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1 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES PROBLEMA 01: ÚLCERA PÉPTICA É úlcera, doutor? L.H.M., 48 anos, natural de Guanambi-BA, tabagista, etilista, mecânico, procura a UBS com queixa de dor epigástrica, pós-prandial, de moderada intensidade, em queimação, sem irradiação, associada a náuseas, iniciada, há dois meses, acompanhada de melena, há 5 dias. Refere apresentar lombalgia e fazer uso crônico de anti-inflamatórios não esteroides. Relata, ainda, que a dor o acorda durante a noite e que ela alivia, parcialmente, com a alimentação. Nega disfagia, perda ponderal, febre ou qualquer outro sintoma associado. Ao exame: PA 120/70 mmHg, FC 68 bpm, Fr 19 irpm, hipocorado +1/4; abdome doloroso à palpação do epigastro, sem sinais de irritação peritoneal. O médico solicita endoscopia digestiva alta com teste da urease e prescreve inibidor de bomba de prótons. ANATOMIA E FISIOLOGIA GASTRODUODENAL ANATOMIA E FISIOLOGIA GÁSTRICA É dividido em 5 porções: (1) Cárdia (complexo esfincteriano), (2) Fundo, (3) Corpo; (4) Antro; (5) Piloro (complexo esfincteriano). Cada porção terá suas celulas especializadas. As células mais superficiais, que recobrem toda a superfície do estomago, são responsáveis pela produção do muco que recobre a mucosa estomacal e o bicarbonato (quem mantém a mucosa com PH adequado). No fundo e corpo estomacal, temos as células parietais/oxínticas (localizadas mais profudamente), que produzem o acido clorídrico (por ação da bomba de prótons (H+/K+ ATPase)), responsável pela acidez estomacal e fator intrínseco, nessas regiões também temos as células principais, que produzem o pepsinogenio, que, em contato com o HCl, é clivado em sua forma ativa, a pepsina (enzima proteolítica) ,e as células do tipo enterocromafins-like, que produzem histamina e grelina. Já no antro, temos as células G que secretam a gastrina, potente estimulador da produção acida estomacal, e células D – secretoras de somatostatina – inibem as células G e parietais (fazem a regulação). O ácido clorídrico e o pepsinogênio são os dois principais produtos secretórios gástricos capazes de induzir uma lesão da mucosa. A produção ácida basal ocorre segundo um padrão circadiano, com níveis mais altos durante a noite e mais baixos durante a manhã. A secreção do HCl é estimulada pela acetilcolina (liberada por estímulo parassimpático do nervo vago, via neuronal), pela gastrina (via endócrina) e pela histamina (via pancreática) = receptores nas celulas parietais. Para entender como isso funciona vamos pensar em uma refeição: logo com o olfato e sabor do alimento (fase cefálica da secreção ácida gastrica) ocorre a estimulação gastrica a produzir acetilcolina, por meio do estímulo parassimpático do nervo vago, essa acetilcolina tem uma tripla função: 1- estimular diretamente a célula parietal a produzir a secreção ácida, 2- estimular a célula enterocromafins-like a produzir histima (que tambem 2 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES estimula a secreção ácida pela célula parietal), e 3- inibir as células D (que iria diminuir a secreção acida) .... tudo isso visando preparar o estomago para receber o alimento. Quando o alimento chega no lúmen gastrico (fase gastrica), a própria presença do alimento no lúmen + distensão do estomago pela presença do aliemnto + aumento do PH estomacal = provocam um estimulo as células G (produtoras de gastrina), que age sobre as células parietal provocando a secreção acida, a gastrina tambem age estimulando as células enterocromafins-like. A última fase da secreção ácida gástrica é iniciada quando o alimento penetra no intestino e é mediada pela distensão luminal e assimilação dos nutrientes. Devido essa secreção acida, o estomago tem um PH baixo, em torno de 1-2, que seria uma solução destrutiva gástrica se não tivéssemos o mecanismo de proteção, a barreira mucosa, que impede que os íons hidrogênio e a pepsina destruam a mucosa. Isso acontece pois as células epiteliais produzem o bicarbonato e o muco, o muco é um gel que forma uma camada fina e protetora sobre a mucosa e o bicarbonato diminui o PH na vizinhança do epitélio, com isso fica retido entre a mucosa e a camada de muco impedindo que o PH acido do lúmen estomacal ataque as células que formam a mucosa gástrica, outro fator que protege é a grande taxa de regeneração celular do epitélio gastrico. É válido salientar que tanto a mucosa do estômago quanto a do duodeno são amplamente vascularizadas por capilares – o fluxo sanguíneo nutre o epitélio regenerador e remove o ácido que poderia se difundir através da mucosa, principalmente se esta for lesada. As prostaglandinas são mediadores de fundamental importância, estimulando todas as ações acima – formação de muco, síntese de bicarbonato, fluxo sanguíneo e regeneração da mucosa. São geradas a partir do ácido araquidônico (um fosfolipídio de membrana) mediante ação da enzima cicloxigenase (COX). A isoforma COX 1 é expressa em diversos tecidos e órgãos como o estômago, rins, plaquetas e endotélio vascular. A COX 2 é gerada por leucócitos, sendo a isoforma presente na inflamação; na realidade, a ação benéfica dos AINEs no processo inflamatório se deve a inibição desta última enzima, e não da primeira. O Óxido Nítrico (ON), gerado pela enzima ON sintetase, apresenta efeito citoprotetor sobre a mucosa gástrica semelhante ao das prostaglandinas. Aumento do fluxo sanguíneo mucoso e submucoso, estímulo à produção de bicarbonato pelas células mucosas e aumento na produção de mucina estão entre as propriedades estimuladas pelo ON. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO DUODENO É formado basicamente por células mucosas, que secretam um muco alcalino (com grandes quantidades de íon bicarbonato), capaz de neutralizar parte da secreção ácida vinda do estômago e de proteger a parede duodenal da digestão pelo suco gástrico. DEFINIÇÃO + EPIDEMIOLOGIA São alterações de contiguidade da mucosa do trato gastrointestinal secundárias a efeitos nocivos do ácido clorídrico (HCl) e da pepsin (por isso é denominada peptic = porque ocorre em sítios expostos à secreção de ácido clorídrico e pepsina). OBS: pode também acometer o terço inferior do esôfago, o jejuno, anastomoses gastroentéricas, e o divertículo de Meckel, quando existe mucosa gástrica ectópica. É uma afecção heterogênea, multifatorial, que acomete 15% a 20% da população mundial. 3 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES São mais comuns no duodeno (mais precisamente no bulbo duodenal) e no antro gástrico, na pequena curvatura. A lesão pode estar restrita à submucosa, ou atingir a muscularis mucosae, serosa ou a cápsula ou parênquima de um órgão vizinho. Acomete indivíduos mais jovens, dos 20 aos 40 anos de idade e a UG é mais frequente em pessoass acima de 40 anos de idade, com pico de incidência em torno dos 60 anos. FATORES DE RISCO ETIOLOGIA 2 etiologias principais: a infecção pelo H. pylori e o uso crônico de anti-inflamatórios não esteroides (AINES). Outras causas menos comuns de úlcera incluem gastrinoma, mastocitose, pâncreas anular, doença de Crohn, infecção gástrica por outras espécies de Helicobacter como o Helicobacter suis e possivelmente por outros microrganismos como Herpes simplex tipo I. As lesões ulcerosas pépticas têm também sido descrita em indivíduos que fazem uso de medicamentos contendo potássio, em pacientes submetidos à quimioterapia, usuários de cocaína, e mais recentemente sob tratamento para osteoporose com bifosfonatos de cálcio como alendronato e risedronato. Outras causas para a doença ulcerosa péptica, que podem existir de forma isolada ou contribuir para os fatores já citados são o tabagismo, a Síndrome de Zollinger- Ellison, radioterapia, DPOC e outras comorbidades além do uso de drogas como crack e cocaína.HELICOBACTER PYLORI O Helicobacter pylori é um bastonete gram negativo que reside na mucosa gástrica produzindo urease, enzima capaz de transformar a ureia em amônia e bicarbonato, responsável por criar um ambiente alcalino no estômago. A infecção por H. pylori pode ser responsabilizada por 90-95% das UD e 70-75% das UG. A transmissão pode ser de pessoa para pessoa, oral- oral, fecal-oral. No Brasil, o micro-organismo infecta cronicamente 35% das crianças e 50-80% dos adultos, contrastando com uma prevalência de 20 a 50% nos países industrializados. Nos EUA, apenas 10% da população abaixo de 30 anos é infectada pelo H. pylori... São fatores de risco para a infecção pelo H. pylori o baixo nível socioeconômico, a aglomeração populacional e o saneamento precário. A infecção pelo H. pylori está relacionada às seguintes patologias gástricas: gastrite superficial aguda (no momento em que o indivíduo é infectado), gastrite crônica ativa de antro, gastrite ou pangastrite atrófica ou não atrófica, adenocarcinoma gástrico, linfoma gástrico MALT e úlceras pépticas gástricas e duodenais. A fisiopatologia detalhadamente se baseia na instalação da bacteria inicialmente no antro-gastrico, então ocorre nessa região um processo inflamatório resultando numa gastrite crônica ativa, que começa a destruir as células do tipo D (produtoras de somatostatina, função de inibir as células G), logo as células G vão trabalhar de forma + livre, com isso temos um aumento na produção de gastrina levando ao aumento da produção de acido clorídrico resultando na condição de hipercloridria. Com esse excesso de HCL no estomago, começa a esvaziar uma maior quantidade de acido no duodeno, esse por sua vez não está acostumado a receber esse conteúdo tão acido, desenvolvendo então a úlcera duodenal. Além disso, há produção de outras citocinas (pela bactéria e pela resposta inflamatória do hospedeiro) que degradam o muco gástrico, danificam as células H.PYLORI AINES HIST. DE ÚLCERA PÉPTICA SÍNDROME DE ZOLLINGER- ELLISON ÁLCOOL TABAGISMO 4 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES epiteliais e promovem agregação plaquetária, com formação de trombos na microcirculação. O H.Pylore que estava no antro pode migrar para partes + superiores do estomago, para regiões proximais = corpo estomacal, que começa a ocasionar a gastrite atrofica. Essa região do corpo tem grande quantidade de células parietais, produtoras de acido, então se está ocorrendo uma atrofia multifocal começa a ter a destruição essas células produtoras de HCL, então temos a condição de hipocloridria, que acaba predispondo o aparecimento da úlcera gástrica. Embora não temos a agressão do acido, temos a presença da bactéria provocando a lesão. Lembrando que essa gastrite atrofica predispõe não somente a ulcera gástrica, mas também ao CA gástrico. RESUMO: QUESTIONAMENTO: a infecção pelo H.Pylori é a + comum do mundo, por que apenas uma pequena porcentagem (15%) dos infectados desenvolve úlcera? ANALISE: Acredita-se que as cepas de H. pylori possuam fatores de virulência distintos, o que justificaria as diferentes manifestações clínicas da infecção. Os fatores de virulência atualmente mais valorizados são os genes cagA (associados à formação de citotoxinas), vacA (citotoxina vacuolizante), babA (aderência bacteriana) e OipA (outer inflamatory protein), que podem levar a uma maior agressão celular e desenvolvimento de doença. A maioria dos infectados é assintomática, o que dificulta o seu diagnóstico precoce, antes do surgimento de complicações como a úlcera. AINES – ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS O uso de AINEs é, provavelmente, a causa mais comum de lesões na mucosa gastrointestinal nos países desenvolvidos, onde a prevalência da infecção pelo H. pylori vem diminuindo rapidamente. HIPERCLORIDRIA ÚLCERA DUODENAL HIPOCLORIDRIA ÚLCERA GÁSTRICA 5 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES O uso de AINEs é responsabilizado por aproximadamente 25% das UG, sendo considerado causa mais frequente de úlceras não decorrentes da infecção pelo H. pylori. Os AINES são bloqueadrores da enzima cicloxigenases, COX, essa enzima produz as prostaglandinas (E e A) a partir do acido araquidônico, então se tem um medicamento que está diminuindo as síntese de prostaglandinas estamos diminuindo também a microcirculação da mucosa gastrica (que normalmente favorece a renovação celular acelerada na região), alem disso as prostaglandinas diminuem a secreção gástrica e aumentam a produção de muco e bicarbonato, logo = tem maior produção acida e menor de muco e bicarbonato. O efeito dos AINES na ulcera independe o meio de administração. Essa lesão na mucosa gástrica e duodenal ocorre também por efeito tóxico direto alterando os mecanismos de defesa da mucosa com aumento da permeabilidade celular, inibição do transporte iônico e da fosforilação oxidativa, e por efeito sistêmico, tudo isso enfraquece os mecanismos de defesa pela inibição da COX-1, que atua na síntese das prostaglandinas. OBS: O risco de ulceração é proporcional à dose diária do medicamento e aumenta em pacientes idosos (>60 anos), em uso concomitante de corticosteróides ou de anticoagulantes. TABAGISMO Por redução da produção de bicarbonato pelo duodeno, lentidão no esvaziamento gástrico (estômago mais distendido produz mais ácido), maior incidência de infecção pelo H. pylori e produção de radicais livres lesivos à mucosa. Tabagistas tem cicatrização mais lenta das úlceras, não respondem bem ao tratamento e possuem maior incidência de complicações. FATORES GENÉTICOS Embora a DUP seja três vezes mais comum em parentes de primeiro grau de um paciente com a desordem, fatores como prevalência de infecção pelo H. pylori muitas vezes atrapalham a conclusão dos estudos. Outro exemplo: a DUP é mais frequente em quem tem grupo sanguíneo O, só que o H. pylori se liga preferencialmente a este antígeno, fenômeno que prejudica nossa interpretação. SÍNDROME DE ZOLLINGER-ELLISON É um tumor endócrino de células produtoras de gastrina, localizado na parede duodenal ou no pâncreas. A gastrina, em grande quantidade, estimula as células parietais a produzirem muita secreção ácida, levando a um estado de hipercloridria. Devemos suspeitar de gastrinoma quando paciente apresentar muitas úlceras, principalmente em localizações atípica, como o duodeno distal, e forem refratárias ao tratamento convencional. PATOGENIA DA ÚLCERA PÉPTICA As úlceras pépticas surgem devido a um rompimento no equilíbrio da mucosa gastrointestinal, por aumento nos fatores agressivos (HCl, pepsinas, citocinas e substâncias exógenas) e/ou redução dos fatores protetores (muco, secreção de bicarbonato, renovação celular). RESUMO: desequilíbrio entre os mecanismos de defesa e os fatores de agressão da mucosa gastroduodenal. ÚLCERA DUODENAL Maioria dos casos relacionados a infecção pela H.Pylori, que ao infectar cronicamente a mucosa antral, inibe a produção de somatostatina pelas células D. A perda (pelo menos parcial) deste fator inibitório promove hipergastrinemia leve a moderada, tendo como resposta a hipercloridria. A maior secreção de HCl pelo estômago faz o duodeno receber maior carga ácida, induzindo a formação de metaplasia gástrica no bulbo duodenal, isto é, surge um epitélio tipo gástrico (oxíntico) no duodeno, que normalmente tem epitélio do tipo intestinal. Isso permite a infecção do bulbo duodenal pela bactéria, acestada nas ilhas de metaplasia gástrica, provocando duodenite, seguida de úlcera. Outro importante efeito da bactéria é inibir a produção de bicarbonato pela mucosa duodenal. ÚLCERA GÁSTRICA Existem quatro tipos clínicos de úlcera gástrica, sendo as lesões classificadas de acordo com sua localização e associaçãoou não com úlceras duodenais. Tipo I ou úlcera da pequena curvatura (55- 60% dos casos). É a mais comum e está associada à normo ou hipocloridria, com gastrite atrófica do corpo gástrico pelo H. pylori. Embora ainda incerta, sua patogênese parece estar relacionada a uma grande proliferação da bactéria na junção antrocorpo. 6 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES Tipo II ou úlcera do corpo gástrico associada à úlcera duodenal. Tem relação direta com a hipercloridria e sua patogênese é semelhante à da úlcera duodenal. Tipo III ou úlcera pré-pilórica. Tem relação direta com a hipercloridria e sua patogênese é semelhante à da úlcera duodenal. Tipo IV ou úlcera da pequena curvatura, parte alta, próximo à junção gastroesofágica. É a + rara. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A maioria desses pacientes se queixa de “queimação” epigástrica rítmica (epigastralgia), exacerbada pelo estresse e por alimentos. Esse sintoma é mais associado ao aumento da acidez gástrica que à úlcera em si, e pode estar ausente em boa parte dos pacientes. Torna-se mais específica para a úlcera duodenal quando a queimação surge 2 a 3 horas após a alimentação ou durante a noite, despertando o paciente, sendo aliviada com nova ingestão alimentar e com uso de antiácidos. Já as úlceras gástricas têm pior resposta à alimentação e aos antiácidos. A clínica só se torna mais florida no caso de complicações da doença, sendo as principais o sangramento, a perfuração e a obstrução, que podem, inclusive, ser o primeiro sintoma da doença. A úlcera péptica é a principal causa de hemorragia digestiva alta no mundo (cerca de 50% dos casos), mas felizmente a maior parte de seus sangramentos cessa de forma espontânea e não requer tratamento cirúrgico. O sangramento é mais comum em úlceras duodenais, pode ser exteriorizado na forma de hematêmese ou digerido, ser percebido na forma de melena ou como uma anemia ferropriva por perda sanguínea crônica oculta. Já a perfuração é mais comum em úlceras da pequena curvatura gástrica e da parede anterior do bulbo duodenal, costuma ter uma clínica mais grave, com dor abdominal intensa, de início súbito, geralmente com peritonite difusa ao exame. Por fim, a obstrução surge de forma mais crônica, quando a inflamação ou fibrose ao redor da úlcera é tão intensa que obstrui a saída de passagem do piloro. Pode se manifestar como vômitos pós-prandiais, sensação de plenitude gástrica, anorexia e perda de peso. É um diagnóstico diferencial importante do câncer gástrico. Diagnóstico ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Exame padrão-ouro para diagnóstico, pois permite visualização direta da úlcera, além da realização de biópsia da mucosa para identificação de malignidade e para testar a presença de H. pylori (por meio do ensaio rápido da urease ou visualização histológica/cultura). Está sempre indicada desde o início nos pacientes > 45 anos ou naqueles com “sinais de alarme” para uma possível neoplasia gástrica: perda ponderal, anemia, sangramento, vômitos recorrentes, disfagia, massa abdominal, adenopatia, história familiar de câncer gástrico e gastrectomia parcial prévia. OBS: se a EDA visualizar uma úlcera “péptica” no estômago, várias amostras de material (pelo menos sete) devem ser colhidas por biópsia e exaustivamente investigadas à procura de tecido neoplásico, o que não é necessário de rotina numa úlcera duodenal. 7 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES OBS: As úlceras gástricas devem ter um controle endoscópico de cura aproximadamente 8-12 semanas após a primeira EDA, o que coincide com o término do tratamento clínico. TESTES INVASIVOS TESTE RÁPIDO DA UREASE DO FRAGMENTO BIOPSIADO: é o método de escolha na avaliação inicial dos pacientes que foram submetidos à endoscopia digestiva alta. Amostras de biópsia da mucosa são colocadas em um meio contendo ureia e um marcador de pH. A presença de urease acarreta mudança na tonalidade do meio. O uso recente de antibióticos, inibidores da bomba de prótons ou bismuto, diminui a sensibilidade deste exame, que então deve ser feito uma semana após a suspensão dos mesmos. HISTOPATOLOGIA: geralmente duas a três biópsias da região antral coradas pela prata (Warthin- -Starry), método de Gimenez, carbolfucsina ou imuno- histoquímica (FIGURA 6) são suficientes para o diagnóstico de infecção por H. pylori. Quando o teste é utilizado para a avaliação da eficácia do tratamento, um número maior de biópsias deve ser realizado, inclusive em outras localizações (como a incisura angularis), pois a bactéria pode apresentar-se em número reduzido ou migrar para áreas menos habituais. CULTURA: é menos utilizada para o diagnóstico, pois o isolamento da bactéria é difícil e custoso. A principal vantagem deste método consiste na determinação da sensibilidade do H. pylori aos antibióticos empregados, principalmente nos casos de falha terapêutica. TESTES NÃO INVASIVOS PARA H. PYLORI Quando não há indicação da realização de EDA, pode-se realizar pesquisa para H. pylori por método sorológico, pelo teste respiratório da ureia ou pela pesquisa do antígeno fecal. A SOROLOGIA, ELISA, titula a presença de anticorpos contra a bactéria (e IgG anti-H. pylori) e tem como limitação o fato de permanecer positivo até um ano após sua erradicação, não sendo indicado para acompanhamento. Tem m baixa sensibilidade e especificidade comparado aos demais métodos não invasivos, não sendo mais indicado de rotina para o diagnóstico de infecção ativa. O TESTE RESPIRATÓRIO DA UREIA, por outro lado, é o teste de escolha para o acompanhamento após tratamento (um teste positivo significa infecção atual). Consiste na administração de ureia marcada com carbon (carbon 13); caso a bactéria esteja presente, há a conversão da ureia em amônia e dióxido de carbono marcado, que é detectado na análise do ar expirado pelo paciente após 30 min. A pesquisa do antígeno fecal é menos utilizada, mais restrita à população pediátrica, pela dificuldade da realização do teste respiratório nessa faixa etária. INVESTIGAÇÃO NO DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA RADIOGRAFIA SIMPLES DE TÓRAX E ABDOME: esse exame tem uma função básica detectar a presença de pneumoperitônio (ar livre na cavidade abdominal), que sugere a perfuração de vísceras ocas. É pouco específico e não permite identificar o local da perfuração, mas pode ser útil em casos mais urgentes por ser rápido e realizado na beira do leito. RADIOGRAFIA CONTRASTADA DE ABDOME: quando a situação permite, a ingestão de contraste oral aumenta muito a sensibilidade da radiografia, permitindo visualização do seu extravasamento ou deposição ao redor a úlcera. Perdeu espaço nos últimos anos para a EDA, sendo mais utilizado em serviços que não dispõe de endoscopia. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: pode ser realizada em pacientes estáveis, sendo recomendada nas primeiras 24h após início dos sintomas. Tem como benefício o fato de ser propedêutica e terapêutica. Tratamento TRATAMENTO CLÍNICO Redução dos fatores de risco, com recomendação de cessar o tabagismo, evitar consumo de café e álcool, redução do uso de AINES e erradicação do H. pylori. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Visa a redução da acidez do conteúdo gástrico somada à erradicação do Helicobacter pylori, quando a bactéria se encontra presente. ANTISSECRETORES DE PRIMEIRA LINHA Têm como função a redução da agressão à mucosa, ajudando na cicatrização de úlceras, por isso são indicados no tratamento ambulatorial de quase todos os pacientes. 8 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBPS) Atuam na H+/K+ATPase, inibindo diretamente o mecanismo de secreção de HCl da célula parietal. MECANISMO DE AÇÃO DOS INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS: acontece por meio da inibição da enzima H+/K+-ATPase, fazendo comque ocorra o bloqueio da secreção ácida do estômago, impedindo a troca de H+ e K+ . Todos eles são pró-fármacos, os quais precisam de um ambiente ácido para serem convertidos em suas respectivas formas ativas. Posteriormente as mesmas perdem a estabilidade em meio ácido, como o do estômago. Logo, os fármacos são produzidos com um revestimento entérico, que os protegem, a fim de prevenir a ativação prematura do fármaco. Os IBPs deverão ser administrados pelo menos 30 minutos antes da realização da alimentação, pois esta irá estimular a produção da gastrina, que ativará a bomba H+/K+ ATPase tornando o ambiente ácido (pH=1/2) possibilitando a ativação do pró-fármaco. Após a administração, o início de ação dos IBPs é rápido, com o efeito inibitório máximo na secreção ácida ocorrendo dentro de duas a seis horas. Esses agentes atuam com maior eficácia quando a bomba de prótons se encontra ativada, daí a recomendação de serem administrados em jejum. A secreção ácida retorna totalmente ao normal somente após 7 a 14 dias da suspensão da medicação. Principais IBPs disponíveis e suas respectivas doses: Omeprazol - 20 mg/dia; Lansoprazol - 30 mg/dia; Dexlansoprazol - 30 mg/dia; Pantoprazol - 40 mg/dia; Rabeprazol - 20 mg/dia; Esomeprazol - 40 mg/dia. OBS: Os IBPs fazem parte dos esquemas de erradicação do H. pylori – a recomendação em nosso país é um tempo de tratamento de sete dias. Após este período, os antibióticos são suspensos e o IBP é mantido por mais três a sete semanas, perfazendo um total de quatro a oito semanas de tratamento da DUP. BLOQUEADORES H2 Bloqueiam competitivamente os receptores H2 de histamina das células parietais, responsáveis pelo estímulo à produção de ácido gástrico – tais células, além de ficarem menos responsivas aos efeitos estimulantes da histamina, também ficam menos responsivas à acetilcolina e à gastrina. Existem diversos BH2 , que diferem em termos de potência, efeitos colaterais etc. Os principais agentes disponíveis no mercado, com suas respectivas doses são: (1) Cimetidina (Tagamet) – 800 mg/d; (2) Ranitidina (Antak, Zilium) – 300 mg/d; (3) Famotidina (Famox) – 40 mg/d; (4) Nizatidina (Axid) – 300 mg/d. OBS: (a) Como os antiácidos interferem com a absorção dos BH2, eles não devem ser ingeridos concomitantemente. (b) Como os rins são a principal via de eliminação dos BH2, deve-se ajustar a dose na insuficiência renal. (c) Os BH2 (com exceção da famotidina) mostraram-se inibidores da desidrogenase alcoólica gástrica, uma enzima gástrica que tem importante papel no metabolismo do álcool (ou seja, os BH2 tornam as pessoas mais sensíveis ao álcool). O tempo de tratamento com bloqueadores H2 de histamina varia em função do tamanho da úlcera, localização etc. No geral, eles também são prescritos por 4-8 semanas. DROGAS DE SEGUNDA LINHA ANTIÁCIDOS Ao reagirem com o HCl, os antiácidos neutralizam diretamente o pH reduzido do estômago. Atualmente esta classe de drogas é utilizada apenas para alívio dos sintomas. Os antiácidos mais conhecidos são: (1) hidróxido de alumínio (2) hidróxido de magnésio (3) bicarbonato de sódio (4) carbonato de cálcio. Se os antiácidos forem tomados com o estômago vazio, eles rapidamente deixam este local, sendo eficazes por apenas 10- 20min. Quando tomados uma hora após as refeições, momento em que a secreção de ácido (reativa) não mais consegue ser tamponada pela comida no estômago, são geralmente efetivos por duas a três horas. Dessa forma, os antiácidos devem ser tomados uma hora após as principais refeições e ao deitar. OBS: Os antiácidos que contêm alumínio, quando usados em grande quantidade, podem causar depleção de fosfato pela formação de precipitados intestinais inabsorvíveis. Isso pode resultar em anorexia, fraqueza muscular e doença óssea. O uso a longo prazo do carbonato de cálcio, como antiácido, pode levar à síndrome leite-álcali – hipercalcemia, hiperfosfatemia e calcinose dos rins, com progressão para insuficiência renal. SUCRALFATO 9 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES É uma molécula complexa que apresenta em sua estrutura uma porção hidrato de carbono e uma porção inorgânica (alumínio, sulfato). É insolúvel em água e possui consistência viscosa; considerado uma droga citoprotetora, funciona como um protetor da base da úlcera, formando uma película que impede a ação do ácido, da pepsina e dos sais biliares. Além de servir como uma barreira físico-química, a droga estimula ainda a produção de prostaglandinas, bicarbonato e muco. Outra ação importante se dá através de seu efeito trófico sobre o epitélio. Sendo pouco absorvido sistemicamente, o sucralfato apresenta efeitos colaterais mínimos, como constipação intestinal e náuseas. Devido ao alumínio de sua estrutura, deve ser evitado na presença de insuficiência renal. A dose habitual é 1 g quatro vezes ao dia. TRATAMENTO H. PYLORI INDICAÇÕES PARA ERRADICAÇÃO: a presença de doença ulcerosa peptic, presença de um linfoma MALT, portadores de dispepsia não ulcerosa (“funcional”), pacientes com síndrome dispéptica que não realizam EDA (em indivíduos que não têm indicação de EDA, pode-se realizar apenas algum teste não invasivo para pesquisa do H. pylori, como o teste respiratório da ureia. Se o teste for positivo, recomenda- se erradicar o H. pylori empiricamente, sem necessidade de EDA para confirmar se há ou não úlcera), historia de e Ca gástrico em parente de 1º grau. O consenso brasileiro de H. pylori propõe ainda algumas indicações adicionais: (1) presença de lesões pré- neoplásicas de Ca gástrico, como gastrite atrófica e metaplasia intestinal; (2) após tratamento do adenocarcinoma gástrico; (3) usuários crônicos de AINES ou AAS; (4) presença de Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI). NOVO CONSENSO: TERAPIA TRIPLA PADRÃO: Omeprazol (dose complete em 12/12hrs) + Claritromicina (500mg em 12/12hrs) + Amoxicilina (1g em 12/12hrs) por 14 dias. ALTERNATIVO EM CASO DE ALERGIA: TERAPIA QUADRUPLA COM BISMUTO: Omeprazol (dose complete em 12/12hrs) + subcitrato de bismuto coloidal (120 mg em 6/6hrs ou 240mg em 12/12hrs) + cloridrato de tetraciclina (500mg em 6/6hrs) + metronidazol (400mg em 8/8hrs) por 10/14 dias. TERAPIA CONCOMITANTE SEM BISMUTO: Omeprazol (dose complete em 12/12hrs) + Amoxicilina (1g em 12/12hrs) + Claritromicina (500mg em 12/12hrs) + metronidazol/tinidazol (500mg em 8/8hrs) por 14 dias. REGIME DE 2/3 LINHA EM CASOS DE FALHA DA TERAPIA TRIPLA PADRÃO: TRATAMENTO CIRÚRGICO 10 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES Procedimentos invasivos costumam ser necessários em complicações agudas da úlcera péptica. No caso de sangramento, a conduta é a hemostasia primária do vaso sangrante (o mais comum é a artéria gastroduodenal), por meio de cirurgia aberta com sutura ou endoscopia com esclerose, injeção de agente vasoconstritor, clipagem ou coagulação térmica. Uma reposição volêmica agressiva com cristalóides e/ou hemocomponentes pode ser necessária e a administração de IBP por via endovenosa em bolus seguida de administração contínua por ao menos 72h é recomendada para todos os pacientes. Já na perfuração a conduta é cirúrgica, com laparotomia (ou laparoscopia, se disponível e paciente estável hemodinamicamente) de emergência para fechamento primário da lesão, seguida de reforço com retalho de omento, lavagem e drenagem da cavidade. A cirurgia também é indicada para casos refratários ao tratamento clínico (manutenção da úlcera após 8-12 semanas de tratamento otimizado com comprovada erradicação do H. pylori) ou recorrentes. São menos utilizadas atualmente, com a ampliação do tratamento do H. Pylori. As técnicas visam reduzir os estímulos à secreção gástrica ácida, podendo ser realizada por meio de: a) Vagotomia troncular: secçãodos nervos vago esquerdo e direito, reduzindo o estímulo da acetilcolina para secreção ácida (também com redução do estímulo para outras vísceras abdominais). b) Vagotomia Seletiva: remove apenas a inervação vagal do estômago, poupando a de outros órgãos. c) Vagotomia Superseletiva: secciona apenas as porções do nervo vago que suprem o corpo e o fundo gástrico, mantendo a inervação no antro, relacionada a menores complicações per e pós operatórias. d) Antrectomia: a ressecção do antro gástrico, reduzindo a estimulação de secreção ácida pela gastrina. ACOMPANHAMENTO Recomenda-se realização de controle de cura do H. pylori dois a três meses após o fim do tratamento, sendo o teste respiratório com uréia marcada o teste não invasivo de escolha. A EDA rotineira não é recomendada para acompanhamento de úlceras duodenais, pelo baixo risco de malignização. Nos casos de úlcera gástrica, por outro lado, é recomendada a realização de endoscopia digestiva de controle em pacientes que permanecem sintomáticos, se a etiologia ainda é incerta, se úlcera tiver mais de 2 cm ou aparência suspeita, se a biópsia inicial foi inadequada ou inconclusiva ou se há fatores de risco para câncer gástrico (>50 anos, infecção por H. pylori, história familiar, displasia ou metaplasia gástrica). Todo paciente com diagnóstico de úlcera péptica deve receber recomendações para evitar uso de AINES, AAS, tabagismo e consumo de álcool. Pacientes com úlcera péptica secundária ao uso de AINES e que não podem cessar o seu uso devem continuar a terapia antissecretora indefinidamente. COMPLICAÇÕES HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA É a complicação mais comum da DUP e a causa mais frequente de Hemorragia Digestiva Alta (HDA) na população (40% dos casos). A úlcera duodenal responsável pela hemorragia situase mais comumente na parede posterior do bulbo duodenal e a artéria culpada costuma ser a gastroduodenal. A HDA associada à DUP se manifesta subitamente com hematêmese e melena (casos mais graves) ou apenas melena (casos mais leves). Vinte por cento dos pacientes não apresentam sinais ou sintomas premonitórios da hemorragia que virá a seguir, como, por exemplo, presença ou exacerbação de uma dor epigástrica ou de qualquer outra sintomatologia dispéptica. TRATAMENTO CLÍNICO Estabilizar hemodinamicamente o paciente: acesso periférico com cateteres de grosso lúmen, seguido de hidratação vigorosa com soluções cristaloides e transfusão de hemoderivados. Passagem de Sonda Nasogástrica (SNG): estratégia recomendada, pois a lavagem através da SNG facilita a Endoscopia Digestiva Alta (EDA) que será realizada em breve; além disso, o retorno de sangue vivo nos indica pacientes em grande risco de sangramento persistente ou risco de ressangramento após terapia endoscópica. O retorno de líquido claro ou tipo “borra de café” tem melhor prognóstico. Administração de IBP: preferencialmente pela via parenteral, deve ser imediata. A dose administrada habitualmente é de 80 mg de omeprazol (bolus), seguida de infusão contínua de 8 mg/h. EDA: atingida a estabilidade hemodinâmica, é necessário que o paciente submeta-se à EDA (dentro de 24-48h) 11 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES TRATAMENTO ENDOSCOPICO Somente os pacientes com achados endoscópicos Ia, Ib, IIa e IIb de Forrest serão submetidos ao tratamento endoscópico. Em casos de sangramento arterial ativo, a administração de epinefrina na base da úlcera somada a um segundo método (coagulação térmica ou o emprego de clipes metálicos no vaso sangrante) foi mais eficaz que qualquer um destes, isoladamente. Na ausência de sangramento arterial ativo, podemos empregar modalidade única de terapia; nesse contexto, a coagulação térmica ou o emprego de clipes metálicos mostraram-se superiores à epinefrina. Após tratamento bem sucedido, os pacientes devem ser testados para infecção pelo H. pylori (caso ainda não tenham este diagnóstico). TRATAMENTO CIRURGICO Embora tenhamos observado um avanço importante na terapia endoscópica, aproximadamente 10% dos pacientes com hemorragia pela DUP ainda requerem intervenção cirúrgica. Na úlcera duodenal, o primeiro passo do cirurgião é a exposição do sítio de sangramento. Como a maior parte das lesões se encontra no bulbo, a conduta é a duodenotomia (abertura do duodeno) ou a piloroduodenotomia, para abordagem direta da úlcera, com sutura do leito ulceroso. Em casos de úlcera em parede posterior que esteja erodindo para a artéria pancreaticoduodenal ou gastroduodenal, o cirurgião procede à ligadura direta destes vasos. Na úlcera gástrica, a simples abordagem da lesão com ulcerorrafia não é o suficiente, com grande probabilidade de ressangramento. Além disto, aproximadamente 10% destas úlceras são malignas. Sendo assim, a ressecção da úlcera em cunha habitualmente é feita. A seguir, uma operação definitiva deve ser realizada (leia novamente os procedimentos cirúrgicos para a úlcera gástrica). PERFURAÇÃO A segunda complicação mais encontrada na DUP e aquela que apresenta maior mortalidade (15%) é a perfuração, ocorrendo em 6% a 7% dos casos. A úlcera duodenal perfurada habitualmente se localiza na parede anterior do bulbo. A úlcera gástrica perfurada é encontrada mais frequentemente na pequena curvatura. A perfuração de uma úlcera pode ser livre ou tamponada. Na primeira variedade, o conteúdo gastroduodenal cai na cavidade abdominal ocasionando peritonite difusa. O segundo tipo acontece quando um orifício de espessura total é criado por uma úlcera, mas o derramamento livre é evitado pelo bloqueio exercido por órgãos adjacentes. Uma úlcera penetrante (ou terebrante) é aquela tamponada por órgãos adjacentes, como baço, pâncreas, fígado (lobo esquerdo) ou cólon transverso. Geralmente esta úlcera é observada na pequena curvatura do estômago e apresenta diâmetro ≥ 2 cm, sendo conhecida como úlcera gástrica gigante; esta lesão tem probabilidade de 10% em abrigar malignidade e apresenta também maior risco de sangramento. Nas úlceras duodenais, a penetração ocorre para o pâncreas, ocasionando muitas vezes pancreatite aguda. Os AINEs estão envolvidos na etiologia das perfurações de úlcera gástrica em 20% dos pacientes acima de 60 anos. Existe também uma associação clara entre o uso de AINEs e a perfuração de úlceras duodenais. QUADRO CLINICO E DIAGNÓSTICO Os pacientes relatam um pródromo de dor abdominal com duração de algumas horas, podendo ser suportável; em seguida, o quadro evolui para agudização, com dor abdominal difusa e presença de hipotensão, taquicardia e taquipneia. No exame físico, encontramos um paciente imóvel, com os joelhos fletidos e apresentando sinais de irritação peritoneal. Em um número significativo de casos, a perfuração é a primeira evidência da presença da DUP. A rotina radiológica de abdome agudo revela ar fora da cavidade em cerca de 70% dos pacientes. O exame de escolha, por possuir maior sensibilidade e especificidade para detectar ar fora do tubo digestivo, é a tomografia computadorizada. TRATAMENTO CIRURGICO A úlcera duodenal pode ser rafiada e protegida com omento (tampão de Graham), sendo este atualmente o procedimento de escolha. Perfurações > 3 cm são mais difíceis de serem abordadas, com o cirurgião muitas vezes recobrindo o defeito utilizando omento ou serosa do jejuno, somado à instalação local de dreno (duodenostomia); outra intervenção possível é a realização de antrectomia com vagotomia troncular e reconstrução à Billroth II. 12 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES Pacientes com úlcera gástrica tipo I perfurada devem ser tratados com gastrectomia distal somada à reconstrução à Billroth I (sem vagotomia), desde que estejam hemodinamicamente estáveis. Nos pacientes instáveis, o fechamento da úlcera com auxílio de tampão de omentoseguido de biópsia e erradicação do H. pylori é o tratamento. As úlceras tipos II e III se comportam como úlceras duodenais. Estas lesões devem ser tratadas com fechamento simples, com ou sem realização de cirurgia definitiva para a supressão ácida; a erradicação do H. pylori é obrigatória. É importante relembrarmos que, independente do tipo de úlcera gástrica, a lesão deve ser biopsiada para descartarmos malignidade. OBSTRUÇÃO Conhecida também como “estenose pilórica do adulto”, a obstrução do trato de saída do estômago é a complicação menos frequente da DUP. A maioria destes indivíduos possui cicatrização crônica do duodeno e piloro, o que já dificulta habitualmente seu esvaziamento gástrico. Com o surgimento de nova diátese ulcerosa neste local, o edema associado à úlcera determina ou agrava a obstrução. A apresentação clínica aguda inclui plenitude epigástrica, saciedade precoce, náuseas e vômitos repetidos. Quando o processo é arrastado, crônico, os achados incluem perda ponderal, desidratação e alcalose metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica. TRATAMENTO Os pacientes com obstrução devem ser internados. As medidas terapêuticas incluem hidratação venosa com soro fisiológico, correção do desequilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico, administração de IBP e lavagem gástrica com sonda de Fouchet (sonda calibrosa para resíduos maiores) ou Levine (sonda mais fina), duas vezes ao dia. Atualmente, a erradicação do H. pylori somada à dilatação endoscópica representa a base da terapia. O sucesso é obtido frequentemente com uma média de cinco sessões de dilatação e o prognóstico é excelente, com maioria dos pacientes não necessitando de cirurgia. Em doentes com úlcera duodenal por hipercloridria idiopática, ou seja, já possuem H. pylori erradicado, a dilatação endoscópica somada à terapia de supressão ácida por toda a vida obtém sucesso considerável. Os casos refratários ao tratamento endoscópico e clínico devem ser operados. A vagotomia troncular com antrectomia e reconstrução à Billroth II é o procedimento geralmente empregado. TABAGISTA, ETILISTA E FAZ USO CRÔNICO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES = constituem fatores de risco para úlcera peptica, visto que o tabaco reduz a produção de bicarbonato, promove lentidão no esvaziamento gastrico (o estomago mais distentido produz mais ácido clorídrico) e tem maior incidência de infecção pelo H.Pylori; o álcool (assim como os metabolites da ureia) é toxico ao epitelio estomacal, promovendo a lesão que pode progredir para o antro onde se localiza as celulas produtoras de somatostatina e interrompe a produção, resultando na exacerbação de HCL; já o uso cronico de AINES promove uma lesão gastric e duodenal devido ao seu mecanismo de ação, pois sã bloqueadores da enxima cicloxigenases, ou seja, diminuem a 13 ANA CAROLINA SILVA INÁCIO CAIRES síntese das prostaglandinas e com isso diminui a microcirculação da mucosa gastrica e aumenta a secreção gastric de HCL e diminuição da produção de muco e bicarbonato. DOR EPIGÁSTRICA EM QUEIMAÇÃO + NAÚSEAS + LOMBALGIA + MELENA + DOR DURANTE A NOITE QUE ALIVIA COM ALIMENTAÇÃO + HIPOCORADO + ABDOME DOLOROSO A PALPAÇÃO DO EPIGASTRO SEM SINAIS DE IRRITAÇÃO PERITONEAL = quadro clinico sugestivo de úlcera duodenal com hemorragia digestiva alta (principal complicação), a associação da ulcera ser duodenal é devido o paciente apresentar um alívio parcial com a alimentação (SOMENTE se confirma com a EDA), os sintomas apresentados são devido a fisiopatologia da úlcera pois ocorre um desequilíbrio entre os mecanismos de defesa (muco e bicarbonato) e fatores de agressão da mucosa duodenal, com isso ocorre a lesão das camadas histológicas e sintomatologia referente, a lombalgia pode ser associado ao uso cronico do AINEs, pois provoca supressão de prostaglandina que protege o rim, com isso tem como consequencia uma lesão renal e dor na lombar. A HAD é devido o melena apresentado pelo paciente. EDA COM TESTE DA UREASE = foram solicitados pois a EDA é o exame padrão ouro para ulcera peptica, pois permite visualização direta da úlcera, em que colhe material da mucosa para biopsia e coloca em um meio contendo ureia e um marcador de pH, a presence da urease vai provocar uma mudança na tonalidade do meio. Positivo o teste da urease = presença H.Pylori. INIBIDOR DE BOMBA DE PRÓTONS = foi prescrito pois inibem diretamente o mecanismo de secreção de HCL das celulas parietais, pois inibem a enzima H+/K+/ATPase, fazendo com que ocorra bloqueio da secreção ácida do estomago e o paciente tem melhora do quadro. É válido salientar que trata-se de pro-fármaco, ou seja, precisa de um ambiente ácido para ser convertido em sua forma ativa, por isso recomenda-se ser administrado pelo menos 30minutos antes da realização da alimentação, pois estimulará a produção de gastrina , que ativará a bomba tornando o ambiente ácido e ativação do pro- farmaco.
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