Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXAME FÍSICO DO ABDOME LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO O exame físico do abdome tem como objetivo identificar ou não alterações decorrentes de doenças abdominais, extra-abdominais e sistêmicas. O abdome pode ser dividido em quatro regiões (quadrantes). Ele também pode ser dividido em nove regiões anatômicas, sendo que cada região vai possuir um ou mais órgãos/estruturas correspondentes. Os órgãos situados em cada uma dessas regiões, quando alterados, podem induzir ao aparecimento de sinais ou sintomas mais ou menos característicos. PONTOS DE REFERÊNCIA: ● Rebordos costais ● Cicatriz umbilical ● Cristas ilíacas anteriores ● Sínfise púbica O exame do abdome, assim como todos, deve conter inspeção, palpação, percussão e ausculta. OBS: Faz a ausculta logo após a inspeção, pois com a palpação e percussão pode-se aumentar os ruídos hidroaéreos. LOUISE CANDIOTTO 2 INSPEÇÃO Forma do abdome e características da parede abdominal. Examinar pele, tecido celular subcutâneo, musculatura, circulação venosa. OBSERVA SE TEM: Circulação venosa colateral superficial Lesões elementares Cor da pele Estrias Manchas hemorrágicas Distribuição de pelos PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO ABDOMINAL: FORMA E VOLUME CICATRIZ UMBILICAL ABAULAMENTOS OU RETRAÇÕES LOCALIZADAS VEIAS SUPERFICIAIS CICATRIZ DA PAREDE ABDOMINAL MOVIMENTOS FORMA E VOLUME A forma e o volume do abdome variam de acordo com a idade, sexo e o estado de nutrição do paciente. TIPOS DE ABDOME A) NORMAL/ ATÍPICO B) PLANO C) GLOBOSO ● Gravidez avançada, Ascite, Tecido adiposo D) BATRÁQUIO ● Paciente em decúbito dorsal ● Ascite moderada E) PENDULAR ● Paciente em pé ● Ascite moderada F) ESCAVADO ● Parede abdominal retraída ● Caquexia G) ASSIMÉTRICO H) AVENTAL ● Pessoas muito obesas CICATRIZ UMBILICAL A cicatriz umbilical normalmente tem forma plana ou levemente escavada (retraída). Quando se encontra protrusa, pode indicar uma hérnia umbilical. Examina o paciente de pé para observar a existência de hérnias, quando se observa a cicatriz umbilical estufada deduz-se que é uma hérnia. Hérnias umbilicais são comuns em gravidez, podendo não incomodar. LOUISE CANDIOTTO 3 ABAULAMENTOS OU RETRAÇÕES LOCALIZADAS Condições normais → Abdome com forma regular e simétrica. O abaulamento ou retração, em uma região, torna o abdome assimétrico e irregular. Uma dilatação abdominal indica alguma anormalidade, como: Hepatomegalia, esplenomegalia, hérnias, aneurisma da aorta abdominal, tumores de ovário ou de útero, etc. VEIAS SUPERFICIAIS Padrão da circulação geralmente é pouco perceptível. Quando se tornam visíveis pode caracterizar circulação colateral. CICATRIZ DA PAREDE ABDOMINAL A localização da cicatriz pode indicar uma cirurgia anterior realizada no paciente. MOVIMENTOS Três tipos de movimentos podem ser encontrados no abdome MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS Sexo masculino Andar superior Respiração tóraco-abdominal PULSAÇÕES Pessoas magras Aorta abdominal Hipertrofia do ventrículo direito Aneurismas da aorta abdominal MOVIMENTOS PERISTÁLT ICOS VISÍVEIS Importante achado Em pessoas magras as vezes são vistos movimentos peristálticos sem anormalidades. Visível → Obstrução em algum segmento do tubo digestivo PALPAÇÃO Efetua-se com o paciente em decúbito dorsal com a mão espalmada. Fase mais importante do exame físico do abdome. OBJETIVOS: Avaliar o estado da parede abdominal Reconhecer as condições anatômicas das vísceras abdominais e detectar alterações Explorar a sensibilidade abdominal Em condições normais não se consegue distinguir pela palpação todos os órgãos abdominais. REALIZADA EM 4 ETAPAS: PALPAÇÃO SUPERFICIAL PALPAÇÃO PROFUNDA PALPAÇÃO DO FÍGADO PALPAÇÃO DO BAÇO PALPAÇÃO DE OUTROS ÓRGÃOS MANOBRAS ESPECIAIS PALPAÇÃO SUPERFICIAL Avaliar a sensibilidade (se sente dor em alguma região), a integridade anatômica, continuidade da parede (hérnias e diástases podem interromper essa continuidade), o grau de tensão da parede abdominal (um órgão aumentado pode distender a parede), as pulsações (aorta abdominal) e o reflexo cutâneo-abdominal. Inicia-se a palpação longe da área indicada com mais dor, para não sensibilizar as demais áreas. Estudo da parede abdominal e das vísceras que podem alcançar a parede. OBSERVA A TÔNUS: Pode estar aumentada por conta da própria parede abdominal Nas peritonites o aumento da tônus é involuntário Se fletir a perna, relaxa a musculatura Toda a parede abdominal deve possuir o mesmo tônus LOUISE CANDIOTTO 4 SENSIBILIDADE Palpar de leve ou apenas roçar a parede abdominal com um objeto pontiagudo. Se tiver dor → Hiperestesia cutânea. PONTOS DOLOROSOS Há alguns pontos na parede abdominal que a compressão, ao despertar sensação dolorosa, pode indicar comprometimento do órgão ali projetado. PONTO XIFOIDIANO Logo abaixo do processo xifoide Dor nesse ponto pode indicar cólica biliar ou afecções de esôfago, estômago e duodeno – principalmente esofagites, úlceras e neoplasias. PONTO EPIGÁSTRICO Fica na região epigástrica Aproximadamente no meio da linha que liga o processo xifoide ao umbigo. É particularmente sensível em processos inflamatórios do estômago (gastrite), ulcerosos e tumorais. PONTO APENDICULAR/ PONTO DE MCBURNEY Situa-se geralmente na extremidade dos dois terços da linha que une a espinha ilíaca ântero-superior direita ao umbigo Um paciente com suspeita de apendicite aguda deve ser comprimido esse ponto fazendo uma pressão progressiva, lenta e contínua, para ver se sente dor. SINAL DE BLUMBERG → Quando há descompressão súbita do exame acima, sentindo dor intensa → Sinal de peritonite Nos casos de peritonite generalizada, o sinal de Blumberg é positivo em qualquer área do abdome PONTO CÍSTICO SINAL DE MURPHY → Na colecistite aguda, quando na inspiração profunda o examinador toca o fundo da vesícula, o paciente reage com uma contratura de defesa DOR REFERIDA COLECISTITE AGUDA → Escápula e ombro (sinal de Kehr) ipsilateral APENDICITE AGUDA → Mesogástrio IAM → Epigástrio DOR BEM LOCALIZADA Quando o órgão está em contato com a parede ou com o peritônio. LOUISE CANDIOTTO 5 PALPAÇÃO PROFUNDA Investigam-se os órgãos contidos na cavidade abdominal e eventuais “massas palpáveis” ou “tumorações”. O estômago, duodeno, intestino delgado, vias biliares e cólons ascendente e descendente não são palpáveis em condições normais. Eles podem se tornar palpáveis em casos de alterações, seja por volume aumentado ou por alteração da consistência. Se encontrar alguma massa palpável/tumoração, a pessoa que está examinando deve analisar as seguintes características: localização, forma, volume, sensibilidade, consistência, mobilidade e pulsatilidade. PALPAÇÃO DO FÍGADO O fígado sem patologia pode não ser palpável. A técnica mais usada de palpação do fígado é a de “mãos em garra”, em que o paciente fica em decúbito dorsal e o examinador ao seu lado direito. Em seguida, se coloca as duas mãos sobre o hipocôndrio direito e com os dedos formando “garras”, tenta palpar o fígado durante a inspiração profunda. Seja qual for a técnica usada para palpar o fígado, sempre será mais fácil realizá-la durante a inspiração profunda, pois isso rebaixa o diafragma e, consequentemente, o fígado, cuja maior parte fica protegida pelo rebordo costal. A dor na região do fígado só ocorre quando a cápsula de Glisson é distendida aguda e rapidamente, como na insuficiência cardíaca e em metástases que crescem rapidamente. Nas hepatomegalias crônicas, por sua vez, não há dor, apenas uma sensação dedesconforto, pois a cápsula se adapta a medida que o órgão aumenta de volume. AVALIA: TAMANHO Pode estar aumentado por agressão, congestão, ingestão alcoólica SUPERFÍCIE Lisa, nodular, etc ESPESSURA DA BORDA Fina, cortante DISTANCIA DA BORDA ATÉ A REBORDA COSTAL Quanto maior a distância, maior a hepatomegalia SENSIBILIDADE Normalmente é indolor, porém, quando está aumentado, distende a sua cápsula e aí dói CONSISTÊNCIA Diminuída, normal, aumentada HEPATOMEGALIA Aumento do volume hepático. É importante salientar que toda hepatomegalia é palpável, mas nem sempre um fígado palpável está aumentado de volume. Para caracterizar uma hepatomegalia, além da palpação, deve se levar em consideração a inspeção (circulação colateral, ascite, etc) e a percussão. AS CAUSAS MAIS FREQUENTES: IC direita Colestase extra-hepática Cirrose Fbrose esquistossomótica Esteatose Neoplasias Linfomas PALPAÇÃO DO BAÇO Normal → Não palpável. 3% da população possuem, em condições normais, o baço palpável. Toda vez que vai palpar o baço faz a percussão antes → Espaço de Traube → Som timpânico → Não tem esplenomegalia. Se o som for maciço há esplenomegalia. CAUSAS DA ESPLENOMEGALIA: Cirrose Mononucleose Leucemia Quando o baço se encontra aumentado, qualquer que seja a etiologia, ele também fica hiperfuncionante. Como uma de suas principais funções é a hemólise, a esplenomegalia pode levar a alterações no hemograma caracterizadas por anemia, leucopenia e trombocitopenia – condição conhecida como hiperesplenismo, que pode ser seletivo, quando apenas um elemento figurado do sangue é acometido, ou global, quando causa pancitopenia. LOUISE CANDIOTTO 6 O hiperesplenismo é confirmado pelo mielograma, que evidencia hiperplasia celular (medula também hiperfuncionante, para tentar compensar a destruição excessiva). PERCUSSÃO Complemento da palpação. Identifica a presença de ar livre, líquidos e massas intra- abdominais. OBJETIVOS: 1) Determinar a área de macicez hepática e o limite superior do fígado → Contribui no diagnóstico de hepatomegalia 2) Pesquisa de ascite Macicez móvel Semicírculo de Skoda → A partir de epigástrio radialmente → timpanismo ⇒ macicez 3) Avaliação da sonoridade do abdome TIPOS DE SOM: MACIÇO SUBMACIÇO TIMPÂNICO HIPERTIMPÂNICO OBS1: Som maciço indica ausência de ar (fígado, baço), enquanto o som timpânico indica presença de ar (estômago, intestino). OBS2: Quando a palpação do baço, no espaço de Traube, tem som maciço, indica esplenomegalia. AUSCULTA Deve ser realizada antes da percussão e palpação. A ausculta do abdome não tem tanta importância quanto a ausculta torácica, mas fornece informações importantes a respeito da movimentação dos gases e líquidos no trato gastrointestinal. Ausculta dos ruídos hidroaéreos e sopros. RUÍDO HIDROAÉREO Ruído peristáltico normal, decorrente da movimentação de gases e líquidos no trato intestinal, que pode estar em maior ou menor intensidade. A presença de gases é indispensável para que os sons sejam ouvidos. Se esse ruído não for auscultado, geralmente é um problema → íleo paralítico. Se for auscultado em excesso, geralmente se trata de uma obstrução intestinal em que o intestino aumenta suas contrações para tentar vencer a barreira obstrutiva. Também há aumento dos ruídos em caso de diarreia. RUÍDOS INTENSOS = BORBORIGMOS OBS: No pós-operatório de cirurgia abdominal é normal, logo após a cirurgia, não apresentar tais ruídos. OBS2: A exacerbação do peristaltismo é menos significante que a redução. SOPROS Podem ser sistólicos ou diastólicos (contínuos). Indicam estreitamento da luz de um vaso (artéria renal ou aorta abdominal) ou de fístula arteriovenosa.
Compartilhar