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Diagnósticos diferenciais da dispneia INTRODUÇÃO Definição: Deriva do grego dys e pnoia, que significa respiração ruim. Traduz uma sensação de desconforto respiratório e é uma condição multifatorial; Segundo a American Thoracic Society, dispneia é uma experiência subjetiva de desconforto respiratório, que consiste em sensações qualitativamente diferentes com intensidades variáveis. Essa experiência é causada por interações de fatores psicológicos, sociais e ambientais (HARISSON) Uma das principais causas de consulta médica; Retardo no diagnóstico etiológico: risco de óbito. AGUDA CRÔNICA Causas agudas: TEP (hipertensão pulmonar), pneumotórax, pneumonia (empiema), crise asmática, exercício extenuante; Evento recente ou agudização de doença preexistente. < 30 dias de duração. Obesidade, sedentarismo, DPOC, asma; Crônico é quando a dispneia está há mais de 30 dias. DIFERENCIAR DISPNEIA, DA ADINAMIA E DA ASTENIA Adinamia: exemplo, dispneia após algum esforço físico. Adinamia é a indisposição para fazer alguma coisa. Astenia: exemplo, astenia porque comeu recentemente e está em processo de alcalose metabólica e com sono. Observação: astenia e adinamia podem coexistir num mesmo paciente. Exemplo: pacientes com pneumonia grave. MAIS PREVALENTES NA CRIANÇA: NO ADULTO: NO IDOSO: Quem teve pais tabagistas (especialmente a mãe), quem teve baixo peso na infância (2 primeiros anos) e quem é prematuro, tem mais chances de desenvolverem queixas pulmonares; IVAS, crise asmática, pneumonia, etc. O idoso tem redução da capacidade pulmonar total de forma fisiológica. Cardiovasculares (edema agudo de pulmão, IAM), DPOC, etc. Observação: é importante ressaltar que medicações, como corticoide, fazem miopatia e essa miopatia afeta toda a musculatura periférica e a musculatura respiratória. ETIOLOGIAS Respiratórias: Asma, DPOC, doenças intersticiais; TEP, hipertensão pulmonar; Pneumonia, infecções, tuberculose, micoses profundas; Pneumotórax, derrame pleural; Neoplasias; Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono. Cardiovasculares: ICC; Pericardite, tamponamento cardíaco; IAM, angina, insuficiência coronária; Endocardite bacteriana (cateteres; mau estado dos dentes causado por asma, sinusite e pneumonia; e manipulação dentária) Valvopatias (estenose valvar ou insuficiência valvar, principalmente da febre reumática) Cardiopatia congênita (criança que fica cianótica quando chora). Doenças tireoidianas: Doenças tireoidianas (hipertireoidismo dá ICC devido à insuficiência cardíaca hiperdinâmica e o hipotireoidismo leva ao tamponamento cardíaco, derrame pleural e derrame pericárdico); Doenças hematológicas (o grupo heme é quem carrega o oxigênio e sem o oxigênio, os quimiorreceptores sinalizarão sua falta); Obesidade (devido ao condicionamento físico); Descondicionamento físico; Psicogênica; Doença renal crônica ou aguda, principalmente relacionada com a acidose. Doença do refluxo gastroesofágico (lesão indireta - estimulação do parassimpático, levando a broncoconstrição - OU lesão direta –na árvore respiratória, levando à broncoconstrição ou fibrose pulmonar idiopática, fibrose pulmonar centrolobular-) FISIOPATOLOGIA Via aferente: mecanorreceptores, quimiorreceptores e receptores pulmonares. A via aferente tem em todo corpo. Os principais mecanorreceptores (O2 e CO2) podem ser alterados pela hipóxia e pela hipercapnia. Hipóxia na curvatura da aorta e no seio carotídeo, que é onde estão localizados os mecanorreceptores O2. Hipercania no bulbo (onde os mecanorreceptores CO2 estão localizados). Então, alterações do nível de CO2 seriam responsáveis pelo aumento ou diminuição da frequência respiratória. Aferentes sensoriais: Os quimiorreceptores localizados nos corpos carotídeos e no bulbo são ativados por hipoxemia, hipercapnia aguda e acidemia. A estimulação desses receptores e de outros que resultam no aumento da ventilação, produz a sensação de falta de ar. Os mecanorreceptores situados nos pulmões, quando são estimulados pelo broncoespasmo, geram uma sensação de constrição torácica. Os receptores J sensíveis ao edema intersticial e os receptores dos vasos sanguíneos pulmonares, quando são ativados por alterações agudas da pressão arterial pulmonar, parecem contribuir para a sensação de falta de ar. A hiperinsuflação está associada à sensação de esforço mais acentuado para respirar e à incapacidade de obter uma respiração profunda ou satisfatória. Os metaborreceptores localizados nos músculos esqueléticos parecem ser ativados por alterações da composição bioquímica local dos tecidos ativos durante o exercício e, quando estimulados, contribuem para a angústia respiratória. Bulbo: controle respiratório; Via eferente: musculatura respiratória (quem age na frequência respiratória), por isso é sempre importante avaliar se há uso de musculatura acessória nos eventos agudos (como exacerbação da DPOC e/ou na crise asmática) Eferentes motores: Os distúrbios da bomba ventilatória – mais comumente aumentos da resistência ou da rigidez das vias respiratórias (diminuição da complacência) do sistema respiratório – estão associados à acentuação do trabalho respiratório ou a uma sensação de esforço exagerado para respirar. Quando os músculos estão fracos ou fatigados, é necessário realizar mais esforço, mesmo que a mecânica do sistema esteja normal. A estimulação neural acentuada proveniente do córtex motor é percebida por uma descarga corolária (um sinal neural) enviada ao córtex sensorial ao mesmo tempo em que os estímulos motores são enviados aos músculos respiratórios. DESPROPORÇÃO EFERENTE-REAFERENTE A discrepância ou desproporção entre os estímulos anterógrados enviados aos músculos ventilatórios e o feedback gerado pelos receptores que monitoram a resposta da bomba ventilatória aumenta a intensidade da dispneia. Essa desproporção é particularmente importante quando há um desequilíbrio mecânico na bomba ventilatória, como ocorre na asma ou na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). ANAMNESE Início; Modo de instalação: Gradual: DPOC, ICC, derrame pleural, derrame pericárdico. Súbito: pneumotórax, TEP. Duração; Fatores desencadeantes: Estresse, exercício físico contato com hipoclorito, fumaça, poeira, uso de propranolol e atenolol (B bloqueadores). Comparação: Sensação de peso constante: asma; Sensação de peito abrindo: infarto, aneurisma dissecante de aorta; Sensação de afogamento: edema pulmonar. Periodicidade e número de crises Comum na asma; Fatores que acompanham Sibilo, dor diaforese, edema, etc. Fatores que melhoram e que pioram: Repouso, medicação, posição, etc. História ocupacional: Lembrar da exposição à sílica e ao asbesto. Atopia; Hábitos de vida: Tabaco e medicamentos (principalmente B bloqueadores não seletivos, quimioterápicos, amiodarona, corticoide); Prática de exercício físico; Estado emocional (síndrome do pânico, ansiedade, depressão) Padrão: Ortopneia (ICC) dispneia paroxística noturna (ou despertar noturno da asma), trepopneia (dispneia ao decúbito contralateral do derrame), platipneia (paciente que piora na posição ortostática, mais relacionado à fistula arteriovenosa) e dispneia aos esforços (Escalas de mensuração) MRC é mais usado para doenças pulmonares NYHA é mais usado para a parte cardíaca. A escala de BORG modificada ou a escala visual pode ser usada para avaliar dispneia em repouso, logo após um esforço físico ou recordar uma atividade física reprodutível, como subir escadas. Por isso, normalmenteé usada pelos fisioterapeutas, principalmente após a ergoespirometria. EXAME FÍSICO Exame geral: anemia (palidez das conjuntivas), cianose, icterícia, febre, nível de consciência, padrão de edema (formação de cacifo, bilateral ou unilateral), IMC (>30 já é indicado investigar distúrbio do sono) e sinais de cirrose; Exame pulmonar: frequência respiratória, pulso paradoxal, simetria dos movimentos, percussão (macicez no derrame pleural, timpânico no pneumotórax e hipertimpanismo no enfisema), ruídos adventícios na ausculta (sibilos na asma, estertores bolhosos no edema agudo de pulmão, estertores em “velcro” nas doenças intersticiais pulmonares); Perfil do tórax (tórax em tonel na DPOC; paciente consumido na TB e cânceres de maneira geral), uso de musculatura acessória (ajuda a ver a gravidade da enfermidade aguda), padrão respiratório (dispneia suspirosa na crise de ansiedade, ritmo de Kussmaul na acidose diabética, ritmo de Cheyne Stokes), frêmito/ressonância tóraco-vocal. Exame do coração: enfatizar sinais de elevação das pressões do coração direito (distensão das veias jugulares, edema, acentuação do componente pulmonar – galopes por B3 e B4) e doença valvar (sopros). Pressão arterial, frequência cardíaca, sopros (principalmente), presença de B3, B4, B2 hiperfonética e ictus cordis. Exame do abdome: verificar se há movimentos paradoxais do abdome (abdome que afunda na inspiração sugere fraqueza do diafragma) e o abaulamento do abdome durante a expiração sugere edema pulmonar). O baqueteamento digital pode sugerir doenças cardiorrespiratórias graves, doenças pulmonares intersticiais (fibrose pulmonar intersticial), cardiopatias congênitas e câncer de pulmão; Score de Mallampati, usado na intubação para ver se tem via aérea difícil. OBSERVAÇÕES Há outras causas de dispneia em tabagistas além da DPOC; Nem toda sibilância é ASMA. Pode ser tumor endobrônquico, tuberculose, bronquiectasia, refluxo, corpo estranho em criança (sibilo localizado). Só considere dispneia psicogênica após excluir outras causas; Hipotireoidismo, DPOC, hipertireoidismo e IRC podem levar à edema; O idoso reduz a sua velocidade de caminhada fisiologicamente. Por isso, se ele reclamar de dispneia, pode ser decorrente do envelhecimento. INVESTIGAÇÃO AMBULATORIAL Exames laboratoriais: hemograma (eosinofilia na asma), glicemia (resistência à insulina na obesidade e histórico familiar, lipidograma (sedentarismo, obesidade), ureia, creatinina e EAS (obesidade, hipertensão), TSH e T4 livre (em pacientes agitados ou com bócio, ou com tremor em extremidades, com edema maleolar e/ou sonolência) Raio x de tórax (doenças cardiopulmonares), eletrocardiograma, ecocardiograma (se pegar sopro associado), ergometria (todos 3 na suspeita de doença cardíaca), espirometria (doenças pulmonares), polissonografia (apneia obstrutiva do sono). Se o paciente tiver evidências de doença cardíaca e pulmonar, será necessário realizar uma prova de esforço cardiopulmonar para determinar qual sistema é responsável pela limitação da capacidade de realizar esforços. No nível máximo de esforço, se o paciente alcançar a frequência cardíaca máxima prevista, apresentar ampliação do espaço morto ou hipoxemia ou desenvolver broncospasmo, o sistema respiratório provavelmente é a causa do problema. Por outro lado, se a frequência cardíaca for > 85% do valor máximo previsto, se o limiar anaeróbio for alcançado precocemente, se a pressão arterial aumentar excessivamente ou diminuir durante o exercício, se o índice de O2 (relação entre consumo de O2/frequência cardíaca, um indicador do volume ejetado) diminuir ou se surgirem alterações isquêmicas no eletrocardiograma, a explicação provável para a angústia respiratória é um distúrbio do sistema cardiovascular. INVESTIGAÇÃO NA EMERGÊNCIA Exames laboratoriais: Hemograma; PCR (avaliar causa infecciosa); Glicemia; Função renal: ureia, creatinina; Gasometria arterial (somente para quem tiver saturação de O2 menor do que 92%); Marcadores cardíacos: troponina, CPK, CKMB (os dois últimos são mais comuns na urgência), mioglobina; BNP, NT-pro-BNP, que ajudam a diferenciar se a causa é cardíaca mesmo; D-dímero, de acordo com os scorres de probabilidade genética para descartar TEP; Eletrocardiograma; Rx. de tórax; Em alguns casos, angiotomografia para TEP. TRATAMENTO Tratar a doença; Oxigenoterapia nos casos com hipoxemia; Não retardar o início da terapêutica para casos e urgência. Ou seja, entraremos com o tratamento sem esperar todas as confirmações pelos exames complementares. Homem, 50 anos, pedreiro. Queixa-se de dispneia progressiva aos esforços há 3 anos, com MRC 3. Apresenta tosse cheia e expectoração esbranquiçada frequente e de pequena monta. Hipertenso, em uso de Enalapril 20 mg/dia e hidroclorotiazida 25 mg/dia e diabético, em uso de metformina 100 mg/dia. Sedentário, catador de lixo. Ao exame físico, edema de MMII e roncos ao dormir. IMC: 38; Edema de MMII (1+/4+); Mallampati 4. Brevilíneo, tórax em tonel, MV diminuído difusamente, com roncos e sibilos esparsos. RCR em 2T, BC hipofonéticas. Exames: glicemia em 300, espirometria mostrando distúrbio restritivo, RC com hiperinsuflação pulmonar e aumento da área cardíaca. O ECO evidenciou uma disfunção diastólica e cardiopatia hipertrófica. Conduta: terapêutica para IC diastólica + diurético. Além disso, formoterol com budesonida para DPOC. Mulher, 65 anos, do lar. Queixa-se de dispneia aos esforços, MRC 4, com piora progressiva nos últimos 6 meses. Associado, apresenta uma dor retroesternal em aperto, com irradiação para a região mentoniana que melhorava espontaneamente, independente de repouso, sem fator desencadeante (surgia e desaparecia espontaneamente). Tabagista, diabética, hipertensa, depressiva, dislipidêmica e com DPOC. Faz uso de losartana, hidroclorotiazida, insulina, metformina, formoterol, budesonida, diazepam e disperidona. Edema DE MMII, IMC 24. AP: MV diminuído difusamente com sibilos e estertores creptantes. AC: sopro aórtico Hipóteses diagnósticas: a paciente estava com angina instável, evoluiu com IAM e veio a óbito. Observação: em pacientes que não tem diagnóstico de DPOC e que apresentam distúrbio ventilatório obstrutivo, deve-se investigar doença coronariana; Homem, 18 anos, estudante universitário. Apresenta dispneia súbita e progressiva aos esforços há mais ou menos 2 horas depois que correu a passarela de Neópolis e teve um acesso de tosse. Dor torácica ventilatório dependente à direita, assintomático anteriormente. Praticava esporte. Diagnóstico de asma controlada, com última exacerbação há 12 anos e nunca mais tinha usado o salbutamol. Nega etilismo e tabagismo, mas tinha rinite. Muito ansioso, longilíneo. MV diminuído à direta, sem ruídos adventícios e timpanismo à percussão, FTV abolido à direita, turgência jugular e bulhas hipofonéticas. Hipóteses diagnósticas: pneumotórax confirmado pelo raio-x. Mulher, 28 anos, comerciária. Apresenta dispneia súbita progressiva há cerca de 2 horas após deambular em casa. Associado, queixa-se de dor torácica ventilatório-dependente. Foi orientada pelo médico que fez abdominoplastia dela para ir para o pneumologista e relatou que fez abdominoplastia e mamoplastia há 15 dias. Negava comorbidades. Relatava uso de anticoncepcional oral. Relatou que ficava imóvel em casa, o marido e a mãe que levavam comida para ela. Hipóteses diagnósticas: tromboembolismo pulmonar, confirmado pela angiotomografia.
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