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ALFA e OMEGA 3 - Fair Game (PAPA LIVROS) (1)

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PATRICIA BRIGGS 
 
FAIR GAME 
Livro 03 da Série Alfa e Ômega 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 Dizem que os opostos se atraem. Esse era o caso dos homens lobos, Anna Latham e 
Charles Cornick, eles se acasalaram. O filho e executor do líder dos homens lobos da América 
do Norte, Charles, é um alfa dominante. Enquanto Anna, um ômega, tem a rara habilidade de 
tranquilizar os outros da sua espécie. 
 Agora que os homens lobos se revelaram para os humanos, não podiam permitir 
nenhuma publicidade ruim. As infrações que podiam ter sido omitidas no passado agora deviam 
ser castigadas, e a tensão de fazer o trabalho sujo de seu pai está cobrando o seu preço a Charles. 
 Entretanto, Charles e Anna são enviados para Boston, quando o FBI solicita a ajuda do 
bando em um caso local de assassinatos em série. Eles depressa percebem que não só as últimas 
duas vítimas eram homens lobos, mas todas. Alguém estava caçando a sua espécie. E agora 
Anna e Charles colocaram-se diretos na mira do assassino... 
 
 
 
 
 
Revisão Inicial: AkraSota e Vanessa 
Revisão Final: Amanda 
Visto Final: Márcia 
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para todos aqueles que vivem na escuridão lutando contra monstros, 
para que o resto de nós fiquemos seguros. 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
PRÓLOGO 
 
 
Um Conto de Fadas 
 Era uma vez uma garotinha chamada Leslie. 
 No ano em que ela fez oito anos duas coisas aconteceram: sua 
mãe abandonou Leslie e seu pai para se mudar para Califórnia com um 
corretor da bolsa; e, no meio de um sensacional julgamento por 
homicídio, as fadas das histórias e das canções admitiram sua existência. 
Leslie nunca soube de sua mãe novamente, mas os faes eram outro 
assunto. 
 Quando ela tinha nove anos, seu pai aceitou um trabalho em 
uma cidade estranha, mudando-os da casa em que ela cresceu para um 
apartamento em Boston, onde eles eram as únicas pessoas negras em 
um bairro de brancos. Seu apartamento ocupava o piso superior de uma 
casa estreita, cuja dona vivia no andar de baixo, a Sra. Cullinan, que 
tomava conta de Leslie enquanto seu papai estava no trabalho, e que 
com seu amparo silencioso facilitou o caminho de Leslie na sociedade 
das crianças do bairro, que casualmente a visitavam para biscoitos ou 
limonada. Nas mãos capazes do Sra. Cullinan, Leslie aprendeu crochê, 
tricô, costura e culinária, enquanto seu pai mantinha a casa e o gramado 
da velha mulher em perfeita forma. 
5 
 
 Mesmo quando adulta Leslie não estava certa se seu pai 
pagava à velha mulher ou se ela tomou a iniciativa de cuidar de Leslie 
sem o consultar. Era o tipo de coisa que Sra. Cullinan faria. 
 Quando Leslie estava na terceira série, um dos meninos do 
jardim de infância sumiu. Na quarta série, uma de seus colegas, uma 
menina chamada Mandy, desapareceu. Existiam também, ao longo do 
mesmo período de tempo, muitos animais perdidos—principalmente 
gatinhos e cachorros jovens. Nada que teria atraído sua atenção, não 
fosse pela Sra. Cullinan. Em uma de suas caminhadas diárias (a Sra. 
Cullinan as chamava de “o caminho das fofoqueiras”, pois serviam para 
ver o que as pessoas em seu bairro estavam fazendo), a velha senhora 
começou a tirar os cartazes sobre animais perdidos presos nas vitrines, 
e colá-los em um pequeno caderno, no qual escrevia informações a 
respeito. 
 — Nós estamos procurando por animais perdidos? — Leslie 
perguntou finalmente. Ela aprendia principalmente pela observação do 
que fazendo perguntas por que, em sua experiência, pessoas mentiam 
melhor com seus lábios do que com suas ações. Mas, como a senhora 
não deu uma boa explicação para a lista de animais perdidos, ela foi 
forçada, afinal, a recorrer às palavras. 
 — É sempre bom ficar de olho. — Era uma resposta 
insuficiente, mas como a Sra. Cullinan soou perturbada, Leslie não 
perguntou de novo. 
6 
 
 Quando o cachorrinho que Leslie ganhou de aniversário, um 
vira-lata com olhos marrons e grandes pés, sumiu, a Sra. Cullinan 
franziu os lábios e disse: 
 — É hora de pôr um fim nisto. — Leslie tinha certeza que a 
senhora não sabia que alguém a tinha escutado. 
 Leslie, seu pai e a Sra. Cullinan estavam jantando alguns dias 
depois do desaparecimento de seu filhote quando uma limusine parou 
em frente à casa da senhorita Nellie Michaelson. Emergiram das 
profundezas escuras daquele brilhante veículo dois homens de terno e 
uma mulher em um vestido branco florido, que parecia muito fresco e 
leve para combinar com o traje dos homens. Eles estavam vestidos para 
um enterro e ela para um piquenique no parque. 
 Sem vergonha de espiar, o pai de Leslie e a Sra. Cullinan 
deixaram a mesa para olhar pela janela as três pessoas que entravam na 
casa da senhorita Nellie sem bater. 
 — Quem são eles…? — A expressão de curiosidade no rosto 
de seu pai mudou (ninguém nunca visitou a senhorita Nellie) para 
horrorizada num segundo, e ele agarrou seu revólver de serviço e seu 
distintivo. Sra. Cullinan o pegou na varanda da frente. 
 — Não, Wes - ela disse em uma voz estranha, feroz. — Não. 
Eles são faes e é a bagunça deles que vieram limpar. Você deve deixá-los 
fazer o que eles precisam fazer. 
7 
 
 Leslie espreitou em torno dos adultos e finalmente viu o que 
colocou todo mundo nervoso. Os dois homens estavam levando Nellie 
para fora de sua casa. Ela estava lutando, sua boca escancarada como se 
estivesse gritando, mas não havia nenhum som. 
 Ela sempre achou que Nellie parecia uma modelo ou uma 
estrela de cinema, com seus olhos azuis tristes e boca suave levemente 
curvada para baixo. Mas ela não parecia tão bonita agora. Ela não 
parecia assustada, mas enfurecida. Seu rosto bonito estava torcido, feio, 
de uma forma que tirou o fôlego de Leslie, assustando-a de um modo 
que assombraria seus sonhos até quando crescesse. 
 A mulher no esvoaçante vestido feérico, que tinha vindo com 
os homens, saiu da casa quase o mesmo tempo em que os homens 
terminavam de colocar Nellie no banco de trás do carro. Ela trancou a 
porta da casa de Nellie, e quando terminou ela olhou para cima e viu o 
três assistindo. Depois de uma pausa, atravessou para a rua e a calçada 
abaixo deles. A mulher não pareceu estar caminhando rápido, mas ela 
já estava abrindo o portão da frente quase antes de Leslie perceber que 
se dirigia até eles. 
 — E para onde vocês pensam que estão olhando? - Ela disse 
indulgente, em uma voz que fez com que o pai de Leslie em um estalo 
segurasse o cabo da arma no coldre. 
 A Sra. Cullinan deu um passo a frente, sua mandíbula 
apertada como no dia em que ela enfrentou um par de jovens valentões 
que decidiram que uma mulher velha era um jogo justo. 
8 
 
 — Justiça. — respondeu, com a mesma ameaça suave que 
usou com os meninos que a acharam uma presa fácil. — E não seja 
arrogante comigo. Eu sei o que você é e não lhe tenho medo. 
 A cabeça da estranha mulher inclinou-se agressivamente e 
seus ombros ficaram rígidos. Leslie deu um passo atrás de seu pai. No 
entanto, a resposta da Sra. Cullinan chamou a atenção dos homens na 
limusine. 
 — Eve — disse um dos homens, com a mão apoiada na porta 
aberta do carro. Sua voz era suave e rica, tão cheia e com um toque 
irlandês quanto a da própria Sra. Cullinan, e essa voz reverberou através 
da rua e pelo quarteirão como se não houvesse nenhum outro som na 
cidade para amortecê-la. 
 — Venha para o carro e faça companhia ao Gordie, ok? - Até 
Leslie soube que não era um pedido. 
 A mulher endureceu e estreitou o olhar, mas deu a volta e foi 
embora. Quando ela tomou seu lugar no carro, o homem os abordou. 
 — Você deve ser a Sra. Cullinan. — ele disse assim que 
chegou ao lado deles da rua e perto o suficiente para uma conversa mais 
pessoal. Ele tinha um daqueles rostosquase bonitos, que não se 
sobressaíam na multidão - com exceção de seus olhos. Não importa o 
quanto tentasse, Leslie nunca conseguiu lembrar qual a cor deles, apenas 
que eram estranhos, exóticos e bonitos. 
9 
 
 — Você sabe que eu sou. — respondeu duramente a Sra. 
Cullinan. 
 — Nós apreciamos que você nos tenha chamado e eu gostaria 
de deixar uma recompensa. — ele estendeu um cartão de negócios para 
ela. — Um favor quando você mais precisar. 
 — Se as crianças estão seguras para brincar livremente em 
seus jardins, então isto é recompensa o bastante. — Ela secou suas mãos 
nos quadris e não fez nenhum movimento para pegar o cartão dele. 
 Ele sorriu, mas não baixou sua mão. 
 — Eu não ficarei em divida com você, Sra. Cullinan. 
 — E eu sou esperta o suficiente para aceitar um presente das 
fadas. — ela retrucou. 
 — Uma recompensa. — ele disse. — Uma pequena coisa. Eu 
prometo que nenhum prejuízo intencional atingirá você ou os seus 
enquanto eu viver. 
 Então, num tom suplicante ele disse: 
 — Vamos. Eu não posso mentir. Isto é uma época diferente, 
na qual sua espécie e a minha precisam aprender a conviver. Você podia 
ter dito a polícia suas suspeitas; que estavam corretas. Mas, se tivesse 
feito isso, ela não teria sido impedida antes de matar ainda mais vidas 
do que já tirou. — ele suspirou e deu uma olhada atrás, para as janelas 
10 
 
escurecidas do carro. — É difícil mudar quando se é tão velho, e ela 
sempre teve o hábito de comer coisas pequenas, era nossa Nellie. 
 — Foi por que eu chamei você. — disse a Sra. Cullinan 
resoluta. — Eu não sabia quem estava levando os pequenos até que vi 
Nellie em nosso quintal duas noites atrás e, então, o filhotinho desta 
criança desapareceu pela manhã. 
 O fae olhou para Leslie pela primeira vez, mas ela estava 
muito chateada para interpretar seu rosto. “Comer coisas pequenas”, o 
homem disse. Os filhotes de cachorro eram coisas pequenas. 
 — Ah... — ele disse depois de um momento longo. — 
Criança, você pode se confortar sabendo que a morte do seu filhote 
significa que ninguém mais morrerá pelos pecados daquela pessoa. 
Dificilmente é uma recompensa justa, eu sei, mas é alguma coisa. 
 — Dê a ela. - disse a Sra. Cullinan de repente. — O filhote 
dela morreu. Dê sua recompensa a ela. Eu sou uma mulher velha com 
câncer, eu vou viver por todo esse ano. Dê isto a ela. 
 O homem fae olhou para Sra. Cullinan, então baixou-se em 
seu joelho na frente de Leslie, que segurava apertado a mão do seu pai. 
Ela não sabia se estava chorando por seu filhotinho, ou pela velha 
mulher que era mais sua mãe do que sua própria mãe já tinha sido, ou 
por ela mesma. 
 — Um presente por uma perda. - ele disse. — Tome isto e use 
quando você mais precisar. 
11 
 
 Leslie pôs sua mão livre para trás. Ele estava tentando 
compensar a morte do seu filhote com um presente, como as pessoas 
tentaram fazer depois que sua mãe partiu. Os presentes não melhoraram 
as coisas. Bem o oposto, em sua experiência. O ursinho gigante que sua 
mãe deu a ela na noite em que partiu estava enterrado no fundo do 
armário. E embora Leslie não pudesse se livrar dele permanentemente, 
ela também não podia olhá-lo sem sentir-se doente. 
 — Com isto, você pode ter um carro ou uma casa. — o 
homem disse. — Dinheiro para estudar. — ele sorriu tão gentilmente 
que o fez parecer totalmente diferente, mais real de alguma forma, 
quanto ele continuava: 
 — Ou salvar algum outro filhote de cachorro dos monstros. 
Tudo que você tem que fazer é desejar forte e rasgar o cartão. 
 — Qualquer desejo? — Leslie perguntou cautelosamente, 
pegando o cartão mais porque não queria ser o foco da atenção do 
homem por mais tempo do que por querer o cartão. — Eu quero meu 
filhote de cachorro de volta. 
 — Eu não posso trazer ninguém ou qualquer coisa de volta a 
vida. - ele disse com tristeza. — Eu gostaria de poder. Mas, fora isso, eu 
posso fazer quase qualquer coisa. 
 Ela olhou fixamente para o cartão em sua mão. Tinha só uma 
palavra escrita: PRESENTE. Ele se levantou. Então, sorriu - uma 
expressão tão alegre e leve como ela nunca viu. 
12 
 
 — E, senhorita Leslie — ele disse, ainda que não devesse 
saber seu nome — Não deseje mais desejos. Não funciona assim. 
 Ela tinha acabado de pensar... 
 O estranho homem voltou-se para a Sra. Cullinan, segurou a 
mão dela na dele e beijou-a. 
 — Você é uma mulher de rara beleza, raciocínio rápido e 
espírito generoso. 
 — Eu sou uma velha curiosa e enxerida — ela respondeu, 
mas Leslie podia ver que ficou lisonjeada. 
 Quando se tornou adulta, Leslie manteve o cartão que o 
homem fae lhe deu dobrado atrás de sua licença de motorista. Parecia 
tão limpo e novo como no dia em que ela concordou em pegá-lo. Para 
o choque dos médicos, o câncer da Sra. Cullinan misteriosamente 
desapareceu e ela morreu em sua cama vinte anos mais tarde, aos 
noventa e quatro. Leslie ainda sente sua falta. 
 Leslie aprendeu duas coisas valiosas sobre os faes naquele dia. 
Eles eram poderosos e encantadores; e eles comiam crianças e 
cachorrinhos. 
 
CAPÍTULO 1 
Aspen Creek, Montana 
13 
 
 — Vá para casa. — Bran Cornick rosnou para Anna. 
 Ninguém que já o tivesse visto naquele estado esqueceria o 
que espreitava por trás da fachada de Marrok amável e bem educado. 
Mas só aqueles que fossem estúpidos, ou desesperados, arriscariam 
acender sua ira e revelar o monstro atrás da máscara de bom sujeito. 
Anna estava desesperada. 
 — Quando você me disser que deixará de pedir a meu marido 
para matar pessoas. — Anna disse a ele determinada. Ela não gritou, ela 
não berrou, mas não iria desistir facilmente. 
 Claramente, ela o empurrou para a borda muito estreita de 
seu último fragmento de comportamento civilizado. Ele fechou os 
olhos, se virou para longe dela e disse, em uma voz muito gentil: 
 — Anna, vá para casa e acalme-se. 
 Vá para casa até que ele se acalmasse, era a mensagem. Bran 
era seu sogro, seu Alfa, e também era o Marrok que governava todos as 
bandos de homens lobo daquela parte do mundo, simplesmente por sua 
força de vontade. 
 — Bran... 
 O poder de Bran arrebentou junto com seu temperamento, e 
os outros cinco lobos, além de Anna, que estavam na sala da casa caíram 
ao chão, até mesmo sua companheira Leah. Eles curvaram suas cabeças 
e as inclinaram ligeiramente para o lado, expondo suas gargantas. 
14 
 
 Embora Bran não tivesse feito nenhum movimento, a 
velocidade das rendições atestava a sua raiva e seu domínio, e só Anna, 
um pouco surpresa pela própria audácia, ficou de pé. Quando ela 
chegou a Aspen Creek, espancada e abusada como tinha sido, se alguém 
tivesse gritado com ela, se esconderia num canto e não sairia por uma 
semana. 
 Ela encontrou olhos de Bran e mostrou seus dentes quando a 
onda de poder dele a transpassou como uma brisa de primavera. Não 
que ela não estivesse devidamente apavorada, mas não por Bran. Ele, 
ela sabia, realmente não a machucaria e se pudesse a ajudaria, não 
importa o que seu cérebro estivesse lhe dizendo agora. Ela estava 
apavorada para seu companheiro. 
 — Você está errado. — Anna disse a ele. — Errado. Errado. 
Errado. E você está determinado a não ver isto até que ele esteja 
quebrado além do conserto. 
 — Cresça pequena menina — Bran rosnou, e agora seus olhos 
— ouro brilhante expurgando o habitual castanho - estavam enfocados 
nela em vez de na lareira na parede. 
 — A vida não é uma cama de rosas e as pessoas têm que fazer 
trabalhos duros. Você sabia o que Charles era quando se casou com ele 
e o tomou como seu companheiro. 
 Ele estava tentando focar o assunto nela porque então não 
teria que ouvi-la. Ele não podia ser tão cego, só muito teimoso. Então 
15 
 
sua tentativa de mudar o argumento, quando não deveria existir 
nenhum argumento, a enfureceu. 
 — Se alguém aqui está agindo como uma criança, não sou 
eu. - ela rosnou de volta para ele. 
 O grunhidode Bran foi uma resposta sem palavras. 
 — Anna se cale. — Tag sussurrou com urgência, o grande 
corpo no chão, com seus dreadlocks alaranjados em confronto com o 
tapete persa marrom. Ele era seu amigo e ela confiava no julgamento do 
berserker na maioria das coisas. Sob outras circunstâncias ela o teria 
escutado, mas agora mesmo ela tinha Bran tão bravo que não conseguia 
nem falar, de modo que ela pudesse conseguir algumas palavras daquela 
mente teimosa e inflexível. 
 — Eu conheço meu companheiro. — ela disse a seu sogro. — 
Melhor que você. Ele quebrará antes de desapontar você ou falhar com 
seu dever. Você tem que parar isto, porque ele não pode. 
 Quando Bran falou, sua voz era um sussurro sem timbre: 
 — Meu filho não se curvará ou se quebrará. Ele tem feito seu 
trabalho por um século antes de você ter nascido, e ele fará isto por mais 
outro século. 
 — O trabalho dele era distribuir justiça — ela disse. — 
Mesmo que significasse matar pessoas, ele podia fazê-lo. Agora ele é 
meramente um assassino. Suas presas se agarram a seus pés 
16 
 
arrependidos e redimíveis. Eles choram e imploram por uma clemência 
que ele não pode dar. Isso o está destruindo - ela disse diretamente — E 
eu sou a única que vê isso. 
 Bran se encolheu. E pela primeira vez ela percebeu que 
Charles não era o único que sofria debaixo das mais novas e severas que 
os homens lobos tinham que viver. 
 — Tempos desesperados — ele disse sombriamente, e Anna 
torceu para que o tivesse convencido. Mas ele afastou a suavidade 
momentânea e disse: 
 — Charles é mais forte do que você acredita. Você é uma 
menininha tola que não sabe tanto quanto pensa que sabe. Vá para casa 
antes que eu faça algo que lamentarei depois. Por favor. 
 Foi esse breve intervalo que lhe disse que isto era inútil. Ele 
sabia. Ele entendia, e ele estava na esperança de que Charles pudesse 
aguentar. Sua raiva fugiu e deixou… desespero. 
 Ela encontrou os olhos de seu Alfa por um momento antes de 
reconhecer o fracasso. 
 ANNA SOUBE EXATAMENTE quando Charles chegou, 
voltando de Minnesota, onde foi cuidar de um problema que o líder da 
bando não conseguia resolver. Se ela não escutasse o som do caminhão 
ou a porta da frente, ainda assim teria sabido que Charles estava em casa 
pela magia que vinculava o lobo acasalado. Mas isso era só o que lhe 
dizia o vínculo. Entretanto, o lado dele no vínculo estava tão nebuloso 
17 
 
quanto ele conseguiu deixar, e isso disse a ela muito mais sobre seu 
estado de espírito do que ele provavelmente pretendia. 
 Pelo modo como que ele não deixava nada chegar até ela, 
Anna soube que tinha sido outra viagem ruim, uma que deixou muitos 
mortos, provavelmente pessoas ele não queria matar. Ultimamente, 
todas tinham sido viagens ruins. 
 No começo ela tinha podido ajudar, mas quando as regras 
mudaram, quando os homens lobo admitiram sua existência para o resto 
do mundo, o escrutínio público fez com que a “segunda chance” dada 
aos que quebravam as leis de Bran, passassem a ser dadas apenas em 
circunstâncias extraordinárias. Ela continuou viajando com ele porque 
se recusava a deixar Charles sofrer sozinho. Mas quando Anna começou 
a ter pesadelos com o homem que caiu de joelhos na frente dela, numa 
súplica muda antes de sua execução, Charles decidiu não deixá-la ir 
mais. 
 Ela era determinada e gostava de pensar em si mesma como 
durona. Ela podia tê-lo feito mudar de ideia ou o seguido de qualquer 
maneira. Mas Anna não lutou contra a ordem dele porque entendeu que 
estava só fazendo o trabalho de Charles mais difícil de suportar. Ele se 
via como um monstro e não podia acreditar que ela não fazia o mesmo 
quando testemunhou a morte que ele trazia. 
 Então Charles saiu para caçar sozinho, como tinha feito por 
cem anos ou mais, da forma que seu pai havia dito. Sua caçada era 
sempre bem sucedida e, ao mesmo tempo, um fracasso. Ele era 
18 
 
dominante; ele tinha a necessidade compulsiva de proteger os fracos, 
inclusive, paradoxalmente, os lobos que ele deveria matar. Na medida 
em que os lobos que ele executava morriam, também morria uma parte 
de Charles. 
 Antes de Bran os expor ao público, os novos lobos, aqueles 
que tinham sido mudados em menos de dez anos, recebiam várias 
chances caso suas transgressões adviessem da perda de controle. 
Condições podiam ser impostas a fim de diminuir a punição sobre 
outros. Mas agora o público os conhecia, e não podiam permitir que 
todos soubessem o quão perigosos os homens lobo realmente era. 
 Era o Alfa da bando que cuidava de distribuir a justiça 
corriqueira. Anteriormente, Charles só saía algumas vezes por ano para 
cuidar dos maiores ou mais incomuns problemas. Mas muitos dos Alfas 
estavam infelizes com a dureza das novas leis, e, de alguma maneira, 
cada vez mais a execução sobrava para Bran e, portanto, para Charles. 
Ele vinha saindo duas ou três vezes por mês e isso o estava quebrando 
lentamente. 
 Ela podia senti-lo em pé, dentro de casa, e então punha um 
pouco mais de paixão em sua música, chamando-o para ela com o doce 
som do violoncelo que tinha sido seu primeiro presente de Natal para 
ela. 
 Se ela subisse as escadas, ele gravemente a saudaria, diria a 
ela que tinha que ir conversar com seu pai, e partiria. Ele voltaria em 
19 
 
um dia ou então depois de correr como um lobo pelas montanhas. Mas 
Charles já não voltava mais todo o caminho. 
 Fazia um mês desde que ele a tocou da última vez. Seis 
semanas e quatro dias desde que ele fez amor com ela, não desde que 
eles retornaram da última viagem na qual ela o acompanhou. Ela teria 
dito aquilo para Bran, não fosse o comentário “cresça pequena menina”. 
Provavelmente ela devia ter dito a Bran de qualquer maneira, mas 
desistiu de fazê-lo ver a razão. 
 Ela decidiu tentar outra coisa. 
 Anna ficou no quarto de música que Charles construiu no 
porão, enquanto ele estava no andar de cima. Ao invés de usar palavras, 
ela deixou que seu violoncelo falasse por ela. Rica e sinceras, as notas 
deslizavam de seu arco até o topo da escada. Depois que um momento, 
ela ouviu os degraus rangerem sob o peso dos pés de Charles e soltou 
uma respiração de alívio. A música era algo que compartilhavam. 
 Seus dedos cantavam para ele, persuadindo-o para ela, mas 
ele parou na entrada. Ela podia sentir seus olhos nela, mas ele não disse 
nada. 
 Anna sabia que quando tocava seu violoncelo, seu rosto 
estava pacífico e distante -resultado de muito treinamento imposto por 
um professor que lhe disse que morder seu lábio e fazer caretas era meio 
caminho para qualquer um julgar que ela estava tendo dificuldades. 
Suas feições não eram regulares o suficiente para a beleza verdadeira, 
20 
 
mas ela não era feia, tampouco, e hoje ela usava alguns truques de 
maquiagem para suavizar suas sardas e enfatizar seus olhos. 
 Ela o olhou brevemente. Sua herança salish1 deu a ele uma 
pele escura adorável e traços exóticos (para ela), o sangue galês paterno 
aparente só de forma sutil: o formato da boca, o ângulo do queixo. Foi 
o trabalho dele, não sua linhagem, que congelou suas características 
numa máscara indiferente e deixou seus olhos frios e duros. Seus deveres 
o corroeram até que ele era nada além de músculo, osso, e tensão. 
Os dedos de Anna tocaram as cordas e balançaram, suavizando a 
música do violoncelo com um vibrato2 nas notas mais longas. Ela 
começou com um pouco de Pachabel Cannon em D, que ela geralmente 
usava como aquecimento ou quando não estava certa do que queria 
tocar. Ela considerou mudar para algo mais desafiador, mas estava 
muito distraída por Charles. Além disso, ela não estava tentando 
impressioná-lo, mas seduzi-lo para aceitar sua ajuda. Então, Anna 
precisava de uma canção que ela podia tocar enquanto pensava sobre 
Charles. 
 Se ela não conseguia convencer Bran a deixar de enviar seu 
companheiro para matar, talvez pudesse convencer Charles adeixá-la 
ajudar com as consequências. Poderia dar-lhe um pouco de tempo até 
que conseguisse achar o taco de beisebol certo – ou um rolo de massas 
– para golpear alguma clareza na cabeça do pai dele. 
 
1 Grupo de índios norte-americanos que habitam a Colônia Britânica (Canadá) e o noroeste dos Estados Unidos. 
2 A técnica denominada vibrato (expressão de origem italiana, literalmente traduzida como vibrado) consiste na oscilação de 
uma corda de um instrumento musical, utilizando-se um dedo, produzindo assim um som diferenciado, "vibrante", como 
sugere o nome. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_italiana
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_italiana
http://pt.wikipedia.org/wiki/Corda_(m%C3%BAsica)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Corda_(m%C3%BAsica)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Instrumento_musical
http://pt.wikipedia.org/wiki/Instrumento_musical
21 
 
 Ela abandonou Pachabel por uma improvisada ponte, 
trocando as cordas de D para G, e então deixou o fluxo da música entrar 
no prelúdio de Cello Suite n. 1, de Bach. Não que fosse uma música fácil, 
mas tinha sido seu concerto do segundo grau, de modo que ela 
praticamente podia tocar de olhos fechados. 
Com seus dedos em movimento, ela não se permitiu olhá-lo 
novamente, não importava o quão faminta ela estiva por um vislumbre 
dele. Ela olhou fixamente para uma pintura a óleo de um lince dormindo 
enquanto Charles permanecia na porta a observando. Se ela pudesse 
conseguir que ele se aproximasse, que deixasse de protegê-la do seu 
trabalho... E então ela errou. 
 Ela era um lobo Ômega. Isso significava que ela não só era a 
única pessoa no continente cujo lobo permitia que enfrentasse o Marrok 
quando ele estava furioso, mas também que tinha um talento mágico 
para acalmar os temperamentos lupinos, independentemente de eles 
quererem ser acalmados. Parecia errado impor sua vontade aos outros, 
e ela tentava não fazê-lo, a menos que houvesse uma necessidade 
terrível. Nos dois anos passados, Anna aprendeu melhor sobre quando 
e como usar sua habilidade. Mas sua necessidade de ver Charles feliz 
passou por cima da dura barreira de seu autocontrole como se esta nem 
estivesse lá. 
 Num minuto ela estava tocando inteira para ele, focada 
exclusivamente nele, e no seguinte seu lobo tinha saído e acalmado o de 
Charles, mandando que ele dormisse e deixando só sua parte humana… 
22 
 
Charles virou e caminhou propositalmente para longe dela, sem uma 
palavra. Ele, que nunca fugia de nada nem ninguém, saiu de sua casa 
pela porta de trás. 
 Anna baixou o arco e colocou o violoncelo no aparador. Ele 
não voltaria por horas, talvez nem mesmo por uns dois dias. A música 
não tinha funcionado se a única coisa segurando Charles em seu feitiço 
era seu lobo. 
 Ela saiu da casa também. A necessidade de fazer algo era tão 
forte que a colocou andando sem um destino real. Era aquilo ou chorar, 
e ela se recusava a chorar. Talvez ela pudesse ir até Bran mais uma vez. 
Mas quando o desvio para a casa dele apareceu, ela passou reto. 
 Como Charles não estava indo até Bran para contar ao pai o 
que ele tinha feito aos lobos do mundo — e isso seria... esquisito, como 
se o estivesse perseguindo. Além disso, ela já havia conversado com 
Bran. Ele sabia o que estava acontecendo com seu filho. Ela sabia que 
ele sabia. Mas, como Charles, ele pesou as vidas de todo de sua espécie 
contra a possibilidade de Charles ir abaixo pela pressão, e aceitou o 
risco. 
 Então Anna se dirigiu para a cidade, chegando numa estufa 
grande do outro lado do bosque. Ela estacionou próxima a um Jipe 
Willys danificado e foi à procura de ajuda. 
 Muitos lobos o chamavam de Mouro - o que ele não gostava, 
dizendo que era o tipo de coisa que um vampiro faria, tomar uma parte 
23 
 
do que uma pessoa era e reduzi-la a uma ou duas letras. Suas 
características e pele mostravam descendência árabe, do canto norte da 
África, mas Anna concordava que certamente não era tudo o que ele 
era. Ele era muito bonito, muito velho, extremamente mortal, e agora 
mesmo estava transplantando gerânios. 
 — Asil — ela começou. 
 — Silêncio. — ele disse. — Não perturbe minhas plantas com 
seus problemas até que elas estejam seguras em sua nova casa. Seja útil 
e tire as rosas mortas ao longo da parede. 
 Ela pegou uma cesta e começou a arrancar as flores mortas 
das roseiras de Asil. Não haveria conversa com ele até que terminasse o 
que estiva fazendo, quer fosse para acalmá-la antes de conversar, quer 
fosse para conseguir um trabalhador de graça, quer fosse para manter o 
silêncio enquanto ele cuidava de suas plantas. Conhecendo Asil, podia 
ser todas as três alternativas. 
 Anna trabalhou por mais ou menos dez minutos antes de ficar 
impaciente e agarrou um botão de rosa, sabendo que ele sempre vigiava 
quem estivesse trabalhando com suas flores preciosas. 
— Lembra-se da história de Bela e da Fera? — Asil comentou 
suavemente. — Vá em frente. Pegue o pequeno botão. Veja o que 
acontece. 
 — “A Bela e a Fera” é um conto de fadas francês e você é um 
simples espanhol — Anna disse, mas afastou as mãos do broto. O pai 
24 
 
de Bela roubou uma flor e pagou caro por isso. — E de nenhuma 
maneira você é um príncipe encantado. 
Ele espanou a poeira das mãos e se voltou para ela, sorrindo um 
pouco. 
— Realmente, eu sou. Para algumas definições de “príncipe”. 
—Ah... — disse Anna. — Pobre Bela, ia se ver beijando um rosto 
bonito que então, poof, viraria uma rã. 
 — Eu penso que você está misturando os contos — Asil 
respondeu — Mas até como uma rã eu não desapontaria. Você veio para 
conversar sobre contos de fadas, querida? 
 — Não... — ela suspirou, dando impulso para se sentar em 
uma mesa próxima a um grupo de vasos pequenos que continham folhas 
do tamanho de uma ervilha cada. — Eu estou aqui para conseguir um 
conselho sobre a Fera. Especificamente, informações sobre a Fera que 
decide sobre todos nós. Naturalmente procurei você. Bran tem que parar 
de enviar Charles para matar. O está destruindo. 
 Ele se sentou no oposto da mesa e a olhou pelo espaço estreito 
entre eles. 
 — Você sabe que Charles viveu quase duzentos anos sem 
você para cuidar dele, não é? Ele não é um frágil botão de rosa que 
precisa de seu toque tenro para sobreviver. 
 — Ele não é um assassino, tampouco — Anna retrucou. 
25 
 
 — Eu imploro que você diferencie — Asil estendeu suas mãos 
pacificamente quando ela rosnou para ele. 
 — Os resultados falam por si mesmos. Eu duvido que existam 
outros lobos com tantas execuções em suas costas quanto à sua 
presente companhia. — Ele indicou a si mesmo com um ar modesto, 
que devia ser um atributo as suas habilidades dramáticas, já que não 
havia um osso de modéstia nele. 
 Anna agitou sua cabeça, as mãos fechadas em punho pela 
frustração. 
 — Ele não é. Matar o machuca. Mas ele vê isto como 
necessário. 
 — E é... — Asil murmurou condescendente. 
 — Tudo bem — ela concordou rapidamente, ouvindo o 
rugido em sua voz, mas incapaz de reprimi-lo. Falhar tão 
espetacularmente com Bran a ensinou que precisava manter seu 
próprio temperamento sob controle se quisesse convencer os velhos 
lobos dominantes sobre qualquer coisa. 
 — Eu sei que é necessário. Claro que é necessário. Charles 
não mataria alguém se ele não achasse que era necessário. E Charles 
é o único dominante o suficiente para fazer o trabalho e que também 
não é um Alfa, já que isso causaria problemas com os Alfas dos 
territórios em que ele tem que entrar. Tudo bem. Mas não quer dizer 
que ele possa continuar com isso. Necessário não significa possível. 
26 
 
 Asil suspirou. — Mulheres... — ele suspirou novamente, de 
modo teatral. — Paz, criança. Eu entendo. Você é Ômega e Ômegas 
são piores do que Alfas sobre como proteger seus companheiros. Mas 
seu companheiro é muito forte. — ele fez careta, como se ao dizerisso sentisse um gosto amargo na boca. Anna sabia que ele nunca se 
deu muito bem com Charles, mas lobos dominantes frequentemente 
tinham esse problema um com o outro. — Você só precisa por um 
pouco de fé nele. 
 Anna encontrou seu olhar e o sustentou. 
 — Ele não me leva mais com ele quando parte. Quando ele 
voltou para casa esta tarde, eu usei minha mágica para enviar seu lobo 
para dormir, e assim que o lobo se acalmou ele se foi, sem uma 
palavra. 
 — Você esperava que viver com um lobisomem fosse ser 
fácil? — Asil fez-lhe uma carranca — Você não pode consertar todo 
o mundo. Eu te disse isso. Ser um Ômega não faz de você Alá.- a 
companheira morta de Asil tinha sido uma Ômega. Asil ensinou a 
Anna tudo o que ela sabia sobre isso, e parece que ele acreditava que 
aquilo lhe dava algum tipo de status paternal maluco. Ou talvez ele só 
fosse condescendente com todo mundo. 
 — Ômega não quer dizer poder infinito. Charles é um 
assassino frio; pergunte a ele você mesma. E você sabia disto quando 
se casou com ele. Você deveria deixar de se preocupar com ele e 
27 
 
começar a se preocupar sobre como você vai lidar com aceitar a 
situação em que se meteu. 
 Anna o encarou. Ela sabia que ele e Charles não eram amigos 
de infância ou coisa parecida. Ela não percebeu que ele não conhecia 
Charles de verdade, que Asil só via a máscara que Charles mostrava 
para todos os outros. 
 Asil tinha sido sua última vã esperança. Anna se levantou da 
mesa. Ela deu as costas para Asil e andou a passos largos para a porta, 
sentindo o peso do desespero. Ela não sabia como fazer, como 
convencer Bran sobre o quanto as coisas estavam ruins. Bran era 
quem contava. Só ele podia manter Charles em casa. Ela falhou em 
persuadir seu sogro. E tinha pensado que Asil poderia ajudar. 
 Ainda estava claro do lado de fora e estaria assim por algumas 
horas mais, porém o ar já estava agitado com o peso da lua crescente. 
Ela segurou a porta aberta e se voltou para Asil. 
 — Vocês estão todos errados sobre ele. Você, Bran e todo 
mundo. Ele é forte, mas ninguém é assim tão forte. Ele não toca um 
instrumento, nem sequer canta uma nota há meses. 
 Asil ergueu a cabeça e a encarou por um momento, provando 
que ele conhecia algo sobre seu marido afinal. 
 — Talvez — ele disse devagar, com uma carranca, enquanto 
se levantava — Talvez você esteja certa. O pai dele e eu devíamos 
conversar. 
28 
 
 
 ASIL ENTROU na casa de Marrok sem bater. Bran nunca fez 
objeção e outro lobo talvez achasse que ele só nunca notou. Mas Asil 
sabia que Bran notava tudo e escolhia permitir o sutil desafio de Asil por 
suas próprias razões. E isso era quase suficiente para fazer com que Asil 
batesse na porta e esperasse por um convite para entrar. Quase. 
 Leah estava no sofá da sala de estar, assistindo algo na 
grande TV. Ela olhou para cima quando ele passou e não se incomodou 
em sorrir, enquanto uma mulher gritava estridentemente através dos 
alto-falantes. Quando Asil veio para Montana, Leah paquerou com ele 
— como companheira do seu Alfa, ela deveria saber melhor. Ele 
permitiu a primeira, mas na segunda vez a ensinou a não jogar seus 
joguinhos com ele. 
 Então ela se sentou no sofá, olhou para ele então afastou o 
olhar, como se ele a entediasse. Mas ambos sabiam que ele a assustava. 
Asil estava ligeiramente envergonhado disso, mas só porque ele sabia 
que sua companheira, morta, mas ainda amada, estaria desapontada 
com ele. Ensinar Leah a temê-lo tinha sido mais fácil e mais satisfatório 
do que só deixá-la saber que seus flertes eram mal recebidos e não 
chegariam a o que quer que fosse que ela desejava. 
 Se ele não esperasse que o Marrok o executasse em curto 
período de tempo, que foi a razão que o fez vir para o bando de 
Montana, ele poderia não ter feito um trabalho tão completo. Mas ele 
não era infeliz que Leah o ignorou tanto quanto possível, e menos infeliz 
29 
 
que o Marrok não o matou como ele esperava. Asil descobriu que aquela 
vida ainda tinha o poder de surpreendê-lo, então ele estava disposto a 
ficar por um pouco mais de tempo. 
 Ele seguido o som de vozes baixas até o escritório de Marrok, 
e parou no corredor para esperar quando percebeu que o homem que 
conversava com Marrok era Charles. Se fosse qualquer outro, ele teria 
se intrometido, esperando que o lobo menor — e eles eram todos lobos 
menores — se retirasse. 
 Asil franziu a testa, enquanto decidia se o que ele tinha a dizer 
seria melhor com Charles presente ou não. A estratégia era importante. 
Um lobo dominante, como ele ou Bran, não podia ser compelido, 
apenas persuadido. 
 No fim, ele decidiu por uma conversa privada e seguiu em 
frente até a biblioteca, onde achou uma cópia de Ivanhoé e releu os 
primeiros capítulos3. 
 — Conversa oca para românticos — disse Bran na porta de 
entrada. Indubitavelmente havia farejado Asil assim que caminhou para 
lá antes. — Como também historicamente cheio de buracos. 
 — Existe algo de errado com isto? — Asil perguntou. — O 
romance serve para a alma. Ações heroicas, sacrifício e esperança. — 
 
3 Ivanhoé é um romance do escritor escocês Walter Scott, publicado em 1820. Narra a luta entre saxões e normandos e as 
intrigas de João sem Terra para destronar Ricardo Coração de Leão. É considerado o primeiro romance histórico do 
romantismo. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romance
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romance
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esc%C3%B3cia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esc%C3%B3cia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Scott
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http://pt.wikipedia.org/wiki/1820
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Sax%C3%B5es
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Normandos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Normandos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_sem_Terra
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_sem_Terra
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Cora%C3%A7%C3%A3o_de_Le%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Cora%C3%A7%C3%A3o_de_Le%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo
30 
 
ele pausou. — A necessidade de duas pessoas diferentes tornarem-se 
uma. Scott não estava procurando por precisão histórica. 
 — Boa coisa — Bran grunhiu, sentando na cadeira do lado 
oposto de Asil — Porque ele não conseguiu isso. 
 Asil voltou a ler seu livro. Era uma técnica de interrogatório 
que ele viu Bran usar muito e sabia que o velho lobo reconheceria. 
 Bran bufou divertido, e cedeu, iniciando a conversação. 
 — Então o que te trás aqui esta tarde? Eu desconfio não foi 
um desejo súbito de ler o romance arrojado de Sir Walter. 
 Asil fechou o livro olhou para seu Alfa por debaixo dos cílios 
 — Não. Mas é sobre romance, sacrifício e esperança. 
 Bran jogou a cabeça para trás e gemeu. 
 — Você tem conversado com Anna. Se eu soubesse que pé no 
saco seria ter uma Ômega que não retroage no meu bando, eu teria... 
 — Batido nela até a submissão? — Asil astutamente 
murmurou — Abusado dela e tê-la deixado passar fome, a tratando 
como lixo para que ela nunca entendesse quem ela era? 
 O silêncio ficou pesado. 
 Asil deu a Bran um sorriso malicioso. 
31 
 
 — Eu sei melhor do que isso. Você poderia ter pedido a ela 
que viesse duas vezes mais rápido. É bom para você ter alguém ao redor 
que não abaixa a cabeça. Ah..., a frustrante alegria de ter uma Ômega 
por perto. Eu lembro bem disso. — ele sorriu mais amplamente quando 
se lembrou que uma vez pensou que nunca mais sorriria ante a memória 
de sua companheira novamente — Irritante como inferno, mas bom 
para você. Ela é boa para Charles, também. 
 Bran endureceu o rosto. 
 — Anna veio me ver - Asil continuou, observando Bran 
cuidadosamente — Eu disse a ela que precisava crescer. Ela assinou um 
compromisso para os tempos difíceiscomo também para os bons. Ela 
precisa entender que o trabalho do Charles é duro e que às vezes ele vai 
precisar de tempo para lidar com isso — não era exatamente o que Asil 
disse, mas ele teria apostado que era o que Bran disse a ela. O rosto em 
branco do seu Alfa lhe disse que ele acertou o alvo. 
 — Eu disse a ela que existia uma realidade maior que ela não 
estava enxergando — Asil continuou, com falsa seriedade — Charles é 
o único que pode fazer o trabalho; que nunca foi tão necessário quanto 
agora, com os olhos do mundo em nós. Não é fácil encobrir as mortes 
com histórias cães selvagens ou animais carniceiros que comem o corpo 
depois que alguém morre por outra causa, não mais. A polícia está 
procurando por sinais de que os assassinos possam ser homens lobo, e 
nós não podemos permitir isso. Eu disse a ela que precisava crescer e 
lidar com realidade. 
32 
 
 A mandíbula de Bran estava apertada, porque Asil sempre 
teve um talento para imitação e conseguiu copiar quase perfeitamente a 
voz de Bran nas últimas frases. 
 — Então ela desistiu de mim — Asil disse em sua própria voz. 
— Ela estava partindo quando me sentei e pensei, satisfeito comigo 
mesmo, que ela era uma fêmea fraca que estava mais preocupada com 
seu companheiro do que com o bem de todos. O que é apenas o que uma 
mulher deve ser, afinal. Realmente não é justo culpá-las por isso quando 
se torna um inconveniente para nós. 
 Bran o olhou friamente, e Asil soube que bateu forte com 
aquela última observação. 
 Asil sorriu tristemente e acariciou o livro que segurava. — 
Então ela me disse que há meses ele não faz qualquer música, viejito4. 
Quando foi a última vez que ele ficou mais que um dia sem cantarolar 
alguma coisa ou tocar naquela guitarra? 
 Os olhos de Bran ficaram chocados. Ele não sabia. Ele se 
levantou e começou a andar. 
 — É uma necessidade — ele disse, afinal — Se eu não manda-
lo, então quem irá? Você se voluntaria? 
 Seria impossível, e ambos sabiam disso. Uma morte, ou 
talvez três ou quatro, e seu controle acabaria. Asil era muito velho, 
muito frágil, para ser enviado para caçar homens lobo. Ele apreciaria 
 
4 Velhinho, em espanhol. Termo que, coloquialmente, indica “colega”, “camarada”. 
33 
 
demais isso. Podia sentir o espírito selvagem de seu lobo pulando diante 
da chance da caça, a chance de uma briga de verdade e do sangue de um 
oponente forte entre suas presas. 
 Bran ainda estava inquieto. 
 — Eu não posso enviar um Alfa para outro território sem que 
se torne um desafio que levará a mais matança. Eu não posso mandar 
você. Eu não posso enviar Samuel, porque meu filho mais velho é até 
mais risco do que você. Eu não posso ir, pois teria que matar todos os 
malditos Alfas e não tenho nenhum desejo de trazer todos os homens 
lobo para a minha bando pessoal. Se não for Charles, então quem eu 
envio? 
 Asil curvou sua cabeça para raiva de Bran. 
 — É por isso que você é o Alfa e eu farei qualquer coisa para 
que eu nunca mais seja Alfa novamente — ele se levantou com a cabeça 
ainda abaixada. Acariciou a capa de tecido do livro e o colocou na mesa. 
— Eu não acho que realmente precise ler este livro de novo. Eu sempre 
pensei que Ivanhoé deveria ter casado com Rebecca, que era esperta e 
forte, ao invés de escolher Rowena, por achá-la certa e adequada. 
 Então Asil deixou Bran sozinho com seus pensamentos, 
porque se ficasse Bran discutiria com ele. Deste modo, Bran não teria 
ninguém com quem discutir a não ser ele mesmo. E Asil sempre creditou 
a Bran a habilidade de ser persuasivo. 
 
34 
 
 BRAN ENCAROU Ivanhoé. Sua capa era de um enfadonho 
azul cinzento, o pano puído sinalizando sua idade. Ele correu seus 
dedos pelas linhas do título e do desenho de um cavaleiro vestindo uma 
armadura do século XVI. O livro teve uma vez capa de papel, com um 
desenho até menos apropriado na frente. Ele sabia que lá dentro, na 
contracapa, existia uma inscrição, mas ele não abriu o livro para vê-la. 
Ele tinha certeza de que Asil teve tempo suficiente para percorrer toda a 
maldita biblioteca até achar este livro. Charles o deu para ele, talvez uns 
setenta anos atrás. 
 “Feliz Natal”, ele disse. “Você provavelmente já leu este livro uma 
dúzia de vezes antes. Eu o li pela primeira vez uns dois meses atrás e pensei que 
você poderia se consolar com esse conto sobre a possibilidade de que duas pessoas 
diferentes poderem aprender a viver juntas, uma boa história vale a pena 
revisitar”. 
 Era uma boa história, ainda que historicamente inexata e 
romântica. 
 Bran pegou o livro e o guardou cuidadosamente na estante, 
antes que cedesse ao impulso de rasga-lo em pedacinhos, porque então 
ele não pararia até que não sobrasse mais nada para destruir, e ninguém 
poderia segurá-lo se isso acontecesse. Ele precisava que Charles fosse 
algo que ele não era, e seu filho mataria a si mesmo tentando ser o que 
seu pai precisava. 
 Há quanto tempo ele mentia para si mesmo que Charles 
estava bem? Há quanto tempo ele sabia que Anna estava certa? Existiam 
35 
 
muitas razões, boas razões, para Bran não ser o executor. Ele deu a Asil 
uma delas. Mas sua verdadeira razão era mais como a de Asil, apesar 
de Bran não ser tão honesto quanto a isso. Quanto tempo passaria até 
que Bran começasse a apreciar a súplica, o sofrimento, antes da morte? 
Ele não se lembrava muito sobre o tempo em que deixava seu lobo 
tomar conta, entretanto o mundo ainda tinha registro disso e aconteceu 
mais de dez séculos atrás. Porém, algumas das memórias que ele reteve 
eram de suas vítimas apavoradas e a satisfação que seus gritos traziam. 
 Charles nunca faria isto, nunca iria se vangloriar no medo que 
outros sentiam dele. Ele nunca faria mais do que fosse necessário. Um 
impasse, então. Bran precisava que Charles fosse exatamente que mele 
era, e Charles precisava ser o monstro que seu pai era para sobreviver 
aquilo. 
 O telefone tocou, poupando Bran de seus pensamentos. 
Esperava que fosse um problema diferente, no qual poderia afundar seus 
dentes. Algo com uma solução. 
 — Eu não farei isto — Adam Hauptman disse quando Bran 
atendeu. 
 Bran pausou. 
 Ele havia se surpreendido quando, afinal, Adam, de todos os 
seus Alfas, tinha se mostrado o mais adequado para lidar com os 
federais. Adam tinha um temperamento terrível e não numa coleira tão 
apertada quanto era prudente. Por isso, Bran o manteve distante dos 
36 
 
holofotes, apesar da aparência e do carisma de Adam. Mas a experiência 
dele no exército e seus contatos, como também uma compreensão 
inesperadamente boa da política e da chantagem política, o tornaram, 
gradualmente, a peça mais útil no xadrez político de Bran. 
 Não era do feitio de Adam declinar. 
 — Não é uma tarefa difícil - Bran murmurou no telefone, 
contendo o lobo que insistia em obediência imediata. — Só uma troca 
de informações. Nós perdemos três pessoas em Boston e o FBI pensa 
que isso está ligado a um caso maior e quer um homem lobo para 
consultar. O Alfa local não é qualificado, e é muito jovem para ser 
diplomático quando sua gente está morrendo. 
 — Se eles quiserem voar até aqui, tudo bem. — Adam disse 
— Mas as pernas de Mercy não estão curadas e ela não pode se mover 
na cadeira de rodas sem ajuda porque suas mãos foram queimadas. 
 — Sua bando não a ajudará? — A ira glacial congelou a voz 
de Bran. Mercy poderia ser acasalada com Adam, mas para seu lobo 
ela sempre pertenceria a Bran. Sempre seria sua pequena coiote, que era 
difícil e desafiadora e foi criada por um bom amigo, porque Bran não 
podia confiar em sua companheira com alguém que se importava tanto 
e que era mais frágil do que seus filhos crescidos. 
 Adam deu um riso que aliviou a raiva de Bran. 
 — Não é isso. Ela está mal-humorada e constrangida por 
estar indefesa. Eu tive que sair na semana passada a negócios.Quando 
37 
 
eu voltei, o vampiro teve que vir para cuidar dela, pois ela tinha 
mandado todos os outros embora. Eu não tenho que ouvir quando ela 
me diz para deixa-la só, mas os outros o fazem. 
 Contente com o pensamento de Mercy dando ordens a um 
grupo de homens lobo, Bran recostou-se em sua cadeira. 
 — Bran? Você está bem? 
 — Não se preocupe — Bran disse. —Eu colocarei David 
Christiansen nisso. O FBI só terá que esperar mais uma semana ou até 
que ele consiga voltar da Birmânia. 
 — Não era isso que eu estava perguntando — Adam 
respondeu — “Avoado” não é uma palavra que eu normalmente usaria 
para te descrever, mas você não está sendo você hoje. Está tudo bem? 
 Bran enrugou o nariz. Ele devia manter o assunto para si 
mesmo. Mas Adam… Ele não podia conversar com Samuel sobre isso, 
só faria com que primogênito se sentisse culpado. 
 Adam conhecia todos os jogadores e também era um Alfa, ele 
entenderia sem Bran ter que explicar tudo. Adam escutou sem 
comentários, exceto um bufar quando ouviu sobre como Asil virou o 
jogo com Bran impecavelmente. 
 — Você precisa manter Asil por perto — ele disse — Os 
outros estão muito intimidados para jogar com você, e você precisa disso 
de vez em quando para se manter afiado. 
38 
 
 — Sim . E o resto? 
 — Você tem que recuar sobre as sentenças de morte — Adam 
disse com certeza — Eu ouvi sobre Minnesota. Três lobos pegaram um 
pedófilo que perseguia um aluno do terceiro ano com uma corda na mão 
e uma arma de choque no bolso. 
 Bran rosnou. 
 — Eu não teria objeções se eles não tivessem se empolgado e 
deixado o corpo meio comido para ser descoberto no dia seguinte, antes 
de contarem ao seu Alpha o que aconteceu. Se eles só tivessem quebrado 
o pescoço do cara, eu podia ter deixado passar... — Ele enrugou seu 
nariz novamente — Do jeito que foi o médico legista está especulando 
em todos os jornais. 
 — Se você retrocedesse Charles não teria que sair e matar tão 
frequentemente, porque não teria tantos Alfas se recusando a 
disciplinar. 
 — Eu não posso — Bran respondeu diretamente —Você viu 
os novos comerciais patrocinados pela Futuros Brilhantes? As 
audiências sobre as espécies ameaçadas começarão no próximo mês. Se 
eles nos classificarem como animais, o problema não será apenas lobos 
indisciplinados sendo caçados. 
 — Nós somos o que somos Bran. Nós não somos civilizados 
ou domesticados, e se você forçar isso, não será apenas Charles que 
perderá. — Adam suspirou e numa voz menos apaixonada disse: 
39 
 
 — Em todo caso, talvez dando a Charles uma pausa de suas 
obrigações, ele possa ter um descanso. 
 — Eu o livrei completamente de suas obrigações de negócios 
— disse Bran — Nada de trabalho. 
 Fez-se uma pausa. 
 — O que? — Adam disse cuidadosamente — Os negócios? 
Você colocou as finanças do bando nas mãos de outra pessoa? 
 — Ele já se afastou da maior parte das tarefas diárias do 
funcionamento da corporação, põe isto nas mãos de cinco ou seis 
pessoas diferentes, sendo que só uma sabe que a propriedade é da família 
de Charles. Ele faz isto a cada vinte anos, mais ou menos, para impedir 
as pessoas de notarem que ele não envelhece. Eu contratei uma 
financeira para assumir o comando de outros negócios da bando, e o 
que não está nas mãos da financeira, está com Leah. 
 — Então Charles não está fazendo nada exceto sair e matar? 
Nada para distraí-lo, nada para diluir o impacto. Eu sei que eu acabei 
de dizer que ele poderia precisar de uma pausa, mas é quase o oposto. 
Você realmente pensa que isso é uma boa ideia? Ele aprecia ganhar 
dinheiro, para ele é como um jogo de xadrez infinitamente complicado. 
Ele disse a mim uma vez que era muito melhor que caçar porque 
ninguém morre. 
 Ele disse isto a Bran, também. Talvez ele devesse ter escutado 
mais cuidadosamente. 
40 
 
 — Eu não posso devolver as finanças a ele — Bran disse — 
Ele não… eu não posso devolver a ele as finanças. 
 Não até Charles estar funcionado melhor, porque o dinheiro 
que a bando controlava era o suficiente para significar poder. Sua 
relutância em confiar em Charles, que havia concebido os negócios, fez 
Bran admitir, pelo menos para si, que ele notou que Charles estava em 
apuros já há algum tempo. 
 — Eu tenho uma ideia. — Adam disse lentamente. — Sobre 
aquela tarefa que você tinha para mim... 
 — Eu não vou mandá-lo para lidar com o FBI! — disse Bran 
alarmado. — Até mesmo antes… disso, Charles não seria a pessoa certa 
para enviar. 
 — Ele não é uma pessoa sociável — Adam concordou, 
parecendo divertido. — Eu imagino que o ano passado não tenha 
ajudado muito com isso. Não. Envie Anna. Aqueles agentes do FBI 
nem saberão o que os atingiu, e com Anna como amortecedor, Charles 
realmente pode fazer algum bem. Mande-os tanto para ajudar quanto 
para serem consultores. Um dos nossos pode dizer à polícia mais sobre 
uma cena de crime que os peritos. Dê a Charles algo para fazer no qual 
ele será o mocinho ao invés do carrasco. 
 Deixe-o ser um herói, Bran pensou, seus olhos no Ivanhoé em 
sua estante enquanto desligava o telefone. Asil tinha acertado ao dizer 
que não tinha nada errado com um pouco de romance para suavizar a 
41 
 
severa realidade da vida. Adam poderia ter dado a ele o meio que 
precisava para ajudar seu filho mais novo. Ele esperava sinceramente 
que sim. 
 
CAPÍTULO 2 
 A Agente Especial Leslie Fisher encarou a paisagem da janela 
que pairava acima do centro de Boston. De seu ponto de vista 
privilegiado, ela tinha uma adorável visão do início da manhã. O tráfico 
ainda estava leve, e embora fosse ficar muito mais pesado quando as 
pessoas saíssem para trabalhar, a falta de estacionamento nas ruas 
evitava que elas se tornassem tão loucas quanto às de Los Angeles, o 
último lugar ao qual ela tinha sido atribuída. No FBI, ela precisa se 
mudar a cada poucos anos, quisesse ela ou não, mas sempre pensou em 
Boston como seu lar. 
 O hotel era antigo e elegantemente caro. Papel de parede de 
bom gosto, acetinado, cobria as paredes da sala de reunião, num 
autêntico estilo vitoriano. A saleta era dominada por uma grande mesa 
de mogno, com cadeiras acolchoadas que pareciam mais como se 
pertencessem a uma sala de jantar do que a uma sala de reuniões. Era 
um hotel, entretanto, não importa o quão bem decorado, e carecia de 
um toque de personalidade, como o que deu ao seu enfadonho cubículo 
no escritório do governo. 
42 
 
 Ela estava aqui para encontrar um consultor. Embora 
houvesse o ocasional perfeitamente inocente nerd da informática ou um 
contador, mas, na sua experiência, consultores eram, muito 
frequentemente, caras maus que faziam acordos para que os caras bons 
pudessem pegar caras ainda piores: recompensava-se o mau menor, para 
que os grandes monstros pudessem ser impedidos. 
 Cinco pessoas mortas no último mês: uma idosa, dois 
turistas, um homem de negócios e um menino de oito anos. Um serial 
killer estava caçando. Ela viu o corpo do menino, e para pegar seu 
assassino teria se encontrado com o próprio Satanás. 
 Em seu tempo no FBI, ela lidou com antigos negociantes de 
droga, um assassino já cumprindo uma sentença de prisão perpétua, e 
um bom número de políticos (alguns dos quais deveriam estar cumprindo 
prisão perpétua). Certa vez, ela até consultou uma autoproclamada 
bruxa. Em retrospecto, Leslie não estivera com tanto medo da bruxa 
como deveria ter estado. 
 Hoje ela iria falar com homens lobo. Por experiência, nunca 
se encontrara com um homem lobo antes, então aquilo ia ser 
interessante. 
 Ela considerou a mesa aonde todos iriam se reunir. Os 
escritórios do FBI ou uma delegacia de polícia teriam dado ao seu lado 
a vantagem de jogar em casa — seu lado sendo aqueles que lutavam pela 
lei e pela ordem. Encontrar com as pessoas no território delas, em seus 
escritórios ou casas, fazia perder aquela vantagem, mas, às vezes, ela 
43isso tinha possibilitado que ela obtivesse informações que não teria 
conseguido se as pessoas não estivessem se sentindo confortáveis e 
seguras. Prisões, curiosamente, davam ao presidiário a “vantagem da 
casa” 5, especialmente se ela trouxesse um nervoso ambientalista junto 
com ela. 
 Hotéis eram territórios neutros — que era o porquê de eles 
estarem se encontrando aqui, ao invés de no escritório. 
 — Por que eu? — Tinha perguntado a seu chefe ontem, 
quando ele lhe disse que ela iria sozinha. — Achei que a equipe toda iria 
conversar com ele? 
 Nick Salvador fez uma careta e esticou seu grande corpo 
desconfortavelmente atrás de sua escrivaninha — um espaço onde ele 
gastava tão pouco tempo quanto possível. Ele preferia estar no campo. 
— “FUBAR6 adiante” — ele disse, citando seu código político. Quando 
Leslie entrou no escritório de Boston, a pessoa que antes ocupava sua 
escrivaninha digitou uma lista das falas de Nick e colou no fundo da 
gaveta com uma nota dizendo que tinha sido enviado por fax de Denver, 
onde Nick tinha estado antes. Era uma página cheia de palavrões, e 
“FUBAR adiante” estava no topo da lista. Não era que Nick não 
pudesse dançar graciosamente com os poderosos quando era necessário; 
ele só não gostava de fazer isto. 
 
5 Trocadilho com o termo “vantagem da casa”, usualmente empregados em referências aos cassinos. 
6 FUBAR: F(fucked) U(up) B(beyond) A(all) R(recognition), ou seja, Fodido além de todo reconhecimento. 
44 
 
 — Fiz o requerimento e a ordem era que falaríamos com 
Adam Hauptman. Ele fez muitas consultas e deu palestras em Quântico 
algumas vezes. Pensei que nós poderíamos conseguir informações que 
nos ajudassem com o caso e um pouco mais além. — Ele deu a volta em 
sua cadeira e seu joelho bateu na lona de uma de suas malas de viagem. 
Ele tinha várias escondidas pelo seu escritório. Leslie tinha três — cada 
uma organizada para trabalhos diferentes. As suas estavam separadas 
por cor; as de Nick estavam numeradas. O que fazia sentido: havia mais 
números do que cores masculinas (as malas dele eram cáqui, cáqui, e 
aquela outra cáqui) e ele precisava de mais bolsas de viagem do que ela, 
pois seu trabalho era mais abrangente. Ela não tinha que manter um 
terno à mão, por exemplo, porque era improvável que fosse ser chamada 
para entrevistas na televisão ou audições congressionais. 
 — Hauptman tem boa reputação. — Leslie disse. — Eu tenho 
um amigo que assistiu a uma das palestras dele e achou informativa e 
muito divertida. Então, o que aconteceu com aquele plano? 
 — Recebi um telefonema ontem de manhã. Hauptman não 
está disponível. Você se lembra daquele monstro que encontraram no 
Rio Columbia no último mês? Acontece que foi Hauptman e sua esposa 
que o mataram, principalmente sua esposa. E isto é só para nossa 
informação, não por ser confidencial, mas não para fazer propaganda. 
Ela ficou bastante machucada e por isso ele não pôde voar. Hauptman 
nos encontrou um substituto, alguém mais importante. Mas não mais 
do que cinco pessoas podem ir ao encontro, e nós temos que fazer isso 
45 
 
em território neutro. Nenhum nome, nenhuma informação oficial 
adicional. — Ele franziu sua boca nada feliz. 
 Nick Salvador podia jogar pôquer com o melhor dos 
jogadores, mas com as pessoas em quem ele confiava, cada coisa que 
pensava transparecia em seu rosto. Leslie gostava disto, gostava de 
trabalhar com ele porque ele era esperto— e nunca, nunca a tratou como 
um símbolo da mulher negra. 
 — Isto não é FUBAR — ela disse. 
 — FUBAR é ouvir que o homem lobo consultor é “mais 
importante”: deixa tudo mais interessante para muitas pessoas, exceto 
para o FBI — ele disse. 
 — Hauptman é Alfa de algum clã em Washington, certo? — 
Leslie franziu seus lábios. — Não sabia que existia alguém mais 
importante que um Alfa. 
 — Ninguém é. — concordou Nick. — Eu não sei qual é o 
negócio, mas fui informado que dois Turistas se juntarão à festa. 
 Turistas, na fala de Nick, eram agentes da CNTRP. A sigla 
referente aos Provedores Combinados de Relações Humanas e 
Transumanas 7, a nova agência formada especificamente para lidar com 
os vários sobrenaturais. Eles o pronunciavam “Cantrip”. Nick os 
chamava de Turistas porque sempre que se envolviam em uma 
investigação em que ele estava, tropeçava neles por toda parte. 
 
7 No original, CNTRP significa Combined Nonhuman and Transhuman Relations Provisors. 
46 
 
 — Queriam enviar dois agentes da Segurança Nacional 
também, mas eu bati o pé. — Nick franziu a sobrancelha para o telefone, 
como se ele fosse o culpado por aborrecê-lo. — O Agente Especial Craig 
Goldstein, que esteve envolvido em três casos anteriores deste mesmo 
assassino e terminou o mais urgente de seus casos, então está livre do 
Tennessee para vir para nos ajudar. — Ela nunca encontrara Goldstein, 
mas sabia que Nick tinha, e que gostou dele, o que era o suficiente como 
recomendação. — Quero que ele fale com nosso homem lobo. Eu queria 
dois dos meus agentes lá com ele, mas perdi na votação. Dois Turistas, 
um agente da Segurança Nacional — a voz dele baixou gelada — que 
não têm nada a ver com este caso. E Craig e você. 
 — Por que eu? — ela perguntou — Len podia ir. Desse jeito 
você poderia incluir a polícia. — Len era o oficial local da delegacia de 
Boston que trabalhava na força tarefa deles. — Ou Christine, ela 
resolveu mais casos de serial killers do que eu. 
 Nick se sentou de novo e ficou quieto, juntando toda sua 
energia do jeito que fazia quando conseguiam uma boa vantagem sobre 
alguém por quem eles procuraram. — Um amigo meu ligou passou 
algumas informações. Ele conhece Hauptman, ou, o mais importante, é 
que Hauptman sabe que ele é meu amigo. E Hauptman ligou para ele 
para me dar um pouco mais de conhecimento. 
 As sobrancelhas de Leslie subiram. — Interessante. 
 — Não é? — Nick sorriu. —Meu amigo me contou que 
Hauptman disse que eu poderia querer ser cuidadoso com quem eu 
47 
 
enviar. Alguém discreto, bom com linguagem corporal, e absolutamente 
não agressivo. 
 Ele olhou para ela e ela assentiu. —Nem Len, nem Christine. 
 Len era esperto, mas dificilmente discreto, e Christine tinha 
uma raia competitiva de um quilômetro de largura. Leslie se garantia, 
mas não precisava esfregar isto nos narizes das pessoas. 
 — Isso me deixa fora também. — Nick admitiu. — Angel e 
você são provavelmente os mais adequados, mas Angel ainda está um 
pouco muito verde para ser enviado por conta própria contra os caras 
maus ainda. — Angel havia saído recentemente de Quântico. 
 — Eu farei boas anotações — ela prometeu. 
 — Faça isso. — Nick disse. Seus dedos estavam fazendo a 
pequena dança impaciente que faziam quando ele estava pensando entre 
amigos: como se estivesse conduzindo uma música invisível. 
 Leslie esperou, mas ele não disse nada. 
 — Então por que estamos fazendo este esforço extra para nos 
entendermos com o homem lobo? — Ela perguntou. 
 Nick sorriu. — Segundo meu amigo, Hauptman disse que as 
pessoas que iríamos encontrar poderiam ser persuadidas a nos dar uma 
ajuda mais concreta, caso sentissem confiança no agente que enviarmos. 
48 
 
 — Pessoas? — Leslie se inclinou para frente. — Existe mais 
de um? 
 — Hauptman disse “pessoas”. Não passou pelos canais 
oficiais, assim não vi nenhuma razão para transmitir isto. 
 Nick era muito bom em cooperar. Cooperação resolvia 
crimes, colocava os caras maus atrás das grades. Cooperação era a nova 
máxima — e funcionava. Porém, com Nick na reserva cooperação 
poderia significar algo… um pouco menos cooperativo. Ele poderia 
menosprezar os Turistas em particular, mas não o atrapalhavam de 
forma alguma em campo. A Segurança Nacional, por outro lado, tendia 
a deixar seu apoio mais agressivo, porque gostavade esquecer que o FBI 
tinha jurisdição sobre toda atividade terrorista em solo norte-americano. 
Nick os lembrava disso sempre que necessário e com grande prazer. 
 — Iria apreciar muito se pudéssemos usar nosso consultor, ou 
consultores, em campo. – Nick disse. 
 — Seria interessante ver o que um homem lobo poderia fazer 
numa cena de crime... — Leslie disse, considerando a ideia. Do pouco 
que ela sabia sobre homens lobo, poderia ser como ter um cão de caça 
falante assinalando vestígios forenses instantaneamente. 
 Nick até mostrou seus dentes brancos numa careta sincera. — 
Eu não quero ver outro corpo de criança submerso, com uma etiqueta 
de gado na orelha. Se um homem lobo pode fazer diferença, ponha-o a 
bordo, por favor. 
49 
 
 — Estou nisto. 
 
 LESLIE APOIOU SUAS MÃOS na mesa de reuniões do hotel. 
Suas unhas eram pequenas, bem cuidadas e esmaltadas num tom claro 
que combinava com o brilho da madeira que ela tinha sob as mãos. 
Direitos territoriais eram importantes. Ela tinha um diploma em 
psicologia e outro em antropologia, mas entendia isso desde que Srta. 
Nellie Michaelson tinha ido caçar cachorrinhos no quintal da Sra. 
Cullinan. 
 Ela veio cedo porque esse era um jeito de transformar o 
território neutro em dela. Era uma das coisas que a tornavam uma boa 
agente: ela prestava atenção nos detalhes, detalhes como ganhar a 
vantagem da casa quando lidava com monstros — especialmente 
aqueles com dentes grandes e afiados. 
 Ela estudou uma batelada desde que Nick a colocou nisso, no 
adia anterior. 
 Homens lobos eram supostamente pessoas pobres, vítimas 
oprimidas de uma doença, e que usavam as habilidades nascidas de seu 
infortúnio para ajudar os outros. David Christiansen, a primeira pessoa 
a admitir ser um homem lobo, era um especialista em resgatar reféns de 
terroristas. Ela tinha certeza que ele ser incrivelmente fotogênico não era 
um acidente. A filha mais velha de Leslie tinha um pôster em cima da 
porta de seu quarto da famosa foto de David segurando a criança que 
50 
 
salvou. Outros lobos que admitiram o que eram tendiam às profissões 
de bombeiros, policiais, e militares: os heróis de um e de todos. 
 Ela podia cheirar uma manipulação desde a órbita terrestre. 
A manipulação não era uma mentira, não precisamente. O pequeno 
grupo de mercenários de David Christiansen tinha uma reputação muito 
boa entre as pessoas com que Leslie conversou. Eles concluíam o 
trabalho com um mínimo de baixas de todos os lados e eram bons no 
que faziam. Eles não trabalhavam com os caras maus. Por causa disto, 
Leslie estava mantendo uma mente aberta — mas porque ser 
naturalmente cautelosa, ela também estava mantendo um par de balas 
de prata (apressadamente compradas) carregadas em sua arma. 
 A porta abriu e ela se virou para ver entrar uma mulher 
jovem, que parecia como se ainda devesse frequentar o ensino médio. 
Leslie se sentia daquele modo frequentemente quando encontrava os 
novos recrutas recém-saídos de Quântico. O cabelo brilhante marrom-
avermelhado da garota estava severamente preso em uma tentativa de 
fazê-la parecer mais velha, mas o efeito não era o suficiente para 
compensar as sardas que estouravam por suas bochechas pálidas ou os 
inocentes olhos mel-amarronzados. 
 — Oh, oi. — a menina disse vivamente, sua voz com um leve 
acento de Chicago. — Achei que seria a primeira aqui. Está um pouco 
cedo. 
 — Gosto de conhecer a situação do terreno — disse Leslie e 
a mulher mais jovem riu. 
51 
 
 — Oh, eu entendo! — ela disse, sorrindo. — Charles é assim. 
 Charles devia ser seu parceiro, Leslie pensou. Eles deviam ser 
os agentes da Cantrip. Esta criança não seria um homem lobo... 
Supunha-se haver poucas mulheres lobas, Leslie sabia graças ao seu 
curso rápido na Internet, e eles eram muito protetores com elas. Nunca 
teriam enviado esta aqui para os federais. Pensando melhor, Leslie 
também não teria deixado a menina sozinha. 
 — Então por que seu Charles não está aqui? — Ele a 
abandonou para os lobos. Fazia-a querer empolar a pele dele — e ela 
nem o conhecia ainda. E se tivesse sido o homem lobo aguardando a 
garota aqui ao invés de um agente do FBI? 
 Leslie recebeu um sorriso lento, que pegou sua censura 
pessoal e a tornou divertida. 
 — Ele perdeu uma aposta e teve que trazer café para todo 
mundo. Ele não está feliz com isto, também. Provavelmente eu não 
deveria apreciar tanto, mas às vezes eu sinto grande prazer em deixar 
um homem irritado, você não? 
 Leslie surpreendeu a si mesma com uma risada. 
 — Eu também... — ela concordou antes de tomar um fôlego 
cauteloso. Aquela ali estava chegando até ela... Leslie nunca ria 
enquanto estava trabalhando. Reavaliou a outra mulher. Ela tinha ares 
de adolescente, e usando um tailleur feito sob medida, risca de giz, de 
52 
 
alguma maneira parecia mais que estava fantasiada do que vestindo uma 
roupa de verdade. 
 — Eu aposto — Leslie disse, testando uma ideia — que 
homens perigosos tropeçam entre si só para terem certeza de que você 
não machucará o dedão. 
 Sabia que estava certa quando, ao invés de parecer confusa, a 
mulher sorriu maliciosamente. — E me certifico de que eles se 
desculpem quando topam um com o outro no caminho. 
 — Há! — Leslie disse triunfante — Achei mesmo que a 
Cantrip tivesse mais sensatez do que lançar um pedaço tenro para os 
lobos. Eu sou a Agente Especial Leslie Fisher, Unidade de Crimes 
Violentos do FBI. 
 — Eu sou Anna Smith, hoje. — A garota deu a ela um sorriso 
arrependido. —Não da Cantrip. Um dos lobos, receio. E até pior, Smith 
não é o meu nome real. Eu disse que era um nome tolo, mas Charles 
achou que era melhor ser óbvio sobre isso ou vocês ou a Segurança 
Nacional procurariam uns coitados Charles e Anna Washington, 
Adams, ou Jefferson para perseguir. 
 
 A AGENTE DO FBI não era exatamente o que Anna esperava, 
mas não era diferente, também. Inteligente, bem vestida, confiante — 
isso os shows de TV e o cinema entenderam certo. Anna tornou-se 
muito boa em julgar pessoas desde que foi transformada. Linguagem 
53 
 
corporal e aroma não mentiam. Ela surpreendeu a agente com sua 
revelação, mas não a assustou, o que pressagiava bem para suas chances 
de trabalharem juntas. 
 As linhas finas ao redor dos olhos cor de chocolate-amargo se 
aprofundaram, e por um momento, a Agente Especial Leslie Fisher 
pareceu exatamente tão dominante quanto era. Ela poderia estar no 
meio dos seus quarenta anos, mas o paletó bem-cortado que ela usava 
cobria músculos. 
 Seus olhos diziam que ela era dura. Dura como um cachorro 
de ferro-velho — e não só fisicamente. Se fosse um lobo — e macho — 
ela seria o segundo ou terceiro numa bando, Anna julgou. Não Alfa, ela 
não tinha a territorialidade e a agressividades subjacentes que 
empurravam os dominantes para a liderança do clã, mas estaria próxima 
a isto. Quantas pessoas a agente do FBI enganava com aquela fachada 
indiferente? 
 A carranca nos olhos da Agente Especial Fisher se estendeu 
para seus lábios cheios, à medida que ela disse: 
 — Estamos tendo esta reunião aqui, com tão poucas pessoas 
quanto possível, porque o homem que a organizou disse que não seria 
inteligente chatear o homem lobo. — Ela ergueu uma sobrancelha bem-
desenhada. —Você não parece fácil de chatear. 
 Repreendida. Anna lutou para não sorrir de satisfação. 
Agora. Como lhe dizer o que ela precisava saber sem assustá-la? 
54 
 
 — Eles não estão preocupados sobre me deixar chateada. É 
meu marido quem é o homem lobo problema. 
 A outra mulher franziu a sobrancelha. —Então tem outro 
homem lobo vindo aqui. Seu marido? — Ela soou um pouco incrédula. 
Aquela Anna era casada? Seu marido era um homem lobo? Havia dois 
deles? Se Fisher conhecesse melhor os homens lobos, ela estaria mais 
incrédula pelo fato de que Charles deixou Anna só. 
 A própria Anna estava um pouco cética sobre isso— mas lhe 
deu um bocadinho de esperança de que Bran estava no caminho certo 
com este negócio. Ela não estivera tão certa quanto ele e Asil que seria 
bom para Charles caçar um serial killer ao invés de caçar lobos 
indisciplinados, mas Charles concordara e então estava feito. 
 — Sim. — Anna assentiu. —Sou uma mulher loba. Sou 
casada. E meu marido é um homem lobo, também. 
 A carranca de Fisher se aprofundou. — A informação é que, 
quem quer que fosse que iríamos encontrar, está acima de Hauptman, é 
o Alfa de um clã cheio de lobos. 
 — É essa a informação? — Anna murmurou, enquanto se 
perguntava quem havia contado e se Bran sabia sobre isto... ou se ele 
mesmo o tinha engendrado. Se continuasse imaginando sobre o quanto 
da sua vida Bran planejou, ela acabaria em uma fazenda cômica 
tricotando toucas para patos. 
55 
 
 — Você mal tem idade o suficiente para estar por conta 
própria e seu marido é mais importante na estrutura de poder dos 
homens lobo do que Hauptman. — disse a Agente Fisher. —O que eles 
fizeram? Fizeram-na se casar com ele quando tinha doze anos? 
 Anna piscou para ela. Em seu mundinho construído 
religiosamente a programas de TV e filmes, os agentes do FBI nunca 
diriam algo pessoal para alguém que acabaram de conhecer. Eles 
trabalhariam até isso gradualmente—ou insinuariam algo 
cuidadosamente. Pela aparência alarmada no rosto de Agente Fisher, 
acontecia o mesmo no mundinho dela também. 
 Um Ômega faz com que todos se sintam mais protetores, Asil 
disse a ela um tempo atrás. Anna realmente não conectou isto com o 
mundo humano. 
 Anna sorriu e escondeu sua simpatia. —Não. Eles não 
ataram a pobre, fraca, inocente, e pequena antiga eu e me forçaram a 
casar— Ela considerou. — Ele não é fraco ou inocente, mas se fosse 
preciso, eu o teria amarrado e o forçado a se casar comigo. Felizmente, 
não foi necessário. 
 A outra mulher se recuperou. —Você disse que ele é a razão 
pela qual que não podíamos trazer mais pessoas? 
 — Correto — Anna disse. —Mas se você esperar um 
momento, eu prefiro explicar isso uma só vez, e eu acho que... 
56 
 
 Ela deixou sua voz hesitar enquanto cronometrava os passos 
(não de Charles) que ouvia do lado de fora da porta da sala de reuniões. 
Podia ser algum hóspede do hotel que vagava pelos corredores, mas 
eram dois homens caminhando com velocidade intencional, que era um 
pouco rápida demais para ser confortável, do jeito como os homens que 
estão competindo um com o outro às vezes fazem. 
 A porta se abriu. A atenção de Leslie passou de escutar Anna 
para as novas presenças na sala. Ela deu alguns passos para frente até 
que ficou entre Anna e os recém-chegados, pondo Anna às suas costas. 
O que fazia de Anna e da agente do FBI uma equipe enfrentando o par 
de agentes da Cantrip — pelo menos, foi o quem Anna assumiu que eles 
fossem, já que havia dois deles. Dois da Cantrip, dois do FBI, e um da 
Segurança Nacional, foi o que Charles lhe contou. Ela achou mais que 
interessante que a agente do FBI os visse como oponentes — e a Anna 
como uma aliada. 
 — Jim. Então eles estão te deixando sair com os meninos 
grandes agora? — O tom de Leslie foi seco. 
 Anna achou que os dois homens tomaram aquele como um 
comentário amigável, um daqueles que amigos de escavações poderiam 
fazer. Mas observando cuidadosamente a linguagem corporal da outra 
mulher, Anna notou que Leslie estava muito cautelosa, muito mais do 
que ela esteve perto de Anna depois dos primeiros minutos. 
 — Leslie! — O homem mais jovem exclamou com um sorriso 
verdadeiro. Sua linguagem corporal dizia que ele gostava da agente do 
57 
 
FBI, seja o que for que ela pensasse dele. — Agente Especial Fisher. — 
ele se corrigiu. — Bom ver você. E eu sou um dos meninos grandes e o 
tenho sido há muito tempo. Este é Dr. Steve Singh. 
 Leslie estendeu a mão e cumprimentou a que oferecida a ela. 
— E o quê a Segurança Nacional quer com um serial killer? Isto é para 
os policias locais. A única razão que este seja do FBI é porque nosso 
assassino esteve cruzando as fronteiras dos estados por anos. 
 Segurança Nacional. Supunha-se ser somente uma pessoa da 
Segurança Nacional. Anna franziu a testa. Charles não ficaria feliz com 
isto. Ele não gostava de surpresas. Ele provavelmente tinha um arquivo 
de todo mundo que viria para este arrasta-pé. 
 Singh não disse nada, só estudou o rosto da agente do FBI 
antes de mudar para o de Anna. Ela o encarou de volta, só para ver o 
que ele faria. Ele fez uma carranca para ela e tentou fazê-la afastar o 
olhar, mas nem mesmo Bran podia fazer aquilo se ela não permitisse, e 
Singh não estava nem perto de ser tão dominante quanto Bran — ou 
mesmo quanto a Agente Fisher, no que diz respeito a esse assunto. Mas 
Anna baixou seus olhos de qualquer maneira. Não havia nenhum 
sentido em começar uma briga até isso que fosse necessário. 
 — Ouvimos que haveria alguém importante falando pelos 
homens lobo nisto — respondeu Jim Sem-Sobrenome, aparentemente 
alheio da competição de encarar que seu parceiro engajou com Anna. 
— Decidimos que seria uma boa ideia saber quem ele era e o que teria a 
dizer. 
58 
 
 Só um nó sutil nas costas da agente do FBI disse a Anna que 
a arrogância irrefletida na voz do homem a tinha irritado. 
 — E por que tem dois de vocês? — Fisher perguntou. — O 
requerimento foi para não mais de cinco pessoas. Dois de nós, dois da 
Cantrip e um de vocês. 
 A agente do FBI sabia que a Segurança Nacional checaria o 
homem lobo, Anna pensou. Não ficou surpresa que houvesse dois deles, 
mas estava marcando um ponto para a causa de Anna. Ao não 
apresentar Anna, ela estava levando-os a pensar que Anna era a outra 
agente do FBI e deixando-os derramar a pauta na frente do inimigo. 
 — Nos apoiamos um pouco na Cantrip. — disse Jim. — Eles 
nos deviam. 
 Não devia realmente importar que Fisher fizesse daquilo um 
tipo de coisa “nós-contra-eles”. Estavam todos do mesmo lado no fim: 
pegando o vilão. Possivelmente era algo tão simples quanto rivalidade 
departamental: FBI contra Segurança Nacional. Anna estreitou seus 
olhos e considerou. Podia ser um pouco daquilo — e Fisher 
definitivamente não gostava de Jim. Mas Anna achou que era um show 
feito para ela. Anna era paciente; veria o que a agente do FBI queria 
dela. Enquanto isso, ela precisava conseguir um pouco mais sobre as 
outras pessoas na sala. 
 Jim tinha um frescor em si que lhe dava algum charme. Anna 
não perdeu o cérebro por detrás da fachada brilhante. O Dr. Singh, o 
59 
 
homem mais velho, era reservado de uma maneira que a lembrou de 
alguns dos lobos Alfa que ela encontrou durante os anos passados. 
 Daqueles que se sentavam no fundo e assistiam sua bando, 
deixando os assuntos serem debatidos e opinados até que as coisas 
estivessem longe do por eles idealizado. Então, eles se lançavam com 
uma brutal eficiência, que significaria que não teriam de mover-se 
novamente por algum tempo. Ele notou o que Fisher fez, certo, mas seus 
ombros relaxados disseram a Anna que ainda não tinha percebido quem 
e o quê era Anna. 
 A porta se abriu abruptamente e outro homem entrou. Anna 
foi um pouco para frente. Ela não era tão boa com multitarefas quanto 
poderia ter sido. Se estivesse o teria ouvido se aproximar, mas esteve 
absorta no jogo de poder e perdeu o som dos passos dele. 
 Leve e quase frágil em aparência, o recém-chegado olhava a 
todos com frios olhos cinza. Seu terno estava fora da moda e parecia um 
pouco amassado, mas a cor azul-cinzenta combinava com seus olhos e 
complementava a orla do cabelo curto escuro que por pouco circulava o 
topo da cabeça. 
 Seus olhos pareciam mais velhos do que seu corpo, e se ele 
tinha mais de um metro e meio, não era muito mais. A palidez de sua 
pele adicionava à impressão, mas ele se movia facilmente, como um 
corredor. 
60 
 
 Ele franziu a testa para os dois homens. —Nacional.

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