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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 DEFINIÇÕES: ERITEMA: - Lesão de pele com coloração avermelhada ou rósea decorrente de alteração vascular, geralmente transitória ENANTEMA: - Alteração vascular transitória com coloração avermelhada das mucosas MÁCULA: - Toda e qualquer alteração da cor da pele que não apresente relevo PÁPULA: - Lesão sólida, elevada com menos de 1cm de diâmetro - A confluência dessas lesões origina uma placa VESÍCULA: - Lesão elevada que contém em seu interior um líquido claro PÚSTULA: - Lesão elevada que contém pus em seu interior CROSTAS: - Concreções que se formam em áreas de perda tecidual, como após a ruptura de uma vesícula VISÃO GERAL: - A análise das características da lesão (tipo, localização e progressão), dos sinais e sintomas associados e de dados epidemiológicos (idade, sexo e sazonalidade) permitem inferir o diagnóstico etiológico - Podemos dividir os exantemas da infância em 2 tipos principais: 1. Exantema maculopapular composto por máculas e pápulas. É o tipo mais comum na infância, encontrado no sarampo, rubéola, eritema infeccioso, exantema súbito, escarlatina e na doença de Kawasaki 2. Exantema papulovesicular composto por pápulas e vesículas que podem evoluir para pústulas e crostas. Encontrado na varicela, no herpes- zóster e na doença mão-pé-boca - Classificação de acordo com a ordem de descrição clínica: Primeira doença sarampo Segunda doença escarlatina Terceira doença rubéola Quarta doença doença de Filatov- Dukes (Síndrome da pele escaldada estafilocócica) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 Quinta doença eritema infeccioso Sexta doença exantema súbito SARAMPO: EPIDEMIOLOGIA: - É uma doença infecciosa exantemática aguda, transmissível e muito contagiosa, podendo evoluir com complicações e óbitos, principalmente em desnutridos e menores de 1 ano - Era uma doença endêmica mundial até a introdução da vacina do sarampo ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: - O sarampo é causado por um vírus de RNA de fita única, da família Paramyxoviridar e do gÊnero Morbillivirus, sendo os humanos os únicos hospedeiros - É mais comum no verão e na primavera - É transmitido por aerossóis - O vírus pode permanecer viável suspenso no ar por até 1h após o caso fonte deixar o ambiente - Os pacientes transmitem o vírus a partir de 7 dias após a exposição (3 dias antes do surgimento do exantema) até 4 a 6 dias após o início da erupção, sendo o pico de transmissão de 2 dias antes a 2 dias após o início do exantema - O quadro clínico é composto por 4 fases: 1. Período de incubação durante esse período o vírus migra para os linfonodos regionais, onde ocorre uma viremia primária que dissemina o vírus para o sistema reticuloendotelial. Uma 2ª viremia dissemina o vírus para as superfícies do corpo 2. Doença prodrômica começa após a 2ª viremia e está associada à necrose epitelial e à formação de células gigantes nos tecidos corporais, iniciando a excreção viral 3. Fase exantemática começa a produção de anticorpos, reduzindo a replicação viral e os sintomas 4. Recuperação QUADRO CLÍNICO: - Após um período de incubação de 8 a 12 dias, inicia-se a fase prodrômica, com febre geralmente acima de 38,5ºC, conjuntivite não purulenta com fotofobia, coriza e tosse -Os sintomas aumentam em intensidade até o 1º dia do exantema, quando a febre atinge o pico e depois resolve em 24h em lise - Na fase prodrômica, já é possível identificar as manchas de Koplik, manchas branco- azuladas de 1mm presentes na face interna da bochecha próxima aos dentes molares, que surgem 1 a 4 dias antes do exantema e desaparecem 2 a 3 dias depois, e são patognomônicas do sarampo - O exantema inicia na região posterior do pavilhão auricular (circundando a linha de implantação dos cabelos) e na parte superior do pescoço como uma erupção maculopapular morbiliforme. Dissemina-se para a parte inferior do tórax e extremidades, atingindo palmas e plantas em até 50% casos - Com o início do exantema, os outros sintomas começam a diminuir - O exantema desaparece em cerca de 7 dias no sentido craniocaudal, frequentemente deixando uma descamação fina (furfurácea) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 - Dos sintomas do sarampo, a tosse é o que dura mais tempo (cerca de 10 dias). Em casos mais graves, pode haver linfadenopatia associada (cervicais e occipitais) - Outros sintomas que podem estar associados ao sarampo são diarreia e vômitos, sendo que os lactentes apresentam maior risco de evoluir com desidratação. Também pode ocorrer apendicite por obstrução da luz do apêndice pela hiperplasia linfoide DIAGNÓSTICO: - O diagnóstico é feito pelo quadro clínico e epidemiológico. Além disso, podemos encontrar achados laboratoriais inespecíficos na fase aguda, como a leucopenia com redução proporcionalmente maior dos linfócitos, embora também possa ocorrer uma neutropenia absoluta - A confirmação do diagnóstico pode ser feita pela sorologia, principalmente pelo encontro de IgM positivo, que surge 1 a 2 dias após o início do exantema e continua detectável por até 1 mês, ou pela identificação do aumento em 4x dos títulos de IgG em amostras pareadas, colhidas na fase aguda e na fase de convalescência (2 a 4 semanas depois) - O isolamento viral por cultura ou a detecção do RNA viral pela reação em cadeia de polimerase em tempo real (RT-PCR) em amostras de sangue, urina e secreções respiratórias também é possível, desde que as amostras sejam colhidas até o 7º dia após o início do exantema - O sarampo é uma doença de notificação compulsória, que deve ser notificada logo após a suspeita clínica MEDIDAS DE ISOLAMENTO HOSPITALAR: Precauções de contato uso de luvas e aventais ao contato com o paciente, associado à lavagem frequente das mãos ou uso de álcool gel Precauções de gotículas uso de máscara cirúrgica quando no mesmo ambiente fechado que o paciente Precauções de aerossóis uso de máscara N95 quando no mesmo ambiente fechado que o paciente TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: - O tratamento é apenas de suporte, com uso de antipiréticos, hidratação, suporte nutricional e oxigenioterapia, se necessário - Pacientes hospitalizados devem permanecer em precauções de contato e de aerossóis durante o período de transmissão do vírus (até 4 a 6 dias do início do exantema) - A deficiência de vitamina A em crianças de países em desenvolvimento está associada ao aumento da mortalidade do sarampo, com uma correlação inversa entre os níveis de retinol e a gravidade do sarampo; por isso, a Organização Mundial de Saúde recomenda a suplementação com vitamina A em menores de 2 anos com sarampo em 2 doses via oral de 50.000 UI em menores de 6 meses, 100.000 UI entre 6 e 12 meses de vida e de 200.000 UI nos maiores de 1 ano - A maior morbimortalidade ocorre em menores de 5 anos (em especial, nos menores de 1 ano) e nos maiores de 20 anos, principalmente na vigência de desnutrição, deficiência de vitamina A ou imunodeficiência associada NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 - Deve-se suspeitar de complicação na persistência ou recrudescência da febre por mais de 3 dias após o início do exantema - Complicações: Pneumonia (causa mais comum de morte no sarampo) Encefalite após sarampo Encefalite por sarampo Panencefalite Sarampo negro ou hemorrágico PROFILAXIA: - A profilaxia primária do sarampo é a vacinação com a tríplice viral (SCR) aos 12 meses, seguida de uma dose de reforço aos 15 meses sob a forma da vacina tetraviral (SCR + varicela) - Em indivíduos suscetíveis expostos ao sarampo, está indicada a profilaxia pós- exposição com a administração da vacina do sarampoem até 72 horas da exposição ou com o uso de imunoglobulina em até 6 dias da exposição, indicada em indivíduos que não podem receber a tríplice viral (vacina de agente atenuado), como gestantes, lactentes menores de 6 meses e imunocomprometidos RUBÉOLA: EPIDEMIOLOGIA: - Também chamada de sarampo alemão ou de sarampo dos 3 dias - É uma doença aguda, de alta contagiosidade e leve em lactentes e crianças - Em adultos costuma ser mais grave, sendo importante principalmente devido à possibilidade de infecção transplacentária que ocorre em gestantes e resulta na síndrome da rubéola congênita - Em 2015, o Brasil recebeu do Comitê Internacional de Experts os documentos de verificação da eliminação da Rubéola e da Síndrome da Rubéola Congênita ETIOLOGIA E PATOGÊNESE: - É causada por um vírus de RNA de fita única, da família Togaviridae e do gênero Rubivirus, cujo único hospedeiro conhecido é o humano - Sua transmissão ocorre por gotículas, preferencialmente no inverno e na primavera - Após a infecção, o vírus replica no epitélio respiratório e se dissemina para os linfonodos regionais. Segue-se a viremia mais intensa do 10º ao 17º dia - A excreção viral a partir da nasofaringe começa cerca de 10 dias após a infecção e pode ser detectada até 2 semanas após o início do exantema - O período de maior transmissibilidade é de 5 a 7 dias antes até 7 dias após o aparecimento do exantema QUADRO CLÍNICO: - Após um período de incubação de 2 a 3 semanas, começa um pródromo de febre baixa, dor de garganta, hiperemia ocular com ou sem dor, cefaleia, mal-estar, anorexia e linfadenopatia, sendo mais proeminentes os linfonodos cervicais suboccipitais, retroauriculares e anteriores - Em crianças, geralmente não ocorre o pródromo, seguindo-se logo para a fase do exantema, que se inicia em face e pescoço como máculas rosadas pequenas, irregulares, coalescentes e dissemina-se para tronco e extremidades - O exantema desaparece da face à medida que desce para o corpo, dura cerca de 3 dias e desaparece sem descamação NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 - À oroscopia podemos identificar as manchas de Forchheimer, que são lesões pequenas róseas ou petéquias em palato DIAGNÓSTICO: - É clínico-epidemiológico, mas pode-se encontrar achados laboratoriais inespecíficos como leucopenia, neutropenia e trombocitopenia leve - O diagnóstico de certeza é essencial em gestantes com rubéola e na síndrome da rubéola congênita, podendo ser feito por meio da dosagem de IgM e IgG ou pelo isolamento do vírus em secreção de nasofaringe, sangue ou urina - Tanto a rubéola quanto a síndrome da rubéola congênita são doenças de notificação compulsória imediata, ou seja, logo à suspeita clínica TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: - Tem prognóstico excelente - Tratamento apenas de suporte, com antipiréticos e analgésicos - As complicações são infrequentes e geralmente não são fatais - A encefalite é a complicação mais grave da rubéola e pode ser pós-infecciosa ou progressiva da rubéola PROFILAXIA: - É feita com a vacina tríplice viral em 2 doses: com 12 e com 15 meses (tetraviral) - Os pacientes com rubéola devem ser isolados por 7 dias após o início do exantema, mantendo-se precauções de contato e de gotículas se hospitalizados. Não se faz rotineiramente a imunização de bloqueio para os contatos, visto ser uma doença mais leve, mas ela poderia ser feita com a vacina tríplice viral aplicada em até 72 horas após o contato. Em mulheres grávidas suscetíveis expostas à rubéola, pode ser considerado o uso de imunoglobulina EXANTEMA SÚBITO: EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: - É a manifestação clínica da infecção primária pelo Herpesvírus humano 6 e, mais raramente, pelo Herpesvírus humano 7, vírus de DNA de dupla fita da subfamília dos β-herpesvírus (a mesma do citomegalovírus) - A infecção pelos herpesvírus humano 6 e 7 ocorre precocemente no início da vida, sendo mais de 95% dos casos em crianças menores de 3 anos de idade, com pico de incidência entre os 6 e 15 meses de idade. Anticorpos maternos transferidos durante a gestação provavelmente impedem que a infecção ocorra em menores de 6 meses - A infecção pode ocorrer durante todo o ano, sem sazonalidade específica, e a transmissão ocorre por gotículas PATOGÊNESE: - O vírus é adquirido a partir do contato com secreções infectantes que penetram as mucosas oral, nasal ou conjuntival. Após a replicação viral em um local ainda desconhecido, ocorre uma elevada viremia nas células mononucleares do sangue - Após a infecção aguda, como todo herpesvírus, o vírus se torna latente nas células mononucleares e possivelmente nas glândulas salivares, rins, pulmões e no sistema nervoso central NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 QUADRO CLÍNICO: - A maioria dos casos cursa apenas com febre e irritabilidade, sendo que apenas 25% das crianças infectadas apresentam o quadro clínico clássico da doença - Após um período de incubação de 5 a 15 dias, inicia o período prodrômico, que pode ser assintomático ou cursar com sintomas leves do trato respiratório superior, como rinorreia leve, inflamação leve da faringe e hiperemia conjuntival discreta - A doença clínica inicia com febre alta (média de 39°C), que pode ou não ser acompanhada de irritabilidade e anorexia, persiste por 3 a 5 dias e depois desaparece em crise - O exantema surge dentro de 12 a 24 horas do desaparecimento da febre, como lesões individualizadas pequenas, róseas e levemente elevadas distribuídas no tronco que depois se espalham para pescoço, face e extremidades - O exantema não é pruriginoso e não cursa com vesículas ou pústulas -Geralmente desaparece após 1 a 3 dias sem deixar descamação - A febre alta em lactentes, sem outros sinais e sintomas, que se resolve em crise seguida de um exantema, é um padrão clínico clássico que deve sugerir exantema súbito - A transmissão do vírus ocorre apenas na fase de viremia, ou seja, durante a febre, de forma que, quando a doença é clinicamente identificável, o paciente não é mais transmissor, não estando recomendado o isolamento DIAGNÓSTICO: - É clinico, baseado na idade e no padrão de febre do paciente TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: - O tratamento é de suporte com antitérmicos durante a fase de febre alta - O prognóstico é excelente e a doença não traz nenhuma sequela - Em pacientes imunodeprimidos, podem ocorrer manifestações mais graves como encefalite e pneumonite, estando indicado o tratamento com antivirais, como o ganciclovir, por 2 a 3 semanas ERITEMA INFECCIOSO: EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: - Ocorre principalmente em crianças de idade escolar, entre os 5 e 15 anos, com picos sazonais entre o fim do inverno e a primavera - É causado pelo parvovírus B19, um vírus de DNA de fita única da família Parvoviridae e do gênero Erythrovirus - Os parvovírus infectam diversas espécies de animais, mas apenas o B19 é patogênico para humanos - A transmissão ocorre por gotículas, sendo a taxa de transmissão domiciliar de 15-30% para os contatos transmissíveis e de 10 a 60% em surtos em escolas - O parvovírus B19 também pode ser transmitido por via placentária e sanguínea, sendo descrito em crianças com hemofilia que recebem transfusões de fatores de coagulação frequentemente PATOGÊNESE: - O alvo primário da infecção são os precursores eritroides próximos ao estágio de pró-normoblasto. A infecção produz lise destas células com depleção progressiva e parada NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 7 transitória da eritropoiese. São frequentes também trombocitopenia e neutropenia, mas não se sabe a patogênese desses achados - O parvovírus B19 pode originar diferentes quadros clínicos, como o eritema infeccioso, a artrite ea crise aplásica transitória. A crise aplásica transitória resulta da infecção viral direta, ao passo que o exantema e a artrite são fenômenos pós-infecciosos relacionados à resposta imune QUADRO CLÍNICO: - O eritema infeccioso é a manifestação clínica mais comum da infecção pelo parvovírus B19 - Após um período de incubação de 4 a 28 dias, a criança evolui com uma fase prodrômica leve com febre baixa, cefaleia e sintomas de infecção do trato respiratório superior - Em seguida, começa a fase exantemática, que evolui caracteristicamente em 3 estágios: Face esbofeteada: enrubescimento facial eritematoso, poupando região perioral, fronte e nariz Exantema rendilhado: disseminação do exantema macular para tronco e extremidades, que ocorre após 1 a 4 dias. O clareamento central das lesões é imediato, dando à erupção cutânea um aspecto rendilhado. Poupa as palmas das mãos e dos pés e é mais intenso nas superfícies extensoras. Nessa fase, o paciente não tem mais febre. A erupção desaparece espontaneamente após cerca de 10 dias, sem descamação Recidiva: o exantema rendilhado pode recidivar ainda durante 1 a 3 semanas com a exposição à luz solar, calor, exercícios físicos e estresse - A crise aplásica transitória decorre da parada transitória da eritropoiese e cursa com reticulopenia absoluta e queda abrupta da hemoglobina com duração de cerca de 2 semanas. Acomete principalmente pacientes com anemias hemolíticas crônicas (anemia falciforme, talassemia, esferocitose hereditária e deficiência de piruvato quinase), imunodeprimidos e recém-nascidos infectados pelo parvovírus B19. Os pacientes apresentam febre, mal-estar e letargia, além dos sinais clínicos de anemia grave como palidez, taquicardia e taquipneia. Raramente há exantema associado. O período de incubação é mais curto que o encontrado no eritema infeccioso, já que ocorre concomitantemente com a viremia DIAGNÓSTICO: - É clínico, devendo levar em consideração a presença de doenças hemolíticas crônicas para o diagnóstico da crise aplásica transitória - O diagnóstico etiológico pode ser feito por sorologia IgM e pela identificação da soroconversão da IgG em amostras pareadas - Em imunocomprometidos, o diagnóstico sorológico não é confiável, devendo-se buscar a identificação do DNA viral NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 8 TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: - O tratamento é apenas de suporte, devendo- se orientar os fatores que propiciam o reaparecimento do exantema rendilhado - Nos pacientes com anemia aplásica, a imunoglobulina endovenosa apresenta bons resultados - Em adolescentes, o eritema infeccioso pode ser acompanhado de artrite e artralgias, que podem persistir mesmo após a resolução do exantema - O parvovírus B19 também pode levar a outras complicações, como púrpura trombocitopenia, meningite asséptica e síndrome hemofagocítica em imunodeprimidos ESCARLATINA: EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: - A escarlatina é causada pelo estreptococo β- hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes), um coco gram-positivo altamente transmissível, sendo os seres humanos o único reservatório natural - O estreptococo do grupo A é uma causa comum de infecções do trato respiratório superior(faringotonsilites) e de pele (impetigo) em crianças. Também pode causar doenças invasivas mais graves, como pneumonia, endocardite, osteomielite e artrite séptica - Devido à produção de toxinas por alguns estreptococos, também é possível encontrar quadros clínicos distintos, como a escarlatina, erisipela, síndrome do choque tóxico e fasciíte necrosante - O estreptococo do grupo A também causa duas complicações não supurativas importantes: a febre reumática e a glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica (GNPE) - A incidência de faringotonsilites é mais alta em crianças de 3 a 15 anos, durante o inverno e o início da primavera. As crianças com faringite aguda não tratada disseminam o estreptococo através de gotículas de saliva e secreções nasais - Já o impetigo ocorre mais durante o verão ou durante o ano todo em climas mais quentes, quando a pele está mais exposta e sujeita a escoriações e picadas de insetos. A colonização da pele sadia pelo estreptococo do grupo A geralmente precede a infecção, que ocorre apenas em locais de escoriações, já que o estreptococo não consegue penetrar na pele íntegra. No caso do impetigo, a transmissão ocorre apenas por contato PATOGÊNESE: - Quando os estreptococos estão infectados por determinados bacteriófagos, eles produzem também as toxinas eritrogênicas (exotoxinas pirogênicas estreptocócicas A, B e C), que são responsáveis pela erupção cutânea da escarlatina. Essas exotoxinas estimulam a formação de anticorpos antitoxina específicos que proporcionam imunidade contra a erupção escarlatiniforme, mas não contra outras infecções estreptocócicas - Como existem 3 exotoxinas pirogênicas, uma mesma criança pode ter um segundo ou até terceiro episódio de escarlatina QUADRO CLÍNICO: - A escarlatina ocorre apenas após a infecção do trato respiratório superior pelo estreptococo do grupo A produtor de exotoxina pirogênica em indivíduos que não apresentam anticorpos antitoxina. Por isso, o pródromo é de infecção de via aérea superior com febre alta, mal- estar, cefaleia, dor de garganta e até dor abdominal e vômitos - Após 24 a 48 horas, aparece o exantema, com diversas características semiológicas típicas: Exantema micropapular em lixa: exantema eritematoso difuso NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 9 micropapular com coloração vermelho brilhante e que clareia à digitopressão, inicia-se em torno do pescoço e se espalha para tronco e membros, poupando palmas e plantas Linhas de Pastia: acentuação do exantema ao longo das pregas dos cotovelos, axilas e virilhas que aparece após 1 a 3 dias Face esbofeteada com sinal de Filatov : bochechas eritematosas com palidez ao redor da boca (sinal de Filatov) Descamação furfurácea: com o desaparecimento do exantema, após 3 a 4 dias do começo da erupção, inicialmente em face e depois progredindo em direção caudal. Ocasionalmente pode ocorrer descamação ao redor das unhas, nas palmas das mãos e plantas dos pés - À oroscopia podemos identificar hiperemia de orofaringe e língua em framboesa devido ao edema das papilas linguais DIAGNÓSTICO: - É clínico e pode ser reforçado pelo encontro do estreptococo do grupo A - A cultura de swab de orofaringe é padrão- ouro e tem sensibilidade de 90-95% TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: - É autolimitado e resolve em 1 semana independentemente do uso do antibiótico, mas é recomendado a antibioticoterapia para evitar a evolução para febre reumática, encurtar o curso clínico da doença, reduzir a transmissão e prevenir as complicações supurativas - O antibiótico de escolha é a penicilina, podendo-se prescrever penicilina benzatina intramuscular em dose única ou amoxicilina via oral por 10 dias. Em pacientes alérgicos, o tratamento pode ser feito com cefalosporina por 10 dias VARICELA: EPIDEMIOLOGIA: - Conhecida como catapora - Era uma doença comunicante quase universal na infância antes da introdução da vacina, sendo a maioria das crianças infectadas no período pré-escolar, com frequentes epidemias no inverno e na primavera e maior morbimortalidade em lactentes, adultos e imunocomprometidos - A vacina contra varicela foi introduzida no calendário nacional de vacinação em 2013 sob a forma da vacina tetraviral para crianças com 15 meses de vida. NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 10 - Devido à persistência dos casos de varicela mesmo nos pacientes vacinados com uma dose, em 2018 foi introduzida uma 2ª dose, aos 4 anos, da vacina da varicela isolada ETIOLOGIA:- A varicela é causada pelo vírus varicela- zóster, de DNA dupla fita, da família herpesvírus e da subfamília dos α-herpesvírus (que inclui o vírus herpes simples) - O vírus varicela-zóster causa as infecções primária (varicela), latente (nos gânglios nervosos sensoriais) e recorrente (herpes zóster) - O vírus é transmitido por gotículas e pelo líquido das lesões cutâneas, sendo o período de contagiosidade da varicela de 24 a 48 horas antes do aparecimento das erupções até 3 a 7 dias após o início do exantema (até todas as vesículas se tornarem crostas) - Dentro do ambiente doméstico, a transmissão para indivíduos suscetíveis ocorre em 65 a 86% dos casos - Crianças suscetíveis também podem adquirir varicela após o contato direto com as lesões de herpes zóster de adultos PATOGÊNESE: - A infecção primária (varicela) resulta da inoculação do vírus na mucosa da via aérea superior e do tecido linfoide tonsilar - Durante o período de incubação, o vírus replica no tecido linfoide local seguido por uma viremia subclínica breve que dissemina o vírus para o sistema reticuloendotelial. As lesões cutâneas disseminadas ocorrem na 2ª fase virêmica, que dura de 3 a 7 dias, mas o vírus também é transportado de volta para a mucosa respiratória, permitindo sua disseminação antes do aparecimento do exantema - A resposta imune do hospedeiro limita a replicação viral e facilita a recuperação da infecção - Nos imunocomprometidos, a replicação viral aumentada permite a ocorrência de lesões em outros órgãos, como pulmões, fígado e cérebro - O vírus é então transportado para os gânglios da raiz dorsal, onde fica em latência - A reativação subsequente causa o herpes zóster, que cursa com erupção vesicular restrita a um dermátomo QUADRO CLÍNICO: - Após um período de incubação de 10 a 21 dias, inicia-se o pródromo, com febre (de 38 a 39°C), mal-estar, anorexia, cefaleia e dor abdominal leve. Os sintomas ocorrem 24 a 48 horas antes do exantema e podem persistir por 2 a 4 dias após o início da erupção - A fase exantemática inicia com o aparecimento das lesões em couro cabeludo, face e pescoço, que começam como um exantema macular intensamente pruriginoso, evoluindo para pápulas e vesículas claras repletas de líquido. A turvação e a umbilicação das lesões começam em 24 a 48 horas, tornando-se, em seguida, crostosas - As crostas permanecem por 5 a 7 dias e depois desaparecem, deixando uma mácula branca sem cicatriz (na ausência de infecção bacteriana secundária) - Enquanto as lesões se tornam crostosas, novos grupos de lesões, que aparecem a cada 3 a 5 dias, se formam no tronco e depois nos membros (distribuição centrípeta), sendo característico da varicela o exantema polimórfico, ou seja, com o encontro de lesões em diferentes estágios de evolução - As lesões vesiculares também podem envolver mucosas como orofaringe, vagina, conjuntivas e pálpebras NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 11 - Cerca de uma em cada cinco crianças vacinadas pode desenvolver varicela modificada após exposição a um surto escolar. É uma doença mais leve, geralmente com menos de 50 lesões, febre baixa ou ausente DIAGNÓSTICO: - É clínico, pelo encontro do exantema polimórfico típico - Não há necessidade do diagnóstico etiológico de rotina, apenas em casos de dúvida, nos casos graves e nos pacientes de alto risco para doença grave TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: - Na maior parte dos casos de varicela não complicada, está indicado apenas o tratamento sintomático da febre com antitérmicos - Podem ser prescritos anti-histamínicos objetivando o controle do prurido, o que reduz o risco de infecção bacteriana secundária - Banhos com permanganato de potássio, antigamente utilizados para acelerar a evolução das lesões vesiculares para crostas, não estão mais indicados, pois ressecam a pele, favorecendo o prurido - O tratamento antiviral com aciclovir oral está recomendado na varicela não complicada apenas em pacientes com risco de doença mais grave, como adolescentes, portadores de doenças crônicas ou pacientes em uso crônico de corticoide (inclusive o inalatório). Deve ser iniciado nas primeiras 24 horas do início do exantema e mantido por 5 dias - O aciclovir endovenoso é indicado na doença grave, na presença de infecção disseminada (pneumonia, hepatite grave, trombocitopenia ou encefalite), em grávidas e na infecção em imunodeprimidos PROFILAXIA: - Aplicação da tetraviral aos 15 meses e com reforço da vacina isolada da varicela aos 4 anos - Crianças internadas com varicela devem ser mantidas em isolamento de contato e respiratório de gotículas até que todas as lesões vesiculares estejam em crosta, o que normalmente ocorre em até 7 dias do início do exantema - Crianças que serão tratadas em domicílio também deverão ser afastadas da escola por 7 dias, devido ao risco de transmissão DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA: EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: - É causada por enterovírus - Em países tropicais, as infecções ocorrem o ano todo, e em climas temperados acontecem mais no verão e no outono - A transmissão pode ser fecal-oral, respiratória por gotículas, vertical e até por fômites - Na mesma criança e na mesma estação do ano podem ocorrer diferentes infecções por diferentes sorotipos - Mais de 25% das infecções ocorrem em crianças menores de 1 ano - É mais frequentemente causada pelo coxsackievírus A 16, embora também possa ser causada pelo enterovírus 71, por outros tipos de coxsackievírus A e até B NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 12 PATOGÊNESE: - Após a aquisição viral pela via oral ou respiratória, a replicação inicial ocorre nas células da mucosa da faringe e do intestino, seguindo uma multiplicação viral no tecido linfoide (amígdalas, placas de Peyer e linfonodos regionais) - A viremia transitória primária resulta na disseminação para partes mais distantes do sistema reticuloendotelial (fígado, baço, medula óssea e linfonodos distantes). A resposta imune do hospedeiro pode limitar a replicação nessa fase, resultando em uma infecção subclínica - A infecção clínica aparece apenas se ocorrer a viremia secundária, que é maior e mais persistente, e dissemina o vírus para órgãos- alvo como o sistema nervoso central, o coração e a pele - O desenvolvimento de anticorpos neutralizantes tipo-específico circulantes é o aspecto mais importante da resposta imune, levando à melhora clínica e prevenindo quadros posteriores pelos mesmos sorotipos - São produzidos anticorpos IgM, IgA, IgG de longa duração e IgA secretora, conferindo imunidade de mucosa - O período de transmissibilidade é longo, de 1 a 3 semanas para a via respiratória e de 7 a 11 semanas para a via intestinal QUADRO CLÍNICO: - Após um período de incubação de 3 a 6 dias, a criança evolui com um pródromo caracterizado por febre baixa, irritabilidade e anorexia que tem duração de 48 horas - Cerca de 1 a 2 dias após o início da febre aparece a hiperemia de orofaringe, com vesículas em língua, mucosa oral, faringe posterior, palato e até lábios. Essas lesões podem ulcerar, originando lesões de 4 a 8 mm, com eritema ao redor. Surgem também lesões maculopapulosas com vesículas ou pústulas nas mãos, nos pés e na virilha, que podem ser dolorosas, mas não são pruriginosas e atingem até 7 mm, regredindo em até 1 semana - A doença causada pelo enterovírus 71 frequentemente é mais grave e pode se associar a doença neurológica, como encefalomielite de tronco cerebral, edema pulmonar, hemorragia pulmonar e até morte em crianças mais novas DIAGNÓSTICO: - É clínico-epidemiológico, podendo os casos estar associados a surtos comunitários e em creches - A confirmação etiológica raramente é necessária, mas pode ser feita por meiode cultura viral em amostras de sangue, urina, orofaringe e até líquor TRATAMENTO: - É de suporte - O principal risco é a desidratação, em decorrência da baixa aceitação oral pela dor desencadeada pelas lesões orais NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 13 DOENÇA DE KAWASAKI: EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: - É uma vasculite febril aguda autolimitada, que ocorre no mundo todo, mas é mais frequente nos asiáticos - A etiologia é desconhecida, mas diversas características sugerem uma origem infecciosa como o grupo etário afetado, a ocorrência em epidemias episódicas (com sazonalidade nos meses mais frios no Brasil), o quadro autolimitado e os achados clínicos. Uma das hipóteses é de que um agente ubíquo cause a doença de Kawasaki, mas que a doença sintomática só ocorra em indivíduos geneticamente predispostos, já que existe um predomínio da doença em asiáticos e ela é dez vezes mais comum em irmãos de crianças que já tiveram a doença de Kawasaki - Predomina em meninos com menos de 5 anos (80%), com pico de incidência entre os 18 e os 24 meses - Alguns fatores de risco estão associados a maior gravidade da doença: PATOGÊNESE: - Na doença de Kawasaki ocorre uma vasculite necrosante grave de todos os vasos sanguíneos, com predomínio das artérias de médio calibre e predileção pelas artérias coronarianas - Na fase aguda ocorre uma intensa infiltração de células inflamatórias na parede vascular, resultando em necrose progressiva e formação de aneurismas - Já na fase subaguda ocorre o remodelamento da parede vascular com proliferação dos miofibroblastos da camada média, podendo resultar em estenose e obstrução da luz vascular. Na fase subaguda também estão elevados os níveis de todas as imunoglobulinas séricas, sugerindo a ocorrência de intensa resposta imune com grande produção de anticorpos - Não está claro se o principal fator que leva à doença coronariana é o agente etiológico, a resposta imune do hospedeiro ou ambos QUADRO CLÍNICO: - A doença inicia com febre elevada (até 40°C) remitente que não responde a antibióticos e apresenta duração de, pelo menos, 5 dias, podendo chegar a 2 semanas (caso não seja feito o tratamento), associada a outras quatro das 5 características clínicas listadas a seguir: 1. Exantema que se inicia no tronco (com acentuação na área da virilha) e pode ser maculopapular, polimorfo ou escarlatiniforme. Nunca o exantema se apresenta com vesículas ou bolhas 2. Eritema de mucosa oral e faríngea com língua em framboesa, lábios secos e fissurados sem ulceração. Não se observa exsudato, vesículas ou úlceras em orofaringe 3. Hiperemia conjuntival bilateral geralmente sem exsudato 4. Alterações de extremidades: Fase aguda eritema e edema de mãos e dos pés Fase subaguda descamação periungueal de mãos e pés 5. Linfadenopatia cervical não supurativa, geralmente unilateral, em cadeia cervical anterior, com diâmetro maior que 1,5 cm NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 14 - O envolvimento cardíaco é a característica mais importante da doença de Kawasaki. Na fase aguda ocorre predominantemente uma miocardite, que se manifesta por taquicardia desproporcional à febre (presente em cerca de 50% dos pacientes) e raramente cursa com diminuição da função ventricular. A pericardite com derrame pericárdico pequeno também é comum durante a doença aguda - Os aneurismas das artérias coronarianas se desenvolvem em até 25% dos pacientes não tratados na 2ª a 3ª semana de doença durante a fase subaguda, quando desaparecem as outras manifestações clínicas e ocorre o pico da trombocitose - Na fase subaguda, o risco de morte súbita é mais elevado - Segue-se então a fase de convalescença, que se caracteriza pelo desaparecimento de todos os sinais clínicos da doença e se mantém até que a VHS e o PCR retornem ao normal, em cerca de 6 a 8 semanas do início da doença DIAGNÓSTICO: - É feito por critérios clínicos após a exclusão de outras doenças com achados semelhantes - Se o ecocardiograma estiver alterado, deve- se considerar como doença de Kawasaki mesmo que o paciente não complete os critérios clínicos diagnósticos - Pacientes que não preenchem os critérios podem ser diagnosticados com doença de Kawasaki incompleta ou atípica, sendo necessário prosseguir a investigação com exames laboratoriais - Nos lactentes jovens, especialmente com menos de 6 meses, a febre pode ser a única manifestação clínica NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 15 - A principal complicação da doença de Kawasaki é o aneurisma de artéria coronária; por isso, o ecocardiograma bidimensional é o exame mais importante para avaliação do acometimento coronariano, devendo ser realizado ao diagnóstico e após 2 a 3 semanas (na fase subaguda, quando os aneurismas são mais frequentes). Se os dois exames forem normais, o ecocardiograma deve ser repetido com 6 a 8 semanas (já na fase de convalescença) e, caso o exame seja normal nessa fase, quando já há normalização da VHS, está descartado o acometimento cardíaco, sendo opcional a repetição do exame - Como a doença de Kawasaki é uma vasculite aguda, não existem evidências de sequelas cardiovasculares a longo prazo em crianças que não desenvolveram anormalidades coronarianas nos 2 primeiros meses após o início da doença. Em pacientes com alteração no ecocardiograma podem ser necessários exames mais frequentes e até a complementação diagnóstica com angiografia MONONUCLEOSE: EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA: - É a síndrome clínica mais bem conhecida causada pelo vírus Epstein- -Barr (EBV) - O EBV pertence à família herpesvírus do tipo γ-herpesvírus, que ocorre no mundo todo e sem sazonalidade - A epidemiologia da doença está relacionada com a idade de aquisição da infecção pelo EBV - Nos países em desenvolvimento, a infecção é precoce no pré-escolar e geralmente não é diagnosticada por se apresentar clinicamente como uma síndrome gripal. Já nos países desenvolvidos, a infecção é mais tardia, com a clínica típica da mononucleose, sendo mais comum em adolescentes e adultos jovens - O vírus se dissemina por secreções orais com contato íntimo como beijo (por isso, a mononucleose também é popularmente conhecida como “doença do beijo”) e por secreções vaginais - Os pacientes infectados excretam o vírus até 6 meses após a doença aguda e durante a vida toda podem manter excreção intermitente, por reativação da replicação viral assintomática do vírus na mucosa oral e vaginal, principalmente em imunodeprimidos - Pode ser transmitido também por transfusão sanguínea, transplante de órgãos sólidos ou transplante de células hematopoiéticas. Mas a transmissão não ocorre por contato não íntimo ou por fômites PATOGÊNESE: - Durante as primeiras 6 semanas de infecção, a replicação viral é identificada na cavidade oral, onde o vírus infecta as células tonsilares e as células B. Ocorre então a disseminação do vírus da cavidade oral para o sangue periférico, sendo possível o encontro de cópias do vírus Epstein-Barr no sangue periférico até 2 semanas antes do início dos sintomas - O início da doença aguda é marcado por altas cargas virais na cavidade oral e no sangue, acompanhadas da produção de IgM contra o antígeno do capsídeo viral (VCA) e expansão das células T CD8 (importantes para o controle da infecção viral) em resposta à infecção dos linfócitos B pelo EBV. A expansão dos linfócitos T CD8 ativados é o NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 16 que caracteriza a atipia linfocitária característica da mononucleose - O EBV permanece latente nas células epiteliais de orofaringe e nos linfócitos B, podendo reativar a replicação, responsável pela eliminação viral intermitente que acontece em algunspacientes QUADRO CLÍNICO: - Após um período de incubação de 30 a 50 dias, segue-se um pródromo de cefaleia, mal- estar, fadiga, dor de garganta e mialgia por 1 a 2 semanas, evoluindo com piora progressiva da dor de garganta e febre prolongada (principalmente em adolescentes, podendo durar de 1 a 2 semanas) - O aparecimento dos sintomas pode ser súbito ou insidioso - Alguns pacientes podem apresentar também sintomas de infecção de vias aéreas superiores (65%), inapetência (50%) e mialgia (45%) - Ao exame físico, identifica-se linfadenopatia cervical de aumento rápido (principalmente nas cadeias cervical anterior e posterior, além da cadeia submandibular). Linfonodos axilares e inguinais também podem estar aumentados, assim como linfonodos epitrocleares (muito sugestivos de mononucleose). Além disso, encontramos também hipertrofia de amígdalas com exsudato cinza-claro, podendo ocorrer inclusive petéquias em palato, que dura de 7 a 10 dias e pode ser confundida com infecção estreptocócica - Em até 50% dos casos pode ser identificada esplenomegalia até 2 a 3 cm do rebordo costal esquerdo, podendo estar associada inclusive à dor abdominal. A hepatomegalia é mais rara (10%) e também pode ocorrer edema periorbitário (sinal de Hoagland) - A maior parte dos sintomas dura menos de 10 dias, mas a fadiga e a linfadenopatia cervical podem persistir por mais de 3 semanas - Na evolução normal da mononucleose não ocorre exantema, a não ser que o paciente seja exposto a derivados da penicilina, indicados pelo diagnóstico errôneo de faringite estreptocócica em decorrência do aspecto da orofaringe. Surge então um exantema maculopapular leve e pruriginoso resultado de uma hipersensibilidade transitória à penicilina que ocorre nesses pacientes DIAGNÓSTICO: - Clínico - Sorologia anticorpos - No início da doença pode haver leucopenia, mas na 2ª a 3ª semana ocorre um pico de leucocitose com linfocitose relativa e absoluta com linfócitos atípicos acima de 10% ou de 1.000/mm3. Pode ocorrer também uma trombocitopenia leve de 50.000 a 200.000/mm3 e aumento das transaminases em até 75% dos casos (geralmente subclínica, sem associação com icterícia ou dor abdominal) TRATAMENTO: - Não há tratamento específico - É recomendado apenas o uso de antitérmicos para o tratamento da febre e repouso devido à fadiga e ao risco de lesão esplênica com esportes de contato nos pacientes com esplenomegalia NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 17 - Atletas podem voltar a praticar esportes de contato após 3 semanas do início da doença, desde que não apresentem mais sintomas de mononucleose aguda - O prognóstico é bom, com resolução espontânea em todos os casos - A complicação mais temida é a rotura esplênica, mais comum em adolescentes na segunda semana de doença por traumatismo abdominal em esportes de contato, mas que raramente é fatal - Corticoide pode ser considerado nos casos de obstrução de vias aéreas superiores por hipertrofia das amígdalas, anemia hemolítica, trombocitopenia com hemorragia, convulsões e meningite.
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