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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA FLH0111 - Metodologia da História I Primeiro Semestre 2021 Noturno Atividade: Relatório de aulas Aulas abordadas: Aulas 2 a 9 Aluno: Rodrigo Spinola Costa Neto Nº USP: 9318629 A presente produção acadêmica tem por objetivo promover um relatório acerca dos temas debatidos e estudados nas oito primeiras aulas do curso Metodologia da História I (2021.1), ministradas pelo Profº. Jose Antonio Vasconcelos. Com o intuito de fazer uma abordagem sintética, porém relevante acerca dos temas abordados, dividir-se-á estruturalmente essa atividade em oito (8) partes totais, dedicando uma por aula. Levando os pontos aqui destacados em consideração, a produção deste visa realizar um fichamento de temas. Serão expostos, em caráter descritivo, diferentes aspectos, visões e conteúdos explorados na disciplina ao decorrer do semestre. Aula 2: Quem é o historiador? (28/04) Neste encontro foi promovida a exploração da questão que sustenta o próprio nome da aula: “Quem é o historiador?”. O objetivo desta é trazer ao entendimento qual é o perfil profissional do que chamamos hoje de historiador, promovendo uma diferença significativa entre este e aquele que “conta” UMA história, ou melhor dizendo, produz uma narrativa. Para essa aula, o exemplo comparativo entre dois autores foi usado: Natalie Davis, renomada historiadora e acadêmica norte americana; e, Alex Haley, escritor estadunidense, cujo enfoque eram relatos sobre a escravidão. Com base na comparação das obras de ambos, expôs-se que o historiador, de fato, é aquele que faz (ou produz) conhecimento em forma de pesquisa histórica. O historiador vale-se de método para trabalhar com a história, tendo no método seu comprometimento ideológico subordinado. O historiador expõe conteúdo e método ao campo de debate acadêmico e é neste espaço que se promove o desenvolvimento do conhecimento e da própria academia em si. Com isso, sintetiza-se aqui o perfil deste profissional. Aula 3: As Fontes Históricas (12/05) Este encontro teve como objetivo explorar o que são as chamadas “Fontes Históricas”, o objeto de pesquisa do historiador, além de trabalhar com as atuais classificações que há e como se dá a utilização destas por parte dos profissionais da área. Como mencionado, a “Fonte” é a matéria prima da pesquisa histórica, é o elemento que será usado para a reconstituição do passado e construção do conhecimento. Saber quais fontes escolher é parte do trabalho do historiador em sua pesquisa, podendo estas serem limitadas ao se estudar um espaço-tempo específico. A fonte histórica é também construída e definida como uma fonte a partir do seu uso em um estudo a partir de um método. Não há margem para distinção de qual fonte é melhor/pior, mas sim, qual apoiará de forma mais efetiva a pesquisa. Diante disto, é extremamente importante recordar-se que sem fontes não há conhecimento histórico. Diante da classificação das Fontes Históricas, existem tipos de fontes e suas subcategorias. Dentre os tipos, menciona-se três como principais: (1) Primárias, Secundárias ou Terciárias, essa definição está relacionada à origem temporal da fonte, se sua produção é contemporânea, posterior ou uma referência secundária ao fato histórico estudado; (2) Fontes materiais, escritas, iconográficas ou orais, essa definição está alinhada à natureza “física” da fonte; e (3) Fontes intencionais e não intencionais, que está relacionada à construção proposital (ou não) de uma “fonte” para a posteridade, como por exemplo, um registro jurídico, que tem por objetivo recordar-se de fatos e decisões tribunais. Por fim, explora-se também um importante tema que é a limitação e críticas às fontes, que tem por objetivo verificar a validade e limites destas para a produção historiográfica. Uma destas possíveis críticas pode ser a veracidade da fonte, considerando a possibilidade de que o autor da fonte histórica possa estar premeditadamente faltando para com a verdade. Aula 4: Normas para apresentação de trabalhos acadêmicos (19/05) Esta aula teve como principal objetivo explorar as normas de apresentação de trabalhos acadêmicos produzidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Para este encontro o objeto de estudo foi o material “Diretrizes para Apresentação de Dissertações e Teses da USP”. Porém, antes de se trabalhar o tema em si, se faz importante mencionar que as definições de padrões são produzidas a fim de se normatizar a produção de pesquisas, trazendo aqui uma análise mais fácil para o método e conteúdo de fato. Para este tópico, focar-se-á em dois grandes pontos sobre essa normatização: (1) na classificação e os tipos de Trabalhos Acadêmicos; e (2) na estrutura “física” destes Trabalhos. Acerca da tipificação, têm-se principalmente dois: (a) Dissertações, geralmente vinculadas à mestrados, que se consiste em um trabalho de intensa atividade de pesquisa envolvida, podendo ser uma compilação historiográfica; e (b) Teses, geralmente vinculadas à doutorados, também consistindo-se de extensa atividade de pesquisa, entretanto com obrigatoriedade de originalidade, trazendo novas contribuições ao campo de estudos e à academia. Em relação aos elementos estruturais de um trabalho acadêmico, têm-se os elementos pré-textuais: como capa, folha de rosto, resumos, sumários, etc.; os elementos textuais: a própria estrutura de introdução, desenvolvimento e conclusão; e os elementos pós-textuais, como referências e anexos. Aula 5: A profissionalização da História (26/05) Apesar deste encontro trazer o nome “A profissionalização da História” o grande enfoque desta aula foi o tema “Positivismo e História”. Buscou-se fazer um breve entendimento sobre o que é o termo Positivismo, explorar o seu uso equivocado, por parte de alguns historiadores, e fazer um paralelo desta corrente filosófica com a construção da História como elemento de estudo, pesquisa e produção de conhecimento. É importante ressaltar que essa corrente filosófica foi e é muito influente no Brasil e se trata, em linhas gerais, da tentativa da cientificização da História pela metodologia. O pensamento positivista, que teve como principal expoente o francês Augusto Comte, se trata de uma corrente cuja valorização se dá às conquistas da ciência, com fortes traços herdados do iluminismo e progressismo industrial. Para Comte existe uma progressividade do conhecimento humano, inicialmente teológico, posteriormente metafísico e finalmente positivo, ou científico. E essa progressividade se traduz pelo conhecimento completo da natureza e seus fenômenos. Em resumo, o que era considerado “conhecimento verdadeiro”, ou simplesmente verdade, era aquilo que provinha da ciência e seus avanços, excluindo elementos cada vez mais subjetivos e trazendo mais certezas ante à indecisões. A principal crítica a essa corrente é de que o conhecimento científico, de fato importante, é uma das formas de conhecimento, e não a única. A relação, equivocada, entre positivismo e história, na suposta construção de uma historiografia positiva, se dá pela inadequação de conceitos. A impossibilidade de uma história positiva se justifica a partir que fatos históricos não se repetem para efeitos empíricos de análise. Então, o porquê da existência desta conexão, está na tentativa de gerar um conhecimento científico, em história, através do método, ou melhor, do rigor metodológico empregado sobre as fontes analisadas. Aula 6: A escola dos Annales (02/06) O encontro do dia 02/06 trouxe ao ambiente de estudo o movimento de renovação teórico-metodológico, chamado “A escola dos Annales”. Essa nova escola de pensamento apresentou-se com objetivo de trazer uma “ruptura” ao "tradicionalismo positivista” no estudo da História. A ruptura viria em três aspectos: sobre o enquadramento de que a história é o estudo de fatos reais representados por uma narrativa; que fatos do passado são resultados de ações de personalidades políticas únicas; e também a concepção cronológica do conceito de“tempo”. Esse movimento teve como principal característica a interdisciplinaridade e uma postura a fim de diluir a figura de pessoas individuais como agentes de transformação ou permanência. Para a escola dos Annales o destaque à interdisciplinaridade com a filosofia e sociologia foi fundamental. A busca de uma “História Total”, em oposição à “História Verdadeira” do positivismo, passa pela inter-relação das diversas áreas do estudo. Com isso, têm-se aqui a primazia do social ante o indivíduo, trazendo a sociologia e antropologia como duas das principais ferramentas no estudo da História. A forte exploração e a busca por demais elementos explicativos de fenômenos de transformação trouxe ao campo de estudo também a economia. E trazendo o exemplo atribuído à quebra do entendimento histórico de transformações vinculadas à indivíduos, cita-se: “Se não existisse Napoleão, a história teria tomado seus mesmos rumos com outro grande personagem”. Aula 7: Marxismo e História (07/06) A aula do dia 07/06 teve como tema a conexão entre a estrutura de pensamento fundada por Karl Marx e Friedrich Engels, cujo nome popularizou-se como “Marxismo”, e a História, como área do conhecimento. Antes de buscar essa conexão, se faz importante trazer o entendimento do conceito de materialismo dialético, para aprofundar-se na ideologia marxista, para finalmente, promover o contato entre esta filosofia e a disciplina. Acerca do estudo do primeiro termo, o materialismo dialético é um ponto de vista filosófico que se definiu a partir das primeiras Revoluções Industriais, em um contexto europeu de acentuação da exploração do trabalho assalariado. Essa situação levou a formação de duas classes polares, a burguesia, detentora dos meios de produção, e o proletariado, camada massiva que vende sua força de trabalho. A intensificação da industrialização promoveu um distanciamento abrupto destas duas camadas, evidenciando uma desigualdade social gritante. A superação desta realidade, na visão de Marx e Engels, se daria somente por meio da luta de classes, uma vez que as contradições sociais levariam ao fenômeno histórico mundial de uma revolução proletária. A ideologia por trás do Materialismo Dialético se expressa através de uma visão de mundo, cuja inspiração hegeliana foi fundamental em seu desenvolvimento. Essa dialética parte do princípio que o pensamento em si não é pivô da formação de uma realidade, e sim o inverso. As condições materiais de um povo em sociedade são o eixo estruturante para a construção das formas de consciência desenvolvidas por esta. Assim, facilita-se o processo denominado “alienação”, em que a classe dominada, proletária ao momento do desenvolvimento deste sistema filosófico, atribui a si um ponto de vista da classe dominante, burguesia. O marxismo, e principalmente o materialismo dialético deste, teve um impacto significativo na História, enquanto área de pesquisa e ensino. Trouxe a visão de que as condições materiais de um meio conduziram os processos históricos naquele espaço/tempo/sociedade. O principal núcleo explicativo centra-se nas relações econômicas e suas forças produtivas com o meio, que favorecem e dependem desta relação. E em resumo, a História é um sinônimo da história e evolução da Luta de Classes. Aulas 8 e 9: Historiografia Brasileira (16 e 23/06) Os encontros dos dias 16 e 23 tiveram como objetivo principal fazer uma abordagem geral de três dos maiores autores sobre História do Brasil. Para efeitos sintéticos, abordou-se a visão geral das obras de: Francisco Adolfo de Varnhagen, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Estes três, junto a Caio Prado Júnior, são os principais nomes da Historiografia Nacional. Sobre o primeiro, Varnhagen foi um autor cuja obra foi publicada ainda em tempos imperiais, sendo ele um intelectual de meados do XX. Sua principal produção é a “História Geral do Brasil” (1854-57), e apesar de não ser o primeiro a escrever sobre uma “História Brasileira” apresenta novos elementos ao pensar sobre. Seu estudo envolve-se principalmente na formação da sociedade brasileira, que se dá, a partir da tangência entre os três grupos étnicos distintos: o indígena, o africano e o português/europeu. Varnhagen adere a estes um grau de hierarquia em seu nível de importância para a contribuição na formação nacional, sem esconder seu racismo. Sua visão tem no europeu o protagonista da formação social brasileira, por introduzir o elemento “civilizatório” (em sua concepção). Varnhagen então evidencia aqui seu desejo de construir uma história de afirmação da supremacia européia, ante o indígena (visto como indiferente) e o africano (visto como um ser abominável, por representar um mal selvagem). Assim, para este autor, a história brasileira se iniciaria somente a partir da chegada portuguesa, ou seja, com a introdução do elemento “civilizador”. Só a partir disto o país, e sua história, se definem como tal. Gilberto Freyre, cuja obra “Casa Grande e Senzala” (1933) é a mais conhecida no Brasil e mais traduzida no exterior, promoverá uma nova visão ao processo de formação social brasileiro. Gilberto, diferente de Varnhagen, possui um estilo mais ensaísta, porém, escreve e pensa o Brasil em uma perspectiva histórica, trazendo novas chaves de entendimento à formação “do Brasileiro”. Enquanto Varnhagen busca a explicação na tangência mas principalmente na exacerbação das diferenças, Freyre destacou o hibridismo dos povos e a miscigenação. Na visão de Gilberto, o que na verdade foi o legado positivo europeu na formação social brasileira foi sua capacidade e intenção de promover a miscigenação. O brasileiro miscigenado, na concepção de Freyre, apresentava-se superior, uma vez que compilou diversas culturas e etnias, trazendo o melhor de cada nesta construção social. Aqui nasce um sentimento de não-rivalidade entre os povos, mas sim complementaridade. O perigo desse pensamento está na forma como Gilberto o apresenta, deixando um leitor desatento a levar-se a algumas justificativas impensadas; como por exemplo o caráter masoquista africano, na visão do autor, que poderia ser entendido como uma forma de justificativa da escravidão. Além disso, outro perigo que se desenvolveu a partir da leitura de Freyre foi a construção do Mito da Democracia Racial, uma vez que poderia afirmar-se que já que há complementaridade entre os povos, a ausência do racismo seria uma realidade nacional. E por fim, Sérgio Buarque de Holanda, exprimiu sua visão acerca da formação social brasileira em sua obra “Raízes do Brasil” (1936), uma das produções mais sintéticas sobre este tema. O autor sofreu forte influência da historiografia alemã e positivista, principalmente de Max Weber e sua concepção filosófica de “Tipo Ideal”. Buarque buscou promover a caracterização da cultura e comportamento brasileiro a partir de seu entendimento dos povos Ibéricos, que se diferenciam dos outros europeus. O português possuía um perfil aventureiro, imediatista, sendo essa uma característica negativa, uma vez que tal herança produziria a construção de projetos sem planejamento. A partir desta ideia, o perfil brasileiro construiu-se na figura do “Homem Cordial”, ou mais popularmente conhecido, o “jeitinho brasileiro”. O homem cordial é aquele cujo maior traço é “forçar” intimidades, tratar o desconhecido como alguém próximo. A partir disso, entende-se que este perfil é o que permite a promoção entre o entrecruzamento do público e privado a fim de tirar o próprio proveito das situações a si próprio. Um exemplo banal e raso disso é chamar um garçom no restaurante de “querido” a fim de ser melhor atendido em comparação a outros clientes. Este perfil social, do homem cordial, na visão de Holanda tem horror à distâncias e uma alta aceitabilidade à lideranças fortes e carismáticas, uma vez que fazem ele se sentir parte do processo.