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Anna lillian canuto bittencourt Conceitos • A definição de constipação varia de pessoa para pessoa, por isso é IMPORTANTE sempre perguntar ao paciente o que ele quer dizer com “estou constipado”; - A maioria acredita que é um esforço para evacuar, fezes duras ou uma incapacidade de evacuação. • A definição médica tradicional é de 3 ou menos evacuações por semana; - Porém, nem sempre os pacientes sabem com precisão a frequência de evacuação. • Para o diagnóstico e definição de constipação, utiliza-se os critérios de Roma IV (o mais atualizado): Sintomas e diagnóstico Roma IV Esforço para evacuar >25% Fezes pesadas ou duras >25% Sensação de evacuação incompleta >25% Sensação de obstrução/bloqueio >25% Manobras manuais para facilitar >25% Menos de três evacuaçãoes por semana Sim Número de critérios para diagnóstico >=2 Fator cronológico 3-6 meses* - Os sintomas devem ter originados 6 meses antes do diagnóstico e estiveram presentes nos últimos 3 meses. • Pacientes com DOR ABDOMINAL está mais relacionado com a Síndrome do Intestino Irritável do que com a constipação; - Na constipação, a dor é leve e não é o principal fator. • A Escala de Bristol deve ser utilizada para que facilite a descrição do aspecto das fezes do paciente; - Roma IV sugere que use um diário intestinal em associação com a Escala de Bristol, a fim de o médico ter uma melhor noção do aspecto e da frequência das fezes. Constipação Anna lillian canuto bittencourt • É mais prevalente na população ocidental; • Predominância no sexo feminino; • Não gera uma debilidade ao paciente, porém interfere na sua qualidade de vida. Função do cólon 01. Conteúdo luminal: • O conteúdo principal do lúmen do cólon é de resíduos de alimentos, água, bactérias e gás; • Alimentos inabsorvíveis que entram no ceco contêm carboidratos que são resistentes à digestão e a absorção no intestino delgado, como amidos e polissacarídeos não amiláceos; - Servem como substrato para a proliferação bacteriana e fermentação, para a produção de ácidos graxos de cadeia curta e gás. • Em média, as bactérias representam 50% do peso das fezes aproximadamente. 02. Absorção de água e sódio: • O cólon absorve sódio e água; • Um aumento na absorção de água pode levar a fezes mais duras e menores; - Indicativo de pouca ingestão de água. • Como no cólon ocorre uma baixa reabsorção de eletrólitos e nutrientes, é a troca de cloreto de sódio e o transporte de ácidos graxos de cadeia curta que são os principais mecanismos para estimular a absorção de água; - Paciente com constipação apresentam os mecanismos de absorção no cólon intactos. • Na constipação com trânsito lento, a falta de movimento peristáltico na passagem do conteúdo através do cólon permite mais tempo para a degradação bacteriana das fezes sólidas e um aumento da absorção de NaCl e água, diminuindo o peso e a frequência das fezes. 03. Diâmetro e comprimento: • Pacientes com cólon largo ou prolongado (megacólon ou megarreto) tem predisposição a constipação crônica. 04. Função motora: • O músculo do cólon possui quatro funções principais: - Atrasar a passagem do conteúdo luminal de modo a dar tempo para a absorção de água; - Misturar o conteúdo e permitir o contato com a mucosa; - Permitir ao cólon armazenar as fezes entre as defecações; Anna lillian canuto bittencourt - Impulsionar o conteúdo em direção ao ânus. • Essa atividade muscular é afetada pelo sono, vigília, alimentação, emoção, conteúdo colônico e pelos fármacos; • As propulsões do cólon são de dois tipos básicos: - Contrações propagadas de baixa amplitude (CsPBA); - Contrações propagadas de alta amplitude (CsPAA). • A frequência e a duração da CsPAA estão reduzidas em pacientes constipados. 05. Inervação e células intersticiais de Cajal: • A motilidade colônica proximal está sob o controle involuntário do sistema nervoso entérico, enquanto a defecação é voluntária; • A constipação de trânsito lento pode estar relacionada com uma disfunção autonômica; - Os pacientes constipados apresentam menor quantidade de neurônios do plexo mientérico envolvidos no controle excitatório e inibitório da motilidade do cólon. • As células intersticiais de Cajal são as células marca-passo do intestino e desempenham papel importante na regulação da motilidade gastrointestinal; - Facilitam a condução elétrica e servem de mediadoras da sinalização neural entre os nervos entéricos e músculos. • Pacientes constipados apresentam não só um número reduzido das células intersticiais de Cajal como tabém alterações morfológicas. 06. Função defecatória: • O processo de defecação em pessoas saudáveis começa com um período pré- defecatório, durante o qual a frequência e a amplitude das ondas de peristaltismos estão aumentadas; • Esse período pré-defecatório e o reflexo gastroileal (estimulado pela refeição) podem estar ausentes em pacientes constipados (INÉRCIA COLÔNICA); - Dessa forma, a vontade normal de defecar pode não ocorrer. Etiologia 01. Constipação primária: • É aquela que não consegue identificar uma causa após a avaliação da história clínica e exame físico; • Pode ser classificada em: A) Constipação com trânsito normal: - O trânsito das fezes pelo cólon apresenta uma taxa normal; Anna lillian canuto bittencourt - O paciente apresenta uma evacuação incompleta; - A dor abdominal pode estar presente, mas não é a característica predominante; - Apresenta resultados de testes fisiológicos normais. B) Constipação com trânsito lento: - Mais comum em mulheres jovens; - Caracterizada por evacuações não frequentes (menos de uma evacuação por semana); - A paciente apresenta dor abdominal, inchaço e mal-estar; - Os sintomas são intratáveis e as medidas conservadoras, como suplementos com fibra e laxantes osmóticos, são ineficazes; - Resulta de distúrbios da função motora do cólon; >> Em pacientes com sintomas mais graves, a fisiopatologia inclui retardo no esvaziamento do cólon proximal e menos CsPAA após as refeições. C) Distúrbios defecatórios: • Resultam da falha em esvaziar o reto efetivamente devido a uma incapacidade de coordenar os músculos do assoalho abdominal, retoanal e pélvicos; • Muitos pacientes com distúrbios defecatórios apresentam constipação de trânsito lento; • Pode ser um comportamento aprendido para evitar algum desconforto associado à eliminação de fezes duras ou de grande dor; • Pacientes com distúrbios defecatórios podem relatar evacuações não frequentes, ineficazes, com esforço excessivo e a necessidade de desimpactação manual; • A retenção fecal funcional (RFF) é o distúrbio defecatório mais comum em crianças; - É um comportamento aprendido que resulta da retenção da defecação, muitas vezes devido ao receio de uma evacuação dolorosa. • A RFF pode resultar em encoprese secundária (incontinência fecal) devido à perda de fezes líquidas em torno de um fecaloma; - RFF é a causa mais comum de ecoprese (vazamento das fezes que ficaram impactadas no cólon e no reto devido à retenção da defecação) na infância. 02. Constipação secundária: • Constipação que, na avaliação, apresenta uma causa intra-intestinal ou extra-intestinal, fatores metabólicos ou Anna lillian canuto bittencourt hormonais e, ainda, causado por algum medicamento; - Intestinal: tumores, diverticulite, estenoses inflamatórias, isquemia, volvo, endometriose, estenoses pós-operatórias, fissura anal, hemorróidas trombosadas, prolapso da mucosa, proctite ulcerativa;- Induzido por medicamentos: antidepressivos, antiepilépticos, anti- histamínicos, antiespasmódicos, anticolinérgicos, cálcio bloqueadores de canais, suplementos de cálcio e ferro e antiinflamatórios não hormonais. • Doenças metabólicas: hipotireoidismo, hipoparatireoidismo, hipercalcemia, hipocalemia, hipomagnesemia, diabetes mellitus, uremia e envenenamento por metais pesados; • Neuropatias: lesões medulares ou neoplasia, doença cerebrovascular, esclerose múltipla, neuropatia autonômica e Mal de Parkinson; • Miopatias: Amiloidose e esclerodermia; • Outras condições: doença de Chagas, deficiência cognitiva, imobilidade. Diagnóstico • A história clínica e o exame físico do paciente irá indicar se a constipação é benigna, se há um fator causal e, ainda, se há a presença de sinais de alarme; • A análise criteriosa da história clínica poderá conduzir ao diagnóstico de constipação pelos critérios de Roma IV; • Fatores de risco para constipação: dieta inadequada, baixa ingestão de água, sedentarismo, doenças psiquiátricas, uso de medicamentos, comorbidades, cirurgias prévias e síndrome do intestino irritável; • Sinais de alarme: hematoquezia, perda de peso significativa, histórico familiar de câncer, anemia, fissura anal e alterações no intestino; • Nos casos de constipação por obstrução, será identificado na história a presença de força excessiva e prolongada durante as evacuações, fezes pequenas, sensação de evacuação incompleta e necessidade de manobras digitais; • Exames radiológicos, fecais e endoscópicos em casos de constipação SEM sinais de alarme não são indicados rotineiramente; • O exame de sague deve incluir sorológico para doença de Chagas (para pacientes que estiveram em áreas endêmicas), cálcio sérico, testes funcionais da tireoide, paratireoide e rim, nível de glicose, potássio e magnésio; - Devem ser solicitados apenas em casos de suspeita clínica, não é de rotina. • Enema de bário: é recomendado para identificar doenças colorretais (diverticulite, câncer e megacólon); Anna lillian canuto bittencourt - Atualmente é pouco utilizado. • Manometria anorretal: é realizado em casos de constipação crônica refratária ao tratamento e tem o objetivo de identificar ou excluir aganglionose (megacólon ou doença de Hirschsprung) e megacólon psicogênico; - Fornece informações sobre o reflexo inibitório retoanal, o tônus da musculatura do esfíncter externo e interno, além as sensibilidade, capacidade e complacência retal. • Videodefecografia, defecografia por RM ou ecodefecografia: é realizado para distúrbios do assoalho pélvico, de preferência em conjunto com a manometria anorretal em pacientes com sinais sugerindo defecação obstruída ou saída obstruída; • Tempo de trânsito colônico: é realizado para avaliar o tempo necessário para a eliminação das fezes; - É o primeiro exame realizado quando não há indicação de obstrução na saída; - Pode ser recomendado para avaliar a resposta ao tratamento da constipação crônica; - O paciente engole uma cápsula com 24 marcadores radiopacos e, após 5 dias, é feita uma radiografia abdominal, sendo que menos de 5 marcadores devem ser vistos no cólon; - Pode identificar os pacientes em: >> Tempo de trânsito normal – aquele que eliminar 80% dos marcadores no quinto dia; >> Trânsito lento – retêm mais de 20% dos marcadores no quinto dia, distribuído por todo o cólon; >> Obstrução de saída – retêm mais de 20% dos marcadores no quinto dia, acumulados no retossigmóide. • Teste de expulsão do balão: é um teste de triagem para sintomas de obstrução de saída (dissinergia do assoalho pélvico); - Um balão cheio de água é posicionado no reto e o paciente é solicitado a fazer uma esforço para expulsá-lo. Quando a expulsão é alcançada, a disfunção do assoalho pélvico pode ser excluída. • Eletromiografia do esfíncter anal (EMG): é recomendado para diagnosticar a contração paradoxal do músculo puborretal; - Mede a atividade elétrica do componente estriado do esfíncter anorretal durante a contração voluntária, no repouso e durante a evacuação; - Pode causar dor ao paciente devido a inserção da agulha no esfíncter anal externo. • Teste de hidrogênio expirado: recomendado para avaliar o tempo de trânsito orocecal; Anna lillian canuto bittencourt - Auxilia na diferenciação da dismotilidade do TGI da inércia colônica isolada; - Recomendado em casos graves e refratários de inércia colônica, antes da indicação de colectomia. Tratamento • O manejo inicial de pacientes com constipação sintomática inclui modificação no estilo de vida, dieta rica em fibras e aumento da ingestão de líquidos; • Laxantes: - Quando o estilo de vida e as medidas dietéticas falham, o laxante é sugerido; - Os laxantes osmóticos criam um gradiente osmótico intraluminal que aumenta a secreção de eletrólito, resultando em viscosidade fecal reduzida e aumento da biomassa fecal; >> Existe de polietilenoglicol e de lactulose, sendo o primeiro de melhor eficácia. • Os laxantes estimulantes são utilizados quando os de fibra e osmótico não foram eficazes; >> Possuem mecanismo de ação rápido; >> Reduzem a absorção de água e estimula a motilidade intestinal; >> Possui efeitos colaterais como distúrbios eletrolíticos, hipocalemia e cólica abdominal, por isso não deve ser usado por um período prolongado. • Probióticos: - São recomendados com o objetivo de restaurar a microbiota intestinal, aumentar a frequência evacuatória, melhorar a consistência fecal e diminuir a flatulência. • Enema e Supositórios: - Utilizados em pacientes com constipação crônica, como megacólon ou impactação fecal, em que as medidas iniciais (fibras, líquidos e laxantes) foram ineficazes; - A irrigação transanal estimula o reto e hidrata as fezes, permitindo o corrimento intestinal. • Tratamento da disfunção do assoalho pélvico (biofeedback): - É um treinamento para relaxar o assoalho pélvico durante a defecação; - Indicado para crianças a partir dos 06 anos e adultos. Referências: SOBRADO, Carlos Walter et al. Diagnosis and treatment of constipation: a clinical update based on the Rome IV criteria. Journal of Coloproctology (Rio de Janeiro), v. 38, n. 2, p. 137-144, 2018. Tratado de gastrointestinal e doenças do fígado. Elsevier Brasil, 9° edição.
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