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REALATÓRIO 03 CONDOMINIO ANTISSOCIAL MULTA

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REALATÓRIO 03 – CONDOMINIO ANTISSOCIAL MULTA
Trata-se de Recurso Especial de nº 1365279-SP, de Relatoria do Dr. Ministro Luís Felipe Salomão. O recorrente foi o condomínio edifício São Tomás e o recorrido Jurandy Carador.
A ação de origem é de cobrança de multa convencional por ato antissocial do condômino, contudo, por razão de ausência de comunicação ao condômino punido, a penalidade foi anulada por cerceamento de defesa.
Mais uma vez, os julgadores debatem sobre as previsões do art. 1337 do Código Civil, o qual prevê sanções aos condôminos antissocial e nocivo.
No presente caso foi pontuado o seguinte: “Por se tratar de punição imputada por conduta contrária ao direito, na esteira da visão civil-constitucional do sistema, deve-se reconhecer a aplicação imediata dos princípios que protegem a pessoa humana nas relações entre particulares, a reconhecida eficácia horizontal dos direitos fundamentais que, também, deve incidir nas relações condominiais, para assegurar, na medida do possível, a ampla defesa e o contraditório. Com efeito, buscando concretizar a dignidade da pessoa humana nas relações privadas, a Constituição Federal, como vértice axiológico de todo o ordenamento, irradiou a incidência dos direitos fundamentais também nas relações particulares, emprestando máximo efeito aos valores constitucionais.”
No presente caso citado – Recurso Especial de nº 1365279-SP – a assembleia do condomínio recorrente penalizou o recorrido por seu comportamento nocivo, sem, todavia, notifica-lo para fins de apresentação de defesa. Ou seja, grave a situação, mas sem direito de defesa pelo Recorrido. O recorrido não pode comprovar por qualquer meio que seu comportamento não tenha sido motivo para desarmonia do condomínio, por esse motivo, foi suspensa a penalidade em favor do Sr. Jurandy.
O relator ainda consignou em sua fundamentação: “Em casos como o presente, a importância do contraditório fica ainda mais relevante. É que boa parcela da doutrina vem defendendo, com base nesse mesmo dispositivo do Código Civil, a possibilidade de medida ainda mais drástica ao condômino nocivo, mais precisamente quando a pena pecuniária se mostrar ineficiente para garantir a função social da propriedade e cessação do abuso de direito, qual seja, a sua expulsão, com a perda do direito de propriedade.”
Foi citado na fundamentação também, o Enunciado 508 das Jornadas de Direito Civil. O relator manteve o entendimento no sentido de cerceamento de defesa em desfavor do condômino, pontuando, por fim, que a prévia notificação não visa conferir uma última chance ao condômino nocivo, facultando-lhe, mais uma vez, a possibilidade de mudança de seu comportamento nocivo. Em verdade, a advertência é para que venha prestar esclarecimentos aos demais condôminos e, posteriormente, a assembleia possa decidir sobre o mérito da punição.”
A Ministra Maria Isabel Gallotti acompanhou o voto do Relator citando precedentes e ratificando que não há de ser uma notificação com os rigores de um processo cível ou criminal, mas apenas que o condômino seja cientificado de sua conduta e provável pena imposta.
Ao final, o Ministro Raul Araújo, também frisou que sequer constava do edital da assembléia a possibilidade de imposição dessa sanção, o que foi posto por sugestão de um dos presentes, sem qualquer possibilidade de defesa e de esclarecimento dos fatos pelo condômino. 
Portanto, por cerceamento de defesa em desfavor do condômino, o pleito do condomínio foi julgado improcedente e foi negado provimento ao RESP.

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