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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 1 1. Definição Choque é a situação clínica resultante do desequilíbrio entre a oferta de oxigênio e nutrientes e a demanda metabólica dos tecidos. Caracteriza-se por déficit agudo de oxigênio nas células, que resulta em metabolismo anaeróbico e acidose láctica. 2. Fisiopatologia Conteúdo arterial de oxigênio (CaO2) x débito cardíaco (DC) → Oferta de oxigênio (DO2) CaO2 = [Hb] (g/L) x 1,34 x SaO2 + (PaO2 x 0,003) Débito cardíaco (DC) = FC x Volume sistólico ❖ Volume sistólico (Vs) → Pré-carga + contratilidade + pós-carga O choque se caracteriza por déficit agudo de oxigênio nas células, que resulta em metabolismo anaeróbico e acidose láctica. Para compreensão adequada da fisiopatologia do choque e dos fundamentos de seu tratamento é essencial que se conheça o conceito de transporte de oxigênio. O transporte de oxigênio (DO2), ou seja, a quantidade de oxigênio transportado ao corpo por minuto, é o produto do conteúdo arterial de oxigênio pelo débito cardíaco. O conteúdo arterial de oxigênio (CaO2), em mL de oxigênio por dL de sangue, é determinado pela concentração de hemoglobina e sua saturação com oxigênio e, em menor proporção, pela quantidade de oxigênio dissolvido no plasma. O débito cardíaco é o produto da frequência cardíaca pelo volume sistólico. O volume sistólico é a quantidade de sangue ejetado do coração a cada contração. É determinado por três componentes: pré-carga, contratilidade e pós-carga. A pré-carga é a quantidade de estiramento da fibra muscular antes do início da contração, e se relaciona, principalmente, ao volume de enchimento das câmaras cardíacas. O volume de enchimento é o volume contido no ventrículo no final da diástole. O aumento da pré- carga aumenta a contração muscular pelo mecanismo de Frank-Starling, ou seja, quanto maior o estiramento, maior o volume de ejeção. A contratilidade se refere à força e à eficiência da contração muscular. A pós-carga é a soma das forças que se opõem à ejeção ventricular, determinada pela elasticidade do leito vascular e pela resistência ao fluxo nas artérias e arteríolas. Clinicamente, a resistência vascular sistêmica constitui a pós-carga do ventrículo esquerdo e a resistência vascular pulmonar, a pós-carga do ventrículo direito. Ocorre choque quando o transporte de oxigênio é inadequado para suprir as necessidades metabólicas dos tecidos. Em indivíduos saudáveis, a captação de oxigênio é independente do suprimento de oxigênio. Assim, quando o transporte de oxigênio é agudamente reduzido, a extração de oxigênio aumenta e, consequentemente, o consumo de oxigênio permanece constante. Somente quando o transporte de oxigênio cai abaixo de um ponto crítico, a capacidade de extração de oxigênio é superada e o consumo de oxigênio cai. A partir deste ponto, começa a haver metabolismo anaeróbico e acidose láctica. Em pacientes com choque, frequentemente, há aumento da demanda de oxigênio e a capacidade dos tecidos de extrair oxigênio está diminuída, em decorrência de alterações das células e da microvasculatura. Além disso, o transporte de oxigênio está reduzido em virtude de hipovolemia, disfunção miocárdica e alteração do conteúdo arterial de oxigênio (p.ex., hipóxia, anemia), o que pode resultar em uma dependência patológica do consumo de oxigênio em relação ao transporte, mesmo quando o transporte de oxigênio não está reduzido significativamente. Em modelos animais, a administração de endotoxina resultou em valores críticos de transporte de oxigênio mais elevados, observando-se metabolismo anaeróbico com níveis de transporte considerados adequados para indivíduos saudáveis, Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 2 o que reforça a necessidade de intervenções terapêuticas para aumentar o transporte de oxigênio no choque. Os mecanismos compensatórios para manutenção do débito cardíaco incluem a taquicardia e o aumento da contratilidade cardíaca e do tônus do sistema venoso. Entretanto, em crianças, as respostas cardiovasculares compensatórias diferem daquelas dos adultos. Em crianças pequenas, o débito cardíaco é mais dependente da frequência cardíaca do que do volume de ejeção, em decorrência de menor massa muscular do ventrículo. Assim, a criança compensa a diminuição do débito cardíaco pela taquicardia. Entretanto, como as crianças têm reserva de frequência cardíaca limitada em comparação com os adultos, em virtude da frequência cardíaca basal já elevada, quanto mais jovem a criança, maior a probabilidade de que esta resposta seja inadequada. O aumento do tônus da musculatura das veias resulta em aumento do débito cardíaco pelo aumento da pré-carga, pois mais sangue se move do sistema venoso de alta capacitância para o coração. A falha dos mecanismos compensatórios para a manutenção do débito cardíaco e do transporte de oxigênio resulta em hipóxia tecidual, hipercapnia e acidose. A persistência da acidose e do transporte inadequado de substratos contribui para a diminuição da função miocárdica, que na ausência de intervenções terapêuticas urgentes, pode evoluir para bradicardia e parada cardíaca. A pressão arterial sistêmica é o produto do débito cardíaco pela resistência vascular sistêmica. Em situações de diminuição significante do débito cardíaco, o aumento da resistência vascular sistêmica mantém a pressão arterial normal. Além disso, a vasoconstrição periférica leva à redistribuição do fluxo sanguíneo dos leitos vasculares não essenciais (pele, musculatura esquelética, rins e esplâncnico) para os órgãos nobres (cérebro, coração, pulmões e adrenais). Esta regulação do tônus vascular pode normalizar a pressão arterial, independentemente do débito cardíaco. É importante salientar que, em crianças, a hipotensão é um sinal tardio e súbito de descompensação cardiovascular. Portanto, a pressão arterial não é um bom indicador da homeostase cardiovascular em pacientes pediátricos. 3. Particularidade da criança – choque frio Choque frio na maioria dos casos Motivo ❖ Limitação da FC ❖ Menor massa muscular ventricular ❖ Aumento importante da resistência vascular sistêmica → Principal mecanismo de defesa da criança 4. Classificação Estado fisiológico ❖ Choque compensado → Há sinais de perfusão tecidual inadequada, mas a pressão arterial sistólica é normal ❖ Choque descompensado → Os sinais de choque se associam à hipotensão arterial sistólica Estado hemodinâmico ❖ Choque hipodinâmico (frio) → Baixo débito cardíaco (pele marmórea e fria, TEC > 2 segundos); RVP (normal ou alta); mais comum na criança; FC limitada; menor massa muscular ventricular; aumento da resistência vascular sistêmica Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 3 ❖ Choque hiperdinâmico (quente) → Alto débito cardíaco (extremidades quentes e vermelhas, TEC < 2 segundos (flush)); RVP baixa (alarga pressão de pulso); muito comum no adulto 5. Tipos de choque Hipovolêmico → Caracteriza-se por volume intravascular inadequado relativo ao espaço vascular (choque frio); hipotensão 20-30% volemia; ex. desidratação, hemorragia ou perda para o terceiro espaço; mais comum Cardiogênico → Caracteriza-se por disfunção miocárdica (choque frio); ex. cardiomiopatias, miocardites, distúrbios do ritmo, cardiopatias congênitas; choque cardiogênico se caracteriza por baixo débito cardíaco e alta resistência vascular sistêmica; a diminuição do débito cardíaco leva à liberação de mediadores neuro- humorais, que resulta em aumento da resistência vascular sistêmica e da pós- carga do ventrículo esquerdo; desta forma, os mecanismos compensatórios do choque cardiogênico podem ter efeitos deletérios, porque o aumento da pós- carga do ventrículo esquerdo pode deteriorar aindamais a função miocárdica ❖ Cardiopatias que levam a choque → Aumento do esforço respiratório; dificuldade de alimentação; dispneia as mamadas; sudorese excessiva; baixo ganho pôndero-estatural; infecções respiratórias frequentes ❖ Taquicardia; ritmo de galope; taquipneia; extremidades frias; pulsos finos; cianose; diaforese; estertores crepitantes; sibilos (pelo edema pulmonar ––“asma cardíaca”) ❖ Hepatomegalia (maior indicador para choque cardiogênico), estase jugular (em crianças maiores) e edema periférico (manifestação tardia) ❖ Obstrução via saída ventricular (coarctação de aorta, estenose aórtica) → Choque cardiogênico nos primeiros quinze dias *Propriedades do músculo cardíaco envolvem: inotropismo (contração), cronotropismo (frequências) e dromotropismo (condução) Distributivo → Caracteriza-se pela distribuição inadequada de sangue aos tecidos que resulta em má perfusão tecidual, geralmente secundária a alterações do tônus vasomotor; ex. choque séptico, anafilático ou neurogênico Obstrutivo → Caracteriza-se por débito cardíaco inadequado na vigência de volume intravascular e função miocárdica normais, em decorrência de obstrução mecânica à entrada e/ou saída de sangue do coração; ex. pneumotórax, tamponamento cardíaco ou TEP Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 4 6. Outros conceitos SIRS → Em pediatria é definida como presença de pelo menos dois dos seguintes critérios, sendo que um deles deve ser alteração da temperatura ou do número de leucócitos ❖ Alteração de temperatura corpórea → Hipertermia ou hipotermia. ❖ Taquicardia → Frequência cardíaca (FC) inapropriada para idade na ausência de estímulos externos ou bradicardia para criança <1. ❖ Taquipneia → Frequência respiratória (FR) inapropriada para idade ou necessidade de ventilação mecânica para um processo agudo não relacionado à doença neuromuscular de base ou necessidade de anestesia geral. ❖ Alteração de leucócitos → Leucocitose ou leucopenia não secundárias à quimioterapia, ou presença de formas jovens de neutrófilos no sangue periférico *O mais específico seria a febre e a alteração de leucócitos Infecção → Doença suspeita ou confirmada (com base em culturas positivas, anatomia patológica, testes de amplificação de RNA ou ainda por exame clínico, de imagem ou testes laboratoriais), causada por qualquer patógeno infeccioso ou a síndrome clínica associada com alta probabilidade de infecção Sepse → SIRS + infecção suspeita ou confirmada ❖ Caracteriza-se pela presença de dois ou mais sinais de SIRS, sendo um deles hipertermia/hipotermia e/ou alteração de leucócitos, concomitantemente à presença de quadro infeccioso confirmado ou suspeito. Sepse grave → Sepse e disfunção cardiovascular ou respiratória ou duas ou mais disfunções orgânicas entre as demais. Entretanto, para fins práticos qualquer disfunção orgânica associada a infecção suspeita ou confirmada caracterizará sepse grave Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 5 Choque séptico → Definido na população pediátrica com sepse e disfunção cardiovascular; entretanto, para fins práticos, hipoperfusão não responsiva à volume caracterizará choque séptico *A sepse deve ser suspeitada em todos os pacientes com quadro infeccioso. Lembramos que os critérios de SIRS são muito frequentes em crianças, principalmente alteração de temperatura, taquicardia e taquipneia, mesmo em infecções de pouca gravidade e/ou outras doenças não infecciosas. Assim, atenção especial deve ser dada a todos os pacientes com qualquer sinal de deterioração dos parâmetros clínicos que sugira infecção grave. Constituem sinais de gravidade: alteração do nível de consciência (irritabilidade, choro inconsolável, pouca interação com os familiares, sonolência) e/ou alteração da perfusão tecidual. A equipe multidisciplinar deve estar atenta à presença destes sinais e de outras disfunções orgânicas, que definem o diagnóstico clínico de sepse grave e choque séptico. Ressaltamos que crianças com patologias crônicas são de risco elevado para sepse e podem não apresentar os sinais clínicos clássicos da síndrome. 7. Fatores de risco para a sepse Lactentes jovens (<1 ano, principalmente nos primeiros 3 meses de vida) e recém-nascido muito baixo peso (RNMBP) Doença oncológica Asplenia Transplante de medula óssea Presença de catete venoso central (CVC) Transplante de órgãos sólidos Imunodeficiência/ imunossupressão/ imunocomprometidos Desnutridos 8. Quadro clínico Pulso fino Extremidades frias Perfusão lentificada Palidez Redução da FC Alteração do nível de consciência Diminuição da diurese (<1mL/Kg/hr ou 12mL/m2/hr) Acidose lática Hipotensão arterial é sinal tardio de choque em crianças Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 6 9. Avaliação inicial – 10 segundos Consciência ❖ Irritabilidade ❖ Sonolência/ torpor ❖ Inconsciência Respiração ❖ Taquipneia ❖ Dispneia ❖ Gasping ou apneia Cor ❖ Cianose ❖ Palidez ❖ Mosqueamento 10. Avaliar Avaliação primária ❖ ABCDE ❖ Monitor cardíaco/ DEA ❖ Oximetria de pulso ❖ Posição de conforto Avaliação secundária ❖ Histórico com anamnese detalhada → SAMPLA ➢ S → Sinais vitais ➢ A → Alergias ➢ M → Medicamentos ➢ P → Passado médico ➢ L → Líquidos e alimentos ingeridos ➢ A → Ambiente do evento ❖ Exame físico específico Avaliação terciária ❖ Exames laboratoriais ➢ Hemograma; hemocultura e PCR (se infecção) ➢ Gasometria arterial ou venosa ➢ Eletrólitos ➢ Função renal e hepático ➢ Enzimas cardíacas ➢ Coagulograma ➢ Raio X de tórax ➢ Ecocardiograma *O kit sepse sugerido é composto por exames que confirmem possíveis disfunções orgânicas: gasometria e lactato arterial, hemograma completo, creatinina, bilirrubina, coagulograma, Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 7 hemoculturas e culturas de sítios suspeitos. Os pedidos devem ser identificados como parte do protocolo de sepse de forma a garantir atendimento diferenciado pelo laboratório. O lactato deve ser imediatamente encaminhado ao laboratório. O objetivo é ter esse resultado em menos que 30 minutos. Para a hemocultura, recomenda-se 1 vidro de hemocultura para lactentes e escolares (pelo pouco volume de sangue) e 2 para adolescentes e adultos jovens. Colha culturas de todos os outros sítios pertinentes para investigação do foco. Vale ressaltar que ao contrário dos adultos, crianças com choque séptico têm comumente níveis normais de lactato. Portanto, na pediatria não se trata de um bom indicador precoce de diminuição de perfusão. Na 1ª hora, fica a critério do médico a coleta de outros exames: uréia, troponina, NA/K, TGO/TGP. Exames opcionais podem ser incluídos, como PCR e procalcitonina. ❖ Exames de imagem 11. Abordagem sistemática A → Abrir a via aérea B → Monitorização e oxigenioterapia ❖ Monitorização → Na admissão do paciente pediátrico, é recomendado sua monitorização hemodinâmica básica (oximetria de pulso contínua, ECG contínuo, medida da PA não invasiva de 15/15 minutos, monitorização da temperatura e do débito urinário, monitorização da glicemia e cálcio ionizado). ❖ Oxigenação → Uma vez feita a hipótese diagnóstica de sepse grave na presença de alteração da frequência respiratória ou dessaturação, deve ser iniciada a oferta de oxigênio, por meio de máscara não reinalante, e se necessário (desconforto respiratório e hipoxemia) e disponível, CPAP ou cânula nasal de alto fluxo de oxigênio (High flow). O objetivo é manter a saturação de oxigênio > 92%. Devido à baixa capacidade residual funcional, a intubação precoce em crianças pequenas com sepse grave pode ser necessária. A decisão de intubaçãodeve ser baseada no diagnóstico clínico de aumento do esforço respiratório, hipoventilação e alteração do nível de consciência. Vale ressaltar também, que pacientes que necessitem de ventilação mecânica invasiva podem apresentar instabilidade hemodinâmica durante a intubação. Essa intercorrência pode ser evitada por meio de ressuscitação cardiovascular apropriada. Atenção às drogas sedativas e analgésicas utilizadas para intubação das crianças com sepse, uma vez que algumas delas podem levar à deterioração hemodinâmica. C → Acesso venoso calibroso; restaurar a volemia; PA; DC (20mL/Kg cristaloide) ❖ Acesso venoso → Obtenha dois acessos venosos periféricos e/ou intraósseo imediatamente para ressucitação volêmica e administração inicial de inotrópicos, caso necessário, visando estabilização inicial da criança até a passagem de acesso venoso central (se necessário). ❖ Ressuscitação hemodinâmica → Pacientes com sinais e sintomas de hipoperfusão tecidual (principalmente com TEC lentificado e/ou alteração nível de consciência), independente da ocorrência de hipotensão, têm indicação de ressuscitação hemodinâmica D → Monitorar o nível de consciência (Glasgow menor ou igual a 9 intuba); suporte ventilatório se necessário E → Aquecimento; controle de hemorragias; avaliar lesões de pele 12. Tratamento Objetivos ❖ Tempo de enchimento capilar menor ou igual a 2 segundos Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 8 ❖ Pulsos normais ❖ Extremidades aquecidas ❖ Diurese > 1mL/Kg/hr ou >12mL/m2/hr ❖ Nível de consciência normal ❖ Pressão arterial normal para a idade ❖ Saturação venosa central de oxigênio maior ou igual a 70% → Ecocardiograma beira leito ❖ Índice cardíaco entre 3,3 e 6L/min/m2 Ressuscitação hídrica ❖ Choque hipovolêmico e/ou distributivo ➢ Soro fisiológico 0,9% 20mL/Kg em 5-10 minutos ➢ As crianças com choque séptico usualmente necessitam de 40-60mL/Kg de ressuscitação hídrica na primeira hora de tratamento (devido a “hora de ouro”) ❖ Choque cardiogênico ➢ Soro fisiológico 0,9% 5-10mL/Kg em 15-20 minutos ➢ Nesta situação, a ressuscitação hídrica tem o objetivo de melhorar o débito cardíaco pela otimização da pré-carga, mas deve ser cuidadosa ❖ Cetoacidose diabética ➢ Soro fisiológico 0,9% 10-20mL/Kg em 60 minutos ➢ Ressuscitação hídrica agressiva e rápida é fator de risco para edema cerebral na cetoacidose diabética ❖ Recém-nascidos ➢ RN a termo → Bolus de 10 mL /kg em 5-20 minutos. ➢ RN pré-termo → Bolus de 10 mL /kg em 15-30 minutos e reposição de perdas insensíveis e sangramento, com início precoce de drogas vasoativas. ➢ Deve ser gradual, especialmente em RN pré-termo, pelo risco de abertura do canal arterial e hemorragia intraventricular. ❖ Cristaloide x coloide → Albumina 5% 5-10mL/Kg, caso a criança persista com sinais de choque após ter recebido 60mL/Kg de cristaloide; preferir o cristaloide (soro isotônico) para ressuscitação hídrica no primeiro momento; coloide para pacientes com manutenção do choque após tratar com cristaloide ou pacientes com síndrome nefrótica, pós cirurgia cardíaca, distúrbios de coagulação, grandes queimados e hepatopatas ❖ Concentrado de hemácias → 10-15 mL /kg de concentrado de hemácias é indicada se a concentração de hemoglobina for 10 g/dL em crianças ou 12 g/dL ❖ Plasma fresco → (10 mL /kg) é indicada apenas em coagulopatias, para repor fatores de coagulação; não deve ser usada para expansão de volume, pelo risco de transmissão de infecções. Drogas vasoativas ❖ Choque séptico ➢ Adrenalina (0,01-0,3 mcg /kg/min) em BI (contínua) em crianças com choque frio ➢ Noradrenalina (0,1-1 mcg/kg/min) em BI (contínua) em crianças com choque quente ➢ Choque frio com pressão arterial normal (débito cardíaco baixo com resistência vascular sistêmica elevada) mesmo com administração de Adrenalina adicionar → Milrinona (0,3-1 mcg/kg/min) e/ou Dobutamina (5-20 mcg/kg/min) ➢ Choque quente com pressão arterial baixa já em uso de Norepinefrina (até 2 mcg /kg/min) → Considerar vasopressina 0,01 a 0,04 UI/Kg/h ❖ Choque cardiogênico Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 9 ➢ Pressão arterial normal → Milrinona 0,3-1 mcg/kg/min; Dobutamina 5-20 mcg /kg/min; Levosimendana 0,1-0,2 mcg /kg/min ➢ Se for hipotensor pode utilizar Adrenalina Medidas de suporte ❖ Oxigenioterapia e/ou suporte ventilatório ❖ Uso de sedativos e analgésicos ❖ Homeostase metabólica → pH; glicose; Ca ❖ Manter temperatura corporal Tratamento específico ❖ Hidrocorisona (choque refratário) → 100mg/m2/dia (máximo 200mg/dia); 6/6 horas ❖ Antibioticoterapia na primeira hora da sepse → Ceftriaxona 100mg/Kg/dia; 12/12 horas ❖ Choque anafilático ➢ Dexametasona → 0,6mg/Kg/dia; 6/6 horas ➢ Adrenalina → 0,01mg/Kg intramuscular Sugestões de pacotes de reconhecimento, ressuscitação e estabilização e de avaliação de performance Métodos para reavaliação do estado de perfusão e alvos terapêuticos na sepse pediátrica Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 10 Orientações terapêuticas em crianças com choque refratário a catecolaminas Diagnóstico diferencial → Em caso de persistência do choque a despeito do tratamento instituído, sugere-se investigar outras possíveis comorbidades ocultas, tais como presença de efusão pericárdica, pneumotórax, hipoadrenalismo, hipotireoidismo, hemorragia, aumento da pressão intra-abdominal, presença de tecido necrótico, fonte inapropriada do controle da infecção, uso excessivo de imunossupressores ou comprometimento imunológico Hemoderivados → Sugere-se que o alvo terapêutico para hemoglobina em crianças com sepse grave e choque séptico seja semelhante ao de adultos. A transfusão de concentrado de hemácias está indicada em crianças com choque séptico, necessidades elevadas de aminas vasoativas e hemoglobina < 7g/dL. Em crianças com Hb entre 7 e 10 g/dL, a necessidade de transfusão de concentrado de hemácias deve ser avaliada em conjunto com outras variáveis, como SvcO2 < 70%. Em crianças com choque séptico e valores de Hb > 10g/dL, a transfusão de concentrado de hemácias está contraindicada. Ventilação mecânica → Durante a ventilação mecânica, assim como em adultos, esforços devem ser feitos para minimizar danos induzidos pela ventilação mecânica. É recomendado a utilização de estratégia protetora pulmonar em crianças com sepse grave/choque séptico que estejam sob suporte ventilatório Correção de distúrbios metabólicos e eletrolíticos → Nos pacientes sépticos é importante manter a homeostase metabólica e hormonal. Nesse sentido, a correção da hipoglicemia e da hipocalcemia devem ser priorizadas na primeira hora de tratamento, uma vez que a manutenção desses distúrbios contribui significativamente para a disfunção miocárdica e a resposta insatisfatória às medidas de ressuscitação. Deve-se usar estratégia para controle glicêmico, objetivando glicemias ≤180 md/dL, com especial atenção à ocorrência de hipoglicemia em lactentes. Diuréticos e terapia de substituição renal → Recomenda-se a utilização de diuréticos para reverter sobrecarga hídrica nas crianças com choque séptico após a fase inicial de ressuscitação, quando a criança estiver estável. Nesses pacientes (ganho maior que 10% do peso corporal), avaliar a necessidade de terapia de substituição renal (diálise peritoneal ou hemodiálise) precocemente, logo após a fase de estabilização. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 11 13. Casos *Teste do coraçãozinho serve para rastrear cardiomiopatias congênitas cinanogênicas dependentes de canal (ex. coarctação, estenose pulmonar) *Dobutamina ou Milrinone; adrenalina se hipotensão Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGALAULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 12 *Paciente com um quadro inicial de síndrome gripal, mas que evoluiu para sepse. Agente etiológico bacteriano. Diagnostico sindrômico de Insuficiência respiratória e Choque frio *Síndrome respiratória aguda grave na criança é o Influenza cujo padrão radiológico é um infiltrado reticular difuso Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 13 *Tomografia para pacientes com RX limpo ou se tiver a evolução de complicação *Acidose metabólica; insuficiência respiratória aguda Referências bibliográficas Aula de Dra. Adriana Gottschald (06/09/2021) Carlotti, A. P. D. C. P. (2015). Choque em crianças. Rotinas em terapia intensiva pediátrica, 129. de Souza Scarcela, C. C., De Souza, L. F. F., & de Paula Júnior, M. R. (2019). Análise da implementação de protocolo de sepse em hospital público do Distrito Federal. Programa de Iniciação Científica-PIC/UniCEUB-Relatórios de Pesquisa. Surviving Sepsis _ILAS pediátrico Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: CHOQUE EM CRIANÇAS 14
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