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Administração Contemporânea Página 1 ADMINISTRAÇÃO CONTEMPORÂNEA Apresentação O objetivo maior da disciplina “Administração Contemporânea”é fazer com que você tenha uma visão geral e multidisciplinar das organizações. A partir da sólida base conceitual,disponível nos sete módulos que a compõem, você poderá analisar, compreender e atuar sobre os mais variados aspectos do dia-a-dia organizacional. A disciplina oferece ainda, uma série de instrumentos, métodos e técnicas que irão facilitar ações práticas, sempre com resultados eficientes e eficazes. A disciplina foi desenvolvida em perfeita sintonia com as mudanças que estão ocorrendo no contexto organizacional. Portanto, além da preparação em aspectos tradicionais da administração, ela irá capacitá-lo a trabalhar com alguns fundamentos até então inéditos ao futuro administrador, tais como: visão holística, raciocínio abstrato, compreensão de conceitos técnicos / científicos, flexibilidade intelectual, mudanças de paradigmas, autogerenciamento, entre outros. Sete módulos compõem esta disciplina. Os três primeiros fazem parte da unidade denominada “Temas Sempre Atuais”. O foco desses módulos, como sugere o próprio nome da unidade, é em temas consagrados que, apesar de há muito ser alvo de estudos, são destacados por sua constante relevância. Os quatro módulos seguintes formam a unidade “Temas da Atualidade”. São, portanto, módulos focados em temas atuais, ou seja, temas que apenas recentemente passaram a compor o amplo campo de estudos da administração moderna. Vamos, então, comentar sobre os módulos que fazem parte da unidade “Temas Sempre Atuais”. O primeiro, denominado “Cultura Organizacional e Poder”,vai colocá-lo em contato com os principais conceitos relacionados à cultura das organizações. Você vaicompreender, entre outros aspectos, como a cultura se desenvolve, evolui e adquire raízes no contexto organizacional. O segundo módulo, “Liderança” tem como escopo principal discutir as bases da formação do verdadeiro líder. Você vai entender quem é afinal essa pessoa a quem denominamos “grande líder”, como ela se comporta diante das mais variadas situações e, principalmente, qual é a sua importância na vida organizacional. O terceiro módulo está centrado na “Comunicação nas Organizações”. A partir dos conceitos explorados nesse módulo você vai entender a importância que a comunicação possui para o dia-a-dia da organização, bem como aprender sobre todos os cuidados a serem tomados para que o processo de comunicação apresente resultados realmente efetivos no sentido de obter as respostas desejadas. Administração Contemporânea Página 2 Compondo a unidade “Temas da Atualidade” temos os quatro módulos seguintes. O quarto módulo está totalmente focado no “Empreendedorismo” e no “Comportamento Empreendedor”. Trata-se de um módulo que oferece a você as bases de uma visão empreendedora. Você vai aprender, por exemplo, como pensam e agem os verdadeiros empreendedores. Mais ainda, o módulo vai mostrar todos os cuidados que os empreendedores devem tomar na hora de empreender seus novos negócios. O quinto módulo traz um apanhado geral sobre o tema “Governança Corporativa”. Nele você vai encontrar informações ricas e consistentes sobre o conceito de governança. Vai entender, por exemplo, os motivos que fazem com que organizações no mundo todo estejam empenhadas em implantar os princípios básicos da governança, quais são os agentes que atuam em sua composição e principalmente o papel de cada agente em sua operação cotidiana. O sexto módulo está associado ao tema “Conhecimento nas Organizações”. A partir de uma sólida base conceitual você vai compreender como o aprendizado e a difusão de novos conhecimentos atua no sentido de criar dentro das organizações uma vantagem competitiva sustentável. Finalmente, o sétimo e último módulo relaciona-se com o conceito de “Sustentabilidade Organizacional”. Nesse módulo você vai compreender a importância da sustentabilidade no mundo moderno e porque organizações das mais variadas áreas de negócio estão preocupadas em implantar os conceitos da sustentabilidade. Como você pode perceber, a disciplina “Administração Contemporânea” tem um conteúdo amplo e consistente. Portanto, acreditamos que ao seu término, a partir da base de conhecimentos adquiridos, você será capaz de compreender e agir em organizações dos mais variados portes e dos mais diversos setores de atuação. Então vamos lá. Mãos à obra! Administração Contemporânea Página 3 UNIDADE I – TEMAS SEMPRE ATUAIS 1.0. CULTURA ORGANIZACIONAL E PODER 1.1. Objetivos É objetivo deste módulo que você compreenda os principais conceitos relacionados ao tema “Cultura Organizacional”. Ao final do módulo você deverá estar apto a diagnosticar, avaliar e compreender os impactos da cultura e do poder a ela associado, no desempenho das empresas bem como das pessoas. 1.2. Sumário • Orientações para estudo. • Introdução. • Formação e evolução da cultura. • Cultura organizacional. • Estudo da cultura organizacional • Gestão e mudança da cultura. • Cultura e poder nas organizações. • Processos de fusão e os choques culturais. • Considerações finais. • Resumo. • Bibliografia. 1.3. Orientações para estudo Para estudar e compreender em sua totalidade o módulo “Cultura Organizacional e Poder”, você deverá cumprir todos os requisitos especificados a seguir: • Ler e compreender todo o texto apresentado no módulo. • Refletir e/ou cumprir com tudo aquilo que é solicitado nos tópicos “Pense” e “Verifique” que você vai encontrar ao longo do módulo. • Acessar, ler e compreender o conteúdo dos links que são indicados do decorrer do módulo. Lembre-se que para o perfeito aproveitamento de todo o conteúdo, faz-se necessário o seu máximo empenho e dedicação. Procure fazer uma auto avalição ao final de cada Administração Contemporânea Página 4 leitura. Caso você tenha ficado com dúvidas, é recomendável que você leia o texto novamente. 1.4. Introdução Você já deve ter percebido como as discussões sobre o tema “cultura organizacional” estão sempre presentes nas atividades de trabalho do dia-a-dia. Nas reuniões técnicas, administrativas, de caráter estratégico, ou mesmo no “bate papo” informal do cotidiano, alguém sempre recorre aos traços ou aos valores culturais da organização para explicar um fato, determinar uma posição, analisar um ponto de vista ou, até mesmo, justificar uma decisão. Há que se ressaltar, no entanto, as dificuldades existentes quando se procura apreender os processos culturais. Não se trata de um tema de fácil pesquisa e, muito menos ainda, de fácil compreensão. Estudar a cultura, em especial a Cultura Organizacional, é uma tarefa extensa e complexa. Podemos ter uma ideia dessa complexidade, quando nos atentamos para o elevado número de publicações e, consequentemente, de autores renomados que tratam do tema sem, no entanto, apresentar respostas únicas ou mesmo definitivas. De fato não há e provavelmente nunca haverá, respostas concretas e definitivas. A cultura, por sua própria natureza, é uma disciplina que se desenvolve em função do ambiente onde ela está inserida. Assim, dependendo das características e, principalmente dos valores que permeiam o ambiente, a cultura adquiri formas diferenciadas, ou seja, não existem duas culturas iguais. Além disso, a cultura não é uma disciplina estática. Ela se modifica na medida em que as variáveis do ambiente se modificam. Como na atualidade as mudanças são extremamente aceleradas, as características culturais que são observadas hoje em uma sociedade, certamente não estarão em perfeita harmonia com as características que iremos observar no futuro. Nesta altura, você deve estar se questionando: em função dessas limitações é válido o estudo da cultura organizacional? Indubitavelmentesim. As limitações existem, mas não podemos desconsiderar a relevância das informações que podem ser obtidas a partir do seu estudo. Compreender a cultura de uma organização, ainda que parcialmente, é fundamental para compreender a sua própria dinâmica interna. Muito mais do que ser um simples modismo, estudos nesta área têm permitido compreender as organizações além daqueles aspectos abordados nas análises estruturais mais clássicas. É possível, por exemplo, através desses estudos, responder por que surgem tantas barreiras aos processos de mudança que as organizações implantam na busca pela solução de problemas. Porque valores, aparentemente sem Administração Contemporânea Página 5 importância na organização, podem, quando questionados, inviabilizar todo um trabalho bem planejado de reorganização. Sem dúvida é um tema que merece atenção. Neste módulo, você vai conhecer os principais elementos que dão origem à cultura de uma organização. Vai entender como ela se desenvolve, evolui e, principalmente, como afeta a vida de todos. Pense! Quais são os traços culturais da sua família que a distingue das famílias de seus amigos? Reflita um pouco sobre a questão. Note como esses traços são determinantes no padrão de comportamento de seus familiares. 1.5. Formação e evolução da cultura Como já dissemos, o tema “cultura” envolve um conteúdo teórico bastante extenso e por vezes complexo, exigindo longos e dedicados estudos para sua apreensão. Por este motivo, este trabalho não pretende abordar exaustivamente todo conteúdo teórico, mas sim resgatar alguns aspectos importantes que possam auxiliar na compreensão do tema. O primeiro problema que se coloca em termos de cultura é se ela pode ou não ser objeto de estudo. De acordo com o antropólogo britânico Edward Tylor é possível estudar a cultura, já que ela é um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capaz de proporcionar a formulação de leis. A partir desse pressuposto, o passo seguinte é entender como a cultura se desenvolve e, a partir daí, como evolui e se transforma. Na visão da antropologia social, a cultura é o conjunto de significados compartilhados por um grupo, que permite a seus membros interpretar e agir sobre seu ambiente. Esse conceito, bastante simples em sua definição, revela dois elementos importantes: coletividade e comunicação. O primeiro exprime a necessidade de grupos humanos como meio propício ao desenvolvimento da cultura, enquanto o segundo refere-se à transmissão da informação como elemento chave de sua evolução. Na verdade, para o desenvolvimento da cultura é necessário que, além dos grupos, existam as interações sociais entre seus membros. Dessas interações surgem os sistemas ideacionais que se expressam através dos valores, das crenças, dos mitos, das religiões, dos folclores etc. São esses sistemas de ideias, desenvolvidos no âmbito grupal e expressos por representações simbólicas, que classificam e dão sentido ao mundo natural das pessoas. Administração Contemporânea Página 6 Esse conceito de interacionismo simbólico é fortemente explorado por vários sociólogos. Na obra “A Construção Social da Realidade”, os autores Peter Berger e Thomas Luckmann (2006) defendem a ideia de que a vida cotidiana se apresenta para os homens como realidade ordenada. Os fenômenos estão pré-arranjados em padrões que parecem ser independentes da apreensão que cada pessoa fez deles, individualmente. Assim, a realidade se impõe como objetivada, isto é, constituída por uma série de objetivos que foram designados como objetos antes da “minha” aparição em cena. O indivíduo percebe que existe correspondência entre os significados por ele atribuídos ao objeto e os significados atribuídos pelos outros, isto é, existe o compartilhar de um senso comum sobre a realidade. Um elemento importante nesse processo de objetivação é a produção de signos, ou seja, sinais que têm significações. Como exemplo, a linguagem é um conjunto de signos com a capacidade de comunicar significados. Ela representa uma forma de transmissão da informação entre os membros dos grupos. Ainda segundo Berger e Luckmann, quando um grupo social tem que transmitir a uma nova geração a sua visão do mundo, surge a necessidade da legitimação. A legitimação consiste em um processo de explicar e justificar a ordem institucional, prescrevendo validade cognitiva aos seus significados objetivados. A linguagem, como parte integrante do universo simbólico, atua como principal via de difusão cultural. Entretanto, é preciso observar que esse processo não é estático. Independentemente da velocidade, qualquer sistema cultural, quer pela dinâmica do próprio grupo onde se originou, quer por contatos com outros sistemas, está em constante mudança, o que determina sua evolução e transformação. Uma vez discutidos os caminhos que levam ao aparecimento e evolução da cultura, vamos retornar ao ponto em que classificamos as interações sociais dos grupos, como responsáveis pela geração dos sistemas ideacionais. Na verdade só podemos falar em cultura na presença de situações sociais ordenadas, voltadas para um objeto comum. Assim, a existência da cultura em um determinado grupo está vinculada à condição essencial da interação social ordenada na busca de um objetivo comum. Essa condição exige dos elementos de um grupo formas comuns de apreender o mundo. Em outras palavras, ela só pode ser tida como certa quando o grupo possui uma identidade. Em qualquer sociedade deve existir um mínimo de participação do indivíduo no conhecimento da cultura. Aprender a agir em determinadas situações e a prever o comportamento dos outros é condição essencial para o relacionamento do indivíduo com os demais membros do grupo. Esse processo de aprendizagem é conhecido como socialização. Administração Contemporânea Página 7 A socialização é, portanto, um processo comum a que todos somos submetidos. Em linhas gerais, a socialização é responsável por determinar, por exemplo, como uma pessoa deve agir quando está diante de determinada situação. Você já deve ter percebido o tanto que as pessoas se esforçam para adotar padrões de comportamento semelhantes aos demais membros que compõem o seu grupo de referência. A criança que imita os mesmos atos que seus coleguinhas de escola. O trabalhador que adota o mesmo tipo de vestimenta utilizado pela maioria dos profissionais da empresa. O adolescente que possui os mesmos hábitos e costumes do time de amigos da sexta à noite etc. Todos esses são exemplos dos “efeitos” causados pelo processo de socialização. A socialização ocorre em diferentes grupos sociais dentro de uma mesma sociedade. Isto porque dentro de um mesmo sistema social existem múltiplos subsistemas como, por exemplo, as estratificações de classe. Assim, também dentro dos sistemas culturais encontramos inúmeros subsistemas, cada um reunindo características diferentes em função da natureza dos indivíduos que agrega. São muitos os subsistemas culturais e sempre coincidentes com algum subsistema social. Como exemplo, entre outros podemos citar os subsistemas regionais, étnicos e religiosos. Ainda nesse contexto, as organizações surgem como um subsistema cultural, já que representam grupos de pessoas com identidades claramente definidas. A seguir passaremos a analisar o processo cultural dentro das organizações. 1.6. Cultura organizacional A cultura dentro de uma organização, ou cultura organizacional como é frequentemente denominada, é herdada em uma primeira instância da sociedade em que se insere a organização, e é trazida para dentro por seus membros. Na medida em que a organização amadurece, a cultura vai sendo moldada, passando, depois de algum tempo, a representar um sistema de valores e crenças compartilhadas que modelam tanto os estilos de gestão quanto os comportamentos subalternos.Pode-se dizer que estas duas fases separam as organizações que “têm cultura” daquelas que efetivamente “são uma cultura”. Para entendermos como uma cultura se solidifica e se estabelece como inerente a uma organização, ou seja, para determinarmos quando uma organização é uma cultura, é necessário descobrirmos seus pressupostos básicos. O renomado psicólogo e professor americano Edgar Schein (2009) defini a cultura organizacional como: “conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externo e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos Administração Contemporânea Página 8 membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas”. Dentro desse enfoque, estudar a cultura organizacional não é tarefa simples, pois como veremos mais detalhadamente nos itens seguintes, assim que os pressupostos passam a ser aceitos como corretos pelos membros de uma organização desaparecem da percepção consciente e se tornam quase que invisíveis a estranhos. Dessa forma, para estudar e entender a cultura de uma organização em sua plenitude passa a ser necessário estudar até os pontos mais desarticulados. Verifique! Ouça no Portal HSM a entrevista com Daniel Moczydlower, CEO da Chemtech, empresa de engenharia especializada na área de petróleo, controlada pelo grupo Siemens. Nessa entrevista ele fala sobre comoa cultura da empresa foi determinante para a empresa estar entre as premiadas no Great Place to Work (Melhor Empresa para se Trabalhar). O endereço é: (http://www.hsm.com.br/audios/capacitacao-e-cultura-organizacional-sao-os-destaques-da- chemtech) 1.7. Estudo da Cultura Organizacional O estudo da cultura organizacional, apesar de não ser tão complexo como o estudo da sociedade, cuja língua e costumes extremamente diferentes exige longo convívio com ela para compreendê-la na totalidade, é um processo difícil de ser conduzido. As organizações existem dentro de uma cultura “mãe”, sendo que muito do que encontramos na cultura organizacional é derivado das premissas dessa cultura mãe. O que se percebe é que muitas vezes as organizações enfatizam ou amplificam diferentes elementos dessa cultura de origem. Dessa forma, o problema de decifrar a cultura de uma organização específica é um processo de evidenciar as premissas, que serão reconhecíveis tão logo tenham sido descobertas. No entanto, fica difícil o reconhecimento de formas diferentes de pensar, perceber e sentir se o pesquisador tiver origem na mesma cultura mãe em que está imersa a organização que se quer estudar. Independentemente desses complicadores para o processo de investigação, a cultura organizacional pode ser analisada e desvendada basicamente em vários e diferentes níveis, como abordados a seguir. Administração Contemporânea Página 9 • Objetos Visíveis. Os objetos visíveis representam o primeiro nível de investigação da cultura. Estes compreendem, entre outros, o ambiente físico da organização, sua arquitetura, tecnologia, disposição dos escritórios e salas de trabalho, maneira de se vestir de seus membros, padrões visíveis e audíveis de comportamento, documentos de conhecimento gerais, estórias e até possíveis anedotários. Note-se que este nível pode ser considerado traiçoeiro, pois apesar de facilmente observado é difícil de ser interpretado. • Valores Admitidos Para entendermos a cultura é necessário saber por que as pessoas se comportam de uma ou de outra maneira. Desta forma, além dos objetos visíveis é necessário buscarmos os valores que regem o comportamento. Esses valores formam o segundo nível de observação da cultura. Os valores são, entretanto, difíceis de serem identificados pela observação direta, sendo desta maneira, necessário inferi-los através de entrevistas dos membros da organização, ou análise de documentos, regulamentos e normas em uso, quer sejam escritas ou simplesmente praticadas. Em um levantamento mais superficial da questão iremos encontrar os valores admitidos, isto é, aqueles que refletem o que as pessoas dizem ser a razão do seu comportamento, ou o que elas gostariam idealmente que fosse. Entretanto, neles não estão as razões subjacentes, aquelas que consideramos a “razões de fato”, pois estas permanecem ocultas ou inconscientes. • Pressupostos Básicos Para entendermos realmente uma cultura necessitamos chegar ao terceiro nível de observação, ou seja, aos pressupostos básicos. Estes pressupostos são respostas aprendidas que se originam como valores admitidos. Como, porém, um valor estimula um comportamento e esse comportamento começa a resolver o problema que o motivou pela primeira vez, o valor gradualmente se transforma em pressuposto básico a respeito de como as coisas “realmente” são. O ponto chave é que quando o pressuposto básico passa a ser “tido como certo”, ele desaparece da percepção consciente. Os pressupostos básicos, tidos como certo, tornam-se poderosos porque estão menos sujeitos à crítica e à comparação do que os valores admitidos, ou manifestos. Sabemos que estamos diante de um desses pressupostos quando encontramos em Administração Contemporânea Página 10 nossos interlocutores, resistência a discutir determinado assunto, ou quando eles nos consideram malucos ou ignorantes ao levantarmos dúvidas a respeito de como esse assunto está sendo conduzido. Você já deve ter percebido, por exemplo, como é inquestionável para os profissionais da área médica a ideia de que o papel da medicina é prolongar a vida. De modo geral, questionamentos a esse respeito da pertinência desse pensamento geram resistências imediatas, o que demonstra que estamos diante de um pressuposto básico da medicina. Dizer que os pressupostos básicos são inconscientes não significa dizer que isso decorra de repressão. Na verdade, a repetição continuada de certos processos motivacionais e cognitivos e o êxito de seu emprego faz com que eles se tornem inconscientes, transformados em instrumentos de ação por força do hábito. Eles podem ser recuperados para a luz da percepção consciente somente por meio de inquirição altamente dirigida, similar àquela empregada pelos antropólogos. • Paradigmas Culturais Como a natureza humana exige sempre ordem e consistência, os pressupostos básicos assumem estruturação dentro de um esquema de paradigmas culturais, que unifica os pressupostos relacionados a diferentes aspectos existenciais. Desta forma, paradigma cultural pode ser definido como o conjunto de pressupostos que se perpassam, formando uma estrutura coerente de crenças. Vale ressaltar que nem sempre todos os pressupostos são necessariamente compatíveis ou consistentes. Como exemplo, se em determinada organização a crença é de que, em última análise, as boas ideias sempre resultam de esforços individuais, esse grupo não admitirá facilmente a ideia de que o mérito pelos resultados alcançados é coletivo. O contrário também pode ser verdadeiro. Nas organizações onde a crença estabelecida é a de que apenas o esforço coletivo é capaz de criar boas ideias, tudo será feito em prol dos trabalhos em grupo. Para que você possa investigar mais profundamente os Paradigmas Culturais de uma organização, você pode analisar os aspectos apresentados a seguir. � O Processo de Socialização de Novos Membros Quando um novo membro integra a organização, os funcionários mais antigos se encarregam de transmitir valores e comportamentos já consolidados. A transmissão de soluções a novos membros do grupo é requisito fundamental para definir a cultura desse grupo. Isto porque a estratégia de integração é por si só um teste importante de quando dada solução é compartilhada e aceita como válida. Administração Contemporânea Página 11 Se um grupo passaadiante com convicção elementos de um modo de perceber, pensar e sentir, podemos acreditar que esse grupo teve estabilidade suficiente e compartilhou experiências comuns o bastante para ter desenvolvido uma cultura. Neste caso, através da entrevista com agentes de integração (supervisores, funcionários mais antigos etc.) é possível identificar algumas áreas importantes da cultura da organização. Pense! Quais foram os valores transmitidos por seus colegas quando você iniciou suas atividades na empresa em que você trabalha? Procure avaliar como, em princípio, você recebeu esses valores e, principalmente, como você os incorporou à sua vida no trabalho. � Os Fundadores e os Primeiros Líderes Tipicamente, o processo de solução de problemas é a maneira encontrada para se fazer as coisas, que são experimentadas e em seguida adotas ou rejeitadas dependendo de quão bem tenham funcionado. Em novos grupos ou em novas organizações a maioria absoluta das soluções culturais tem origem nos fundadores e nos primeiros líderes. Por este motivo, para se estudar a cultura de uma organização é imprescindível estudar a biografia destas pessoas, recuperando suas propostas, metas, sua visão de mundo e da organização, seu modo de agir e de avaliar os resultados. Vale ressaltar que ao longo do tempo o grupo realiza suas próprias experiências, encontrando soluções próprias. Isto significa que se no início a influência preponderante é dos fundadores, com o passar do tempo as soluções passam a ser fruto de experiência compartilhadas e da interação de experiência dos membros dos grupos. � O Histórico da Organização O resgate de todos os acontecimentos que cercaram a organização no momento de sua criação é um fator muito importante quando se deseja entender sua cultura. A investigação das dificuldades, das crises, dos fracassos e dos sucessos, das mudanças de postura e, principalmente, das soluções encontradas na resolução dos problemas, fornece material extremamente rico para o Administração Contemporânea Página 12 entendimento da cultura da organização. Construindo uma cuidadosa “biografia” organizacional a partir de documentos, entrevistas, e pesquisas dos fatos importantes do passado e do presente, é possível identificar períodos mais importantes da formação da cultura. Para cada crise é importante se determinar o que foi feito e qual o resultado. É importante salientar que no momento da criação o fundador tem papel preponderante, pois além de possuir a concepção total do projeto organizacional, tem em suas mãos o poder de desenvolver e estruturar as formas de trabalho dentro da organização. Verifique! Assista ao filme “O Diabo Veste Prada”, protagonizado por Anne Hathaway e Meryl Sreep. Divirta-se com uma excelente comédia e ao mesmo tempo entre em contato com vários elementos da cultura organizacional. Vale a pena conferir! 1.8. Gestão e mudança da cultura É possível gerenciar e modificar uma cultura? Esta pergunta é frequentemente encontrada nos estudos da cultura organizacional, e sua resposta é sim. Entretanto a mudança de uma cultura é extremamente difícil e muitas vezes traumática. Como bem nos coloca Maquiavel: “nada é mais difícil de realizar, mais perigoso de conduzir, ou mais incerto quanto ao seu êxito, do que iniciar a introdução de uma nova ordem de coisas, pois a inovação tem, como inimigos, todos aqueles que prosperaram sob as condições antigas, e como defensores tíbios todos aqueles que podem se dar bem nas novas condições”. Maquiavel é taxativo ao afirmar que os processos de mudança geram inúmeras resistências, notadamente porque as pessoas têm receio de “abrir mão” das posições conquistadas ou das coisas que efetivamente têm como “certas”. De modo geral, as pessoas vêm rapidamente nas mudanças aquilo que irão perder, mas têm apenas uma imagem turva daquilo que efetivamente poderão ganhar. Portanto, caso o líder da organização resolva propor mudanças, em especial as que geram transformações culturais mais acentuadas, ele deve ser claro em mostrar os porquês da mudança e, principalmente, o que as pessoas poderão obter no final do processo. Momentos de crise podem se tornar altamente favoráveis à realização de mudanças. As crises, tanto provocadas por fatores externos (desaceleração da economia, Administração Contemporânea Página 13 desestabilidade política, mudanças na legislação etc.), como por fatores internos (obsolescência da principal tecnologia, aparecimento de novas lideranças etc.), podem propiciar uma situação mais adequada para a introdução de mudanças na organização. Nos momentos de crise as pessoas compreendem que a organização necessita mudar para continuar sobrevivendo e, portanto, tornam-se muito mais tolerantes e receptivas. Vale ressaltar, que a evolução da cultura de um grupo pode servir a diferentes propósitos em diferentes momentos. Quando um grupo esta se formando, a cultura opera como uma “liga”. Em outras palavras, quando a organização é jovem a cultura atua no sentido de manter a organização unida, ou seja, ela atua como um amalgama que mantêm seus membros unidos em torno de um objetivo comum, em regra fazer com que a empresa consiga vencer os obstáculos do crescimento. A mudança de cultura na organização jovem pode ser descrita como adaptações às necessidades internas e externas que vão aparecendo. Quando a organização atinge a meia-idade, a cultura pode ser gerida e modificada, mas não sem levar em conta todas as fontes de instabilidade. A grande organização diversificada contém, provavelmente, muitos grupos funcionais com culturas próprias, algumas das quais podem estar em conflito com outras. Uma das difíceis decisões estratégicas com que os líderes se defrontam é se a organização deve reforçar a diversidade para se manter flexível diante das turbulências ambientais ou se deve criar uma cultura mais homogênea. Esta dificuldade é particularmente maior quando a alta direção desconhece as premissas culturais da organização. Finalmente, quando a organização atinge sua maturidade ou declínio, pode haver necessidade de se alterar parte de sua cultura. Neste ponto, processos de mudança são sempre dolorosos e provocam violenta resistência. Em casos extremos, a mudança pode não ser possível se em primeiro lugar não forem substituídas as numerosas pessoas que vão querer manter intocável o todo da cultura original. Em síntese, não existe modelo único de mudança. Os gerentes podem com êxito orquestrar a mudança, num contínuo que vai, desde a coerção pura e simples num extremo até a introdução sutil e lenta de novas ideias, no outro. Verifique! Leia o texto “Cultura Organizacional - os modismos, as pesquisas, as intervenções: uma discussão metodológica” de autoria da professora Maria Tereza Leme Fleury. Nele você vai encontrar técnicas de pesquisa utilizadas para diagnosticar a cultura das organizações. O endereço é: (http://www.rausp.usp.br/download.asp?file=2401003.pdf) Administração Contemporânea Página 14 1.9. Cultura e poder nas organizações Analisar a cultura organizacional a partir da dimensão do poder, a exemplo das demais dimensões, está longe de ser uma tarefa simples. No entanto, o estudo do poder é extremamente importante, visto que é somente a partir do entendimento de sua estrutura que é possível compreender com maior grau de precisão algumas características da dinâmica organizacional. O estudo do poder inicia-se pelo “dono” da organização. No início do empreendimento é ele que centraliza em “suas mãos” praticamente todo o poder. Das questões mais simples da rotina administrativa até as mais estratégicas, responsáveis por moldar os caminhos futuros, é dono que avalia a situação e toma a decisão final. Cabe a ele, em especial, decidir sobre as pessoas que irão fazer parte do contexto organizacional. Em função da própria dimensão daorganização, esse período é, normalmente, caracterizado por pressões internas mais tênues. No tocante à legitimação do poder, dois fatores são determinantes. O primeiro sedimenta- se na função da propriedade, o que significa dizer que por ser o “dono do negócio” o proprietário adquire os diretos que lhes são conferido pelo poder legalmente constituído. O segundo ocorre como efeito do princípio da tradição, princípio este que o reveste, enquanto “dono da ideia”, com um manto de confiança e respeito. Em síntese, pessoas o seguem por seu poder legal e pelo poder dos costumes. Na medida em que a organização amadurece, se desenvolve e, principalmente, cresce, o poder vai sendo gradualmente difundido. Isso não significa, no entanto, que o proprietário seja colocado de lado ou, ainda pior, que ele perca o poder. De modo geral, o poder passa a ser descentralizado em função da própria dimensão que a organização alcança. Os novos detentores do poder são profissionais competentes que, por seus elevados conhecimentos, são considerados aptos para gerir a organização. Normalmente são dotados de habilidades que o proprietário não possui. Esta é, em síntese, a etapa da profissionalização. É importante notar, no entanto, que a difusão do poder nem sempre ocorre de maneira perfeitamente distribuída. O centro do poder pode se deslocar de uma função para outra, ou mesmo de uma pessoa para outra, dependendo do que ocorre com a organização ao longo de sua história. Por vezes, o centro do poder está na área comercial que é, no final das contas, quem “dita as regras do jogo”. Nas organizações onde isso ocorre, o paradigma cultural está focado no pressuposto de que todo o sustento depende, em essência, da comercialização dos produtos e serviços. Em outras, pode-se observar a área financeira como a que efetivamente “dá as cartas”. O paradigma vigente, neste caso, é de que o controle do dinheiro garante a sustentação do negócio. Há, ainda, Administração Contemporânea Página 15 aquelas que se apoiam nas decisões das áreas de tecnologia, porque entendem que são as inovações tecnológicas que garantem a vantagem competitiva da organização. A análise da história da organização pode nos ajudar a compreender porque, ao longo do tempo, o poder acaba centralizado em uma determinada área em detrimento das demais. Uma crise institucional, por exemplo, em que a área financeira tenha conseguido encontrar o “caminho da salvação”, pode ajudar a explicar porque ela se tornou a detentora do poder. A energia é um dos elementos que reveste o poder. Por este motivo ele tem a capacidade de modificar a organização. De fato, os valores culturais de uma organização dificilmente se modificarão se não forem impulsionados por aquele que detêm o poder. Cale enfatizar, por último, uma dicotomia existente na própria modelagem do poder. De um lado é notório o fato de que o poder não pode ser analisado e compreendido, senão à luz da própria cultura organizacional. Por outro, é ele que, uma vez instituído, molda a cultura, ajudando a impregná-la na organização. Além disso, não há como desconsiderar a função de legitimador que o poder exerce em relação à cultura. É ele quem sanciona os valores culturais ajudando a manter a cultura existente. Finalmente, é o poder que têm a energia suficiente para transformar a cultura. A cultura não muda se não pela própria influência e ação direta do poder dominante. 1.10. Processos de fusão e os choques culturais Na atualidade, os processos de fusão vêm sendo largamente utilizados pelas organizações na busca por diferenciais competitivos que garantam a sobrevivência e o crescimento em ambientes altamente competitivos. O processo de fusão entre duas ou mais organizações, além de garantir um crescimento acelerado, permite o compartilhamento de competências complementares, a minimização dos riscos e a diluição dos custos. Em muitos casos, as organizações incorporadas ganham market share, porque passam a desfrutar de uma cadeia logística abrangente e eficaz. Estudos mostram que os processos de fusão têm se intensificado nos últimos anos, em especial após a crise mundial desencadeada no final do ano de 2008. Além das muitas organizações que já se envolveram em algum processo de fusão, existem inúmeras outras que planejam fazer o mesmo em futuro próximo. No entanto, o caminho da fusão tem um desvio perigoso: harmonizar valores e culturas dispares é uma tarefa impar na vida de qualquer organização. Pesquisas mostram que o choque cultural, e as consequências dele advindas, é o maior obstáculo que surge durante transição, ou seja, durante o período subsequente à fusão em que as duas organizações trabalham para definir a forma conjunta de atuação. Por conta dos Administração Contemporânea Página 16 problemas causados pelo contraponto entre culturas diferentes, são inúmeros os casos de fusão que não apresentam os resultados esperados ou, ainda pior, não se sustentam em longo prazo e acabam sendo desfeitos. De nodo geral, as pessoas têm medo do que pode acontecer após a fusão, por esse motivo elas resistem. Utilizam qualquer motivo disponível para provar que a fusão não é um caminho viável. E quando isso ocorre, é praticamente certo que o processo nunca alcance um denominador comum. Para contornar esses problemas, as organizações que se envolvem em processos de fusão cultural precisam elaborar um consistente sistema de planejamento. Assim, o planejamento deve considerar alguns pontos fundamentais para que o processo apresente resultados efetivos. São eles: • Comunicação . As pessoas precisam entender o processo. A falta de informação é, indiscutivelmente, um dos principais motivos que gera a resistência. Em casos extremos, pode conduzir as pessoas à pratica do boicote. Manter as pessoas informadas sobre tudo o que acontece em relação ao processo, ajuda sobremaneira a aliviar as tensões e, consequentemente a diminuir as resistências. • Conscientização . As pessoas precisam saber os porquês. A organização deve ser clara em relação aos motivos que a levaram a optar pela fusão e como o processo como um todo será conduzido. Mais ainda, precisam conhecer sua função dentro do processo bem como o ganho que ele trará para todos. Deve evidenciar os valores que pretende preservar, assim como os que deseja modificar ou eliminar. A conscientização é, sem dúvida, uma excelente maneira de obter o aceite e o consequente compromisso da maioria. • Retenção de talentos . É quase certo que muitas pessoas de talento deixem a organização logo após a consolidação do processo de fusão. Em regra, as pessoas procuram outras oportunidades porque se sentem inseguras em relação ao futuro. Assim, mostrar que a organização respeita as pessoas e, principalmente, prima pela manutenção de seus colaboradores é uma das medidas a serem adotadas dentro do planejamento. • Compromisso com a verdade . Antes e durante o processo de fusão, a organização só deve prometer aquilo que efetivamente tem condições de cumprir. Promessas não cumpridas representa o caminho mais curto para a desconfiança, a frustração e, consequentemente, o desentendimento. Assim, antes de iniciar o processo, a organização deve assumir o compromisso de ser transparente, só falar a verdade e agir sempre com a máxima coerência. Administração Contemporânea Página 17 Os itens listados apontam algumas providências que podem e devem ser levadas a efeito quando a fusão de culturas ocorre. No entanto, não há como desconsiderar as dificuldades inerentes ao processo. Fundir culturas significa mexer com sentimentos compartilhados ou, de outra forma, com paradigmas culturais fortemente estabelecidos. É exatamente por esse motivo que tantas iniciativas de incorporação fracassam em todo o mundo. Sabemos que não existe fórmula mágica para resolver a questão. No entanto, a simples compreensão do fato de que asresistências irão ocorrer, porque fazem parte da própria natureza humana, abrem uma oportunidade para que possamos planejar como o processo será estruturado de modo a permitir o envolvimento de todos. Certamente, o planejamento não garante o sucesso absoluto da fusão, mas pode, pelo menos em parte, ajudar na conscientização e na integração cultural das pessoas. 1.11. Considerações finais De acordo com todos os aspectos abordados neste texto, podemos sintetizar os seguintes pontos: • A cultura está sempre em formação e mudança; • A cultura tende a cobrir todos os aspectos da vida humana; • A cultura é aprendida em torno de pontos relevantes para a adaptação externa e integração interna; • A cultura é, em última análise, corporificada como um conjunto de crenças básicas estruturadas e inter-relacionadas, crenças estas que têm a ver com assuntos fundamentais como a natureza humana, o relacionamento entre os seres humanos, os conceitos de tempo, espaço, a essência da realidade e da verdade; • A cultura pode ser a diferença entre as organizações longevas e aquelas que têm pouca chance de sobreviver. Por último, faz-se necessário destacar novamente a importância de se compreender e de se atuar sobre a cultura organizacional. Se existe a convicção de que até mesmo as estratégias competitivas das organizações são fundamentadas em seus valores culturais, então fica evidente que não é possível entender o modelo de gestão de uma organização sem que se compreenda, ainda que parcialmente, sua própria cultura. 1.12. Resumo A cultura é um conjunto de significados que um grupo de pessoas compartilha e que lhe permite interpretar e agir sobre o ambiente à sua volta. Dois elementos são considerados Administração Contemporânea Página 18 básicos para que a cultura possa germinar: coletividade e comunicação. O primeiro deles expressa a necessidade dos grupos humanos para que a cultura se desenvolva. O segundo denota a importância da transmissão da informação como elemento que permite a evolução da cultura. Ressalta-se a importância da linguagem como via de difusão cultural, ou seja, a linguagem é o principal meio que permite a disseminação da cultura entre as pessoas. Note que a cultura não é um processo estático, ou seja, em maior ou menor velocidade, ela está sempre se modificando. A existência da cultura depende essencialmente da interação social. É necessário que as pessoas interajam buscando objetivos comuns para que a cultura possa florescer. A interação leva as pessoas a aprenderem, umas com as outras, como devem agir em determinadas situações. Esse processo de transmissão de ideias e pensamentos denomina-se socialização. A formação da cultura dentro das organizações, denominada de cultura organizacional, acorre em um processo análogo ao da sociedade. Em um primeiro momento ela é trazida para dentro pelas pessoas que dão início à organização. Na medida em a organização amadurece a cultura vai se transformando passando, após algum tempo, a formar um conjunto de valores e crenças compartilhadas que modelam tanto os estilos dos gestores quanto dos geridos. A cultura organizacional pode ser analisada por meio do estudo de vários elementos organizacionais. O primeiro está relacionado com os “Objetos Visíveis”. Eles representam o primeiro nível da investigação cultural. Compreendem, entre outros, a infraestrutura da organização, seu modelo arquitetônico, arranjo do ambiente de trabalho, vestimentas utilizadas pelas pessoas, padrões de comportamento visíveis e audíveis, tecnologias empregadas, sistema de documentação, estórias etc. O segundo diz respeito aos “Pressupostos Básicos”. Estes representam respostas aprendidas que se originam como valores admitidos. Quando as pessoas adotam um determinado comportamento para solucionar um problema e este comportamento apresenta resultados satisfatórios, ele se transforma, gradualmente, em um pressuposto básico, ou seja, passa a ser visto como o caminho certo de pensar e agir em relação ao problema. Vale lembrar que quando um pressuposto básico passa a ser compreendido como a maneira correta de fazer as coisas, ele desaparece da percepção consciente, o que dificulta sua observação. O terceiro elemento a ser estudado está associado com os “Paradigmas Culturais”. A natureza humana exige sempre ordem e consistência das coisas, motivo pelo qual os pressupostos básicos assumem estruturação dentro de um esquema de paradigmas culturais. Em linhas gerais, os paradigmas culturais podem ser definidos como o conjunto Administração Contemporânea Página 19 de pressupostos que se perpassam, formando uma estrutura coerente de crenças. A investigação dos paradigmas culturas pose ser feita por meio da análise dos seguintes aspectos: Socialização de Novos Membros. Representa o processo por meio do qual um novo membro que integra a organização é “socializado” pelos funcionários mais antigos, que se encarregam de transmitir valores e comportamentos já consolidados. Vale lembrar que a transmissão de soluções a novos membros do grupo é requisito fundamental para definir a cultura desse grupo Fundadores e Primeiros Líderes. De modo geral, nas organizações jovens a maioria das soluções culturais tem origem nos fundadores e nos primeiros líderes. Por este motivo, para estudar a cultura de uma organização é imprescindível estudar a biografia destas pessoas, recuperando suas propostas, metas, sua visão de mundo e da organização, seu modo de agir e de avaliar os resultados. História da Organização. O estudo de todos os fatos e acontecimentos que marcaram a organização, quando de sua fundação, é um fator determinante para entender sua cultura. O estudo dos momentos de crise, de fracassos e de sucesso, assim como o entendimento das mudanças de rumo que ocorreram ao longo do tempo fornece indícios primorosos para que a cultura possa ser compreendida com relativo nível de profundidade. A cultura de uma organização pode ser modificada, mas este não é um processo simples. Em regra, trata-se de um processo demorado, uma vez que as pessoas relutam muito em mudar seus valores mais arraigados. Momentos de crise podem ser mais favoráveis à transformação da cultura, visto que as pessoas ficam mais sensibilizadas e, portanto, mais abertas para trilhar novos caminhos. O poder, no início do empreendimento, está centrado nas mãos do proprietário do negócio. É ele que avalia e decide sobre as principais questões técnicas e administrativas. Na medida em que a organização amadurece o poder vai sendo gradualmente difundido. Isto não significa, no entanto, que o proprietário perca o poder. Normalmente ele apenas o descentraliza. Neste caso, os novos detentores do poder são profissionais competentes, considerados aptos para gerir a organização. Esta etapa da organização é conhecida como “profissionalização”. As organizações da atualidade buscam nos processos de fusão vantagens para competir em mercados altamente concorrenciais. No entanto, o processo é difícil de ser conduzido porque, em linhas gerais, implica na junção de culturas diferentes. Assim, uma das formas de se aliviar as tensões geradas pelo “choque cultural” é efetivar um processo de planejamento que, entre outros, considere os quatro aspectos listados a seguir: comunicação, conscientização, retenção de talentos e compromisso com a verdade. Administração Contemporânea Página 20 1.13. Bibliografia BERGER, Peter. A Construção Social da Realidade: Trabalho de Sociologia do Conhecimento. Rio de Janeiro, Vozes, 34ª edição, 2006. Da MATTA , Roberto. O Que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro, Rocco, 2002. FLEURY, Maria Tereza Leme & FISCHER, Rosa Maria. Cultura e Poder nas Organizações. São Paulo, Atlas, 2005. FLEURY, Maria Tereza Leme. “Cultura Organizacional - os modismos, as pesquisas, as intervenções: uma discussão metodológica”. São Paulo, Revista deAdministração, nº 24 (1): 3-9, janeiro/março 1989. FREITAS, Maria Ester de. Cultura Organizacional: Grandes Temas em Debate. São Paulo, tese de mestrado apresentada à FGV/EAESP, 2005. LAPLANTINE , François. Aprender Antropologia. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987. LARAIA , Roque de Barros. Cultura. Rio de Janeiro, Editora Jorge Zahar, 1986. PAGÈS, Max et alli. O Poder das Organizações. São Paulo, Atlas, 1987. SCHEIN, Edgar. Organizational Culture and Leadership. São Francisco, Jossey-Bass, 2009. THÈVENET, Maurice. Cultura de Empresa - Auditoria e Mudança. Lisboa, Monitor, 2002. Administração Contemporânea Página 21 2.0. LIDERANÇA 2.1. Objetivo É objetivo desse capítulo que você compreenda o verdadeiro conceito de liderança, as principais características dos líderes, como eles agem e pensam, bem como as principais ferramentas que utilizam. Além disso, ao final da disciplina você deverá entender que o líder não nasce pronto uma vez que a liderança é parte natural da vida, uma habilidade que pode ser apreendida e construída. 2.2. Sumário Orientações para estudo. Introdução. O líder e seu poder de comunicação. O líder frente às diferenças individuais. O líder e a criação de significados compartilhados. O líder despertando o melhor das pessoas. Considerações finais. Resumo. Bibliografia. 2.3. Orientações para estudo Para estudar e compreender em sua totalidade o módulo “Liderança”, você deverá cumprir todos os requisitos especificados a seguir: • Ler e compreendertodo o texto apresentado no módulo. • Refletir e/ou cumprir com tudo aquilo que é solicitado nos tópicos “Pense” e “Verifique” que você vai encontrar ao longo do módulo. • Acessar, ler e compreender o conteúdo dos links que são indicados do decorrer do módulo. Lembre-se que para o perfeito aproveitamento de todo o conteúdo, faz-se necessário o seu máximo empenho e dedicação. Procure fazer uma auto avalição ao final de cada leitura. Caso você tenha ficado com dúvidas, é recomendável que você leia o texto novamente. Administração Contemporânea Página 22 2.4. Introdução Falar sobre liderança parece tarefa simples, principalmente quando se leva em consideração os inúmeros trabalhos existentes sobre o tema. Trata-se de um assunto extremamente comum nas publicações atuais, mesmo naquelas focadas em áreas de estudo que não possuem conexão aparente com o tema, como, por exemplo, a teologia. Fato concreto é que especialistas das mais diversas áreas do conhecimento, como psicologia, filosofia, administração, teologia, economia, apenas para citar algumas, têm se aventurado a estudar e a discorrer sobre o assunto. Não podemos dizer que a liderança é a nova tendência no mundo organizacional porque não se trata de um estudo focado em um novo campo do conhecimento, mas, certamente podemos dizer que nos últimos anos ela tem marcado sua presença em todos os estudos que se propõem a analisar novos conhecimentos. No contexto organizacional é possível encontrar um pouco de tudo. Dos textos que focam a liderança como um “dom” inato das pessoas e, neste caso, privilégio de poucos, até aqueles que defendem a ideia de que as pessoas são, em essência, líderes visto que, em maior ou menor grau, todas são portadoras do gene da liderança, passando por aqueles que acreditam que liderança é uma competência e que como tal pode ser totalmente desenvolvida, existem centenas de trabalhos escritos nas últimas décadas, que seguem as mais variadas linhas de construção do pensamento. Há os que simplificam demasiadamente a questão, emoldurando a liderança dentro de um contexto extremamente lógico e racional. Não raro, desenvolvem sua lógica baseada no pressuposto de que todos os lideres são semelhantes e que, portanto, podem e devem ser analisados à luz de uma lista de requisitos básicos. Para estes trabalhos, o verdadeiro líder é aquele que se enquadra perfeitamente bem em todas as qualificações que compõem a referida lista. Portanto, um modelo simples e indiscutivelmente prático de se identificar um líder. Notadamente não há como discutir o fato de que todo líder necessita ter várias qualidades que o tornam, sob alguns aspectos, uma pessoa especial e singular. A questão é que as tais listas de qualificações costumam ser tão extensas e abrangentes que sua simples observação nos remete a algumas questões fundamentais, como: existem pessoas capacitadas a cumpri-las? Ou, para ser líder é preciso ser “perfeito”, alguém que não se enquadra no rol dos “simples mortais”? Será realmente esse o caminho? Obviamente um grande líder é alguém especial, mas todos aqueles líderes que conhecemos estão longe de serem “semideuses”. Há, portanto, algo de muito frágil nessa linha de raciocínio. Há outros tantos trabalhos que transitam pela linha das grandes discussões filosóficas. Discutem a psicodinâmica do ser humano, procurando entender o líder em toda sua complexidade psicossocial. Estudam as pessoas em cargos de liderança com o firme propósito de encontrar respostas na formação de suas personalidades ou, um pouco mais simplificadamente, na maneira como foram criadas, aculturadas, socializadas e educadas. Administração Contemporânea Página 23 Em regra, apoiam-se em uma abordagem teórica extensa que, por vezes, trazem informações interessantes do ponto de vista acadêmico, mas que na maioria dos casos não apresentam respostas convincentes a questões básicas, como: o que faz de um homem um grande líder? Portanto, a conclusão a que podemos chegar é que a incursão no tema liderança está longe de ser uma jornada curta e fácil. Compreender e, a partir daí, escrever sobre liderança é, em linhas gerais, uma tarefa complexa, principalmente quando se deseja entender com maior grau de profundidade a dinâmica da integração que ocorre entre um grupo de pessoas e alguém que se propõe a – de certa forma e em certa medida – liderar esse grupo. Notadamente, ser um líder destacado não é uma coisa simples, assim como também não é simples ser um profissional renomado em qualquer área ou tipo de profissão. A boa noticia, no entanto, é que, assim como é possível preparar-se para se um bom profissional, também é possível preparar-se para ser um líder eficaz. Os melhores estudos sobre o tema já comprovaram que todas as pessoas têm dentro de si o espírito de liderança. Desejando ou não, em algum momento da vida todos assumem o papel de líder. Quando na função de pai, orientamos nossos filhos sobre o que é certo ou errado ou explicamos como se comportar diante de situações inusitadas, estamos agindo como líder. Na roda de amigos, quando convencemos os demais sobre o local e a data do próximo encontro do grupo, mesmo que despretensiosamente, assumimos a liderança. Nas reuniões da empresa, assumimos nosso lado líder quando, por exemplo, contestamos a posição predominante nas discussões, utilizando argumentos fortes e consistentes, capazes de fazerem os demais repensarem suas convicções mais arraigadas. A liderança é, portanto, uma chama que, em maior ou menor intensidade, está dentro de todos nos. O segredo está em localizar essa chama e trabalhar arduamente para fortalecê-la e, principalmente, para direcionar sua energia para as questões mais relevantes. Há que se ressaltar, no entanto, um ponto de fundamental importância. É verdade que todos podem ser líderes, mas é também verdade que apenas alguns se tornam lideres brilhantes. Isto ocorre, porque grandes líderes são, em alguma dimensão, pessoas especiais. Não há nada de sobre humano nisso. Não estamos falando de pessoas perfeitas, apenas de pessoas que possuem alguns diferenciais significativos. Os grandes líderes estão sempre um passo à frente, olham o futuro com o mesmo interesse com que a maioria das pessoas olha para o último lançamento do salão do automóvel. Eles vêm o conhecimento como o grande combustível dosucesso. São humildes do ponto de vista pedagógico, por isso estão sempre aprendendo. Nunca desperdiçam aquilo que podem obter a partir de uma boa conversa porque, mais do que falar, estão sempre prontos a ouvir. Contrariamente ao pensamento comum, o verdadeiro Administração Contemporânea Página 24 líder não tem a liderança como o seu principal objetivo, mas sim o que pode obter a partir dela, tanto para ele, quando para aqueles a quem lidera. Os verdadeiros líderes têm um ponto em comum: gostam de pessoas. Sabem que uma de suas principais funções é conhecer as necessidades das outras pessoas e procurar atendê-las. Conseguem o que querem em grande parte porque sabem ajudar suficientemente outras pessoas a conseguir o que elas querem. Eles sabem que as necessidades dos outros não são idênticas às suas e que não iram conseguir identificar essas necessidades sem perguntar ou ouvir. Assim, o verdadeiro líder é aquele que sempre diz: “Conte-me algo sobre você”. Ele sabe que, se ouvir tempo suficiente, a pessoa explicará como pode ser incentivada. Falando a esse respeito, o filósofo chinês Lao-Tsé, que viveu no século VII A.C., afirmava: “O líder ruim é aquele a quem as pessoas desprezam. O bom líder é aquele que as pessoas elogiam. O grande líder é aquele sobre quem as pessoas dizem nós fizemos sozinhos”. Líderes brilhantes sabem construir sonhos ambiciosos e desejáveis, porque sabem que é a partir deles que se constrói o futuro. Mas não são egocêntricos, eles não guardam seus sonhos somente para si. Pelo contrário, compartilham sua visão e trabalham intensamente para cooptar as pessoas e fazer dos seus sonhos, os sonhos de todos. O grande líder não é, em essência, individualista. Sabe que precisa das outras pessoas e que apenas a partir de um esforço sinérgico poderá realizar seus sonhos. Mas ao fazê-lo, ele não se torna o único dono. Sabe reconhecer e valorizar aqueles que lutaram por seu ideal e, acima de tudo, sabe dividir os louros da vitória. Líderes de destaque são tão conscientes de suas fragilidades quanto o são de suas potencialidades. Assim como conhecem e utilizam seus pontos fortes para alavancar ações eficientes, são suficientemente humildes para reconhecer seus pontos fracos e trabalham incessantemente para saná-los. Por este motivo são voltados ao aprendizado. Não são tolos a ponto de achar que já conhecem tudo. Pelo contrário, fazem do aprendizado sua maior arma em prol de alavancar aquilo que possuem de melhor ao mesmo tempo em que aprendem como minimizar suas fraquezas. Mas, há um ponto que precisa ser esclarecido. O líder não nasce pronto. Embora algumas características inatas possam favorecer sua formação, o líder precisa ser construído. E não há formula ou receita mágica para isso. Assim como, para aqueles que desejam se tornar um profissional destacado faz-se necessário muito estudo e experimentação prática, para aqueles que querem se tornar um líder pleno é preciso muito empenho, dedicação e, principalmente, muita perseverança. E é exatamente esta a proposta deste capítulo. Ele deve indicar a trajetória para a verdadeira liderança. Em outros termos, seu principal objetivo é demonstrar como um líder pode se tornar “o grande líder”. Nos itens a seguir você vai encontrar algumas dicas de como trilhar os caminhos que levam ao patamar onde estão situados os grandes líderes. Deve ficar claro, no entanto, que em função da limitação de espaço para tratar do assunto, bem como em função de Administração Contemporânea Página 25 sua extrema complexidade, certamente este texto não trará todas as respostas. De fato não existe essa pretensão porque sabemos que isso, na verdade, não é possível. Mas, se ele for capaz de contribuir para elevar o entendimento a respeito do delicado tema “liderança”, então ele certamente terá cumprido o seu propósito. Verifique! Será que a formação familiar de uma criança pode influenciar em sua capacidade de liderança na vida adulta? Após refletir um pouco sobre essa questão, leia o artigo “Trajetórias de Vida e Liderança” de autoria dos professores Betania Tanure e Roberto Gonzalez Duarte. O artigo está disponível no endereço: (http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/4725.pdf) 2.5. O líder e seu poder de comunicação "Sessenta por cento de todos os problemas administrativos resultam da ineficácia da comunicação”. Peter Drucker Você já deve ter ouvido dizer que bons líderes são bons comunicadores, afinal a maioria dos textos que falam sobre o tema ressalta a importância da comunicação na vida dos homens que estão no comando. Existem várias pesquisas realizadas junto a líderes de destaque no mundo empresarial que mostram que a comunicação é uma das armas mais poderosas com a qual podem contar em seu dia-a-dia de trabalho. Podemos afirmar, então, que basta a uma pessoa dominar a arte da retórica para que possa tornar-se um bom líder? Infelizmente a questão não é tão simples. Antes de chegarmos a alguma conclusão consistente precisamos ir mais a fundo para entender alguns pontos básicos a respeito do processo de comunicação. Em primeiro lugar, precisamos entender qual é a verdadeira essência do processo de comunicação. Em segundo, como o líder deve utilizar a comunicação para obter os resultados almejados. Finalmente, o que deve ser efetivamente comunicado? Na visão do professor Izidoro Blikstein, um dos maiores estudiosos sobre comunicação no cenário brasileiro, “comunicação é um processo de transmissão de ideias que utilizaos mais variados tipos de ferramentas visando obter respostas”. Ainda, segundo esse especialista, “comunicar é tornar o pensamento comum”. De acordo com essas definições há no processo de comunicação dois pontos bem definidos. O primeiro enfatiza que a comunicação deve tornar o pensamento que está na mente do remetente (quem comunica) comum ao destinatário (quem recebe a comunicação), ou, de outra forma, que Administração Contemporânea Página 26 a comunicação só se torna eficaz quando sedimenta na mente do destinatário a mesma estrutura de pensamentos e ideias estabelecidas na do remetente. O segundo ponto, por sua vez, ressalta que a comunicação deve fomentar uma resposta adequada, ou seja, que a reação do destinatário após receber a informação seja no sentido de atender os objetivos do remetente. Note que o líder, quando na figura do remetente, deve cumprir esses dois pontos fundamentais do processo. Precisa obter o senso comum das ideias, o que em outras palavras significa “se fazer entender perfeitamente”. O ponto de honra neste caso é conseguir que todos à sua volta tenham a compreensão clara do norte que ele traçou para ser seguido. Mas não é apenas isso. Precisa, acima de tudo, obter uma resposta positiva, ou seja, conseguir que as pessoas movam-se em direção a esse norte. Outro aspecto importante sobre o processo de comunicação diz respeito a como ele ocorre. A simples observação das rotinas do nosso dia-a-dia deixa claro que a comunicação se dá pelo estímulo dos nossos sentidos. Ela pode ser “verbal”, quando nos comunicamos por meio de palavras, utilizando a linguagem oral ou escrita, ou “não verbal”, quando transmitimos as mensagens por meio de gestos, tom de voz, olhar, maneira de vestir etc. A comunicação não verbal inclui também a utilização de desenhos, imagens, sons, símbolos etc. Note que muito além da ideia arraigada que muitos de nós possuímos sobre comunicação, ela não se resume apenas a um bom discurso, ou a uma maneira vistosa e harmoniosa de se falar em público. Comunicação vai muito além disso, abrange uma série de possibilidades a partir da qual é possível passar adiante a informação disponível. Embora seja verdade que muitos líderes são detentores do “dom da palavra”, é falsa a ideia de que todo líder sabe falar bem. Isso não é não necessariamente uma verdade. É claro que saber se expressar com competência, principalmentequando se está na frente de um grande público, é um diferencial importante. No entanto, não é um requisito insubstituível. Muitos líderes conseguem contornar sua dificuldade de falar em público com uma enorme capacidade de transmitir aquilo que desejam utilizando outros artifícios, apoiados principalmente na linguagem não verbal. Warren Bennis e Burt Nanus, dois dos maiores especialistas em liderança no mundo assim se expressam a cerca desse aspecto: “Apesar das variações de estilo – quer seja verbal ou não, quer através da música ou de palavras – todo líder de sucesso está cônscio de que uma organização se baseia em um conjunto de significados partilhados que definem papéis e autoridade. Ele ou ela também está consciente de que uma responsabilidade-chave é comunicar o “esquema” que molda e interpreta situações, de modo que as ações dos empregados sejam guiadas por interpretações comuns da realidade”. O que estamos querendo dizer é que os líderes precisam se comunicar, principalmente no sentido de criar significados nas vidas das pessoas. Precisam deixar claro o caminho que Administração Contemporânea Página 27 escolheram para ser trilhado e, em seguida, cooptar as pessoas para que todos percorram esse caminho. Mas essa tarefa não precisa ser feita a partir de um lindo discurso. Muitos líderes fazem isso sem dizer uma única palavra. Conseguem passar o que sentem ou o que desejam através de suas ações. Na verdade, as ações são muito mais consistentes do que as palavras. Assim como a criança que observa muito mais as atitudes do pai do que aquilo que ele ensina, os liderados também estão muito mais atentos ao que o líder faz do que ao que efetivamente fala. Os grandes líderes sabem que quando desejam algo, precisam mostrar a importância que aquilo tem para as pessoas. Mais do que isso, eles precisam, como já dissemos anteriormente e iremos discutir amiúde em outro item, criar significados para a vida das pessoas. Confúcio, pensador e filósofo chinês que viveu em 500 A.C. assim dizia: “Conte- me e eu esqueço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me, e eu compreendo”. Assim, é o grande líder. Ele é capaz de envolver seus liderados, não necessariamente com palavras, mas especialmente com atitudes e ações. Sabe como transmitir aquilo que realmente deseja, mesmo que seja contando uma história, desenhando uma bela paisagem, construindo esquemas ou gráficos, cantando ou fazendo com que todos ouçam uma música, escrevendo ou declamando uma poesia ou, até mesmo, expressando-se por meio de metáforas. Não importa os recursos de que ele utiliza, seu processo de comunicação tem a capacidade de envolver as pessoas. Assim como nós o grande líder sabe que a comunicação ocorre por meio dos sentidos, mas, além disso, sabe como estimular cada um deles. Um som, um sabor ou um cheiro podem ser armas eficientes na hora de se comunicar alguma coisa importante. O toque carinhoso nos ombros de uma pessoa como forma de agradecimento por uma grande conquista pode expressar um significado muito maior do que qualquer palavra. Mas não é somente para passar um comunicado adiante ou transmitir uma ideia que o líder deve utilizar a comunicação. Tão importante quanto essas funções é o processo de feedback que a comunicação proporciona. As pessoas precisam saber o que a empresa espera delas e, ao mesmo tempo, o que podem esperar da empresa. Realimentá-las, sobre a suas vidas no trabalho, é um dos papeis que o verdadeiro líder sabe exercer com maestria. Elogiar alguém por um trabalho bem feito pode parecer uma tarefa fácil – apesar de nem sempre ser assim. Mas muito mais complicado, sem dúvida, é mostrar para alguém que está ao nosso lado os aspectos nos quais ela necessita evoluir. Esse é, sem dúvida, o maior e mais importante objetivo do feedback. Daniel Goleman, escritor, psicólogo e consultor americano, conhecido em todo o mundo pela relevância de seus trabalhos na área da Inteligência Emocional, assim se expressa a cerca da importância do feedback: “Numa empresa, todos fazem parte de umsistema e, neste caso, o feedback é a possibilidade de evitar a entropia – a troca deinformação permite que as pessoas saibam que seus respectivos trabalhos estão sendobem Administração Contemporânea Página 28 executados, que precisam aprimorá-los, melhorar ou reformular totalmente. Semfeedback, as pessoas ficam no escuro; não têm ideia da avaliação que o líder faz deseu trabalho, com os colegas, ou o que é esperado delas, e qualquer problema queeventualmente exista só tende a se agravar com o passar do tempo. Num certosentido, a crítica é uma das mais importantes tarefas de um administrador. [...]Também a eficiência, satisfação e produtividade das pessoas no trabalho dependem decomo lhes são transmitidos os problemas incômodos. Na verdade, a maneira comosão feitas e como são recebidas as críticas diz muito sobre até onde as pessoas estãosatisfeitas com seu trabalho, com os que trabalham com elas e com a liderança”. Finalmente, faz-se necessário realçar a importância da credibilidade no processo de liderança. Ao líder não basta comunicar, é preciso ser autêntico, ético, transparente, justo e, principalmente, verdadeiro em sua comunicação. A lógica nos diz que se existem líderes é porque existem liderados. Então a grande questão que fica é: porque alguém seguiria o caminho indicado por outra pessoa ao invés de definir e trilhar o seu próprio caminho? Notadamente porque o líder sabe indicar um caminho que vale a pena ser percorrido além de ser hábil em idealizar o que as pessoas podem encontrar ao seu final (discutiremos em profundidade este assunto nos próximos itens). Mas não é só isso. As pessoas não seguem líderes em quem não confiam. Aliás, se não houver confiança nem podemos dizer que existe liderança, porque, a bem da verdade, a liderança só existe no coração daqueles que confiam e, portanto, nela acreditam. Falando francamente, sabemos que há falsos líderes. De caráter duvidoso, mas detentores do “dom da palavra” utilizam esta habilidade como engodo. Por meio de discursos grandiosos, traçam cenários mirabolantes e prometem “mundos e fundos”, muito mais do que realmente podem cumprir. São internamente inconsistentes e vazios, mas convincentes em suas oratórias. No entanto, para nosso regozijo, eles não duram muito. Um líder pode enganar seus liderados, mas certamente não será por muito tempo. Vale lembrar que as ações de um grande líder devem falar mais alto do que suas palavras. O líder pode usar uma bela retórica, mas se não for verdadeiro em suas ações e, principalmente se estas não estiverem em sintonia com suas promessas discursivas, ele certamente não se tornará um líder longevo. É apenas questão de tempo, basta esperar para ver sua mascara cair. Verifique! Você acredita que o poder de comunicação é importante em nossa vida? Assista ao filme “Tempo de Matar”, protagonizado por Matthew MacConaughey, Sandra Bullock e Samuel L. Jackson. Veja nesse drama como o poder de persuasão de um advogado de defesa foi capaz de mudar o rumo de um julgamento de “cartas marcadas”. Administração Contemporânea Página 29 2.6. O líder frente às diferenças individuais “Oserhumanoacimadadiversidadedasdisciplinas que o estudam, é uno. Ele é único enquanto espécie.Ele o é enquanto indivíduo”. Jean-François Chanlat Leia com atenção o texto apresentando no quadro a seguir. Ele foi escrito na tumba de um bispo anglicano que viveu em 1.100 D.C. nas criptas da abadia de Westminter na Inglaterra. Sua mensagem reflete perfeitamente o tema que iremos abordar neste item. Voltaremos a discuti-lo posteriormente. “Quando era jovem e livre, e minha imaginação não tinha limites, eu sonhava em mudar o mundo. Ao amadurecer, descobri que o mundo não mudaria. Restringi então minhas ambições e decidi mudar apenas meu País, mas ele também parecia imutável. No ocaso de meus anos,numa última e desesperada tentativa, resignei-me a mudar apenas minha família… aqueles próximos de mim, mas, infelizmente, eles não quiseram saber. Agora, no meu leito de morte, percebo: se houvesse começado por mudar a mim mesmo, talvez, pelo meu exemplo, mudasse minha família. Com a sua inspiração e incentivo, eu poderia então ter melhorado meu País e, quem sabe, talvez até transformado o mundo” Reconhecer e valorizar a importância das pessoas que nos cercam é um dos atributos mais importantes para quem quer ser um líder de sucesso. Tão certo como o nascer do sol a cada dia é o fato de que nenhum líder é capaz de vencer todas as batalhas se não puder contar com um exercito competente e comprometido com seus ideais. Líderes consagrados gostam de gente, porque sabem que é apenas a partir das pessoas que podem alcançar seus próprios objetivos. O renomado escritor e ator italiano Luciano de Crescenzo nos brinda com sua sabedoria ao afirmar: “Somos todos anjos com uma asa só, e só podemos voar quando abraçamos uns aos outros”. Não há, de fato, voo solo no contexto da liderança. Assim como “uma só andorinha não faz verão”, o líder solitário tem muito pouco, ou quase nada, a fazer para mudar as coisas à sua volta. Mas é preciso ter em mente um aspecto fundamental. Para obter o apoio e, principalmente, o comprometimento das pessoas, é necessário, pelo menos em certa medida, ajuda-las a conseguir aquilo que desejam, uma afirmação que parece simples, mas que enseja uma convicção que é a base na qual os líderes devem apoiar suas ações: quando ajudamos, com sinceridade, as pessoas a realizarem seus sonhos, ou quando mostramos que ao realizarem os nossos sonhos estão, na verdade, realizando os Administração Contemporânea Página 30 seus próprios, elas estarão prontas para lutarem ao nosso lado incondicionalmente. Portanto, não é heresia afirmar que boa parte do êxito de um grande líder vem de sua capacidade de conhecer a necessidade das outras pessoas e, a partir de então, saber atendê-las. Um erro fatal que alguns propensos líderes comentem neste ponto é acreditar que os outros têm as necessidades idênticas às suas, ou então que é possível descobrir as necessidades das outras pessoas apenas observando-as. Infelizmente não é tão simples assim. Em seu livro “Motivação” o professor e consultor Jorge Bertolino Filho é notável ao afirmar que: “Se a sabedoria bíblica nos dá conta de que os homens são todos iguais perante Deus, o mesmo não de pode dizer do homem perante o homem. Apesar de serem submetidos a orientações e controles sociais semelhantes, os homens são diferentes entre si, em suas formas de se comportar diante dessas mesmas circunstâncias sociais”. Mais adiante, Bertolino explica que as diferenças existentes entre as pessoas decorrem de dois motivos básicos: primeiro, nascem diferentes uma vez que cada uma carrega sua própria bagagem hereditária. Segundo, ao longo de suas vidas são submetidas a experiências únicas, que as marcam de forma indelével. Abre-se, portanto, espaço para uma nova questão: como é possível conhecer tão bem as pessoas a ponto de compreender suas necessidades mais latentes? Será esta uma tarefa fácil? Infelizmente para os líderes, conhecer a dinâmica do comportamento humano é, certamente um dos seus maiores desafios, uma tarefa extremamente complexa, para não dizer impossível. O grande psicólogo francês Jean-François Chanlad ressalta a impossibilidade de vencer plenamente esse desafio ao afirmar: “...numerosos são os que, ainda hoje, fecham o ser humano em esquemas redutores e que frequentemente, têm a impressão simplória de ter captado a essência do ser humano. A realidade humana que encontramos na organização não poderá jamais ser reduzida a tais esquemas. Só uma concepção que procura apreender o ser humano na sua totalidade pode dele se aproximar, sem, contudo, jamais o esgotar completamente”. Apesar de esclarecedora a afirmação de Chanlad enfatiza um lado obscuro da questão: como liderar diante da impossibilidade de conhecer plenamente a natureza dos liderados? Embora não exista uma resposta definitiva para a questão, estudos no campo da psicologia denotam a importância do autoconhecimento. Assim, o grande líder destaca-se por conhecer a si mesmo, se não plenamente, o que parece ser impossível, pelo menos em grande parte. A introspecção faz parte do seu dia-a-dia, porque entende a importância de compreender os motivos que o move, os fatores que o satisfaz, assim como os estigmas que o esmorece. Reflete constantemente sobre suas fraquezas e potencialidades, suas alegrias e angustias, porque entende que elas são os orientadores da sua visão e, consequentemente de suas ações. Entende que “boa” não é, Administração Contemporânea Página 31 necessariamente, aquela pessoa que se parece com ele porque tem os mesmos estilos motivacionais, assim como, também, não descrimina os que pensam de maneira diferente ou os que adotam linhas de comportamento diferente da sua. Tem bom conhecimento do seu “eu” interior, o que lhe permite compreender melhor o comportamento motivacional das outras pessoas. São preciosas as palavras do doutor Konrad Lorenz, prêmio Nobel de medicina e fisiologia em 1973: “É impossível a um ser que não saiba da existência do próprio eu desenvolver um pensamento abstrato, uma linguagem ou uma consciência ou ainda uma moral responsável. O homem que cessa de refletir corre o risco de perder todas as qualidades e realizações especificamente humanas”. Mais adiante ele complementa: “...é notória a incapacidade do homem moderno de ficar só consigo mesmo, ainda que por um curto espaço de tempo. Qualquer possibilidade de reflexão e introspecção é evitada com temeroso cuidado, como se existisse um medo de que a reflexão pudesse descobrir um horrível autorretrato...”. Conforme afirma Lorenz, a maioria das pessoas acha desnecessário investir algum tempo para refletir sobre si mesmo, porque acredita que tem pleno domínio sobre sua personalidade. Falando francamente, o que essas pessoas não percebem é que o parco conhecimento que possuem se restringe a uma pálida figura que aparece refletida no espelho toda manhã quando vão escovar os dentes, uma imagem que esconde, por traz da persona que se revela, seus sentimentos mais íntimos. Assim como é extremamente difícil conhecer a natureza das outras pessoas, conhecer a nossa própria natureza, ainda que apenas parte dela, é uma tarefa hercúlea. Mas o melhor caminho é, certamente, a reflexão introspectiva. Note, se não sabemos nada a nosso próprio respeito, então como podemos entender as pessoas que fazem parte da nossa vida, seja ela profissional ou pessoal. Por isso, o grande líder, antes de tentar compreender as pessoas, caminha sempre na direção de entender o seu próprio comportamento. Somente a partir do momento em que ele admite suas próprias imperfeições é que passa a compreender e aceitar as limitações dos outros. Apenas quando descobre que alguns de seus gostos e costumes não são comuns a todas as pessoas é que reconhece o direto que todos têm de possuir suas próprias excentricidades. Somente quando percebe que seus momentos de felicidade se diferenciam do conceito que a êxtase possui para outras pessoas, é que ele entende que nem tudo o que é “bom” pra ele tem que satisfazer aqueles que estão ao seu lado. Compreende, finalmente, que as motivações das outras pessoas podem ser diferentes das suas porque somos seres humanos, por natureza seres diferentes. Um dos principais motivos pelo qual algumas pessoas que detêm o poder estão sempre em desarmonia com seus subordinados é que suas motivações são diferentes. Embora isso sempre faça parte do impasse que contrasta os vários estilos de comportamento, o grande líder consegue lidar bem como o problema porque pergunta sobre o sonho dos liderados, procurando compreendê-los à luz dos seus próprios sonhos. Assim, quando Administração