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1 Davi Barros Bioquímica Bioquímica da Placa Dentária ECOSSISTEMA ORAL ► A cavidade oral fornece condições ideais para o crescimento de microrganismos (ambiente úmido, mantido a uma temperatura de 34 a 36 °C e um pH próximo à neutralidade (pH 6·75 - 7·25) na maioria das áreas) ► A grande diversidade anatômica acarreta o crescimento de uma comunidade microbiana diferente para cada habitat. A existência de sulcos, fissuras favorecem o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas (ou aeróbicas facultativas). ► Sistema aberto – as bactérias são continuamente introduzidas e removidas do sistema. ► Se estabelece na cavidade oral aquele microrganismo que possui capacidade de aderência às superfícies, ou que fiquem retidos por exemplo em fissuras. PRINCIPAIS ECOSSISTEMAS BUCAIS ► Epitélio bucal – a descamação contínua da superfície das células epiteliais permite uma rápida eliminação da bactéria aderida. ► Dentes - apresentam diversos locais que podem ser colonizados por bactérias abaixo (região subgengival) e acima da margem da gengiva (região supragengival). ► Língua - com suas papilas na superfície fornecem locais para colonização que são protegidos de remoção mecânica. ► A saliva e o fluido encontrado no sulco gengival (fluido crevicular gengival) são essenciais para a manutenção do ecossistema oral fornecendo água, nutrientes, aderência e fatores antimicrobianos. FUNÇÕES DOS MICRORGANISMOS RESIDENTES QUANDO EM EQUILÍBRIO EM RELAÇÃO AO SEU HOSPEDEIRO • Barreira contra instalação de microrganismos patogênicos (resistência a colonização). • Modulação do sistema imunológico. • Produção de substâncias utilizáveis pelo hospedeiro – vitaminas. • Degradação de substâncias tóxicas ► A microbiota também constitui um reservatório de bactérias potencialmente patogênicas que podem infectar os tecidos do hospedeiro. Ex. endocardite bacteriana. VANTAGENS PARA OS MICRORGANISMOS QUE VIVEM EM BIOFILMES ► Amplo habitat para crescimento (espécies que consume O2 criam ambientes favoráveis para as anaeróbicas). ► Maior disponibilidade de nutrientes, tais como fontes de C, N e fosfato. ► Resistência aumentada a agentes antimicrobianos - esta resistência é determinada por: – Taxa de crescimento lenta; 2 Davi Barros Bioquímica – Limitações de difusão/reação; – Inativação/neutralização por enzimas. ► Resistência a mecanismos de defesa do hospedeiro (PMNs não podem c/ agregados superiores a 5 bactérias). ► Resistência a formas reativas de oxigênio. ► Resistência a proteases. ► Aquisição de novos genes, expressão de novas características. MICROBIOTA ORAL ► A composição da flora microbiana oral sofre a influência de vários fatores, que incluem: saliva, idade, mecanismos de defesa do hospedeiro, tratamento com antibióticos, estado dentário, frequência de ingestão de açucares e hábitos de higiene oral. ► Muitas patologias orais como cáries, doença periodontal e periimplantites são relacionadas com a placa bacteriana. ► Conhecer os mecanismos que controlam a formação e o desenvolvimento da placa pode ajudar a entender as patologias orais e a planejar um tratamento efetivo. Depósitos formados na superfície dos dentes ► Placa dental – agregados bacterianos aderidos ao dente ou outras estruturas orais sólidas. Não são removidas por ação mecânica de um spray de água. ► Matéria alba –descreve agregados bacterianos, leucócitos e células epiteliais descamativas que se acumulam na superfície da placa e dos dentes, não possuindo uma estrutura interna regular como aquela observada na placa. São removidos por ação mecânica de um spray de água. ► Cálculo – é um depósito duro que se forma pela mineralização da placa. Placa dentária ► É uma massa mole concentrada e aderente de microrganismos contidos numa matriz orgânica, formada por polímeros bacterianos, substâncias salivares e elementos da dieta do hospedeiro. ► É uma comunidade complexa de mais de 800 espécies diferentes. (Siqueira e Rôças – 2005) Com base na relação com a margem gengival, ela é diferenciada em placa supragengival e placa subgengival. COMPOSIÇÃO ► A composição da placa dental varia em diferentes superfícies anatômicas (fissuras, superfícies interproximais e lisas, sulco gengival) em virtude das propriedades físicas e biológicas de cada local. ► A placa é constituída de uma fase sólida e uma fase líquida. ► As bactérias compreendem a cerca de 70% do volume da placa, enquanto que a matriz compreende aos 30% restantes. • Cell cluster = aglomerado de células formando o biofilme. • Streamer = fase planctônica (bactéria em suspensão). 3 Davi Barros Bioquímica • Void = espaço vazio. • Channel – canais que permitem a passagem de nutrientes e outras substâncias ► Componentes orgânicos • Carboidratos uma grande proporção corresponde a políssacarídeos extracelulares (PECs) (glucanos e frutanos). • Polissacarídeos intracelulares (PICs) que atuam como um reservatório energético para serem usados durante os períodos de ausência de substratos da dieta. • Lipídeos • Proteínas (alta concentração de proteínas bacterianas e salivares). ► Componentes inorgânicos - compreendem de 5-10% do peso seco da placa. • A concentração de Ca e P na placa é alta, em relação a saliva. K, Na, Mg, • Cu, Fe e F também estão presentes. ETAPAS DE FORMAÇÃO DA PLACA 1. Formação da película adquirida Adsorção de glicoproteínas salivares na superfície dos dentes. 2. Colonização primária (espécies pioneiras) (Gram (+) cocos e bastonetes S. sanguis, S. oralis, S. mitis, A. viscosus) Resistem a força de cisalhamento (saliva) e à repulsão eletrostática 3. Colonização secundária - predominância de Gram (-) filamentos (em 5 dias) Interação microbiana, substituição dos cocos e bastonetes Gram (+) Matriz de microrganismos e substância fundamental 4. Biofilme estável Película adquirida ► A placa bacteriana não se forma diretamente na superfície dos dentes e sim na película adquirida. ► Camada orgânica acelular formada pela adsorção seletiva de certos componentes salivares ao dente e a outras superfícies sólidas (amálgama, ouro, porcelana) presentes na boca. ► No seu estágio inicial não contem bactérias, entretanto, é rapidamente colonizada passando a se tornar parte da placa dental. ► A película pode ser removida após vigorosa escovação com agentes abrasivos, porém é rapidamente reconstituía pela exposição a saliva. ► Se interpõe entre o dente e a placa, atuando como uma barreira à difusão dos ácidos da dieta e da fermentação bacteriana. ► Atua na proteção mecânica do esmalte contra abrasão e atrito. 4 Davi Barros Bioquímica ► Confere permeabilidade seletiva ao esmalte, permitindo a remineralização de lesões cariosas. ► Juntamente com a mucina forma um meio lubrificante entre as superfícies opostas dos dentes. ► Determina a microbiota inicial que adere ao dente. ► Nutre e serve de substrato para os microrganismos. Mecanismos de aderência bacteriana ► Os mecanismos de aderência são essenciais para a colonizaçãobacteriana na cavidade oral. Na sua ausência, a bactéria se torna parte do fluido salivar e é engolida. ► No desenvolvimento da placa 2 processos de aderência são necessários: 1º as bactérias devem aderir à superfície da película e tornar-se suficientemente firmes de modo a resistir aos fatores naturais de remoção como a mastigação, a deglutição e o próprio fluxo salivar. Em 2º lugar, elas devem crescer e aderir umas sobre as outras para permitir o acúmulo de placa. – Fase 1 - Colonização primária – Fase 2 - Colonização secundária – Fase 3 - Biofilme estável ► Colonizadores iniciais ou pioneiros: Streptococcus e Actinomyces. ADESÃO DE MICRORGANISMOS ► Fase 1 - nessa fase o microrganismo é mantido por um curto período por forças atrativas. Ocorrem interações principalmente entre bactérias específicas e a película adquirida. As interações podem ser uma combinação do tipo lectina, interações eletrostáticas e hidrofóbicas ou podem envolver estruturas delicadas chamadas fibrilas ou fimbrias que se projetam da superfície do microrganismo. ► Fase 2 - a adesão é tornada essencialmente irreversível pela síntese de um polímero extracelular. A dextrana, mantém as células unidas na forma de filamentos. ► Fase 3 – A coagregação entre espécies diferentes são mediadas através proteínas específicas, chamadas adesinas, que são expressas na superfície de ambas as células e que interagem com seus receptores específicos na outra célula. ► Na superfície das bactérias, existem macromoléculas ligantes genericamente chamadas adesinas. Na superfície dos tecidos do hospedeiro, existem moléculas receptoras que reconhecem as adesinas bacterianas e com elas interagem especificamente. Dessa interação altamente específica, formam-se pontes de ligação, que são as bases da aderência bacteriana. ► As adesinas mais bem conhecidas são as lectinas e as adesinas hidrofóbicas. Lectinas são adesinas protéicas que têm afinidade específica por carboidratos. Assim, elas só se fixam nos tecidos (mucosa ou superfície dental) em cujas superfícies exista o carboidrato que lhes é afim, que funciona como receptor. PLACA BACTERIANA SUPRAGENGIVAL ► Existe uma maior densidade de células na base da placa. Estas geralmente apresentam uma parede celular grossa, característica de células com crescimento lento devido à escassez de nutrientes. A parte externa da placa tem menor densidade de células e uma maior diversidade 5 Davi Barros Bioquímica de espécies. O material entre as células é o PEC. FATORES QUE INFLUENCIAM NA ECOLOGIA MICROBIANA ► Temperatura - 36°C – 36,5°C: durante a alimentação, os microrganismos que colonizam a boca são expostos a alimentos quentes e frios e provavelmente devem se adaptar a essas variações extremas de temperatura. ► pH: na cavidade oral, o pH é mantido próximo da neutralidade pela saliva. Entretanto, a área subgengival é banhada pelo fluido gengival e não sofre controle pela ação tamponante da saliva. ► Potencial de Óxido-Redução (Eh) - reflete a quantidade de oxigênio. Bactérias anaeróbicas precisam de um ambiente reduzido (Eh negativo) para seu crescimento, enquanto bactérias aeróbicas precisam de um ambiente oxidado (Eh positivo). ► Nutrientes; saliva: pH (saliva) = 6,25 - 7,25; fluxo salivar; fatores agregantes - proteínas Ac; capacidade tampão e atividade antimicrobiana LOCAIS DE FORMAÇÃO DA PLACA ► Os microrganismos precisam superar diversas forças de remoção para que possam permanecer na cavidade oral. As áreas entre dentes adjacentes e na fenda proximal estão protegidas das forças geradas na mastigação, fluxo salivar e higiene oral. Bem como áreas dos dentes que apresentam imperfeições podem favorecer o desenvolvimento da placa. Metabolismo da placa ► Os carboidratos representam uma fonte de carbono e a principal fonte de energia da microbiota da placa (alguns microrganismos podem empregar ácidos carboxílicos, aminoácidos ou peptídeos, ao invés de carboidratos). ► Como a concentração de glicose na saliva é muito baixa, as glicoproteínas são a principal fonte de carboidratos para as bactérias da placa. ► As bactérias apresentam componentes enzimáticos fixos, denominados de enzimas constitutivas, direcionadas ao metabolismo da glicose (via glicolítica). No entanto, os microrganismos bacterianos exibem habilidades enzimáticas latentes para utilizar uma grande variedade de outros açúcares como a sacarose, maltose, lactose, frutose e álcoois-açúcares como sorbitol e manitol. No entanto, essas enzimas são sintetizadas apenas quando o açúcar está presente, sendo denominadas de enzimas indutíveis. 6 Davi Barros Bioquímica ► Para que um açúcar possa ser metabolizado há necessidade de dois sistemas enzimáticos, um para transportá-lo para o interior da célula e outro para convertê-lo em um intermediário da via glicolítica. ► O Sistema de transporte fosfotransferase (PTS) é encontrado apenas em bactérias, onde catalisa o transporte e fosforilação de diversos monossacarídeos, dissacarídeos, açucares aminados, poliois e outros derivados de açucares. O sistema atua em baixas concentrações de açúcar, em pH neutro e crescimento lento. ► Pesquisas realizadas com o S. mutans indicam que a glicose também pode ser transportada por enzimas, denominadas permeases, e fosforilada por um processo dependente de ATP. Esse mecanismo parece funcionar com altas concentrações de glicose, baixos níveis de pH e altos índices de crescimento. Transporte e metabolismo da glicose nos estreptococos: via glicolítica e via das pentoses. Vias metabólicas de conversão do piruvato nos estreptococos ► O destino do piruvato depende da quantidade e tipo de açúcar disponível, bem como da presença de O2 e CO2. ► Concentrações elevadas de açúcar - o principal produto formado é o ácido lático. ► Baixas concentrações de açúcar e em anaerobiose - resulta na geração de ácido fórmico, ácido acético e etanol como produtos finais. ► Os produtos finais de excreção do metabolismo bacteriano dependem da concentração de açúcares no meio oral. ATIVIDADE METABÓLICA E NÍVEIS DE AÇÚCAR ► Na cavidade oral há carência de nutrientes na maior parte do tempo, mas podem ocorrer períodos repentinos de excesso de nutrientes. Tais excessos podem ser prejudicais as bactérias e, com isso, o metabolismo bacteriano deve ser rigorosamente controlado. Nestas fases, a concentração de açúcares na placa pode abruptamente subir cerca de 10.000 vezes e muitas bactérias morrem por um processo denominado “morte acelerada pelo substrato”. ► Os estreptococos orais e outras bactérias se protegem deste risco usando vários mecanismos: regulando o índice de glicólise, convertendo o piruvato em diferentes produtos finais, sintetizando polissacarídeos intra e extracelulares e inibindo o sistema de transporte de açúcares. ► A sacarose pode ser convertida em glicanos (polímeros de glicose) por ação da glicosiltransferas e em frutanos (polímeros de frutose) pela frutosiltransferase. ► Os frutanos atuam como estoque extracelular de nutrientes, enquanto os glicanos podem consolidar a adesão da placa. O excesso de carboidratos na dieta é estocado por algumas espécies na forma de polímeros intracelulares, que podem ser metabolizados na ausência de substratos fermentáveis. ► Microrganismos como S. mutans, S. salivarius e S. sanguis sintetizam PECs a partir da sacarose, através das glicosiltransferases (GTFs). REFERÊNCIASOLIVEIRA, J. Odonto UP: Bioquímica do Sistema Dentário, 2021. Disponível em: https://www.odontoup.com.br/bioquimica-do-sistema-dentario/. Acesso em: 31 ago. 2021. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7ª ed. Artmed Editora, 2018. https://www.odontoup.com.br/bioquimica-do-sistema-dentario/
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