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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ESTUDO DO MEIO 1 INTRODUÇÃO De acordo com a Constituição Federal Brasileira de 1988, no artigo 225, todos os cidadãos têm direito a um meio ambiente protegido e ecologicamente equilibrado, bem como possuem o dever de defendê-lo de modo sustentável, isto é, para as atuais e futuras gerações, priorizando o equilíbrio socioambiental e econômico. Para que isso seja possível, torna-se necessário estabelecer uma relação saudável entre o homem e o ambiente no qual está inserido, isto é, uma interação positiva (BATISTA, 2009; ROOS e BECKER, 2012; FILHO et al., 2016). Porém, o modelo capitalista-industrial de desenvolvimento, ao longo da história da humanidade, permitiu que o ser humano explorasse os recursos naturais de tal forma que houvesse pouca ou nenhuma preocupação com o meio ambiente, gerando diversos problemas, como catástrofes, doenças, pobreza, extinção de espécies vegetais e animais e entre outros. Foi assim que, em 1987, durante a divulgação mundial do Relatório Brundtlandt, surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, que incentiva o cresci- mento econômico, tecnológico, político e social por meio da preservação do meio ambi- ente, exigindo, dessa forma, que a sociedade adotasse uma nova postura ética para a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações (JACOBI, 2003; BA- TISTA, 2009). Como a sustentabilidade é um processo de longo prazo, é preciso que os cida- dãos se adaptem aos novos valores morais para que a relação homem e natureza seja realmente eficiente. Assim, nesse contexto, torna-se importante a aplicação da Educação Ambiental, cuja definição é dada por Roos e Becker (2012, p.857-858) da seguinte for- ma: A Educação Ambiental pode ser entendida como uma metodologia em conjunto, onde cada pessoa pode assumir e adquirir o papel de membro principal do processo de ensino/aprendizagem a ser desen- volvido, desde que cada pessoa ou grupo seja agente ativamente par- ticipativo na análise de cada um dos problemas ambientais diagnos- ticados e com isso buscando soluções, resultados e inclusive prepa- rando outros cidadãos como agentes transformadores, por meio do desenvolvimento de habilidades e competências e pela formação de atitudes, através de uma conduta ética, condizentes ao exercício da cidadania. A Educação Ambiental é acessível aos diversos tipos de conhecimento e deve ser 1 compreensível à sociedade como um todo, pois representa um processo contínuo de aprendizagem para conscientização. É importante sempre abordar assuntos relacionados com as ações externas, como reciclagem, efeito estufa, desmatamento e etc., para haver transformações internas (JACOBI, 2003; SILVA, 2012). Sendo assim, para que haja Educação Ambiental, é indispensável que os envol- vidos tenham contato com o meio no qual estão analisando, isto é, deve ser feito o Estu- do do Meio, que é um método pedagógico interdisciplinar que permite maior proximi- dade com a realidade em locais urbanos ou rurais, nos quais os educadores são respon- sáveis pelos diálogos estabelecidos para uma determinada comunidade, despertando o interesse e a curiosidade pelo assunto discutido (LOPES e PONTUSCHKA, 2009; CARVALHO e FREITAS, 2010). Uma boa relação humana com o meio ambiente, através do trabalho da Educa- ção Ambiental e de Estudo do Meio, estabelece diversos benefícios, entre eles, a con- servação da biodiversidade, a justiça social, distribuição digna de recursos financeiros e naturais, acesso a educação de qualidade e entre outros. As mudanças dos valores cultu- rais e pessoais são frutos dos trabalhos de pessoas preocupadas com o presente e o futu- ro da humanidade e do meio ambiente (BATISTA, 2009; FILHO et al., 2016). 2 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Educação Ambiental e Estudo do Meio A Educação Ambiental é um ensino multidisciplinar inclusivo, capaz de estimu- lar consciência ambiental de modo construtivo, possibilitando a identificação da raiz do problema em questão, da evolução e da possível solução. Os transtornos que ocorrem na natureza advêm do desequilíbrio entre a própria sociedade, por isso que a Educação Ambiental é tão relevante para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental (JA- COBI, 2003; ROOS e BECKER, 2012; SILVA, 2012). O quadro 1 mostra a evolução da Educação Ambiental ao longo do tempo. Quadro 1: Breve Histórico da Educação Ambiental Anos 1960 Primavera Silencio- sa A obra de Rachel Carson deu início às discussões sobre a relação homem/natureza. Anos 1970 Clube de Roma Relatório "Limites do Crescimento": estabilidade econômica e ecológica mediante aos baixos níveis de crescimento popu- lacional, ou seja, o controle demográfico seria necessário por causa dos recursos limitados. Conferência de Es- tocolmo Sustentabilidade social, econômica e ambiental proporciona melhor qualidade de vida com a preservação ecológica. Encontro Interna- cional de Educação Ambiental Definição dos princípios e orientações para o futuro com a implantação da Educação Ambiental. Anos 1980 Relatório Brund- tlandt Também conhecido como "Nosso Futuro Comum", o relató- rio defende o desenvolvimento sustentável para que haja mudança ética sobre o meio ambiente. Constituição da República Federa- tiva do Brasil O art. 225, além de defender os direitos e deveres do cidadão para com o meio ambiente, no inciso VI, determina que o Poder Público promova a Educação Ambiental em todas as esferas de ensino. Anos 1990 Portaria 678/91 (MEC) Esta legislação determinou que a Educação Ambiental con- templasse todos os níveis de ensino, sendo que houve a ne- cessidade de investimento na capacitação de professores. Conferência das Nações Unidas so- bre o Meio Ambien- te e o Desenvolvi- mento (CNUMAD) A CNUMAD, ou Rio 92, foi uma conferência realizada no Rio de Janeiro com 179 países participantes, havendo acordo e assinatura da Agenda 21 Global, cujo principal foco era promover o desenvolvimento sustentável. Lei nº 9.795/99 Política Nacional de Educação Ambiental. 3 Anos 2000 Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável Elaboração da Agenda Rio+10 para possibilitar a mudança ambiental nos anos seguintes. Anos 2010 Conferência das Nações Unidas so- bre Desenvolvimen- to Sustentável Conhecida como Rio+20, a conferência procurou renovar os compromissos firmados com o desenvolvimento sustentável desde a Rio-92 para as próximas décadas. Fontes: Jacobi (2003), Sulaiman e Tristão (2008), Silva (2012) e INEA (2014) A Lei n o 9.795, de 27 de abril de 1999, citada no quadro 1, refere-se a Política Nacional de Educação Ambiental, que define os princípios básicos (art. 4 o ) e os objeti- vos fundamentais (art.5 o ) da Educação Ambiental. Sobre os princípios gerais, são con- siderados importantes os seguintes aspectos (BRASIL, 1999; ROOS e BECKER, 2012): sensibilização (essencial para haver conscientização); compreensão (conhecimento dos fatores e causas do sistema); responsabilidade (reconhecimento humano); competência (habilidade de analisar a situação e agir) e cidadania (participação ativa e incentivo para a implantação de uma nova ética). Os objetivos fundamentais da Educação Ambiental (art. 5 o ) incluem a democra- tização das informações, o desenvolvimento da compreensão múltipla, incentivo à cons- ciência crítica e à participação da sociedade de todas as regiões nacionais, fortalecimen- to da cidadania e a integração entre ciência e tecnologia (BRASIL, 1999). Na prática, a Educação Ambiental ocorre através de estudos de temas por meio de palestras, oficinas e saídas de campo que são oferecidas por ONGs, escolas, empre- sas e governos, cujos responsáveis transmitem o conhecimento aos envolvidos e discu- tem os problemas ambientais presentes em diversosníveis espaciais, sendo elaborados os projetos de intervenção a partir dessas atividades (ROOS e BECKER, 2012). O Estudo do Meio tem como propósito a reflexão coletiva e individual sobre os assuntos abordados no momento educativo de modo que haja mudanças nos hábitos, ajudando a melhorar a realidade vivida e tornando mais significativo o processo de en- sino-aprendizagem (LOPES e PONTUSCHKA, 2009). A história do Estudo do Meio no Brasil iniciou-se no século XX, período da in- dustrialização e da vinda da imigração europeia. Os operários anarquistas foram os res- ponsáveis por criarem escolas com ensino baseado na observação, no estudo de campo e no desenvolvimento do senso crítico, cuja inspiração surgiu da pedagogia defendida pelo anarquista e maçom Francisco Ferrer y Guardia (1849-1909). Uma das escolas de maior destaque foi a Escola Moderna inaugurada em São Paulo, no período de 1912, 4 pelo professor João de Camargo Penteado (1877-1966), defensor da educação e da revo- lução social. Entretanto, por motivos políticos, o governo ordenou que as escolas fos- sem fechadas (SULAIMAN e TRISTÃO, 2008; LOPES e PONTUSCHKA, 2009). Nos anos 1960, os Estudos do Meio retornaram a educação brasileira, com o objetivo de tornar o processo de ensino-aprendizagem mais significante e atrativo atra- vés do movimento da Escola Nova que, apesar de não ter atingido as escolas públicas, fez-se presente em algumas instituições de ensino, a exemplo das Escolas Vocacionais e Colégio de Aplicação, pertencente à antiga Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências, da Universidade de São Paulo. Mas, no final dos anos 1960, os Estudos do Meio se torna- ram ilegais durante o governo Costa e Silva graças à censura e à repressão política (LO- PES e PONTUSCHKA, 2009). Houve o retorno dos Estudos do Meio de forma destacada durante a gestão do secretário municipal de educação Paulo Freire, entre 1989 a 1990, estando integrados em diversas disciplinas escolares. Embora os Estudos do Meio tivessem sido novamente permitidos no final dos anos 1970, não eram muito evidentes no âmbito pedagógico por causa da redemocratização do país (LOPES e PONTUSCHKA, 2009). Basicamente, o Estudo do Meio é dividido em três etapas (SULAIMAN e TRISTÃO, 2008; LOPES e PONTUSCHKA, 2009; CARVALHO e FREITAS, 2010): Preparação para o campo: envolve a definição do local a ser estudado pelos su- jeitos sociais (organizadores, professores, monitores, responsáveis, etc.), bem como sobre os assuntos e/ou problemas mais importantes a serem tratados com a população-alvo (empregados, alunos, etc.). Os espaços a serem estudados du- rante a atividade podem ser os mais variados possíveis (quarteirão, bairro, rua, área de mata nativa, cidade histórica e entre outros), pois qualquer local é passí- vel de Estudo do Meio, desde que haja consentimento de todas as partes envol- vidas (pais e responsáveis pelos estudantes do ensino básico, representantes do governo, etc.). Também é relevante o levantamento bibliográfico (mapas, rela- tos, dados históricos, geográficos e estatísticos, fotografias, etc.) do lugar para ter maior proveito da atividade a ser aplicada. Em seguida, deve ocorrer o pla- nejamento das atividades, o que inclui a definição do trajeto, dos sujeitos, dos responsáveis e do roteiro das tarefas, bem como seu registro e identificação, e a construção do caderno de campo (blocos de notas, GPS, smartphones, etc.). 5 Saída de campo: abrange o reconhecimento do espaço a ser estudado, incluindo o trajeto, os moradores locais, a presença e/ou a ausência de espécies animais e vegetais e entre outros elementos. Posteriormente, ocorre a aplicação das ativi- dades selecionadas, como palestras, oficinas, passeios e etc., no qual os respon- sáveis pelo Estudo do Meio compreendem melhor a situação da qual foi seu ob- jeto de análise e, consequentemente, os participantes expressam e aplicam os conhecimentos adquiridos. Ou seja, o Estudo do Meio não se resume a apenas visitas ou passeios, mas contempla a interação, a conscientização e a busca pelo conhecimento no progresso de ensino-aprendizagem. Produção sobre o campo: por fim, tem-se o processo de sistematização dos da- dos coletados, sejam fotografias, desenhos, relatos dos participantes e entre ou- tros múltiplos conhecimentos adquiridos, o que pode resultar em exposições, li- vros, vídeos, maquetes, álbuns e relatórios como formas de avaliar e divulgar os resultados finais. O processo de Educação Ambiental e Estudo do Meio do ambiente escolar e acadêmico é integrada, permanente e contínua em todos os níveis de ensino, segundo o que é estabelecido pela Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), mediante as diversas ciências que são aplicadas pelos docentes e inúmeros conhecimentos acumula- dos pelos estudantes. Porém, a Educação Ambiental nas escolas é difícil de ser colocada integralmente em prática por causa de vários motivos: modelo da grade curricular; falta de incentivos para que os professores possam se envolver em projetos ambientais; difi- culdade de realizar um planejamento; e a insuficiência de professores capacitados na área ambiental. Uma solução para isso seria incorporar a disciplina de Educação Ambi- ental nos Planos Políticos Pedagógicos (PPPs), para que haja orientação concisa nesse sentido, tanto na formação e capacitação de professores, quanto no planejamento e na prática das atividades (INEA, 2014; DEMOLY e SANTOS, 2018). Nas empresas privadas, a Educação Ambiental é vista como uma ferramenta para a redução dos custos, melhoria do ambiente e aumento da lucratividade. Nacional- mente, o setor ambiental teve seu início no mundo empresarial a partir de 1992 com a II Conferência Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), envolvendo a participação de ONGs e entidades como a WWF e o Greenpeace, embora, nos anos 6 1970 e 1980, termos como “controle ambiental” e “planejamento ambiental” fossem o foco da responsabilidade social (ESTEVES, 2013). No começo, a participação voluntária das instituições com as responsabilidades ambientais era pequena, pois não era visto como algo necessário. O comprometimento só acontecia com a intervenção governamental. Porém, com o maior engajamento das empresas no mundo ambiental, foram feitos diversos debates, publicações, prêmios e reportagens a favor do investimento na área social, tornando-se mais intensificada a Educação Ambiental com relação à sustentabilidade econômica, social e ambiental (ESTEVES, 2013). A gestão pública enfrenta vários conflitos socioambientais devido ao uso e aces- so dos recursos naturais. Nesse contexto, a Educação Ambiental tem a função de espa- lhar informações aos mais diversos públicos a nível municipal, estadual e federal para que haja igualitarismo, democracia e justiça. Na prática, os agentes públicos seguem as leis, normas e procedimentos técnicos para realizar as análises e as fiscalizações, junta- mente com o estabelecimento do diálogo com a população (INEA, 2014). Assim sendo, a Educação Ambiental e o Estudo do Meio devem ser aplicados com cautela e eficácia para atingir todos os públicos necessários em qualquer nível es- pacial para que haja conscientização e mudanças dos hábitos para que a relação homem e meio ambiente seja cada vez melhor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA, A. D. Meio Ambiente: Preservação e Sustentabilidade. Revista E- PeQ/Fafibe, São Paulo, v.1, p.50-54, 2009. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, n. 79, 28 abr. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm. Acesso em: 20 fev. 2020. CARVALHO, G. S. de; FREITAS, M. L. V. de.Metodologia de Estudo do Meio. Lu- anda: Plural Editores, 2010. 160p. DEMOLY, K. R. A.; SANTOS, J. S. B. Aprendizagem, Educação Ambiental e Escola: Modos de En-agir na Experiência de Estudantes e Professores. Ambiente & Sociedade, São Paulo. v.21, p.1-20, 2018. ESTEVES, L. M. C. Empresas Privadas e Programas de Educação Ambiental: De- 7 safios de uma Prática. 2013. 96f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) - Programa de Pós Graduação da Faculdade de Tecnologia (FT), Universidade Estadual de Campinas, Limeira, 2013. FILHO, B. F. G.; MELO, I. B. N.; MARQUES, S. C. M. Percepção Ambiental: Consci- ência e Atitude em Escolas do Ensino Fundamental do Município de Jaboticabal (SP). Revista Brasileira de Educação Ambiental, São Paulo, v.11, n.4, p.162-173, 2016. INEA – Instituto Estadual do Ambiente. Educação Ambiental: Conceitos e Práticas na Gestão Ambiental Pública. Rio de Janeiro: INEA, 2014. 52p. JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesqui- sa, n.118, p.189-205, mar. 2003. LOPES, C. S.; PONTUSCHKA, N. N. Estudo do Meio: Teoria e Prática. Geografia, Londrina, v.18, n.2, p. 173-191, 2009. ROOS, A.; BECKER, E. L. S. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Revista Ele- trônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental - REGET/UFSM, v.5, n.5, p.857-866, 2012. SILVA, D. G. A Importância da Educação Ambiental Para a Sustentabilidade. 2012. 11f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Ciências Biológicas com ênfase em Gestão Ambiental) - Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí – FAFIPA, São Joaquim, 2012. SULAIMAN, S. N.; TRISTÃO, V. T. V. Estudo do Meio: Uma Contribuição Metodo- lógica à Educação Ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v.21, p. 341-355, jul-dez. 2008. 8
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