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AO JUÍZO DA ___ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - ESTADO DO PARANÁ PETER PAULO DE PIRES, pessoa física, inscrito no CPF n. XXX.XXX.XXX-XX, portador da cédula de identidade RG X.XXX.XXX-X brasileiro, solteiro, empresário e residente e domiciliado na Rua Control Shift, n. 404, Município de Curitiba, Estado do Paraná, por seus procuradores judiciais adiante subscritos e devidamente constituídos, onde recebem intimações na Rua Cândido de Abreu, número 440, CEP 44.976-88, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 294 e 300 do CPC c/c artigos 186 e 927 do Código Civil, ajuizar AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS C/C LUCROS CESSANTES C/C PEDIDO LIMINAR DE REATIVAÇÃO IMEDIATA DAS CONTAS DO INSTAGRAM E FACEBOOK em face de FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA, Sociedade Empresária Limitada, inscrita sob o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) n° n° 13.347.016/0001-17, com sede nacional na Rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, n° 700, 5º andar, Bairro Itaim Bibi, São Paulo- SP, CEP 04542-000, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: 1. DOS FATOS Em fevereiro de 2021, o Autor utilizou de suas redes sociais, onde soma cerca de 3 milhões de seguidores, para manifestar a sua opinião a respeito do cenário político do Brasil e publicou em seu perfil o seguinte desabafo: “Do jeito que está não dá mais! Na minha opinião esses Deputados e Senadores são incompetentes, não fazem nada e só gastam o nosso dinheiro. São todos ladrões e corruptos! Temos que dissolver o Congresso. Vamos marchar até Brasília! Ninguém vai nos impedir. Vamos lutar e quebrar tudo que estiver no nosso caminho!" Uma semana após a publicação, no entanto, registrou-se protestos em Brasília em que os manifestantes invadiram o Plenário do Congresso Nacional, enquanto exigiam a dissolução da instituição e a volta do AI-5. Contudo, deve ser ressaltada a inexistente relação entre o Autor e os protestantes, que desconhece os participantes e sequer sabia da pretensa invasão. Para sua surpresa - pois em nada havia participado do protesto - as suas contas nas redes sociais do Facebook e Instagram foram banidas por tempo indeterminado, o que impede o acesso e a publicação de conteúdos nas plataformas. O feito foi justificado pelo CEO do Facebook mediante nota, conforme verifica-se: “Como resultado da atual situação violenta sem precedentes em Brasília, exigimos o bloqueio, por tempo indeterminado, das contas do Sr. Peter Paulo Pires, no Facebook e Instagram. Consideramos que os riscos de permitir que o Sr. Peter continue utilizando nosso serviço durante esse período são simplesmente grandes demais.” Em vista do impedimento de acesso aos sites, o Autor utilizou a rede social Twitter para informar que pretendia interpor medida judicial em face do grupo Facebook, detentor da plataforma Instagram. O que se busca é a responsabilização da empresa perante o bloqueio das contas e a reparação financeira dos danos decorrentes deste fato. Cabe salientar que o Autor, além de influenciador digital e ativista, é empresário e está sofrendo prejuízos diante do ocorrido, dado que as mídias sociais constituem o seu instrumento de trabalho. Dias antes do banimento, houve o lançamento do seu primeiro ebook “Aprendendo Política do Zero”, combinado ao curso sobre o tema, mas o impedimento de acesso ao perfil do Autor afetou demasiadamente a divulgação e venda do material, a ponto de inviabilizá-la. Assim, ante a gritante ilegalidade do feito, a qual ocasionou apenas danos ao Autor, é imperativo que sejam imediatamente tomadas as medidas cabíveis para cessar os prejuízos causados, bem como as reparações necessárias. 2. DA TUTELA DE URGÊNCIA Primeiramente, se faz necessário comentar sobre a necessidade imediata que Peter Paulo de Pires possui em ter suas contas do Facebook e Instagram reativadas. Considerando que é o seu meio de trabalho, os prejuízos que ele terá ao continuar sem sua conta até o trânsito em julgado do processo e o cumprimento de sentença são imensuráveis, justificando, dessa forma, o pedido de tutela de urgência. Os arts. 294 e 300 do CPC estabelecem que é necessária a comprovação da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo para deferir uma tutela de urgência. Em relação à probabilidade do direito, têm-se que o bloqueio das contas do instagram e do facebook, pelo CEO da companhia, inviabilizou que o autor trabalhasse de forma efetiva, uma vez que este atua no meio empresarial se utilizando das redes sociais para a venda de produtos e divulgação de serviços. Quanto ao perigo de dano, avalia-se que no período de inatividade das contas, o autor incorreu em perda de diversas oportunidades de contratação de serviços e de venda de seu ebook, situação esta que se intensifica cada vez mais com a continuação do bloqueio das referidas contas. 3. DA INCIDÊNCIA DO CDC E DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA A situação exposta é objeto de proteção do CDC. Isto porque, a relação jurídica constituída entre os usuários de redes sociais e as plataformas equipara-se ao vínculo entre consumidor e fornecedor. A teoria finalista mitigada, adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, relativiza o art. 2°, CDC e suscita que consumidor é a pessoa física ou jurídica que, embora não configure o destinatário final do produto ou serviço oferecido, ainda possui vulnerabilidade perante o fornecedor, seja esta técnica, econômica, jurídica ou informacional. Já o fornecedor, nos termos do art. 3°, “é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” Logo, compreende-se que as plataformas Facebook e Instagram, ao serem utilizadas como meio de criação, produção, distribuição e comercialização de conteúdos e produtos, passam a ter status de prestadores de serviços e respondem em face do CDC. 4. DOS FUNDAMENTOS 4.1 DO DANO MATERIAL 4.1.1 LUCROS CESSANTES Em seu artigo 402 o Código Civil dispõe: “Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.” Assim, ao tratar sobre “o que razoavelmente deixou de lucrar”, a codificação em questão estabelece os denominados “lucros cessantes”, sendo estes aplicados em relação ao prejuízo a qual a parte ofendida estará submetida durante a duração dos efeitos da ofensa. Dessa maneira, o Código Civil busca a proteção e compensação daqueles impossibilitados de realizar suas ocupações por consequência da ação do ofensor. Caso este que é precisamente a situação do Autor. Ressalte-se que, ao contrário de muitos dos usuários das redes sociais em questão, o requerente se utiliza do facebook e do instagram como veículos para divulgação de seu trabalho e de seus produtos, tendo seu sustento diretamente relacionado a estes. Dessa maneira, ao ter suas contas em redes sociais bloqueadas, o Autor foi obrigado a assistir enquanto suas vendas e contratações para prestação de serviços caiam. Sendo assim, faz-se justa e necessária a compensação, do requerente, em relação aos valores efetivamente não ganhos durante o bloqueio de suas contas, uma vez que estes seriam, assim como citado no artigo supracitado, os valores que teria deixado de lucrar. Todavia, destaca-se a impossibilidade de avaliação precisa do valor da compensação devida ao Requerente a título de lucros cessantes, de modo que se faz necessária a aplicação do artigo 324, §1º, II1. Assim, deixa de atribuir valor à causa, na medida em que este deverá ser apurado em sede de liquidação de sentença. Isto posto, requer-se a condenação da Requerida à reparação por lucros cessantes suportados pelo Requerente, a serem devidamente apurados em sede de liquidação de sentença, conforme fundamentaçãosupra. 4.2 DO DANO MORAL 4.2.1 DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO 1 Art. 324. O pedido deve ser determinado. §1º É lícito, porém, formular pedido genérico: II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou fato A livre expressão da atividade de comunicação é uma garantia fundamental prevista no artigo 5º, inciso IX, da Constituição Federal2. Analisando o caso em questão, fica clara a violação desse princípio constitucional pelo réu ao bloquear as redes sociais da parte autora, ferindo o seu direito de liberdade de expressão que é imensamente valorizado em um país democrático, como esclarecem George Salomão Leite e Ronaldo Lemos (2014, p.131)3 : ‘’Uma democracia sólida se alimenta de uma constante efervescência de ideias, maiormente do debate público – sem desprezar o privado – em torno de concepções e críticas de natureza política, religiosa e científica. Bem como da expressão artística que em si mesma constitui em muitos casos um reflexo dessa torrente de pensamentos, de opiniões e de visões de mundo muitas vezes conflitantes e, ainda, sem um centro de produção ou garantidas por um elemento gerador de unidades ou totalidades, como decorrência da própria contingência e hipercomplexidade da sociedade moderna ou, até mesmo, pós-moderna’’. A única intenção do requerente com sua publicação era criticar a situação política do país, em momento algum imaginou que tal ato poderia se relacionar a uma manifestação violenta. É necessário ressaltar que diversas expressões utilizadas pela parte tinham a função única e exclusiva de abordar metaforicamente a má gestão do Brasil. O Autor imaginou que seria possível compreender as suas colocações ‘’dissolver o congresso’’ e ‘’marchar até Brasília’’ como alusões ao resgate da democracia, bradando por uma renovação política e pelo domínio popular. Além da garantia na Constituição Federal, a lei 12.965/2014, no caput do artigo 8º4 menciona que a liberdade de expressão nas comunicações é uma condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet. A situação abordada, portanto, também violará o artigo mencionado do Marco Civil da Internet. O autor da ação, portanto, teve o seu direito de expressão seriamente violado sem que existisse um motivo plausível para tal ato. Tendo milhares de seguidores que o acompanham pelas redes, o bloqueio de sua conta fez com que se sentisse extremamente envergonhado, gerando danos psicológicos à parte e configurando-se a existência de dano moral. 4.2.2 DO CDC 4 Artigo 8. A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet. 3 LEITE SALOMÃO, George; LEMOS Ronaldo. Marco Civil da Internet. Página 131, 2014. 1º Edição. 2 Artigo 5º. Inciso IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. No contexto da aplicação do CDC, observa-se a incidência do disposto no 6°, IV, CDC em concomitância ao art. 20, do Marco Civil da Internet: Art. 6°. São direitos básicos do consumidor: IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Art. 20. Sempre que tiver informações de contato do usuário diretamente responsável pelo conteúdo a que se refere o art. 19, caberá ao provedor de aplicações de internet comunicar-lhe os motivos e informações relativos à indisponibilização de conteúdo, com informações que permitam o contraditório e a ampla defesa em juízo, salvo expressa previsão legal ou expressa determinação judicial fundamentada em contrário. Assim sendo, verifica-se que para a desativação unilateral de perfil em rede social ser considerado legítima, deve ser oportunizado o exercício da ampla defesa e do contraditório, pois caso contrário, passa a configurar prática abusiva da plataforma, já que há o iminente desequilíbrio de poder no vínculo em questão. Conforme observado nos Termos de Uso das plataformas, uma conta poderá ser desativada se os termos estabelecidos forem violados de modo grave ou reiteradamente após alertas prévios de exclusão, caso este que não se verifica. Não há que se falar em violação dos Termos de Uso, pois sequer foi apurado o envolvimento do Autor na invasão ao Congresso Nacional, tampouco houve notificação prévia à exclusão da conta, acerca da manifestação de opinião exercida no Facebook. Tal notificação deve ser entendida como demonstração de boa-fé, oportunizando ao destinatário a adequação às normas da plataforma. Deste modo, é mais do que clara a desproporcionalidade da medida tomada pelo grupo Facebook, que desrespeitou a legislação vigente e o entendimento jurisprudencial, conforme verifica-se: RECURSO INOMINADO. DEMANDA INDENIZATÓRIA. AUTOR QUE FOI BANIDO DO APLICATIVO “WHATSAPP”. LEGITIMIDADE PASSIVA DA “FACEBOOK BRASIL”. MESMO GRUPO ECONÔMICO. RÉ RESPONSÁVEL PELO APLICATIVO NESTE PAÍS. RELAÇÃO DE CONSUMO. JUSTO MOTIVO NÃO APRESENTADO PELA REQUERIDA (ART. 6º, VIII DO CDC). CONDUTA ABUSIVA. DANO MORAL CONFIGURADO. OBRIGAÇÃO DE FAZER QUE PODERÁ SER CONVERTIDA EM PERDAS E DANOS NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – ART. 499 E 500 DO CPC. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.(TJPR - 1ª Turma Recursal - 0001422-45.2019.8.16.0156 - São João do Ivaí - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS MARIA FERNANDA SCHEIDEMANTEL NOGARA FERREIRA DA COSTA - J. 23.06.2020) O entendimento exposto pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná é de que configura-se dano moral quando há prática abusiva de empresa prestadora de serviços de rede social. Repara-se que a jurisprudência apresentada demonstra justamente o mesmo pólo passivo desta demanda, de modo que é notório o reincidente descaso da empresa e frequente violação de direitos de seus usuários. PEDIDOS Diante do exposto, requer: a) A não realização da audiência de conciliação e mediação, em termos do art. 319, VII do CPC; b) Que seja concedida a medida liminar, permitindo a reativação imediata das contas do Instagram e Facebook de Peter Paulo de Pires; c) A procedência total da ação para condenação do réu ao pagamento dos lucros cessantes referente aos danos materiais causados com o banimento de sua conta; d) Seja determinada a incidência dos juros moratórios e correção monetária dos danos morais e materiais desde a data do evento danoso e do arbitramento da verba, respectivamente e) Seja a requerida condenada ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação; f) A produção de todas as provas em direito admitidas, em especial a pericial e documental; g) A condenação da requerida a indenizar o Autor por DANOS MORAIS, conforme argumentação supra, no valor de R$10.000,00 (dez mil reais); h) A condenação da requerida a indenizar o Autor por LUCROS CESSANTES, conforme argumentação supra, em pedido genérico, deixando o valor a ser estipulado em fase de liquidação de sentença, após a prova pericial. Atribui à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais); Nestes termos, Pede deferimento. Curitiba, 19 de maio de 2021. PROCURAÇÃO OUTORGANTE: Peter Paulo de Pires, solteiro, empresário, inscrito no CPF n. XXX.XXX.XXX-XX e residente na Rua Control Shift, n. 404, Curitiba, Paraná. OUTORGADOS: PODERES: todos os contidos na cláusula ad judicia et extra, para atuar em qualquer instância ou grau de jurisdição, inclusive reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se litiga e se funda a ação, receber, dar quitação, notificar, substabelecer no todo ou em parte, e em especial para a defesa de todos os interesses da outorgante. Curitiba, 18 de maio de 2021.
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