Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autora: Profa. Valdice Neves Pólvora Colaborador: Prof. Mário Henrique de Castro Caldeira Estrutura e Arquitetura Hospitalar GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Professora conteudista: Valdice Neves Pólvora A professora Valdice Neves Pólvora é doutoranda em Economia pela Universidad Federal de La Matanza, em Buenos Aires, Argentina, mestre em Administração e Valores Humanos e graduada em Economia. Na área educacional, está comprometida com o ensino-aprendizagem e com a formação de cidadãos éticos, leciona há mais de 13 anos em cursos superiores e há mais de 5 anos atua como coordenadora de cursos. Possui experiência de mais de 38 anos na esfera governamental, atuando como docente na formação de servidores públicos, com experiência em Ensino a Distância. Atualmente, exerce função de assistente-técnico da Fazenda Estadual na Secretaria da Fazenda do Governo do Estado de São Paulo e integra o corpo docente das escolas de governo Esaf, Fundap e Fazesp para a formação de servidores públicos nas áreas de Licitações Públicas, Educação Fiscal, Gestão da Qualidade, Planejamento Estratégico e Programa de Desenvolvimento Gerencial. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P779e Pólvora, Valdice Neves. Estrutura e arquitetura hospitalar. / Valdice Neves Pólvora. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 124 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-118/15, ISSN 1517-9230. 1. Estrutura hospitalar. 2. Saúde no Brasil. 3. Condições ambientais. I. Título. CDU 614 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Maria Emilia Lucas Ricardi Amanda Casale GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Sumário Estrutura e Arquitetura Hospitalar APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL ............................................................................................. 11 1.1 O Sistema de Saúde Brasileiro ........................................................................................................ 15 1.2 A rede hospitalar brasileira ............................................................................................................... 18 1.2.1 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).................................................................... 18 1.2.2 Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) ......................................................................... 19 1.3 Edificação hospitalar ........................................................................................................................... 22 1.3.1 Conceito de unidade hospitalar ........................................................................................................ 23 2 TIPOLOGIA DAS UNIDADES HOSPITALARES ......................................................................................... 25 2.1 Classificação Datasus .......................................................................................................................... 25 2.2 Hospitais Gerais..................................................................................................................................... 27 2.3 Hospitais de emergência ................................................................................................................... 28 2.4 Hospitais especializados .................................................................................................................... 29 2.5 Unidades Mistas .................................................................................................................................... 29 2.6 O processo de projetar ....................................................................................................................... 31 Unidade II 3 LEGISLAÇÃO E NORMATIZAÇÃO ................................................................................................................ 37 3.1 Programa de necessidades ............................................................................................................... 40 3.2 Estudo preliminar ................................................................................................................................. 40 3.3 Projeto básico ........................................................................................................................................ 40 3.4 Projeto executivo .................................................................................................................................. 41 3.5 Obra de reforma .................................................................................................................................... 41 3.6 Obra de ampliação ............................................................................................................................... 41 3.7 Obra inacabada ..................................................................................................................................... 41 3.8 Obra de recuperação ........................................................................................................................... 41 3.9 Obra nova ................................................................................................................................................ 41 4 PROJETO BÁSICO DE ARQUITETURA ........................................................................................................ 45 4.1 Representação gráfica ........................................................................................................................ 45 4.2 Elaboração do parecer técnico ........................................................................................................ 49 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade III 5 ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE (EAS) ..................................................................... 58 5.1 Atividades-fim .......................................................................................................................................60 5.2 Atividades-meio .................................................................................................................................... 74 6 CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE CONTROLE DE INFECÇÃO .................................................................. 82 6.1 Conceituação básica ........................................................................................................................... 82 6.2 Critérios de projeto .............................................................................................................................. 83 Unidade IV 7 PLANEJAMENTO DOS SETORES .................................................................................................................. 89 7.1 Requisitos de desempenho do sistema construtivo quanto à segurança estrutural ................................................................................................................................... 89 7.1.1 Segurança ao fogo ................................................................................................................................. 89 7.1.2 Estanqueidade .......................................................................................................................................... 89 7.1.3 Conforto higrotérmico ......................................................................................................................... 90 7.1.4 Conforto acústico ................................................................................................................................... 90 7.1.5 Durabilidade .............................................................................................................................................. 90 7.1.6 Manutenção .............................................................................................................................................. 91 7.2 Requisitos de construção – construtibilidade ......................................................................... 91 7.2.1 Compatibilidade ...................................................................................................................................... 91 7.2.2 Tempo de construção ............................................................................................................................ 92 7.2.3 Tecnologia de construção.................................................................................................................... 92 7.2.4 Custos .......................................................................................................................................................... 92 8 A ARQUITETURA E A HOTELARIA HOSPITALAR ..................................................................................101 8.1 O uso de cores .....................................................................................................................................107 8.2 Hospitalidade .......................................................................................................................................109 8.3 Atendimento ........................................................................................................................................109 8.4 Governança .........................................................................................................................................110 8.5 Setor de Nutrição e Dietética ........................................................................................................111 7 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 APRESENTAÇÃO A arquitetura hospitalar é um instrumento de cura de mesmo estatuto que um regime alimentar, uma sangria ou um gesto médico (FOUCAULT, 1990 apud TOLEDO, 2008, p. 109). Caro aluno, Os desafios regionais e nacionais nas áreas da Saúde e da Gestão Hospitalar e o cenário mundial altamente competitivo e complexo indicam a necessidade da formação de tecnólogos em Gestão Hospitalar qualificados, competentes e empreendedores para atuar nessa realidade. Esta disciplina, Estrutura e Arquitetura Hospitalar, tem como objetivo apresentar a vocês os diferentes aspectos que compõem a estrutura hospitalar no que diz respeito às normas de segurança e bem-estar do paciente. Vocês, futuros gestores de hospitais, clínicas, centros de saúde e outras áreas afins devem desenvolver o senso crítico para entender as diferenças arquitetônicas para cada tipo de unidade hospitalar, pois a Rede de Saúde no Brasil é muito extensa, tanto na esfera pública quanto na privada. Hoje, os pacientes/clientes querem conforto e segurança em momentos que inspirem cuidados com a saúde, e, para tanto, a humanização dos ambientes torna-se imprescindível para a satisfação do paciente/cliente. A demanda por gestores capazes de gerir os recursos destinados à área de Saúde requer mais profissionalização, pelos grandes desafios de competitividade colocados a essa atividade e pelo significativo aumento de sua importância no contexto nacional. A área de Saúde apresenta uma grande diversidade de espaços e clínicas médicas, bem como de hospitais privados e públicos, que, a cada dia, necessitam de profissionais qualificados e com conhecimento para atuação na gestão dos serviços operacionais e gerenciais. O curso de Gestão Hospitalar busca desenvolver essa visão sistêmica dos ambientes hospitalares. O processo de ensino-aprendizagem é conduzido de forma que seja permitido aos alunos compreender a metodologia de desenvolvimento e ter noções básicas de leitura e análise de projetos arquitetônicos. Ao proporcionar essa formação, com qualidade e inovação, o gestor hospitalar estará apto a atuar de forma empreendedora e sustentável, com uma formação crítica e reflexiva, para que lhe sejam atribuídas as funções cabíveis. O objetivo desta disciplina é identificar critérios que possam contribuir para a melhoria da qualidade das decisões com relação ao sistema de edificações hospitalares, apresentar o conceito de saúde e os tipos de rede de saúde no Brasil. 8 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Veremos também a metodologia do planejamento e do projeto hospitalar e seus aspectos culturais e de arquitetura, assim como o dimensionamento do edifício hospitalar e suas características, buscando possibilitar a leitura e a análise de projetos arquitetônicos. Pretende-se apresentar ao aluno os diferentes aspectos que compõem a estrutura hospitalar no que diz respeito às normas de segurança e bem-estar do paciente e desenvolver o senso crítico para entender as diferenças arquitetônicas para cada tipo de unidade hospitalar. INTRODUÇÃO A arquitetura hospitalar vem diversificando seu foco de atenção, visto que, por diferentes razões, o próprio modelo de atenção médica está passando por profundas transformações. O extraordinário desenvolvimento tecnológico que revolucionou a medicina no século XX tornou o hospital um local privilegiado na prática médica. O edifício hospitalar precisava abrigar convenientemente e incorporar de forma contínua os inesgotáveis equipamentos para investigação, diagnóstico e terapêutica (SANTOS; BURSZTYN, 2004). Toledo (2008) comenta que o edifício hospitalar, por sua escala, complexidade e, até mesmo, por seu caráter simbólico, sempre atraiu a atenção dos arquitetos, seja nas faculdades de arquitetura, que oferecem, ainda na graduação ou na pós-graduação, formação e especialização em arquitetura hospitalar, seja na vida profissional, em que o interesse dos arquitetos pode ser medido pelo grande número de escritórios especializados e pela presença crescente de arquitetos nos congressos e nos cursos que tratam dos aspectosprojetuais dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS). Observação As deficiências da rede pública de saúde têm aberto espaços cada vez maiores para a iniciativa privada, estimulando-a a investir no setor (TOLEDO, 2008). Os estudos da disciplina têm como objetivo proporcionar ao gestor hospitalar o desenvolvimento de suas competências para saber conduzir e avaliar os projetos de arquitetura hospitalar, bem como acompanhar o desenvolvimento, o planejamento e a elaboração desses projetos de edificação hospitalar. Inicialmente, faremos um breve histórico da saúde no Brasil, da evolução da rede hospitalar brasileira. Na sequência, serão abordadas a Legislação e a Normatização desse segmento. Posteriormente, o enfoque será dado ao planejamento dos setores, de acordo com o perfil da organização e os serviços que serão oferecidos para a população. Serão apresentadas as etapas de construção e elaboração do memorial descritivo e do projeto básico, bem como a importância da arquitetura sustentável. 9 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Para encerrar, vamos abordar arquitetura e hotelaria hospitalares, a importância da hospitalidade, além de atendimento e promoção do bem-estar aos pacientes/clientes. Dessa forma, os gestores que atuam em hospitais e afins têm como missão entender esses processos para contratação de profissionais que irão atuar no desenvolvimento de projetos arquitetônicos, na construção, na reforma e/ou na manutenção de edificações hospitalares. 11 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR Unidade I 1 BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL A assistência médico-hospitalar brasileira inicia-se no século XVIII, com a fundação das Santas Casas de Misericórdia, instituições ligadas à Igreja Católica que apresentavam finalidades caritativas e filantrópicas para a internação de pacientes em várias condições: alienados mentais, miseráveis sem habitação, doentes terminais das mais diversas afecções (exceto as infectocontagiosas, cujos pacientes eram totalmente isolados do convívio social). Essas instituições, seguindo a lógica de funcionamento de suas matrizes europeias, retiram da sociedade indivíduos que contrariam sua ordenação, servindo, ao final, como saneadoras da sociedade, cumprindo muito além da função terapêutica que se conhece modernamente (MACHADO, 1978). Segundo Góes (2011), na reunião realizada na cidade de Alma-Ata, na antiga URSS (Rússia), a Organização da Nações Unidas (ONU), por intermédio da Organização Mundial de Saúde (OMS), conceituou Saúde como um direito humano fundamental, consecução do mais alto nível de vida possível, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, tais como educação, emprego/ salário, alimentação, moradia e segurança física e ambiental. De acordo com a Declaração de Alma-Ata, Saúde é o estado de quem tem suas funções orgânicas, físicas e mentais em situação normal, equilibrada, ou seja, saúde é o estado do que é são; estado do indivíduo em que há exercício regular das funções orgânicas. Doença, por sua vez, é a alteração ou o desvio do estado fisiológico em uma ou várias partes do corpo. Enfim, doença é um distúrbio de saúde físico ou mental. A Declaração de Alma-Ata é a carta de intenções resultante da Primeira Conferência Internacional sobre os Cuidados de Saúde Primários. Enquadrou-se no movimento mundial, sob a responsabilidade e o empenho da OMS, de combater as desigualdades entre os povos e alcançar a audaciosa meta de Saúde Para Todos no Ano 2000. Na Declaração de Alma-Ata (DAA), assume-se a saúde como um direito humano fundamental. Atingir o mais alto nível de saúde em todas as nações corresponderia à mais importante meta social em nível mundial. Para isso é necessária a ação conjunta de setores para além do da saúde, como é o caso do social e do econômico. O direito à saúde consta da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), conforme visto a seguir: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 12 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I — descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II — atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III — participação da comunidade. O contexto mundial, em termos de saúde, é o de profundas desigualdades não só entre países desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento, mas também entre regiões de um mesmo país. No Brasil muito se tem avançado com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), mas as desigualdades ainda continuam, principalmente, nas regiões mais carentes. O Sistema Único de Saúde (SUS) é a denominação do sistema público de saúde brasileiro, considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, segundo informações do Conselho Nacional de Saúde. Foi instituído pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, como forma de efetivar o mandamento constitucional do direito à saúde como um direito de todos e dever do Estado e está regulado pela Lei nº 8.080/1990 (BRASIL, 1990), a qual operacionaliza o atendimento público da saúde. A saúde dos povos resulta de um conjunto de interdependências e reciprocidades: a paz mundial, o desenvolvimento socioeconômico e a qualidade de vida são apenas alguns dos fatores que contribuem para um elevado nível de saúde. Do mesmo modo, a saúde das populações é de decisiva importância para o progresso social e econômico, para a obtenção e a manutenção da paz mundial e da qualidade de vida das comunidades. Nesse sentido, podemos entender por interdependência e reciprocidade a manutenção de acordos mútuos entre as nações, em prol de ações que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das comunidades, independentemente da localização. A DAA entende o envolvimento e a participação das populações como um direito e um dever destas, a serem exercidos individual e/ou coletivamente, influenciando o planejamento e a prestação dos cuidados de saúde. 13 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR Propõe desenvolver mecanismos que facilitem a participação da população nas decisões que promovam a prestação dos serviços voltados para o cuidado básico de saúde. O desafio proposto pela DAA apresenta-se sob a forma da seguinte meta: que “[...] todos os povos, até ao ano 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita uma vida saudável e economicamente produtiva”. Para tal, apela-se à responsabilidade de governos, organizações supranacionais e da comunidade internacional para implementarem ou colaborarem na implementação dos Cuidados de Saúde Primários, entendidos como elemento-chave na obtenção da Saúde para Todos. Os Cuidados de SaúdePrimários (CSP) são definidos na DAA como os cuidados essenciais de saúde, prestados mediante o uso de métodos e técnicas práticos, cientificamente fundamentados e aceitáveis socialmente. Correspondem ao primeiro nível de contato com o sistema de saúde do país e devem estar associados a sistemas de referência integrados e funcionais de forma que garantam o acesso a cuidados de saúde por todos os cidadãos, principalmente, aos mais necessitados. Com efeito, os CSP deverão pautar-se por acessibilidade universal, equidade e justiça social. Entendemos o direito à saúde como universal. Promover a igualdade é uma forma de buscar a justiça social, em especial, entre as comunidades mais carentes. Pelo fato de os CSPs serem prestados de modo continuado e próximo das populações, constituem-se como um pilar de segurança e autoconfiança destas. Tal confiança será reforçada se ocorrer a participação e o envolvimento das comunidades no planejamento, na gestão e na prestação dos cuidados, e, para participar, é fundamental que haja investimento na educação dos indivíduos (aquisição de capacidade de participação). Esse ponto é fundamental para atingir a meta proposta, haja vista que o investimento na educação e na formação de agentes de saúde leva a informação e o conhecimento às comunidades. Os CSPs deverão ser integrados num sistema nacional de saúde que, por sua vez, deverá atender à real situação do país, de acordo com os recursos de que dispõe (econômicos, sociais, políticos, culturais...), de forma que sejam sustentáveis ao longo dos tempos. Por conseguinte, os CSPs e o sistema de saúde em sua totalidade são uma dependência e reflexo do nível de desenvolvimento de cada nação. No caso do Brasil, esse é o grande desafio na implementação de políticas governamentais para o atendimento à população. Há necessidade de investimentos no SUS, na formação de parcerias que possam atender à demanda existente. Fazem parte do Sistema Único de Saúde os centros e postos de saúde, os hospitais públicos, incluindo os universitários, os laboratórios e hemocentros (bancos de sangue), os serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental, além de fundações e institutos de pesquisa acadêmica e científica, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Vital Brazil. Os CSPs procurarão responder às principais necessidades e aos problemas de saúde mais importantes das populações, prestando serviços de proteção da saúde (ou prevenção da doença), cura e reabilitação. Para tal, 14 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I disporá de equipes multidisciplinares e interdisciplinares: médicos, enfermeiras, parteiras, auxiliares, agentes comunitários e praticantes tradicionais, todos com formação apropriada ao tipo de cuidados que prestam. Como áreas prioritárias de intervenção, os CSPs teriam: a educação para a saúde; a nutrição apropriada; a qualidade da água e o saneamento básico; os cuidados de saúde materno-infantil (o que inclui o planejamento familiar); a imunização (dirigida às principais doenças endêmicas); a prevenção e o controle de doenças endêmicas; o tratamento de doenças e lesões comuns; e o fornecimento de medicamentos essenciais. Na criação dos CSPs, os governos têm um papel decisivo, competindo-lhes: a elaboração de políticas, estratégias e planos de ação; a coordenação dos vários setores implícitos e interessados; mobilização e gestão racional dos recursos do país. No Brasil, os CSPs incorporam os princípios da Reforma Sanitária, levando o SUS a adotar a designação Atenção Básica à Saúde (ABS) para enfatizar a reorientação do modelo assistencial, a partir de um sistema universal e integrado de atenção à saúde. Esse modelo adotado pelo Brasil é denominado de Estratégia de Saúde da Família. A partir de sua criação, persegue uma forma de pensar e agir na construção da atenção à saúde de indivíduos, famílias e comunidades. Saiba mais Conheça as diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB): BRASIL. Departamento de Atenção Básica. PNAB – Política Nacional de Atenção Básica. 2012. Disponível em: <dab.saude.gov.br/portaldab/pnab. php>. Acesso em: 21 ago. 2014. A DAA também apela para o “espírito de comunidade e serviço” entre as nações, pois a “saúde do povo de qualquer país interessa e beneficia diretamente [a] todos os outros países”. A DAA encerra as suas recomendações e intenções com a convicção de que a Meta Saúde para Todos no Ano 2000 se concretizaria se houvesse empenhamento, comprometimento e vontade política de todas as nações, associada a um melhor uso dos recursos mundiais, designadamente, com fins pacíficos, de progresso e desenvolvimento socioeconômico. Salienta-se o papel fundamental dos CSPs para a concretização dessa audaciosa meta. Podemos observar que, para avançar nas diretrizes constantes na DAA, é necessário o envolvimento de toda a sociedade na definição de políticas voltadas para o atendimento à saúde, em especial, nos países em desenvolvimento. 15 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR A participação dos agentes econômicos (governos, famílias e empresas) no planejamento e na identificação das necessidades básicas deve ser observada, pelos governos, na elaboração de políticas governamentais voltadas para a área de saúde. Saiba mais Leia o interessante trabalho a seguir: NUNES, E. D. Sobre a história da saúde pública: ideias e autores. Ciência & Saúde Coletiva, Manguinhos, v. 5, n. 2, p. 251-64, 2000. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/csc/v5n2/7095.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2014. Nesse artigo, o autor traça um panorama geral da saúde pública, desde o período colonial até as primeiras décadas do século XIX. Lembrete Considerando a DAA, faz-se necessário que as políticas de governo observem os pontos prioritários para uma política de governo que venha a atender às questões de saúde pública, em especial, os cuidados primários de atenção à saúde. Saiba mais Conheça o documento a seguir: BRASIL. Ministério da Saúde. Cartas da promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/cartas_promocao.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2014. 1.1 O Sistema de Saúde Brasileiro Góes (2011) destaca que as experiências para enfrentar ou tentar resolver os problemas de saúde no Brasil são bastante numerosas e multifacetadas. Devem ser destacados os trabalhos de Osvaldo Cruz, no começo do século XX, para erradicar a febre amarela e outras moléstias infectocontagiosas no Rio de Janeiro. O Plano Salte – que visava a saúde, alimentação, transporte e energia –, no governo do presidente Eurico Dutra, só teve implantada a parte de transporte, com a construção da rodovia Rio-São Paulo, a Via Dutra. 16 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I O Plano Nacional de Saúde do ministro e médico Lionel Miranda, proposto em 1967, no governo Costa e Silva, foi, entre outros, uma iniciativa que tentou organizar os recursos existentes para sistematizar o atendimento médico no Brasil, conforme um conceito moderno de universalização dos serviços, unificando as ações em unidades integradas e hierarquizadas. Ainda de acordo com Góes (2011), em 1990, cria-se o Sistema Unificado de Saúde (SUS), cuja ação pretende atender ou possibilitar o atendimento de 100% da população brasileira. Lembrete Com o advento do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito à saúde universal e gratuita, financiada com recursos provenientes dos orçamentosda União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme rege o artigo 195 da Constituição. Pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (BRASIL, 1990), foram estabelecidas diretrizes para, pela articulação das várias instituições, públicas ou privadas, implementar as ações, cabendo ao setor público as ações básicas de saúde. Estabeleceram-se três princípios básicos: universalidade, equidade e integralidade, em cuja aplicação, ainda segundo as disposições contidas na lei, objetiva-se a proteção e a recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos respectivos serviços, considerando os seguintes aspectos: Municipalização Nível de atendimento Tipos de estabelecimentos adotados Figura 1 – Progresso básico O conceito de municipalização apresenta as seguintes vantagens: • adequação dos serviços à realidade e às necessidades locais; • elevação de eficiência pelos recursos existentes; • controle dos custos; • utilização dos recursos humanos da localidade e dentro de cada realidade; • utilização de tecnologia apropriada em cada nível de atendimento; • possibilidade de articulação entre estabelecimentos e instituições. 17 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR No entanto, vários municípios não estão preparados para prestar os serviços de atendimento à população, sendo necessária uma política pública que promova a alocação de recursos para esse fim. Os níveis de atendimento à saúde são divididos em três categorias, conforme a Resolução nº 3, de 25 de março de 1981, da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação – Ciplan e a Portaria Interministerial nº 5, de 11 de janeiro de 1980. O proposto na Resolução Ciplan nº 3/1981 foi substituído pelas atuais diretrizes do SUS, que colocam as informações epidemiológicas próprias de cada localidade como fator determinante no planejamento e na programação dos serviços de saúde. Os critérios estabelecidos na referida Resolução para o dimensionamento de necessidades de adequação da rede, a fixação dos limites de complexidade dos níveis de atenção, a estrutura do módulo de atenção, tipos de estabelecimentos, dimensionamento das necessidades de recursos humanos e materiais, a articulação entre estabelecimentos do módulo de atenção e a eleição de prioridades para expansão da rede seguiram uma orientação anterior que se baseava prioritariamente em dados demográficos e tipologias de estabelecimentos de saúde preestabelecidos em função de programas fixos de prestação de serviços, sem levar em consideração os aspectos epidemiológicos, econômicos e culturais de cada localidade ou área de atendimento. Os níveis de atendimento estão divididos em três categorias, a saber: • Atividade caracterizada por ações de promoção, proteção e recuperação, no nível ambulatorial, por meio de pessoal elementar médio, clínicas gerais e odontólogos. Nesse nível, as atividades se dividem em três grupos: • saúde; • saneamento; • diagnóstico simplificado. • Além das atividades de apoio ao nível primário, este nível desenvolve atividades das quatro clínicas básicas: • clínica médica; • clínica cirúrgica; • clínica ginecológica e obstétrica; • clínica pediátrica. • Nível em que são tratados os casos mais complexos do sistema, atenções do nível ambulatorial, urgência e internação. Nível Primário Nível Secundário Nível Terciário Figura 2 – Níveis de atendimento Com base nesses níveis de atendimento são classificadas hierarquicamente as redes de atendimento à saúde. 18 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I 1.2 A rede hospitalar brasileira Na América Latina, a primeira edificação erguida para funcionar como hospital foi construída por Cortez, no México, e, na América do Sul, apenas o Peru precedeu o Brasil, construindo em 1538 um hospital em Lima (TOLEDO, 2008). Segundo Toledo (2008), o Brasil foi, portanto, o segundo país da América do Sul a construir uma edificação destinada exclusivamente a receber enfermos: o Hospital da Santa Cruz da Misericórdia de Santos, criado por Braz Cubas em 1543. Na figura a seguir, observe a arquitetura da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: Figura 3 – Santa Casa de Misericórdia – São Paulo A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, de partido pavilhonar, foi projetada em 1884 pelo engenheiro italiano Luis Pucci, fortemente influenciado pelos conceitos de planejamento hospitalar adotados no Hospital Laribolsière, que, inaugurado com menos de 150 leitos, chegou a abrigar mais de 1.000 pacientes na década de 1970 (MIQUELIN, 1992 apud TOLEDO, 2008, p. 45). Para entender como funciona a rede hospitalar brasileira, vamos falar sobre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela regulamentação de produtos e serviços que possam afetar a saúde da população brasileira. O que é Anvisa, EAS, estabelecimentos públicos e estabelecimentos privados? 1.2.1 Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é uma autarquia sob regime especial, que tem como área de atuação não um setor específico da economia, mas todos os setores relacionados a produtos e serviços que possam afetar a saúde da população brasileira. A Agência tem como campo de atuação não um setor específico da economia, mas todos os setores relacionados a produtos e serviços que possam afetar a saúde da população brasileira. Sua competência abrange tanto a regulação sanitária quanto a regulação econômica do mercado. 19 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR Além da atribuição regulatória, é responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), de forma integrada com outros órgãos públicos relacionados direta ou indiretamente ao setor saúde. Na estrutura da administração pública federal, a Anvisa encontra- se vinculada ao Ministério da Saúde e integra o Sistema Único de Saúde (SUS), absorvendo seus princípios e diretrizes. Saiba mais Sobre a Anvisa, acesse o site a seguir e fique por dentro das leis, normas e dos procedimentos vigentes na área de saúde. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência. 2012. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/ Anvisa%20portal/Anvisa/agencia/publicacao%20agencia/a%20agencia>. Acesso em: 22 ago. 2014. 1.2.2 Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) Essa é a denominação dada a qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde, seja ela composta de estabelecimentos públicos ou privados. Os estabelecimentos de saúde reúnem um conjunto de diferentes funções, conforme o nível em que se encontram dentro do sistema de saúde. Dentre essas funções, temos: • socorrer; • diagnosticar; • tratar; • exercer medicina preventiva; • pesquisar; • educar. Dentre as funções e atividades em edifícios hospitalares, temos: • ações básicas de saúde; 20 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I • saúde em regime ambulatorial; • pronto-atendimento; • atendimento em regime de internação; • serviços de apoio ao diagnóstico; • serviços de apoio à terapia; • serviços de apoio técnico; • desenvolvimento de recursos humanos; • pesquisa. Os estabelecimentos de saúde são edifícios complexos, dinâmicos e caros. Abrigam extensas ecomplexas funções, as quais dependem de condições acústicas, higrotérmicas, assépticas e, consequentemente, de um número extenso de sistemas de instalações e equipamentos. Toda essa complexidade característica de estabelecimentos de saúde se acentua ao considerarmos a velocidade com que tendem a mudar. Com o avanço tecnológico, o processo torna-se mais dinâmico, e as adequações das instalações são necessárias para atender às necessidades da população. O dinamismo desses edifícios, principalmente hospitais de médio e grande porte, caracteriza-se pela necessidade de constante adaptação aos avanços médicos e técnicos, bem como às mudanças nos perfis dos usuários e de sistemas organizacionais. Em países em desenvolvimento, a dinâmica hospitalar responde ainda aos agonizantes requisitos socioeconômicos e assistenciais. Portanto, são edifícios que precisam estar sempre prontos para acomodar novas funções e para crescer; em outras palavras, são flexíveis, permitindo mudanças e expansões, garantindo a organicidade original sem estrangulamentos e interrupções de funcionamento. Saiba mais Leia o texto a seguir: MARINHO, A.; MORENO, A. B.; CAVALINI, L. T. TD 0848 — Avaliação Descritiva da Rede Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SUS). Rio de Janeiro: Ipea, 2001. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/ stories/PDFs/TDs/td_0848.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2014. 21 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR Com o avanço da tecnologia e a necessidade de humanização do atendimento à saúde, os projetos arquitetônicos têm se mostrado cada vez mais arrojados, no que concerne ao projeto de edificação e às facilidades de acessibilidade, conforto e manutenção, com foco na qualidade do atendimento. À medida que a medicina avança e a complexidade do edifício hospitalar se amplia, mais funções são realizadas, requerendo mais espaço e mais recursos humanos e materiais. Consequentemente, o número de equipamentos sofisticados (informatizados, em grande parte) cresce, e mais instalações são necessárias. Por tudo isso, estabelecimentos de saúde são onerosos para construir, operar e manter. Tais características condicionam a busca de soluções para sistemas construtivos que permitam que o edifício hospitalar se adapte e cresça de acordo com o desenvolvimento de suas necessidades, sendo racionais em relação à sua construção, organização física e manutenção. O Hospital das Clínicas, centro de referência na área de saúde, foi iniciado durante o governo de Adhemar de Barros e teve muitas alas e institutos anexados até os dias atuais. Toledo (2008), na sua tese de doutorado, tem como tema a arquitetura hospitalar e sua relação com os princípios e às posturas da humanização dos serviços de atenção à saúde, tendo o edifício hospitalar como objeto de análise central. A partir de uma análise histórica, destaca a mudança da medicina hospitalar, ocorrida a partir de meados do século XX, quando o objetivo de curar, característico do hospital terapêutico, é ampliado pelo de cuidar, próprio do hospital moderno. Com base nessa constatação, defende a hipótese de que a humanização seja um caminho para que a arquitetura recupere o seu papel no que concerne a exercer o mesmo estatuto de um gesto médico. Demonstra ainda que, para que essa mudança ocorra, a medicina e a arquitetura hospitalar deverão se unir em torno de um novo paradigma, voltado para a promoção da saúde e para o conforto físico e psicológico do paciente, elevado à condição de sujeito do processo terapêutico. Saiba mais Recomendamos a leitura da seguinte tese: TOLEDO, L. C. Feitos para cuidar: a arquitetura como um gesto médico e a humanização do edifício hospitalar. 2008. 238 f. Tese (Doutorado em Ciências da Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www.fau.ufrj.br/prolugar/arq_pdf/ dissertacoes/Tese_Luiz_Carlos_Toledo_Abril_2008/tese_toledo.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2014. O sistema de saúde brasileiro é formado por uma rede complexa de prestadores e compradores de serviços que competem entre si, gerando uma combinação público-privada financiada, sobretudo, por recursos privados. O sistema de saúde tem três subsetores: 22 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I O subsetor público, no qual os serviços são financiados e providos pelo Estado nos níveis federal, estadual e municipal, incluindo os serviços de saúde militares; o subsetor privado (com fins lucrativos ou não), no qual os serviços são financiados de diversas maneiras com recursos públicos ou privados; e, por último, o subsetor de saúde suplementar, com diferentes tipos de planos privados de saúde e de apólices de seguro, além de subsídios fiscais. Setor Público Setor Privado Saúde Complementar • Os serviços são financiados e providos pelo Estado nos níveis federal, estadual e municipal, incluindo os serviços de saúde militares • Os serviços são financiados de diversas maneiras com recursos públicos ou privados • Com diferentes tipos de planos privados de saúde e de apólices de seguro, além de subsídios fiscais Figura 4 – Setorização do sistema de saúde Os componentes públicos e privados do sistema são distintos, mas estão interconectados, e as pessoas podem utilizar os serviços de todos os três subsetores, dependendo da facilidade de acesso ou de sua capacidade de pagamento. 1.3 Edificação hospitalar Entender os diferentes conceitos do que é uma unidade hospitalar é o primeiro passo para o desenvolvimento de projetos de edificações hospitalares. De acordo com Toledo (2008, p. 46), para que possamos compreender a unidade hospitalar é necessário, primeiramente, situá-la no sistema de atenção à saúde a que pertence, já que o hospital não deve ser entendido como uma unidade isolada. Lembrete A Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) confere a todo cidadão o direito à saúde pública gratuita. O Sistema Único de Saúde (SUS), organização administrativa destinada à promoção da saúde pública brasileira, cujo acesso deve ser universal e igualitário, constitui-se como uma rede regionalizada e hierarquizada, organizando-se de acordo com as diretrizes estabelecidas pela própria Constituição Federal de 1988 (arts. 196, 197 e 198). 23 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR O princípio da universalidade não está expresso em dispositivo constitucional, mas é facilmente extraído do art. 196 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que prevê o acesso universal às ações e serviços de saúde, o que possibilita o ingresso de qualquer pessoa no Sistema Único de Saúde (SUS). Saiba mais Conheça mais sobre o tema lendo o texto a seguir: MOURA, E. S. de O direito à saúde na Constituição Federal de 1988. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/25309>. Acesso em: 22 ago. 2014. 1.3.1 Conceito de unidade hospitalar Segundo Santos e Bursztyn (2004), a arquitetura hospitalar vem diversificando seu foco de atenção, visto que, por diferentes razões, o próprio modelo de atenção médica está passando por profundas transformações. O extraordinário desenvolvimento tecnológico que revolucionou a medicina no século XX fez do hospital o local privilegiado da prática médica. O edifício hospitalar precisava abrigar convenientemente e incorporar de forma contínua os inesgotáveis equipamentos para investigação, diagnóstico e terapia. Considerando essa perspectiva, há grande variedade de tipos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde(EAS), que se diferenciam quanto à resolubilidade, ao porte, à tipologia e à área adscrita, atributos que, em conjunto, definem o que chamamos de perfil de uma unidade hospitalar. Observação Resolubilidade é a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível de sua competência. Segundo Toledo (2008, p. 47) o critério para que um EAS seja classificado como um hospital, qualquer que seja o seu perfil, é, de uma maneira geral, sua capacidade de “internar” os pacientes por um curto período, como ocorre nos Serviços de Pronto-Atendimento (SPAs), ou por longos períodos, nos hospitais de apoio, de crônicos ou em unidades especializadas na recuperação de agravos ao aparelho locomotor, como as que integram a Rede Sarah. A Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação é constituída por nove unidades hospitalares localizadas em Brasília (DF) — com um hospital e um Centro Internacional de Neurociências 24 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I e Reabilitação —, Salvador (BA), São Luís (MA), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro (RJ), Macapá (AP) e Belém (PA). De acordo com as informações no site da rede, cada um desses hospitais representa um espaço para reprodução e aperfeiçoamento dos princípios, conceitos e técnicas consolidados ao longo do tempo pelo Sarah Brasília. Os conceitos agregados e aplicados, no cotidiano, pelos profissionais que atuam naquela instituição transformaram o Sarah em centro de referência nacional e internacional. Os hospitais da rede caracterizam-se por uma cuidadosa integração de sua concepção arquitetônica aos princípios de organização do trabalho e aos diferentes programas de reabilitação, definidos conforme os indicadores epidemiológicos da região em que cada unidade está inserida. Dessa integração resultam, por exemplo, os amplos espaços dos hospitais Sarah, com seus solários e jardins, buscando sempre a humanização do ambiente hospitalar e as enfermarias coletivas, com o sistema de “assistência progressiva”, com aproveitamento otimizado dos recursos disponíveis. Esse sistema, pela primeira vez implantado no Brasil, data das origens do Projeto, caracterizando-se pela possibilidade de manter o paciente em locais de maior ou menor concentração de recursos humanos e materiais. Surgiu desse conceito a criação do Primeiro Estágio, em que permanecem os doentes que necessitam de cuidados intensivos e frequentes, com a característica de permitir a presença de seus familiares. Observamos que os ambientes foram cuidadosamente preparados para os pacientes das diversas especialidades médicas e terapêuticas, com piscinas, ginásios para fisioterapia, unidades de exames complementares ao diagnóstico, blocos de serviços operacionais, dentre vários outros espaços. Os hospitais da Rede Sarah estão interligados por tecnologias de telecomunicação desde 1997. Diagnósticos de patologias, casos e exames podem ser discutidos conjuntamente, em tempo real, por meio de videoconferência, pelas equipes das diversas unidades, multiplicando o potencial e o conhecimento do staff. Também se podem consultar todos os prontuários, que são eletrônicos (informatizados), de qualquer outra unidade, promovendo o mesmo nível de qualidade de atendimento em toda a rede e permitindo permanentes interconsultas e programas de atualização. Saiba mais Para conhecer os projetos arquitetônicos da Rede Sarah, visite o site a seguir: CENARH – Centro Nacional de Recursos Humanos. [s.d.]. Disponível em: <http://www.sarah.br/Cvisual/Sarah/indexRH.html>. Acesso em: 2 set. 2014. 25 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR 2 TIPOLOGIA DAS UNIDADES HOSPITALARES Vamos analisar como são classificados os tipos de estabelecimentos de saúde. 2.1 Classificação Datasus De acordo com o Portal Saúde do Datasus, os tipos de estabelecimentos de saúde são classificados conforme o quadro a seguir: Quadro 1 Posto de Saúde • Unidade destinada à prestação de assistência a uma determinada população, de forma programada ou não, por profissional de nível médio, com a presença intermitente ou não do profissional médico. Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde • Unidade para realização de atendimentos de atenção básica e integral a uma população, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais de nível superior. A assistência deve ser permanente e prestada por médico generalista ou especialista nessas áreas, podendo ou não oferecer SADT e Pronto-Atendimento 24 Horas. Policlínica • Unidade de saúde para prestação de atendimento ambulatorial em várias especialidades, incluindo ou não as especialidades básicas, podendo ainda ofertar outras especialidades não médicas. Pode ou não oferecer SADT e Pronto-Atendimento 24 Horas. Hospital Geral • Hospital destinado à prestação de atendimento nas especialidades básicas, por especialistas e/ou outras especialidades médicas. Pode dispor de serviço de Urgência/Emergência. Deve dispor também de SADT de média complexidade. Pode ter ou não Sipac. Hospital Especializado • Hospital destinado à prestação de assistência à saúde em uma única especialidade/área. Pode dispor de serviço de Urgência/Emergência e SADT. Pode ter ou não Sipac. Geralmente de referência regional, macro regional ou estadual. Unidade Mista • Unidade de saúde básica destinada à prestação de atendimento em atenção básica e integral à saúde, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais, com unidade de internação, sob administração única. A assistência médica deve ser permanente e prestada por médico especialista ou generalista. Pode dispor de Urgência/Emergência e SADT básico ou de rotina. Geralmente nível hierárquico 5. Pronto-Socorro Geral • Unidade destinada à prestação de assistência a pacientes com ou sem risco de vida, cujos agravos necessitem de atendimento imediato. Pode ter ou não internação. Pronto-Socorro Especializado • Unidade destinada à prestação de assistência em uma ou mais especialidades a pacientes com ou sem risco de vida, cujos agravos necessitam de atendimento imediato. Consultório Isolado • Sala isolada destinada à prestação de assistência médica ou odontológica ou de outros profissionais de saúde de nível superior. Unidade Móvel Fluvial • Barco/navio equipado como unidade de saúde, contendo, no mínimo, um consultório médico e uma sala de curativos, podendo ter consultório odontológico. Clínica Especializada/ Ambulatório Especializado • Clínica especializada destinada à assistência ambulatorial em apenas uma especialidade/área da assistência. (Centro Psicossocial/ Reabilitação) 26 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Unidade de Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia • Unidades isoladas onde são realizadas atividades que auxiliam na determinação de diagnóstico e/ou complementam o tratamento e a reabilitação do paciente. Unidade Móvel Terrestre • Veículo automotor equipado, especificamente, para prestação de atendimento ao paciente. Unidade Móvel de Nível Pré-hospitalar na Área de Urgência e Emergência • Veículo terrestre, aéreo ou hidroviário destinado a prestar atendimento de urgência e emergência préhospitalar a paciente vítima de agravos a sua saúde.(PTMS/GM 824, de 24 jun. 1999). Farmácia • Estabelecimento de saúde isolado em que é feita a dispensação de medicamentos básicos/essenciais (Programa Farmácia Popular) ou medicamentos excepcionais / de alto custo previstos na Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Unidade de Vigilância em Saúde • Estabelecimento isolado que realiza trabalho de campo a partir de casos notificados e seus contatos, tendo como objetivos: identificar fontes e modo de transmissão; identificar grupos expostos a maior risco; verificar fatores determinantes; confirmar o diagnóstico; e determinar as principais características epidemiológicas, orientando medidas de prevenção e controle a fim de impedir a ocorrência de novos eventos, e/ou o estabelecimento de saúde isolado responsável pela execução de um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. Cooperativa • Unidade administrativa que disponibiliza seus profissionais cooperados para prestarem atendimento em estabelecimento de saúde. Centro de Parto Normal Isolado • Unidade intra-hospitalar ou isolada, especializada no atendimento da mulher no período gravídico puerperal, conforme especificações da PT/ MS 985/99. Hospital/Dia- Isolado • Unidade especializada no atendimento de curta duração com caráter intermediário entre a assistência ambulatorial e a internação. Central de Regulação de Serviços de Saúde • Unidade responsável por avaliação, processamento e agendamento das solicitações de atendimento, garantindo o acesso dos usuários do SUS, mediante um planejamento de referência e contrarreferência. Laboratório Central de Saúde Pública - Lacen • Estabelecimento de Saúde que integra o Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública — Sislab, em conformidade com normalização vigente. Secretaria de Saúde • Unidade gerencial/administrativa e/ou que dispõe de serviços de saúde, como vigilância em Saúde (vigilância epidemiológica e ambiental, vigilância sanitária) e regulação de serviços de Saúde. Fonte: Brasil ([s.d.]). Observação Esse quadro foi alterado em conformidade com a Portaria nº 115, de 19 de maio de 2003, a Portaria nº 745, de 13 de dezembro de 2004, a Portaria nº 333, de 23 de junho de 2005, e a Portaria nº 717, de 28 de setembro de 2006. Em contrapartida, Toledo (2008, p. 47) destaca que além da resolubilidade e do porte, a tipologia de cada unidade hospitalar diferencia as edificações hospitalares. Um hospital pediátrico, uma maternidade, 27 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR uma unidade que se dedica à reabilitação motora ou à oncologia apresentam diferenças programáticas significativas. Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa, via internet, e observe a arquitetura dos hospitais de sua região (Estado, Município). Para efeito de entendimento, vamos analisar a classificação, segundo Toledo (2008, p. 47), para os Hospitais Gerais, de Referência, de Apoio, Especializados e as Unidades Mistas. 2.2 Hospitais Gerais São unidades que têm por objetivo atender pacientes necessitados de assistência médica geral. Quando de alta resolubilidade, o hospital é dotado de um forte Apoio ao Diagnóstico, constituído pelas Unidades de Imagenologia (Raios X, Tomógrafo, Ressonância Magnética) de Métodos Gráficos, Endoscopia, Laboratórios de Análises Clínicas e Anatomopatologia etc.; e ao Tratamento, constituído por Centro Cirúrgico, Unidades de Tratamento Intensivo, Emergência/Pronto-Atendimento, Internação Infantil, Obstetrícia, Cirurgia e Clínica Médica. Um exemplo de Hospital Geral é o de Nova Iguaçu. Situado no Rio de Janeiro, o Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI), conhecido como Hospital da Posse, é uma unidade da rede municipal de saúde de Nova Iguaçu, com funcionamento 24 horas. Realiza atendimentos de urgência e emergência com média e alta complexidade, tanto clínicos quanto cirúrgicos. Figura 5 – Fachada do HGNI Outro exemplo é o Hospital da Cruz Vermelha, situado em Curitiba, no Paraná. Trata-se de um hospital geral de alta complexidade, referência em procedimentos médicos e cirúrgicos, entre os quais: Emergências Cardíacas, Transplante Renal, Ortopedia, Cirurgia Geral e Cirurgia para Obesidade. O Centro de Diagnósticos por Imagem disponibiliza exames desde radiografias a estudos cardiológicos, vasculares, neurológicos, urinários, ginecológicos e outros. Possui UTI moderna e humanizada, avançado centro cirúrgico e alto grau de especialização das equipes médicas que fazem do Hospital da Cruz Vermelha do Paraná um dos principais centros de saúde do Estado. 28 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Saiba mais Conheça as diferenças do Brasil na questão do atendimento à saúde por meio de fotos no documento a seguir: BRASIL. Ministério da Saúde. O SUS em fotos. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ sus_fotos_promocao_saude.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2014. 2.3 Hospitais de emergência Esse tipo de hospital caracteriza-se pela ênfase dada às Unidades de Emergência, Centro Cirúrgico, Tratamento Intensivo e, em algumas unidades, Internação de Queimados. Segundo Ferrer e Toledo (2011), ao se projetar uma Unidade de Urgência e Emergência, cabe ao arquiteto tomar o que se poderia chamar de aprimoramento do desenho dessas complexas áreas funcionais, que têm como principais objetivos atender às urgências e emergências e a todas as intercorrências que delas decorrem. Dentre as diversas unidades funcionais que compõem o edifício hospitalar, as Emergências são as que mais necessitam de flexibilidade arquitetônica, já que seu modelo de funcionamento poderá sofrer constantes mudanças, tanto pela incorporação de novas tecnologias quanto pela orientação dada por diferentes equipes de saúde. Dessa forma, cabe ao arquiteto garantir essa flexibilidade por meio de soluções arquitetônicas, como a adoção de pavimentos técnicos, paredes removíveis e outros detalhes arquitetônicos que permitam alterar, com facilidade e menor custo, o layout e a infraestrutura da unidade. Vejamos o exemplo do Hospital HCFMRP-USP, que conta com Unidade de Emergência (UE) que funciona em regime de plantão permanente, sendo referência, prioritariamente terciária, para pacientes em situação de urgência ou emergência médica. Figura 6 – Fachada do HCFMRP - SP 29 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR Lembrete Entende-se por terciário o nível de atendimento em que são tratados os casos mais complexos do sistema, bem como prestadas as atenções dos níveis ambulatorial, de urgência e de internação. 2.4 Hospitais especializados Dedicam-se ao diagnóstico e, principalmente, ao tratamento e à recuperação de pacientes com patologias crônicas e específicas, tais como os hospitais de tráumato-ortopedia, oncologia, cardiologia etc, ou ainda unidades voltadas para o tratamento de pacientes portadores de doenças infectocontagiosas. Temos como exemplos o Hospital do Câncer de Uberlândia e o Hospital Emílio Ribas. Figura 7 – Hospital do Câncer de Uberlândia-MG 2.5 Unidades Mistas Segundo Góes (2011), as Unidades Mistas são projetadas para agrupamentos populacionais entre 10 mil e 20 mil habitantes. Devem ser implantadas em regiões onde o custo para a instalação de hospital regional etc. seja oneroso. De um modo geral, seuatendimento caracteriza-se por ações ambulatoriais nas quatro clínicas básicas e em internação. Possui laboratório de patologia clínica e equipamentos básicos de radiodiagnóstico. Sua estrutura, acrescida da internação, é semelhante à de um centro de saúde. Em algumas regiões e localidades, a internação da Unidade Mista destina-se mais às parturientes de parto normal e permanência máxima de 24 horas, com no máximo 16 leitos. EAS que alia serviços de atendimento primário, típicos de postos ou centros de saúde, com apoio ao diagnóstico de baixa complexidade, centro cirúrgico/obstétrico conjunto e pequena capacidade de internação. 30 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Um exemplo é a Unidade Mista de Taguatinga (UMT) que pretende aumentar o número de atendimentos, após revitalização do local e ampliação de serviços prestados à população local e, somente no período de janeiro a junho de 2013, atendeu 504 mil pacientes. Lembrete A atenção primária é uma parte integrante do sistema de saúde nacional, sendo sua função central o desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Ela representa o primeiro nível de contato dos indivíduos, das famílias e da comunidade com o sistema de saúde nacional, aproximando-a de cuidados de saúde possíveis, onde as pessoas vivem e trabalham, e é o primeiro elemento de um processo contínuo de cuidados de saúde. Vale destacar que em algumas regiões a única alternativa de atendimento de saúde são essas Unidades Mistas, portanto as políticas públicas voltadas à área de saúde devem contemplar projetos de modernização dessas unidades. Para iniciar o projeto de alguma edificação hospitalar, é preciso conhecer as necessidades da população a ser assistida. As políticas governamentais, na elaboração dos seus planos, devem contemplar essas medidas. Na iniciativa privada, a decisão recai sobre as questões de mercado; no entanto, levam-se em conta as pesquisas sobre as demandas a serem atendidas em determinada região, classe social etc. Com a política de humanização, a preocupação com espaços que possibilitem o cuidado à saúde tem ocupado os estudos preliminares na decisão de construção de edificações hospitalares. No artigo de Fontes é citado que a abordagem do espaço arquitetônico como propiciador do bem-estar físico e emocional de seus usuários tem merecido crescente valorização nos processos de planejamento em saúde pública. O conceito de humanização do atendimento tem sido largamente aplicado nos mais recentes projetos em arquitetura da saúde, representando o desdobramento de um novo enfoque, centrado no usuário, que passa a ser atendido de forma holística, como parte de um contexto, e não mais como um conjunto de sintomas e patologias a serem estudadas pelas especialidades médicas. Saiba mais Conheça mais sobre a Política de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH acessando o site a seguir: <http://portalsaude.saude.gov.br/>. 31 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR 2.6 O processo de projetar O processo de projetar edifícios hospitalares requer uma programação detalhada, bem como planejamento de todas as etapas que irão compor o projeto arquitetônico. O primeiro passo é a coleta de informações e a identificação das necessidades; em seguida, a interpretação e análise da informação que levarão à formulação e à concepção para desenvolvimento de alternativas, permitindo, dessa forma, a tomada de decisão pelo gestor. O quadro a seguir demonstra essa etapa: Quadro 2 Coleta de informações Identificação de necessidades/coleta de dados Interpretação Análise da informação/identificação de instrumentos Formulação Concepção e desenvolvimento de alternativas Implementação Tomada de decisão Para a tomada de decisão, o gestor deve levar em conta os recursos disponíveis destinados à construção, reforma e/ou manutenção de estabelecimentos de saúde e saber priorizar a utilização desses recursos, considerando que os espaços e requisitos são diferenciados, haja vista que cada estabelecimento agrupa uma série de unidades e departamentos que realizam atividades específicas e requerem instalações diferenciadas. Segundo Weidle (1995), para que tais funções possam ser exercidas adequadamente, é preciso que estabelecimentos de saúde permaneçam atualizados. Em outras palavras, que acompanhem os progressos técnicos, médicos e de administração hospitalar, que respondam adequadamente às pressões socioeconômicas e às necessidades assistenciais, contínuas características de uma realidade em desenvolvimento como a brasileira. O autor afirma que algumas áreas são propensas a mudanças mais significativas, em especial, as áreas de Diagnóstico e Terapia, motivadas pelos avanços tecnológicos, que impulsionam a atualização dos equipamentos – o que pode demandar a adaptação de espaços – e a necessidade de um planejamento eficaz para não impactar as atividades do hospital. O gestor deve considerar esses aspectos para a adaptação de novos equipamentos, gerados pela mudança e/ou pela adequação de processos nas diversas funções exercidas no estabelecimento de saúde. Deve considerar também a otimização e a maximização dos recursos disponíveis, utilizando-os de forma eficiente e eficaz. Alguns aspectos devem ser considerados no processo construtivo, em especial quanto a sua funcionalidade. 32 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Entende-se por funcionalidade a análise do desempenho do sistema construtivo, permitindo a adaptação do espaço de acordo com as necessidades de uso ao longo do tempo. O aspecto da funcionalidade envolve flexibilidade, racionalidade e construção, o que permitirá ao hospital manter a sua função de atendimento diário. Flexibilidade Racionalidade Construção Figura 8 – Fluxograma de funcionalidade hospitalar A seguir, vamos definir esses conceitos. Quando falamos em flexibilidade, devemos considerar a capacidade de adaptação dos novos espaços construídos às necessidades hospitalares, ou seja, a própria expansão da construção. Se um estabelecimento de saúde necessitar ampliar as suas instalações para promover um melhor atendimento ou em decorrência do crescimento dos serviços prestados, essas alterações deverão ocorrer de forma rápida, sem interrupção do funcionamento hospitalar. Ainda de acordo com Weidle (1995), a possibilidade de mudanças previstas em um determinado projeto podem ser amplificadas por meio de requisitos, em que devem ser considerados os seguintes aspectos: • regularidade e modulação das estruturas, de acordo com as características, disposições e dimensões; • espaços padronizados, o que permite uma maior possibilidade de mudança, sem alterações físicas desnecessárias; • a adoção de construções modulares, que permitirá otimizar tempo e custos. • ao planejar uma unidade hospitalar, pensar, também, na possibilidade de sua ampliação. Como exemplo, citamos o caso do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, que, para atender aos critérios de modernização e conforto, adotou moldes de hotelaria hospitalar de alto padrão para a reforma dos quartos. As salas do novo Centro Cirúrgico ocupam dois andares do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, em uma área de 5.400 mil metros quadrados. Todas foram projetadas para a realização de cirurgias de média e alta complexidade, além de procedimentos minimamente invasivos com sistema de vídeo, monitores suspensos, sistema de roteamento de imagens e gravação digital. As instalações foramprojetadas dentro dos mais modernos padrões internacionais. 33 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR A modernização incluiu a adaptação de móveis com medidas especiais e estrutura para pacientes obesos, como poltronas reclináveis feitas em aço, carbono e pintura eletrostática que evita corrosão, cadeiras higiênicas de aço inox, maca para transporte com cilindro de oxigênio, cadeiras de rodas e camas com colchão D-33 para até 350 quilos. Saiba mais Visite o site do hospital Beneficência Portuguesa para conhecer as mudanças citadas: <http://www.beneficencia.org.br>. Outro aspecto importante a ser tratado no sistema construtivo é a racionalidade, ou seja, a capacidade de proporcionar a máxima eficiência na utilização dos recursos utilizados. Para tanto, a primeira etapa do processo de racionalização consiste na coordenação dos trabalhos, por meio de equipes multidisciplinares que envolvam projetistas, equipe médica, administradores hospitalares e demais participantes do processo O acompanhamento de cada fase do projeto do sistema construtivo é fundamental para a concretização de uma edificação hospitalar. Todas as etapas previstas do projeto devem atender a requisitos preestabelecidos para sua construção. Resumo Vimos nesta unidade qual é a importância da concepção de atendimento à saúde e seus impactos nas políticas que norteiam o desenvolvimento dessa área para o atendimento à sociedade. Com a evolução do Sistema Único de Saúde e o aumento da demanda por serviços especializados, o planejamento, a execução e a manutenção dos serviços de saúde, na construção de novas unidades e/ou na preservação das unidades existentes, requer das autoridades ações que possam viabilizar os projetos de arquitetura hospitalar, com vistas ao atendimento da população. Para tanto, faz-se necessário entender o processo de funcionamento da rede hospitalar do Brasil, para a implementação de projetos construtivos que tragam resultados de melhoria no atendimento à saúde. 34 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Observamos no decorrer desta unidade que a tipologia para definir os hospitais é diferente de região para região, bem como o conhecimento das demandas da sociedade local para a qual a obra será destinada. Dessa forma, a definição do uso eficiente e eficaz dos recursos disponíveis, tanto na administração privada quanto na pública, é de fundamental importância para as tomadas de decisão. Conhecer as necessidades do Município, do Estado e da União faz parte das competências do gestor para viabilizar a construção de estabelecimentos de saúde sustentáveis, preservando o atendimento, o conforto e a satisfação dos usuários desses serviços. Exercícios Questão 1. Leia o texto: As propostas contidas na Resolução Ciplan nº 3/1981 foram substituídas pelas atuais diretrizes do SUS, que colocam as informações epidemiológicas próprias de cada localidade como fator determinante no planejamento e na programação dos serviços de saúde. Por isso, atualmente não há parâmetros predeterminados a serem seguidos. Anteriormente, os critérios estabelecidos na Resolução Ciplan nº 3/1981 para o dimensionamento de necessidades de adequação da rede, fixação dos limites de complexidade dos níveis de atenção, estrutura do módulo de atenção, tipos de estabelecimentos, dimensionamento das necessidades de recursos humanos e materiais, articulação entre os estabelecimentos do módulo de atenção e eleição de prioridades para expansão da rede seguiam uma orientação que se baseava prioritariamente em dados demográficos e tipologias de estabelecimentos de saúde preestabelecidas em função de programas fixos de prestação de serviços. Fonte: FERREIRA (2009, p. 22). Avalie as afirmativas a seguir. I – O planejamento e a programação dos serviços de saúde devem ser baseados em dados estatísticos confiáveis e prioritários, como informações sobre a demografia. II – Houve uma mudança de diretriz no planejamento e na programação dos serviços de saúde, que passaram a considerar problemas e informações dos locais onde eles serão implantados. III – As tipologias de EAS, planejadas em função de programas fixos de prestação de serviços, não incorporavam necessidades específicas dos locais onde elas eram implantadas. 35 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 ESTRUTURA E ARQUITETURA HOSPITALAR IV – Atualmente, recomenda-se que a eleição de prioridades para a expansão da rede física de EAS seja baseada em aspectos epidemiológicos característicos das áreas de atendimento, dentre outros dados. De acordo com o texto, assinale a alternativa correta: A) As afirmativas I, II e III estão corretas. B) As afirmativas II, III e IV estão corretas. C) As afirmativas I, III e IV estão corretas. D) As afirmativas III e IV estão corretas. E) As afirmativas I, II e IV estão corretas. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: apesar de ser correto afirmar que o planejamento e a programação de EAS devem basear-se em informações confiáveis, o texto do enunciado diz que os dados demográficos não são necessariamente os que devem ser usados atualmente, nem são prioritários. II – Afirmativa correta. Justificativa: houve uma mudança de direção nas diretrizes para implantação da rede física de EAS, e isso foi feito para privilegiar aspectos específicos dos locais onde ela será implantada, como está descrito nas últimas linhas do texto. III – Afirmativa correta. Justificativa: as tipologias preestabelecidas são aquelas elaboradas a partir de programas arquitetônicos fixos. Por isso, esse tipo de projeto era preparado sem reconhecer características específicas dos locais de implantação de EAS. IV – Afirmativa correta. Justificativa: a eleição de prioridades para a expansão da rede física de EAS é um dos aspectos que, de acordo com as atuais diretrizes do SUS, devem ser baseados nas informações epidemiológicas próprias de cada localidade. 36 GH OS P - Re vi sã o: M ar ia E . - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 09 /1 4 Unidade I Questão 2. Uma vertiginosa dinâmica é inerente à própria natureza das atividades desenvolvidas no edifício hospitalar. Grandes mudanças na área médica e o avanço tecnológico, seja nas técnicas terapêuticas, seja na própria construção do edifício hospitalar e na sua manutenção, têm pressionado mudanças na forma de conceber hospitais. Eles devem ser cada vez mais rapidamente adaptados e adaptáveis, tanto no que diz respeito à alteração de uso e à introdução de novas instalações e equipamentos quanto no que concerne a mudanças espaciais de adaptação ou de expansão (BRASIL, 1995, p. 31). Considerando as características das edificações hospitalares apresentadas no texto, avalie as afirmações a seguir: I – Os edifícios hospitalares compactos facilitam as modificações construtivas e funcionais ao longo do tempo. II – A padronização estrutural e construtiva de edifícios hospitalares facilita a adaptação desses edifícios a novas funções. III – O lançamento estrutural de um edifício hospitalar deve obedecer à organização espacial proposta pelo primeiro programa funcional. IV – A autonomia da estrutura, da vedação e das instalações, nos edifícios hospitalares, facilita a incorporação de avanços tecnológicos da área médica. Assinale a alternativa correta: A) As afirmativas I e II estão corretas. B) As afirmativas II e IV
Compartilhar