Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro 1 Otorrinolaringologia Heloysa Ribeiro Anamnese INTRODUÇÃO Uma boa anamnese e um exame físico adequado constituem etapas importantes para o estabelecimento do diagnóstico da maioria das doenças. Etapas da anamnese 1. Identificação: idade, sexo, profissão. 2. Queixa principal e HDA. 3. História patológica pregressa. 4. História familiar. 5. História pessoal. → Algumas doenças são mais comuns em crianças e outras em adultos: OMA (Otite Média Aguda) – mais comum em crianças e em crianças pequenas. Adulto pode ter, porém menos frequente Otosclerose – doença em que há ossificação do estribo na janela oval, o que não permite a movimentação adequada do osso e, consequentemente, dificulta a condução do som; gera diminuição da audição do paciente. Os sintomas iniciam em adultos jovens, com idade entre 20 e 40 anos. Presbiacusia – doença mais frequente em idosos. Consiste em uma diminuição auditiva relacionada ao envelhecimento. Hipertrofia adenoidiana – é uma doença de crianças (não se encontra em idosos). Em geral, a criança nasce com este tecido da adenoide sem nenhuma exuberação. Ao longo do primeiro ano de vida, esse tecido inicia sua formação e em torno de 3 anos é a faixa-etária em que mais se encontra a hipertrofia adenoidiana. A adenoide pode crescer até os 7 anos, quando seu tamanho estabiliza. Na adolescência, o tamanho da adenoide começa a regredir. Então, de 3 anos até a adolescência é o intervalo em que as crianças são mais acometidas. Obs: alguns adultos (em torno dos 20 anos de idade) podem não ter tratado a hipertrofia adenoidiana corretamente na infância e apresentar essa hipertrofia na fase adulta – durante a adolescência houve a regressão de tamanho, mas a hipertrofia era tanta que mesmo com a redução da adenoide ela ainda apresenta tamanho aumentado. Nos idosos não é comum encontrar resquícios de adenoide – caso seja encontrado tecido adenoidiano, deve-se P7 – M13 Prof: Dra Vanessa Rolim FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro supor que se trata de um outro processo neoplásico do tecido linfoide. Sinusite frontal - é uma doença de crianças maiores, até porque crianças muito pequenas ainda não apresentam seios frontais aerados e, se for feita uma radiografia, a imagem não vai sugerir presença de ar dentro desses seios. Obs: Em uma radiografia de face e de seios paranasais, quando os seios paranasais apresentam líquido ou secreção, ou ainda quando a criança não desenvolveu os seios paranasais, a coloração da imagem é cinza; quando os seios estão aerados, a imagem é preta. Por isso, se essa radiografia for feita em crianças pequenas (com 1 ou 2 anos, por exemplo), a coloração será cinza e o profissional poderá confundir com uma imagem velada, de sinusite, quando na verdade o paciente não tem seios paranasais. Por isso, é incomum que crianças com menos de 7 anos tenham sinusite frontal porque ainda não desenvolveram os seios frontais. → Otosclerose – pode acontecer e ambos os sexos, porém é mais comum no sexo feminino. Inclusive, essa doença pode surgir ou piorar durante a gravidez. Gravidez – pode cursar com o desenvolvimento de várias patologias. Por exemplo, a rinite gestacional ou gravídica – todo o processo de alteração hormonal leva a uma maior produção de muco nasal, ao aumento do tamanho dos cornetos nasais, levando o paciente a ter obstrução nasal, coriza, espirros, entre outras alterações. Tumores malignos – mais frequentes no sexo masculino. Acredita-se que isso tenha relação com estilo de vida dos homens (maior consumo de álcool, tabagismo, atividade sexual desprotegida). Nos últimos anos, essa desproporção entre homens e mulheres tem diminuído em virtude do comportamento semelhante adotado por muitas mulheres. → >90 db: PAIR – É preciso atentar para as profissões em que há exposição a ruídos. Qualquer ruído acima de >90 db já é capaz de causar PAIR (Perda Auditiva Induzida pelo Ruído). Atentar para essa possibilidade diante de pacientes que trabalham em aeroportos, serralherias; com máquinas pesadas; motoristas, odontólogos (pode acontecer pela falta de uso de EPI). Alérgenos - rinite crônica. Pacientes expostos a aeroalérgenos irritantes da mucosa nasal podem apresentar rinite. Por exemplo - paciente que trabalha fazendo carvão, exposto a aeroalérgenos (é provável que ele tenha inflamação nasal se não tiver nenhuma proteção), pacientes diaristas/pessoas que realizam limpeza de ambientes, que estão sujeitas à rinite. Zonas rurais – existem doenças, como leishmaniose e paracoccidioidomicose, mais prevalentes nas regiões rurais. TONTURA – é um termo guarda-chuva (engloba vários outros termos), inclui a vertigem como um subconjunto (ex.: cabeça pesada/leve). • O termo tontura engloba várias sensações como a de desequilíbrio - 3 “de ver o mundo girando”, de sentir a cabeça leve/oca, sensação de “andar nas nuvens” ou de “estar em um barco mareando” • A vertigem é um tipo de tontura – paciente tem uma “ilusão de movimento” • Instabilidade: esse termo indica que o paciente refere desequilíbrio Obs: É errado referir/descrever todo tipo de tontura como “labiritinte”. A tontura é um sintoma complexo, que precisa ser bem investigado. Vertigem Sensação de movimento falso, sensação errônea de movimento dos objetos em relação ao indivíduo ou vice-versa. • Na vertigem, o paciente denota uma ilusão de movimento; • Rotatória ou não; • Vertigem externa: vertigem provocada pelo movimento de objeto dentro do campo de visão de um paciente. Se várias linhas forem passadas várias linhas no campo de visão do paciente, ele pode ter a sensação de ilusão de movimento. Obs - antigamente, falava-se que o termo vertigem era exclusivamente a essa sensação rotatória. Hoje, sabe-se que a vertigem é utiliza para qualquer tipo de ilusão de movimento, não só a rotatória. Estímulo optocinético: é induzido por um estímulo óptico em movimento. Ao andar de metrô (ou de carro, em uma velocidade maior) e olhar pela janela, por exemplo, o nosso olho tende a acompanhar os objetos que estão passando em sequência, fazendo um “movimento de perseguição”. Se o indivíduo apresentar qualquer distúrbio do sistema vestibular, essa situação já pode ocasionar sintomas, como tontura. Quando os sintomas estão relacionados especificamente ao movimento, fala-se em cinetose. É muito comum que pessoas que tem enxaqueca, tenham também cinetose. Para que o indivíduo tenha equilíbrio adequado, é necessário a influência das informações sensoriais. Existem 3 grandes órgãos que promovem a informação sensorial – informação visual - os olhos, informação dada pela propicepção – musculatura, articulações, pele (através do tato), e informação dada pelos labirintos (direito e esquerdo). Essas fontes enviam informações para os centros integradores da informação sensorial - o cérebro e o cerebelo. Esses centros enviam uma resposta sensorial - motora para os órgãos periféricos, fornecendo, assim, uma resposta de orientação espacial, que é feita pelo do cérebro, através de uma estabilidade ocular (contração dos músculos oculares) e estabilidade postural (músculos, articulações e pele). Esse processo apresenta autorregulação – em caso de qualquer distúrbio do equilíbrio, mais informações são fornecidas aos centros integradores que, por sua vez, enviam respostas para a periferia, proporcionando equilíbrio. Obs: cada órgão tem influência de diversos fatores: os olhos → quando se tem uma boa informação ocular e uma boa resposta motora, é preciso que esse órgão esteja funcionando normalmente.Mas, no caso de um paciente com hipermetropia, por exemplo, essa condição é um fator adicional, que tende a atrapalhar o seu equilíbrio. No caso de um paciente diabético em que a doença esteja afetando sua visão, ou até mesmo a propriocepção (neuropatia diabética ↔ dificuldade de sensibilidade plantar), esse contexto também pode comprometer o equilíbrio. Diante de uma queixa de tontura • perguntar há quanto tempo sente a tontura, a duração – segundos, minutos, horas, dias, semanas, permanente?), os fatores desencadeantes, os sintomas associados, se houve episódios anteriores ou se é a primeira vez. • Nem toda tontura indica labirintite, esse sintoma pode está associado a outras doenças, como: FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro • A VPPB (vertigem postural paroxística benigna) é uma doença que costuma ser recorrente. Mesmo depois do tratamento, anos depois, muitas vezes, o paciente apresenta outra crise. • Na doença de Ménière, o paciente refere episódios anteriores. Caso o paciente esteja no primeiro episódio de crise quando chega ao atendimento, o diagnóstico será difícil porque para diagnóstico dessa doença, é preciso que o paciente tenha uma perda auditiva flutuante (o médico tem que vê-lo na crise e após a crise para diagnóstico conclusivo) e que apresente esses sintomas associados. • A neurite vestibular é uma doença que não tem muitos fatores desencadeantes. O paciente apresenta, do dia para a noite (início súbito), uma tontura incapacitante, que o restringe ao leito, fazendo com que ele não consiga trabalhar. Nos primeiros dias, o paciente apresenta náuseas e vômitos intensos. É muito raro que o paciente tenha recidiva da doença. A neurite vestibular faz diagnóstico diferencial com o AVC de fossa posterior. É uma doença bem importante que pode chegar nos serviços de emergência. Ao avaliar tontura, também se deve investigar quais medicamentos o paciente está utilizando. Medicamentos ototóxicos - são aqueles que podem causar danos ao sistema coclear, devido às substâncias químicas. Aminoglicosídeos estão bem associados tanto à toxicidade vestibular (responsável pelo equilíbrio) quanto à toxicidade coclear (responsável pela audição). A cisplatina é um exemplo. Obs: Atentar para a questão vestibular e audiológica de crianças/RN’s que estão em UTI’s neonatais em uso de medicações ototóxicas (monitorar). OTALGIA – Trata-se da dor percebida na região auricular. Questionar: • Duração; Recorrência; Pacientes com OMA, por exemplo, podem ter otalgia recorrente, geralmente o paciente refere dor intensa, súbita, que o leva ao pronto-socorro. Em doenças como disfunção da articulação temporomandibular (ATM), o paciente sente dor na região e sempre que força a articulação, sente dor. • Otorreia e características: perguntar se saiu alguma secreção do ouvido e, se sim, suas características. Em caso de otalgia por OMA, o paciente pode referir que sentiu dor intensa, que, de repente, saiu uma secreção piossanguinolenta (sangue + pus), e que depois disso a dor diminuiu (essa saída drenou a secreção que estava na orelha média). • Fatores desencadeantes e atenuantes: a mastigação pode gerar otalgia, o aperto/toque pode ser um estímulo no caso da otalgia externa, a deglutição pode piorar a dor na OMA. • Sinais e sintomas associados: é muito comum que pacientes com OMA apresentem infecção de via aérea superior prévia – geralmente, o paciente se apresenta com sintomas nasais como coriza, obstrução nasal, o que ajuda no diagnóstico. Já em pacientes com disfunção de ATM, pode-se observar má oclusão dentária – na falta de algumas unidades dentárias, o paciente tende a mastigar mais de um lado. A otorreia e a diminuição da audição podem ser sinais contribuidores. • História de trauma: também é comum que pacientes que mexam no ouvido traumatizem o ouvido. A impactação de cerúmen pode gerar infecção. Dependendo do trauma, o tímpano pode ser atingido (perfurado), pode até ocorrer mudança de localização dos ossículos do ouvido. • Hábitos: os hábitos de vida do paciente devem ser avaliados. É muito comum que os pacientes que gostam de usar cotonete apresentem problemas de otites externas, tanto fúngicas quanto bacterianas. 5 PERDA AUDITIVA - diminuição do nível de audição. É uma queixa bem prevalente no ambulatório da Otorrino. Perda auditiva x anacusia perda total da audição. O paciente pode ter desde perdas auditivas leves até uma anacusia. Classificação: • Permanente x temporária É o que ocorre na OMA. Quando o paciente apresenta secreção na orelha média, a secreção atrapalha a transmissão do som e leva à diminuição da audição - porque essa condução ocorra o ambiente deve ter apenas ar e osso e, na OMA, o ambiente tem líquido mucoso e osso. Outra causa bem comum de perda auditiva temporária é a impactação de cerúmen, sendo que nesse caso a remoção da cera gera melhora da audição. Perda auditiva induzida por ruído ou por trauma acústico importante. É muito comum que indivíduos de países que estão em guerra, apresentem perdas auditivas importantes ocasionadas por traumas acústico (explosão de uma bomba → comprometimento de células musculares → diminuição permanente da audição). • Intensidade: Nesse caso, a perda auditiva pode ser normal, leve, moderada, profunda ou severa (anacusia). Gráfico audiométrico para avaliação da audição do paciente. Eixo das abcissas: frequências auditivas (em Hz); Eixo das ordenadas: intensidade do som/ volume (em dB). Até 25dB: normal - limite da normalidade para adultos. De 25 a 40 dB: perda auditiva leve; De 41 a 70 dB: perda auditiva moderada; De 71 a 90 dB: perda auditiva profunda; ≥ 91: perda auditiva severa. Condutiva x neurossenrorial • Condutiva – orelhas externa e média: em geral, a perda auditiva do tipo condutiva (com dificuldade na condução do som) decorre de alguma doença ou alteração na orelha externa ou média. Existe uma exceção de perda auditiva condutiva que ocorre na orelha interna. Exemplos: 1. Perda auditiva por cerúmen impactado (material transpondo a passagem do som). Nesse caso, a causa é um problema na orelha externa e a perda auditiva é temporária. 2. Perfuração da membrana timpânica: a imagem mostra resquícios de tímpano, cabo do martelo exposto, articulação da bigorna com o estribo exposta, promontório/ giro basal da cóclea exposto. A perfuração do tímpano atrapalha a condução do som. • Neurossensorial – orelha interna e/ou nervo vestibulococlear: a perda auditiva do tipo neurossensorial (morte celular) decorre de alguma doença na orelha interna e/ou no FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro nervo vestibulococlear ou na área auditiva do córtex. Exemplo: 1. Presbiacusia: a perda auditiva é dita neurossensorial porque o problema está no envelhecimento da orelha interna e/ou no nervo vestibulococlear ou na área auditiva do córtex. • Unilateral x Bilateral: Exemplo de perda audutiva unilateral causado por um tumor no nervo vestibulococlear (lado esquerdo), chamado de schwannoma vestibular ou neurinoma do acústico – observar aumento da região. Exemplo de perda auditiva bilateral pelo uso de uma medicação ototóxica - Cisplatina. Neurinoma do acústico x Presbiacusia Características da perda auditiva causada por: • Neurinoma do acústico: unilateral, permanente, neurossensorial (mais neural do que sensorial – envolve o nervo da audição ou área cortical da audição). Esse tumor lesa células da audição e leva à uma perda de audição permanente. Pode crescer e causar incapacitaçõesno paciente. • Presbiacusia: bilateral, permanente, neurossensorial (pode ser mais sensorial/coclear ou pode ser mais neural). A morte de células ciliadas (presentes na cóclea) ou de parte do nervo vestibulococlear leva à perda auditiva permanente. Essa perda auditiva relacionada ao envelhecimento é bilateral, embora não seja completamente simétrica. Obs: É importante saber diferenciar a presbiacusia, que é benigna, uma perda auditiva esperada com o envelhecimento, Do neurinoma do acústico, um tumor que pode crescer e causar incapacitações. É preciso diferenciar essas condições a partir das características clínicas para suspeição diagnóstica adequada – não é viável pedir um exame como RM, em todo paciente com algum grau de perda auditiva, para diferenciar uma presbiacusia de um neurinoma. Há Schwannoma ou neurioama do aucústico bilateral que ocorrer na neurofibromatose tipo Il. Porém, essa doença tem outras características: esses pacientes podem ter meningioma, catarata, schwannoma na pele, “manchas café com leite” na pele, dentre outras. São essas características que nos levam a essa suspeição diagnóstica. O grande cuidado que se deve ter é com o schwannoma unilateral porque, muitas vezes, o paciente tem uma perda auditiva unilateral, que não é investigada, e, posteriormente, descobre que tinha, na verdade, um tumor. • Quanto ao início da perda auditiva: 1. Súbito: a exemplo de um paciente que apresentou isquemia da artéria labiríntica, que tem ramos para a cóclea e para a região vestibular, ou 7 da artéria coclear comum pode levar a uma perda auditiva súbita. A artéria labiríntica advém da artéria cerebelar anterior inferior, que advém da artéria basilar. 2. Dias/horas: pode haver perda auditiva um pouco mais lenta, em dias/horas, muito comum na síndrome de Ménière. Nessa doença o paciente tem uma hidropsia endolinfática, aumento da pressão dentro da região coclear, que leva o paciente a ter essa diminuição de audição. 3. Lenta e progressiva: como ocorre na presbiacusia - a perda auditiva do paciente vai ocorrendo ao longo dos anos, muitas vezes, o paciente nem percebe, mas, os familiares/acompanhantes, percebem essa diminuição. • Habilidade de descriminação: é importante avaliar a habilidade de discriminação do paciente – “escutar” e “entender” é diferente. O escutar denota uma função auditiva do ouvido apenas. O entender envolve, além do escutar, uma função cerebral do entendimento. ZUMBIDO – é a percepção sonora na ausência de um estímulo do meio externo. Pode ser classificado em objetivo ou subjetivo, apesar de essa classificação ir de encontro à definição. • Subjetivo: é o zumbido em que apenas o paciente é capaz de escutá-lo. É o que acontece na maioria dos casos de zumbido – existe alguma alteração na via auditiva do paciente que o leva a escutar esse barulho. Como ocorre no neurinoma do acústico (na verdade, a maioria das doenças auditivas podem cursar com zumbido). • Objetivo: é o zumbido que pode ser percebido também por uma outra pessoa, com boa acuidade auditiva. Ocorre muito em pacientes que tem contrações clônicas dos músculos ossiculares ou em pacientes que tem tuba auditiva patente. A tuba auditiva conecta a naso ou rinofaringe à orelha média, que permite a ventilação da orelha média, a estabilização da pressão (similar – orelhas média e externa). Normalmente, a tuba auditiva está fechada e se abre em alguns momentos para que haja passagem de ar e para que haja equalização da pressão dentro da orelha média. Em determinados pacientes, a tuba auditiva não fecha, fica sempre aberta, de modo que o ar fica sempre passando da rinofaringe para a orelha média, o que faz com que o paciente tenha modificações da membrana timpânica, de acordo com sua respiração (o paciente escuta essas modificações, esse barulho que é síncrono com a respiração do paciente). As contrações clõnicas dos músculos ossiculares são os músculos que estão em contato com os ossículos do ouvido. As contrações clônicas desses músculos podem gerar esse zumbido objetivo. Apesar de esse tipo de zumbido ser raro, ele é até fácil de tratar porque prescreve-se um relaxamente muscular para que esses músculos não fiquem contraindo. OTORREIA – exteriorização de secreção através da orelha/do meato auditivo. • Em geral, denota alterações da orelha externa ou da orelha média; • É preciso avaliar: • Início; • Duração; • Características: serosa? purulenta?hemática? FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro • Sintomas associados: gripe? prurido na região do ouvido? dor associada? manuseio de cotonete na região? DOR NASAL • Espontânea ou provocada (exemplo: trauma, queda de moto); • Insidiosa: a dor nasal observada nas rinites, por exemplo, é insidiosa, aparece gradualmente; • Lancinante: a dor nasal observada nas sinutes agudas ou furunculoses é bem importante, lancinante; • Intermitente e profunda: observada nas neoplasias (tumor dos seios nasais ou paranasais). OBSTRUÇÃO NASAL – Decorre da modificação do calibre das fossas nasais (calibre diminuído) Pode ser: • Bilateral e contínua: a exemplo do paciente que tem polipose nasal. Outra causa: atresia bilateral de coanas (paciente que nasce sem formar as coanas e tem obstrução posterior do nariz dos dois lados). Polipose Nasal • Unilateral e sempre do mesmo lado: a exemplo do desvio de septo nasal, que faz com que o paciente curse com obstrução nasal sempre do lado em que há o desvio (exemplo abaixo; lado esquerdo). Outras causas: papiloma invertido, pólipo antrocoanal. – Apresentam obstrução unilateral • Unilateral em báscula: a obstrução nasal é unilateral e oscila de um lado para outro. Denota uma alteração funcional – se fosse uma alteração anatômica, não haveria melhora. Essa característica é muito comum nos pacientes que tem rinite: o nariz fica inflamado, devido à rinite, e fica edemaciado. Obs: Na fisiologia existe algo chamado ciclo nasal: dentro do nariz, existem os cornetos nasais que, em algum momento do ciclo, são do mesmo tamanho. Mas, na maior parte do tempo possuem tamanhos diferentes – um aumenta e outro diminui, quando um atinge o volume máximo, ele começa a diminui, enquanto o outro aumenta. Esse ciclo completo dura de 2 até 7 horas. Normalmente, ninguém deve observar obstrução nasal (nariz entupido). Mas, se prestarmos atenção, percebemos que na maior parte do tempo, respiramos melhor por uma fossa nasal do que pela outra. Os pacientes que tem rinite alérgica, além do ciclo nasal, apresentam o inchaço causado pela alergia. Somando-se o momento do ciclo nasal em que o corneto nasal está bem exuberante/inchado ao inchaço causada pela inflamação da rinite, tem-se uma obstrução nasal importante. Quando um dos cornetos diminuir do tamanho, mesmo com o inchaço da rinite, a fossa nasal ficará desobstruida desse lado e, do outro lado, haverá obstrução (porque o corneto contralateral está aumentando e ainda tem o inchaço causado pela rinite). Então, por isso, na rinite há obstrução unilateral em báscula, uma alteração funcional. Essa báscula não é observada em um paciente normal. Obs: Lembrar que nada impede que o paciente tenha uma rinite alérgica ou uma rinite 9 inespecífica, associada a um desvio de septo nasal. RINORREIA – exteriorização de secreção pela fossa nasal. • Avaliar características dessa secreção: aquosa (rinite alérgica, irritativa), mucoide (infecções virais iniciais), purulenta (infecções bacterianas ou viral), crustosa (doenças infecções e neoplasias), sanguinolenta (neoplasias). • Uni ou bilateral: essa característica deve serassociada à doença. Se o paciente estiver resfriado (hipótese diagnóstica), por exemplo, a rinorreia precisa ser bilateral. Se a rinorreia for unilateral é preciso investigar a causa: sinusite só no seio maxilar direito (rinorreia purulenta)? tumor na fossa nasal direita atrapalhando a drenagem de secreções e gerando infecção? • Avaliar odor característico: na rinite alérgica, na inespecífica, não há qualquer odor; na rinossinusite infecciosa, pode haver odor mais fétido; em caso de tumores malignos, o odor tende a ser bem fétido, bem característico. • Duração do quadro: é preciso avaliar se a duração do quadro está compatível com o imaginado, com a hipótese diagnóstica (HD) pensada. Por exemplo, se o paciente estiver com rinorreia hialina e 3 dias de doenças, pode-se suspeitar de um resfriado (dados compatíveis). Por outro lado, se o paciente referir coriza há 6 meses, o resfriado não pode ser uma HD – pode ser que seja uma rinite alérgica, essa HD seria compatível. • Sintomas associados: diante de uma gripe ou resfriado, o paciente pode referir dor no corpo, febre associada. Já na rinite alérgica, o paciente refere espirros, prurido e obstrução nasal, mas, não tem febre. • Condições de moradia, trabalho, hábitos de vida do paciente: também devem ser avaliados porque podem envolver a fonte dos sintomas do paciente. O paciente pode ter rinite alérgica e trabalhar em um ambiente empoeirado, por exemplo. MANTRA N°1 DA OTORRINO • Rinorreia fétida unilateral em criança ou pessoa com algum grau de deficiência mental = a primeira suspeita deve ser de CORPO ESTRANHO (bem comum, principalmente na faixa etária de 3 a 5 anos). Não adianta prescrever antibiótico porque enquanto o corpo estranho não for removido, o paciente não vai melhorar. ALTERAÇÕES OLFATIVAS • Hiposmia: diminuição do olfato; • Anosmia: perda do olfato – é menos frequente • Parosmia: perversão do olfato – o paciente tem uma percepção alterada dos cheiros (por exemplo, está fazendo um café, mas sente cheiro de canela e não de café); • Cacosmia: é um tipo de perversão do olfato na qual o paciente sente odor fétido, pútrido (por exemplo, está sendo preparada uma carne e o paciente refere um odor fétido, que não corresponde ao cheiro do ambiente). RONCOS NOTURNOS • Problema social: em geral, os roncos noturnos incomodam mais as pessoas próximas/ acompanhantes do que o paciente em si; • Sonolência diurna: pode apresentar sonolência diurna por ter dormido mal à noite; • Redução da concentração e desempenho no trabalho; Apneia de sono é quando o paciente para a respiração por mais de 10 segundos, menor que 10 segundos, chama-se hipopneia. A apneia leva ao desconforto cardíaco, devido a parada da respiração, leva a uma diminuição de oxigênio e aumenta o nível de CO2, chega ao ponto que o cérebro tenha um microdespertar – liberação de FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro adrenalina, e causando pequenos sustos ao paciente durante a noite. O ronco pode esconder uma doença mais grave como a apneia do sono • Causas: desvios do septo nasal, polipose nasossinusal, hipertrofia de CCII (cornetos inferiores), hipertrofia de amígadalas e adenoides (A + AD). A hipertrodia de amígdalas e de adenoides, assim como a rinite alérgica descompensada, são as maiores causas de obstrução nasal na infância e, consequentemente, de roncos. Questionar 1. Tempo de aparecimento: por exemplo, se o paciente estiver gripado e roncando há 2 dias, isso não significa problema porque o tratamento do resfriado vai resolver os roncos. Já no caso de um paciente que ronca há 5 anos, vale a pena investigar o que justifica esse caso. 2. Relato de apneia 3. Sintomas nasais associados EPISTAXE - exteriorização de sangue pela fossa nasal (sangue vem da fossa nasal). Obs: Quando o sangue vem de outras regiões que não o nariz, fala-se em sangramento nasal inespecífico – exemplo: tumor no seio maxilar e exteriorização de sangue pelo nariz. É importante é identificar a causa dos sangramentos exteriorizados pelo nariz. É importante avaliar: 1. Frequência e intensidade do sangramento: uma situação em que uma criança mexe no nariz e apresenta sangramento de poucas gotas, que logo cessa, é diferente do caso de um paciente com rinite que apresenta epistaxe com a mudança de clima (frio) – muitas vezes, há melhora desse sangramento com o tratamento da rinite. Esses exemplos também diferem do caso de um idoso, que já tem vasos mais frágeis, e apresenta epistaxe de vasos posteriores, de grande monta, que pode até levar o paciente a óbito. Em geral esses sangramentos de grande monta não são recorrentes, são episódios únicos, mas que podem levar o paciente a um risco de vida. 2. Fatores predisponentes: IVAS (infecções de vias aéreas superiores), presença de granulomatoses, distúrbios de coagulação (hemofilia, doença de Von Willebrand), manipulação nasal, trauma (o paciente pode ter fraturado ossos da face e evoluído com epistaxe), alergias. 3. Fatores atenuantes: sempre é importante avaliar fatores de melhora. Em alguns pacientes, há parada do sangramento só em fazer compressão digital do nariz. 4. Local do sangramento: anterior, posterior, uni ou bilateral. • Sangramentos posteriores costumam ser de maior monta e, além de o paciente exteriorizar sangue pelas fossas nasais, ele também deglute o sangue. • Sangramentos anteriores são exteriorizados apenas pelas fossas nasais, a menos que o paciente levante a cabeça (extensão do pescoço na tentativa de parar o sangramento). Esse movimento de levantar a cabeça não é interessante porque o paciente deglute o sangue. 5. Uso de medicamentos: é preciso investigar se o paciente está utilizando medicações que podem predispor ao sangramento, como anticoagulantes e antitrombóticos. ODINOFAGIA - dor ao deglutir (“dor de garganta”). É diferente disfagia – dificuldade para engolir 1. Analisar sintomas associados: o paciente teve febre? há sintomas nasais que justifiquem faringite viral? o paciente está “respirando pela boca” (que pode causar irritação da faringe – exemplo: obstrução nasal)? – esses sintomas associados ajudam a entender a causa da odinofagia; 2. Investigar tabagismo, exposição a ar quente e seco: a fumaça do cigarro irrita a via aérea superior. Pacientes que fumam apresentam certa resistência da mucosa, que é tão agredida que se torna mais resistente, até certo ponto/limite. O ar muito seco também pode irritar a garganta; ambientes refrigerados diminuem muito 11 a umidade do ar e levam o paciente a se queixar. 3. Uso de medicamentos: o uso de anti- inflamatórios pode predispor o paciente ao refluxo, irritando mais a garganta. 4. Disfonia (rouquidão), mau uso da voz (exemplo: gritar muito), sintomas da RGE, pigarro: esses hábitos também podem levar o paciente a ter dor à deglutição. DISFAGIA - dificuldade para deglutir. Pode fazer parte de quadros de DRGE, acalásia, neoplasia de esôfago. Existem diversas outras possibilidades; pacientes com doença de Alzheimer, por exemplo, podem evoluir com disfagia. Questionar: 1. Disfagia progressiva para sólidos, pastosos e líquidos: denota uma diminuição do calibre do esôfago ou da região da faringe; bem comum em doenças neoplásicas; 2. Disfagia seletiva: o paciente pode apresentar maior dificuldade para deglutir alimentos pastosos, por exemplo, como o é observado em doenças neurológicas; 3. Sintomas associados: regurgitação, engasgos (na deglutição, o alimento bate na laringe ao invés de ir para o esôfago), vômitos; 4. Dificuldade para engolir saliva: existem casos em que o grau de disfagia é tão importante que o paciente sequerconsegue engolir saliva. Às vezes, precisa separar a via aérea da via digestiva: a laringe é fechada superiormente, coloca-se o paciente para respirar via traqueostomia, a alimentação pode se dá por sonda ou é feita uma gastrostomia; 5. Avaliar história de broncoaspiração, tosse durante alimentação, líquidos ingeridos saindo pelo nariz: não é incomum que pacientes com Alzheimer, esclerose múltipla e outras doenças neurológicas, que tem disfagia, façam microaspirações que levam à pneumonias aspirativas; o óbito desses pacientes se deve, muitas vezes, a essas pneumonias. A tosse durante a alimentação – quando alimento chega em baixo da glote - é um sinal de disfagia importante, que deve ser investigado. Líquidos ingeridos saindo pelo nariz – paciente engole e, ao invés de descer, o líquido sai pelo nariz – demonstram uma alteração da contração muscular; uma doença muscular ou neurológica. 6. Observar emagrecimento, doença de Chagas, dispneia: diante de emagrecimento - cogitar doença neoplásica. Só o fato de o paciente mudar a consistência alimentar (por exemplo: comia normalmente e agora precisa bater os alimentos no liquidificador) já acarreta perda nutricional e já pode haver emagrecimento. Na doença de Chagas, há dificuldade de contração do esôfago e o paciente pode evoluir com disfagia. Também é preciso observar presença de dispneia: se o paciente come e depois sente falta de ar, provavelmente algum alimento passou pela via aérea. o que é perigoso e precisa ser investigado. DISFONIA - ou rouquidão Avaliar: 1. Tempo de evolução: avaliar há quanto tempo o paciente apresenta rouquidão. Se estiver presente há mais de 15 dias, é preocupante. 2. Tabagismo: maior risco de câncer. 3. Etilismo: maior risco de câncer. MANTRA N°2 DA OTORRINO • Disfonia por mais de 15 dias = LARINGOSCOPIA. O exame é necessário porque não se consegue ver as cordas vocais do paciente a olho nu; é necessário, pelo menos, um espelho ou um laringoscópio para avaliar laringe e cordas vocais do paciente. Isso permite que inúmeros cânceres, lesões estruturais sejam diagnosticadas precocemente, FSM – P7 – M13 | Heloysa Ribeiro possibilitando melhor prognóstico. Essas lesões, muitas vezes, serão tratadas com procedimentos cirúrgicos. Doenças sistêmicas: HAS, DM, doença renal, cardiopatias, coagulopatias, trauma, infecções, DRGE, neoplasias. Essas doenças podem ter relação com a HDA. A epistaxe, por exemplo, pode ter relação com coagulopatia.; A rinorreia fétida pode ter relação com neoplasia; Disfagia e odinofagia tem relação com DRGE; Paciente hipertenso com epistaxe pode ter sangramento relacionado à HAS. Doenças otológicas: otites de repetição, cirurgia prévia, alterações labirintícas. É importante perguntar sobre o histórico patológico das doenças otorrinolaringológicas (ouvido, nariz, seios paranasais, orofaringe). Nariz: trauma, cirurgias, epistaxes; • Seios paranasais: sinusites de repetição, gotejamento pós-nasal crônico, alergias, cefaleias; • Orofaringe: adenoamigdalectomia, amigdalites de repetição. Uso crônico de medicamentos: perguntar quais medicamentos o paciente usa diariamente e se ele tem alergias a algum medicamento. Questionar sobre cirurgias e internações prévias porque vários ototóxicos podem ter sido utilizados nesses internamentos. História Familiar • Perguntar sobre o histórico familiar de doenças, principalmente em relação aos familiares de 1° grau. • Doenças genéticas: algumas doenças genéticas, como otosclerose, são transmitidas de pais para filhos. A presbiacusia envolve esse fator familiar, genético também. História Pessoal • Avaliar padrão-socioeconômico: algumas doenças, como OMA, tem mais relação com baixo padrão socioeconômico (menos acesso ao sistema de saúde, sem a devida atenção aos sintomas). Fatores ambientais podem predispor a determinadas doenças da Otorrino: • Exposição contínua a ruídos; • Condições de moradia – a exemplo de locais com muitos ácaros, sem ventilação; • Animais de estimação – algumas pessoas tem alergia e desenvolvem sintomas; • Obras, ventilação – existe uma entidade chamada “sindrome da edificação doente”, que ocorre quando a edificação leva o paciente a adoecer; • Tapetes e cortinas – excelentes fontes acumuladoras de ácaros. Recomendar o uso de cortinas do tipo “blackout”, em geral, não recomendar o uso de tapetes (ou orientar o uso de um tipo que seja facilmente higienizado). Alimentação - Desidratação, dieta rica em sal, açúcar ou gorduras. Higiene: avaliar escovação dos dentes (se for ruim, tem muita relação com halitose), uso de cotonetes (pode impactar o cerúmen no conduto auditivo levando a traumas e infecções de ouvido, consequentemente), o uso de prótese dentária (prótese mal adaptada pode levar a lesão crônica e pode ser FR para outras doenças, inclusive malignas). Hábitos de vida • Tabagismo, etilismo (muita relacionado à câncer de boca/laringe); • Uso de drogas ilícitas (é muito comum que pacientes que fazem uso de cocaína intranasal desenvolvam rinite crônica e até perfuração de septo nasal).
Compartilhar