Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Laís Flauzino | HAB MÉDICAS | 3°P MEDICINA UniRV AULA 2M3 – AVC Apresentação do caso clínico H.F.C. sexo feminino, 67 anos, branca, analfabeta, heterossexual, aposentada, procedente e residente de Lauro de Freitas – BA. Trazida pela filha ao atendimento de emergência onde referiu que na noite anterior perdeu parte do movimento do corpo, hoje, está com dificuldade para falar. Paciente apresentava-se afebril e dispneica. Quando questionada sobre demais sistemas negou alterações. Não soube informar sobre desenvolvimento neuropsicomotor, menopausada há 12 anos. Refere ser e diabética há 12 anos, faz uso de metformina. Nega demais comorbidade, alergias, cirurgias e transfusões sanguíneas. Filha afirma histórico familiar de IAM. Quando questionada sobre hábitos de vida refere dieta equilibrada, sedentarismo, ex-fumante, nega etilismo. Ao exame físico, paciente apresentava-se em bom estado geral, lúcida e orientada no tempo e no espaço, anictérica, acianótica, hidratada, fácies atípica, taquipneica (FR:33 ipm), saturação de O2 (93%), afebril (Tax: 37,2 °C), normocárdica (FC: 94 bpm), hipertensa (PA: 180X100 mmHg), peso: 94 Kg; altura: 1,67 m e IMC: 33,7 Kg/m2. No exame de cabeça e pescoço: normocefálica, ausência de pontos doloros no crânio, olhos simétricos, pupilas isocóricas, reflexos consensual e direto preservados, orofaringe sem placas, secreções ou qualquer indício de infecção; linfonodos não palpáveis. Aparelho respiratório: murmúrio vesiculares bem distribuído, sem ruídos adventícios, expansibilidade preservada bilateralmente, a percussão som claro pulmonar, sem esforço respiratório. Aparelho cardiovascular: pulsos rítmicos, cheios e simétricos, precórdio calmo, ictus não visível, extensão de duas polpas digitais no 5º espaço intercostal, linha hemiclavicular esquerda, bulhas rítmicas, normofonéticas em dois tempos. Abdome: plano, simétrico, sem cicatriz, cicatriz umbilical protrusa e centralizada, som timpânico a percurssão, RHA normoativo, indolor a palpação superficial e profunda, sem visceromegalias. Exame neurológico: hemiplegia e hipoestesia a esquerda, ausência de sinais meníngeos, pares cranianos normais, redução de campo visual, não falava espontaneamente, não lia e nem escrevia, mas a compreensão estava preservada, Glasgow 13. A paciente foi então foi introduzida nas medidas terapêuticas gerais (monitorização multiparamétrica contínua) e solicitada a realizar alguns exames como: glicemia capilar, hemograma, tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) e tempo de protrombina, ECG, além de tomografia computadorizada de crânio sem contraste. Os resultados dos exames laboratoriais evidenciaram uma glicemia de 151mg/dl, hemograma normal, TTPa de 39 segundos (VR: 35 segundos), TP de 16 segundos (VR: 10-14 segundos), ECG normal, e a TC evidenciou AVCi em território de artéria cerebral média,(Figura 1) Questões para orientar a discussão Quais são os diagnósticos diferenciais para o caso? Qual a fisiopatologia e fatores de risco do AVE isquêmico? Quais exames confirmam o diagnóstico do AVE isquêmico? Qual a conduta terapêutica para o paciente com AVE isquêmico? Foi realizado o controle glicêmico, com meta de manutenção entre 140-180mg/dl; oxigenoterapia via cateter nasal, visando manter a saturação de O2 ≥95%; monitorização cardiovascular contínua e não invasiva; uso de profilático subcutâneo de heparina de baixo peso molecular (enoxaparina 40mg/dia), protocolo de antiagragação plaquetária (aspirina 300mg/dia) e profilaxia contra hemorragia digestiva alta (pantoprazol 40mg/dia). Devido a não submissão a terapia de recanalização a PA da paciente não foi reduzida, pois ela não apresentava condições clínicas mandatórias de tal. A paciente permaneceu 27 dias em Unidade de Terapia Intensiva, com melhora do estado geral. Foi transferida para ambulatório de neurologia, onde permaneceu durante mais 15 dias, até receber alta médica. A paciente apesar de ter sofrido um AVCi extenso e complicado, evoluiu bem ao tratamento, permanecendo apenas com hemiparesia a esquerda. DEFINIÇÃO: ■ Déficit neurológico, geralmente focal, de instalação súbita ou com rápida evolução, sem outra causa aparente que não vascular, com duração maior que 24 horas (ou menor, levando à morte). EPIDEMIOLOGIA: ■ Causa mais comum de óbito e internação hospitalar clínica (DATASUS) ■ Nos EUA é a 3ª causa de morte ■ É o principal responsável pela morbidade - sequelas CLASSIFICAÇÃO: ■ Isquêmico – 80 a 85% * AIT ■ Hemorrágico – 15 a 20% * Hemorragia intraparenquimatosa * Hemorragia subaracnóide AVCi – AIT ■ Déficit focal com regressão em até 24 horas ■ Maior parte dura menos que 1 hora (8- 14 min) ■ Déficit focal isquêmico>1 hora = maior probabilidade de AVCi AVC ISQUÊMICO Região de infarto cerebral + área de penumbra FISIOPATOLOGIA ■ Trombose de grandes vasos – HAS, DM, DLP e tabagismo ■ Cardioembolismo – miocardiopatias, valvopatias e arritmias – FA ■ Trombose de pequenos vasos, arterites, estados hipercoaguláveis e dissecções arteriais cervicais EXAME NEUROLÓGICO ■ Breve e dirigido ■ NIHSS – quantifica o grau de déficit neurológico e padroniza a comunicação entre os profissionais de saúde além de auxiliar na identificação do possível vaso ocluído, do prognóstico e tratamento e possíveis complicações 2 Laís Flauzino | HAB MÉDICAS | 3°P MEDICINA UniRV EX. COMPLEMENTARES ■ TODOS: glicemia + eletrólitos + HMG + função renal + coagulograma + ECG + enzimas cardíacas ■ SELECIONADOS: Rx tórax + LCR + função hepática + teste (screening) toxicológico + teste gravidez + gasometria + EEG EX. DE IMAGEM ■ TC crânio sem contraste * eficaz para identificar maior parte dos casos de AVCh e ajuda na identificação de causas não vasculares para os sintomas neurológicos (tu cerebral) * baixa sensibilidade em detectar lesões menores e agudas corticais e subcorticais, principalmente em fossa posterior * na maior parte dos casos, a infusão de contraste EV não fornece informações adicionais e não está indicada a menos que se suspeite de tu cerebral ou processo infeccioso ■ “Imagem cerebral é recomendado antes de iniciar qualquer terapia específica” ■ Na maior parte dos casos (e das instituições), a TC vai promover informações suficientes para a tomada de decisões na sala de emergência ■ TC deve ser avaliada por médico experiente ■ Tto AVC não deve ser postergado pelo aguardo de outros tipos de imagem TRATAMENTO GERAL ■ Vias aéreas, suporte ventilatório e O2 suplementar • Prevenção hipóxia – piora dano cerebral • Princ. causas: obstrução parcial VAS, hipoventilação, PNM aspirativa e atelectasia • Se satO2<92% - O2 suplementar • Avaliar IOT ■ Temperatura • Aumento temperatura no AVC está associado a pior prognóstico neurológico (morbidade e mortalidade) secundário ao aumento da demanda metabólica, liberação de neurotransmissores e aumento na produção de radicais livres • Se paciente febril – administrar antitérmicos ■ Pressão Arterial • Geralmente é visto aumento PA nas primeiras horas do AVC (PAS>160 mmHg em >60% pacientes) • Tanto hipotensão quanto hipertensão estão associados a pior prognóstico • Há muitos dados conflitantes na literatura e apesar da indicação de tratamento não há níveis definidos de PA para iniciar tratamento • Pacientes elegíveis para tratamento com rtPA devem manter PAS =< 185 mmHg e PAD =< 110 mmHg • Demais se PA>220 x 120 mmHg • Objetivo é reduzir a PA em torno de 15% durante as primeiras 24 hs ■ Hipoglicemia (<80 mg/dl) • Sinais neurológicos que mimetizam AVCi e por si só podem levar a injúria cerebral • Hipoglicemia – correção imediata ■ Hiperglicemia (>140 mg/dl) • Associado a mau prognóstico (acidose tecidual 2ário acidose láctica e produção de radicais livres) • Alvo glicemia= 80 a 140 mg/dl AVCI – TROMBÓLISE Conclusões ■ rtPA é o único aprovado pelo FDA - 0,9 mg/kg com 10% em bolus e restante em 1h ■ Bons resultados <3hs ■ Tratamento precoce (90 min) = melhores resultados ■ Tratamento tardio (90-180 min) também é benéfico CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ✓ Idade >= 18 anos ✓ Diagnóstico clínico de AVC com déficit neurológico ✓ Tempo < 180 min ✓ TC sem evidência de sangramento ✓ AVC ou TCE há menos de 3 meses ✓ Antecedente de sangramento intracraniano ✓ Cirurgia de gde porte < 14 dias ✓ Sangramento GI ou GU < 21 dias ✓ IAM < 3 meses ✓ Punção arterial em sítio não compressível < 7 dias ✓ Punção lombar < 7 dias ✓ Melhora rápida dos sintomas ✓ Sinais neurológicos menores e isolados ✓ Convulsão com status pós-ictal ✓ Apresentação clínica compatível com IAM ou pericardite pós-IAM CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ✓ Sintomas sugestivos de HSA, mesmo com TC normal ✓ PAS>185 e PAD>110 ✓ Sangramento ativo ou trauma agudo (fratura) ✓ Plaquetas <100.000/mm3 ✓ Glicose <50 ou >400 ✓ RNI>1,7 se estiver em uso de varfarina ✓ TTPA elevado se estiver em uso de heparina ✓ TC com sinais de hemorragia CUIDADOS Exame neurológico a cada 15 min durante infusão e a cada 30 min nas próximas 6 horas. Aferir PA a cada 15 min nas primeiras 2 horas e a cada 30 min nas próximas 6 horas Nova TC em 24 hs AVC HEMORRÁGICO AVCH – ETIOLOGIA ■ Hemorragia Intraparenquimatosa (HP) • Causa é HAS – ruptura de aneurismas de Charcot- Bouchard (HAS leva a alt. Crônicas na parede de arterias e arteríolas) • Núcleos da base (Putame e talamo), ponte, cerebelo e lobos cerebrais • MAV, aneurismas rotos, coagulopatias, tu cerebrais, arterites, angiopatia amilóide AVCh – HIP ■ Hemorragia subaracnóide (HSA) • Ruptura de aneurismas saculares • Grave – morte em 32-67% casos • Bifurcações arteriais proximos ao polígono de Willis (ACA, ACP e ACM) 3 Laís Flauzino | HAB MÉDICAS | 3°P MEDICINA UniRV QUADRO CLÍNICO ■ HIP • Déficit neurológico focal súbito e progressivo cefaléia náuseas vômitos ■ HSA • Cefaléia súbita (pior da vida, desencadeou ao esforço), intensa e holocraniana, náuseas, vômitos, irritação meníngea EX. COMPLEMENTARES ■ TC crânio ■ HIP – imagem hiperatenuante em parênquima encefálico ■ HSA – imagem hiperatenuante ocupando as cisternas e os sulcos cerebrais TRATAMENTO GERAL ■ Tratamento inicial – idem AVCi ■ Monitorização em UTI ■ PA ■ Hipo/hiperglicemia ■ Hipertermia – antitérmicos Tratamento – HIP ■ HIP • Elevação da cabeceira, sedação e analgesia • Manitol 20% - 0,5 a 1,0 g/kg EV 5-30 min • Hiperventilação – PaCO2 30-35 mmHg • Drenagem LCR por cateter intraventricular • Cirurgia (cerebelar maior q 3 cm + deterioração neurológica ou compressão do tronco encefálico e hidrocefalia / hemorragia lobar com deteriorização neurológica) Tratamento – HSA ■ HSA • Suporte clínico • PAS<160 mmHg • Tratamento das complicações • Cirurgia – clipagem aneurisma ■ Ressangramento • Mortalidade 50-80% • Primeiras 24 hs • Repouso + analgesia + ansiolíticos + laxantes + controle PA ■ Vasoespasmo • 30% pacientes • Piora da cefaléia • 10 – 14 dias e até mais tardiamente ■ Hidrocefalia ■ Convulsões
Compartilhar