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Patologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Fabiana Aparecida Vilaça Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Introdução à Patologia • Introdução; • Histórico; • Conceitos Básicos de Saúde e Doença; • Elementos de Uma Doença. • Demonstrar a importância do estudo da Patologia para entender as causas, os mecanis- mos e as alterações celulares e sistêmicas causadas por uma doença. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à Patologia Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução à Patologia Introdução O organismo humano possui uma necessidade constante de se defender do ata- que de agressores presentes no meio externo. Esses agressores, representados por patógenos, substâncias tóxicas ou corpos estranhos, quando conseguem vencer as barreiras de defesa do corpo humano levam a uma alteração da homeostasia, ou seja, do equilíbrio dele, levando ao de- senvolvimento de doenças. Portanto, quando um indivíduo fica doente, a injúria em seu organismo tem início nas células, que possuem a capacidade de se adaptar, porém, quando essa capacidade é perdida, temos uma lesão celular. Caso a lesão não seja contornada e o problema solucionado, essa injúria atingi- rá órgãos, sistemas e até mesmo o organismo humano como um todo, levando o indivíduo a óbito. Desde que surgiu como espécie, o homem luta para manter a sua homeostasia e se livrar de doenças e, da mesma maneira, convive com patologias dos mais di- versos tipos. Assim, se existe vida, existe doença. Histórico Vivemos no século XXI, no qual a Medicina é muito avançada e muitos hospitais mais parecem hotéis. Mas, como era com os “homens das cavernas”? Não havia hospital, não havia médico, não havia remédio... será que o homem primitivo não ficava doente? A resposta é: sim, ficava! O homem primitivo adoecia e agia por instinto, buscando a cura para suas doen- ças ou amenizando os sintomas delas por meio da utilização de plantas medicinais. Por isso, ainda hoje, alguns povos aborígenes e indígenas, que possuem uma relação maior com a Natureza, utilizam princípios ativos vegetais como medica- mentos em suas tribos. Por esse motivo, também, muitos pesquisadores da Indústria Farmacêutica rea- lizam estudos etnofarmacológicos com esses povos. Como vimos, o homem primitivo utilizava o seu conhecimento sobre as plantas para extrair substâncias capazes de amenizar e/ou até curar suas patologias. 8 9 Do “homem das cavernas” até a Idade Média, mais ou menos por volta do sé- culo XV, as doenças eram consideradas a “vontade dos deuses”, sendo que, em uma época na qual o saneamento básico era precário, epidemias não eram raras e levavam grande parte da população a óbito. Essa foi considerada a Fase Humoral da Patologia, na qual o mecanismo de ori- gem das doenças era explicado pelo desequilíbrio de humores. Os humores eram considerados os líquidos do corpo, em particular, a água, o sangue e a linfa. Os deuses tinham o poder de controlar esse desequilíbrio, bem como de restituir a normalidade do organismo. Fase Humoral da Patologia – A vontade dos Deuses, disponível em: http://bit.ly/2oxNC0G Ex pl or A visão mítica das doenças foi criada, principalmente, pela antiga civilização gre- ga, exceção feita à Hipócrates, considerado o pai da Medicina ocidental e uma luz na escuridão criada pelos deuses, pois buscava explicações racionais para explicar o processo de adoecimento humano. A partir do século XV, até o final do século XVI, o desenvolvimento e o estu- do da Patologia passaram pela fase Orgânica. Nessa época, há o predomínio da observação dos órgãos do corpo, feita, principalmente, às custas das atividades de necropsia (estudo do cadáver) ou de autópsia (estudo de si mesmo). Na Fase Orgânica, como o próprio nome diz, passou-se a conhecer as caracte- rísticas morfológicas dos órgãos quando estavam doentes. Partia-se do macro para o micro, quando o processo patológico se dá exatamente ao contrário. Do final do século XVI até meados do século XVIII a Patologia, como Ciência, passou pela Fase Tecidual, que enfatizava a estrutura e a organização dos tecidos. Foi nesse período que surgiram os primei- ros estudos sobre as alterações morfológicas teciduais e suas relações com os desequilí- brios funcionais. Na Fase Tecidual, o microscópio passa a ser utilizado, o que possibilitou o avanço do estudo da Patologia. Acredita-se que o microscópio tenha sido inventado em 1590, por Hans Janssen, e seu filho Zacharias, dois holandeses fabricantes de óculos. Tudo indica, porém, que o primeiro a fazer observações microscópicas de materiais bio- lógicos foi Antonie van Leeuwenhoek. Figura 1 – Primeiro Microscópio a ser utilizado para estudos em Patologia Fonte: Wikimedia Commons 9 UNIDADE Introdução à Patologia No século XIX, com o predomínio da visão morfológica devido à aplicação do microscópio óptico às pesquisas médicas, a Patologia entra em sua fase celular, considerada a fase inicial da Patologia Moderna. No século XX, o estudo da Patologia entra em sua Fase Ultracelular, envolvendo conceitos como Biologia Molecular e Organelas Celulares, principalmente, devido aos avanços bioquímicos e à microscopia eletrônica, que facilitaram o desenvolvi- mento dessa linha de estudo. O microscópio eletrônico possibilitou observar as organelas celulares em deta- lhes, contribuindo para a definição das funções delas. Além disso, o século XXI, por meio do Projeto Genoma, instituiu a Biologia Mo- lecular como área da Patologia. Assim, muitas doenças tiveram seus mecanismos desvendados devido ao conhecimento dos genes, que agora está mais especializado. É importante destacar que a Patologia não compreende todos os aspectos da doença, como a cura e o diagnóstico, por exemplo. A Ciência que compreende todos os aspectos da doença é a Medicina. A Patologia, portanto, é a Ciência que estuda a causa das doenças, os mecanis- mos que as produzem, em que local elas ocorrem no organismo e suas manifesta- ções morfológicas e funcionais. O estudo dos sinais e dos sintomas das doenças é objetivo da Propedêutica ou da Semiologia, que pertence à Medicina e cuja finalidade é levar aodiagnóstico, a partir do qual se estabelecem o prognóstico, a terapêutica e a prevenção. Figura 2 – Microscópio eletrônico Fonte: Wikimedia Commons 10 11 Conceitos Básicos de Saúde e Doença Os conceitos de Patologia e de Medicina convergem para um elemento co- mum: DOENÇA. Portanto, devemos ter em mente a correta definição de Saúde e de Doença. Saúde não é simplesmente a ausência de doença. Um indivíduo, para ter saúde, deve ter o equilíbrio entre as questões emocionais, físicas, sociais, espirituais e in- telectuais de sua vida. Saúde é um estado de adaptação do organismo ao ambiente físico, psíquico ou social em que vive, de modo que o indivíduo se sente bem (saúde subjetiva) e não apresenta sinais ou alterações orgânicas evidentes (saúde objetiva). O conceito de saúde envolve ainda o ambiente em que o indivíduo vive, tanto no seu aspecto físico quanto no psíquico e no social. Por exemplo: a avaliação de pa- râmetros orgânicos, como o número de eritrócitos elevado, pode ser sinal de uma policitemia, se o indivíduo vive ao nível do mar, mas representa apenas um estado de adaptação para a pessoa que vive em grandes altitudes. Social Comunidade, amizade, família. Física Auto-cuidado, nutrição, “�tness”. Emocional Apoio nas crises, “stress management”. Intelectual Educação, realização, carreira. Espiritual Amor, esperança caridade. SAÚDE Figura 3 – Representação do que é ter saúde Deve-se ter em mente, também, que Saúde e Normalidade não possuem o mes- mo significado. A palavra SAÚDE é usada em relação ao indivíduo, enquanto o termo NORMALIDADE (normal) é utilizado em relação a parâmetros estruturais ou fun- cionais do organismo em uma população semelhante. O normal é estabelecido a partir da média de várias observações de determina- do parâmetro por meio da utilização de cálculos estatísticos. Os valores normais para descrever parâmetros do organismo: peso dos órgãos, pressão arterial sis- tólica ou diastólica etc. são estabelecidos a partir de observações em populações homogêneas, de mesma raça, vivendo em ambientes semelhantes e cujos indiví- duos são saudáveis E o conceito de doença, como seria? 11 UNIDADE Introdução à Patologia Doença, ao contrário da Saúde, é um estado de falta de adaptação ao ambiente físico, psíquico ou social, no qual o indivíduo sente-se mal (sintomas) e/ou apresen- ta manifestações orgânicas evidentes (sinais). Todas as doenças possuem uma causa que converge com a alteração da home- ostasia do organismo, ou seja, as doenças produzem alterações morfológicas e ou moleculares, que resultam em alterações funcionais no organismo ou parte dele, produzindo manifestações subjetivas (sintomas) ou objetivos (sinais). Elementos de Uma Doença O diagnóstico das doenças não é um ramo da Patologia, mas sim, da Medicina. Por estudar as causas das doenças, seus mecanismos e manifestações morfológicas e estruturais, a Patologia engloba as seguintes áreas: • Etiologia: estudo das causas; • Patogênese: estudo dos mecanismos; • Anatomia patológica: estudo das alterações morfológicas nos tecidos; • Fisiopatologia: estudo das alterações funcionais nos órgãos afetados. Para entender melhor os elementos de uma doença, vamos citar a infec- ção pelo vírus HPV, que é o responsável pelo aparecimento de verrugas ge- nitais e em mucosas como a oral, e também pelo desenvolvimento do câncer de colo uterino. No caso do câncer de colo uterino, temos: • Etiologia: infecção pelo HPV; • Patogênese: o HPV realiza seu ciclo de vida por meio da penetração do vírus nas camadas mais profundas do epitélio do trato genital feminino. Devido ao ciclo menstrual da mulher e à ação hormonal sobre esse mesmo epitélio, o HPV se reproduz e libera partículas virais filhas que irão penetrar novamente nas camadas mais profundas do epitélio levando à reinfecção dele e à per- manência do vírus no hospedeiro. Enquanto realiza seu ciclo de vida, o HPV pode acoplar-se ao genoma da célula hospedeira, enganado todo mecanismo de verificação do ciclo celular. Quando isso acontece, a célula perde a capaci- dade de evitar mutações e propaga a alteração nuclear para as células filhas, iniciando um processo neoplásico que pode culminar com o carcinoma in situ de colo uterino; • Anatomia patológica: a alteração morfológica celular provocada pelo vírus HPV é a formação de coilócitos no citoplasma da célula hospedeira; • Fisiopatologia: a ação do HPV leva a ulcerações no colo uterino e ou a for- mação de massa tumoral. 12 13 ETIOLOGIA PATOGÊNESE ANATOMIA PATOLÓGICA FISIOPATOLOGIA PROPEDÊUTICA MecanismosCausas Lesões PATOLOGIA Alterações funcionais Sinais e sintomas Diagnóstico Prognóstico Terapêutica Prevenção MEDICINA Figura 4 – Elementos de uma Doença Saber a etiologia de uma doença, ou seja, a sua causa, é fundamental para que se possa realizar campanhas de prevenção contra ela e atitudes que amenizem os prejuízos causados pela doença na população diante de uma epidemia. A patogênese de uma patologia está relacionada aos mecanismos morfológicos, funcionais e moleculares que um patógeno ou processo de agressão celular faz uso para levar a uma lesão inicial e, posteriormente, a uma lesão maior em tecidos e ór- gãos. Identificar a patogênese da doença é fundamental para determinar sua cura. A anatomia patológica representa as alterações morfológicas celulares, capazes de serem identificadas por meio do microscópio óptico. E a fisiopatologia de uma doença diz respeito às alterações estruturais e sistêmicas decorrentes do desenvol- vimento de uma enfermidade. Cirurgia coronária ou cardíaca coronária ESTENOSE AÓRTICA GRAVE Vmáx> 4m / s AVA <1,0 cm2 Gradiente médio> 40 mmHg Sintomas Sintomas de Hipotensão Normal Normal Não Ergometria Fração de ejeção Classi�cação grave da válvula, progressão rápida e / ou cirurgia com atraso esperado Acompanhamento clínico, educação do paciente, modi�cação de fatores de risco, eco anualSubstituição da válvula aórtica Classe I Classe I Classe IIbClasse II Classe IIb < 0.50 Reavaliação NãoSim Duvidosos Figura 5 – Exemplo de Fisiopatologia: Insufi ciência Cardíaca 13 UNIDADE Introdução à Patologia As doenças levam ao desenvolvimento de lesões ou processos patológicos, que são o conjunto de alterações morfológicas, moleculares e/ou funcionais que surgem nos tecidos após agressões (infecções, radiação, queimadura). As alterações morfológicas são observadas com ou sem a ajuda do microscópio. As alterações moleculares, que muitas vezes, rapidamente, traduzem-se em altera- ções morfológicas, podem ser detectadas com Métodos Bioquímicos e de Biologia Molecular, são os exames laboratoriais. As alterações funcionais causam modificações nas funções celulares, teciduais, de órgãos e sistemas e representam fenômenos fisiopatológicos definidos, como a morte de células hepáticas na cirrose, por exemplo. As lesões são dinâmicas: começam, evoluem e tendem para a cura ou para a croni- cidade. Por esse motivo, é compreensível que o aspecto morfológico de uma lesão seja diferente, quando ela é observada em diferentes fases de sua evolução. Por exemplo, na infecção pelo Herpes virus, as alterações celulares são vistas apenas enquanto a ferida causada pelo vírus está em evidência. Quando a ferida não está visível, apesar de o indivíduo apresentar o vírus, ele só é detectado com exames laboratoriais. Como vimos, toda doença ou patologia inicia-se com uma lesão celular. Assim, quan- do temos a manifestação dessa doença por seus sinais e sintomas, ou quando o compro- metimento orgânico é sistêmico, essa doença já se encontra em estado avançado. Para uma célula ficar doente e passar adiante o seu estado para as demais células, comprometendo o órgão ao qual ela pertence, ela deve perder a sua capacidade de se manter em equilíbrio. Quando a célula deixa de estar em homeostasia, ela adoece. A adaptação celular frente a uma lesão é um mecanismo de que a célula faz uso para tentar adequar-se ao seunovo estado de equilíbrio, ou seja, antes de adoecer por completo, a célula tenta adaptar-se ao meio em que está inserida. Somente quando a célula perde a capacidade de se adaptar ou quando essa adaptação não é suficiente para resolver a injúria celular, é que a célula adoce e uma lesão é constatada. HOMEOSTASIA Adaptações Lesão celular reversível Lesão celular irreversível Morte celular Figura 6 – Etapas da Agressão celular 14 15 As lesões celulares podem ser reversíveis e irreversíveis. Uma lesão é conside- rada reversível quando ainda há chances de a célula doente voltar ao seu estado de equilíbrio. A lesão celular é irreversível quando a célula não consegue mais reverter o dano ao qual foi exposta e acaba havendo morte celular, que pode ser ocasionada por injúria e extravasamento do conteúdo celular para o meio externo, conhecida como necrose, ou a lesão irreversível pode ocorrer por meio da morte celular programada, conhecida como apoptose. Como podemos concluir, a Ciência Patologia estuda detalhadamente as altera- ções celulares que levam ao desenvolvimento de doenças. Em Patologia, parte-se do mínimo para entender a alteração no macro, ou seja, no organismo de forma sistêmica. 15 UNIDADE Introdução à Patologia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Filmes O Físico https://youtu.be/wUVd_77gPXQ Leitura Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico http://bit.ly/2BacCh0 Uma Abordagem Histórica das Representações Sociais de Saúde e Doença http://bit.ly/31hWNQ2 A História Clínica http://bit.ly/2MhP8gw Noções de Patologia http://bit.ly/2VKocZM Evolução histórica do conceito de doença http://bit.ly/2Mh0qS5 16 17 Referências MONTENEGRO, M. R.; FRANCO, M. Patologia: processos gerais. 5.ed. São Paulo: Atheneu, 2010. ROBBINS, S. L.; COTRAN, R. S. Patologia: bases patológicas das doenças. 9.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. RUBIN, S. Patologia: Patologia básica 10.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018 (E-Book) 17
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