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Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 1 Fisiologia do sistema nervoso entérico: Constipação intestinal crônica (CIC): Conceito e epidemiologia: A constipação intestinal, também denominada obstipação, pode ser definida como sintoma ou conjunto de sintomas relacionados à alteração do hábito intestinal normal; Neste sentido, a constipação intestinal está relacionada à: Menor frequência evacuatória; Maior consistência das fezes; Ao esforço para defecação; Sensação de evacuação incompleta. Na escala de Bristol, na qual as fezes são classificadas de acordo com seus diferentes formatos, os tipos 1 (pequenas, em bolotas e endurecidas) e 2 (em forma de salsicha, empelotada e endurecida) estão relacionados à constipação. Todavia, muitos indivíduos eliminam fezes dos tipos 1 e 2 e não se consideram constipados; Na verdade, o hábito intestinal que caracteriza a constipação intestinal é variável para cada indivíduo; Em relação aos indivíduos da terceira idade, estudos demonstraram que cerca de 65% dos pacientes que se queixavam de constipação intestinal evacuavam, em média, uma vez ao dia. A sintomatologia referida era de dificuldade e esforço para evacuar, presença de fezes endurecidas e sensação de evacuação incompleta; A constipação intestinal crônica (CIC) é uma doença altamente prevalente na sociedade ocidental, afetando de 15% a 20% Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 2 dos adultos, dos quais 33% têm mais de 60 anos; É mais predominante no sexo feminino; Embora a síndrome seja caracterizada por sintomas intestinais que requerem um alto nível de atenção médica, na maioria dos casos, não são fatais ou debilitantes para o paciente; no entanto, tem um efeito significativo na qualidade de vida, principalmente em casos crônicos; No Brasil, ainda não existem estudos epidemiológicos acerca da real prevalência da constipação intestinal no adulto; A qualidade de vida de indivíduos com constipação é bem menor do que a de indivíduos sem, e o tratamento pode melhorar a qualidade de vida significativamente; A exploração diagnóstica e uso de medicações relacionadas aos pacientes com constipação geram custo bastante elevado ao sistema de saúde. Fatores de riscos: A constipação intestinal é uma queixa bastante frequente na população em geral, aumentando com a idade, no sexo feminino (a progesterona reduz a movimentação do intestino) e nas populações de menor nível socioeconômico; A idade avançada não parece ser importante fator de risco quando avaliada isoladamente. Os pacientes da terceira idade apresentam, frequentemente, outras condições e comorbidades que aumentam a prevalência da constipação nesta faixa etária; Mulheres gestantes porque se tem um aumento dos níveis de progesterona. As gestantes têm um mau funcionamento intestinal porque o hormônio progesterona passa a ser produzido de forma exagerada no período gestacional para proteger o feto. A progesterona tem como base diminuir a contração do músculo liso, por isso que o útero cresce sem ter contração. Mas ela faz isso também com o intestino e, quando a contração do músculo do intestino diminui, o funcionamento dele reduz também. A flora intestinal da gestante também sofre mudanças. O intestino que produz os anticorpos responsáveis pela imunidade, e a imunidade da gestante precisa ficar ruim, cair, para que o organismo não rejeite o embrião no início da gravidez. Por isso, a função intestinal reduz a produção de anticorpos nesse período. A medida que o útero vai crescendo, ele pressiona o intestino, o que também contribui para seu mau funcionamento. Além disso, as gestantes absorvem mais líquido do intestino, fazendo com que as fezes fiquem ressecadas e mais difíceis de serem eliminadas. O resultado da combinação desses fatores é um intestino preguiçoso e uma grande tendência a desagradável constipação. Isso a leva a outros quadros relativamente comuns na gestação e também bastante desconfortáveis: as fissuras anais e as hemorroidas, que costumam surgir por causa da dificuldade de evacuar. A maior secreção de estrógeno, progesterona e relaxina podem estar relacionados ao relaxamento da musculatura lisa intestinal na gravidez. No segundo e terceiro trimestres da gestação, ocorre inibição da motilina, hormônio conhecido por habitualmente estimular a musculatura lisa e a motilidade do trato gastrintestinal. Isso sugere que a progesterona possa ter efeito inibitório sobre a motilina, pois seus níveis aumentam com o progredir da gravidez, o que pode parcialmente justificar a hipomotilidade observada. Mulheres após menopausa porque diminuem os níveis de estrógeno. Classificação: A constipação intestinal pode ser classificada como primária ou secundária. Primária ou funcional: Quando a causa da constipação não pode ser identificada a partir da história clínica e do exame físico; A constipação primária pode ser classificada como: Constipação com trânsito intestinal normal (NTC); Constipação com trânsito intestinal lento (STC); Inércia do cólon; Obstrução de saída ou disfunção do assoalho pélvico; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 3 Causas combinadas (trânsito lento, constipação e disfunção do assoalho pélvico). Secundária ou orgânica: A constipação é classificada em secundária quando se identifica anormalidades intestinais ou extra-intestinais, fatores metabólicos ou hormonais ou medicamentos como responsáveis para os distúrbios defecatórios. Causas intestinais: tumores, diverticulite, estenoses inflamatórias, isquemia, volvo, endometriose, estenoses pós- operatórias, fissura anal, hemorróidas trombosadas, prolapso da mucosa, proctite ulcerativa. Induzido por medicamentos: anti- depressivos, anti-epilépticos, anti-histamíni- cos, antiespasmódicos, anti-colinérgicos, bloqueadores de canais de cálcio, suplementos de cálcio e ferro e anti-inflamatórios não hormonais. Doenças metabólicas: hipotireoi- dismo, hipoparatireoidismo, hipercalcemia, hipocalemia, hipomagnesemia, diabetes mellitus, uremia e envenenamento por metais pesados. Neuropatias: lesões medulares ou neoplasia, doença cerebrovascular, esclerose múltipla, neuropatia autonômica e Mal de Parkinson. Miopatias: Amiloidose e esclerodermia. Outras condições: doença de Chagas, deficiência cognitiva e imobilidade. Etiologia: As causas da constipação podem ser classificadas em primárias e secundárias. Causas primárias: As causas primárias são decorrentes de problemas inerentes ao próprio intestino e, baseado em sua fisiopatologia, são divididas em: Constipação com trânsito intestinal normal; Constipação com trânsito intestinal lento; Distúrbio anorretal. Constipação com trânsito intestinal normal: É a forma mais frequente de constipação, também denominada constipação funcional ou constipação crônica idiopática. Nesta, apesar do trânsito intestinal e da frequência evacuatória serem normais, os pacientes podem se queixar de constipação associada a desconforto e a dor abdominal; Apesar de difícil, a diferenciação entre constipação funcional e síndrome do intestino irritável com predomínio de constipação deve ser realizada quando possível, visto ter implicações/ terapêuticas. Constipação com trânsito intestinal lento: Caracterizada pelo retardo da passagem das fezes pelos cólons, geralmente avaliada pelo estudo do trânsito intestinal colônico; Clinicamente, os pacientes se queixam de baixa frequência evacuatória e distensão abdominal; Além disso, tais pacientes tendem a ser mais refratários ao tratamento clínico; Em relação à fisiopatologia, os mecanismos não estão esclarecidos e parecem ser diversos; Postula-se que haja anormalidades do plexo mioentérico, alterações da inervação colinérgica e anormalidades do sistema de transmissão neuromuscular noradrenérgico; Estudos recentes demonstraram haver diminuição do reflexo gastrocólico mediado por receptores serotoninérgicos ou por distensão antral, alterações na produção de óxido nítrico levando à dismotilidade colônica, e modificações da regulação do sistema nervoso entérico; Histologicamente, são observadas alterações em densidade e distribuição de Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 4 neuropeptídios do sistema nervoso entérico (p. ex., polipeptídeo vasointestinal, substância P), diminuição do volume das células intersticiais de Cajal no cólon e aumento de neurônios entéricos em processo apoptótico. Distúrbios anorretais: Esta forma de constipação é caracterizada pela incoordenação do mecanismo defecatório dependente da musculatura pélvica; A musculatura pélvica tem origem nos músculos do assoalho pélvico, o funcionamento em sua integridade plena é importante para o bom funcionamento dos cólons; Do ponto de vista clínico, nos distúrbios anorretais, as queixas mais frequentes são sensação de evacuação incompleta ou de estar obstruído e a necessidade de manipulação digital para evacuar; Os distúrbios anorretais são causa bastante frequente de constipação na terceira idade, particularmente em mulheres; O diagnóstico é confirmado pelas alterações nos exames de manometria anorretal e defecografia; Os mecanismos fisiopatológicos são diversos, porque os distúrbios abrangem um grupo heterogêneo de pacientes; Uma das causas é a dificuldade de relaxamento ou a contração inadequada do músculo puborretal e do esfíncter anal externo, denominada dissinergia do assoalho pélvico; Outras causas incluem a incapacidade de retificação do ângulo anorretal e a descida excessiva do períneo, comum em mulheres de idade avançada, e naqueles pacientes com presença de lesões locais, como hemorroidas e fissuras anais. Causas secundárias: As causas secundárias de constipação incluem diversas doenças, incluindo distúrbios psiquiátricos e variedade extensa de medicações. Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 5 No idoso, os principais fatores etiológicos relacionados à constipação incluem: Dieta pobre em fibras; Baixa ingestão hídrica; Diminuição da mobilidade; Menor prática de atividade física; Maior número de comorbidades médicas; Uso de medicações que têm como efeito colateral a constipação intestinal. Outros fatores que não estão claramente envolvidos na gênese da constipação no idoso, ou que não foram amplamente investigados, incluem: O processo de senescência de estruturas e mecanismos responsáveis pela formação das fezes e evacuação, como redução da prensa voluntária abdominal, da propulsão motora dos cólons, da percepção e complacência do reto e diminuição da pressão de contração e repouso do canal anal. Quadro clínico: Na história clínica, devem ser caracterizados os sintomas relacionados à constipação: ■ Defecação: evacuações infrequentes, ausência de urgência evacuatória, dificuldade para evacuar, esforço inefetivo evacuatório, necessidade de manobras digitais, sensação de evacuação incompleta, dor anal ou perianal, prolapso anal ao ato evacuatório, escape fecal; ■ Abdominais: distensão abdominal, dor ou desconforto abdominal relacionado ou não à evacuação; ■ Sistêmico: halitose, cefaleia, náuseas e cansaço. É importante caracterizar o tempo de início dos sintomas; Início dos sintomas na infância sugere problema congênito; por outro lado, início recente e progressivo nos indivíduos da faixa etária mais elevada sugere processo neoplásico; Sintomas associados, como emagrecimento e sangue nas fezes, também devem ser pesquisados e também apontam para processo neoplásico; Cólica e dores abdominais após alimentação podem indicar quadro obstrutivo; Outro aspecto que deve chamar atenção são os sintomas neurológicos, os quais podem ser decorrentes de doença neurológica de base levando à constipação; Determinados sintomas como lentificação, sensação de frio, queda de cabelo e rouquidão alertam para o diagnóstico de hipotireoidismo, o qual pode ser a causa da constipação; Incontinência urinária de esforço sugere disfunção do assoalho pélvico, enquanto desejar sem conseguir o ato de urinar está associado à inércia colônica; Antecedentes obstétricos são importantes, pois partos múltiplos, difíceis e com uso de fórceps sugerem dano ao assoalho pélvico; Comorbidades e uso de drogas podem ser a causa da constipação, devendo ser investigados; O médico tem de estar atento ao tipo e às mudanças da dieta, além de fatores emocionais e psíquicos, como história de abuso sexual e depressão; Ao exame físico, voz e aparência do paciente podem ser pistas para o diagnóstico, podendo apontar para hipotireoidismo, depressão e Parkinson; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 6 O exame neurológico é de suma importância, sendo necessário para descartar lesões centrais e, particularmente, lesões medulares. Nesses casos, a pesquisa da sensibilidade nas áreas sacrais é importante durante o exame físico; O exame físico do abdome pode revelar distensão, fezes endurecidas na região de palpação dos cólons ou massa inflamatória ou neoplásica; Caso o abdome esteja distendido, é aconselhável palpar a coluna lombar com o paciente em posição supina, a fim de excluir arqueamento anterior da coluna lombar como causa de distensão abdominal postural; Nas situações em que o paciente estiver de lado, o assoalho pélvico deve ser observado em repouso e após o paciente fazer esforço evacuatório a fim de detectar-se ausência ou deiscência perineal excessiva; O prolapso retal pode ser revelado nas manobras de esforço, na retirada do aparelho de retossigmoidoscopia ou quando o paciente faz força na posição sentada; O exame digital do reto revela quando ele está vazio ou cheio de fezes; A avaliação do tônus do esfíncter anal, em repouso ou sob contração voluntária, informa a respeito do tônus ou da força contrátil do esfíncter anal externo; Anormalidades na palpação de reto e estruturas adjacentes devem ser investigadas; A endoscopia pode revelar a pigmentação marrom escura da melanosis coli, por abuso de laxativos (p. ex., antraquinonas); O exame do reto distal pode evidenciar prolapso anterior da mucosa ou úlcera retal solitária; O uso do colonoscópio serve para excluir doenças estruturais do intestino grosso; Aspecto interessante que pode auxiliar em diagnóstico e acompanhamento dos pacientes constipados é o início de um diário no qual constem número e aspecto das evacuações, visto que os pacientes tendem a subestimar sua frequência intestinal. Diagnóstico: O diagnóstico de constipação intestinal requer uma análise cuidadosa da história clínica e exame físico, incluindo avaliações proctológicas e investigação diagnóstica adicional em casos com sintomas persistentes e refratariedade ao tratamento inicial (dieta, mudanças no estilo de vida e medicamentos à base de fibras); Outros distúrbios anatômicos que pode alterar o trânsito intestinal devem ser excluídos, principalmente em casos de constipação de início recente ou inexplicada,constipação com sangramento anal e / ou perda de peso inexplicada e hábitos intestinais alterados na população idosa. Portanto, com o intuito de padronizar o diagnóstico e o manejo da constipação intestinal, os pesquisadores descreveram: Inicialmente os critérios de Roma I, incluía quatro sintomas que deveriam estar presentes nos 3 anteriores meses. São eles: menos de três evacuações por semana, esforço para evacuar, a presença de fezes endurecidas e uma sensação de evacuações incompletas; Posteriormente, os critérios de Roma II englobou os quatro sintomas acima mencionados e dois sintomas adicionais: uma sensação de obstrução ou interrupção da evacuação e manobras manuais para facilitar evacuações. Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 7 Finalmente, os critérios Roma III e Roma IV modificaram principalmente o fator cronológico, ou seja, os sintomas deveriam originar-se 6 meses antes do diagnóstico e estar presentes durante os três meses anteriores. O histórico médico de pacientes com constipação deve ser analisado juntamente com: A consistência fecal (Escala de Bristol); Frequência de defecação; Esforço ao defecar; Manobras digitais; Sensação de evacuações incomple- tas; Dor e desconforto abdominal; Uso de laxantes; História cirúrgica; Comorbidades; Estilo de vida; Dieta; Ocupação. Avaliação da constipação: a-) Anamnese e exame físico: nos pacientes com constipação intestinal deve-se procurar identificar o seu início, a presença de um fator causal e características alarmantes. Uma análise detalhada da história clínica permite que durante a avaliação, analisar se o paciente realmente cumpre critérios clínicos objetivos para constipação intestinal, como os critérios de Roma IV; Tal análise confirma a presença de fatores de risco para constipação, como uma dieta inadequada, baixa ingestão de líquidos, um estilo de vida sedentário, doença psiquiátrica, uso de medicamentos, comorbidades, cirurgia e sintomas da síndrome do intestino irritável; Além disso, permite a identificação de características alarmantes como hematoquezia, perda de peso significativa, histórico familiar de câncer, anemia, sangramento anal e alterações no comportamento intestinal que indica a necessidade de colonoscopia e / ou exame radiológico para descartar causas da constipação; O histórico médico e o exame proctológico podem sugerir a causa da constipação intestinal; No caso de defecação obstruída, na história clínica do paciente verifica-se a presença de esforços evacuatórios excessivos e prolongados, baixo volume de fezes, sensação de evacuação incompleta e necessidade para manobras digitais do períneo, ânus ou vagina, junto com uma sensação de protuberância vaginal; Um exame da região perineal e ânus com um reto digital e exame vaginal pode identificar hipertonia do esfíncter, a presença de uma retocele ou enterocele, impactação fecal, e causas secundárias de constipação (neoplasia anorretal, prolapso retal, fissura anal, estenose e extrínseca compressão). b-) Os exames fecais, radiológicos ou endoscópicos na constipação sem características alarmantes não são rotineiramente indicado. Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 8 c-) Exames laboratoriais: os exames incluem hemograma completo, teste sorológico para doença de Chagas (para pacientes de áreas endêmicas), cálcio sérico, potássio, magnésio, tireóide, paratireóide, testes de função renal, e níveis de glicose no sangue em jejum. Esses exames devem ser solicitados principalmente em casos clinicamente suspeitos e não como rotina de investigações. d-) Enema do bário: este exame pode ser recomendado para identificar doenças colorretais (doença diverticular, neoplasia e megacólon) embora atualmente o teste seja menos utilizado; Nos casos persistentes ou na falta de resolução da constipação com a mudança da dieta, uma avaliação complementar para investigar a constipação deve ser conduzida 12 semanas após o tratamento clínico. e-) Manometria anorretal: Este teste deve ser realizado em casos de constipação crônica refratária ao tratamento com o objetivo de identificar ou excluir aganglionose (megacólon congênito ou doença de Hirschsprung), megacólon chagásico e megacólon psicogênico. A manometria fornece informações importantes sobre o reflexo inibitório retoanal, o tônus da musculatura do esfíncter anal interno e externo, a sensibilidade retal, capacidade e complacência anal. #Obs: Complacência anal É uma condição definida como uma contração paradoxical do músculo esfincter externo e/ou pubo retal quando o paciente se esforça para defecar. Observa-se um aumento de pressão, não somente no reto mas também na parte alta e/ou baixa do canal anal. f-) Videodefecografia, defecografia por ressonância magnética ou ecodefecografia: esses exames devem ser realizados para estudar distúrbios do assoalho pélvico, de preferência realizada em conjunto com a manometria anorretal em pacientes que durante a anamnese e exame físico tenham sinais sugerindo defecação obstruída (OD) ou saída obstruída; A videodefecografia é o estudo radiológico da evacuação dinâmica e é útil para investigar anormalidades anatômicas responsáveis pela saída obstruída, como retocele, intussuscepção, enterocele, sigmoidocele, anismus (contração paradoxal do músculo puborretal). Além de anormalidades estruturais, VDG pode ser usado para avaliar a mobilidade do assoalho pélvico, diagnosticar síndrome do períneo descendente e avaliar o grau de esvaziamento retal; Recentemente, por causa de sua alta exposição à radiação para pacientes jovens e idosos, alguns autores realizaram videodefecografia usando apenas gravação de vídeo, sem radiografia, enquanto outros escolheram defecografia por ressonância magnética ou ecodefecografia, que estão bem correlacionado com os resultados obtidos pelo VDG, sem o uso de radiação ionizante. g-) Tempo de trânsito colônico (CTT): O exame CTT é realizado para avaliar o tempo necessário para a eliminação das fezes (avalia a motilidade do ceco ao ânus) e pode ser realizada com o uso de marcadores radiopacos ou pelo método da cintilografia; Uma cápsula contendo 24 marcadores radiopacos é administrada por via oral no paciente e um a radiografia abdominal é feita 5 dias depois; Normalmente, menos de 5 marcadores devem ser vistos no cólon. É um teste simples e útil porque permite a identificação de três tipos de pacientes: Aqueles com tempo de trânsito normal (que eliminam 80% dos marcadores até o quinto dia); Aqueles com trânsito lento (que retêm mais de 20% dos marcadores até o quinto dia, ficando distribuídos por todo o cólon); Aqueles com obstrução de saída (que retêm mais de 20% dos marcadores até quinto dia, onde os marcadores ficam acumulados na região do retossigmoide); Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 9 Os CTT têm as vantagens de serem de baixo custo, sendo um teste relativamente não invasivo; Sua desvantagem é a exposição à radiação, embora em baixas doses. Deve ser o primeiro teste realizado quando o exame clínico e proctológico não indica obstrução na saída; O CTT pode ser recomendado para avaliar a resposta ao tratamento clínico ou cirúrgico da constipação crônica. h-) Teste de expulsão do balão: este é um método simples e útil, indicado principalmente como um teste de triagem para pacientes com sintomas de obstrução de saída (dissinergia do assoalho pélvico); Um balão cheiode água (50-60 mL) é posicionado no reto do paciente e é solicitado a ele fazer um esforço de evacuação para expulsá-lo; Quando a expulsão é alcançada, a disfunção do assoalho pélvico pode ser excluída; Este teste foi recomendado pela maioria das diretrizes de avaliação de constipação. i-) Eletromiografia do esfíncter anal (EMG): Este é recomendado para diagnosticar a contração paradoxal do músculo puborretal; O teste mede aatividade elétrica do componente estriado do esfíncter anorretal durante a contração voluntária, em repouso e com tosse e esforço evacuatório; Sua maior desvantagem é dor do paciente devido à inserção da agulha no esfíncter anal externo para obter a resposta. j-) Teste de hidrogênio respiratório: Recomendado para avaliar o tempo de trânsito orocecal; Este teste é um auxílio valioso para diferenciar dismotilidade do trato gastrointestinal (superior e inferior) por inércia colônica isolada; É recomendado para casos graves e refratários de inércia do cólon, antes da indicação de colectomia. Diagnósticos diferenciais: Existe uma considerável sobreposição de sintomas entre os distúrbios intestinais descritos em Roma IV – Síndrome do Intestino Irritável (SII), constipação funcional, diarreia funcional, distensão funcional / inchaço do abdômen, distúrbios funcionais inespecíficos e constipação induzida por opiáceos (OIC), que pode variar ao longo do acompanhamento contínuo do paciente; A presença de dor é predominante nos pacientes com SII, em contraste com a constipação intestinal funcional, em em que a sensação dolorosa é de baixa intensidade e não é o sintoma predominante. No consenso de Roma IV, uma nova síndrome denominada constipação induzida por opiáceos foi adicionado, o que está associado ao uso crônico desses medicamentos; A escala de Bristol pode ser útil para os pacientes avaliarem e descreverem aspectos de suas fezes, facilitando o reconhecimento da gravidade da constipação; Roma IV sugere o uso da escala de Bristol e dos diários intestinais, que são bons preditores do tempo de trânsito colônico e eficientes métodos para caracterizar os hábitos intestinais e facilitar a diagnóstico. Tratamento: As recomendações para o tratamento da constipação são com base no sistema GRADE, que os divide em fortes (1) e fraco (2), com alta (A), moderada (B) ou baixa (C) qualidade de evidências. Tratamento clínico: Mudança do estilo de vida, dieta e ingestão de líquidos: O manejo inicial de pacientes com constipação sintomática geralmente inclui modificação do estilo de vida, uma dieta rica em fibras e aumento da ingestão de líquidos. Embora a eficácia desta abordagem não possa ser estimada de forma confiável porque a qualidade da evidência é muito baixa (1C). Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 10 Tratamento empírico da constipação, compreendendo um aumento no teor de fibra dietética para aproximadamente 25-30 g por dia e hidratação aumentada (2–2,5 L por dia) é um método barato e eficaz para aumentar a frequência de evacuação e reduzir o uso de laxantes; Assim, o efeito terapêutico benéfico combinado desses métodos, como baixo custo, segurança e outros benefícios gerais para a saúde justificam seu uso como o primeiro passo no tratamento da constipação, notavelmente na atenção primária à saúde. Laxantes osmóticos: Quando o estilo de vida e as medidas dietéticas falham, a segunda etapa no tratamento da constipação intestinal envolve o uso de laxantes osmóticos, como o polietileno glicol (PEG) (1A), lactulose (1C) e laxantes associados com a formação de matéria fecal (psyllium, metilcelulose e policarbofila) (1C); Laxantes osmóticos criam um gradiente osmótico intra-luminal que aumenta secreção dos eletrólitos, resultando em viscosidade fecal reduzida e aumento biomassa fecal, com efeitos benéficos no peristaltismo; O PEG é superior a lactulose, com melhores resultados quanto à frequência, consistência das fezes e menos sintomas de dor abdominal. Laxantes estimulantes: Laxantes estimulantes (senna, cascara buckthorn, bisacodyl, picosulfato de sódio e derivados de antraquinona) podem ser usados para casos em que laxantes de fibra e osmóticos não foi bem sucedido (1B). Além de reduzir a absorção de água e estimular a motilidade intestinal, eles também aumentam a liberação de prostaglandinas. Sua principal vantagem é a mecanismo de ação rápido, com a evacuação ocorrendo em média dentro de 6– 12 h. Por causa de seus efeitos colaterais (distúrbios eletrolíticos, hipocalemia e cólica abdominal), eles não deve ser usado por períodos prolongados. Procinéticos: Produtos farmacêuticos procinéticos, como Tegaserod (agonista do receptor 5-HT4) e prucaloprida (agonista altamente seletivo do receptor 5-HT4) agem aumentando o peristaltismo, acelerando assim o trânsito gastrointestinal (1B). Eles são recomendados para casos que não respondem a laxantes. A prucaloprida pode ser usada em uma dose de 2–4 mg por dia e tem sido considerada uma boa opção para o tratamento da constipação crônica em mulheres que não respondem a fibras e laxantes. Probióticos: Probióticos têm sido recomendados com o objetivo de restaurar a microbiota intestinal, aumentando a frequência evacuatória, melhorando a consistência fecal e diminuindo a flatulência (2C); Atualmente, entretanto, não há evidências que confirmam seu benefício no tratamento de CIC. Fleet enema ou supositório: Enemas ou supositórios podem ser usados em casos selecionados de pacientes com constipação crônica (por exemplo, aqueles com doenças psicogênicas megacólon) ou impactação fecal, em que as medidas iniciais (fibras, líquidos e laxantes) foram ineficazes; A irrigação transanal estimula o reto e hidrata as fezes, permitindo corrimento intestinal. O uso desses métodos deve ser limitado a breves períodos, e os agentes podem ser compostos por fosfato de sódio ou óleos vegetais. Outras drogas: Outras drogas estimulam a secreção de fluidos pelo intestino (Lubiprostona e Linaclotida), aumentando assim a conteúdo de água fecal. Assim sendo, tais agentes têm mostrado promissores resultados (1A). A lubiprostona estimula a secreção intestinal de fluidos através dos canais de cloro e é prescrita para adultos com constipação crônica; Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 11 A modulação dos ácidos biliares no nível intestinal também tem sido empregada para o tratamento da constipação intestinal crônica. Elobixibat é uma molécula não absorvível que altera a absorção da bile no íleo terminal, o que aumenta o fornecimento de ácidos biliares no cólon proximal, com um consequente aumento na motilidade do cólon e secreção; Tratamento da disfunção do assoalho pélvico (biofeedback). O biofeedback tem sido usado para treinar a musculatura do assoalho pélvico através de exercícios específicos, que, nos casos de disfunção (sinônimos: anismus, contração paradoxal de o músculo puborretal ou síndrome do assoalho pélvico espástico), ajuda o relaxamento desta musculatura durante a evacuação esforços (2C). Esta abordagem é recomendada para crianças com mais de 6 anos de idade e adultos. Além disso, a terapia de biofeedback com o objetivo de treinar pacientes para relaxar o assoalho pélvico durante a defecação é apropriadamente recomendado para o tratamento de pacientes com sintomas de disfunção pélvica. A taxa de sucesso da terapia de biofeedback para assoalho pélvico disfunção varia amplamente entre 40% e 90% .34 Em um ensaio clínico randomizado, Chiaroni et al.39 demonstraram melhorada constipação intestinal após 6 semanas de tratamento em 80% do grupo tratado com biofeedback versus 22% dos pacientes usam laxantes isoladamente. Tratamento cirúrgico: É necessária uma avaliação detalhada e cuidadosa do paciente antes de qualquer tratamento invasivo para constipação intestinal; Além disso, as causas da obstrução devem ser tratadas antes do uso de procedimentos cirúrgicos para alterar o trânsito colônico. Para o tratamento de distúrbios retais associados ao trânsito lento, uma investigação completa é fundamental para o sucesso do tratamento. Constipação com trânsito lento (CTL): Pacientes com CTL refratários ao tratamento conservador e sem obstrução da saída pode se beneficiar da colectomia subtotal com anastomose ileorretal; A presença de dismotilidade do trato gastrointestinal superior gastroparesia e pseudo-obstrução intestinal), distúrbios psiquiátricos graves e distúrbios neurológicos sistêmicos, como diabetes mellitus e esclerose múltipla, devem ser excluídos antes da cirurgia; A taxa de sucesso de colectomia completa com anastomose ileorretal varia entre 72,5% e 100%, enquanto colectomia segmentar pode estar associada a altas taxas de falha; As taxas de recorrência de constipação após colectomia total variam entre 8% e 33%. Além disso, podem ocorrer complicações pós-operatórias, como diarreia e incontinência fecal, que geralmente melhoram após um ano de acompanhamento; Alguns estudos relatam que a complicação mais comum da colectomia total com anastomose ileorretal no pós-operatório é a obstrução intestinal por aderências, que ocorre entre 7% e 50%. Disfunção do assoalho pélvico (obstrução da saída): As principais indicações para o tratamento cirúrgico da constipação por síndrome da defecação obstruída são: retocele, enterocele, sigmoidocele e prolapso, onde cada paciente é avaliado individualmente; Embora a neuromodulação sacral para controlar a constipação por trânsito lento e a obstrução da saída pareça eficaz, os resultados são altamente variáveis dependendo do estudo. Após a implantação definitiva, a maioria dos estudos demonstrou melhora sintomática em menos de 50% dos pacientes após o acompanhamento. Conclusão: Em casos de constipação crônica, sinais e sintomas alarmantes devem ser Erika Domingues – 6º período Módulo 1 – Saúde do adulto, diarreia, vômitos e icterícia. 12 primeiramente excluídos e deve ser investigado um histórico familiar de câncer; Anamnese e exame físico com avaliação do esfíncter anal externo por meio de exame retal digital devem ser a primeira etapa da avaliação clínica; A primeira linha de tratamento é o paciente realizar uma dieta rica em fibras, aumentar a ingestão de líquidos, realizar exercícios físicos e tentar reconhecer e seguir o desejo evacuatório na maior parte do tempo; Notavelmente, um diário de frequência de evacuação e consistência fecal e a forma (escala de Bristol) devem ser mantidas durante o tratamento clínico; Testes investigativos adicionais podem ser empregados em casos refratários; Em casos suspeitos de disfunção do assoalho pélvico (obstrução de saída), manometria anorretal, videodefecografia ou defecografia por ressonância magnética devem ser utilizadas; Para obstrução da saída, tratamento específico deve ser instituído, por exemplo, biofeedback para contração paradoxal do músculo puborretal ou tratamento cirúrgico para retocele, enterocele, prolapso ou intussuscepção retoanal; Em casos de suspeita de inércia do cólon, um detalhado estudo da função colorretal deve ser realizado com um estudo do tempo de trânsito colônico com marcadores radiopacos e defecografia para descartar a presença de assoalho pélvico associado a disfunção. Mais de 50% dos indivíduos com doença pélvica com distúrbios defecatórios têm tempos de trânsito intestinal lentos. A correlação entre os testes funcionais e os dados clínicos é crucial; Uma indicação de colectomia para tratar constipação de trânsito lento é excepcional e só é recomendada para casos, somente depois que as medidas conservadoras falharam; O tratamento de escolha é a colectomia subtotal com anastomose ileorretal, que deve ser realizada em centros terciários especializados. Fatores biopsicossociais que influenciam na constipação intestinal: #Obs: O que é incontinência fecal? Em virtude da retenção das fezes, a mucosa colônica absorve a água e as fezes remanescentes tornam-se progressivamente mais difíceis de serem eliminadas; Este processo acarreta um ciclo vicioso de retenção de fezes no qual o reto torna-se elevadamente distendido, resultando em um fluxo fecal incontinente (escape fecal), perda da sensação fecal e por fim, perda da urgência para evacuar; O aumento do acúmulo fecal no reto também provoca uma diminuição da motilidade intestinal a montante, acarretando anorexia, distensão abdominal e dor.
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