pois conhece o seu produto, seu serviço, sua procedência, modo como é feito e produzido, etc, enquanto o consumidor desconhece, colocando-o em uma situação de vulnerabilidade. Assim, reconhecendo a existência dessa vulnerabilidade, trata-se desigualmente os desiguais para se obter uma igualdade material, tendo assim uma relação balanceada. É então onde o Direito entra e tenta encontrar um equilíbrio fornecendo vantagens (direitos decorrentes de normas de origem pública com natureza cogente para os consumidores e obrigações e deveres para os fornecedores) para o consumidor na tentativa de elevar este ao nível do fornecedor. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9008.htm#art7 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO O fornecedor tem o dever de apresentar as informações e o consumidor tem o direito de obtê-las. As informações não podem ser unicamente formal, devendo produzir resultados, por este motivo esta deve ser traduzida por meio de transparência. Por exemplo, é possível informar utilizando símbolos, entretanto o símbolo deve ser “traduzido”/explicado caso este não seja de entendimento de toda sociedade. A simbologia, então, é uma forma de repassar informações necessárias, porém apenas a sua utilização não traz eficiência, pois a eficiência é atingida quando o consumidor recebe e entende claramente a informação. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ Princípio básico que norteia todas as relações jurídicas, percebe-se que excepcionalmente no caso das relações de consumo a boa-fé encontra-se presente no fornecimento de informação clara e verdadeira, passada para o consumidor de boa-fé, e este por sua vez também tem o dever de agir de boa-fé. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA Quando a informação chega ao consumidor e é verdadeira (teve boa-fé), este adquire confiança no produto/serviço e no fornecedor. A concretização da confiança na relação de consumo consolida as legítimas expectativas do consumidor. PRINCÍPIO DA GARANTIA DE QUALIDADE E ADEQUAÇÃO Produtos que possuem riscos devem ser informados aos consumidores para que estes tomem os devidos cuidados. Entretanto, não são permitidos produtos/serviços de alto risco ou que não funcionem frustrando as expectativas do consumidor. PRINCÍPIO DO DEVER ESTATAL (GOVERNAMENTAL) O Estado deve cuidar das políticas públicas relacionadas ao consumo, tanto na condição de fornecedores (como fornecedores de serviços públicos), assim como também promover uma adequada estrutura de acolhimento e tratamento do consumidor (Juizados especiais e Procons, por exemplo). PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA O consumidor deve ser escutado e tem direito a receber uma resposta, assim integrando o princípio do dever governamental nessa situação o governo deve criar instrumentos de facilitação da efetivação dos direitos dos consumidores. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL DOS DANOS No CDC o fornecedor deve reparar efetivamente e de maneira integral os danos causados ao consumidor. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS Os princípios que baseiam o CDC são aplicados: 1) Nos direitos básicos; 2) No sistema de responsabilidade civil; 3) Na proteção pré-contratual e pós-contratual; 4) Na tutela judicial e administrativa do Consumidor (individual e coletiva). DIREITOS BÁSICOS Os direitos básicos são os direitos mínimos do consumidor que não deveriam sofrer qualquer discussão. Estes estão elencados no art. 6º do CDC Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Publicidade enganosa é aquela considerada falsa, já a publicidade abusiva é aquela que viola valores morais da sociedade. V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; A Teoria da onerosidade excessiva (adotada pelo CDC) tem como objetivo a manutenção do contrato, sua reparação (mantendo a proteção dos interesses econômicos do consumidor). Assim, uma vez que superada a expectativa de onerosidade do consumidor no momento da contratação em razão de fato superveniente previsível ou imprevisível o consumidor pedir a modificação das cláusulas contratuais ou a revisão de suas condições para obter uma correção do rumo do contrato dentro de uma nova situação). Por outro lado, a Teoria da Imprevisão (adotada pelo CC, arts. 317, 475, 477, 478 e 479) tem como objetivo a resolução do contrato por meio de sua extinção (aplicada na ausência de característica de habitualidade do contratante) VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivosou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Essa inversão do ônus da prova se dá quando for verossímil a alegação do consumidor ou for demonstrado sua hipossuficiência. A diferença entre a inversão que ocorre no CDC para a que ocorre no CC (art. 373) é que a verossimilhança das alegações do consumidor são diferentes da verossimilhança para concessão de tutela de urgência, pois no CC tutela significa provimento, já no CDC significa apenas e unicamente a inversão do ônus da prova. Quanto à hipossuficiência, trata-se da desigualdade de condições entre o consumidor e o fornecedor de conseguir provar. IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas; XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na concessão de crédito; XIII - a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o caso. Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. SISTEMA DE RESPONSABILIDADE CIVIL SISTEMA PREVENTIVO O CC logo busca pela reparação do dano, o CDC por outro lado foca primeiramente toda sua atenção na prevenção de um possível dano, por isso as questões relacionadas à informação são tão importantes. Tanto no âmbito administrativo (multas, cassação de alvará, cassação de licença) quanto no âmbito criminal. SISTEMA COLETIVO Geralmente o que se vê normalmente é uma reparação de danos individuais, já no CDC, devido a sociedade de consumo de produção massificada em que vivemos as repercussões danosas também são coletivas. SISTEMA REPRESSIVO Com o intuito didático-pedagógico, se os fornecedores não possuem um estímulo para cumprir a lei e na verdade possuem benefícios ao não cumpri cria-se um sistema que não se mantem, uma vez que os fornecedores violariam direitos dos consumidores e não sofreram nenhuma sanção por isso, não havendo motivo para mudar naturalmente SISTEMA DE QUALIDADE DO CDC Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. SISTEMA DE GARANTIAS LEGAIS Ligado ao princípio da garantia de qualidade e adequação, o art. 26 do CDC já estabelece as garantias relacionadas à produtos duráveis e não duráveis. No direito brasileiro, no âmbito do direito do consumidor, tudo possui uma garantia legal. GARANTIAS CONTRATUAIS São as garantias legais extendidas que são oferecidas ao consumidor pelos fornecedores contratualmente. Possui RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS FRENTE AO CDC Os profissionais liberais são considerados “solitários”, pois podem exercer suas atividades independente de outros. O profissional liberal possui responsabilidade subjetiva quando é contratado de maneira personalíssima, ou seja, o profissional é o elemento determinante na contratação que levou o consumidor a escolher esse profissional. Quando se contrata um liberal com essa característica personalíssima, o consumidor deposita no profissional uma confiança, o único modo de quebrá-la é se o profissional agir com culpa (negligência, imprudência ou imperícia). RESPONSABILIDADE Em regra a responsabilidade do fornecedor de produto/serviço é objetiva, não importando assim a existência ou não de culpa, e solidária na cadeia de fornecimento. Art. 7°. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. O responsável (fornecedor) indenizando o consumidor possui o direito a faculdade de exercer o direito de regresso. Sob o ponto de vista do sistema preventivo, o CDC adotou a Teoria Menor (diferentemente do CC que adota a Teoria Maior) para desconsideração da personalidade jurídica. Art. 28. § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. TIPOLOGIA DAS IMPERFEIÇÕES DE PRODUTOS E SERVIÇOS ● Fato de produto ○ Defeitos juridicamente relevantes ○ Defeitos juridicamente irrelevantes ● Fato de serviço ○ Defeitos juridicamente relevantes ○ Defeitos juridicamente irrelevantes ● Vício do produto ● Vício do serviço ● Saneamento dos vícios de produtos e serviços ● Produtos e serviços essenciais ○ Lista dos produtos essenciais FATO OU VÍCIO (DO PRODUTO/SERVIÇO) A diferenciação no direito do consumidor está relacionada com a repercussão danosa (o efeito/consequência) e não na causa como é no CC. Fato do Produto O fato do produto são problemas com repercussões danosas extrínsecas, ou seja, que extrapolam a esfera do produto e atinge o consumidor ou um terceiro equiparado ao consumidor. Pode-se classificar em: 1) Juridicamente relevantes, aqueles que geram responsabilidade, gerados por (podendo ser cumulativos): a) defeitos de criação; b) defeitos de produção; c) defeitos de informação. 2) Juridicamente irrelevantes, aqueles que não geram nenhuma responsabilidade civil, gerados por: a) culpa exclusiva do consumidor ou terceiro b) risco de desenvolvimento c) ação deletéria do tempo; d) caso fortuito ou força maior (mesmo não estando expressamente previsto no CD, em um diálogo de fonte com o CC, identifica-se com uma causa de exclusão da responsabilidade). Acerca do risco de desenvolvimento, este ainda não se encontra pacífico na doutrina e na jurisprudência, contudo existe uma inclinação de agravar essa responsabilidade por risco de de desenvolvimento, o que significa dizer que o fornecedor quando colocou o produto no mercado este ainda não possuía meios de identificar a existência de problemas e por isso não poderia ser responsabilizado por riscos que surgirem posteriormente. Fato do Serviço O fato do serviço são problemas com repercussões danosas extrínsecas, ou seja, que extrapolam a esfera do serviço e atinge o consumidor ou um terceiro equiparado ao consumidor. Pode-se classificar em: 1) Juridicamente relevantes, aqueles que geram responsabilidade, gerados por (podendo ser cumulativos): a) defeitos de informação (insuficiência ou inadequação); b) defeitos de segurança; 2) Juridicamente irrelevantes, aqueles que não geram nenhuma responsabilidade civil, gerados por: a) culpa exclusiva do consumidor ou terceiro; b) adoção de novas técnicas; c) caso fortuito ou força maior; d) inexistência do defeito. Mesmo com o ônus da prova invertido (responsabilidade do fornecedor provar que não possui responsabilidade), é responsabilidade do consumidor demonstrar o dano e sua extensão. Resolução: Tratando-se de acidente de consumo, deve o fornecedor indenizar integralmente o consumidor ou terceiro vítima do evento, conforme art. 17 do CDC. Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-seaos consumidores todas as vítimas do evento. É importante saber a diferença entre fato e vício justamente porque existe essa equiparação quando se trata de fato do produto ou serviço, enquanto que não existe no caso de vício. Vício do Produto O vício do produto são problemas com repercussões danosas intrínsecas, ou seja, que não extrapolam a esfera do produto. Podendo ser relacionadas: 1) Qualidade; 2) Quantidade; 3) Disparidade (indicações do recipiente, embalagem, rotulagem e mensagem publicitária). Vício do Serviço O vício do serviço são problemas com repercussões danosas intrínsecas, ou seja, que não extrapolam a esfera do serviço. Podendo ser relacionadas: 1) Qualidade; 2) Inadequação 3) Disparidade (oferta ou mensagem publicitária). Resolução: Visto uma situação mais simples, a solução mais adequada é também a mais simples, nestes casos o consumidor pode: 1) Pedir substituição do produto/refazimento do serviço; 2) Desfazimento da contratação com a restituição imediata do preço (sem prejuízo de perdas e danos); 3) Abatimento proporcional do preço. PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CDC OFERTA NO CDC Significa apresentação de produtos e serviços, possuindo um caráter vinculante ao indicar o objeto e o preço por exemplo, ou seja, o fornecedor não pode revogar/renunciar a oferta feita. PUBLICIDADE A publicidade não pode ser invisível, ou seja, deve ser de fácil identificação a existência de publicidade. Não pode ser enganosa, ou seja, falsa. Não pode ser abusiva, ou seja, não pode explorar das vulnerabilidades do consumidor ou até mesmo das suas hiper vulnerabilidades, como por exemplo quando exploram a inexperiência da criança, a situação de necessidade da pessoa idosa ou com deficiência, o medo ou superstição. O papel do Conar é um órgão administrativo de controle ético da publicidade que tem entre várias de suas funções a de suspender publicidade ou campanha inadequadas. PRÁTICAS ABUSIVAS As práticas abusivas são as práticas mercadológicas exemplificadas no art. 39 do CDC (venda casada, explorar ignorância, elevar preços sem justa causa, etc). PROTEÇÃO CONTRATUAL O CDC visa proteger a função econômica do contrato de consumo, função social do contrato de consumo e a função socioambiental do contrato de consumo. Pois não se trata de um contrato entre apenas 2 indivíduos, existe toda uma consequência social e também ambiental. Anotações: 1) O contrato não gera obrigações por parte do consumidor, não cria nenhum vínculo (art. 46 do CDC) 2) A interpretação deve ser sempre mais favorável ao consumidor 3) Contratos e tecnologia (fora do estabelecimento) a) Foi criado o prazo de reflexão de 7 dias para o consumidor (art. 49 do CDC) b) Decreto 7.962/2013 trata do comércio eletrônico complementando o art. 49 do CDC. Cláusulas abusivas nos contratos As cláusulas abusivas (contrárias à boa-fé), nulas de pleno direito, estão presentes tanto nos contratos escritos quanto nos contratos verbais. O CDC oferece um rol exemplificativo no art. 39 do CDC. Contratos de e por adesão Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. Regras formais de redação contratual (normas de ordem pública) Art. 54. § 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação dada pela nº 11.785, de 2008) § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. TUTELA JURÍDICA DO CONSUMIDOR A tutela jurídica do consumidor existe em dois âmbitos diferentes: 1) Campo administrativo a) Atuação do Ministério Público b) Atuação das Associações de Consumidores c) Portais de reclamação (consumidor.gov.br, reclame aqui) 2) Campo Judicial a) Tutela individual i) JECs ii) Justiça comum b) Tutela coletiva i) Ação civil pública Os portais de mediação e conciliação como reclame aqui e consumidor.gov.br são os primeiros utilizados para resolver o conflito. Caso o fornecedor tenha tido a oportunidade de resolver as questões e não resolveu, levando o consumidor a acionar a justiça, o fornecedor sofrerá uma sanção por isso. Os fornecedores que tentam resolver sem a necessidade de ingressar no judiciário devem ser beneficiados de alguma maneira. O CDC é o centro das normas relativas às regras de consumo, entretanto é importante destacar a existência de regras de consumo em outras fontes legislativas como por exemplo: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11785.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11785.htm#art1 ECA, Estatuto do Idoso, Estatuto do Torcedor, Estatuto do Jovem. Lei nacional de Resíduos Sólidos, Estatuto da 1ª Infância, entre outros. O aprimoramento mais recente do CDC está relacionado com o superendividamento, comércio eletrônico e aprimoramento da atuação dos Procons. CONSUMO CONSCIENTE E SUSTENTÁVEL O próprio CDC favorece o consumo consciente, ou seja, realizado de maneira pensada e equilibrada (art. 6º do CDC). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n. 12.305/2010) orienta o que o consumidor deve fazer para não gerar um resíduo de consumo tão grande como é atualmente. Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos: I - a prevenção e a precaução; III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; IV - o desenvolvimento sustentável; V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta; VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade; VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania; X - o direito da sociedade à informação e ao controle social; Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos: XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável. No Brasil, atualmente, as populações mais informadas (30%) adotam um estilo de vida de consumo baseado nos valores socioambientais que favorecem a preservação ambiental. As pessoas estão depurando o mercado devido a este consumo consciente que deve ser cada vez maior e constante, não podendo se tornar apenas modismo, e sim transformar toda cultura de consumo. Modos de alcançar o consumo consciente é ● Combater as obsolescências (planejadas, programadas) - gatilhos que estragam o produto bem quando a garantia acaba também -; ● Existir uma postura crítica frente aos apelos de consumo (principalmente quando relacionado a publicidade ou crédito); ● Prestigiar e selecionar os fornecedores, marcas e produtos/serviços; ● Extração da máxima utilidade do produto; ● Preferência por produtos que não contenham embalagens plásticas; ● Responsabilidade pelo pós-consumo (resíduos); ● Mudar de hábitos: em vez de descartar por comodismo começar a reutilizar, saber utilizar o dinheiro Questão: Um incêndio, no interior de uma loja localizada no centro de uma grande cidade, causou danos a Juliana, Júlia e Carolina, que se encontravam no interior da loja, pois estavam comprando roupas. Flávia, que passava pela calçada a caminho de seu trabalho, foi atingida por estilhaços e teve partede sua perna atingida chamas, causando queimaduras leves, mas que resultaram em sua condução ao hospital. Ainda, Rafael, enquanto aguardava o seu transporte, foi atingido pelo fogo, causando queimaduras de 3° grau em seu braço direito. Assim, diante do caso em tela, discorra sobre o caso, apontando a conceituação das pessoas envolvidas, sua caracterização (ou não) como consumidores(as), a natureza jurídica do acontecimento, bem como, se há ou não possibilidade de reparação de danos, apontando justificativa legal para os argumentos sustentados. Na situação descrita, acerca da conceituação das pessoas envolvidas no evento, Juliana, Júlia e Carolina são consideradas consumidoras, vez que estavam no estabelecimento comprando roupas e conforme art. 2º do CDC é considerado consumidor aquele que utiliza ou adquire produto e/ou serviço como destinatário final. Flávia e Rafael que também sofreram com danos decorrentes do incêndio são considerados terceiros equiparados aos consumidores, sendo assim igualados à Juliana, Julia e Carolina, como estabelece o art. 17 do CDC ao determinar que todas as vítimas do evento são equiparadas aos consumidores. O CDC não institui um conceito de relação de consumo, entretanto informa e conceitua os elementos necessários para sua existência. No caso apresentado todos os elementos encontram-se presentes, tem-se os consumidores e terceiros equiparados (enquadrados nos conceitos e requisitos estabelecidos nos art. 2º e art. 17 do CDC), o fornecedor que desenvolve atividade de distribuição ou comercialização de produtos (art. 3º, caput, do CDC) e o produto/serviço (art. 3º, §1º e §2º do CDC). O fato do produto causou repercussões danosas extrínsecas, ou seja, os danos extrapolaram os limites do produto/serviço e atingiram o(s) consumidor(es) ou terceiro(s) equiparado(s). Tratando-se de acidente de consumo, a responsabilidade do fornecedor de produto/serviços é objetiva, não sendo levada em consideração a existência ou não culpa, e solidária na cadeia de fornecimento conforme art. 12 e 14 e art. 7º, parágrafo único, do CDC respectivamente. Assim, o código de defesa do consumidor estabelece que o fornecedor deve reparar efetivamente e de maneira integral os danos patrimoniais e morais causados ao consumidor e terceiros equiparados, conforme art. 6º, VI, do CDC.
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