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Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia Pancreatite aguda ANATOMIA E FISIOLOGIA DO PÂNCREAS Órgão retoperitoneal, situado na altura de L2; Dividido em: cabeça, processo uncinado, colo, corpo e cauda do pâncreas; Órgão exócrino e endócrino (controle da insulina); Secreção de suco pancreático: A parte exócrina se relaciona com a digestão dos alimentos, através da liberação do sulco pancreático no duodeno. Composição do suco: bicarbonato (500ml – 1L); Estimulação da secreção: estimulado pela colecistocinina (CCK) e pela secretina (a presença de peptídeos e ácidos graxos dos alimentos desencadeia a estimulação da produção pelo duodeno das enzimas pancreáticas: amilase, lipase e tripsinogênio (pró-enzima, inativa); O tripsinogênio, ao cair no duodeno, por ação de enteroquinases (enzimas localizadas na bora em escova dos enterócitos do duodeno), é ativado e forma tripsina; CONCEITO E EPIDEMIOLOGIA Doença inflamatória do pâncreas; Causa importante de abdome agudo (além da diverticulite e apendicite); 15-20 casos por 100.000 habitantes no Brasil; 80-90% casos são doença benigna, leve e autolimitada; Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Colecistite aguda (dor abdominal); Coledocolitíase (hipocôndrio direito); Apendicite (fossa ilíaca direita); Síndromes dispépticas (azia, queimação); Neoplasias; Obstrução intestinal aguda; Isquemia mesentérica; IAM inferior/ dissecção aórtica abdominal; Gravidez ectópica. ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO Fatores de risco: Sexo feminino (2:1) Massa corporal: obesidade aumenta o risco tanto para complicações locais como sistêmicas; Faixa etária: predomínio na faixa dos 50-70 anos, já que há aumento das comorbidades no decorrer do tempo; História familiar Tabagismo Hematócrito > 44%: fator de risco independente para necrose do órgão; Ureia sérica >20mg/dl no momento da internação: maior risco de morte; Etiologias: Colelitíase ou litíase biliar (40-70% dos casos)* O cálculo saí da vesícula, cai no ducto cístico e impacta na ampola de Vatter (papila duodenal maior), o que causa estase e aumento da pressão do ducto pancreático principal, impedindo o suco pancreático de sair e assim há ativação das enzimas pancreáticas dentro do próprio pâncreas, levando a uma digestão do parênquima pancreático pela amilase, lipase e tripsina, causando uma inflamação do órgão. Se tem pancreatite, a chance de ter colelitíase é alta. Mas o contrário, a chance é baixa, somente de 3-7%. Geralmente causado por cálculos pequenos (<5mm), por ser mais fácil de se moverem da vesícula até o pâncreas. Alcoolismo (30% dos casos)*: >25g de etanol/ dia há pelo menos 5 anos com acometimento crônico do pâncreas; O álcool diminui o limiar para ativação do tripsinogênio, além de provocar toxicidade direta nas células acinares e ductais causando necrose. Medicamentos* Dentre eles: diuréticos, alguns antibióticos (metronidazol, tetraciclinas, bactrim), azetioprina, ácido válproico, estrogênio. Hipertrigliceridemia (>1000mg/dl); Hipercalcemia; Tumores (pâncreas, duodeno) Obstruem o ducto pancreático principal, elevam a pressão e causam a doença. Pós-CPRE (colangiopancreatografia retrograda endoscópica); Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia Um endoscópio entra pela boca, vai na papila de vatter, cateteriza essa papila e joga contraste na via biliar e na papila, o que pode causar inflamação do pâncreas. Infecções (HIV, caxumba, trauma, cirurgias abdominais, vasculites); Ascaridíase; Disfunção do esfíncter de Oddi; Hiperparatireoidismo; CLASSIFICAÇÃO Intersticial, leve ou edematosa (+90% dos casos): doença autolimitada, benigna, em que o pâncreas se encontra inflamado e edematoso; Necrotizante (5-10%): rara, pancreatite necro-hemorrágica, necrose do parênquima pancreático e/ou estruturas adjacentes. Possui maior mortalidade. FISIOPATOLOGIA Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia QUADRO CLÍNICO Dor abdominal + náuseas e vômitos; Dor intensa, no andar superior no abdome, em faixa, que irradia para o dorso (50% dos casos) e piora com a alimentação; Náuseas e vômitos estão presentes em 90% dos casos; Pode haver colestase (icterícia, devido a obstrução e acumulo de bile na vesícula biliar), desidratação, torpor e dispneia.Exame físico: Variado e inespecífico, porém pode apresentar: Dor a palpação em andar superior; Distensão abdominal; Redução dos RHA; Desidratação, taquicardia, dispneia e mucosas secas; Icterícia (se houver presença de litíase); Hematomas na parede abdominal (indicativo de pancreatite necro-hemorrágica, devido ao sangramento há formação de hematomas em flanco (Sinal de Gray-turner) e na região periumbilical (Sinal de Cullen/Halted); Paniculite nodular liquefativa (necrose gordurosa subcutânea); Sinal de fox (equimose na base do pênis). Laboratório: Leucocitose; Aumento de PCR acima ou igual a 15mg/dl; Elevação de TGO e TGP (indicador de lesão hepatocelular, em caso de colelitiase); Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia Elevação de Fosfatase alcalina e gama gt (enzimas canaliculares, em caso de colelitiase); Creatinina e ureia elevados (devido aos vômitos e desidratação); Sódio e potássio Amilase e lipase séricas elevadas*; DIAGNÓSTICO Dos 3 fatores, é necessário ter 2 Quadro clínico: vômitos, dor em andar superior que irradia; Laboratório: amilase* e lipase 3x acima do normal; Exame de imagem: TC com contraste endovenoso (padrão ouro); OBS: TC deve-se fazer tardiamente, pra se ter uma melhor visualização da inflamação do órgão. Solicitar: Hemograma; Glicemia e perfil lipídico; Amilase e lipase; Cálcio sérico; PCR; Bilirrubina e enzimas hepáticas; Ureia e creatinina séricas; Eletrocardiográfico; RX de tórax e abdome; USG de abdome; TC de abdome; CPRM; CPER TRATAMENTO Suporte clínico: hidratação vigorosa (1L (20-30ml/Kg, acesso calibroso, aberto, cristaloides – SF 0,9% ou ringer lactato); OBS: A reposição volêmica deve produzir no mínimo uma diurese de 0,5ml/kg de peso corporal nos pacientes sem falência renal. Jejum oral (soro de manutenção EV, NPO: nada por via oral): já que o quadro piora ao alimentar, pois ao comer o pâncreas é estimulado a liberar mais secreção; Analgesia: dipirona, opióides (morfina- 2,5 a 5mg/dose EV lento, 4-5 minutos, a cada 4horas e aumentar conforme a resposta para 10mg/dose e depois para 15mg/dose de 4/4h e meperidina- 50-150mg/dose IM ou EV lento-2 a 3 minutos, em intevalor de 3-4horas, dose máxima de 500mg/dia), evitar AINES + reanimação volêmica; OBS: A meperidina traz como vantagem da morfina o efeito de relaxamento do esfíncter de Oddi. OBS: hidratação é importante, pois, nessa doença o pâncreas fica mal perfundido, por conta do processo inflamatório ele recebe pouco sangue, logo, ele gera uma dor “isquêmica”, ao dar volume para o paciente e melhorar a perfusão, há melhora da dor do paciente. Antieméticos: bromoprida/metoclopramida, ondasetrona, dimenidrinato; Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia Monitorização: sinais vitais, saturação de o2; Cirúrgico: se a etiologia era biliar, deve-se realizar a colecistectomia. ESTRATIFICAÇÃO DA GRAVIDADE Escores: SOFA ou ATLANTA revisitada SOFA: sequential organ failure assessment (avaliação sequencial de falência orgânica): Faz-se a avaliação: Respiratório: PaO2, FiO2, ventilação mecânica; Hematológico: plaquetas (plaquetopenia indicando falência hepática ou medular?); Neurológico: ECG (rebaixado ou consciente?); Hepatobiliar: bilirrubina (elevada ou normal?); Circulatório: PAM e necessidade de vasopressor; Renal: creatinina. Para uma avaliação mais rápida, existe o: Quick SOFA: quick sequential organ failure assessment (SOFA rápido): Neurológico: errado ECG<15; Respiratório: FR>22; Circulatório: sistólica <100 Algum desses alterados é indicativo de uma possível repercussão órgão-alvo. ATLANTA revisitada (2012): Meio de interpretar essas falências orgânicas. Pancreatite leve: Ausência de insuficiência orgânica (não tem complicação órgão-alvo); Ausência de complicações locais ou sistêmicas (pâncreas sem lesão). Pancreatite moderada: Insuficiência orgânica única < 48h (pode ser resolvida em menos de 48H) OU complicações locais/sistêmicas sem insuficiência orgânica. Pancreatite grave: Insuficiência organiza única > 48h (duradoura); Insuficiência orgânica múltipla. Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia - Valores acima de 3 pontos (Ranson) e 8 pontos (APACHE II) representam quadros graves de PA, e valores abaixo, quadros leves; - A presença de três ou mais critérios nas 48 h da admissão, classifica a pancreatite como grave. - Há ainda outra interpretação relacionando a quantidade de critérios presentes com a probabilidade de mortalidade sendo que pontuação obtida entre 0 e 2 representa mortalidade de 2%. Porém, pontuação entre 3 a 4 pontos aumenta a chance de óbito para 15%. E, não obstante, pontuação entre 5 a 6 alcança índice de 40% de mortalidade podendo chegar até 100% quando obtido escore com 7 a 8 pontos. Harmlessacute pancreatites score (mede o quanto a pancreatite é incapaz de causar dano, é inofensiva): Peritonite Presente Ausente Creatinina > 2 Presente Ausente Hematócrito (concentrou?) Presente Ausente Quando esta tudo AUSENTE, é indicativo de que essa é uma pancreatite leve ! Acerta em mais de 90-95% dos casos. Apache II (1985) Conta com 12 parâmetros de avaliação, além de pontuação extra baseada na idade e na presença de doenças crônicas. Possui uma sensibilidade de 76% e uma especificidade de 61,5% para avaliar a gravidade da PA. Ele possui as vantagens de poder ser calculado dentro das primeiras 24 horas da admissão do paciente no hospital e de poder ser realizado diariamente na avaliação da evolução do paciente. A adição de IMC para a pontuação Apache II - conhecido como Apache-O - adiciona um ponto para IMC de >25 a 30 Kg/m2e dois pontos para IMC >30 Kg/m2. Johnson relatou que este sistema melhora a previsão de pancreatite grave. Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia AMBIENTE DE CUIDADO Nenhum paciente vai para a casa !; Caso leve: apartamento/ enfermaria; Caso grave ou moderadamente grave: UTI. MANEJO Repouso pancreático: - Jejum (dieta zero, nada na boca); Hidratação: - Guiada por metas/ diurese e evitar hiperidratação (evitando necrose, preservando o pâncreas e controlando a dor); Controle sistêmico: - Analgesia e antiemético (serve como mensuração da evolução da doença, quanto menos dor, menor a atividade da doença); - Monitorização (do aparelho cardiorrespiratório, mensura a diurese); - Suporte avançado de vida (O2, ventilação não invasiva ou mecânica, vasopressores); - Controle eletrolítico e ácido básico. Realimentação precoce: - Inicia com o jejum, mas alimenta o mais cedo, pois é a única forma efetiva em prevenir complicações infecciosas. - Realiza quando a dor tiver cessado; - Via oral, se não der, enteral, em ultimo caso a parenteral; Não utilizar antibióticos: - Não usar antibiótico precoce, parece um quadro infecioso (SIRS), mas é só inflamatório; Prevenção e vigilância de complicações; - Necrose e coleções; - Infecção da necrose/coleção; - Infecções relacionadas a cuidados a saúde; OBS: como suspeitar: Paciente não melhora/piora: - 1° semana: suspeita-se de lesão anatômica não infectada; - Após 14 dias: suspeita-se de infecção; Diagnostico e tratamento da causa base; - Álcool: cessar; - Medicamentos: cessar/substituir; - Hipercalcêmica: tratar; - Hipertrigliceridemia: tratar agressivo; - Biliar*: colecistectomia videolaparoscópica. OBS: pancreatite leve: faz a colecistectomia precoce / pancreatite grave: aguarda pelo menos 6 semanas, reavalia posteriormente e depois marca uma colecistectomia eletiva. REFERÊNCIAS: Artigo: pancreatite aguda, de Laura Mocellin Teixeira e colaboradores, 2018; Sabisnton Tratado de cirurgia, 19° edição, volume 1; Artigo: fatores preditivos de gravidade da pancreatite aguda: quais e quando utilizar?, de Alexandre de figueiredo ferreira do ABCD (arquivos brasileiros de cirurgia digestiva), 2015; Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia Nathalya Silveira Dor abdominal, diarreia, vômitos e icterícia
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