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Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Literatura Contemporânea Unidade 1 - Conceitos Iniciais Leonora Cabral Gerardino Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Introdução Olá, sejam muito bem-vindos à disciplina “Literatura Contemporânea”. Nesta Unidade iremos adentrá-los ao universo da Literatura Pós-Moderna e Contemporânea. Como é a literatura até os dias atuais? Faremos uma breve comparação com os resquícios da literatura moderna e apresentaremos a dramaturgia, como ponto inicial da nossa jornada. Bons Estudos! 1. Pós-modernismo e contemporaneidade: fronteiras e limites: Como bem se sabe, o pós-modernismo é um movimento literário posterior ao modernismo - como explicita a sua nomenclatura. Para entender melhor essa transição, faremos um breve paralelo entre o Modernismo e o Pós-Modernismo: Para relembrarmos o conceito de modernismo, vamos dividi-lo nas três fases que o compõe: 1ª Fase: Modernismo de 22 2ª Fase: Modernismo de 30 3ª Fase: Modernismo de 45 Semana da Arte Moderna - Marco Inicial do Modernismo e 100 anos após a Independência do Brasil Crise Social Fim da 2ª Guerra Contra o “status quo” - anti - parnasianismo Literatura de Caráter Social Maior Liberdade literária Literatura mais despojada, com versos brancos e livres, mistura Denúncia da desigualdade Brasileira Preocupação com a inovação literária, sonoridade literária Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais de diversos gêneros (Graciliano Ramos) A literatura contemporânea (literatura a qual datamos até os dias atuais), resgatou algumas características do modernismo, como a inovação literária no surgimento das poesias concretistas e marginais. Esses conceitos trouxeram a quebra de todos os paradigmas literários, afinal, já não há mais regras, a poesia é livre. Essa liberdade artística é tão visível, que podemos percebê-la nas obras de autores como: Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos (pioneiros no movimento), Paulo Leminski, Ferreira Gullar, entre outros. No âmbito sociocultural, destaca-se o grande avanço tecnológico, a expansão dos meios de comunicação, o crescimento da indústria cultural, a ascensão da capitalista das sociedades (lei do mercado e consumo) e a globalização. Vamos explicar um pouco mais como seria esse contexto pós-moderno, da seguinte maneira: Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Figura 1 - Esquema de entendimento para o Pós-modernismo. Fonte: Elaborado pelo autor. Explicando o esquema anterior, a literatura agora se preocupa mais com a mensagem a se passar do que com a estética. Opostamente ao modernismo, o pós-modernismo garante uma variedade de tendências, sendo aplicadas em diversas áreas de atuação, como nas artes plásticas, na literatura, nas artes cênicas, na música, na filosofia e - por que não? - Na tecnologia. Como já fora citado, o poema tem caráter palpável e visual, os conteúdos são apresentados para uma sociedade fragmentada, de várias identidades. Comentado [1]: " Você quer ler?" deve acompanhar cor e ficar junto a arte. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Você quer ler? Para entender um pouco mais sobre sociedades fragmentadas e as relações descartáveis, recomendo ler o livro Para Entender o Mundo Líquido de Zygmunt Bauman Porém, mesmo com toda essa liberdade expressiva, temos um ponto negativo a tratar: a partir dessa liberdade visual e o uso de imagens para atrair o consumo, temos a criação de simulacros. Muitas vanguardas surgiram na época (lembrando que o pós-modernismo trouxe traços do modernismo e também vem se adaptando até os dias atuais). O foco desses movimentos é demonstrar, também, como é o ser humano moderno, quais suas preocupações, suas ideias e filosofias. Ao falarmos de tecnologia, esse ser humano moderno tem variadas fontes de informações. Essa imensa abundância de informação leva o indivíduo moderno ao mundo globalizado, no qual se torna constante a busca por aquilo que lhe dá prazer, desejos ou orientações narcísicas, portanto. Sobre os principais movimentos pós-modernistas e contemporâneos, podemos destacar: - A Poesia Concreta (1956); - O Neoconcretismo (1959); - A Literatura-praxis (1962); - Movimento Poema/Processo (1967); - Tropicalismo (1968). A seguir, veremos uma área de extrema importância para o âmbito artístico pós-moderno, a dramaturgia. 2. A forma do texto dramático: tradição e inovação. No âmbito da dramaturgia, vale retornar ao passado para poder entender o porquê de tanta inovação nas artes dramáticas. A hegemonia da dramaturgia brasileira é datada de 1958, com a peça “Eles não Usam Black-tie” de Gianfrancesco Guarnieri. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Figura 2 - Encenação da peça “Eles não Usam Black-tie” de Gianfrancesco Guarnieri, no Teatro de Arena - Fonte: Arte Ref, 2019. Diante a conflitos políticos, a forte presença da censura, os espetáculos utilizavam a metáfora como uma forma de encenação. Foi somente em 1978 - com o fim da censura e o fim do Ato Institucional nº 5, de 68 - que temos o marco da contemporaneidade dramática, com a peça adaptada da obra de Macunaíma. Já não é mais necessário o uso da metáfora como linguagem dramática, portanto, os discursos passam a ser diretos - como iniciou-se em Campeões do Mundo de Dias Gomes, em 1979. A partir de então, temos uma nova forma de fazer teatro. 2.1. Tendências do teatro contemporâneo Após essa hegemonia da década de 50, e a despreocupação com a forma de se encenar uma peça, chega o momento da dramaturgia ter autonomia para ser criada. O ideal estipulado era fazer um espetáculo que não parecesse encenação. Desde então, foi decretado que o teatro passasse a ser tratado como uma arte autônoma, em que o dramaturgo age como o autor do texto e o encenador, o autor do espetáculo. Essa filosofia trouxe a criação sui generis, que deu total autonomia para que dramaturgos pudessem adaptar obras da melhor maneira, transformando-as como obras de própria autoria, mesmo que adaptadas. Essa configuração estética pode ser explicada por Magaldi em Tendências contemporâneas do teatro brasileiro: Estudos Avançados: Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Essa criação ora configura-se com maior modéstia, quando o encenador preserva o texto integral e apenas troca as vestimentas antigas pelas atuais; ora intervém na peça, reduzindo os diálogos ou juntando outras obras do autor no mesmo espetáculo; ora adaptando, com ou sem auxílio de outrem, literatura de gênero diverso para o palco; ora, enfim, assumindo a inteira responsabilidade por texto e espetáculo. Se o encenador não encontra, em determinado instante, peça pronta que exprima as preocupações do seu universo, é absolutamente legítimo que procure a criação integral. (MAGALDI, 1996, p.278) O que Magaldi quer dizer é que o dramaturgo é livre em elaborar a sua criação, ele pode transformar uma peça teatral com um contexto histórico da década de 20, por exemplo, e adaptá-la para o contexto atual. É possível que o dramaturgo faça um espetáculo de determinada obra e insira elementos de outras obras, transformando outras criações em elementos que estruturarão aquele universo em questão. Um exemplo bastante interessante a se tratar, são as adaptações para o cinema. Quem não conhece a famosa peça de Shakespeare, Romeu e Julieta? No Brasil, temos uma adaptação bem divertida da peça, o filme Casamento de Romeu e Julieta, com Marco Ricca e Luana Piovani. A desavença, neste caso, é sobre o time de futebol de cada um - sendo Julieta palmeirense e Romeu corintiano. Você quer ver? Assista ao filme Casamento de Romeue Julieta, de Bruno Barreto e faça uma reflexão sobre o contexto da peça de Shakespeare. Em contrapartida, é importante ressaltar que essa autonomia dramática pode gerar diversos furos de roteiro. Portanto, mesmo com sua premissa dada àquela geração de artistas, é imprescindível manter a essência da obra, para que a mesma faça total sentido para o espetáculo. Dos encenadores-autores que obtiveram êxito pleno na autonomia teatral, citaremos José Possi Neto, com a montagem da peça De Braços Abertos, de Maria Adelaide Amaral, em 1984. A luz no palco diria a peça para uma atmosfera mágica da arte imitando a vida. O espetáculo parecia puramente real. Comentado [2]: "Você quer ver ou o Você quer ler?" deve acompanhar cor e ficar junto a arte. Gentileza, seguir padrão. Obg. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Dentre os encenadores da atualidade, destaca-se Antônio Araújo, que adaptou a obra O Paraíso Perdido de John Milton, para que essa fosse encenada dentro da igreja. Antônio Araújo é um encenador ligado no Teatro da Vertigem, seus temas são voltados para a ética. Em 1995, Antônio inovou em adaptar o episódio bíblico de O Livro de Jó dentro de uma igreja. 3. O realismo psicológico de Arthur Miller As inovações dramáticas não atingiram somente o Brasil. Essa variedade e liberdade em produzir peças memoráveis foi marcada por nomes importantíssimos da dramaturgia internacional. Um personagem em destaque é o americano Arthur Miller. Miller nasceu em Nova York, em 17 de Outubro de 1915 e faleceu no dia 10 de Fevereiro de 2005. Dentro da cultura popular, fez-se bastante famoso por conta de seu casamento com a consagrada atriz Marilyn Monroe. O nova iorquino teve um papel importante no realismo americano, cujo cenário sofre bastante influência da arte russa, sobretudo do escritor Nicolai Gogól. Porém foi nos Estados Unidos que o realismo tomou outras proporções e rompeu as fronteiras históricas de seu auge (século XIX) e permaneceu influente até hoje. O foco do realismo americano é voltado para o condicionamento de imaginários para a cultura americana e as condições cotidianas da população. Das obras de Miller, vale destacar: ● The Crucible - no português: As Bruxas de Salem; ● Death of a Salesman - no português: A morte de um Caixeiro Viajante. A obra “A Morte de um Caixeiro Viajante”, de 1949, ainda dialogue com o realismo americano, ao contrário das tendências que apontamos, preocupa-se em fazer uma crítica ao famoso “Sonho Americano”, debochando do crescimento econômico e a figura do empreendedor. A peça conta a história de Willy Loman, um personagem que passa por uma situação crítica de ordem tanto social quanto pessoal e que, por fim, recorre ao suicídio. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais No âmbito social, a conflituosidade decorre do fato de se dedicar mais às amizades que as economias, ficando desempregado e tendo que buscar por ajuda para conseguir dinheiro. Já na questão pessoal, vê o seu círculo familiar desmoronar quando seu filho o flagra com sua amante, em consequência disso, a relação de pai e filho fica abalada. Essa crítica social de Miller faz um paralelo entre o conflito psicológico e moral. Isso significa que, na verdade, o conflito de Willy era consigo e gerava uma “briga interna” entre o que o personagem era de fato e o que ele almejava ser. Por conta disso, propõe-se, portanto, a exposição de duas apresentações ao personagem: a realidade que Willy vive e a sua imaginação. Do ponto de vista econômico, a história do personagem mostra o quanto uma sociedade pode ter grande influência na vida de um indivíduo. Por uma escolha errada, Willy dispõe erroneamente seus talentos, de maneira incorrespondente aos objetivos que coloca a si, ocasionando também numa forma errada de concretizar a busca pela felicidade que idealiza. A má escolha deu como destino a morte do personagem. Miller pode ser comparado com Sófocles, em Édipo Rei: indivíduos, na busca de suas identidades, quando recorrem às fontes erradas, acabam por ficarem cegos. O que nem sequer acontece a Willy, visto nem ao menos conseguir situar-se quanto a sua identidade, descobrindo-se mais profundamente. O impacto da crítica de Miller se vale da crítica severa ao capitalismo, que prega que a vitória pelo sucesso supre a ideia da morte. Dessa forma, temos aqui Willy, um homem comum que foi atraído, de forma errônea, pelo sucesso, que chega ao final da vida sem nem ao menos saber quem é. Você quer ler? Leia a obra de Miller, A Morte do Caixeiro Viajante e faça um paralelo entre o capitalismo atual. Até quando o sucesso vale a pena? Comentado [3]: " Você quer ler?" deve acompanhar cor e ficar junto a arte. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais 4. O teatro absurdo de Ionesco: Rinoceronte Antes de falarmos sobre a obra de Ionesco, Rinoceronte, vamos traçar o que seria o Teatro Absurdo. Essa expressão surgiu com o crítico inglês Martin Esslin, no final da década de 50. O Teatro Absurdo, por consequência da Segunda Guerra Mundial, apresenta a atmosfera da desolação, solidão e extrema conflituosidade do homem moderno com seus pares. É totalmente contrária às ideias da dramaturgia realista e tem por objetivo destacar uma das tendências teatrais mais importantes da época. Por consequência novamente da guerra, o Teatro do Absurdo traz uma referência da renúncia às esperanças e a falta de horizonte viável ao bem-estar dos povos. Numa combinação a primeira vista improvável, esses atributos são postos em paralelo a trabalhos cômicos nestas peças. A filosofia do Teatro do Absurdo refere-se à responsabilidade do homem por seu destino e a solidão humana. Essa filosofia estabelece um paralelo entre as ciências (referente às incertezas do ser humano) e às artes plásticas (abstracionismo). Dos dramaturgos, destacam-se: ● Arthur Adamov; ● Samuel Beckett; ● Fernando Arrabal; ● Harold Pinter; ● Eugène Ionesco. Nesta unidade, iremos destacar o francês Eugène Ionesco, com a sua principal obra, Rinoceronte. Ionesco destaca que “renovar a linguagem, é renovar a concepção, a visão do mundo”. O que Ionesco quer dizer é que não são somente as falas dos personagens que ilustram o Teatro do Absurdo, mas sim as imagens, o figurino e, até mesmo o cenário é importante nessa concepção. A obra de Ionesco passa em uma mercearia, contando com as seguintes personagens: Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais ● Uma dupla de amigos; ● O merceeiro, sua esposa e a garçonete; ● O Lógico; ● Várias outras pessoas alheias. Todas as pessoas conversam paralelamente e, em alguns casos, as respostas de alguém da primeira dupla coincide com as perguntas de alguma pessoa da segunda dupla. Então passa um rinoceronte, gerando um transtorno no local, então passa outro animal idêntico. No segundo ato da peça, as pessoas viram rinocerontes por vontade própria, exceto um casal que não se deixa levar pelas vontades alheias e permanecem humanas. Obviamente a obra usa diversas metáforas para explicar que o contexto, na realidade não é absurdo, vamos à análise: ➔ Personagem Lógico: faz uma referência ao pensamento racional; ➔ O autor faz uma ironia ao cientificismo, uma vez que Lógico faz alusão à silogismos, utilizando Sócrates, como exemplo. De tal forma, compara Sócrates a uma galinha, por ambos terem duas pernas. ➔ Uma senhora passa a ser perseguida por um terceiro rinoceronte, que descobre que é o seu marido. ➔ As pessoas se questionam quanto à procedência dos rinocerontes, se são asiáticos ou africanos. ➔ O fato das pessoas se sentirem atraídas por virarem rinocerontes é um fator importante para a obra. ➔ Por que um rinoceronte? O rinoceronte não tem atributos que remetem às característicashumanas, agem de acordo com a sua manada. ➔ Metáfora: crítica às pessoas que seguem os discursos da maioria e crítica aos regimes totalitaristas, principalmente o nazismo. ➔ Casal que permaneceu humano - alusão a Adão e Eva. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Síntese Nesta Unidade, você pode entender um pouco sobre o conceito de pós- modernismo e contemporaneidade, comparando elementos do modernismo. Conheceu um pouco sobre a dramaturgia contemporânea e se aventurou nos conceitos do Realismo Americano e no Teatro do Absurdo. Respectivamente a esses conceitos, conheceu um pouco sobre a obra do “O Caixeiro Viajante” de Arthur Miller e a peça “Rinoceronte” de Eugène Ionesco. Nesta unidade tivemos a oportunidade de: ● Aprofundar sobre os conceitos de modernismo e contemporaneidade; ● Conhecer sobre o Realismo de Arthur Miller e a dramaturgia norte americana; ● Descobrir o Teatro Absurdo de Ionesco e fazer uma crítica sobre o contexto de sua obra, Rinoceronte, com o Totalitarismo. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais Bibliografia ADORNO, Theodor W. Notas de Literatura I. São Paulo: Editora 34; Editora Duas Cidades, 2003. MAGALDI, Sábato. Tendências contemporâneas do teatro brasileiro. Estudos Avançados. v. 10, n. 28. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados - USP, 1996, p.277-289. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/eav/article/viewFile/8963/10515/>. Acesso em: 17 out. 2017. ITAU CULTURAL. A Morte do Caixeiro Viajante. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento395677/a-morte-do-caixeiro- viajante>. Acesso em: 13 jun. 2019 ITAU CULTURAL. Teatro do Absurdo. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo13538/teatro-do-absurdo . Acesso em: 13 jun. 2019 Referências Imagéticas: Figura 2 - Arte Ref. Eles Não Usam Black Tie. Disponível em: <https://arteref.com/quiz/eles-nao-usam-black-tie/>. Acesso em: 24 jun. 2019. Literatura Contemporânea - Unidade Nº 1 - Conceitos Iniciais
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