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1 2 FICHA TÉCNICA © 2017. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz & Universidade de Brasília Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada sua utilização comercial. Ministério da Saúde Ricardo Barros Ministro Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – SGTES Rogério Luiz Zeraik Abdalla Secretário Secretaria-executiva da Universidade Aberta do SUS – UNA-SUS Francisco Eduardo de Campos Secretário-executivo Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Paulo Gadelha Presidente Universidade de Brasília Márcia Abrahão Moura Reitora Enrique Huelva Vice reitor Faculdade de Medicina Gustavo Adolfo Sierra Romero Diretor Gilvânia Feijó Vice diretora Editores técnicos da Secretaria Executiva da UNA-SUS Roberto Jorge Freire Esteves Paulo Biancardi Coury Revisora técnica-científica da Secretaria Executiva da UNA-SUS Priscila Medrado Avaliadores de pertinência do Ministério da Saúde Denise Fernandes Leite Mariana Alencar Sales Paulo Henrique Gomes da Silva UNASUS - Universidade de Brasília Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte Cidade/Estado: Brasília/DF CEP: 70910-900 Telefone: (61) 31071885 E-mail: moodle.unasus.unb@gmail.com Site: www.unasus.unb.br Coordenação da UNASUS na Universidade de Brasília Gilvânia Feijó Coordenadora Geral Coordenação Geral do Curso Gilvânia Feijó Coordenador de Produção Jitone Leônidas Soares Jonathan Gomes Pereira dos Santos Conteudista Kátia Crestine Poças Revisor Técnico-científico Celeste Aida Nogueira Silveira Luiza Hiroko Yamada Kuwae Editor técnico Kátia Crestine Poças Designer Instrucional Rute Nogueira de Morais Bicalho Designer Gráfico Daniel Alves Tavares Web designer Gabriel Cavalcanti D’Albuquerque Magalhães Ilustrador de EaD Philippe Alves Lepletier Editor de Audiovisual Cristiano Alves de Oliveira Secretaria Executiva da Universidade Aberta do SUS Diretoria Regional de Brasília / FIOCRUZ Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte Cidade/Estado: Brasília/DF CEP: 70910-900 Telefone: (61) 3329-4517 Site: www.unasus.gov.br Coordenador Geral Alysson Feliciano Lemos Editor técnico Roberto Jorge Freire Esteves Consultor Luís Carlos Galvão Lobo Apoio administrativo Suzana Melo Franco http://moodle.unasus.unb@gmail.com http://www.unasus.unb.br http://www.unasus.gov.br Sumário Atividade 1 Medicamentos na prática clínica: o que precisamos saber sobre eles? ................................. 7 Atividade 2 Técnica da prescrição de fármacos: regulamento, tipos de prescrição e técnicas de preenchimento ....................................................................14 Atividade 3 O Uso Racional de Medicamentos e a adesão ao medicamento ..........................................36 Atividade 4 Prescrevendo na Atenção Básica ...............................................................................................46 Atividade 5 Rename e Farmácia Popular .......................................................................................................54 Chegamos ao final do módulo: ...................................................................................................63 Referências Bibliográficas ...........................................................................................................65 Glossário ........................................................................................................................................68 4 Apresentação da Unidade Didática 5 A Unidade é composta por cinco atividades que abordam os seguintes temas: 6 Convidar os participantes a refletirem sobre seu papel na prescrição de fármacos e a desenvolverem uma postura mais ativa para o uso racional de medicamentos. Um dos maiores desafios da prática médica atual é a decisão da melhor prescrição terapêutica com a gama de possibilidades ofertadas pela indústria farmacêutica nos mercados nacional e internacional. São fundamentais o estudo continuado, por meio do acesso a cursos de atualização e especializações, e o estudo autodidata no consultório sempre que necessário. Para tanto, é sempre importante ter às mãos textos confiáveis e atualizados de Farmacologia Clínica e manuais que contribuem para técnicas que possibilitem uma melhor prescrição na decisão terapêutica. Objetivos Introdução Nesse sentido, o convite por meio desta Unidade é para compartilharmos saberes que possam contribuir para uma prescrição médica racional e de qualidade. 7 Medicamentos na prática clínica: o que precisamos saber sobre eles? Os medicamentos são produtos especiais elaborados com as finalidades de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle técnico para atender às especificações determinadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O efeito do medicamento deve-se a uma ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas reconhecidas cientificamente, que fazem parte da composição do produto, denominadas fármacos, drogas ou princípios ativos. Os medicamentos seguem normas rígidas para poderem ser utilizados, desde a sua pesquisa e o seu desenvolvimento, até a sua produção e sua comercialização (BRASIL, 2010a). Primeiramente, pensamos no fármaco como qualquer substância que altera a função biológica por meio de suas ações químicas. A Farmacologia é a ciência que estuda o resultado da interação de um composto químico com os sistemas biológicos (BARROS, 2010). As substâncias químicas podem ser denominadas medicamentos, fármacos e drogas. Vamos entender melhor! Atividade 1 8 Segundo a Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010b) Fármaco é sinônimo de droga. É o princípio ativo que será preparado pela farmácia de manipulação ou pela indústria farmacêutica. Mais especificadamente, de estrutura química bem definida. Medicamento de Referência é o prouto inovador registrado em órgão federal brasileiro, responsável pela vigilância sanitária, e comercializado no País, cujas eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas, cientificamente, no órgão federal competente por ocasião do registro. Medicamento é a droga ou a preparação com drogas de ação farmacológica benéfica quando utilizada de acordo com as suas indicações e propriedades. Medicamentos são produtos químicos utilizados com fim terapêutico. Medicamento Genérico é o medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que pretende ser como esse intercambiável, geralmente produzido após a expiração ou a renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, comprovadas a sua eficácia, a segurança e a qualidade, e designado pela DCB ou, na sua ausência, pela DCI. Droga é qualquer substância química capaz de produzir efeito farmacológico, isto é, capaz de provocar alterações somáticas ou funcionais, benéficas (medicamentos) ou maléficas (tóxico). Medicamento é o produto farmacêutico, tecnicamente, obtido, ou elaborado, que contém um ou mais fármacos e outras substâncias, com finalidades profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. 9 Na embalagem dos genéricos tem que estar escrito “Medicamento genérico” e o número da lei (Lei nº 9.787/99). Todos os medicamentos genéricos deverão ter a tarja amarela que visa facilitar a identificação dos mesmos. Como os genéricos não têm marca, o que você lê na embalagem é o princípio ativo do medicamento. Fique de olho! Pergunte ao seu médico se existe um medicamento genérico equivalente ao seu. Caso exista, peça sua inclusão na receita. 10 Mais conceitos Quer saber mais? Medicamento intercambiável é o medicamento equivalente terapêutico de um medicamento de referência, comprovados, essencialmente, os mesmos efeitosde eficácia e segurança. Medicamento magistral é o medicamento equivalente terapêutico de um medicamento de referência, comprovados, essencialmente, os mesmos efeitos de eficácia e segurança. Medicamento similar é aquele que contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos; apresenta mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica; e é equivalente ao medicamento registrado no órgão federal, responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e à forma do produto, ao prazo de validade, à embalagem, à rotulagem, aos excipientes e veículo, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou pela marca. O próximo passo para saber mais sobre tantos conceitos envolvidos com os medicamentos é conhecer e explorar uma publicação da Anvisa que aborda essa temática: O que devemos saber sobre medicamentos. Ela está disponível em sua biblioteca. 11 Preparações farmacêuticas: formas farmacêuticas, vias de administração, veículos, excipientes, doses, cálculos... Posologia (do grego poso = quanto, mais logos = estudo): É o estudo da dosagem do medicamento com fins terapêuticos. Dose: É a quantidade capaz de provocar uma res posta terapêutica desejada no paciente, preferivelmente sem outras ações no organismo. Dosagem: A dosagem inclui, além da dose, fre quência de administração e duração do tratamento. Idiossincrasia: O termo idiossincrasia refere- se às reações particulares ou especiais do organismo às drogas, comumente chamadas reações idiossincrásicas. Essas são nocivas, às vezes, fatais, e ocorrem em uma pequena minoria dos indivíduos. Na maioria dos casos, a causa não é bem compreendida, mas se acredita que os fatores genéticos possam ser responsáveis em algumas situações. Forma Farmacêutica: Forma farmacêutica é a maneira como os medicamentos são pre pa- rados, apresentados e, consequentemente, co- mercializados e utilizados, ou seja, comprimido, xarope, suspensão e outros. Na forma farmacêutica, além do medicamento principal ou princípio ativo, entram outras substâncias na composição, como veículo ou excipiente, coadjuvante, edulcorante, ligante, preservativo etc. As formas farmacêuticas podem ser classificadas conforme se exemplifica a seguir: Soluções Misturas homogêneas do soluto, que é a base farmacológica, com o solvente, que é o veículo. Pode-se destinar ao uso sob a forma de gotas; Suspensões Misturas heterogêneas, sendo que o soluto deposita-se no fundo do recipiente, necessitando de homogeneização no momento do uso; Emulsões Substâncias oleosas dispersas em meio aquoso, apresentando separação de fases; Xaropes Soluções aquosas nas quais o açúcar em altas concentrações é utilizado como corretivo. Pode conter cerca de dois terços do seu peso em sacarose; Elixires Soluções hidroalcoólicas para uso oral, açu ca- radas ou glicerinadas, contendo substâncias aromáticas e as bases medicamentosas; Loções Soluções alcoólicas ou aquosas para uso tópico; Linimentos Similares aos anteriores, mas com veículo oleoso. 12 Comprimidos - Forma farmacêutica de formato variável, em geral discóide, obtida por compressão. Na maioria dos casos, contém uma ou mais drogas, aglutinante e excipiente adequados, prensados mecanicamente; Drágeas - Similares aos anteriores, mas com re- vestimento gelatinoso que impede a desin tegração nas porções superiores do trato digestivo. O revestimento protetor apresenta várias camadas com substâncias ativas ou inertes. Costumam ser coloridas e polidas, utilizando-se cera carnaúba no polimento; Cápsulas - Uma ou mais drogas mais excipiente não prensados e colocados em um invólucro gelatinoso ou amiláceo; Pílulas - Associação do princípio ativo com um aglutinante viscoso; Supositórios - Apresentações semi-sólidas para uso retal, que se fundem à temperatura corporal pela presença de manteiga de cacau, glicerina ou polietilenoglicol; Óvulos e Velas - Apresentações semi-sólidas para uso ginecológico, cuja diferença entre si é a forma. Preparações sólidas Preparações pastosas São preparações semi-sólidas normalmente destinadas ao uso tópico. Como exemplos, temos as seguintes: geleias, cremes, pomadas, unguentos e pastas, ordem crescente de vis- cosidade. Diferem também pelos veículos, que são gelatinosos nas geleias, oleosos nas pomadas e aquosos nos demais. 13 Vamos falar um pouco sobre otimização dos esquemas posológicos para fecharmos nosso raciocínio. A intensidade do efeito de um fármaco está relacionada com sua concentração acima de uma concentração eficaz mínima, enquanto a duração do efeito do fármaco reflete o tempo durante o qual seu nível permanece acima desse valor. Em geral, essas considerações aplicam-se aos efeitos desejados e indesejáveis (adversos) dos fármacos e, por essa razão, existe uma janela terapêutica que reflete a variação das concentrações capazes de assegurar a eficácia do produto sem os efeitos tóxicos inaceitáveis. Considerações semelhantes também se aplicam após administração de várias doses durante um tratamento prolongado e determinam a quantidade e a frequência do uso do fármaco para obter o efeito terapêutico ideal. Em geral, o limite inferior da faixa terapêutica do fármaco parece ser praticamente igual à concentração do fármaco que produz cerca da metade do maior efeito terapêutico possível, enquanto o limite superior é aquele no qual não mais do que 5 a 10% dos pacientes desenvolvem efeito tóxico. No caso de alguns fármacos, isso pode significar que o limite superior da variação não é mais do que duas vezes maior do que o limite inferior. Evi- dentemente, esses valores podem sofrer variações significativas e alguns pacientes podem ser muito beneficiados por concentrações do fármaco acima da variação terapêutica enquanto outros. Enquanto outros podem produzir efeitos tóxicos significativos com níveis muito mais baixos (p.ex., digoxina). Para um número limitado de fármacos, alguns dos seus efeitos são facilmente mensurados (a exemplos da pressão arterial e da glicemia) e podem ser usados para ajustar a posologia, usando-se a abordagem de ensaio e de erro. Mesmo em uma situação ideal, surgem algumas questões quantitativas, entre elas, a de se estabelecer com que frequência a dose deve ser alterada e qual a amplitude dessa alteração. Em geral, isso pode ser determinado por regras mnemônicas simples baseadas nos princípios de Farmacocinética (p.ex., não alterar a dose em mais de 50% e não mais do que a cada 3-4 meias-vidas). Por outro lado, alguns fármacos causam pou- quíssima toxicidade dose-dependente e, em ge- ral, a eficácia máxima é desejável. Nesses casos, doses muito acima da média necessária assegu- ram eficácia (se isso for possível) e prolongam a ação do fármaco. A estratégia de “dose máxima” é usada normalmente para as penicilinas. Entre- tanto, como, para muitos fármacos. Entretanto, para muitos fármacos, é difícil avaliar seus efei- tos tóxicos (ou os fármacos são administrados profilaticamente), a toxicidade e a falta de eficá- cia são riscos potenciais, ou o índice terapêutico é pequeno. Assim, as doses precisam ser titula- das com cuidado e a posologia é limitada pela toxicidade, mais do que pela eficácia. Neste momento, vamos recordar alguns aspectos da Farmacologia que dizem respeito aos conceitos e à compreensão sobre: Dose Efetiva Mediana (DE50), Dose Letal (DL50) e Índice Terapêutico (IT). 14 Agora que revisamos conceitos básicos relacionados aos medicamentos, estamos melhor preparados para abordar as técnicas de prescrição e todos os aspectos que estão envolvidos com a regulamentação brasileira de como compor uma receita para o paciente com ética e técnica adequadas. O conteúdo desta atividade foi trabalhado baseado nas legislações vigentes e nas discussões e orientações constantes: No livro “Medicamentos na prática clínica”(BARROS, 2010), em especial o capítulo sobre “Técnica de prescrição”, de autoria de Helena M.T. Barros, Maristela Ferigolo e Luciana Signor. “A prescrição é uma das orientações terapêuticas do médico para seu paciente” Barros; Ferigolo; Signor, 2010 Técnica da prescrição de fármacos: regulamento, tipos de prescrição e técnicas de preenchimento Atividade 2 15 Prescrição médica Segundo a Portaria GM/MS nº 3.916/98 e a Portaria SVS/MS nº 344/98, a prescrição é o ato de definir o medicamento a ser consumido pelo paciente com a respectiva dosagem, a duração do tratamento e a orientação de uso. Prescrição é uma recomendação escrita dada por um médico (ou outros profissionais habilitados) ao paciente e ao farmacêutico. A redação da prescrição é uma arte negligenciada tanto no currículo das escolas de Medicina, como na prática médica. Isso se dá princi- palmente porque a prática mais antiga de redigir prescrições longas e complicadas, contendo muitos ingredientes, foi abandonada em favor de medicamentos industriali- zados (BARROS, 2010). Vamos nos aprofundar no tema e nos preparar para realizar uma prescrição adequada que contenha todos os requisitos técnicos espe- rados com vistas ao uso racional de medicamentos e a uma melhor adesão ao tratamento. Segundo Barros (2010), as prescri- ções podem ser divididas em duas grandes classes: magistrais e pro- dutos farmacêuticos. Na magistral, o médico seleciona fármacos, dose, veículos ou exci- pientes de acordo com a forma farmacêutica para que o medica- mento seja preparado. O produto farmacêutico pré-com- posto, ou especialidade farma- cêutica, é aquele que indica o nome genérico do medicamento (ou mistura de medicamentos), que é fornecido pela indústria far- macêutica, sem qualquer altera- ção ou manipulação. No Brasil, há regulamentação téc- nica de como compor a receita a ser entregue para o paciente em código de ética, decretos e leis fe- derais desde o início do século. Vamos procurar estudar a prescri- ção, correlacionando os aspectos legais, de modo a proporcionar uma leitura mais produtiva, que possibilite a você maior compre- ensão e conhecimento sobre o tema. A Lei nº 5.991/73 e o Decreto nֻº 74.170/74 estabelecem que so- mente seja aviada prescrição que contiver de modo legível: ● a descrição do medicamento nomenclatura oficial [DCB/ DCI] ou nome comercial; ● forma farmacêutica, apresen- tação; ● o endereço do paciente; ● o modo de usar a medicação (posologia, via de administra- ção e duração do tratamento); ● a data; ● a assinatura do profissional; ● o endereço do consultório ou residencial; ● o número de inscrição no res- pectivo conselho da profissão (Medicina, Medicina Veteri- nária ou Odontologia). Qualquer prescrição tem um pra- zo de validade de 30 (trinta) dias, exceto a notificação da substância talidomida (C3), que tem um prazo de 15 (quinze) dias após a data de emissão pelo prescritor. Em geral, a prescrição é expressa mediante a elaboração de uma receita, quer seja de formulação magistral, quer seja de produto industrializado, por um profissional legalmente habilitado. 16 É vedado ao médico receitar, atestar ou emitir laudos de forma segreta ou ilegível sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho Regional de Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos. (Código de Ética Médica, Capítulo III - Artigo 11). Observe ainda que apagar, emendar ou inutilizar a receita na presença do paciente são processos psicologicamente prejudiciais e devem ser evitados. Caso o médico perceba que incorreu em um erro, a melhor forma de corrigi- lo é separar a folha incorreta e iniciar novamente o preenchimento. São vedadas as prescrições ou as notificações ilegíveis ou com rasuras, que possam induzir ao erro ou à troca de medicação, ou ainda em código (BRASIL, 1973; BRASIL, 1974; BRASIL, 2001a). Quanto às prescrições em código, somente são permitidos o seu aviamento em farmácias privativas de instituições (por exemplo, farmácia hospitalar) e a sua prescrição por profissional vinculado à unidade hospitalar (BRASIL, 1973; BRASIL, 1974). E lembre sempre: o médico não pode receitar de maneira secreta ou ilegível, com rasuras, ou emitir receitas em branco com assinaturas. Vamos assistir a duas reportagens exibidas na TV aberta, que abordam essa questão de receita secreta ou ilegível. Clique nos links disponíveis na videoteca desta unidade. 17 Agora que já fizemos vários alertas, vamos apresentar a vocês um roteiro sobre como devemos preencher a prescrição. Esse check-list pode ser muito útil como consulta em qualquer ocasião de prescrição. Check-list: ● A prescrição deve ser clara, legível e em linguagem compreensível; ● A prescrição deve ser escrita sem rasura, em letra de forma, por extenso e legível, utilizando tinta e de acordo com nomenclatura e sistema de pesos e medidas oficiais; ● No âmbito do Sistema Único de Saúde, o medicamento deve ser prescrito pelo nome genérico, obrigatoriamente, adotando-se a Denominação Comum Brasileira (DCB) e, em sua ausência, a Denominação Comum Internacional (DCI); ● Nos serviços privados de saúde, a prescrição pode ser feita utilizando-se o nome genérico ou o comercial; ● O documento não deve trazer abreviaturas, códigos ou símbolos; ● Não é permitido abreviar formas farmacêuticas (“comp.” ou “cap.” em substituição a “comprimido” ou “cápsula”), vias de administração (“VO” ou “IV”, em substituição a “via oral” ou “via intravenosa”), quantidades (“1 cx.” em substituição a “01 (uma) caixa”) ou intervalos entre doses (“2/2 h” ou “8/8 h” em substituição a “a cada 2 horas” ou “a cada 8 horas”). Na prescrição, devem constar: ● Nome, forma farmacêutica e concentração do fármaco prescrito (evitando-se abreviações e uso de decimais); ● A quantidade total de medicamento (número de comprimidos, drágeas, ampolas, envelopes), de acordo com a dose e duração do tratamento; ● A via de administração, o intervalo entre as doses, a dose máxima por dia e a duração do tratamento; ● Nome, endereço e telefone do prescritor de forma a possibilitar contato em caso de dúvidas ou ocorrência de problemas relacionados ao uso de medicamentos prescritos; ● São obrigatórios a assinatura e o carimbo do prescritor, no qual deve constar o número de seu registro no respectivo conselho profissional; ● Data da prescrição. ● Em alguns casos, é necessário constar o método de administração (ex.: infusão contínua, injeção em uma única dose); os cuidados a serem observados na administração (ex.: necessidade de injetar lentamente ou de deglutir com líquido); os horários de administração (nos casos de possível interação alimentar ou farmacológica, visando maior comodidade, adesão ou melhora do efeito terapêutico) ou os cuidados de conservação (ex.: a manutenção do frasco em geladeira). 18 “É obrigatória a utilização das DCB ou DCI em todas as prescrições de profissionais autorizados, nos serviços públicos, conveniados ou contratados, no âmbito do SUS”. Decreto nº 793, de 5 de abril de 1993 (Art.35, § 2º) Na prática, o ato da prescrição acontece no final da consulta médica, e esse momento é crucial para adotarmos uma postura que contribua para a melhor adesão ao tratamento. Essa postura diz respeito ao preenchimento do documento em si (a receita) e às explicações que sempre devem acompanhá-lo: assim temos dois importantes compromissos no momento da prescrição, o que escrevemos (ou digitamos) e o que dizemos (ou explicamos). Perceba que a receita tem mais funções do que aparenta: além de orientar o paciente, ou quem fará a administração dos medicamentos, e de servir para a lembrança do uso de tratamento, a receita também representa um resumo diagnóstico do médico, do prognóstico e da conduta terapêutica instituída. Serve como basede um contrato entre médico e o paciente e pode determinar o resultado terapêutico individual. A receita, sempre que possível, deve ser feita na presença do paciente. Isso é importante para que o paciente fique seguro de que a prescrição está sendo feita para o seu caso em particular, o que aumenta a confiança no médico. Deve ser escrita sem hesitação e com grau de determinação, de concentração e de velocidade que indiquem a certeza do que está sendo feito. Lembre-se de que, em geral, na saída do consultório, o paciente já não se lembra das orientações dadas sobre o medicamento; muitas vezes, nem sequer lembra-se do nome. É muito comum a confiança de que todas as informações serão fornecidas no ato da dispensação do medicamento, com a leitura da receita. Dessa forma, torna-se evidente que o documento escrito é de fundamental importância para evitarem-se os erros e o retorno desnecessário ao consultório. Vamos reforçar algumas informa- ções que são essenciais de serem passadas aos pacientes em relação à prescrição: ● Efeitos dos medicamentos: o paciente precisa saber quais sintomas desaparecerão ou não, quando o efeito iniciar-se- -á, o que pode acontecer se o medicamento não for tomado; ● Efeitos indesejados: quais po- dem ocorrer, como reconhe- cê-los, qual é a duração e a gravidade, o que fazer; ● Instruções: como e quando tomar; qual é a duração do tratamento; como guardar; ● Advertências: quando não deve ser tomado; qual é a dose máxima; por que respei- tar a duração do tratamento; ● Próxima visita: quando voltar (ou não); em que circunstân- cias retornar antes do previs- to; ● Compreensão pelo pacien- te: perguntar ao paciente se compreendeu o que foi dito; solicitar que ele repita algu- mas informações que foram dadas; verificar se tem algu- ma dúvida ainda. A forma de preenchimento da receita, o local, a comunicação verbal e não verbal são pontos fundamentais para o estabelecimento da confiança na eficácia terapêutica que o paciente deve adquirir. Agora, convidamos você a mergulhar nas particularidades das prescrições (tipo de receitas, técnica de preenchimento) e, a cada passo, apresentaremos as receitas que devem ser utilizadas nas prescrições. Em alguns pontos, apresentaremos situações para o exercício do aprendizado e reflexões. Vamos trabalhar para conhecer cada tipo de receita e suas particularidades. Preparado(a)? Vamos em frente! 20 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade reguladora brasileira, permite a venda livre, sem necessidade de prescrição médica, de alguns grupos de medicamentos para indicações terapêuticas especificadas. Encontram-se nessas condições, respeitadas as restrições em situações especificadas, os seguintes grupos: ● antiacneicos tópicos e adstringentes; ● antiácidos e antieméticos; ● antibacterianos tópicos; antidiarreicos; ● antiespasmódicos; ● anti-histamínicos; antisseborreicos; ● antissépticos orais, oculares, nasais, de pele e mucosas, urinários e vaginais tópicos; ● aminoácidos, vitaminas e minerais; ● anti-inflamatórios. Algumas substâncias, por apresentarem possíveis riscos à saúde e/ou potencial de sobreprescrição ou mal uso, ou por induzirem dependência física ou psíquica, possuem sua prescrição e sua dispensação sujeitas a controle especial. A maioria dos medicamentos é prescrita em ambulatórios, em receituários comuns do médico ou da instituição onde o paciente está sendo atendido. Alguns dos exemplos de tipos de receita disponibilizados a seguir foram retirados de Madruga (2011). Esse manual encontra-se disponível na sua biblioteca. 21 A maioria das substâncias não precisa de controle rígido de dispensação, sendo prescritas em receituários comuns, confeccionados pelo médico ou pela instituição de saúde, nos quais devem constar necessariamente os dados do médico, como o nome e o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM), com uso do carimbo. Seu carimbo é de uso pessoal e intransferível!!! Evite deixá-lo em gavetas ou em cima da mesa quando você não estiver por perto. Leve-o sempre com você!!! 22 Listagem dos agentes psicoativos no Brasil: Outros medicamentos, no entanto, devem ser prescritos em receituários ou em notificações específicas (tipo A, B, de Controle Especial etc.). O uso de receituários diferentes para grupos de medicamentos diversos, proposto na nossa legislação, segue os acordos internacionais e a classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que classifica as substâncias como necessitando de controle rígido na dispensação ou não necessitando desse controle. Os medicamentos controlados são aqueles que agem no sistema nervoso central, com risco de ocasionarem uso abusivo por parte dos pacientes, ou alguns outros que podem ocasionar efeitos adversos importantes e precisam de monitoramento das agências de saúde. A seguir, destacamos, no quadro, as famosas “Listas” que estão na Portaria nº 344/98, que trata dos agentes psicoativos no Brasil. De acordo com a OMS, os agentes psicoativos têm diferentes tipos de controle e são classificados segundo essas Listas. ● Listas A1 e A2 (entorpecentes) – morfina e derivados, codeína e seus derivados; ● Listas A3, B1 e B2 (psicotrópicas) – anfetamina e derivados, benzodiazepínicos, anorexígenos; ● Lista C1 (outras substâncias sujeitas a controle especial) – antidepressivos, anticonvulsivantes, antiparkinsonianos, entre outros; ● Lista C2 (retinoicas para o uso sistêmico) – derivados do ácido retinoico; ● Lista C3 (imunossupressoras) – talidomida; ● Lista C4 (antirretrovirais) – DST/AIDS; ● Lista C5 (anabolizantes) – nandrolona, mesterolona, testosterona, entre outros; ● Lista D1 (precursores) – derivados do ergot, pseudoefedrina, entre outros. 23 No quadro ao lado apresen- tamos um resumo muito didático com os medica- mentos a serem prescritos com Notificação de Receita, segundo sua lista, os tipos de notificação de receita, a quantidade máxima por re- ceita, o período máximo de tratamento e a responsabi- lidade da impressão do ta- lão de notificação. A seguir, vamos apresentar alguns exemplos dos diver- sos modelos de Notificação de Receita e de Receituário de Controle Especial. Tipo de Notificação Notificação de Receita “A” Notificação de Receita “B” Notificação de Receita “B2” Notificação de Receita Retinoide Medicamentos Entorpecentes Psitrópicos Anorexígenos Retinoides sistêmicos Listas A1, A2, e A3 B1 B2 C2 Abrangência Em todo o território nacional Na Unidade da Federação onde for concedida a numeração Cor da Notificação Amarela (oficial) Azul Azul Branca Quantidade máxima por receita 5 ampolas 5 ampolas - - Quantidade por período de tratamento 30 dias; acima disso, acompanha justificativa 60 dias 30 dias 30 dias Quem imprime o talão da notificação Autoridade sanitária O profissional retira a numeração junto à autoridade sanitária escolhe a gráfica para imprimir o talão às suas expensas Fonte: Brasil (1999, 2007) 24 NOTIFICAÇÃO DE RECEITA “B” – PSICOTRÓPICOS - COR AZUL NOTIFICAÇÃO DE RECEITA “A” – ENTORPECENTES - COR AMARELA 25 NOTIFICAÇÃO DE RECEITA “C2” - RETINÓIDES SISTÊMICOS - BRANCA NOTIFICAÇÃO DE RECEITA “B2” – ANOREXÍGENOS - COR AZUL 26 Vamos fazer uma pausa agora... Que tal exercitarmos o preenchimento de uma notificação de receita? Veja a situação que virá a seguir. Observe se todos os campos exigidos estão contemplados e como a prescrição encontra-se completa, com todos os itens que destacamos no check-list discutido anteriormente nesta atividade. 27 No quadro ao lado apresen- tamos um resumo muito didático com os medica- mentos a serem prescritos com Notificação de Receita, segundo sua lista, os tipos de notificação de receita, a quantidade máxima por re- ceita, o período máximo de tratamento e a responsabi- lidade da impressão do ta- lão de notificação. A seguir, vamos apresentar algunsexemplos dos diver- sos modelos de Notificação de Receita e de Receituário de Controle Especial. Medicamentos Controle especial Anabolizantes Antirretrovirais Adendos das listas Listas C1 C5 C4 A1; A2; B1 Abrangência Todo o território nacional Todo o território nacional Todo o território nacional Todo o território nacional Cor A critério A critério A critério A critério Quantidade máxima por receita 5 ampolas 3 medicamentos 5 ampolas 5 substâncias 5 medicamentos 3 medicamentos Quantidade por período de tratamento 60 dias 60 dias 60 dias 60 dias Quem imprime o talão da notificação O profissional O profissional O profissional O profissional Fonte: Brasil (1999) 28 MODELO DE RECEITUÁRIO DE CONTROLE ESPECIAL 29 Prescrição A Resolução RDC MS/ANVISA nº 441, de 26 de outubro de 2010 estabelece o controle de antimicrobianos, de uso sob prescrição médica que só podem ser dispensados com escrituração nas farmácias e retenção da receita médica. E agora, exercitamos o pre- enchimento de uma receita de controle especial? Animad@s? Veja a situação a seguir: Observe se todos os campos exigidos estão contempla- dos e como a prescrição en- contra-se completa, com to- dos os itens que destacamos no check-list discutido ante- riormente nesta atividade. A prescrição de medicamentos antimicrobianos deverá ser realizada em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde, não havendo modelo de receita específico. A receita deve ser prescrita de forma legível, sem rasuras, em 2 (duas) vias, contendo os seguintes dados obrigatórios: 1. http://www.anvisa.gov.br/sngpc/ Documentos2012/RDC%2020%20 2011.pdf?jornal=%E2%80%A6 http://www.anvisa.gov.br/sngpc/Documentos2012/RDC%2020%202011.pdf?jornal=%E2%80%A6 http://www.anvisa.gov.br/sngpc/Documentos2012/RDC%2020%202011.pdf?jornal=%E2%80%A6 http://www.anvisa.gov.br/sngpc/Documentos2012/RDC%2020%202011.pdf?jornal=%E2%80%A6 30 Excelente! Observe como já conhecemos alguns exemplos e exercitamos um pouco as receitas. Você já deve saber que, quando a prescrição for feita em ambiente de hospitalização, serão utilizados documentos próprios, internos ao hospital, para a prescrição de todos os medicamentos. Mas se acontecer uma emergência e você não estiver em um ambiente hospitalar, estiver desprovido do seu talonário de receita especial ou de notificação de receita? O que você deve fazer? Nesse caso, em um atendimento emergencial, em que o profissional não está com seu talonário, a receita poderá ser aviada em papel não oficial. Porém, fique atento(a), ela precisará conter: O diagnóstico ou CID (Classificação Inter- nacional de Doenças); A justificativa do caráter emergencial de atendimento; A inscrição do Conselho Regional e a assinatura devidamente identificada com o carimbo do prescritor. O estabelecimento que aviar a referida receita deverá anotar a identificação do comprador e apresentá-la à autoridade sanitária local em um prazo máximo de 72 horas. 31 A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 103/2016 dispõe sobre a atualização do Anexo I (Listas de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial) da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998. Conheça a Resolução e a Portaria - elas estão disponíveis em nossa Biblioteca virtual. Você - médico prescritor - poderá possuir, sob sua guarda e responsabilidade, como material exclusivamente para tratamento de emergência (maleta): medicamentos das listas A1 e A2 (morfina, codeína, etilmorfina) até três ampolas; B1 (benzodiazepínicos) até cinco ampolas. Para efetuar a reposição dessas ampolas, deve ser feita uma receita amarela ou azul, conforme o caso, devidamente preenchida com os dados do paciente ao qual tenha sido administrado o medicamento. 32 Independente do tipo de re- ceita, existem algumas ques- tões que são necessárias sem- pre e que você precisa estar atento(a) para respeitar as normas e garantir uma boa qualidade para sua prescrição. A receita deve sempre ser es- crita de forma legível, já abor- damos isso anteriormente. Você assistiu às reportagens sugeridas? Pois é, essa ques- tão está clara no Código de Ética e em outras legislações, esse é o primeiro passo para uma prescrição de qualidade. Faça uso de computadores se for possível. A receita pode ser manuscrita, datilografada ou informatizada. No caso de má caligrafia, procure escrever mais lenta- mente, escreva em letra de imprensa (de forma). Não precisa lançar mão de um caderno de caligrafia, lembra? Basta fazer letra de imprensa. Brincadeiras à parte, vamos continuar... Além da forma legível, a quantidade deve sempre ser expressa em algarismos arábicos (0,1,2,3...) e sem abreviaturas, sem emendas e sem rasuras. Também já abordamos essa questão, lembram-se da si- tuação-problema gerada por rasura? Como a receita é um documento médico de va- lor oficial, escreva sempre à tinta. É importante colocar nome, endereço, números de telefone para contato, horários de atendimento, números de registro no CRM e do CPF impressos no recei- tuário. A receita possui uma ordem na sua escrita e deve conter basicamente: 1.Identificação do paciente; 2.Inscrição; 3.Subscrição; 4.Indicação; 5.Assinatura. Vamos comentar cada um desses itens. Na identificação do paciente, é importante o preenchimento do nome completo do paciente, sem abreviaturas. A inscrição é a parte mais im- portante e é o “coração” da sua prescrição. Nesse momen- to, inserem-se o nome genéri- co ou a designação registrada pela indústria (nome comer- cial) e as quantidades escritas em algarismos arábicos e por extenso, entre parênteses. As abreviaturas devem sempre ser evitadas! Quando é receitada uma fórmula (prescrição magistral), temos uma sequência padrão a seguir. Veja como ela é: ● Base, ou ingrediente principal (princípio ati- vo ou fármaco); ● Adjuvante, que pode contribuir para a ação da base; ● Corretivo, que modifica ou corrige efeitos inde- sejáveis da base ou do adjuvante; ● Veículo, que é o solvente. 33 A subscrição são indicações complementares para auxi- liar o aviamento da receita. A indicação consiste nas instruções para o paciente, que dizem respeito à quan- tidade, à hora, à frequência da dose e a fatores como a diluição e a via de adminis- tração. Se o medicamento deve ser usado somente para uso externo, se deve ser agitado antes de usar, se deve ser tomado antes ou depois das refeições, em je- jum etc. A expressão “tome conforme a indicação” nunca é satisfató- ria, deve sempre ser evitada. Lembre-se do que já discuti- mos anteriormente, o pacien- te ou seu acompanhante pode ter dificuldades de lembrar as orientações que foram dadas no momento da consulta. Veja, a seguir, algumas dicas de termos (palavras) que po- demos utilizar em instruções para o uso de preparações: ● Uso interno: devem co- meçar com a palavra tome; ● Pomada, creme ou lo- ção: devem começar com a palavra aplique; ● Supositório: devem co- meçar com a palavra in- troduza; ● Gotas, colírios etc.: de- vem começar com a pa- lavra coloque. Como as instruções devem ser empregadas para lembrar o pro- pósito da prescrição, para isso, utilize palavras ou certas frases, a exemplo de: “para alívio da dor”; “para alívio da coceira”; “para alívio da febre” etc. E, finalmente, a assinatura do médico, que deve ser sempre acompanhada do número do seu registro no Conselho Regio- nal de Medicina (CRM) e do seu Cadastro de Pessoa Física (CPF). Não esqueça do uso do seu carimbo! Continuando... Evite erros e melhore a adesão ao tratamento realizando uma indicação detalhada e clara em sua prescrição! 34 Vamos realizar um check-list para autoavaliação da qualidade técnica da prescrição ao paciente. Veja o quadro a seguir: - Ler a receita junto com o paciente; - Informar o paciente sobre o propósito de cada medicamento e como deveria ser usado; - Informaro paciente sobre como deverá ser usado cada medicamento; - Informar o paciente sobre os principais efeitos adversos, interações do fármaco e procedimentos, caso ocorram; - Verificar se o paciente compreendeu a receita que o médico acabou de lhe entregar; - Verificar se a caligrafia é legível; se consta na receita nome do paciente, uso interno/externo, nome genérico do fármaco, forma farmacêutica (comprimido/capsula, etc.) dosagem, modo de usar (duas vezes ao dia, nas refeições, etc.), via de administração (ingerir, aplicar, etc.), tempo de tratamento, assinatura do médico e carimbo do médico. 35 ● Esperamos que, com esta atividade, os principais aspectos sobre a prescrição de fármacos tenham sido úteis e ficado mais claros e contribuam para uma melhor performance no seu trabalho cotidiano. ● É importante estar atento(a) e sempre ciente de que todos os profissionais envolvidos na prescrição de medicamentos, e não apenas quem prescreve, estão obrigados a respeitar a prescrição, desde que essa siga os preceitos legais e esteja adequadamente fundamentada em evidências. ● Outro aspecto importante é lembrar que, em nosso País, é permitido que comerciantes trabalhem com dispensação de medicamentos. Muitas vezes, em uma drogaria, quem vai realizar a venda do medicamento é um balconista, e esse profissional não é regido por um código de ética e, na maioria das vezes, não realizou treinamentos que o habilite a realizar a dispensação de medicamentos. ● Ao farmacêutico (profissional habilitado), cabem analisar e dispensar os medicamentos, etapas que incluem aviamento dos medicamentos e orientação ao paciente. Fica vedado a este profissional dispensar medicamento danoso à saúde do paciente ou seguir prescrição que coloca em risco o seu bem-estar. ● Aos profissionais que administram os medicamentos e a todos que acompanham o tratamento medicamentoso até seu final, cabe zelar pelo sucesso da terapêutica, colocando, sempre e em primeiro plano, a saúde e a qualidade de vida do paciente. ● É a prescrição que liga os processos de trabalho desses profissionais e possibilita um patamar comum de intercâmbio de conhecimentos, de modo a trazer ganhos reais à saúde do paciente. ● Assim, uma prescrição completa, clara e adequada às normas será uma garantia para a segurança do paciente e ao uso adequado do medicamento. 36 O Uso Racional de Medicamentos e a adesão ao medicamento Inicialmente, vamos situar esse tema historicamente, pois algu- mas datas e alguns documentos são marcos importantes. Já con- versamos sobre eles em lições an- teriores; aqui, vamos recordá-los e apontar sua relação com a URM. O conceito de URM surgiu pela primeira vez como tema de uma conferência de especialistas que se reuniram em Nairobi, no Quê- nia, em novembro de 1985. Na época, pretendiam debater o uso de medicamentos para o al- cance da meta “Saúde para Todos no ano 2000” surgido após a De- claração de Alma-Ata. Vocês já devem ter visto essa con- ferência tão importante, porém vale ressaltar que esse documen- to foi construído com o propósito de analisar temas fundamentais, entre eles, os critérios de URM. Atividade 3 37 Avançando um pouco mais no tempo e já fazendo um recorte para esse tema específico, verifi- camos que, em maio de 2004, foi aprovada a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), que engloba a promoção do uso racional de medicamentos como um dos seus eixos estratégicos, devendo este ser fomentado por intermédio de ações que discipli- nem a prescrição, a dispensação e o consumo de medicamentos (BRASIL, 2004). A promoção do uso racional de medicamentos junto à população, aos prescritores e aos dispensa- dores é de responsabilidades dos gestores federal, estadual e muni- cipal, segundo a Política Nacional de Medicamentos (BRASIL, 1998). Para colaborar com a importân- cia de definição de políticas que estivessem atentas ao URM, em 2005, foi realizada a grande ava- liação de estrutura, de processo e de resultados da Assistência Far- macêutica no Brasil. Este vídeo apresenta deba- te sobre a Política Nacional de Assistência Farmacêuti- ca no Brasil e aborda três aspectos: a pesquisa, a pro- dução e a distribuição de medicamentos, além de ou- tros assuntos, como o aces- so aos medicamentos pela população de baixa renda, a farmácia popular, a política industrial dos medicamen- tos e o fortalecimento da farmoquímica nacional. Clique no link disponível na videoteca desta unidade. 38 Uso Racional de Medicamentos A Portaria MS/GM nº 1.555, de 27 de junho de 2007, institui o Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil, que tem, entre suas competências, os papéis de identificar e de propor estratégias de articulação e de apoiar iniciativas para a promoção do URM. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde vem realizando anualmente, desde 2009, o Prêmio Nacional de Incentivo à Promoção do Uso Racional de Medicamentos. O prêmio tem a premissa de incentivar, por meio de premiação e reconhecimento de mérito, a produção técnico-científica voltada à promoção do uso racional de medicamentos com aplicação no Sistema Único de Saúde e serviços de saúde. Atualmente, temos instituída a PNAUM2 - Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil -, visto a necessidade de conhecer aspectos relacionados ao acesso, à utilização e ao uso racional de medicamentos no Brasil. Entre os objetivos da PNAUM, es- tão os compromissos temos os compromissos de avaliar a utiliza- ção de medicamentos, com a ca- racterização das morbidades ou das condições de saúde para as quais eles são utilizados, de avaliar indicadores de acesso aos medica- mentos e de avaliar indicadores de racionalidade do uso, entre outros. Pronto, depois de situarmos você sobre alguns caminhos já trilhados nessa busca para a PURM, podemos considerar que o conceito de URM já está claro? Ainda em dúvida em como você pode contribuir para a PURM? Então, afinal o que é URM? O uso racional de medicamentos (URM) pressupõe o uso adequa- do à prescrição clínica, observada a melhor relação de custo efeti- vidade e, para que ela aconteça, são necessárias a prescrição apro- priada, a disponibilidade oportu- na a preços acessíveis, a dispen- sação em condições adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no pe- ríodo de tempo indicado de me- dicamentos seguros, eficazes e de qualidade. Essa definição expõe a responsabilidade do governo, de profissionais de saúde, do usuário e da sociedade na promoção do URM (PURM). A OMS advoga 12 intervenções consideradas estratégicas na pro- moção do uso mais racional de me- dicamentos. Veja a seguir: Quer conhecer mais sobre a PNAUM? Acesse o site: http://www.ufrgs.br/pnaum http://www.ufrgs.br/pnaum 39 Estratégias na promoção do uso mais racional de medicamentos ● Estabelecimento de um corpo nacional multidisciplinar que coordene as políticas de uso de medicamentos; ● O uso de diretrizes terapêuticas; ● O desenvolvimento de uma lista nacional de medicamentos essenciais; ● O estabelecimento de comissões de farmácia e terapêutica (municipais, estaduais e em hospitais); ● A inclusão de treinamento em farmacoterapia baseada em problemas em currículos de graduação; ● Educação médica em serviço como requerimento para licenciar profissionais de saúde; ● Supervisão, auditorias e retroalimentação do perfil de URM; ● Uso de informação independente sobre medicamentos; ● Educação sobre medicamentos dirigidos a indivíduos, a famílias e a comunidades; ● Evitar incentivos financeiros perversos; ● Uso de regulação apropriada e de enforced; ● Gasto governamental suficiente que garanta disponibilidade de medicamentos e de recursos humanos. Esse documento da OMS encontra-se disponível na Biblioteca virtual desta unidade. 40A OMS tem promovido o URM por meio de estratégias de cunhos edu- cacional, gerencial, econômico e regulatório e estimula os países a segui-lo. A disponibilidade de me- dicamentos essenciais e a adesão às listas de medicamentos essen- ciais por prescritores e pelos usuá- rios são realidade, porém apresen- tam ainda muitos desafios. O uso inadequado de medicamen- tos é um importante problema de saúde pública no Brasil, o que justi- fica todos os esforços direcionados a minimizá-lo. URM pressupõe acesso (um dos atributos da Atenção Básica) e uso adequado de medicamentos. Lem- bre-se de que a propaganda farma- cêutica e as lacunas na orientação profissional colaboram para o uso inadequado dos medicamentos. Os papéis da Atenção Básica e dos prescritores na PURM são funda- mentais. Também o potencial das ações de educação em saúde para o desenvolvimento de uma cons- ciência coletiva sobre o uso mais responsável dos medicamentos é essencial para a PURM. As ações de educação podem ser estimuladas e concretizadas na equipe e no território, a exemplo de reuniões de equipe, na educa- ção permanente dos profissionais, em atividades de sala de espera, em ações na comunidade, nas es- colas e nos espaços comunitários e de participação social. Sugerimos a leitura dos materiais disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pela ANVISA, os quais tra- rão informações sobre a atuação na Atenção Básica. Disponível na videoteca desta unidade. 41 Bem, até aqui aprendemos sobre o Uso Racional de Medicamentos. Essa conversa nos remete a outro tema de extrema importância e que vamos trabalhar a partir de agora nesta atividade: os aspectos sobre a adesão ao tratamento. Estamo-nos referindo aos aspectos sobre a adesão ao tratamento. Preparados para discutirmos essa temática? Vamos em frente! Enquanto o alto consumo de medi- camentos é demonstrado e discu- tido por diversos estudos e desper- ta preocupação em profissionais e em autoridades de saúde, a ques- tão da não-adesão ao tratamento medicamentoso prescrito também tem tomado importância nas últi- mas décadas e está sendo incluída na lista de preocupações dos pro- fissionais de saúde, juntamente com outros fatores que influem sobre o uso racional de recursos terapêuticos. A relevância da questão na tera- pêutica é indiscutível: da adesão ao tratamento dependem o sucesso da terapia proposta, a cura de uma enfermidade, o controle de uma doença crônica, a prevenção de uma patologia. A adesão dos pacientes é definida como o grau de seguimento das recomendações médicas E se o paciente não adere a ele? Por que isso acontece? Será que o pa- ciente sabe o que é aderir ou tem consciência da questão? (LEITE; VASCONCELLOS, 2003). Medicamentos podem ser pres- critos para evitarem-se maiores complicações na saúde de uma pessoa ou remissão de alguma doença, logo, presume-se que o não uso de medicações pode propiciar uma piora da mesma. Assim, pensando nos medica- mentos como forma de preve- nirem-se complicações futuras no estado de saúde de um indi- víduo caso uma pessoa deixe de utilizar fármacos receitados, ela se torna mais propensa a desen- volver complicações de saúde, e mais caro para o sistema público será mantê-la em tratamento – pois, por exemplo, podem ocor- rer internações decorrentes de complicações geradas pelo não cumprimento de uma terapia medicamentosa. Não obstante, um paciente aderen- te ao uso de medicações, que siga as recomendações de uso correta- mente, tende a onerar menos o Go- verno nos gastos com a saúde pú- blica, pois ele evita que maiores danos à sua condição de saúde atual possam ocorrer (MOURÃO JÚNIOR; SOUZA, 2010). A discussão sobre a adesão a medicamentos envolve inúme- ros fatores que se relacionam de maneira ampla e complexa. Não existe uma variável única que faça um indivíduo aderir às recomen- dações feitas por um profissional em relação a quais remédios uti- lizar; a não adesão está envolvida com fatores biológicos, psicológi- cos, culturais e comportamentais, que se inter-relacionam. Esses fatores subsidiam as deci- sões de um indivíduo sobre usar ou praticar aquilo que lhe foi indicado (MOURÃO JÚNIOR; SOUZA 2010). 42 A não adesão a tratamentos com medicamentos pode ser classificada como: ● erro de omissão (um medicamento prescrito não é utilizado), ● erro de consumo (um medicamento não prescrito é consumido), ● erro de posologia (uma dose errada é utilizada) e ● erro no intervalo entre as administrações (por exemplo, uma vez em vez de duas vezes ao dia). Em uma pesquisa realizada por Reitners e colabora- dores (2008), identificaram-se e organizaram-se as publicações com estudos que tratam o tema de ade- são ao tratamento (farmacológico ou não), organizan- do-se um quadro muito interessante sobre os fatores que determinam a não adesão ao tratamento, o qual destacamos ao lado: Nesse estudo, os autores evidenciaram que a maior carga de responsabilidade pela adesão/não-adesão ao tratamento é conferida ao paciente e que é neces- sário que os profissionais e serviços de saúde sejam corresponsáveis nesse processo. Estima-se que entre 30 e 50% dos medicamentos prescritos para condições de longo curso não são utilizados conforme as recomendações recebidas. O artigo de Reitners e colaboradores (2008) está disponível na biblioteca virtual. 43 Fatores determinantes de não adesão Relacionadosao tratamento(12,16-18) Prescrição de esquemas terapêuticos não inadequados (famacológicos e não farmatológicos); Apresentação dos medicamentos (cor, odor, gosto, tamanho, embalagem; Custo elevado da medicação. Relacionados à doença (15,21) Gravidade da doença;Ocorrência de outros problemas de saúde. Relacionados aos problemas de saúde (21-23) Localização da unidade (distante do comicílio, em outra região); Burocracia; Insuficiência de recursos humanos e materiais; Deficiência organizacional; Deficiência nas visitas domiciliares e na busca ativa dos caos. Relacionados aos serviços de saúde(18,24) Preparo profissional deficiente (erros terapêuticos, inabilidade para modificar esquemas de tratamento, avaliação insuficiente da situação de saúde do paciente); Rotatividade de profissionais no atendimento ao paciente; Não reconhecimento da responsabilidade do profissional na adesão. Relacionamento ao relacionamento profissional de saúde / paciente(17,25,26) Comunicação inadequada e insuficiente do profissional; Dificuldade de relacionamento do paciente com o profissional; Falta de confiança do paciente no profissional; Abordagem do paciente de forma imprópria (desatenção e indelicadeza). Relacionados ao paciente (16,23,25,27,28) 1. Intolerância aos medicamentos; 2. Ausência de sintomas; 3. Melhora dos sintomas; 4. Fatores culturais; 5. Práticas alternativas de cuidado; 6. Dificuldade financeira; 7. Automedicação; 8. Esquecimento da dose diária dos medicamentos; 9. Esquecimento do dia da consulta; 10. dificuldade para se adaptar às exigências do tratamento; 11. Descrença no serviço de saúde; 12. Pouco conhecimento sobre a doença e o tratamento; 13. Resistência aos medicamentos; 14. Retirada precoce do esquema terapêutico; 15. Dificuldade psicológica para lidar com a doença; 16. Dificuldade em cumprir as normas do serviço de saúde; 17. Dificuldade em cumprir as normas do serviço de saúde; 18. Dificuldade de relacionamento do 19. Prescrição mal entendidada; 20. Dificuldade para o autocuidado. Relacionado a dados demográficos(8, 11, 16, 29) Faixa etária que compreende adolescentes e adultos jovens; Sexo masculino; Baixo nível de escolaridade e analfabetismo; Morar sozinho ou em instituições, sem resistência fixa; Baixo nível socioeconômico. Relacionados ao uso de drogas(22, 31) Alcoolismo; Tabagismo; Drogas. Relacionados a problemas sociais(11, 25, 30, 31) Discriminação social (no trabalho, na escola);Falta de apoio da sociedade e da família. 44 Segundo Beria e Beria (2013), a não adesão não deveriaser vista como um problema do paciente. Ela representa uma limitação fundamental da provisão dos cuidados de saúde, frequentemente devido a uma falha na concordância com a prescrição ou na identificação e na disponibilidade do suporte de que o paciente necessita. Em relação às estratégias para promover adesão e formas de in- tervenção, Mourão Júnior e Souza (2010) destacam que as pessoas tendem a se manterem em uma zona de conforto, e mudanças que interfiram nelas inclinam-se a serem percebidas como desagra- dáveis. Seria como se ocorresse uma perda de equilíbrio e sua se- gurança estivesse ameaçada. Cabe, então, ao profissional, mé- dico ou não, ajudar cada sujeito a sair dessa condição, proporcio- nando a ele a segurança neces- sária para tal, o que só se torna possível quando se atenta para o próprio sujeito e compreende-se que ele possui particularidades que o levam a agir de determina- da maneira. Seguindo essa perspectiva de ten- tar promover a adesão, algumas estratégias podem ser utilizadas na tentativa de ampliar as chances de um indivíduo ser mais aderente a uma terapia medicamentosa. Existem algumas maneiras descri- tas por McDonald, Garg e Haynes (2002), as quais o profissional pode utilizar para promover a adesão. Tais estratégias podem ser por meio de: ● instrução oral e escrita; ● orientação terapêutica ao pa- ciente e à família; ● utilização das respostas do próprio organismo do pacien- te, como alterações de pres- são arterial, convulsões – que alertam para melhoras ou pioras decorrentes do uso ou não do medicamento –; ● lembretes; e ● recompensas. Ao utilizar, por exemplo, alterações de pressão arterial e convulsões que o paciente pode ter apresentado devido ao mau ou não uso de me- dicamentos, o profissional permite que o próprio sujeito perceba as consequências de sua não adesão, o que possivelmente pode modificar sua atitude, evitando ocorrências de condições desagradáveis. A combinação entre componentes afetivos, comportamentais e cogni- tivos com intervenções compreen- sivas são mais efetivas do que inter- venções de foco único. Estratégia de tratamento multidis- ciplinar está associada a um au- mento na adesão de medicamentos em um período de trinta dias após alta hospitalar em pacientes idosos com problemas cardíacos. No intuito de promover mais segu- rança ao paciente, obtendo-se mais conhecimento sobre sua condição, pode ser utilizada uma técnica co- nhecida como psicoeducação. Ela propõe a promoção de conhecimen- to, visando favorecer uma conduta mais aderente do indivíduo à terapia. Questões relativas à ação do medi- camento no organismo, aos efei- tos esperados do mesmo e ao tem- po que ele leva para proporcionar uma melhora do quadro podem ser discutidos para o aprendizado do paciente. 45 Inseguranças e medos dos indivíduos podem ser diminuídos e, consequentemente, a ade- são poderá ser promovida, evitando assim, falsas expectativas sobre o uso da medicação Na Atenção Básica, temos uma oportunidade muito singular de tratar a não adesão, devido às características da atenção ofertada nesse nível de atenção e seus atributos de qualida- de, além dos princípios da Humanização que corroboram para um vínculo maior com o in- divíduo, a família e a comunidade. A Política Nacional de Humanização existe desde 2003 para efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gesto- res, trabalhadores e usuários. A Política Nacional de Atenção Básica incluiu a humanização como uma de suas orientações; da mesma forma, a estratégia do NASF tomou a humanização como diretriz e princípio, e vários de seus dispositivos, como Projeto Terapêutico Singular, Apoio Matricial, Acolhimento com Clas- sificação de Risco e Vulnerabilidade, entre ou- tros, foram incluídos como ferramentas de ação. Mas, sobretudo, a inclusão do conceito-ferra- menta apoio institucional, principal tecnologia de ação da humanização, é uma contribuição indelével da PNH para a Atenção Básica. Quer conhecer mais textos que analisam e discutem abordagens teóricas e análise de experiências concretas, apontando alguns acúmulos e desafios para a Atenção Básica no SUS? Conheça o Caderno do Humaniza SUS Atenção Básica disponível em sua Biblioteca virtual. Para o tratamento da não adesão, é importan- te melhorar a comunicação com os pacientes. Na prática individual, é importante levar em consideração, antes de realizar intervenções para aumentar a adesão, que a terapêutica seja racional e baseada em conhecimento médico estabelecido e que os riscos poten- ciais do tratamento sejam menores do que os benefícios esperados. Um SUS humanizado é aquele que reconhe- ce o outro como legítimo cidadão de direi- tos, valorizando os diferentes sujeitos impli- cados no processo de produção de saúde. Pesquisa Prescrevendo na Atenção Básica Atividade 4 47 A prescrição médica é conside- rada racional sempre que o tra- tamento farmacológico seja de fato o indicado, o medicamento prescrito seja eficaz para tratar o quadro clínico da pessoa e seja utilizado na dose e período ade- quado e a alternativa farmaco- terapêutica seja a mais segura e de menor custo (OZÓRIO et al., 2012). Na Atenção Básica, temos a oportunidade de conhecer me- lhor a pessoa que estamos aten- dendo e o tempo está a nosso favor – podemos rever e “bus- car” nosso paciente sempre que preciso (pois o conhecemos e sabemos onde encontrá-lo). Temos também o atributo da competência cultural que vai contribuir muito para a tomada de decisão – a forma como as pessoas utilizam suas medica- ções é muito variável e está for- temente influenciada pelas suas crenças e postura. Outro ponto de destaque na Atenção Básica é a oportunida- de de aproximação e de acom- panhamento das pessoas idosas e das crianças, dois grupos po- pulacionais que exigem especial cuidado para a tomada de deci- são e a prescrição. Os idosos são consumidores em potencial de medicamentos, muito suscetíveis à polimedica- ção, aos efeitos adversos e à in- teração medicamentosa. Os pacientes idosos, com já afir- mamos, são os principais consu- midores e os maiores beneficiá- rios da farmacoterapia moderna. Mais de 80% tomam, no mínimo, um medicamento diariamente. Esse grupo etário, no entanto, apresenta maior risco de de- senvolver reações adversas, e estas são responsáveis por 10% a 20% das admissões hospitala- res agudas. O uso inapropriado de medi- camentos por idosos tem-se tornado um problema, tanto do ponto de vista humanístico quanto o econômico (TEIXEIRA; LEFÈVRE, 2001). A prescrição de medicamentos para essa população envolve necessariamente o entendimen- to das mudanças estruturais ou funcionais dos vários órgãos e sistemas relacionados à idade, implicando alterações na farma- cocinética e farmacodinâmica de vários medicamentos. O desconhecimento dos pacien- tes a respeito de suas doenças e dos tratamentos implica uma das três considerações a seguir: os pacientes não são totalmen- te informados; a situação não é claramente explicada; ou se explicada, os pacientes não en- tendem a terminologia médica usada pelo prescritor (TEIXEI- RA; LEFÈVRE, 2001). 48 Já as crianças exigem uma atenção especial, pois as for- mulações, as dosagens e a ad- ministração são aspectos que exigem uma adequação na hora da prescrição. Além des- ses aspectos, crianças e alguns idosos dependem de um res- ponsável para a administração correta da farmacoterapia. Como já discutimos anterior- mente, a prescrição deve ser realizada com letra legível, com inscrição, subinscrição e indica- ção realizados de forma com- pleta e com clareza. Prescrições incompletas, ilegíveis ou com rasuras impedem a eficiência da dispensação, acarretam ris- co de troca de medicamentos e de dosagens, levando ao com- prometimento no tratamento farmacoterapêutico.Em um estudo realizado em um ambulatório de pediatria, concluiu-se que os fatores re- lacionados à não compreensão da prescrição pediátrica foram o baixo nível socioeconômi- cocultural do acompanhan te/ responsável. Mesmo entre os entrevistadores que eram universitários, houve incompreensão da letra pres- crita. Outros fatores estavam relacionados ao médico, tais como a utilização de símbolos/ abreviaturas, a letra ilegível e as orientações fornecidas apenas verbalmente (SANO et al., 2002). Em outro estudo, observou-se que as principais informações ausentes nas prescrições ana- lisadas foram a forma farma- cêutica (84,0%), a concentra- ção (61,5%), as abreviaturas mais utilizadas na via de admi- nistração (37,2%) e a posolo- gia (35,3%). A denominação genérica esteve presente em 63,4% e a identificação do pres critor estava ilegível em 88,0% das prescrições (GEYSA et al., 2006). Segundo Ozório e colaborado- res (2012), a falha de comu- nicação durante a prescrição pode levar ao desconforto e à desconfiança quanto à medi- cação prescrita, ao descrédito no médico, ao sistema e à falta de adesão ao tratamento. Disponibilizamos, em sua Biblioteca virtual, o artigo “Acidentes com os medicamentos: como minimizá-los?”. Essa revisão apresenta e discute os problemas relacionados aos acidentes envolvendo medicamentos, da prescrição ao uso, as etapas críticas e as estratégias para minimizá- los. Disponível na videoteca desta unidade. 49 Você pode estar se perguntando: O que eu posso fazer para realizar uma melhor prescrição na Atenção Básica? Ozório e colaboradores (2012) indicam-nos alguns passos e conselhos úteis que eles desenvolveram. Além disso, eles destacam alguns dos erros mais frequentemente cometidos e sugerem algumas atividades preventivas e de educação. Vamos a essas dicas valiosas para uma prescrição na Atenção Básica racional e de qualidade. Na anamnese, você deve incluir informações sobre o uso de fár- macos, não apenas às questões mais formais em si, como história de alergias, o uso regular ou even- tual de algum fármaco, o uso de algum por conta própria, etc. É preciso muita atenção aos as- pectos inerentes à pessoa: suas crenças individuais sobre a doença e a medicação, suas ideias e preo- cupações, sua expectativa sobre o diagnóstico e o tratamento são pontos-chave para uma boa co- municação, a qual certamente re- fletir-se-á na prescrição. Tenha certeza de que a comunicação inadequada é um fator relevante que contribui para erros na me- dicação como vários estudos apon- taram para essa realidade. A OMS desenvolveu um manual sobre os princípios da prescrição racional para estudantes de Medicina, o Guide to Good Prescribing, traduzido para o português como Guia para a Boa Prescrição Médica (Artmed, 1998). Esse manual apresenta ao estudante o seguinte modelo nor mativo para a farmacoterapia racional: No curso do desenvolvimento de seus medicamentos, os estudantes são ensinados a consultar proto- colos de tratamento nacionais e internacionais, formulários, livros- texto e outras fontes de informação sobre medicamentos. Em seguida, eles são ensinados a aplicar o conjunto de medicamen- tos-I a problemas específcos de pacientes, usando um esquema de resolução de problemas composto por 6 passos: 1. definir o problema do paciente; 2. especificar o objetivo terapêutico; 3. verificar a conveniência de seus medicamentos e escolher o tra- tamento para esse paciente indi- vidual; 4. escrever a prescrição; 5. informar e instruir o paciente; 6. monitorar e/ou interromper o tratamento. A leitura desse livro é uma excelente dica para todo prescritor! Segundo Arrais e colaboradores (2007), o Guia para a Boa Prescrição Médica da OMS nos indica que, após selecionar o tratamento me- dicamentoso e escrever a recei ta, o médico deve informar ao paciente: (a) os objetivos a curto (ou a longo) prazo do tratamento instituído; (b) como, quando e por quanto tempo deve tomar o medicamento; (c) seus benefícios e riscos (interações medicamento-medicamento ou me- di camento-alimento, reações ad- ver sas, intoxicações); (d) procedi- mentos a seguir se surgirem alguns efeitos adversos; (e) forma de guardar os medicamentos; e (f) o que fazer com as sobras. O medicamento é um produto que, acompanhado de informação, facilita o seu uso correto. 50 EIS UMA DICA PRECIOSA! PASSOS PARA A TOMADA DE DECISÕES COMPARTILHADAS COM A PESSOA Esses autores afirmam que, atualmente, verifica-se a necessidade do resgate das relações médico-paciente e farmacêutico-paciente, como um aspecto chave para a melhoria da qualidade do serviço de saúde, no qual a personalização da assistência, a humanização do atendimento e o direito à informação são componentes básicos desse processo (ARRAIS et al., 2007). A seguir, vamos destacar 2 quadros que foram trabalhados por Ozório e colaboradores (2012). O primeiro quadro (ao lado) apresenta passos para a tomada de decisão compartilhada com a pessoa e o segundo quadro demonstra alguns conselhos úteis na hora de prescrever. Vamos a eles: ● Definir o problema: o profissional deve especificar o problema que requer uma decisão, levando em consideração as suas percepções e as da pessoa. ● Transmitir confiança: deixar claro que os profissionais podem não ter uma mesma opinião sobre qual opção de tratamento é a melhor. ● Resumir as opções: descrever uma ou mais opções de tratamento e, se relevante, a consequência de não tratar. ● Verificar o entendimento: certificar-se do entendimento da pessoa sobre as opções. ● Explorar as concepções: evocar as preocupações da pessoa e as expectativas sobre a condição clínica, as possíveis opções de tratamento e as suas consequências. ● Investigar a aceitação da pessoa: conferir se ela aceita o processo de decisão compartilhada e identifica o seu papel na interação. ● Envolver a pessoa: comprometê-la no processo de decisão. ● Protelar, se necessário: rever as necessidades e as preferências da pessoa, incluindo a opinião da família. ● Rever os acordos: examinar cuidadosamente as decisões de tratamento após um período específico de tempo. 51 CONSELHOS ÚTEIS NA HORA DE PRESCREVER VEJA MAIS... ● Antes de prescrever uma medicação ou conduta, deve-se conhecer e procurar evidências de seu uso. ● Descrever, de forma compreensível e detalhada, as medidas não medicamentosas que fizeram parte da prescrição. ● Prescrever, na medida do possível, somente uma medicação. Evitar a polifarmácia. ● Esclarecer à pessoa e/ou ao acompanhante tudo o que for imprescindível sobre o medicamento prescrito: dose, duração do tratamento, interações medicamentosas, reações adversas e riscos durante e depois de seu uso, forma de armazenamento. ● Na prescrição de crianças, conhecer a dose recomendada de acordo com o peso, a idade, a apresentação do medicamento e o estado nutricional. ● Na prescrição de gestantes, conhecer de forma empírica e procurar sempre uma justificativa clínica consistente. ● Escrever a receita médica de forma legível, completa, sem abreviaturas, com a inscrição no CRM. Datar e assinar. Utilizar o nome genérico ou a denominação comum brasileira (DCB). ● Levar em consideração o custo-benefício dos medicamentos ao prescrevê-los. ● Prescrever somente medicamentos que venham ao encontro das necessidades da pessoa e nunca para sua própria conveniência ou simplesmente porque a pessoa os requer. ● Acordar com a pessoa o retorno da consulta para acompanhamento. ● Prescrever medicação não licenciada ou fora dos termos de sua licença (off-label) somente se necessário. ● Renovar receitas, desde que as condições da pessoa estejam monitoradas. ● Estabelecer comunicação com a pessoa, levando em consideração suas crenças, preocupações e atitudes. ● Registrar as prescrições no prontuário da pessoa para que se possa conferir, no retorno, se as orientações foram cumpridas. ● Utilizar,se disponível, prescrição eletrônica. Isso tem sido pro- posto como uma estratégia importante para reduzir erros com medicações, melhorar a qualidade do cuidado com a pessoa e reduzir os custos na área da saúde. 52 ERROS MAIS FREQUENTES COMETIDOS ● Uso de medicamentos que trazem mais riscos que benefícios, ou de custo elevado, quando existem alternativas mais seguras e acessíveis. ● Prescrição de medicamentos com interações medicamento-medicamento e me- dicamento-doença clinicamente significativas. ● Prescrições inapropriadas (subprescrição – não prescrever medicamentos que são necessários, principalmente no caso de pessoas idosas, ou prescrever por tempo insuficiente; superprescrição – prescrever um ou mais medicamentos do que é clinicamente necessário, ou por tempo prolongado; sobreprescrição – prescrever dois ou mais medicamentos para a mesma finalidade). ● Prescrições incorretas: ambíguas (medicamentos antagônicos), ilegíveis, incompletas (ausência de via de administração, forma farmacêutica, concentração, duração do tratamento, posologia e data), com uso de abreviações ou, ainda, rasuras, com falta de assinatura ou CRM. ● Prescrições que não levam em consideração as características individuais das pessoas (função renal ou hepática reduzida, história de alergia, uso de outros fármacos, gestação, etc). ● Uso de terapias não baseadas em evidências. ● Ausência de informações verbais (o porquê do medicamento; a forma adequada de fazer uso de cada substância; a existência de interação ou não com a alimentação; a importância do cumprimento dos horários estabelecidos; formas de armazenamento, etc.) e não elucidação das dúvidas da pessoa. ● Não monitorar a ação do medicamento. Seguindo nossa proposta de apresentar facilitadores para sua prescrição na Atenção Básica, destacamos no quadro alguns dos erros mais frequentes cometidos, segundo proposto por Ozório e colaboradores (2012). 53 Para evitar as duplicações e as interações medicamentosas, o médico da Atenção Básica deve elaborar um esquema terapêutico simplificado, com dosagens adequadas, e aquelas potencialmente interativas devem ser substituídas, procurando o máximo efeito terapêutico com o mínimo de drogas e de efeitos adversos. Antes de prescrever algum medicamento na Atenção Básica, é importante que o médico se questione sobre os seguintes pontos: a) É realmente necessária a utilização de um fármaco para modificar o curso clínico desse problema? b) Qual fármaco indicar? c) Como deve ser administrado esse fármaco? O idoso ou seu cuidador tem condição de assimilar essas informações? d) O idoso está usando outro fármaco? e) Quais os efeitos esperados desse fármaco? f) O fármaco poderá ser utilizado para outros fins que não os da prescrição? g) Os medicamento prescritos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde? Racionalizar o uso de medicamentos e evitar os agravos advindos da polifarmácia e da iatrogenia serão, sem dúvida, um dos grandes desafios da saúde pública deste século. Para facilitar essa prática, a Caderneta de Saúde da Pessoa permitirá o registro das principais medicações em uso, auxiliando no atendimento da pessoa idosa em qualquer ambiente em que isso ocorra. Para fecharmos esta atividade, compartilhamos alguns preceitos gerais pronunciados pelo professor Jairo Ramos na primeira edição do livro “Atualização Terapêutica”, há quase 50 anos, e que sempre merecem ser lembrados: 54 Como podemos selecionar uma lista com medicamentos considerados essenciais? Veja a seguir. Rename e Farmácia Popular Escolhemos encerrar nossa discussão sobre prescrição de fármacos apresentando na última atividade algumas informações que serão fundamentais de serem conhecidas sobre listas de medicamentos na Atenção Básica. Você sabia que trabalhar com conceito e lista de medicamentos essenciais faz par- te das dez recomendações que melho- ram o uso de medicamentos em países em desenvolvimento? Esse conceito foi criado com a visão de que as pessoas, em qualquer lugar, te- nham acesso aos medicamentos priori- tários para a saúde pública quando deles necessitarem, os quais devem ser efica- zes, seguros e de qualidade assegurada, sendo prescritos e usados racionalmente. Atividade 5 55 Critérios de seleção Baseados em evidências e em sequência hierárquica, englobam: Cada país utiliza a lista modelo da OMS de modo flexível e adaptável às suas condições. A decisão sobre quais medicamentos essenciais se- rão selecionados permanece uma responsabilidade nacional. Nessa perspectiva, a seleção leva em conta as doenças de relevância para a população, as condições or- ganizacionais dos serviços de saú- de, a capacitação e a experiência dos profissionais, a qualidade dos medicamentos registrados e dispo- níveis no país e os recursos finan- ceiros alocados para a saúde. E para a prática clínica, é vantajoso trabalhar com listas? Há evidências de que trabalhar com número limitado de medicamentos essenciais favorece qualidade de atenção à saúde, melhor gestão de medicamentos, mais fácil auditoria, mais fácil treinamento do prescri- tor e melhor informação ao pacien- te, o que foi verificado inclusive em países ricos. A lista de medicamentos essenciais deve orientar e racionalizar o suprimento de medicamentos no setor público, a produção local de medicamentos e as ações no âmbito da assistência farmacêutica A estratégia de emprego de me- dicamentos essenciais é impor- tante vertente para o uso racio- nal de medicamentos. A lista de seleção de medicamentos essen- ciais deve ter extensões, como um formulário terapêutico e protocolos clínicos, tudo isso in- fluenciando positivamente a pre- venção e o tratamento de doen- ças prevalentes e relevantes para o país. Mas, na prática, como são selecio- nados frente a tantas possibilida- des que a indústria farmacêutica disponibiliza? Na atualidade, cresce o número de medicamentos colocado para co- mercialização, sendo que apenas 1% representa reais inovações com relevância clínica. Há, pois, um ar- mamentário excessivo e repetitivo, criando-se “famílias” de medica- mentos, em que os mais novos são muito semelhantes em eficácia e em segurança (me-toos) aos já exis- tentes. As poucas diferenças en- contradas dizem respeito a aspec- tos farmacocinéticos, os quais, por vezes, repercutem favoravelmente na terapêutica. Em outras, no entanto, aquelas di- ferenças não são significativas para obtenção de respostas terapêuticas. Apesar dessa realidade, os órgãos reguladores europeu (EMEA) e nor- te-americano (FDA) aprovaram mais medicamentos em 2008 do que em 2007. O cerne da seleção racional é o processo comparativo, em que re- presentantes de mesma classe tera- pêutica são cotejados entre si para determinar seu real e relevante be- nefício clínico para o paciente. 56 Da lista de essenciais, são excluídos medicamentos de similar eficácia e segurança, de recente introdução no mercado, com insuficiente experiência de uso e eficácia ou segurança não definidamente comprovados. Custo alto não exclui da lista um medicamento, se esse representa a melhor escolha para uma condição específica. Ao contrário, se todos os critérios hierarquicamente mais importantes (eficácia, segurança e conveniência ao paciente) forem similares, a decisão penderá em favor do que tiver preço mais justo, para tornar-se mais facilmente disponível aos pacientes que dele necessitarem. Assim, levando em conta os efeitos de classe, escolhe-se um represen- tante com base em fortes evidên- cias de eficácia e de segurança, comprovadas por amplos ensaios clínicos randomizados (ECR), com base metodológica e desfechos de alta relevância clínica, gerado- res de resultados generalizáveis e aplicáveis às condições usuais. Me- ta-análises e revisões sistemáticas os resultados das fontes primárias e constituem um dos pilares da evi- dência, mesmo quando essa ainda não se construiu. Mostrar que existe incerteza
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