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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 1 PROBLEMA 04 – “HOSPITAL, NUNCA MAIS” 1. Caracterizar as ITUs com ênfase na classificação entre alta e baixa, fatores de risco, principais agentes etiológicos, quadro clínico e antibioticoterapia indicada. A infecção do trato urinário é definida pela presença de microorganismo patogênico detectado na urina, na uretra, na bexiga, no rim ou na próstata. Em alguns casos podem manifestar os sintomas mesmo na ausência de identificação do agente etiológico. De forma conceitual as ITUs podem ser divididas entre duas categorias de acordo com a sua localização anatômica: (1) baixa são cistites, ureterites e prostatites; (2) alta são pielonefrite e abscessos perinefréticos. Quanto ao quadro clínico elas podem ser sintomáticas ou assintomáticas. Quanto as evoluções podem ser classificadas como não complicada (normalmente quando o paciente não apresenta nenhuma função ou estrutura do trato urinário alterada), e complicadas em que há obstruções ou alterações anatomofuncionais e condições que aumentam o risco desses pacientes. Não podemos esquecer das doenças sistêmicas do hospedeiro que podem contribuir para maior suscetibilidade ao aparecimento de ITU, tais como: insuficiência renal crônica, diabetes mellitus e transplante renal. As infecções de trato urinário recorrem após o tratamento com antibiótico, podendo ainda serem classificadas como recorrentes em pacientes que apresentam várias infecções com cepas diferentes, enquanto podemos classificar como recidiva quando se trata da mesma cepa. Lembrar que é bastante complicado distinguir de qual cepa estamos tratando, pois a essa região perineal apresenta uma microbiota bastante variada. EPIDEMIOLOGIA As infecções trato urinário são bastante comuns, pois representam 5% das consultas ambulatoriais em hospitais. Elas são mais prevalentes em crianças até 6 anos de idade, mulheres jovens com vida sexual ativa e idosos. Uma curiosidade é que na infância, até o primeiro ano de vida o sexo masculino apresenta maior prevalência, devido ao maior número de malformações congênitas. Após esse período a situação se inverte, conferindo uma alta prevalência no sexo feminino o qual pode alcançar a proporção de 20:1. Dados, mostram que 50% das mulheres terão em algum momento da vida pelo menos um episódio de ITU. Esta maior suscetibilidade de infecção em mulheres se deve ao fato delas possuírem uma uretra mais curta e de maior proximidade com a região vaginal. As ITUs normalmente são causadas por bactérias gram-negativas oriundas da microbiota intestinal. A principal delas é a Escherichia coli responsável por 80% das infecções agudas sem cateteres ou alterações antomofuncionais. Outras agentes menos importantes são: Klebsiella sp (síntese de matriz extracelular e polissacarídeos que predispõem a formação de cálculos); Proteus sp (produção de uréase envolvida no processo de formação de cálculo renal); e Enterobacter sp. Gram-positivos apresentam um papel secundário e de menor relevância mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 2 clínica, sendo representados pelo Staphylococcus saprophyticus. Um dado importante é que um terço das mulheres jovens apresentam quadro de disúria e urgência miccional com número insignificante bactérias ou urina estéril, sendo os principais germes responsáveis por esse quadro: Chamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Neisseria gonorrhoeae e herpes vírus. Como sabemos a região perineal é composta por uma microbiota bastante variada, composta por lactobacilos, streptococcos e estafilococos. Esses microrganismos colonizam a uretras e a partir daí podem alcançar a bexiga. Além desse mecanismo de via ascendente, temos a via hematogênica a qual é responsável por uma parte das ITUs, principalmente quando há obstrução do fluxo urinário. Algumas condições do próprio hospedeiro tornam o mesmo mais susceptível à infecções no trato urinário, são elas: a) O gênero e a atividade sexual. Como foi dito a uretra feminina é mais susceptível à colonização de bacilos gram-negativos, devido sua proximidade com o ânus. Além disso, a atividade sexual pode introduzir a bactéria na bexiga. Quando ao sexo masculino a prostratite e obstrução ureteral por hipertrofia prostática são fatores predisponentes de bacteriúria. b) A gravidez é responsável pelo aumento da susceptibilidade de infecções. Normalmente, uma gestante apresenta uma ITU assintomática, podendo ou não evoluir para sintomática caso não seja tratado. Isso porque há uma modificação da posição da bexiga, aumento da capacidade vesical devido à redução do tônus vesical e relaxamento da musculatura lisa da bexiga. c) A obstrução do fluxo urinário causado por litíase, tumor, estenose ou hipertrofia prostática resultam em estase urinária, aumento da proliferação bacteriana e distensão vesical. d) A bexiga neurogênica consiste em uma disfunção neuromotora da bexiga que ocorre em lesões na medula espinal como: tabes dorsalis, esclerose múltipla e diabetes mellitus. O uso de cateteres para drenagem da urina também aumenta a chance de desenvolvimento de contaminação do trato urinário. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da ITU é bastante variável e possui sinais e sintomas sugestimos. As queixas como disúria e desconforto abdominais podem estar presentes o que podem ajudar a distinguir se estamos diante de uma ITU baixa ou alta. O desenvolvimento de febre alta e queda do estado geral praticamente exclui a hipótese de infecção urinária baixa, exceto nos casos de prostatite aguda quando há a formação de abscessos. A maior dificuldade na interpretação desses sinais e sintomas é quando o paciente não consegue relatar o que sente, desse modo crianças menores que 2 anos, indivíduos debilitados ou comatosos e idosos é um grupo que apresenta maior dificuldade de estabelecer o diagnóstico. A. ITU BAIXA A ITU baixa tem como principais causas a cistite aguda, uretrite, prostatite e epididimite. A cistite aguda é a mais comum, sendo manifestada pela presença de disúria (dor à micção), associada à polaciúria (aumento da frequência urinária), dor suprapúbica associada à infecção da bexiga. A cistite pode evoluir com hematúria em 30% dos casos. Ao exame físico mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 3 é comum perceber a dor à palpação do hipogastro. Cabe ressaltar que a cistite estabelece um importante diagnóstico diferencial com a vaginite. Isso porque a vaginite se manifesta por disúria externa (labial) associado a corrimento vaginal e prurido. A ureterite acomete em pequena parcela as mulheres. Apresenta-se com um quadro clínico idêntico com a cistite aguda (disúria e polaciúria). A principal diferença é a urinocultura negativa. Os principais agentes são Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e o vírus herpes-simplex. Os fatores de risco para essa infecção é a troca recente de parceiro sexual ou promiscuidade. A prostatite acomete 50% dos homens durante a vida adulta. Elapode ser dividida em prostatite bacteriana aguda, prostatite bacteriana crônica e síndrome da dor pélvica crônica. A aguda apresenta um quadro drmático com febre alta e calafrios associados aos sintomas de obstrução urinária. O TOQUE RETAL DEVE SER EXTREMAMENTE CUIDADOSO, pois as manobras, massagem prostática, põem resultar em sepse caso haja a presença de abcesso (principal complicação). A crônica se assemelha com o quadro agudo só que de forma mais branda. Ela está mais presente em homens mais velhos com quadros de infecção urinária recorrente. O toque retal pode revelar a presença de HPB. A dor pélvica crônica consiste em uma dor perineal que irradia para a lombar e hipogastro, acompanhada de sintomas urinário e dor à ejaculação. A epididimite consiste em dor e edema no epidídimo e testículo. Pode se apresentar concomitantemente com a uretrite associada a presença de secreção uretral mucopurulenta. O testículo afetado se encontra aumentado e doloroso. O principal diagnóstico diferencial nesses casos é com a torção de testículo. Através da manobra de elevação testicular (sinal de Prehn) há uma melhora no quadro doloroso nos casos de epididimite. B. ITU ALTA: A PIELONEFRITE A ITU alta se caracteriza pela presença de febre alta, calafrios e dor lombar. Os pacientes quando acometidos apresentam-se toxêmicos, com queda do estado gral e sintomas inespecíficos como cefaleia, náuseas, vômitos e diarreia. A dor lombar resulta na distensão da cápsual renal a qual pode se irradiar para o abdômen e dificultar o diagnóstico. A irradiação para virilha sugere a existência de obstrução ureteral (nefrolitíase). A ITU alta pode se apresentar concomitantemente com a ITU baixa em 30% dos casos. Um grupo de pacientes especiais (idosos, diabéticos, urêmicos ou imunodeprimidos) pode apresentar um quadro de pielonefrite oligossintomática com febre ou com dor lombar. O sinal de Giordano está presente na maioria dos casos o qual traduz uma dor intensa derivada dos movimentos do rim inflamado durante a onda de choque. A principal complicação dos casos de pielonefrite é a sua evolução com sepse. Há a presença de uma importante fonte de bacteremia por Gram-negativos, quando a urinocultura e a hemocultura são positivas para os mesmos germes. Lactentes, idosos, imunodeprimidos e diabéticos são os pacientes que possuem maior risco. A terapia costuma ser boa nesses casos, caso não haja obstrução urinária ou presença de abscesso. mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 4 TRATAMENTO Os tratamentos para as cistites podem ser subdivididos de acordo com sua apresentação clínica: complicada e não complicada. A forma não complicada em mulheres pode ser tratada com esquema de antimicrobianos por três dias, menor frequência de efeitos colaterais e custo e efetividade mais eficaz comparável aos esquemas mais prolongados. O tratamento empírico consiste no uso de fluorquinolona – nomofloxacino (400 mg, via oral a cada 12 horas), ou sulfonamidas como sulfametoxazol-trimetoprim. Além de fosfomicida (3 g em pó diluído num copo d’água antes de dormir em dose única), amoxicilina (250 mg 12/12h) e cefalexina (500 mg 6/6h) ou cefadroxil (500 mg 12/12h). Cabe destacar que nestes casos não há a necessidade de urinocultura nem antes, nem depois da antibioticoterapia. Quanto à forma complicada o tratamento empírico inicial deve ser de amplo espectro por 7 a 14 dias. Posteriormente, deve- se adequar a terapia, reduzindo o espectro e utilizando alternativas mais baratas. Para tanto, recomenda-se o uso de fluorquinolonas – ciprofloxacino (500 mg, via oral, a cada 12 horas) ou levofloxacino (500 mg, via oral, a cada 24 horas). Quando há presença de cocos gram-positivos pode associar ampicilina (1 g, via oral, a cada 8 horas) ou amoxacilina (500 mg, via oral, a cada 8 horas). Em gestantes, sugere-se o uso de cefalexina (500 mg, via oral, a cada 6 horas). Nestes casos espera-se a melhora após 48 horas após o início da terapêutica adequada. Caso isso não ocorra, deve-se realizar novas culturas e exames de imagens para investigar o caso em questão. Em pacientes com pielonefrite aguda não complicada a conduta é internamento para início de terapia parenteral em casos de incapacidade de ingerir líquidos (episódios frequentes de vômitos). A terapia empírica inicial deve ser o uso de antibióticos que atingem níveis teciduais elevados como fluoroquinolonas (ciprofloxacino ou levofloxacino) ou uso de ceftriaxone no caso de terapia intravenosa. Outra proposta seria o uso de dose única de aminoglicosídeos, com ressalva a seu potencial nefrotoxicidade. Após horas de início da terapia intravenosa com antibioticoterapia oral, na ausência de melhora deve-se realizar exame de imagem para afastar uropatia obstrutiva ou presença de abscessos renais ou perirrenais. A terapia antimicrobiana dura 14 dias ou em caso de resposta lenta, pode dura até 21 dias. Recomenda-se a realização de culturas urinárias após o término do tratamento. Pacientes com pielonefrite complicada são hospitalizados para receber antibioticoterapia com uso de fluoroquinolona (ciprofloxacino ou levofloxacino), via oral em pacientes com doença leve a moderada, ou intravenosa até determinação final de urocultura. Após 48 horas da administração do esquema antibiótico intravenoso deve-se passar para a via oral. Como esses pacientes apresentam uma prevalência alta de ITU estafilocócica é prudente a utilização de vancomicina caso haja identificação de cocos gram-positivos na urina. A terapia é recomendada até 14 dias. Em gestantes, a terapia iniciada deve ser parenteral com ceftriaxone ou gentamicina. Deve-se repetir urocultura após 1 a 2 semanas do término do tratamento. Em pacientes com uso de cateter vesical de demora recomenda-se além da administração de antibiótico a remoção do cateter e realização de catererização intermitente até a resolução da infecção. mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 5 Alguns indivíduos podem apresenta bacteriúria assintomática a qual é uma característica normal e benigna que não requer o uso de antimicrobianos nem rastreamento periódico. Esse grupo de pacientes que apresentam maior risco de desenvolver essa forma são aqueles que possuem bexiga neurogênica, idosos, pacientes com uso de cateter e pacientes com cálculos de estruvita. Em relação ao caso apresentado por esta situação problema o suco ou cápsula de cranberry os estudos demonstraram um possível benefício na prevenção de ITU em algumas populações, pincipalmente, mulheres que apresentam vida sexual ativa. A principal dificuldade nesses casos é a manutenção e aderência na sua ingestão em períodos mais prolongados. Há também a presença de tratamentos profiláticos medicamentosos contínuos e pós coito. Esse tipo de profilaxia é indicado para mulheres que apresentam 2 ou mais casos de ITU sintomáticas em um semestre ou três ou mais em um ano.Para tanto, adota-se o uso de sulfametoxazol-trimetoprim, nitrofurantoína, cefalexina ou norfloxacino, e até mesmo o uso de cremes vaginais e espermicidas. 2. Diferenciar sepse de choque séptico. A sepse caracteriza o principal desafio no tratamento de pacientes gravemente enfermos, pois esses pacientes apresentam um risco elevado de mortalidade quando comparado com outros. Apesar da elevada letalidade há uma redução em países desenvolvidos através das novas alternativas terapêuticas e aparato tecnológico eficiente para manutenção da vida. A sepse já possuiu diversas denominações de acordo com termos propostos como a síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), sepse, sepse grave e choque séptico através de critérios clínicos e laboratoriais. A diferenciação inicialmente entre SRIS e sepse sempre foi difícil, haja vista que nem sempre há uma clara diferença na prática quanto ao foco infeccioso. Isso porque nem toda síndrome de resposta inflamatória sistêmica acompanha sepse, pois em algumas situações como: pancreatite aguda, grande queimado, politraumatizado, pós- operatório de grande cirurgia, podem manifestar sepse sem a presença de SIRS. De forma didática a síndrome da resposta inflamatória sistêmica é caracterizada pela presença de temperatura maior que 38°C ou menor que 36°C, frequência cardíaca maior que 90 bpm; frequência respiratória maior que 20 irpm ou pCO2 menor que 32 mmHg; e leucócitos maior que 12000 células por mm³ ou menor que 4000 células por mm³ ou mais que 10% de bastões. Em 2016 a sepse passou a ser definida pela presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida secundária a resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção. Definiu-se como disfunção orgânica o aumento de 2 pontos no escore SOFA (maior que 2 já é sepse). Enquanto choque séptico consiste em anormalidade circulatório a e celular/metabólica secundária à sepse o suficiente para aumenta a mortalidade. Requer a presença de hipotensão com necessidade vasopressora para manter a PAM maior ou igual a 65 mmHg e lactato maior ou igual 2 mmol/L ou maior que 18 mg/dL. Para rastrear a sepse usamos o critério chamado de mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 6 quick SOFA ou qSOFA para analisar a frequência respiratória, PA sistólica e alteração do estado mental. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 7 Uma grande crítica que pairava sobre essa abordagem do Sepsis-2 era de que os parâmetros utilizados eram muito sensíveis, de modo que pacientes com algum processo infeccioso que nem fosse tão grave, acabavam sendo submetidos ao protocolo de tratamento para Sepse. Na intenção de resolver essa questão, no ano de 2016 foi lançado o 3º Consenso Internacional, o famoso Sepsis-3, que atualizou a forma com que avaliamos os quadros de Sepse, realizando mudanças importantes como a retirada dos critérios de SIRS para definição de Sepse e também a extinção do termo “Sepse Grave”. Diante disso, também foi necessário redefinir o conceito de Sepse, que passou a ser uma infecção suspeitada ou diagnosticada que se associa com disfunção orgânica ameaçadora à vida. 3. Entender a fisiopatologia da sepse, suas manifestações clínicas e o protocolo de tratamento (Sepse 3). Para entender como funcionar a fsiopatogenia da sepse devemos compreender que, em condições normais, a resposta infecciosa do hospedeiro a um agente é complexa, pois necessita localizar o agente infeccioso, controlar sua invasão e reparar o tecido lesionado. Para tanto, disponhamos de células de defesas que exercem a capacidade de fagocitose e as quais gera a liberação de agente pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. Na sepse temos uma infecção desregulada e generalizada a qual envolve tanto tecidos normais afastados do local, quanto os tecidos infectados. Há um desequilíbrio da homeostase inflamatória, assumindo, assim, um padrão variado e ativação sistêmica. Concomitantemente, temos alterações na coagulação com exacerbação da coagulação e comprometimento de fatores mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 8 anticoagulantes. Todo esse desequilíbrio hemodinâmico resulta no predomínio de trombose microvascular, configurando a coagulação intravascular disseminada (CIVD), amplificando a resposta inflamatória e gerando disfunção orgânica. Em um processo inflamatório normal temos o que chamamos de homeostase inflamatória, com a presença de um equilíbrio tanto de citocinas inflamatórias, quanto de anti-inflamatórias. Todos os componentes envolvidos nesse mecanismo exercem suas manifestações de forma localizada, permitindo uma maior resolubilidade do quadro. Para tanto, o organismo possui mecanismos de respostas inatas – macrófagos e sistema complemento – bem como a presença de respostas adaptativas com a produção de imunoglobulinas. Durante o processo inflamatório temos a liberação de citocinas, as quais se configuram como mediadores pró- inflamatórios (TNF-alfa e IL-1), quimiocinas (moléculas de adesão intercelular) e óxido nítrico (responsável pela vasodilatação). Toda essa “tempestade de citocinas” é responsável pela apresentação dos sinais cardinais da inflamação: calor, eritema, vasodilatação e edema. O grupo de fatores anti-inflamatórios temos a IL-10 e IL- 6 as quais aumentam a função das células B (proliferação e síntese de imunoglobulina) e estimulam o desenvolvimento de células T citotóxicas. Na sepse consiste em fenômenos de pró e anti-inflamatórios que contribuem para a destruição do agente infeccioso e reparação tecidual. Ela ocorre quando há desregulação dessa resposta inflamatória, ultrapassando os limites do ambiente local, levando uma resposta generalizada e disfunção orgânica. Ainda é incerto como um processo inflamatório passa de localizado para disseminado. Muitos estudos apontam para os efeitos diretos dos microrganismos invasores (parede celular bacteriana, produtos bacterianos) ou de seus produtos tóxicos que levam a ativação do complemento. Além disso, indivíduos podem ser geneticamente mais suscetíveis ao desenvolvimento de sepse. Estudos apontam a intrínseca relação entre a ativação do sistema complemento com a sepse. Sendo que a inibição da cascata do complemento diminui a inflamação e melhora a mortalidade. Durante a sepse há a presença de mecanismos geradores de disfunção orgânica o que leva a redução da oferta tecidual de oxigênio e lesão celular. Há alterações na circulação sistêmica, regional e na microcirculação. Todas essas alterações hemodinâmicas culminam na redução da oferta de oxigênio, disfunção mitocondrial e apoptose. Quanto as alterações do sistema circulatório, elas são caracterizadas pela hipotensão ocasionada por uma vasodilatação difusa associada à hipovolemia e extravasamento capilar. O principal ponto-chave desse desequilíbrio é a atividade do óxido nítrico e prostaciclinas secretados pelas células endoteliais. Outro fator que contribui para a vasodilatação é a mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinharmathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 9 secreção de vasopressina (hormônio antidiurético) de forma compensatória. Além da vasodilatação temos a hipotensão causada pela redistribuição do líquido intravascular como resultado do aumento da permeabilidade endotelial e redução dos tônus vasculares arteriais. A nível central da circulação há uma diminuição do desempenho ventricular, devido à liberação de substância depressoras do miocárdio. Desse modo, seguindo os preceitos do mecanismo de Frank Starling a fim de manter a presença arterial em níveis satisfatórios tem um aumento do débito cardíaco com resposta a essa vasodilatação sistêmica. A nível de circulação regional há uma hiporresponsibilidade vascular a qual se caracteriza pela incapacidade de vasoconstrição adequada e consequente incapacidade de distribuir adequadamente o fluxo sanguíneo sistêmico para os órgãos e tecidos. A nível de microcirculação há um comprometimento durante a sepse. O descontrole da auto-regulação e presença de estase e microtrombos, há uma redução do número de capilares funcionais, ocasionando uma incapacidade dos tecidos extraírem o oxigênio ao máximo. Dessa forma, temos um sistema circulatório totalmente descompensado com a presença de uma circulação heterogênea com áreas isquêmicas e outras bem perfundidas. Há também uma alteração na viscosidade sanguínea, através da perda da capacidade dos eritrócitos se deformarem dentro da microcirculação. Isso acarreta diminuição da oferta de oxigênio tecidual. Outra alteração importante é o desequilíbrio entre coagulação e anticoagulação. O processo inflamatório impõe o predomínio de funções pró-coagulação o que resulta em trombose, hipoperfusão e disfunção orgânica. Nas células endoteliais temos o aumento da expressão de fator tecidual (FT), bem como nas células inflamatórias e nas plaquetas. Esse FT é estimulado pela IL-6 que atua de forma descontrolada na sepse. O fator tecidual é responsável pelo processo pró-trombótico, resultando em trombose na microcirculação e coagulação intravascular disseminada (CIVD). Além disso, há o comprometimento dos mecanismos de anticoagulação através da inibição da expressão do inibidor do fator tecidual, bem como a redução dos níveis séricos de antitrombina. A explicação para esse fenômeno resulta do consumo secundário durante a inflamação, a redução da produção hepática, a neutralização pela elastase de neutrófilos e o extravasamento capilar. Desse modo, a contagem de plaquetas torna-se um excelente marcador de disfunção da coagulação. Em termos absolutos, durante o início da sepse, dificilmente o paciente apresenta uma plaquetopenia, mas durante a progressão do quadro é notório a sua redução a qual está relacionada com o aumento da mortalidade. A plaquetopenia torna-se então um importante marcador de disfunção da coagulação e exerce um importante marcador de prognóstico. Além da CIVD ocasionada por essa disfunção temos também a presença de hemorragia intratável e disfunção orgânica. Desse modo, a sepse se apresenta de forma paradoxal, pois podemos ter ao mesmo tempo uma exacerbação da coagulação e hemorragia. Isso porque temos uma circulação heterogênea. Outro mecanismo da sepse é a lesão celular que surge durante uma resposta imune generalizada, sendo uma das causas para a disfunção orgânica. Esse mecanismo não está totalmente compreendido, mas pode ser explicado pelas alterações circulatórias explicitadas acima. A isquemia tecidual secundária ao desbalaço entre oferta e consumo de oxigênio nos tecidos levam uma lesão citopática (ação direta de mediadores pró-inflamatórios ou dos mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 10 produtos da inflamação) e aumento da apoptose causando necrose. Uma alteração celular importante que surge na sepse é a disfunção mitocondrial. Ela ocasiona um comprometimento do transporte de elétrons mitocrondiais o que resulta na redução do consumo de oxigênio. A inibição leva uma lesão mitocondrial (quebra do DNA) o que causa um citotoxidade que pode culminar um disfunção celular e apoptose. A reparação ou regeneração mitocrondrial é chamada de biogênese, ela se configura com um importante mecanismo para recuperação de pacientes com sepse. Outro mecanismo importante é a inibição da apoptose dos macrófagos e neutrófilos. Esse mecanismo permite a ação prolongada dessas células o que resulta em aumento da inflamação e necrose tecidual. QUADRO CLÍNCO OU DISFUNÇÕES ORGÂNICAS O conhecimento e identificação das disfunções orgânicas causadas pela sepse é sabidamente um importante meio para reduzir a morbimortalidade dos pacientes. Entretanto, há uma dificuldade em definir, a beira leito, quando um paciente está agudamente enfermo ou com uma disfunção orgânica. A disfunção de múltiplos órgãos é o mecanismo de morte desse tipo de paciente, por isso sua idenficação é essencial para evitar desfechos indesejados. A disfunção cardiovascular, como foi dito acima na patologia, envolve mecanismos desde alterações mitocondriais até alterações nos grandes vasos. É importante frisar que usa gênese é multifatorial na qual há a presença de citocinas, distúrbios no fluxo de cálcio (redução dos tônus musculares dos vasos) e alterações autonômicas. Sabemos das alterações macro- hemodinâmicas (taquicardia sinusal, hipertensão pulmonar, diminuição de retorno venoso, diminuição da volemia e diminuição da pós-carga) as quais estão associadas ao aumento da permeabilidade, resultando em um fluxo sanguíneo heterogêno com áreas isquêmicas e áreas bem perfundidas. Como resposta a esse caos hemodinâmica há um mecanismo de dilatação de ambos os ventrículos a fim de aumentar o volume diastólico final e manter um volume sistólico adequado. mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 11 Essas adaptações causam alterações no ECG, aumento de troponina, simulando doenças isquêmicas. Cabe ressaltar, que a disfunção miocárdica é mais grave em paciente portadores de cardiopatias previamente. A disfunção respiratória é identificada pela presença de dispneia, taquipneia e disfunção de trocas gasosas. A sepse é a principal causa de síndrome de desconforto respiratório, devido ao aumento da permeabilidade com formação de edema, diminuição da secreção de surfactante, colapso alveolar, shunt e aumento do espaço morto. Todas essas alterações resultam em uma maior dificuldade da troca gasosas, aumentando a morbimortalidade dos pacientes com sepse. A disfunção renal é caracterizada pela retenção de escorias e oligúria, sendo multifatorial. A primeira causa é a hipoperfunsão desse órgão, estase venosa renal, alterações capilares e ação direta das citotoxinas e farmacotoxicidade. Ainda não há um consenso de qual o momento de iniciar a diálise nesses pacientes o qual adquire critérios individuais. As indicações seguem através da presença de heperpotassemia, hepervolemia, acidose e uremia. A disfunção do trato gastroindestinal é muito subestimada e não diagnosticada. Há uma dismotilidade de trato digestória, com estase,aumento da incidência de aspiração, constipação, atrofia de mucosa, inadequação de suporte nutricional, hemorragias e aumento do risco de translocação bacteriana. Alterações hepáticas podem estar presentese como colestase e lesão hepatocelular o que pode agravar os efeitos coagulantes da sepse. A disfunção neurológica é resultado de um delirium caracterizado pela flutuação do nível de consciência com desatenção, pensamento desorganizado, acompanhado ou não por agitação e alteração do ritmo do sono. Essa ocorrência está associada com o aumento da mortalidade e piora cognitiva a médio prazo. Outra característica de disfunção neurológcia é neuromiopatia do doente crítico que pode ser agravada com uso de quiolona, aminoglicosídeos, corticoides e bloqueadores musculares. Há então uma fraqueza muscular importante, com hiporeflexia e atrofia muscular. A disfunção endócrina é caracterizada por um quadro de hiperglicemia. A hiperglicemia em não diabéticos apresentam um alto risco de morbimortalidade. Sendo assim, o controle glicêmico com insulina reduz a resposta inflamatório, o catabolismo proteico e os efeitos deletérios diretos da hiperglicemia. Todo esse stress metabólico pode levar até uma disfunção na suprarrenal. PROTOCOLO DE UM PACIENTE COM SEPSE O protocolo de sepse deve ser aberto para os pacientes com suspeita de sepse e choque séptico. O instituído latino americano de sepse utilizar os critérios das conferências sepse-2 e sepse-3 para tentar minimizar os pontos negativos de cada uma. Desse modo, o protocolo deve ser aberto na presença de síndrome de resposta inflamatória sistêmica e suspeita de infecção, ou a partir da presença de disfunção orgânica. O escore qSOFA que utiliza três parâmetros (rebaixamento do nível de consciência, FR maior ou igual a 22irpm e PAS abaixo de 100 mmHg) pode ser utilizado na enfermaria, lembrar que ele apresenta baixa sensibilidade. Desse modo, mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 12 os pacientes com qSOFA positivo (com dois ou mais componentes presentes) devem receber a mesma atenção especial de um paciente que apresente disfunção orgânica. Nesse sentido, deve-se registrar no prontuário do paciente a suspeita de sepse para que o mesmo receba um atendimento priorizado a fim de otimizar a coleta do exames que faz parte do protocolo. Uma anamnese e exame físico a beira do leito pode ser realizada para identificar os sinais de disfunção orgânica. Por outro lado, paciente com presença de disfunção orgânica grave ou choque devem ser encaminhados para UTI. PACODE DE 1 HORA Consiste na coleta de exames laboratorias para pesquisa de disfunção orgânica (gasometria e lactato, hemograma completo, creatinina, bilirrubina e coagulograma) a fim de completar aquele escore SOFA. Além disso, a coleta de duas hemoculturas em sítios distintos na primeira hora é fundamental, sobretudo antes da administração de antibióticos. Lembrar que essa coleta não deve retardar a antibioticoterapia. Os sítios escolhidos seguem as orientações específicas de cada hospital (aspirado traquela, líquor, urocultura). Para cada sítio devemos separar em dois fracos distintos para anaeróbicos e outro para aeróbicos. Após isso, devemos administrar antibióticos de amplo espectro por via endovenosa, visando o foco suspeito. Para tanto, a orientação do CCIH é fundamental. Essa administração ocorre de forma em dose ataque com a dose máxima possível, sem ajustes para a função renal ou hepática dentro das primeiras 24 horas de atendimento (avaliando o risco benefício). Ela é feita mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 13 inicialmente em bolus para depois ser realizada por infusão estendida. Podemos utilizar diferentes classes de ATB em pacientes com choque séptico. Após o resultado da cultura devemos restringir do espectro antimicrobiano. Para os pacientes hipotensos (PAS < 90 mmHg, PAM < 65 mmHg), lactato duas vezes acima o valor de referência (2 mmol/L – 18 mg/dL) deve ser indicada a ressuscitação volêmica por infusão imediata de 30 mL/Kg de cristaloides dentro da primeira hora de atendimento até as três primeiras horas de atendimento. Coloides proteicos, albumina ou soro albuminado fazem parte da reposição inicial. A sua administração deve-se levar em conta as condições clínicas de cada paciente, sobretudo àqueles que possuem comorbidades. Por exemplo, pacientes cardiopatas podem necessitar de redução na velocidade de infusão. O uso de vasopressores deve ser avaliado para pacientes que mesmo com a ressuscitação volêmica não apresentaram melhora da pressão arterial. Lembrar que a uma PAM < 65 mmHg é ameaçadora a vida. O principal vasopressor utilizado é a noradrenalina e vasopressina. Pacientes com lactato alterado mesmo após as medidas da primeira hora, deve-se solicitar dosagens para avaliar a normalização dessa hiperlactatemia. Ela isolada, sem a presença de sinais clínicos de hipoperfusão ou má evolução não necessita de tratamento específico. REAVALIAÇÃO DAS 6 HORAS Após 6 horas da abertura do protocolo deve ser realizado uma reavaliação para os pacientes que apresentem choque séptico, hiperlactatemia ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual. Para tanto, devemos reavaliar o status volêmico e perfusão tecidual. Além disso, podemos utilizar coritcoide para pacientes com choque séptico refratário e que não consegue manter a pressão arterial alvo. Utiliza-se a hidrocortisona na dose de 50 mg a cada 6 horas. A intubação orotraqueal deve ser realizada em pacientes sépticos com presença de insuficiência respiratória aguda e evidência de hipoperfusão tecidual. O controle glicêmico deve ser realizado em pacientes com sepse, tendo uma meta de glicemia abaixo de 180 mg/dL. A transfusão sanguínea deve ser considerada em pacientes que apresente Hb < 7 g/dL e < 10 g/dL nos pacientes cardio/pneumo/cerebropatas. O objetivo é manter a Hb > 7g/dL e aproximadamente 10 g/dL nos cardio/pneumo/cerebropatas prévios. 4. Diferenciar sepse primária de sepse secundária. mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar mathe Sublinhar Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 14 5. Descrever as indicações/critérios para internação em UTI. CRITÉRIOS DE ADMISSÃO Importante mencionar que idade ou pontuação elevada no cálculo de escore de gravidade, isoladamente, não são fatores para contraindicar a admissão em UTI. Levar em consideração sempre o diagnóstico do paciente, idade, gravidade da doença, comorbidades, reserva fisiológica, prognóstico, disponibilidade de tratamento adequado, resposta às medidas empregadas até o momento, parada cardiorrespiratória recente, diretivas antecipadas e a vontade do próprio paciente. Prioridade 1: Criticamente doentes, instáveis, necessitando de monitorização e tratamento intensivosque não podem ser oferecidos fora da UTI. Entre os suportes necessários estão incluídos o ventilatório, hemodinâmico (uso de drogas vasoativas) etc. Pacientes em Prioridade 1 geralmente não possuem limites a terapêutica a ser recebida. Exemplos: politraumatizados, insuficiência respiratória aguda, choque hemodinâmico. Prioridade 2: Estes pacientes requerem monitorização intensiva e podem potencialmente demandar intervenção imediata. Geralmente não há limitação terapêutica estipulada para estes pacientes. Exemplos: pacientes com doenças crônicas agudizadas. Prioridade 3: Estes pacientes instáveis são doentes críticos, porém a probabilidade de recuperação é reduzida devido à doença de base ou gravidade da doença atual. Eles podem se beneficiar da terapia intensiva para aliviar o quadro agudo, mas pode haver algum grau de limitação de esforços. Exemplos: choque séptico em paciente com neoplasia maligna metastática. Prioridade 4: São pacientes que geralmente não têm indicação de admissão em UTI. Os casos devem ser analisados individualmente e em algumas situações pode ocorrer a internação. Eles podem ser classificados em duas categorias: • Pouco ou nenhum benefício em receber cuidados intensivos devido à baixa complexidade de sua condição (estão muito bem para beneficiar de cuidados intensivos). Exemplos: cirurgia vascular periférica, cetoacidose diabética estável. • B. Pacientes em condições terminais e irreversíveis em morte iminente (muito graves para se beneficiar da UTI). Exemplos: estado vegetativo persistente, diretivas antecipadas. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Módulo de Febre, infecção e Inflamação) 15
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