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DESCRIÇÃO Interações intermoleculares e sua importância para as definições das propriedades físico-químicas dos compostos. Os conceitos de ácidos e bases contextualizados com os princípios teóricos de reações e de características das moléculas biológicas. PROPÓSITO Compreender as diferentes interações entre moléculas e suas características físico-químicas, além dos conceitos de ácidos e bases fundamentais para reações orgânicas, bem como suas aplicações em diversos fenômenos da natureza, da indústria, da medicina e da agronomia. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever as interações intermoleculares e a importância para as propriedades físicas e químicas da matéria, relacionando esses conceitos com as interações que as biomoléculas realizam nos organismos MÓDULO 2 Definir as principais propriedades intrínsecas dos compostos e os fatores estruturais que as influenciam MÓDULO 3 Reconhecer as aplicações das teorias de ácidos e bases aos compostos orgânicos INTRODUÇÃO Tudo que nos cerca é composto por átomos e moléculas. Desde um grão de areia, passando pelo ar que respiramos e até mesmo os animais são “feitos” por essas partículas microscópicas. Mas podemos notar que os diferentes tipos de matéria possuem características distintas. Por exemplo, nas Condições Normais de Temperatura e Pressão-CNTP, encontramos o oxigênio que respiramos em fase gasosa, a água que bebemos no estado líquido e as pedras no estado sólido. Para explicar essas diferenças, é preciso entender sobre a composição molecular desses materiais, sobre as interações que essas moléculas realizam entre si e com outras moléculas, além de suas propriedades físico-químicas. Esse entendimento nos permite compreender como ocorrem as interações físicas e químicas em um organismo vivo, por exemplo. Através do domínio dos conceitos de acidez e basicidade, podemos entender uma série de fenômenos javascript:void(0) biológicos, além de prever e/ou realizar uma série de reações para a produção de novas moléculas para aplicações distintas. MÓDULO 1 Descrever as interações intermoleculares e a importância para as propriedades físicas e químicas da matéria, relacionando esses conceitos com as interações que as biomoléculas realizam nos organismos CONDIÇÕES NORMAIS DE TEMPERATURA E PRESSÃO- CNTP As condições normais de temperatura e pressão - CNTP referem-se à condição experimental com temperatura e pressão de 273,15 K (0°C) e 101325 Pa (1 atm), respectivamente. INTERAÇÕES MOLECULARES A matéria é composta por átomos que podem formar moléculas. Segundo o modelo atômico mais aceito atualmente (Schrödinger), o átomo possui o núcleo, que abriga os prótons e os nêutrons, e a eletrosfera, uma espécie de nuvem onde estão situados os elétrons. Já as moléculas são um conjunto de átomos, iguais ou diferentes, unidos por meio de ligações químicas. São eletronicamente neutras e consistem na menor unidade que representa uma substância química. Quando esses átomos ou moléculas estão carregados de forma positiva ou negativa, denominamos essas partículas de íons. Diferentes compostos são formados por moléculas distintas e, em alguns casos, apresentam propriedades físicas completamente discrepantes entre si, pois essas características são fortemente dependentes da composição química. Para entender esse assunto, inicialmente vamos tratar dos três estados físicos da matéria e suas características: gasoso, líquido e sólido. Gasoso Líquido Sólido javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal GASOSO Os gases são compressíveis e se espalham ocupando todo o espaço disponível. Nesse caso, as moléculas são amplamente espaçadas. Há movimento aleatório e as atrações entre as moléculas são fracas. LÍQUIDO Os líquidos são praticamente incompressíveis, porém mudam de forma de acordo com o recipiente, mas com volume constante. As moléculas são agrupadas, mas geralmente com pouca ordem espacial. Há movimento entre as moléculas e as forças atrativas intermoleculares são relativamente fortes. SÓLIDO Os sólidos são incompressíveis, de volume e forma constantes. As moléculas são firmemente agrupadas e organizadas. As fortes atrações entre as moléculas as mantêm imobilizadas e frequentemente formando redes cristalinas. Ao examinar a Figura 1, podemos notar que, nos três estados físicos da matéria, há diferença na forma de agrupamento das moléculas e na distância entre elas. No estado gasoso, as moléculas são mais espaçadas e se atraem com uma força de baixa intensidade. Já no líquido essa atração é de maior intensidade e há uma proximidade maior entre as moléculas. Por fim, no estado sólido, há uma fortíssima intensidade de atração e as moléculas estão firmemente agrupadas. Mas que forças são essas que promovem essa atração entre as moléculas? Quais as intensidades delas? Como quebrá-las? Imagem: Shutterstock.com, adpatada por Lerik Lopes Figura 1. Agrupamento molecular e as forças das atrações nas propriedades físicas de uma substância. ATRAÇÕES INTERMOLECULARES Atrações intermoleculares são aquelas que ocorrem entre diferentes moléculas e em geral são comparativamente fracas em relação às atrações intramoleculares, como as ligações covalentes, que são as ligações químicas internas que mantêm a integridade das moléculas. Nesta seção, vamos abordar com mais detalhes as forças intermoleculares, que são de diversos tipos, mas todas com o mesmo princípio em comum: surgem das atrações entre cargas elétricas opostas. Essas forças quando tratadas em conjunto são chamadas de forças de van der Waals. Vamos focar a atenção nos tipos mais comumente atuantes em moléculas orgânicas: 1. Forças dipolo-dipolo 2. Ligações de hidrogênio 3. Forças de dispersão 4. Forças de atração envolvendo espécies iônicas INTERAÇÕES INTERMOLECULARES O especialista Daniel Simas fala sobre as principais forças de van der Waals que regem as interações entre diferentes substâncias: atrações dipolo-dipolo, ligação de hidrogênio, forças de London (Dipolo induzido), atrações íon-dipolo e íon- dipolo induzido. Explica ainda quais destas forças são mais atuantes em compostos orgânicos e apresenta exemplos práticos desses fenômenos. FORÇAS DO TIPO DIPOLO- DIPOLO A maior parte dos compostos orgânicos não apresenta caráter iônico, mas apresentam um momento dipolo permanente que é resultante da distribuição não uniforme dos elétrons. Essa não uniformidade gera regiões que possuem carga parcial positiva ou negativa de acordo com a molécula. Seguindo o princípio de que cargas opostas se atraem, essas moléculas tendem a se ordenar de maneira que promovam a aproximação de extremidades positivas de uma molécula a extremidades negativas de outra molécula. Esse tipo de atração é denominado atração dipolo-dipolo. Devido a essas forças diminuírem rapidamente com o aumento da distância, elas são mais presentes nos estados líquido e sólido, sendo consideradas de baixa intensidade quando comparadas com uma ligação intramolecular covalente (1/4 da força de uma ligação covalente). A acetona, por exemplo, um solvente orgânico bastante usado por profissionais da beleza (manicures), possui uma carbonila altamente polarizada, que produz um dipolo permanente nessa molécula. Note no modelo de potencial eletrostático (Figura 2) que as extremidades parcialmente positivas e negativas são orientadas de modo a se aproximarem umas das outras. Imagem: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. v. 1, p. 76. adaptada por Lerik Lopes Figura 2 - Modelo de potencial eletrostático para a molécula de acetona. LIGAÇÃO DE HIDROGÊNIO Existe um tipo de interação do tipo dipolo-dipolo de alta intensidade que ocorre entre hidrogênios ligados a átomos eletronegativos e pequenos (oxigênio, nitrogênio e flúor). Essa força de atração é denominada ligação de hidrogênio, com energias de dissociação entre 4-38 kJ mol-1. São consideradasfracas quando comparadas com ligações covalentes, porém muito mais fortes do que as ligações dipolo-dipolo convencionais. A água possui ponto de ebulição (PE) de 100°C o que acontece por conta da existência das ligações de hidrogênio. A Figura 3a demonstra a organização de moléculas de água associadas através das interações entre os hidrogênios de uma molécula e os oxigênios das outras. Note que há o alinhamento entre elas, de forma que os pares de elétrons livres dos oxigênios atraiam hidrogênios de outras moléculas de água. Esse tipo de atração torna as moléculas mais unidas entre si, elevando a energia necessária para elas evaporem. Cálculos teóricos indicam que sem a atuação das ligações hidrogênio, o PE da água seria de aproximadamente -80°C. Então, sem esse tipo de interação, a água não existiria como líquido nas CNTP e, muito provavelmente, o modelo de existência de vida que conhecemos hoje, que é baseado na presença de água, não seria possível. As ligações de hidrogênio ocorrem nos estados líquidos e sólidos da água. Porém, o arranjo das moléculas quando a água se encontra no estado líquido é mais compacto do que o arranjo no estado sólido. Assim, o gelo é menos denso do que a água líquida e podemos observar que ele flutua na água líquida, como no caso dos icebergs (Figura 3b). Fonte: Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Lerik Lopes Figuras 3. (a) Moléculas de água associadas através da atração do tipo ligação de hidrogênio. (b) Exemplo de iceberg flutuando em água por ser menos denso. SAIBA MAIS As ligações de hidrogênio e as moléculas biológicas: Os sistemas biológicos se valem bastante de ligações de hidrogênio. Diversas moléculas biológicas contêm ligações N-H e O-H. Como exemplo, as proteínas são compostas basicamente por longas cadeias de aminoácidos ligados através de ligações peptídicas. As interações de hidrogênio entre as unidades N-H e as carbonilas (C=O) conferem as conformações espaciais dessas moléculas, que interferem diretamente na sua solubilidade, atividade e função biológica. As ligações de hidrogênio também desempenham papel crucial na formação da dupla hélice do DNA, que possui nossa informação genética (Figuras 4a e 4b). Fonte: Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Lerik Lopes Figuras 4. (a) Exemplo de ligação de hidrogênio entre a adenina e a timina e entre a guanina e a citosina presentes nas moléculas de DNA. (b). Representação da estrutura espacial em dupla hélice de uma molécula de DNA. Os pares de bases são unidos e espacialmente orientados por ligações de hidrogênio. FORÇAS DE DISPERSÃO (FORÇAS DE LONDON) Em 1930, o físico alemão Fritz London propôs uma teoria sobre como as substâncias apolares sofrem os efeitos das interações moleculares. A explicação mais detalhada passa pela mecânica quântica, mas podemos entender o processo de maneira simples ao imaginarmos que a densidade de carga de uma molécula pode ser assimétrica por conta do movimento dos elétrons formando dipolos. Uma vez que uma molécula tem esse seu dipolo instantâneo formado, essa assimetria de carga faz com que a molécula vizinha também sofra a distorção de sua nuvem eletrônica e haja então a formação de um dipolo induzido. SAIBA MAIS Isso ocorre porque carga concentrada da nuvem eletrônica influencia na nuvem eletrônica de uma molécula próxima, causando a formação de uma carga de caráter contrário nesta região. Esse tipo de dipolo é variável e muda constantemente de posição. Contudo, o resultado líquido da existência deles é a formação de forças atrativas entre as moléculas apolares que torna possível, por exemplo, a existência dessas moléculas como um líquido nas condições adequadas. Esse tipo de interação pode então receber o nome de dipolo induzido-dipolo induzido, dipolo instantâneo-dipolo induzido ou de forças de dispersão ou forças de London. Apesar de ser o único tipo de força de atração que ocorre entre moléculas apolares, esse tipo de interação molecular pode ocorrer em moléculas polares se somando a outras forças existentes. As forças de dispersão também ocorrem entre íons, mas com efeitos resultantes fracos. Três fatores regem as intensidades das forças de London: 1- Polarizabilidade 2- Número de átomos na molécula 3- Forma das moléculas POLARIZABILIDADE: É a medida da facilidade com que a nuvem eletrônica de um átomo ou molécula se deforma. Em vias de regra, quanto mais afastados os elétrons se encontram do núcleo, menos firmemente presos eles estão, logo essa nuvem eletrônica se apresenta mais “mole” e mais fácil de se deformar, permitindo que os dipolos instantâneos e induzidos se formem com mais facilidade. Podemos então definir que, quando há um aumento de volume da nuvem eletrônica, a polarizabilidade também aumenta, tornando maior a facilidade de formação dos dipolos que atuam nas forças de London. NÚMERO DE ÁTOMOS NA MOLÉCULA: Quando se trata da comparação entre moléculas que possuem os mesmos elementos químicos, em geral quanto maior for a cadeia, maior a atuação das forças de London. Esse conceito é evidente quando se trata de hidrocarbonetos, por exemplo, e pode ser explicado pelo fato de que, em cadeias longas, há mais posições onde os dipolos instantâneos e induzidos podem ser formados (Figura 5). FORMAS DAS MOLÉCULAS: Influenciam diretamente nas intensidades resultantes das forças de London. Podemos dizer que moléculas mais compactas e com ramificações em suas cadeias criam forças de dispersão mais fracas do que aquelas moléculas longas e lineares (Figura 5). Presume-se que moléculas mais compactas não deixam seus hidrogênios tão expostos para interações mais efetivas. Imagem: Daniel Simas Figura 5. Comparação entre os pontos de ebulição do isobutano, butano e dodecano. Vamos avaliar dois exemplos juntos? EXEMPLO Vamos tentar prever qual dos compostos possui o ponto de fusão mais elevado, o pentano ou neo-pentano. Imagem: Daniel Simas Figura 6: Comparação entre os pontos de ebulição do pentano e neo-pentano, mesmo número de carbonos e pontos de ebulição diferentes. Ao analisar as estruturas das duas substâncias, notamos que o pentano possui uma geometria linear enquanto o neo-pentano é mais compacto, o que torna os seus hidrogênios menos disponíveis para participar das interações via forças de dispersão. Já o pentano com sua estrutura linear permite uma maior superfície de contato para sofrer as forças de dispersão. Sendo assim, espera-se que o pentano tenha maior ponto de ebulição do que o neo-pentano, o que é verdade uma vez que o PE do pentano é igual a 36°C, enquanto o do neo-pentano é igual a 9,5°C. EXEMPLO Agora, vamos ordenar os seguintes compostos de acordo com seus pontos de ebulição esperados, sendo o primeiro o que tem o ponto de ebulição mais baixo. Observe que os compostos possuem massas moleculares semelhantes. Imagem: Daniel Simas Figura 7: Compostos de diferentes funções orgânicas com massas moleculares semelhantes. Por não possuir grupos polares, o pentano mantém suas moléculas unidas apenas através de forças de dispersão. Ele deverá ter o ponto de ebulição mais baixo. A butanona apresenta um grupo carbonila, que é polar e origina forças dipolo-dipolo que são mais intensas do que as forças de dispersão, significando que a butanona terá ponto de ebulição mais elevado do que o pentano. Por fim, o álcool sec-butílico tem um grupo hidroxila (OH) que pode formar fortes ligações de hidrogênio, além das forças já mencionadas para os outros compostos. Sendo assim, ele deverá possuir o maior ponto de ebulição. O que é confirmado ao verificarmos que o pentano tem ponto de ebulição igual a 36°C, a butanona igual a 79,6°C e o álcool sec-butílico igual a 99,5°C. FORÇAS DE ATRAÇÃO ENVOLVENDO ESPÉCIES IÔNICAS As forças íon-íon, que mantêm os compostos firmemente unidos no estado cristalino, são forças de natureza eletrostática de rede que agem entre os íons de cargapositiva e de carga negativa. Essa força é de grande intensidade e para quebrar a estrutura ordenada do cristal sólido se faz necessária a aplicação de grande quantidade de energia térmica. Por esse motivo, os pontos de fusão de compostos iônicos são, em geral, elevados. Esses valores, em alguns casos, são tão elevados que alguns compostos orgânicos iônicos se degradam antes mesmo de se fundirem, tornando-se líquidos. O acetato de sódio, por exemplo, possui ponto de fusão de 324°C, mas se degrada formando outros compostos antes de atingir essa temperatura e entrar em ebulição. Os íons, devido à sua concentração de carga, são capazes de atrair as extremidades carregadas de moléculas polares, gerando o que denominamos atrações íon-dipolo. Esse tipo de interação ocorre, por exemplo, quando um íon é dissolvido em meio aquoso. As moléculas de água solvatam esse íon através de uma orientação espacial que permite a aproximação de sua extremidade de carga contrária envolvendo o íon. Outro exemplo é a cristalização de sais hidratados. O AlCl3.6H2O (cloreto de alumínio hexahidratado), por exemplo, é formado por cristalização em água através do envolvimento por moléculas de água localizadas nos vértices de um octaedro (formato de sua estrutura cristalina), conforme mostra a Figura 8. Imagem: Daniel Simas. Figura 8. Através das atrações íon dipolo as moléculas de água são mantidas unidas ao íon Al3+ no hidrato, na forma de um octaedro. As moléculas de um solvente, por exemplo, podem sofrer a distorção de suas nuvens eletrônicas pela ação de íons presentes em solução. Outros íons também podem sofrer o mesmo efeito. Esse tipo de interação é denominado de atrações íon-dipolo induzido e suas intensidades são variáveis de acordo com a carga do íon e com a polarizabilidade de seu vizinho. VISÃO GERAL DAS FORÇAS INTERMOLECULARES Descrevemos nos tópicos anteriores os diferentes tipos de forças de interação, suas características e fundamentos básicos. De posse desse conhecimento, será possível estimar sobre a natureza e sobre as intensidades relativas das atrações intermoleculares ao analisar a estrutura de uma substância. Será possível também comparar as propriedades físico- químicas de diferentes substâncias com base em suas características moleculares. Como exemplo, vimos que o ponto de ebulição de um composto é dependente das interações moleculares que atuam sobre as moléculas e que, normalmente, quanto mais intensas são essas forças, maior o ponto de ebulição da substância. Porém, além do ponto de ebulição, outras propriedades físico-químicas também podem ser explicadas através destes conceitos, como os pontos de fusão, viscosidade e a solubilidade dos compostos. O Quadro 1 a seguir resume as principais características das forças de interação intermoleculares: Força intermolecular Força relativa Tipo de substâncias Exemplo Dipolo-dipolo Fraca Ocorrem entre substâncias que exibem dipolos permanentes (moléculas polares) HCl Ligação de hidrogênio Fraca a moderada Ocorre quando a molécula contém ligações N-H ou O-H. H2O Dispersão Variável Todos os Metano (London) átomos, moléculas e íons sofrem esse tipo de interação. Mas são as únicas forças presentes em compostos apolares. Íon-íon Forte Átomos ou moléculas carregadas. Acetato de sódio Íon-dipolo Moderada Interação entre íons e compostos polares. Sódio em água Íon-dipolo Fraca a Ocorre Sódio em induzido moderada quando um íon cria um dipolo na partícula vizinha, que pode ser uma molécula ou outro íon. solução hidroalcóolica. Quadro 1: Resumo das forças de atração intermoleculares. Elaborado por Daniel Simas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. FORÇAS INTERMOLECULARES SÃO RESPONSÁVEIS PELA EXISTÊNCIA DE DIFERENTES FASES DA MATÉRIA, SENDO QUE FASE É UMA PORÇÃO UNIFORME DA MATÉRIA, TANTO EM SUA COMPOSIÇÃO QUÍMICA QUANTO EM SEU ESTADO FÍSICO. COM BASE NESTAS INFORMAÇÕES, INDIQUE A OPÇÃO QUE TRATA DAS FORÇAS DO TIPO DIPOLO- DIPOLO. A) Podem ocorrer quando sólidos, tais com KCl ou NaI, por exemplo, interagem com moléculas como a água. B) Podem ocorrer quando elementos com eletronegatividade elevada estão ligados covalentemente com o átomo de hidrogênio. C) São forças que estão presentes quando temos, por exemplo, uma amostra de acetona (propanona) dissolvida em etanoato de etila. D) Ocorrem entre compostos não polares, sendo uma interação bastante fraca. E) Podem ocorrer quando há polaridade na molécula, sendo o tipo mais fraco de força intermolecular. 2. (UFC – ADAPTADO) UMA PESQUISA PUBLICADA NA REVISTA NATURE (2000, V.405, P. 681,) MOSTROU QUE A HABILIDADE DAS LAGARTIXAS (VÍBORAS) EM ESCALAR SUPERFÍCIES LISAS COMO UMA PAREDE, POR EXEMPLO, É RESULTADO DE INTERAÇÕES INTERMOLECULARES. ADMITINDO QUE A PAREDE É RECOBERTA POR UM MATERIAL APOLAR E ENCONTRA‐SE SECA, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CLASSIFICA CORRETAMENTE O TIPO DE INTERAÇÃO QUE PREVALECE ENTRE AS LAGARTIXAS E A PAREDE, RESPECTIVAMENTE: A) Íon – íon B) Íon – dipolo permanente C) Dipolo induzido – dipolo induzido D) Dipolo permanente – dipolo induzido E) Dipolo permanente – dipolo permanente GABARITO 1. Forças intermoleculares são responsáveis pela existência de diferentes fases da matéria, sendo que fase é uma porção uniforme da matéria, tanto em sua composição química quanto em seu estado físico. Com base nestas informações, indique a opção que trata das forças do tipo dipolo-dipolo. A alternativa "C " está correta. Interações do tipo dipolo-dipolo ocorrem entre substâncias polares e que apresentam dipolos permanentes, como a acetona e o etanoato de etila. 2. (UFC – adaptado) Uma pesquisa publicada na revista Nature (2000, v.405, p. 681,) mostrou que a habilidade das lagartixas (víboras) em escalar superfícies lisas como uma parede, por exemplo, é resultado de interações intermoleculares. Admitindo que a parede é recoberta por um material apolar e encontra‐se seca, assinale a alternativa que classifica corretamente o tipo de interação que prevalece entre as lagartixas e a parede, respectivamente: A alternativa "C " está correta. O dipolo induzido se estabelece entre as patas da lagartixa e a superfície por onde ela anda. Essas forças são resultado da interação que causa atrações ou repulsões eletrônicas entre seus elétrons e núcleos que podem levar a uma deformação de suas nuvens eletrônicas, momentaneamente, originando polos positivos e negativos temporários. Assim, o dipolo formado em uma molécula leva à formação do dipolo em outra molécula vizinha e, por isso, elas se atraem, mantendo-se grudadas. MÓDULO 2 Definir as principais propriedades intrínsecas dos compostos e os fatores estruturais que as influenciam PROPRIEDADES INTRÍNSECAS DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS Algumas propriedades físico-químicas são diretamente influenciadas pelas interações que as moléculas de uma substância realizam entre si e em interações com moléculas de compostos diferentes. Podemos imaginar que as forças que promovem as atrações e repulsões vão interferir diretamente em quão próximas, compactadas ou organizadas as partículas estarão. Propriedades como a solubilidade, a pressão de vapor, a viscosidade e os pontos de ebulição e fusão são exemplos de características físico-químicas que podem ser entendidas e, até mesmo, previstas através de uma análise aprimorada das estruturas e das forças que podem atuar no sistema. Essas características físico-químicas são de suma importância para diversos sistemas biológicos e não biológicos. Por exemplo, a solubilização e a conformação espacial de moléculas biológicas são diretamente dependentes das características químicas e físicas tanto das substâncias (soluto), quanto do meio em que se encontram. PONTO DE EBULIÇÃO O ponto de ebulição de uma substância é uma métrica da temperatura em que esse composto se desprendeda fase líquida, passando para a fase vapor. Porém, essa medida é sempre dependente da pressão do meio e é definida em relação a uma pressão específica (normalmente 1atm ou 760torr). EXEMPLO Salvador na Bahia está no nível do mar, logo a altitude é zero e a pressão atmosférica é de 1 atm. Já a cidade de São Paulo possui altitude de 750 metros em relação ao nível do mar e pressão atmosférica é de 0,92atm. Por conta desta variação de pressão, o ponto de ebulição da água em Salvador é de 100°C e em São Paulo é de 97°C. Assim, para facilitar e padronizar as medidas, a pressão de 1atm é o valor padrão para as métricas referentes ao ponto de ebulição de um líquido. Quando um líquido começa a evaporar a velocidade de evaporação é maior que a velocidade de condensação. Ao se passarem alguns instantes, a velocidade de evaporação se iguala à velocidade de condensação e esse é o momento que chamamos de equilíbrio dinâmico. Diz-se, então, que foi atingida a pressão máxima de vapor. As forças intermoleculares são importantes para entender com que facilidade esse processo ocorre. Em resumo, podemos inferir que quanto maior a intensidade das forças intermoleculares, ou seja, quanto menos volátil for o líquido, menor a pressão máxima de vapor. Conforme já citado, esses valores são dependentes da temperatura e são fundamentais para o estabelecimento do ponto de ebulição tabelado de uma dada substância. Compostos iônicos costumam apresentar altos valores de PE, enquanto compostos neutros e de massa molecular pequena rotineiramente possuem baixos valores de PE. Conforme já mencionado, as forças das interações moleculares desempenham papel importante na medida do PE das substâncias, mas não são os únicos fatores. A massa molecular, a geometria espacial e a área superficial também são fatores importantes. Alguns compostos orgânicos de caráter iônico costumam se degradar antes de se desprenderem para a fase vapor. Isto ocorre, pois, as forças de atração envolvendo esses compostos são fortes, o que demanda uma alta energia térmica para “desprender” a molécula ou íon da fase líquida para a fase vapor. Dessa forma, as reações de decomposição podem ocorrer antes do “desprendimento” para a fase vapor. As atrações intermoleculares costumam ser menos intensas em compostos apolares. Por consequência, é comum que compostos apolares apresentem pontos de ebulição baixos. O butano, por exemplo, possui PE de -1°C, enquanto o isobutano possui PE de -11,7°C mesmo tendo a mesma massa molecular do que o butano (Figura 9). Essa diferença pode ser explicada pela geometria das duas moléculas. Enquanto o butano é totalmente plano, o isobutano é mais compacto, o que faz com que ele possua uma menor área superficial de contato para participar de interações via forças de dispersão (forças de London). cadeia lineares massa Agora, ao comparar o próprio butano com o decano (174,1°C), temos uma diferença de PE de 175,1°C entre os valores (Figura 9). Ambas as moléculas são ---------- , mas o decano possui uma ---------- maior, o que permite um considerável acréscimo na área superficial de contato, além de possuir a ---------- molecular maior. Por esse motivo, as forças que o “impedem” de se desprender e evaporar são mais relevantes. Para compostos contendo grupos funcionais diferentes é preciso se fazer uma análise caso a caso para se prever ou explicar os pontos de ebulição deles. Grupos funcionais polares costumam provocar maiores forças de atração, o que faz com que os pontos de ebulição sejam mais altos, geralmente. Como exemplo, temos a acetona, que realiza interações do tipo dipolo-dipolo e possui PE: 56°C. Já o metanol, que além das interações anteriores, também participa de interações do tipo ligação de hidrogênio, possui PE de 64,7°C, ainda mais elevado, mesmo tendo menor massa molecular do que a acetona: Imagem: Daniel Simas Figura 9. As estruturas moleculares do butano, isobutano, decano, acetona e metanol. SOLUBILIDADES O processo de solubilização de um material sólido é um processo muito parecido com o processo de fusão de sólido. Um arranjo cristalino ordenado precisa ser desfeito para a geração de um novo arranjo, em geral, mais desordenado das moléculas, átomos ou íons. Para que esse processo ocorra, se faz necessária a injeção de energia para superar as energias de formação de rede e as atrações intermoleculares ou interiônicas. Essa energia é proveniente da formação de novas forças atrativas entre o soluto e o solvente, que podemos denominar energias de hidratação (se o solvente for a água) ou energias de solvatação. Essa energia pode ser fornecida através de uma fonte de calor externa que “facilita” o processo de dissolução. COMENTÁRIO O mesmo sal (NaCl) que é solúvel em água é praticamente insolúvel em solvente orgânico, como a acetona ou acetato de etila. Já uma molécula orgânica, como a acetona, pode ser solúvel em solvente orgânico e em água, pois por ser polar pode participar de interações dipolo-dipolo e de ligações de hidrogênio com essas substâncias. Outro exemplo é o álcool (etanol) que é solúvel tanto na água quanto na gasolina, mas a água e a gasolina não se misturam, pois não são capazes de estabelecer forças intermoleculares entre suas moléculas. As moléculas de água, devido à sua alta polaridade e seu pequeno volume, conseguem circundar as moléculas de acetona ou álcool. Assim, uma organização é gerada no processo de solvatação de modo que haja uma orientação entre os polos positivos e negativos das moléculas, conforme mostrado na Figura 10. Lembre-se de que a água também faz ligação de hidrogênio, além da atração íon-dipolo que é forte. Imagem: Daniel Simas, adaptada por Lerik Lopes Figura 10. As interações entre a acetona e a água e a nova orientação das moléculas do solvente para hidratar os solutos. Como regra básica, podemos inferir que “semelhante dissolve semelhante” em termos de polaridade. Por exemplo, há semelhança de polaridade entre íons e a água e, por isso, podem ser solubilizados facilmente na mesma. Do mesmo modo, solventes orgânicos tendem a dissolver compostos orgânicos apolares com mais facilidade do que a água. Em resumo, o Quadro 2 demonstra os seguintes cenários. Sólidos polares e iônicos geralmente se solubilizam em solventes polares. Líquidos polares são geralmente miscíveis entre si. Sólidos apolares são geralmente solúveis em solventes apolares. Os líquidos apolares são geralmente miscíveis entre si. Líquidos polares e líquidos apolares, “como água e óleo”, geralmente não são solú veis em uma faixa extensa de concentrações. Quadro 2: Natureza dos componentes solúveis entre si. Elaborado por Daniel Simas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Sabemos que o etanol e o metanol, por exemplo, são solúveis em água e que ambos possuem um grupo hidroxila ligado a uma cadeia alquílica. Essa solubilização só ocorre devido à presença deste grupo hidroxila de alta polaridade, às fortes interações hidrogênio que eles realizam e à ausência de cadeias hidrofóbicas grandes. Com isso, podemos classificar esse grupamento hidroxila como hidrofílico (que possui afinidade pela água) e os grupos alquílicos ou outros grupamentos apolares como hidrofóbicos (que apresenta fobia pela água). A presença de grupos hidrofílicos auxiliam na solubilidade em água e outros compostos polares, enquanto a presença de grupos hidrofóbicos diminuem a capacidade da substância de se solubilizar em água e compostos polares. Os detergentes limpam? No dia a dia, nós usamos os detergentes e sabões para limpar as louças, roupas e objetos sujos. Mas já parou para pensar a razão química pela qual esse fenômeno ocorre? Já parou para pensar que tipo de substância tem lá dentro do frasco de um detergente que consegue retirar gorduras e fazer elas “saírem” com água? Geralmente, os detergentes são sais deácidos sulfônicos de cadeia longa (Figura 11a). É possível notar que a molécula possui uma longa cadeia apolar e hidrofóbica e uma região polar e hidrofílica. Justamente esse caráter anfipático (molécula que contém domínios polares e domínios apolares) que faz todo o papel da limpeza. Vamos entender como? A fração apolar da molécula do detergente possui alta afinidade com a gordura da sujeira. Já o domínio polar, por sua vez, possui alta hidrofilicidade (afinidade pela água). Por conta dessa estrutura, as moléculas dos detergentes se agrupam na forma de glóbulos em solução aquosa voltando os sítios polares para o exterior para interagirem com a água e os sítios apolares se organizam para o lado de dentro do glóbulo por conta da baixa afinidade com a água. Esses glóbulos são denominados micelas (Figura 11b) e, no processo de lavagem, a gordura da sujeira fica “aprisionada” dentro desta estrutura, que é removida por arraste pela água. Outro ponto é que os detergentes e os sabões têm a capacidade de diminuir a tensão superficial da água, porque diminuem as interações entre suas moléculas. Assim, a “entrada” dos detergentes para remover a sujeira em locais de acesso mais restrito fica facilitada. Imagem: Daniel Simas Figuras 11.(a) Estrutura do p-dodecil benzeno sulfônico e indicação das suas regiões polares e apolares. Imagem: Shutterstock.com, adaptado por Lerik Lopes Figura 11. (b) Exemplo de uma micela com sua cadeia hidrofóbica voltada para o interior e a região polar hidrofílica interagindo com a água. VISCOSIDADE Imagine quando viramos um pote com mel para que o líquido escorra (Figura 12). O mel demora para escorrer, pois é um líquido bastante viscoso. Então, viscosidade é a resistência de um líquido em fluir, ou seja, a resistência que as moléculas de um líquido têm de deslizar sobre as outras moléculas. Quanto mais fortes são as forças intermoleculares, maior é a viscosidade para um dado líquido. As ligações de hidrogênio são consideradas fortes, por esse motivo é de se esperar que a água se constitua em um líquido viscoso, pois para as moléculas de água fluírem elas precisam “quebrar” as ligações de hidrogênio. Por outro lado, a viscosidade do benzeno é menor em comparação com a água, pois o benzeno não realiza interações moleculares consideradas fortes, assim, suas moléculas deslizam com mais fluidez. Imagem: Shutterstock.com Figura 12. O mel, um líquido viscoso. Mas não apenas as interações moleculares fortes podem conferir viscosidade para um líquido. As forças de London, apesar de fracas, podem causar alta viscosidade, já que nas cadeias longas de hidrocarbonetos essas forças se somam. Por exemplo, nos óleos e gorduras as moléculas se movimentam com dificuldade. A Tabela 1 a seguir exemplifica os valores da viscosidade de alguns hidrocarbonetos a 20°C, onde é possível notar que com o prolongamento da cadeia temos um acréscimo nos valores de viscosidade. Substância Fórmula Viscosidade (cP*) Hexano C6H14 0,326 Heptano C7H16 0,409 Octano C8H18 0,542 Nonano C9H20 0,711 Decano C10H22 1,42 * centiPoise (cP). Tabela 1 - Viscosidade dos hidrocarbonetos C6-C10 a 20ºC. Extraído de BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005. p. 972. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal FORÇAS INTERMOLECULARES E CARACTERÍSTICAS DAS MOLÉCULAS AS CARACTERÍSTICAS DOS COMPOSTOS SEGUNDO AS FORÇAS INTERMOLECULARES. O QUE A BIOQUÍMICA TEM A VER COM ISSO? O especialista Daniel Simas fala sobre como a solubilidade, a conformação e as estruturas moleculares são fatores importantes para o desempenho das funções das moléculas biológicas. Ele usa os carboidratos, as proteínas e os lipídeos como exemplos. alimentos biomoléculas carboidratos físico-químicas hidrofilicidade Como podemos ver, as características de interação entre as moléculas são diretamente influenciadas pelas hidrogênio intermoleculares lineares meios moleculares moléculas solubilidades viscosidade estruturas químicas delas. Propriedades como a ---------- , os pontos de ebulição e de fusão e as ---------- são alguns exemplos de características ---------- que sofrem os efeitos das interações ---------- . Na bioquímica, a conformação das ---------- , os ---------- onde elas solubilizam e as funções que as ---------- desempenham são afetadas pelas atuações de forças de interação intra e ---------- . Por exemplo, as proteínas se enovelam em conformações exatas para o desempenho de suas funções através da hidrofobicidade ou ---------- de determinados domínios e/ou através da ação de interações de ---------- . As mesmas interações podem fazer com que alguns ---------- tenham a conformação globular que os tornam eficazes reservas de ---------- nos animais. Por outro lado, estes podem assumir formas ---------- nos vegetais e, assim, desempenham um importante papel estrutural. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM BASE NAS FÓRMULAS ESTRUTURAIS DOS COMPOSTOS ETANO, ETANOL, ÁCIDO ETANOICO E METOXIMETANO, PODE-SE CONCLUIR QUE OS COMPOSTOS MAIS SOLÚVEIS EM ÁGUA SÃO: A) Etano e propano B) Etanol e ácido etanoico C) Etano e ácido etanoico D) Etanol e butano E) Ácido etanoico e pentano 2.(FUC-MT) O BENZENO É GERALMENTE USADO COMO SOLVENTE DE COMPOSTOS ORGÂNICOS, ENQUANTO A ÁGUA É USADA GERALMENTE COMO SOLVENTE DE COMPOSTOS INORGÂNICOS POR APRESENTAREM RESPECTIVAMENTE: A) Molécula polar e molécula apolar B) Molécula apolar e molécula polar C) Molécula polar e ligação polar D) Molécula apolar e ligação apolar E) Ligação polar e ligação apolar GABARITO 1. Com base nas fórmulas estruturais dos compostos etano, etanol, ácido etanoico e metoximetano, pode-se concluir que os compostos mais solúveis em água são: A alternativa "B " está correta. Etano, propano, butano e pentano são hidrocarbonetos. Por natureza os hidrocarbonetos são poucos solúveis em água por possuírem apenas grupos hidrofóbicos. Já o etanol e o ácido etanoico possuem, além da cadeia com dois carbonos, grupos hidrofílicos. São eles um grupamento hidroxila e um grupamento carboxila, respectivamente. Por esse motivo, dentre as opções citadas, essas são as duas substâncias mais solúveis em meio aquoso. 2.(FUC-MT) O benzeno é geralmente usado como solvente de compostos orgânicos, enquanto a água é usada geralmente como solvente de compostos inorgânicos por apresentarem respectivamente: A alternativa "B " está correta. O benzeno (C6H6) possui uma estrutura molecular apolar, enquanto a água é polar. Através do princípio de “igual dissolve igual”, o benzeno pode ser usado como solvente para moléculas orgânicas apolares e a água para moléculas polares. MÓDULO 3 Reconhecer as aplicações das teorias de ácidos e bases aos compostos orgânicos. ÁCIDOS E BASES As moléculas orgânicas podem desempenhar uma série de funções, bem como podem reagir para formar outras moléculas. As velocidades das reações, assim como seus rendimentos, são afetados por características intrínsecas das substâncias como, por exemplo, o caráter básico ou ácido. As reações ácido-base são reações simples, mas que possuem papel importante em diversos aspectos da nossa vida. Áreas como a Síntese Orgânica, as Ciências Farmacêuticas, a Agronomia, as Ciências Forenses e outras se valem do uso desse tipo de reação para seus objetivos. Porém, para estudar esses conceitos, precisaremos recordar algumas teorias chave para o estabelecimento e aplicação dos conceitos ácido e base. As teorias de Arrhenius (1887), de BrØnsted-Lowry (1923) e de Lewis (1916, mas aceito em 1923) são as teorias mais reconhecidas e difundidas no contexto da química orgânica. O CONCEITO DE BRØNSTED- LOWRY PARA ÁCIDOS E BASES (TEORIA PROTÔNICA) Em 1923, os químicos J.N. BrØnsted e T.M. Lowry desenvolveram de forma independente a teoria que ficou conhecida como Teoria Protônica ou simplesmente teoria de BrØnsted-Lowry.Segundo os conceitos dispostos por essa teoria, os ácidos e bases são definidos como: Ácidos: São substâncias capazes de doar um próton a outras substâncias. Bases: São substâncias capazes de aceitar um próton de outras substâncias. Para a existência de uma reação ácido-base, a transferência de próton (H+) deve ocorrer e toda reação deve possuir dois pares ácido-base conjugados. A Figura 13a indica como é uma reação entre um ácido e uma base de BrØnsted-Lowry. Note que HCO3- age como ácido e ao reagir com a H2O ele gera a sua base conjugada, o CO32-. Já o íon hidrônio (H3O+) é o ácido conjugado gerado a partir de sua base correspondente, a água. Outro exemplo é mostrado na Figura 13b, onde, desta vez, o ácido da reação é o H2O, que gera OH- como base conjugada. Já a base é o NH3, que gera NH4+ como ácido conjugado. Os pares ácido-base conjugados diferem entre si apenas da adição ou perda de um próton. Imagem: Daniel Simas Figura 13a e 13b. Exemplos de reações ácido e base segundo os conceitos de BrØnsted-Lowry. HCO3-/CO32-, H2O/H3O+ e NH3/NH4+ agem como pares ácido-base conjugados entre si. FORÇA DOS ÁCIDOS E BASES DE BRØNSTED-LOWRY Nessa teoria, temos o que chamamos de força dos ácidos e bases. As reações ocorrem espontaneamente na direção da formação das espécies mais fracas. Dessa forma, no decorrer de uma reação entre pares ácido-base, o ácido mais forte e a base mais forte reagem para formar o ácido e a base mais fracos. Mas fique tranquilo, caro aluno. A escala de força dos ácidos e bases é tabelada. Isto auxilia em saber qual ácido ou base tem a preferência em reagir. Porém, como veremos a seguir, há formas de prever essa força com base nas estruturas das moléculas. ATENÇÃO A força relativa de um ácido ou de uma base pode ser expressa quantitativamente através de um valor que relaciona as concentrações das espécies reagentes e do produto quando ocorre o equilíbrio. Esses valores são denominados constantes de equilíbrio (K) e são definidos em uma temperatura determinada, em função da concentração das espécies, usualmente em mol.L-1. Ao se tratar de um ácido, usa-se a denominação Ka para a constante de equilíbrio em água e seu valor aumenta à medida que a força ácida aumenta. Ou seja, na medida que há maior extensão da ionização, maior é a constante. Para as bases, a constante de equilíbrio é definida como Kb e segue a mesma tendência de aumento no valor na medida que a força da base aumenta. Para o cálculo da constante para uma dada reação, deve-se calcular a razão entre a multiplicação da concentração dos produtos pela multiplicação da concentração dos reagentes. Vejamos como pode ser nas reações genéricas apresentadas na Figura 14 a seguir. Podemos resumir que um valor alto de Kasignifica que o ácido é forte e um valor pequeno para Ka define que este é um ácido fraco. Imagem: Daniel Simas Figura 14. Reações genéricas de um ácido com água e de base com água e suas respectivas fórmulas para o cálculo das constantes de equilíbrio Ka e Kb. A constante de acidez normalmente é expressa por meio do negativo de seu logaritmo (pKa): pKa= - log Ka EXEMPLO O ácido acético é um ácido fraco que possui Ka= 1,76 x 10-5. Assim o valor de pKa é 4,75. pKa= -log(Ka) = -log(1,76 x 10-5)= -(-4,75)= 4,75 Já o HF possui Ka= 3,5 x 10-4. Dessa forma, seu valor de pKa é 3,2. pKa= -log(Ka) = -log(3,5 x 10-4)= -(-3,2)= 3,2 Observe que há uma correlação inversa entre os valores de Ka e pKa. Ou seja, quanto maior o Ka, menor é o valor de pKa. Podemos, então, resumir que quanto menor o valor de pKa, mais forte é o ácido. Conforme mostrado na figura 15 a seguir, temos os valores de pKa para uma seleção de ácidos e bases conjugadas. Note que a força ácida aumenta conforme os valores de pKa diminuem. Pode-se observar também que ácidos fortes, como o superácido HSbF6, gera bases conjugadas fracas. Da mesma forma que podemos prever as forças dos ácidos através dos valores de pKa, é possível se estimar as forças das bases através destes valores. Assim: Quanto mais forte é o ácido, mais fraca é sua base conjugada. Quanto maior for o pKa deste ácido conjugado, mais forte é a base. Podemos comparar, por exemplo, o I- (Iodeto) que é uma base muito fraca, pois seu ácido conjugado é o HI (pKa = -10), com o CH2=CH- que é uma base forte, pois seu ácido conjugado é o eteno (CH2=CH2), um ácido fraco de pKa = 44. Imagem: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. v.1, p. 113. Figura 15: Força relativa de ácidos e suas bases conjugadas. PREVENDO AS REAÇÕES ÁCIDO-BASE As reações ácido-base são função do equilíbrio reacional. Ou seja, a reação pode ocorrer no sentido de ida (formação dos produtos) e de volta (formação dos reagentes), seguindo uma tendência de estabilização que determina a posição do equilíbrio. O equilíbrio é atingido quando a velocidade da reação de ida se iguala à velocidade da reação inversa. Em outras palavras, dizemos que as reações ocorrem sempre através do favorecimento da formação das espécies mais estáveis (menor energia potencial). Os ácidos mais fracos e as bases mais fracas são mais estáveis do que os ácidos fortes e bases fortes, respectivamente. Assim, podemos exemplificar que a reação entre um ácido carboxílico (pKa 3-5) e o NaOH ocorrerá levando a formação de H2O, um ácido mais fraco, e RCO2-, uma base mais fraca. Veja que neste caso a reação é representada com seta única (reação fortemente deslocada para a formação dos produtos) por conta da grande diferença entre os pKas dos ácidos, apesar de na prática ser um equilíbrio (Figura 16). Imagem: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. v.1, p. 116. Figura 16. Reação entre ácido orgânico e NaOH. A reação ocorre no sentido de formação de espécies mais fracas. EFEITO DE NIVELAMENTO Em solução aquosa, o íon H3O+ é o ácido mais forte que pode existir. Todo ácido forte tende a transferir seu próton para uma molécula de água formando o íon hidrônio. De modo paralelo, qualquer base mais forte do que o OH- reage completamente com a água, formando OH-. Portanto, em solução aquosa, o íon OH- é a base mais forte que pode existir. VOCÊ SABIA O conceito acima pode ser generalizado para outros solventes. Onde um ácido mais forte que o ácido conjugado do solvente não poderá existir em concentrações significativas naquele dado solvente. Já uma base mais forte que a base conjugada do solvente não poderá existir em concentrações significativas naquele solvente específico. EFEITO DA SOLVATAÇÃO Usualmente, as reações ácido-base são estudadas em meios líquidos, mas também podem ocorrer em sistemas gasosos. Porém, nesses sistemas, as medidas de forças dos ácidos são geralmente reduzidas quando comparada com os valores em meios líquidos. Por exemplo, o pKa do ácido acético é estimado em 130 em fase gasosa, enquanto é de 4,75 em fase aquosa. Essa redução dá-se justamente pela ausência de solvente para “ajudar” na separação do próton e promover a solvatação que estabilizaria a base conjugada gerada no ato da reação. Sob uma visão global, a reação ácido-base envolve a formação de espécies carregadas. Em solução, as moléculas do solvente circundam os íons promovendo um certo “isolamento” entre eles, estabilizando-os e facilitando a reação. A água, por exemplo, pode realizar esse papel através da doação dos seus hidrogênios via ligação de hidrogênio. Por esse motivo, ela é classificada como um solvente prótico. Assim, por definição, solvente prótico é aquele que possui hidrogênio(s) ligado(s) a átomos altamente eletronegativos. Um solvente prótico, normalmente possui a propriedade de estabilizar moléculas orgânicas polares, como o etanol ou a acetona, através do compartilhamento dos hidrogênios (Figura 17). Imagem: Daniel Simas Figura 17. A solvatação do etanol pela água. ESTRUTURAS E ACIDEZ A força de um ácido está ligada à facilidade com que um próton pode ser separado do mesmo, para ser transferido parauma base conjugada. Esse processo envolve a quebra de uma ligação e formação da base que tende a ser mais negativa. Há uma comparação natural entre as forças de acidez entre diferentes elementos químicos e estruturas moleculares distintas. Qualquer fator que estabilize a base conjugada de um ácido, aumenta a força dele. Dentre os principais efeitos estruturais a serem considerados, temos a mudança de elementos químicos aos quais os prótons estão ligados, o efeito da hibridização, os efeitos indutivos e de ressonância e os efeitos da solvatação pelos solventes. A primeira comparação que surge é entre ácidos de hidretos de diferentes elementos químicos da tabela periódica. Podemos dizer que a força de ligação com o próton diminui na medida que se desce ao longo de uma coluna da tabela periódica. Como breve explicação, temos que à medida que os átomos são sucessivamente maiores, há um decréscimo na efetividade da sobreposição entre o orbital 1s do hidrogênio e os orbitais dos átomos ligados (Figura 18). Quando se analisa ácidos compostos por hidrogênios ligados aos elementos químicos de uma mesma linha na tabela periódica, temos a situação em que a acidez aumenta no sentido de aumento da eletronegatividade do átomo ligado, da esquerda para a direita (Figura 18). Imagem: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. v.1, p. 116. Figura 18. Resumo das tendências de acidez relativa entre ácidos dos hidretos dos elementos da tabela periódica. HIBRIDIZAÇÃO O efeito da hibridização toma papel importante nos efeitos finais das forças de ácidos orgânicos. Para fins de exemplos, vamos tomar por base a comparação entre a acidez do etino, do eteno e do etano, que possuem valores de pKa de 25, 44 e 50, respectivamente. Como já visto, através destes valores já se sabe que o etino é o composto mais ácido dentre os três. Esse resultado ocorre porque a base conjugada formada a partir do etino é a mais estável. Os carbonos do etino possuem orbitais híbridos sp (50% de caráter s). Diferentemente dos carbonos do eteno e do etano que possuem orbitais híbridos sp2 (33,3% de caráter s) e sp3 (25% de caráter s), respectivamente. Os orbitais 2s possuem menor energia do que os orbitais 2p e por esse motivo tendem, em média, a estarem mais próximos do núcleo atômico. Assim, podemos considerar que quanto maior o caráter s da hibridização de um carbono, maior será o caráter eletronegativo deste átomo. Dessa forma, as ligações C-H do etino são mais polares e há um maior caráter positivo nos hidrogênios do etino. Veja a cor azul no mapa de potencial eletrostático da Figura 19. A eletronegatividade é a tendência que um átomo apresenta de receber elétrons e formar um íon negativo. javascript:void(0) Em resumo, há uma maior tendência a aumentar a acidez de espécies que possuem átomos hibridizados com maior caráter s. Como é o caso das ligações triplas e duplas, comparadas com ligações simples. Esses átomos polarizam mais suas ligações com hidrogênio, tornando-os mais positivos e doando- os com mais facilidade. A base conjugada formada tende a estabilizar bem a carga positiva formada e, portanto, é usualmente uma base fraca. Imagem: Adaptado de Solomons e Fryhle, 2012. v. 1. p. 119. Figura 19. As estruturas químicas e os mapas de potencial eletrostático do etino, do eteno e do etano. EFEITO INDUTIVO As ligações comuns entre C-H e C-C são praticamente apolares. Porém, esse efeito muda se o átomo de carbono está ligado a um átomo de eletronegatividade não equivalente à sua. Podemos tomar como exemplo o carbono ligado a um átomo de flúor, que é bastante eletronegativo. Esse átomo “puxa” para mais próximo de si os elétrons da ligação, tornando-a mais polarizada e com carga parcial negativa sobre o átomo de F. Esse efeito de puxar os elétrons pode se propagar através do espaço e através das outras ligações da molécula. Para a estabilização de uma base conjugada o efeito indutivo pode ser um fator importante, pois ele torna a estrutura da base menos energética e, por consequência, mais estável. Note no exemplo a seguir da Figura 20 que os elétrons do fluoreto de etila se colocam mais concentrados sobre o átomo de flúor. Imagem: Adaptado de Solomons e Fryhle, 2012. v.1, p. 120. Figura 20. As estruturas químicas e os mapas de potencial eletrostático do fluoretano. Esse efeito também pode ser observado na comparação entre o ácido acético de pKa= 4,75 e para o ácido cloroacético de pKa= 2,86. A maior acidez relativa do ácido substituído por cloro dá-se por conta da eletronegatividade deste átomo. A presença do cloro torna os prótons da carboxila do ácido mais positivos, facilitando sua perda. Além disso, após a perda do próton, o átomo de cloro atrai os elétrons para si, via efeito indutivo, estabilizando a base conjugada formada através da dispersão da sua carga negativa. Dessa forma, comparando as reações do ácido acético e do ácido cloroacético com a água, temos que o equilíbrio tende mais para a formação dos produtos na reação do ácido cloroacético, pois sua base conjugada é mais estável do que o íon acetato (Figura 21). Imagem: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. v.1, p. 126, adaptado por Lerik Lopes Figura 21. Exemplificação do efeito indutivo e a estabilização da base conjugada do ácido cloroacético. EFEITO DA DESLOCALIZAÇÃO A deslocalização eletrônica ocorre quando os elétrons em uma molécula não estão associados a um único átomo ou a uma ligação covalente. Ou seja, os elétrons deslocalizados são contidos dentro de um orbital que se estende ao longo de vários átomos adjacentes permitindo que eles sejam compartilhados por esses átomos formando estruturas de ressonância. Esse efeito pode ser significativo para a estabilização das bases conjugadas formadas, pois a deslocalização de cargas é sempre um fator que contribui nesse sentido. Justamente por conta dessa estabilidade dada à base conjugada, a energia necessária para a formação dela é diminuída, favorecendo ainda mais a ocorrência da reação. EXEMPLO Podemos comparar a acidez entre um álcool alifático e um grupamento fenólico. O etanol, por exemplo, possui pKa= 16, enquanto o orto-cresol (2-metilfenol) possui pKa= 10,26. O etanol, ao se ionizar forma o íon etóxido como base conjugada, que não possui nenhuma estrutura de ressonância como forma de estabilização, conforme consta na Figura 21. O o-cresol, por sua vez, ao reagir perdendo seu próton, forma como base conjugada uma estrutura que inicialmente possui carga negativa localizada sobre o átomo de oxigênio. Contudo, outras três estruturas podem ser representadas para promover a deslocalização eletrônica e consequente estabilização da base conjugada, que é uma base mais fraca do que o ânion etóxido. Digamos, então, que neste caso há a estabilização por ressonância favorecendo a ocorrência da reação. Imagem: Daniel Simas. Figura 22. A reação do etanol com água e a reação do o- cresol com água. As estruturas de ressonância para a base conjugada do o-cresol. FUNÇÕES ORGÂNICAS A acidez das moléculas orgânicas pode variar de acordo com os grupos funcionais que representam a porção ácida da molécula. Alguns grupos funcionais são reconhecidamente ácidos, caso dos ácidos carboxílicos, álcoois e fenóis. Normalmente os ácidos orgânicos são considerados de força média para fraca, com valores de pKa variando entre 3 e 5. Os fenóis possuem pKa de aproximadamente 10. Já os álcoois são considerados ácidos fracos com valores usuais de pKa entre 15 e 18. Já um composto sulfurado do tipo tiol possui seu pKa variando entre 10 e 11. Assim, a Figura 23 a seguir resume a ordem de acidez para algumas funções orgânicas. BASICIDADE A basicidade também pode ser medida em compostos orgânicos. Os compostos nitrogenados são conhecidos por suas basicidades. As aminas alifáticas, por exemplo, são mais básicas do que as aminas aromáticas, pois os grupos alquílicos têm efeito indutivo positivo, aumentandoa disponibilidade do par de elétrons não ligante do nitrogênio. Diferentemente dos grupos arila e fenila, que reduzem a disponibilidade desta parte de elétrons por efeito de ressonância. Porém, dentre as aminas alifáticas, a basicidade tende a aumentar de acordo com o aumento do número de substituintes na amina. Assim, de forma resumida, quanto maior o número de grupos “arilas” como substituintes, menor será a basicidade, e, em aminas alifáticas, a basicidade cresce com o aumento do número de grupos alquila. Aminas terciárias fogem à regra e são menos básicas que as aminas primárias (Figura 23). Imagem: Daniel Simas, adaptado por Lerik Lopes Figura 23. Resumo da acidez e basicidade de algumas funções orgânicas. O CONCEITO DE LEWIS PARA ÁCIDOS E BASES Essa teoria foi apresentada por Gilbert Newton Lewis (1875- 1946), em 1916, mas aceita apenas a partir de 1923. Segundo esse conceito: Ácidos: São substâncias capazes de aceitar um par de elétrons de outros átomos para formar uma nova ligação. Bases: São substâncias capazes de doar um par de elétrons a outro átomo para formar uma nova ligação. Parece simples, não é? E de fato é simples mesmo. Porém, essa teoria ampliou consideravelmente as aplicações e o entendimento sobre ácidos e bases, trazendo conceitos úteis para a compreensão de uma nova variedade de reações orgânicas. Na teoria de Lewis, os ácidos e as bases não ficam restritos a agirem apenas como doadores ou aceptores de prótons (H+), respectivamente, como acontece segundo a teoria de BrØnsted-Lowry, mas, sim, como aceptores ou doadores de par de elétrons em uma dada reação. Veja que na Figura 24 o HCl age de forma análoga a que um doador de próton age. Porém, o que acontece segundo Lewis é que o HCl ao reagir com o NH3, ele recebe o par de elétrons se tornando um Cl- (cloreto). De forma paralela, a amônia (NH3) doa um par de elétrons para que a reação ocorra. A Figura 24 também mostra que a reação ocorre com o NH3 novamente doando seu par de elétrons (base de Lewis), desta vez para o alumínio. Note, que dessa vez, não há quebra de ligação para que a reação ocorra. Apesar de assumir carga negativa, o alumínio atinge a condição de octeto completo após a reação e por receber o par de elétrons do nitrogênio, ele atua como ácido de Lewis. Imagem: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. v.1, p.105, adaptada por Lerik Lopes. Figura 24: Reação entre ácidos de Lewis (Receptores de par de elétrons) e bases de Lewis (Doadores de par de elétrons). Vamos agora observar uma reação orgânica envolvendo o conceito de Lewis. O éter etílico, pode reagir com o BF3, gerando como produto o eterato de trifluoreto de boro (BF3OEt2), Figura 25. O par de elétrons livre do oxigênio é quem “ataca” o átomo de boro, para a realização da nova ligação química. Nesse caso, temos então a acetona agindo como doadora de par de elétrons, ou seja, uma base de Lewis. Já o BF3, por receber o par de elétrons, age como ácido de Lewis. Imagem: Daniel Simas, adaptado por Lerik Lopes Figura 25. Reação entre o éter etílico e o BF3, um ácido de Lewis e um bases de Lewis. LEWIS X BRØNSTED-LOWRY Os dois conceitos divergem entre si quando se trata das definições de ácidos de Lewis. Para BrØnsted-Lowry, os ácidos são apenas doadores de prótons, já para Lewis os ácidos são aceptores de par de elétrons em uma dada reação. O conceito de Lewis se mostra, na prática, mais abrangente do que a teoria de BrØnsted-Lowry. As bases de Lewis são espécies doadoras de elétrons e, no postulado de BrØnsted-Lowry, as bases são aceptoras de prótons. Como para receber prótons, as bases de BrØnsted- Lowry precisam doar par de elétrons para que a reação ocorra, as teorias se assemelham neste ponto, uma vez que assim como acontece para os ácidos, a definição de bases de Lewis é mais abrangente do que a definição de bases de BrØnsted- Lowry. Devido à maior amplitude das aplicações das definições de Lewis, inclusive incluídas todas as reações de BrØnsted-Lowry, sua aplicação funciona como base para o entendimento da maioria das reações em Química Orgânica. Assim, um sólido entendimento destes conceitos será de suma importância para os aprendizados em síntese orgânica. Outro exemplo da comparação entre as teorias pode ser visto a seguir na reação entre o HCl e o 1-metil-ciclohexan-1-ol (reação A da Figura 26). Note que devido à eletronegatividade do átomo de cloro, o hidrogênio do HCl é parcialmente positivo (eletrofílico: possui afinidade por elétrons). Como o oxigênio do álcool é uma base de Lewis, ele pode doar seu par de elétrons ao próton e o assimilar em sua estrutura. Assim, o Cl- termina por agir como ácido de Lewis, por receber o par de elétrons que antes fazia parte da ligação com o hidrogênio. Veja que essa mesma explicação cabe para ácidos e bases de BrØnsted- Lowry, onde temos ácido e base como doador e receptor de próton (H+). Já na reação B da Figura 26, entre o benzaldeído e o cianeto temos o aldeído com características eletrofílicas devido à eletronegatividade do oxigênio da carbonila. Assim, o íon cianeto atua como uma base de Lewis ao doar seu par de elétrons e deslocá-lo para o oxigênio, de modo que todos os átomos tenham um octeto de elétrons. Assim, o grupo cianeto atua como base de Lewis, mas não com base de BrØnsted- Lowry – note que ele não recebe próton (H+). Isso também vale para o aldeído, que atua como ácido de Lewis por receber o par de elétrons, mas não como ácido de BrØnsted-Lowry, pois não doa H+. Imagem: Daniel Simas, adaptado por Lerik Lopes Figura 26. Esquemas reacionais entre o HCl e o 1-metil- ciclohexan-1-ol (A) e entre o benzaldeído e o cianeto (B). AS DIFERENTES DEFINIÇÕES ÁCIDO BASE – BREVE RESUMO A QUÍMICA ÁCIDO BASE E SUA IMPORTÂNCIA BIOLÓGICA A especialista fala sobre os exemplos de reações ácido base de impacto nas indústrias farmacêuticas, nas ciências forenses e na indústria alimentícia. Como já visto, uma reação ácido-base ocorre entre duas espécies que denominamos ácido e base. Diferentes conceitos são usados para definir estes dois termos através do mecanismo envolvido nas reações. Suas aplicações são de grande importância para diversas áreas da ciência e para a explicação da maioria das reações orgânicas. O diagrama de Venn (Figura 26) mostra uma visão coordenada das três teorias mais aceitas e conhecidas para definir ácidos e bases em Química Orgânica. Note que a teoria de Lewis é a mais abrangente entre elas. Podemos definir que todo ácido de Arrhenius é também um ácido de BrØnsted-Lowry e, sequencialmente, todo ácido de BrØnsted-Lowry será também classificado como ácido de Lewis. Mas nem todo ácido de Lewis é um ácido de BrØnsted-Lowry. Imagem: Daniel Simas Figura 26. Esquemas reacionais entre o HCl e o 1-metil- ciclohexan-1-ol (A) e entre o benzaldeído e o cianeto (B). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AO COMPARAR A ESTRUTURA DO ÁCIDO MONOCLORO-ETANOICO (KA= 1,55 X 10-3) COM A ESTRUTURA DO ÁCIDO DICLOROETANOICO (KA= 5 X 10-2) E SEUS VALORES DE PKA , PODEMOS NOTAR QUE O SEGUNDO É MAIS ÁCIDO. DENTRE AS OPÇÕES ABAIXO, MARQUE O PRINCIPAL EFEITO QUE PROMOVE A MAIOR ACIDEZ DO ÁCIDO DICLORO ETANOICO. A) Efeito de ressonância B) Efeito indutivo C) Volatidade D) Ponto de fusão E) Pressão de vapor 2. (FGV-SP-ADAPTADO) A AMÔNIA É UM COMPOSTO MUITO VERSÁTIL, POIS SEU COMPORTAMENTO QUÍMICO POSSIBILITA SEU EMPREGO EM VÁRIAS REAÇÕES QUÍMICAS EM DIVERSOS MECANISMOS REACIONAIS, COMO EM: I- HBR(G) + NH3(AQ) → NH4+(AQ) + BR–(AQ) II- NH3(G) + CH3–(G) → CH4(G) + NH2–(G) DE ACORDO COM O CONCEITO ÁCIDO-BASE DE BRØNSTED-LOWRY, A AMÔNIA É CLASSIFICADA EM I E II, RESPECTIVAMENTE, COMO: A) Ácido e base B) Base e ácido C) Ácido e ácido D) Neutro e ácido E) Base e base GABARITO 1. Ao comparar a estrutura do ácido monocloro-etanoico (Ka= 1,55 x 10-3) com a estrutura do ácido dicloroetanoico (Ka= 5 x 10-2) e seus valores de pKa , podemos notar que o segundoé mais ácido. Dentre as opções abaixo, marque o principal efeito que promove a maior acidez do ácido dicloro etanoico. A alternativa "B " está correta. Ao observar as estruturas, podemos notar que o efeito de ressonância (deslocalização eletrônica) atua de forma semelhante para ambas as estruturas. Contudo, o efeito indutivo se pronuncia com intensidade na estrutura do ácido dicloroetanoico. Os dois átomos de cloro são eletronegativos e tornam a ligação entre o oxigênio e o hidrogênio mais polarizada, tornando esse hidrogênio mais ácido. Além disto, os átomos de cloro atuam de forma conjunta, aumentando o efeito de estabilização da base conjugada. 2. (FGV-SP-adaptado) A amônia é um composto muito versátil, pois seu comportamento químico possibilita seu emprego em várias reações químicas em diversos mecanismos reacionais, como em: I- HBr(g) + NH3(aq) → NH4+(aq) + Br–(aq) II- NH3(g) + CH3–(g) → CH4(g) + NH2–(g) De acordo com o conceito ácido-base de BrØnsted-Lowry, a amônia é classificada em I e II, respectivamente, como: A alternativa "B " está correta. Segundo a teoria de BrØnsted-Lowry, na equação I, a amônia é uma base porque recebe um H+ para tornar-se um NH4+, mas, na equação II, ela é um ácido porque doa um próton e transforma-se em NH2–. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste material, foi possível abordar três módulos distintos, mas com ligações claras entre si. No módulo 1, estudamos sobre as diversas formas de interação molecular. As principais abordadas foram as forças do tipo dipolo-dipolo, dipolo induzido, ligação de hidrogênio, forças de dispersão e as forças envolvendo espécies iônicas. Através da atuação destas forças, as moléculas, átomos ou íons das diferentes substâncias interagem entre si e se atraem, interferindo diretamente nas suas propriedades físico-químicas como: o ponto de ebulição, de fusão, solubilidade, viscosidade, volatilidade etc. Essas características, bem como a correlação delas com as estruturas químicas e com as forças das interações moleculares, foram apontadas no módulo 2. Por fim, no módulo 3, foram discutidas as principais teorias ácido-base e suas aplicações. As definições de BrØnsted- Lowry e Lewis são as mais aplicadas aos conceitos de Química Orgânica. Essas foram comparadas e discutidas de acordo com seus princípios básicos, como força de um ácido ou base, constantes de ionização e mecanismo reacionais. Essas teorias são as bases para a maior parte das reações orgânicas e possuem pronunciadas aplicações em distintas áreas da ciência e do cotidiano. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Artmed Bookman, 2006. BRADY, J. E. SENESE, F. Química: a matéria e suas transformações. v.1 e 2, 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. BROWN, T. L.; LEMAY, H. E.; BURSTEN, B. E. Química: a ciência central. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005. p. 972. MCMURRY, J. Química Orgânica. v. 1 e 2. 6. ed. Cengage Learning, 2012. SOLOMONS, T. W. G.; Fryhle, C. B. Química Orgânica, v. 1 e 2. 10 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. EXPLORE+ Para ampliar seus conhecimentos sobre o tema, leia: Os artigos sobre Solubilidade das substâncias orgânicas, de Cláudia Rocha Martins, Wilson Araújo Lopes e Jailson Bittencourt de Andrade, na revista Química Nova. CONTEUDISTA Daniel Luiz Reis Simas CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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