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Onicoses Definição 🖤 diversas alterações podem acontecer na unha levando ao paciente procurar atendimento médico, principalmente por conta de uma unha esteticamente desagradável ou por conta de sintomas associados, como dor ou latejamento. 🖤 uma variedade de doenças podem estar por trás dessas alterações, como deformidades, atrofias, infecções, traumas, tumores ungueais, doenças sistêmicas ou genéticas. 🖤 é válido ressaltar a diferença entre atrofia e deformidade. Entende-se por deformidades grandes alterações na espessura das unhas, e as distrofias são alterações na textura ou composição delas. 🖤 são infecções produzidas por fungos dermatófitos, leveduras ou bolores. O fungo que mais frequentemente provoca onicopatia é do gênero Trichophyton. 🖤 são classificadas clinicamente em onicomicose subungueal distal, onicomicose superficial branca, onicomicose proximal subungueal e onicomicose distrófica total. Anatomia da Unha 🖤 a matriz ungueal é o epitélio germinativo de onde os queratinócitos da matriz ungueal se diferenciam para formar a lâmina ungueal. A maior parte dessa matriz está oculta sob a prega ungueal proximal, mas o terço distal às vezes é visível através da porção proximal da lâmina ungueal como uma estrutura em forma de meia-lua chamada lúnula. 🖤 a queratinização das células da matriz distal forma a porção ventral da lâmina ungueal, enquanto a queratinização das células da matriz proximal forma a porção dorsal da lâmina ungueal. 🖤 o crescimento das unhas diminui com o avanço da idade e da doença vascular, e pode ser parcial ou completamente interrompido por alguns fatores como doença sistêmica, trauma ou medicamentos, como os antimitóticos. Em média o crescimento da unha leva aproximadamente 12 meses (até 18 meses para a unha grande). 🖤 a derme do leito ungueal fica abaixo da lâmina ungueal e acredita-se que contribua com doação de algumas células epiteliais para a superfície ventral da unha, permitindo que a unha cresça continuamente enquanto adere ao leito ungueal. 🖤 as dobras ungueais servem para proteger a lâmina ungueal e direcionar seu crescimento na orientação correta. O hiponíquio, que é localizado na borda livre distal da lâmina ungueal, imediatamente proximal ao sulco distal, é contíguo à pele voltar e funciona para selar e proteger a unidade ungueal distal do ambiente. 🖤 a interrupção do hiponíquio pode resultar em onicólise e permitir a penetração de patógenos que são incapazes de digerir a queratina] Epidemiologia 🖤 é uma das dermatoses mais frequentes, com uma prevalência variando de 7 a 10 %1,2, sendo responsável por 15 a 40 % das alterações ungueais. 🖤 uma vez adquirida, geralmente não há remissão espontânea. Portanto, a incidência aumenta com a idade; 1% dos indivíduos menores de 18 anos são afetados; quase 50% dos indivíduos com mais de 70 anos. 🖤 é um pouco mais comum no sexo masculino. 🖤 os agentes etiológicos variam nas diferentes regiões geográficas. Mais comum nas áreas urbanas do que nas rurais (associado ao uso de calçados fechados). 🖤 estima-se que a prevalência em pacientes diabéticos esteja em 32%; pacientes diabéticos necessitam de intervenção precoce e devem ser examinados regularmente por dermatologista ou por podiatra. Fisiopatologia 🖤 Onicomicose primária/Tinha ungueal: a probabilidade de invasão das unhas por fungos aumenta em razão direta de problemas no suprimento vascular (i.e., idade crescente, insuficiência venosa crônica, doença arterial Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P8 1 periférica), nos estados pós-traumáticos (fraturas de membro inferior) ou nos distúrbios de inervação (p. ex., lesão do plexo braquial, traumatismo medular). 🖤 Onicomicose secundária: a infecção ocorre em aparelho ungueal já alterado, como na unha psoriática ou traumatizada. OSDL. O leito ungueal, estimulado pela infecção fúngica, produz queratina mole que se acumula sob a lâmina ungueal, provocando a sua elevação. A matriz geralmente não sofre invasão, e a produção de lâmina ungueal normal se mantém sem prejuízo, a despeito da infecção fúngica. 🖤 Transmissão: dermatófitos - as infecções por dermatófitos antropofílicos são transmitidas de um indivíduo para outro, por fômites ou por contato direto, geralmente entre membros da família. Algumas formas de esporos (artroconídias) permanecem viáveis no ambiente e capazes de infectar por até cinco anos; ou fungos - onipresentes no ambiente; não há transmissão entre seres humanos. Quadro Clínico 🖤 aproximadamente 80% das onicomicoses ocorrem nos pés, especialmente no hálux; não é comum ocorrer simultaneamente em pés e mãos. 🖤 as unhas perdem a função de proteção e manipulação. 🖤 dor nas unhas dos pés comprimidas por sapato; predisposição a infecções secundárias bacterianas; e úlceras do leito ungueal subjacentes, são possíveis complicações. As complicações são mais comuns na crescente população de imunocomprometidos e diabéticos. 🖤 Onicomicose subungueal distal e lateral (OSDL): a infecção se inicia no hiponíquio ou na prega ungueal e se estende à região subungueal. Pode ser primária, ou seja, envolvendo um aparelho ungueal saudável, ou secundária (p. ex., psoríase) associada à onicólise. Sempre associada à tinha do pé. Observa-se uma placa branca sob a superfície distal ou lateral da unha e no leito ungueal, geralmente com limites bem demarcados. Com a evolução da infecção, a unha torna-se opaca, espessada, rachada, friável e elevada pelos debris hiperceratóticos subjacentes nohiponíquio. Quando estão envolvidas as unhas das mãos, o padrão em geral é de acometimento de dois pés e uma mão. 🖤 Onicomicose branca superficial (OBS): o patógeno invade a superfície dorsal da unha. Etiologia: Trichophyton mentagrophytes ou T. rubrum (crianças). Muito mais raramente, fungos do ambiente: Acremonium, Fusarium, Aspergillus terreus. Observa-se uma placa branco-giz na lâmina ungueal proximal, que pode tornar-se rosada e resultar no seu desprendimento. É possível haver OBS e OSDL concomitantemente. Quase exclusivamente nas unhas dos pés e raramente nas unhas das mãos. 🖤 Onicomicose subungueal proximal (OSP): o patógeno entra pela região posterior da prega ungueal e pela cutícula e, em seguida, migra ao longo do sulco ungueal proximal até chegar à matriz subjacente proximal ao leito ungueal e, finalmente, à unha subjacente. Etiologia: T. rubrum. Manifestações clínicas: leuconíquia que se estende distalmente a partir da prega ungueal proximal. Em geral, uma ou duas unhas estão envolvidas. Sempre associada a estados de imunossupressão. Uma mancha branca aparece abaixo da prega ungueal proximal. Com o tempo, a coloração branca preenche a lúnula e finalmente move-se distalmente para envolver boa parte da superfície inferior da unha. É mais comum nas unhas dos pés. Avaliação da Unha 🖤 Unhas Quebradiças: caracterizadas pela aspereza e opacidade da superfície da lâmina ungueal. Uma esfoliação lamelar (onicosquizia) ou divisão (onicorrexe) pode estar presente na margem distal da lâmina ungueal. As principais causas e etiologias desse processo estão dispostos na tabela a seguir. 🖤 Distrofia Lamelar: caracterizada pela divisão lamelar da borda livre da unha devido ao comprometimento dos fatores de adesão intercelular da lâmina ungueal e é causada pela exposição a fatores externos que alteram os fatores de adesão Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P8 2 intercelular da lâmina ungueal (trabalho úmido, produtos químicos, trauma). 🖤 Linhas de Beau: resultam de uma interrupção temporária da proliferação da matriz da unha proximal e aparecem como ranhuras transversais que se movem distalmente com o crescimento da unha. O tempo do insulto que leva à ranhura transversal pode ser datado medindo a distância da ranhura da prega ungueal proximal (aproximadamente um mês para cada milímetro a partir da prega ungueal proximal). 🖤 Sulco Longitudinal: pode ser produzido por uma compressão focal da matriz ungueal de tumores localizados na prega ungueal proximal ou leito ungueal e são pequenas rachaduras ou fissuras que se estendem lateralmente a partir do canal central ou se dividem em direção à borda da unha. A condição geralmente é simétrica e geralmente afeta os polegares. É resultado de um defeito temporário da função da matriz de etiologia desconhecida. 🖤 Onicólise: consiste no deslocamento distal ou lateral da lâmina ungueal do leito ungueal ou das estruturas de suporte, como as dobras ungueais laterais e o hiponíquio. O aspecto da porção onicolítica da unha é branco devido ao ar sob a lâmina ungueal. Muitas condições estão associadas a onicólise, dentre as quais destacamos o trauma, umidade, psoríase, líquen plano, onicomicose, e a dermatite de contato alérgica. Para os quadros de onicólise crônica sem uma causa explicável, deve-se pensar até mesmo em neoplasia, como o carcinoma de células escamosas subungueais. 🖤 Onicomicose: é uma infecção por fungos dermatófitos, leveduras e fungos não dermatófito da unidade ungueal, caracterizada por alteração na cor (ficando amarelada ou esbranquiçada), espessamento e deformidade das unhas. É extremamente prevalente, e estima-se que até 14% da população mundial tenha onicomicose. Os fatores de risco associados a onicomicose são: distrofia ungueal preexistente, idade avançada, sexo masculino, tinha do pé, doença vascular periférica, diabetes e imunocomprometimento. O agente etiológico mais comum é o dermatófito Trichophyton rubrum. O diagnóstico é feito com a avaliação clínica, exame micológico com hidróxido de potássio, cultura ou PCR e até mesmo exame histopatológico. Diagnóstico 🖤 o exame micológico requer treinamento de pessoal especializado. É necessária a limpeza prévia do sítio de coleta com álcool etílico e o instrumental deve ser previamente esterilizado. 🖤 a quantidade de material deve ser adequada e a escolha do local da coleta varia de acordo com a forma clínica de onicomicose: distal e lateral (transição unha sadia-alterada); superficial branca (lâmina ungueal); proximal subungueal (leito ungueal proximal); distrófica total (leito ungueal por curetagem); onicomicose por Candida (prega ungueal); onicólise (subungueal proximal). 🖤 o exame micológico direto é realizado após a clarificação das escamas com solução aquosa de hidróxido de potássio e dimetil sulfóxido -> Solução aquosa de KOH + DMSO (dimetil sulfóxido). 🖤 a cultura é realizada em ágar Sabouraud com cloranfenicol ou ágar Sabouraud com cloranfenicol e cicloheximida (Mycosel ou Mycobiotic). Quando não é possível identificar a espécie do fungo através da cultura, é utilizada a técnica de microcultivo em lâmina. Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P8 3 🖤 é importante salientar que na coleta do material o paciente deve estar sem uso de antifúngico tópico há uma semana e/ou antifúngico sistêmico há dois meses. 🖤 o achado laboratorial é suficiente, mas amostras da unha podem ser colhidas. Para OSDL: porção distal do leito ungueal envolvido; OBS: superfície unguealenvolvida; e OSP: biópsia com punch atravessando a lâmina ungueal até o leito ungueal envolvido. Evolução e Prognóstico 🖤 sem terapia efetiva, a onicomicose não se resolve espontaneamente; o envolvimento progressivo de diversas unhas do pé é a regra. 🖤 a OSDL persiste após tratamento tópico da tinha do pé e frequentemente resulta em episódios repetidos de dermatofitose epidérmica de pés, virilhas e outros locais. 🖤 a tinha do pé e/ou OSDL representam porta de entrada para infecções bacterianas recorrentes (S. aureus, estreptococos do grupo A), especialmente celulite de membro inferior após remoção das veias. 🖤 as taxas de recidiva em longo prazo relatadas para novos agentes orais, como terbinafina ou itraconazol, variam entre 15 e 21% dois anos após tratamento bem-sucedido; as culturas para micose podem ser positivas sem que haja doença clínica evidente. Tratamento 🖤 no tratamento das onicomicoses, além do diagnóstico preciso, vários fatores interferem na escolha do melhor método terapêutico e no resultado final do tratamento. a) fatores inerentes à idade, em especial aos grupos etários abaixo de 10 anos e acima de 60 anos. Estes grupos têm características próprias que terão importância na escolha da droga, via de administração, dose e duração do tratamento. b) o sexo tem influência, seja pela maior preocupação com o aspecto estético, ou por atividades profissionais. c) o nível sócio-econômico vai ter importância no acesso a determinadas medicações. d) hábitos, hobbies e atividades desenvolvidas pelos pacientes também podem ser determinantes. 🖤 Terapia Tópica: está indicada nos casos em que a matriz ungueal não está envolvida, quando existir contra-indicação no tratamento sistêmico, na onicomicose superficial branca e na profilaxia pós-tratamento. Tem como vantagem o baixo nível de efeito sistêmico e interação medicamentosa. As drogas utilizadas na terapia tópica das onicomicoses são: amorlfina 5% esmalte, ciclopirox 8% esmalte e tioconazol solução 28%. A droga ideal para o tratamento tópico deve ter penetração efetiva e altas concentrações na lâmina ungueal. Estudos demonstram que a amorolfina 5% e o ciclopirox 8% em veículo esmalte atravessam a lâmina ungueal e atingem o leito ungueal em concentrações superiores à concentração inibitória mínima para a maioria dos fungos que causam onicomicose. A amorolfina é um derivado morfolínico com amplo espectro de ação, incluindo dermatófitos, leveduras e fungos filamentosos não dermatófitos. Age em duas diferentes enzimas envolvidas na biossíntese do ergosterol, modificando a morfologia da hifa, atuando como fungicida e fungistático. O ciclopirox está indicado contra dermatófitos, Candida spp, e alguns fungos filamentosos não dermatófitos. Atua em diferentes processos metabólicos da célula, principalmente nas mitocôndrias. As soluções e cremes mostram-se pouco efetivos no tratamento das onicomicoses. A amorolfina está indicada para uso semanal enquanto o ciclopirox 8% está indicado para uso diário, sendo que alguns trabalhos utilizam esta droga três vezes por semana. O lixamento deve ser feito semanalmente em ambas. 🖤 Terapia Sistêmica: está indicada nos casos em que a matriz ungueal está envolvida. Além disso, também está indicada em casos de onicomicose da unha da mão, limitação de função, dor (espessamento da unha do hálux com pressão sobre o leito ungueal, unha encravada). Incapacidade física, potencial de infecção secundária bacteriana, fonte de dermatofitose epidérmica recorrente, questões relacionadas à qualidade de vida (prejuízo da percepção sobre saúde mental e geral, vida social, aparência física, dificuldades para aparar as unhas, desconforto com calçados). Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P8 4 Apresenta riscos de interações medicamentosas e efeitos colaterais, porém é considerada mais efetiva. As drogas mais utilizadas em nosso meio são a Griseofulvina, Terbinafina, Itraconazol, Fluconazol. As doses diferem para tratamentos das unhas das mãos e dos pés. As apresentações, espectro de ação, efeitos colaterais e interações medicamentosas destas drogas encontram-se nos anexos. 🖤 Terapia Combinada: a combinação da terapia tópica e sistêmica pode aumentar as taxas de cura ou mesmo diminuir o tempo de tratamento, no entanto ainda não existem trabalhos conclusivos. Tem a mesma indicação da terapia sistêmica e a vantagem de ser mais efetiva quando comparada a monoterapia oral por possibilitar um efeito sinérgico. As indicações absolutas para esta modalidade terapêutica são o dermatofitoma, a hiperceratose da placa ungueal (espessura maior de 2 mm) e a forma distrófica total. Outras indicações relativas incluem a resistência do paciente ao tratamento monoterápico e as demais formas de onicomicose. A associação de medicamentos sistêmicos deve priorizar drogas de mecanismo de ação diferentes (ex. itraconazol ou fluconazol + terbinafina) e ser escolhida de acordo com cada caso. Marina Magalhães (@medbymarina) - unit - P8 5