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ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Fisiopatologia e terapêutica clínica I A NATUREZA DOS FÁRMACOS Fármaco pode ser definido como qualquer substância que altera a função biológica por meio de suas ações químicas. Para interagir quimicamente com seu receptor, uma molécula de fármaco deve ter o tamanho, a carga elétrica, o formato e a composição atômica apropriados. OBS.: A estereoquímica e a capacidade de ser mais hidrofóbico ou hidrofílico afetará na ligação do fármaco com o receptor. O FORMATO DO FÁRMACO Em uma ótima condição, o formato do fármaco é complementar ao do sítio receptor, do mesmo modo que uma chave encaixa em uma fechadura. Além disso, o fenômeno da quiralidade (estereoisomerismo) é muito comum, já que mais da metade dos fármacos são moléculas quirais e um dos seus enantiômeros são muito mais potentes do que o seu “espelho”. Por exemplo, o receptor do enantiômero da esquerda produz um efeito muito maior e mais prolongado com o enantiômero da esquerda do que o enantiômero da direita. PRINCÍPIOS FARMACODINÂMICOS Primeiramente, a farmacodinâmica é o estudo da ação dos fármacos nos sistemas fisiológicos, bem como seus mecanismos de ação. TIPOS DE INTERAÇÃO FÁRMACO-RECEPTOR Fármacos agonistas ligam-se ao receptor e o ativam de alguma maneira que provoca o efeito direta ou indiretamente. Os antagonistas ao se ligarem a um receptor, competem e previnem a ligação por outras moléculas. Alguns antagonistas ligam-se de maneira irreversível ou pseudoirreversível e não são deslocados quando há o aumento dos agonistas. DURAÇÃO DA AÇÃO DO FÁRMACO Em alguns casos, o efeito durará apenas o tempo pelo qual o fármaco está acoplado no receptor, e a dissociação de ambos elimina o efeito automaticamente. Em muitos casos o efeito se mantem após a dissociação do fármaco do receptor, porque, por exemplo, alguma molécula de acoplamento ainda está presente na forma ativada. RECEPTORES São moléculas proteicas cuja função é reconhecer os sinais químicos endógenos e responder a eles. Os receptores são específicos, ou seja, um fármaco só irá se ligar ao receptor que tiver a sua conformação de encaixe. Os receptores determinam largamente as relações quantitativas entre dose ou concentração de fármacos e efeitos farmacológicos. DOSE Quantidade adequada de uma droga que é necessária para produzir certo grau de resposta em um paciente. A dose de uma droga deve ser determinada com base nos efeitos farmacológicos e efeitos colaterais. As características do paciente são importantes para o cálculo da dose de um ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Fisiopatologia e terapêutica clínica I fármaco, como o sexo, idade, etnia, peso e condições pré-existentes. Tipos de dose: De ataque: dose necessária (normalmente é em uma alta concentração) para chegar ao efeito imediatamente. Terapêutica: dose necessária para tratamento. Tóxica: quando passa do limiar terapêutico. É uma exacerbação do fármaco. RELAÇÃO ENTRE CONCENTRAÇÃO E EFEITO DE FÁRMACOS (CURVA DOSE-RESPOSTA) Esse tipo de curva permite estimar a resposta máxima que o fármaco é capaz de produzir (Emáx) e a concentração ou dose necessária para produzir 50% da resposta máxima. Esses parâmetros são uteis para realizar a comparação entre diferentes fármacos que produzem efeitos qualitativamente semelhantes. Na curva de concentração por resposta, quando maior a dose do fármaco, maior a resposta. No entanto, ao atingir o limite de resposta de 100% (Emáx), o aumento da dose não altera na resposta, mas sim passa a ter um efeito tóxico. OBS.: Termos importantes na farmacologia Afinidade – regida pelas formas químicas que provem a associação do fármaco com o receptor. Se o fármaco tem uma afinidade pelo receptor, ele terá um potencial de concentração do fármaco maior. Eficácia - capacidade (habilidade química) do fármaco de realizar sua função final (resposta biológica). Um fármaco com maior eficácia é melhor do que um fármaco com maior potência. A eficácia máxima considera que todos os receptores estão ocupados pelo fármaco e não se obterá aumento na resposta se mais fármaco for administrado. Potência - quantidade de um fármaco para desempenhar determinada função. FARMACOLOGIA DOS RECEPTORES Os receptores mediam as ações de agonistas e antagonistas. Como dito antes, o agonista realiza a ação efetiva do fármaco. O fármaco ao se ligar ao receptor produz uma resposta biológica que mimetiza a do ligante endógeno. Já o antagonista impede a ação do agonista ao se ligar no receptor. O fármaco diminui a ação de outro fármaco ou do ligante endógeno. O antagonista pode ser competitivo ou não competitivo. Há também o antagonismo químico. OS TIPOS DE AGONISTAS Um agonista total possui um dado efeito quando ligado o receptor. Esse efeito é uma resposta biológica máxima que mimetiza a resposta do ligante. Já o agonista parcial não consegue atingir o mesmo limite de resposta de um fármaco que tenha um agonista total, independentemente da dose aplicada. Por fim, o agonista inverso inativa o receptor, podendo até produzir um efeito fisiológico contrastante. O fármaco A possui uma resposta mais potente do que o B. Logo, precisa- se de uma maior dose do fármaco B para se ter o mesmo efeito do A. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Fisiopatologia e terapêutica clínica I OBS.: Agonista tendencioso Os receptores acoplados a sistemas de segundo mensageiro podem acoplar-se a mais do que uma via intracelular efetora, desencadeando duas ou mais respostas simultâneas. Diferentes agonistas podem exibir tendência para gerar uma resposta em vez de outra, ainda que estejam atuando no mesmo receptor, provavelmente porque estabilizam diferentes estados conformacionais do receptor. SINERGISMO FARMACOLÓGICO Ele promove uma otimização da droga. O sinergismo pode ser por adição, onde o efeito final é igual à soma dos efeitos das duas drogas isoladas, ou por potencialização, onde o efeito final é maior que a soma dos efeitos individuais. OS TIPOS DE ANTAGONISTAS Os antagonistas se prendem aos receptores, mas não os ativam. A sua principal função é inibir a ação dos agonistas. Os antagonistas podem ser: Competitivos: eles se ligam no mesmo lugar, por isso são chamados de competitivos (pois disputam pelo mesmo sítio de ação). Importante dizer que em uma situação de aumento do número de agonistas, há um deslocamento dos antagonistas pela lei da ação das massas (uma maior quantidade de um fármaco faz com que ele se ligue mais ao receptor). Há uma diminuição da potência farmacológica. Não competitivos: o antagonista se liga ao receptor com uma afinidade muito alta. Essa irreversibilidade reduz o número de receptores disponíveis para o agonista. Nesse caso, o agonista não consegue mover o antagonista, ainda que haja um aumento da dose. Há uma diminuição da eficiência farmacológica. OBS.: Há também o inibidor alostérico, que se liga em outro sítio de ligação, mas também inibe a ação do agonista mesmo se já houver um fármaco ligado e ainda que haja um aumento da dose. Antagonista funcional Coexistência de múltiplos receptores e possibilidade da ação fisiológica e/ou farmacológica de vários sistemas orgânicos. Antagonista químico Interações químicas fazem com que haja uma inibição de certas soluções. Antagonista farmacocinético Uma substância que afeta a absorção, distribuição, metabolismo ou a excreção de outra. RECEPTORES DE RESERVA Existe um reservatório de receptores no organismo maior do que o número necessário para evocar uma resposta completa. Esse excesso de receptores em relação ao realmente necessáriopode parecer um desperdício de mecanismos biológicos. Mas, de fato, é altamente eficiente, uma vez que um dado número de complexos do tipo agonista-receptor, a que corresponde determinado nível de resposta biológica, pode ser alcançado com uma concentração inferior de hormônios ou de neurotransmissores do que se houvesse disponibilidade de menos receptores. Assim, é possível uma economia na secreção de hormônios ou transmissores, à custa da disponibilização de mais receptores. PRINCIPAIS FAMÍLIAS DE RECEPTORES A fonte mais rica e terapeuticamente explorável de receptores farmacológicos são as proteínas responsáveis pela transdução dos sinais extracelulares em respostas intracelulares. Esses receptores podem ser divididos em quatro famílias: Canais iônicos disparados por ligantes, receptores acoplados à ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Fisiopatologia e terapêutica clínica I proteína G, receptores ligados a enzimas, e receptores intracelulares. CANAIS IÔNICOS REGULADOS POR LIGANTES Também conhecidos como receptores ionotrópicos e estão envolvidos na transmissão sináptica rápida. A ligação do ligante e a abertura do canal ocorrem em uma escala de milissegundos. RECEPTOR LIGADO À PROTEÍNA G A proteína G pertence a uma classe de proteínas envolvidas na transdução de sinais celulares, ela é um importante mediador de vias metabólicas com subunidades α, β e γ, que, na membrana plasmática, está associado a receptores GPCR. Quando um sinal extracelular se liga a um GPCR (receptor associado à proteína G) presente na membrana plasmática das células, a proteína G sofre uma alteração conformacional capaz de ativar uma de suas subunidades que possui ligação a GTP, tornando-se capaz de alternar entre um estado de ligação com uma guanosina difosfato inativa (GDP), a outro com uma guanosina trifosfato ativa (GTP). Isso leva a uma cascata de eventos de sinalização que resultam na regulação dos processos seguintes da célula, como a liberação de segundos mensageiros, como o AMP cíclico. A proteína G, junto com seu receptor transmite sinais de hormônios e neurotransmissores, controlando o metabolismo da maquinaria celular, como a contração, a transcrição e a secreção. Segundo mensageiro São moléculas intracelulares de sinalização liberadas pela célula para provocar alterações fisiológicas. Elas são responsáveis pela iniciação do processo de fosforilação. As principais moléculas de segundo mensageiro são: AMPc, GMPc, IP3 e Ca2+. Adenilato ciclase e AMPc Quando um fármaco se liga a um receptor acoplado a proteína G, causa a ativação da enzima adelilato ciclase. Esta enzima catalisa a conversão de pequena quantidade de ATP em AMPc dentro da célula. O AMPc interage com a PKA (proteinocinase dependente de AMPc) que fosforila proteínas específicas na célula e ativa uma cascata de enzimas que irão culminar na ativação de diferentes respostas celulares e alteração da expressão gênica. Trifosfato de Inositol (IP3) e Diacilglicerol (DAG) Quando um fármaco se liga a um receptor acoplado a proteína G, ela ativa a enzima fosfolipase C. A fosfolipase C catalisa a degradação de alguns fosfolipídios, como a PIP2 e dois produtos diferentes de segundo mensageiro: IP3 e DAG. O IP3 é hidrofílico e se dispersa pelo citosol onde interage com receptores de IP3 da mitocôndria e do RE. Esta interação causa liberação de cálcio dos estoques citoplasmático e ativação da resposta celular. https://pt.wikipedia.org/wiki/Prote%C3%ADna https://pt.wikipedia.org/wiki/Transdu%C3%A7%C3%A3o_de_sinal https://pt.wikipedia.org/wiki/Transdu%C3%A7%C3%A3o_de_sinal https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula https://pt.wikipedia.org/wiki/Membrana_plasm%C3%A1tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Membrana_plasm%C3%A1tica https://pt.wikipedia.org/wiki/Guanosina_difosfato https://pt.wikipedia.org/wiki/Guanosina_difosfato https://pt.wikipedia.org/wiki/Guanosina_difosfato https://pt.wikipedia.org/wiki/Trifosfato_de_guanosina https://pt.wikipedia.org/wiki/Trifosfato_de_guanosina https://pt.wikipedia.org/wiki/Trifosfato_de_guanosina ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Fisiopatologia e terapêutica clínica I O DAG é hidrofóbico e se mantem associado a membrana, onde ele ativa a proteinocinase (PKC), que é capaz de fosforilar diversas proteínas e ativar a resposta celular. Mapa mental: RECEPTOR LIGADO A QUINASES (ENZIMAS) São receptores enzimáticos que não são ligados à proteína G, mas que também ativam o segundo mensageiro. Os principais tipos de receptores ligados à enzima são: guanilato-ciclase, tirosina- cinase e serina/treonina-cinase. No caso da tirosina quinase e da treonina/serina quinase: A união de um ligante a um domínio extracelular ativa ou inibe a atividade dessa enzima citosólica. A duração de resposta à estimulação desses receptores é da ordem de minutos até horas. Metabolismo, crescimento e diferenciação são funções biológicas importantes controladas por este tipo de receptores. Tipicamente, após a ligação do ligante à subunidade receptora, o receptor sofre alteração conformacional, passando da sua forma quinase inativa para a ativa. O receptor ativado se autofosforila e fosforila os resíduos de tirosina em proteínas específicas. Essa cascata de ativações resulta na multiplicação do sinal inicial, muito semelhante ao que ocorre com os receptores acoplados à proteína G. Receptores da tirosina quinase -> TIROSINA (segundo mensageiro) Receptores da serina ou treonina quinase -> serina ou treonina (segundo mensageiro) No caso da guanilato ciclase: RECEPTOR INTRACELULAR Esse receptor se difere dos demais, pois ele é totalmente intracelular (agem no núcleo) e, portanto, precisa se difundir para o interior da célula para interagir com ele. Precisa ser lipossolúvel para conseguir atravessar a membrana. Por exemplo: hormônios sexuais. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Fisiopatologia e terapêutica clínica I TRANSDUÇÃO DE SINAIS É qualquer processo através do qual uma célula converte um tipo de sinal ou estímulo em outro. Características da transdução de sinais: Amplificação de sinais: Uma característica de vários receptores, é sua capacidade de amplificar a duração e a intensidade do sinal. A família de receptores ligados à proteína G exemplifica várias das possíveis respostas iniciadas pelo ligante acoplado ao seu receptor. Especificamente, dois fenômenos respondem pela amplificação do sinal. Primeiro, um único complexo ligante-receptor pode interagir com várias proteínas G, multiplicando, assim, o sinal original várias vezes. Segundo, a proteína G ativada persiste por mais tempo que o complexo ligante-receptor original. Há uma fosforilação de proteínas. Quanto mais você fosforila, maior é a amplificação do fármaco no organismo. Especificidade: a molécula sinalizadora se encaixa no sítio de ligação do receptor complementar. Outros sinais não se encaixam. Integração: quando dois sinais apresentam efeitos opostos sobre uma característica metabólica, como, por exemplo, a concentração de um segundo mensageiro X, a regulação é consequência da ativação integrada dos dois receptores. Dessensibilização ou adaptação: a ativação do receptor dispara um circuito de retroalimentação que desliga o receptor ou o remove da superfície celular. FALANDO MAIS SOBRE A DESSENSIBILIZAÇÃO... A administração repetida ou contínua de um agonista (ou um antagonista) pode levar a alterações na responsividade do receptor. Para evitar possíveis lesões às células, vários mecanismos se desenvolveram para proteger a célula da estimulaçãoexcessiva. Quando a administração repetida de um fármaco resulta em efeitos menores, o fenômeno é denominado taquifilaxia. Nesse fenômeno, o receptor permanece presente na superfície da célula, mas não responde ao ligante. Os receptores também podem ser dessensibilizados por estimulação contínua. A ligação do agonista resulta em alterações moleculares no receptor ligado à membrana, de forma que o receptor sofre endocitose e é preservado de interações adicionais com o agonista. Esses receptores podem ser reciclados para a superfície celular, restabelecendo a sensibilidade ou, de modo alternativo, podem ser processados e degradados, diminuindo o número total de receptores disponíveis. OBS.: Transporte vesicular O excesso de receptores sendo ligados pelo fármaco provoca uma resposta endocítica, destruindo esses receptores. Down regulation Na tradução literal: regulação para baixo. O que há é uma diminuição do número de receptores por endocitose ou a diminuição da sensibilidade desses receptores. Isso acontece em uma exposição crônica dos agonistas. Ex: salbutamol. Up regulation Nesse caso há uma supersensibilização, ocasionando uma ação amplificada. Essa amplificação ocorre por: exocitose dos receptores e um aumento da sensibilidade desses receptores.
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